03.07.2015 Views

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

D<strong>em</strong>ocracia e estado de exceção no Brasil<br />

Edson Teles 1<br />

Em agosto de 1979, o Congresso Nacional brasileiro, ainda sob<br />

a vigência do regime militar, aprovou a Lei de Anistia, que <strong>em</strong> seu texto<br />

dizia: estão anistiados “todos quantos, no período compreendido entre<br />

02 de set<strong>em</strong>bro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes<br />

políticos ou conexos com estes”. Na época, após 15 anos de ditadura, os<br />

militares cederam às pressões da opinião pública e a oposição aceitou a<br />

anistia proposta pelo governo, ainda que parte dos presos e perseguidos<br />

políticos não tenha sido beneficiada. Simbolicamente, foram<br />

considerados, sob a decisão de anistiar os crimes “conexos” aos crimes<br />

políticos, anistiados os agentes da repressão. Contudo, pod<strong>em</strong>os dizer<br />

que não teriam sido anistiados os torturadores, pois cometeram crimes<br />

s<strong>em</strong> relação com causas políticas e recebendo salário como funcionários<br />

do Estado. Os mortos e desaparecidos políticos não foram considerados<br />

e o paradeiro de seus restos mortais nunca foi esclarecido. Era o marco<br />

da transição da ditadura para o Estado de Direito, visando superar – e<br />

mais do que isso, silenciar – o drama vivido diante da violência estatal.<br />

O rompimento com o regime de exceção se efetuou por meio<br />

da transição de uma visão da política como enfrentamento e violência<br />

para um modelo do consenso, acordado <strong>em</strong> negociações entre os<br />

representantes políticos. O rito institucional do consenso pretendeu<br />

forçar uma unanimidade de vozes e condutas <strong>em</strong> torno da racionalização<br />

1 Professor de Filosofia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), m<strong>em</strong>bro da Comissão de<br />

Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e editor do site . Organizou, junto com Vladimir Safatle, o <strong>livro</strong> O que resta da ditadura: a exceção<br />

brasileira (São Paulo: Boit<strong>em</strong>po, 2010) e, com Cecília McDowell e Janaína de Almeida, o<br />

<strong>livro</strong> Desarquivando a ditadura: m<strong>em</strong>ória e justiça no Brasil (São Paulo: Hucitec, 2009). E-mail:<br />

edsonteles@gmail.com.<br />

245

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!