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Originais – Originals outubro | dezembro • 2011 - IPUB - UFRJ

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ISSN 0047-2085<br />

CODEN JBPSAX<br />

4<br />

<strong>outubro</strong> | <strong>dezembro</strong> • <strong>2011</strong><br />

Volume 60, Número 4, <strong>2011</strong><br />

<strong>Originais</strong> – <strong>Originals</strong><br />

Validação psicométrica do Cocaine Craving Questionnaire-Brief – Versão Brasileira Adaptada<br />

para o Crack para dependentes hospitalizados<br />

Eating habits and psychopathology: translation, adaptation, reliability of the Nutrition Behavior<br />

Inventory to Portuguese and relation to psychopathology<br />

Simulator Sickness Questionnaire: tradução e adaptação transcultural<br />

Validade discriminante do Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey: comparação entre<br />

idosos normais e idosos na fase inicial da doença de Alzheimer<br />

Associação entre polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR e a resposta ao tratamento da<br />

dependência de nicotina<br />

Alterações cognitivas em indivíduos brasileiros com esclerose múltipla surto-remissão<br />

Comorbidades clínicas e psiquiátricas em pacientes com transtorno bipolar do tipo I<br />

Sintomas depressivos em crianças e adolescentes com anemia falciforme<br />

Satisfação de familiares de pacientes psiquiátricos com os serviços de saúde mental<br />

e seus fatores associados<br />

Tentativas de suicídio e mortalidade por suicídio em um município no interior da Bahia<br />

Cardio-respiratory symptoms in panic disorder: a contribution from cognitive-behaviour therapy<br />

Insatisfação corporal de adolescentes atletas e não atletas<br />

Body image dissatisfaction and its relationship with physical activity and<br />

body mass index in Brazilian adolescents


Órgão Oficial do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro<br />

Official Journal of the Institute of Psychiatry - Federal University of Rio de Janeiro<br />

Editores<br />

Antônio Egidio Nardi<br />

Leonardo Franklin da Costa Fontenelle<br />

Editores Eméritos<br />

Eustáchio Portella Nunes<br />

João Romildo Bueno<br />

Márcio Versiani<br />

Editores Associados<br />

Alexandre Valença<br />

Jerson Laks<br />

Mauro Mendlowicz<br />

Editor Júnior<br />

William Berger<br />

Conselho Editorial Internacional<br />

Allen Frances (Duke University)<br />

Charles Marmar (University of California San Francisco)<br />

Christos Pantelis (University of Melbourne)<br />

Dan J. Stein (University of Cape Town)<br />

Danielle C. Cath (Utrecht University)<br />

Ezra Susser (Columbia University)<br />

George T. Grossberg (St. Louis University)<br />

Graham Thornicroft (King’s College)<br />

Gregor Hasler (University of Bern)<br />

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Mark Zimmerman (Brown University)<br />

Martin B Keller (Brown University)<br />

Michael Devlin (Columbia University)<br />

Michael Liebowitz (Columbia University)<br />

Murray B. Stein (University of California San Diego)<br />

Myrna Weissman (Columbia University)<br />

Paul Appelbaum (Columbia University)<br />

Ronald Kessler (Harvard University)<br />

Ross Baldessarini (Harvard University)<br />

Susan McElroy (University of Cincinnati)<br />

Conselho Editorial Nacional<br />

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Antonio L. Teixeira (UFMG)<br />

Antonio W. Zuardi (USP Ribeirão Preto)<br />

Aristides V. Cordioli (UFRGS)<br />

Eliasz Engelhardt (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Euripedes C. Miguel (USP)<br />

Fábio L. Rocha (IPSEMG)<br />

Flávio Kapczinski (UFRGS)<br />

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Irismar R. de Oliveira (UFBA)<br />

Ivan Figueira (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Jair de J. Mari (Unifesp)<br />

José Carlos Appolinário (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Letícia Furlanetto (UFSC)<br />

Luís Alberto Hetem (USP Ribeirão Preto)<br />

Marcelo Santos Cruz (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Maria Conceição Rosário (Unifesp)<br />

Mario Louzã (USP)<br />

Maurício S. de Lima (UFPel)<br />

Neury J. Botega (Unicamp)<br />

Paulo Dalgalarrondo (Unicamp)<br />

Paulo Mattos (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Roberto Piedade (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Valentim G. Filho (USP)<br />

