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Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

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Dois foram os el<strong>em</strong>entos básicos para a impossibilidade de<br />

“simbolização” do período ditatorial por parte da sociedade: de um lado,<br />

a longa transição para a abertura d<strong>em</strong>ocrática, iniciada dez anos antes<br />

de ela de fato acontecer, levando ao esquecimento, na m<strong>em</strong>ória coletiva,<br />

do terror implantado pela ditadura; do outro, a própria imposição do<br />

esquecimento, através da Lei de Anistia, interditando a investigação do<br />

passado. Dessa forma:<br />

É no quadro destas considerações que se pode propor uma<br />

interpretação do processo de “normalização” da sociedade e da política<br />

no Brasil, marcado pela interdição do passado, seja no aspecto da longa<br />

transição, onde o t<strong>em</strong>po parece adquirir uma dimensão inercial que<br />

<strong>em</strong> si mesma produziria o esquecimento, seja no aspecto da imposição<br />

mesma do esquecimento – a anistia – que provocaria o efeito de uma<br />

“neutralização moral” do passado. 1<br />

A “vivência do terror” deu-se, principalmente, na tortura, nas<br />

prisões, nos exílios, nos desaparecimentos e nas mortes; mas, também,<br />

na violência repressiva cotidiana contra as comunidades camponesas e os<br />

estratos mais humildes das sociedades urbanas b<strong>em</strong> como na imposição<br />

da censura e nas ameaças e perseguição contra toda forma de oposição e<br />

resistência aos interesses representados pela ditadura civil-militar. Porém,<br />

no caso brasileiro, é reconhecido que a “vivência do terror” ocorreu de<br />

forma menos extensa do que nas d<strong>em</strong>ais ditaduras do Cone Sul – o<br />

que não significa afirmar que inexistiu ou que ficou restrita a pequenos<br />

círculos de vítimas. Irene Cardoso destaca que essa situação gerou, para<br />

a sociedade brasileira, a sensação de “inexistencialismo”, isto é, uma<br />

realidade que não ocorreu para muitos cidadãos, não sendo incorporada,<br />

dessa maneira, à construção coletiva da m<strong>em</strong>ória e da história. No<br />

1 CARDOSO, Irene. Para uma crítica do presente. São Paulo: Ed. 34, 2001. p. 159.<br />

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