Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive
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espondeu: “Não, porque minha missão está aqui”. E compl<strong>em</strong>entou:<br />
“Mamãe, ninguém quer morrer, todos t<strong>em</strong>os um projeto de vida, porém<br />
milhares de nós vão morrer, e nossa morte não vai ser <strong>em</strong> vão”.<br />
E não foi <strong>em</strong> vão. Não foi porque eles, com seu desaparecimento<br />
e morte, possibilitaram a d<strong>em</strong>ocracia na Argentina; porque transmitiram a<br />
nós, suas mães, seu valor; deram-nos ânimo. Sentimo-nos tão orgulhosas<br />
deles, pois para que um jov<strong>em</strong>, cheio de possibilidades, diga “vamos<br />
morrer”, é porque existe algo muito profundo <strong>em</strong> seu projeto de vida.<br />
Laura foi sequestrada <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro de 1977; deixamos de<br />
ter notícias dela. Começou, então, para mim, a segunda busca de um<br />
desaparecido. Primeiro, tinham sequestrado por 25 dias, <strong>em</strong> agosto de<br />
1977, meu marido, por ter filhas militantes. Soltaram-no porque paguei<br />
um resgate, e também porque quiseram, pois também pagamos um<br />
resgate por Laura, mas com ela não tiv<strong>em</strong>os êxito.<br />
Quando meu marido saiu, contou-me, durante quase oito horas,<br />
tudo o que havia vivido no local onde estivera sequestrado. Ali permanecera<br />
acorrentado, encapuzado, escutando permanent<strong>em</strong>ente a chegada de<br />
prisioneiros, as torturas e as barbáries que lhes faziam até a morte. Falou de<br />
uma injeção que era aplicada às vítimas, disse que caíam, que os colocavam<br />
<strong>em</strong> sacos e os levavam aos locais que, segundo os repressores, lhes cabiam:<br />
o Rio da Prata, o c<strong>em</strong>itério mais próximo e outros locais que não sab<strong>em</strong>os.<br />
Aí estão os 30 mil desaparecidos que as famílias ainda estão buscando.<br />
Diante do que meu marido relatava, pensávamos que estava<br />
louco. Porém, depois dessa busca individual que fiz por ele, e que voltei<br />
a fazer para encontrar a Laura – com medo, desconhecimento e solidão<br />
–, recebi o bom conselho de uma mãe: juntar-me com outras mulheres<br />
que já estavam caminhando <strong>em</strong> grupo para fazer o mesmo. Desde então,<br />
são minhas companheiras, as avós da Plaza de Mayo.<br />
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