Wagner F. Gattaz (USP)<br />

Ygor A. Ferrão (UFCSPA)<br />

Conselho Consultivo<br />

Antonio P. Palha (Universidade do Porto)<br />

Clarisse Gorestein (USP)<br />

Claudio Eizerick (UFRGS)<br />

Fábio Gomes de Matos (UFCE)<br />

Humberto Corrêa (UFMG)<br />

Itiro Shirakawa (Unifesp)<br />

Jorge Alberto Costa e Silva (Santa Casa de Misericórdia, RJ)<br />

José Alberto Del Porto (Unifesp)<br />

Josimar Mata França (UnB)<br />

Juarez Oliveira Castro (UFMG)<br />

Jurandir Freire Costa (UERJ)<br />

Luiz Salvador Miranda Jr. (UCDB)<br />

Marcio Amaral (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Marco Antonio Brasil (<strong>UFRJ</strong>)<br />

Marcos Pacheco de T. Ferraz (Unifesp)<br />

Miguel Roberto Jorge (Unifesp)<br />

Naomar de Almeida Filho (UFBA)<br />

Othon Bastons (UFPE)<br />

Pedro do Prado Lima (PUC-RS)<br />

Rodolfo Fahrer (UBA)<br />

Roosevelt M. S. Cassorla (Unicamp)<br />

Talvane M. Moraes (Unirio)<br />

Theodor S. Lowekron (<strong>UFRJ</strong>)<br />

William A. Dunningham (UFBA)<br />

Secretária Executiva<br />

Karoline Gomes


Jornal Brasileiro de Psiquiatria<br />

Av. Venceslau Brás, 71<br />

Campus Praia Vermelha – 22290-140<br />

Rio de Janeiro, RJ – Brasil<br />

Telefax: (5521) 3873-5510<br />

E-mail: editora@ipub.ufrj.br<br />

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INDEXADA EM:<br />

Scientific Eletronic Library Online – SciELO<br />

American Psychological Association – PsychoINFO<br />

British Libray Document Supply Center – BLDSC<br />

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Index Medicus Latino-Americano – LILACS<br />

Institute de L’ Information Scientifique et Techinique – INIST<br />

Libray of the Royal Netherlands Academy of Arts and Sciences – KNAW<br />

Free Medical Journals – FMJ<br />

CIP-BRASIL - CATALOGAÇÃO NA FONTE<br />

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ<br />

J82<br />

Jornal Brasileiro de Psiquiatria/Universidade Federal do Rio de Janeiro.<br />

Instituto de Psiquiatria. – Rio de Janeiro, 1948 -.<br />

v.60, n.4 <strong>2011</strong><br />

Trimestral ISSN 0047-205801965 – a responsabilidade passa a ser da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Psiquiatria<br />

1982 – publicado pela ECN ed. Científica Nacional<br />

Editado pela Segmento Farma Editores a partir do v.56, n.1-4, 2007<br />

Continuação de: Anais do Instituto de Psiquiatria 1942-1947<br />

1. Psiquiatria - Periódicos brasileiros. I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Psiquiatria<br />

CDD 616.89<br />

CDU 616.89<br />

OBS.: As notas de responsabilidade foram dados obtidos junto à Biblioteca Nacional<br />

Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 • www.segmentofarma.com.br • segmentofarma@segmentofarma.com.br<br />

Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Comunicações médicas:<br />

Cristiana Bravo Relações institucionais: Valeria Freitas Gerentes de negócios: Claudia Serrano, Marcela Crespi, Philipp Santos e Valeria Freitas Coordenadora comercial: Andrea Figueiro Gerente editorial:<br />

Cristiane Mezzari Assistente editorial: Camila Sáfadi Coordenadora editorial: Sandra Regina Santana Designer: Flávio Santana Revisoras: Glair Picolo Coimbra e Sandra Gasques Produtor gráfico: Fabio<br />

Rangel Cód. da publicação: 12057.1.12<br />

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sumário<br />

Artigos originais – Original articles<br />

Validação psicométrica do Cocaine Craving Questionnaire-Brief – Versão<br />

Brasileira Adaptada para o Crack para dependentes hospitalizados<br />

Psychometric validation of Cocaine Craving Questionnaire-Brief –<br />

Brazilian Crack Adapted Version inpatients dependents<br />

Renata Brasil Araujo, Maria da Graça Tanori de Castro, Rosemeri Siqueira Pedroso, Paola Lucena dos Santos,<br />

Letícia Leite, Marcelo Rossoni da Rocha, Ana Cecília Petta Roselli Marques..............................................................................233<br />

Eating habits and psychopathology: translation,<br />

adaptation, reliability of the Nutrition Behavior Inventory<br />

to Portuguese and relation to psychopathology<br />

Hábitos alimentares e psicopatologia: tradução, adaptação, confiabilidade do Nutrition<br />

