03.07.2015 Views

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Faz 33 anos que estamos juntas. Olhamo-nos e continuamos<br />

sendo muito diferentes. Às vezes digo, como brincadeira, que, para ficarmos<br />

amigas, não tiv<strong>em</strong>os que formar um clube para jogar baralho. Juntamo-nos<br />

por causa de uma dor enorme e pela vontade de encontrar nossos filhos.<br />

Mas quando, diante do que contavam os sobreviventes, perceb<strong>em</strong>os que<br />

as coisas eram b<strong>em</strong> piores, passamos a procurar seus restos, e, sobretudo,<br />

nossos netos: crianças que foram levadas muito pequeninas e outras tantas<br />

que nasceram <strong>em</strong> alguns dos mais de 600 centros clandestinos de detenção,<br />

ou campos de concentração, que a ditadura habilitou.<br />

Nesses locais de detenção funcionavam maternidades clandestinas.<br />

Levavam mulheres de um campo de concentração a outro para ter seu bebê.<br />

O que acontecia com essas crianças quando nasciam? Eram arrebatadas<br />

dos braços de suas mães. Às vezes ficavam juntas alguns dias; porém, a<br />

morte esperava por suas mães. A morte, inexoravelmente. Elas sabiam,<br />

imaginavam, e se aferravam a essas crianças como se aferravam à vida, e<br />

choravam nos ombros de suas companheiras de cativeiro, pensando qual<br />

seria o futuro de seus filhos. Porque, além disso, as enganavam, dizendolhes<br />

que os entregariam às suas avós.<br />

Laura, minha filha, teve seu bebê no cativeiro. Graças àquela<br />

viag<strong>em</strong> que fiz <strong>em</strong> 1980, encontrei, <strong>em</strong> São Paulo, pessoas solidárias que<br />

me deram dados precisos do nascimento de meu neto: disseram-me que<br />

era um menino, que Laura lhe colocou o nome de seu avô, meu marido<br />

– Guido –, mas que ela duvidava se havia sido entregue a nós, como<br />

tinham lhe prometido que fariam. Claro que nunca me foi entregue.<br />

É um neto que t<strong>em</strong> 33 anos, e o estou buscando. Ele pode<br />

passar ao meu lado, mas nós n<strong>em</strong> nos conhec<strong>em</strong>os. Penso que pode estar<br />

muito longe: as crianças se vão, viajam, buscam outros horizontes pelo<br />

mundo. Eu vou à Itália para uma conferência, de repente está por lá. Já<br />

205

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!