A Coroa pelo bem da agricultura e do comércio - Arquivo Nacional
A Coroa pelo bem da agricultura e do comércio - Arquivo Nacional
A Coroa pelo bem da agricultura e do comércio - Arquivo Nacional
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
portugueses. Em sua análise, as características inerentes à formação cultural e social<br />
portuguesa se revelam no modelo organizacional a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> em suas colônias. Assim, “a<br />
ânsia de proprie<strong>da</strong>de sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis”<br />
(Holan<strong>da</strong>, 2004, p. 46) que caracterizam a gente brasileira são, na ver<strong>da</strong>de, herança de<br />
um povo lusitano que conquistou as terras <strong>do</strong> Novo Mun<strong>do</strong> com um espírito<br />
aventureiro: “o que o português vinha buscar era, sem dúvi<strong>da</strong>, a riqueza, mas a<br />
riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho” (Holan<strong>da</strong>, 2004, p. 49). A<br />
partir desse traço marcante podemos entender a relutância <strong>do</strong> autor em definir como<br />
“<strong>agricultura</strong>” os processos de exploração usa<strong>do</strong>s <strong>pelo</strong>s portugueses, quase sempre<br />
devasta<strong>do</strong>res e rudimentares.<br />
No entanto, não devemos confundir tais afirmações com a ideia de que as<br />
estruturas agrárias não foram essenciais na formação <strong>da</strong> colônia; o que Sérgio Buarque<br />
tenta demonstrar é exatamente o contrário: a base de to<strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
colonial foi defini<strong>da</strong> no meio rural, ten<strong>do</strong>, exatamente por isso, estreita relação com a<br />
forma como os colonos portugueses enxergavam sua relação com a terra e a ativi<strong>da</strong>de<br />
agrícola. Ou seja, como uma forma de exploração e enriquecimento fácil, destituí<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> “zelo carinhoso pela terra, tão peculiar ao homem rústico entre povos<br />
genuinamente agricultores” (Holan<strong>da</strong>, 2004, p. 49).<br />
Assim, a “pujança <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mínios rurais”, alia<strong>da</strong> a uma estrutura urbana<br />
incipiente, apresenta-se como consequência <strong>do</strong> espírito <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r português que se<br />
preocupou “menos em construir e planejar ou plantar alicerces <strong>do</strong> que em feitorizar<br />
uma riqueza fácil e quase ao alcance <strong>da</strong> mão” (Holan<strong>da</strong>, 2004, p. 95). Observa-se,<br />
portanto, uma ausência de normas imperativas e absolutas, guian<strong>do</strong>-se os portugueses<br />
por um processo de experiências sucessivas, sem coordenação, nascen<strong>do</strong> <strong>da</strong>í uma<br />
socie<strong>da</strong>de claramente individualista, onde as ambições personalistas sobrepõem-se às<br />
de caráter cooperativo; onde a enti<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> precede a enti<strong>da</strong>de pública.<br />
Caio Pra<strong>do</strong> Júnior, na já cita<strong>da</strong> Formação <strong>do</strong> Brasil contemporâneo, dedica um<br />
capítulo exclusivamente à questão <strong>da</strong> administração portuguesa no Brasil colonial e<br />
parece concor<strong>da</strong>r com Sérgio Buarque ao afirmar que a administração portuguesa não<br />
19