Behavior Inventory para o português e correlação com a psicopatologia<br />

Cássia Roberta Benko, Antonio Carlos de Farias, Mara L. Cordeiro.............................................................................................240<br />

Simulator Sickness Questionnaire: tradução e adaptação transcultural<br />

Simulator Sickness Questionnaire: translation and cross-cultural adaptation<br />

Marcele Regine de Carvalho, Rafael Thomaz da Costa, Antonio Egidio Nardi............................................................................247<br />

Validade discriminante do Teste de Aprendizagem<br />

Auditivo-Verbal de Rey: comparação entre idosos normais<br />

e idosos na fase inicial da doença de Alzheimer<br />

Discriminant validity of the Rey Auditory Verbal Learning Test: comparison between<br />

normal elderly and elderly patients in early stages of Alzheimer’s disease<br />

Mariana Fonseca Cotta, Leandro Fernandes Malloy-Diniz, Fábio Lopes Rocha, Maria Aparecida Camargos Bicalho,<br />

Rodrigo Nicolato, Edgar Nunes de Moraes, Jonas Jardim de Paula ...........................................................................................253<br />

Associação entre polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR e a<br />

resposta ao tratamento da dependência de nicotina<br />

Association between polymorphism SLC6A3 3’UTR VNTR and<br />

response to treatment of nicotine dependence<br />

Guilherme Rubino de Azevedo Focchi, Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva, Sandra Scivoletto.............................................259<br />

Alterações cognitivas em indivíduos brasileiros<br />

com esclerose múltipla surto-remissão<br />

Cognitive profile of Brazilian individuals with relapsing-remitting multiple sclerosis<br />

Marco Aurélio Negreiros, Jesus Landeira-Fernandez, Cíntia Villela Kirchmeyer, Renata Alves Paes, Regina Alvarenga,<br />

Paulo Mattos...............................................................................................................................................................................266<br />

Comorbidades clínicas e psiquiátricas em pacientes<br />

com transtorno bipolar do tipo I<br />

Psychiatric and medical comorbidities in type 1 bipolar disorder patients<br />

Izabela Guimarães Barbosa, Rodrigo de Almeida Ferreira, Rodrigo Barreto Huguet, Fábio Lopes Rocha,<br />

João Vinícius Salgado, Antônio Lúcio Teixeira............................................................................................................................271<br />

Sintomas depressivos em crianças e adolescentes com anemia falciforme<br />

Depressive symptoms in children and adolescents with sickle cell anemia<br />

Felipe José Nascimento Barreto, Rosana Cipolotti......................................................................................................................277<br />

Satisfação de familiares de pacientes psiquiátricos com os<br />

serviços de saúde mental e seus fatores associados<br />

Family satisfaction in mental health services and associated factors<br />

Marina Bandeira, Mônia Aparecida da Silva, Cleucimara Aparecida Camilo, Cynthia Mara Felício............................................284


sumário<br />

Tentativas de suicídio e mortalidade por suicídio<br />

em um município no interior da Bahia<br />

Suicide attempts and suicide mortality in a countryside Bahia city<br />

Viviane dos Santos Souza, Murilo da Silva Alves, Lívia Angeli Silva, Débora Cristiane Silva Flores Lino,<br />

Adriana Alves Nery, Cezar Augusto Casotti.................................................................................................................................294<br />

Cardio-respiratory symptoms in panic disorder: a<br />

contribution from cognitive-behaviour therapy<br />

Sintomas cardiorrespiratórios no transtorno de pânico: uma contribuição da terapia cognitivo-comportamental<br />

Anna Lucia Spear King, Adriana Cardoso de Oliveira e Silva, Alexandre Martins Valencça, Antonio Egidio Nardi.....................301<br />

Insatisfação corporal de adolescentes atletas e não atletas<br />

Body dissatisfaction of teen athletes and non-athletes<br />

Leonardo de Sousa Fortes, Valter Paulo Neves Miranda, Ana Carolina Soares Amaral, Maria Elisa Caputo Ferreira.................309<br />

Body image dissatisfaction and its relationship with physical<br />

activity and body mass index in Brazilian adolescents<br />

Insatisfação com a imagem corporal e sua relação com atividade física<br />

e índice de massa corporal em adolescentes brasileiros<br />

Maria F. Laus, Telma M. Braga Costa, Sebastião S. Almeida....................................................................................................... 315<br />

