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Execuções Sumárias, Relatório do Rio de Janeiro sobre - DHnet

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constatamos <strong>do</strong>is movimentos inversos em nossa socieda<strong>de</strong>. De um la<strong>do</strong>, a avaliação <strong>do</strong>s especialistas<br />

(pesquisa<strong>do</strong>res e criminólogos), com base em da<strong>do</strong>s estatísticos, <strong>de</strong> que o sistema prisional é ineficaz e<br />

oneroso; <strong>de</strong> outro, com gran<strong>de</strong> influência da mídia, o senso comum <strong>de</strong> que os presídios precisam ser<br />

mais severos e as penas mais duras, não importan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>srespeito freqüente às leis. Lamentavelmente,<br />

boa parte <strong>do</strong>s governantes baseia seus projetos políticos naquilo que a socieda<strong>de</strong> quer ouvir – ou pensa<br />

querer. Frases <strong>de</strong> efeito em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um maior rigor das penas, assim como <strong>de</strong> uma Polícia mais<br />

enérgica ao lidar com os conflitos urbanos, só servem para disseminar a sensação <strong>de</strong> temor no corpo<br />

social, além <strong>de</strong> um constante estímulo ao <strong>de</strong>srespeito às leis por parte <strong>do</strong>s agentes <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

As custódias <strong>de</strong> hoje no Brasil simbolizam a total criminalização da pobreza. Basta observar os<br />

da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> último censo penitenciário nacional 8 : 98% <strong>do</strong>s presos são pessoas absolutamente pobres,<br />

38% têm menos <strong>de</strong> 25 anos, 67% só cursaram o primário, sen<strong>do</strong> o crime <strong>de</strong> roubo o principal<br />

responsável pelas prisões. Nos gran<strong>de</strong>s centros, como <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e São Paulo, o crime <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong><br />

drogas supera consi<strong>de</strong>ravelmente o <strong>de</strong> roubo. Vale lembrar que as autorida<strong>de</strong>s enten<strong>de</strong>m por “combate<br />

ao tráfico” o enfrentamento daquele que representa seu último ponto no itinerário: a favela. Não é <strong>de</strong><br />

se estranhar que o perfil <strong>de</strong>sses pseu<strong>do</strong>traficantes seja composto por jovens pobres e <strong>de</strong> pouca<br />

escolarida<strong>de</strong>, muito semelhante ao que, ao longo <strong>do</strong>s anos, vem-se <strong>de</strong>linean<strong>do</strong> no sistema penitenciário<br />

<strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s centros. Tal quadro se consoli<strong>do</strong>u com gran<strong>de</strong> rapi<strong>de</strong>z nas décadas <strong>de</strong> 1980 e 1990,<br />

momento em que o mo<strong>de</strong>lo neoliberal se reafirmou em nossa economia e socieda<strong>de</strong>.<br />

Os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s gráficos 1 e 2, forneci<strong>do</strong>s pelo Ministério da Justiça 9 , são mais elucidativos:<br />

7 Ver art. 5, CF.<br />

8 Ministério da Justiça, 1997.<br />

9 Embora os da<strong>do</strong>s aqui dispostos tenham si<strong>do</strong> forneci<strong>do</strong>s pelo Ministério da Justiça, <strong>de</strong>ve-se ao CESEC sua compilação.<br />

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