Revisões de literatura – Literature reviews<br />

A patogênese genética e molecular da síndrome de Angelman<br />

The genetic and molecular pathogenesis of the Angelman syndrome<br />

Angelica Francesca Maris, Alexis Trott .......................................................................................................................................321<br />

Revisão dos métodos empregados na avaliação da dimensão<br />

corporal em pacientes com transtornos alimentares<br />

Review of methods employed in the assessment of body size in patients with eating disorders<br />

Bianca Elisabeth Thurm, Maria Luiza de Jesus Miranda, Fabio Tapia Salzano, Raphael Cangelli Filho,<br />

Táki Athanássios Cordás, Eliane Florêncio Gama.........................................................................................................................331<br />

Comunicações breves – Brief communications<br />

Formas deficitária e não deficitária da esquizofrenia não diferem quanto<br />

à sazonalidade de nascimentos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil<br />

Deficit and non-deficit schizophrenia do not differ regarding season<br />

of birth in Brazilian Southern and Southeast regions<br />

Victor M. V. Lopes, Cláudio E. M. Banzato, Clarissa R. Dantas....................................................................................................337<br />

Escolha de alimentos durante a abstinência alcoólica:<br />

influência na fissura e no peso corporal<br />

Food choice during alcohol abstinence: influence in craving and body weight<br />

Mayla Cardoso Fernandes Toffolo, Izabelle de Sousa Pereira, Karine Aparecida Louvera Silva, Cláudia Aparecida Marliére,<br />

Aline Silva de Aguiar Nemer........................................................................................................................................................341<br />

Relato de caso – Case report<br />

Considerações sobre a clínica e o tratamento de uma<br />

manifestação incomum do transtorno dismórfico<br />

corporal: a síndrome de referência olfatória<br />

Considerations on the clinical picture and treatment of an unusual manifestation<br />

of body dysmorphic disorder: the olfactory reference syndrome<br />

Cristiane Maluhy Gebara, Tito Paes de Barros Neto....................................................................................................................347


Agradecimento aos pareceristas 2010<br />

pareceristas do jornal brasileiro de psiquiatria volume 60 de <strong>2011</strong><br />

Adriana Cardoso<br />

Albina Torres<br />

Alexandre Valença<br />

Alessandra Diehl<br />

Ana Carolina Mathias<br />

Ana Hounie<br />

Ana Luiza Camozzato<br />

André Carvalho<br />

André F. Carvalho<br />

Andrea Deslandes<br />

Andréa Lopez<br />

Angela Scippa<br />

Angélica Espinosa Miranda<br />

Antonio Teixeira<br />

Antonio Zuardi<br />

Arthur Guerra de Andrade<br />

Bruno Mendonça Coelho<br />

Bruno Nazar<br />

Camila Guindalini<br />

Camila Martiny<br />

Carla de Meis<br />

Carla Maluf<br />

Claiton Bau<br />

Claudia Roberta de Castro Moreno<br />

Daniela Braga<br />

Daniela Dantas Lima<br />

Daniele Marano<br />

Deniela Braga<br />

Elias Abdalla<br />

Elisabeth Meyer<br />

Elisa Kozasa<br />

Fabiana Kohlrausch<br />

Fábio Henrique Porto<br />

Fernando Silva Neves<br />

Flávio Alheira<br />

Fernando Volpe<br />

Gastão Soares Filho<br />

Gisele Gus Manfro<br />

Gisele Huf<br />

Heloisa Helena Alves Brasil<br />

Helena Moraes<br />

Hudson de Carvalho<br />

Humberto Correa<br />

Inah Proença<br />

Ivan Aprahamian<br />

Jair Mari<br />

João Felicio Rodrigues Neto<br />

José Augusto Bragatti<br />

José Taborda<br />

José Alexandre Crippa<br />

Júlia Fontenelle<br />

Juliana Gois<br />

Julio Peres<br />

Kátia Petribú<br />

Leonardo Fontenelle<br />

Leandro Malloy-Diniz<br />

Lisieux Telles<br />

Lívia Santana<br />

Luciana de Avila Quevedo<br />

Manoel Freire de Oliveira Neto<br />

Marcelo Cruz<br />

Marcelo Papelbaum<br />

Maria Antonia Serra<br />

Maria Paula Magalhães<br />

Maria Tavares Cavalcanti<br />

Marina Bandeira<br />

Marle Alvarenga<br />

Michelle Levitan<br />

Neusa Sica da Rocha<br />

Paula V. Nunes<br />

Patricia Tirico<br />

Pedro de Alvarenga<br />

Priscila Duarte<br />

Rafael Ferreira Garcia<br />

Rafael Freire<br />

Rafael Garcia<br />

Regis Barros<br />

Ricardo Arida<br />

Roberto Ratzke<br />

Rodolfo N. Campos<br />

Rodrigo de Oliveira Moreira<br />

Rodrigo Moreira<br />

Ronaldo Laranjeiras<br />

Rosemeri Pedroso<br />

Sérgio Blay<br />

Táki Athanássios Cordás<br />

Themis Torres<br />

Tiago da Silva Alexandre<br />

Tatiana Moya<br />

Valéria Pagnin<br />

Valeska Pereira<br />

Valeska Marinho<br />

Vera Lemgruber<br />

Vilma Aparecida da Silva<br />

William Berger<br />

Ygor Ferrão


artigo original<br />

Validação psicométrica do Cocaine Craving<br />

Questionnaire-Brief – Versão Brasileira Adaptada<br />

para o Crack para dependentes hospitalizados<br />

Psychometric validation of Cocaine Craving Questionnaire-Brief<br />

– Brazilian Crack Adapted Version inpatients dependents<br />

Renata Brasil Araujo 1 , Maria da Graça Tanori de Castro 2 , Rosemeri Siqueira Pedroso 3 , Paola Lucena dos<br />

Santos 4 , Letícia Leite 4 , Marcelo Rossoni da Rocha 4 , Ana Cecília Petta Roselli Marques 5<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

CCQ-B, craving, validação,<br />

crack/cocaína.<br />

Introdução: O craving (ou fissura) é um fator muito importante no tratamento da dependência<br />

de substâncias psicotrópicas. Objetivo: Validar o Cocaine Craving Questionnaire-<br />

-Brief – Versão Brasileira Adaptada para o Crack. Método: O delineamento foi experimental<br />

e seus participantes foram randomizados, em grupos: experimental, para o qual foi apresentada<br />

uma imagem de um indivíduo consumindo crack (G1), e controle (G2), para o qual<br />

não foi apresentada nenhuma imagem. A amostra foi composta por 109 sujeitos (G1 = 50<br />

e G2 = 59) do sexo masculino, internados por causa da dependência do crack. Os instrumentos<br />

utilizados foram: Entrevista Clínica com dados sociodemográficos, CCQ-B Versão<br />

Adaptada para o Crack, Escala Analógico-Visual do Craving, Inventários Beck de Ansiedade<br />

e de Depressão e o Estímulo Visual indutor de craving para o G1. Resultados: Na análise<br />

fatorial, foram encontrados dois fatores: o fator 1, relacionado ao craving propriamente dito,<br />

e o fator 2, relacionado à percepção da falta de controle do uso do crack. Os dois fatores<br />

apresentaram variância total de 68,84%, e a correlação entre os fatores foi significativa e de<br />

baixa intensidade (r = 0,204; p = 0,041). O alfa de Cronbach do seu total de pontos foi 0,85.<br />

O instrumento no total de pontos foi correlacionado com a Escala Analógico-Visual (r =<br />

0,515; p < 0,01). Conclusão: O CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada para o Crack demonstrou<br />

ser, psicometricamente, satisfatório para utilização em pesquisas e em ambiente clínico.<br />

ABSTRACT<br />

Background: The craving is a very important factor in the treatment of drug addiction. Objective:<br />

Validate the Cocaine Craving Questionnaire-Brief – Brazilian Crack Adapted Version. Method:<br />

Subjects enrolled in this experimental study were randomized into groups: experimental<br />

for this group was shown an image of a subject using crack (G1) and control (G2) for this group<br />

no pictures were shown. The sample was composed of 109 subjects (G1 = 50 and G2 = 59), ma-<br />

Recebido em<br />

28/7/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

1/12/<strong>2011</strong><br />

1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Hospital Psiquiátrico São Pedro, Cognitá – Clínica de Terapia Cognitivo-<br />

-Comportamental.<br />

2 PUCRS.<br />

3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas.<br />

4 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).<br />

5 Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).<br />

Endereço para correspondência: Maria da Graça Tanori de Castro<br />

Rua Mariante, 288, sala 407, Rio Branco – 90430-181 – Porto Alegre, RS<br />

Tels.: (51) 3222-1154/(51) 9983-8430<br />

E-mail: mgdc@uol.com.br


234 Araujo RB et al.<br />

artigo original<br />

Keywords<br />

CCQ-B, craving, validation,<br />

crack/cocaine.<br />

les, crack/cocaine dependent inpatients. The assessment instruments were: Clinical Interview with<br />

social and demographic data, CCQ-B – Crack Adapted Version; Visual Analogic Scale for Craving,<br />

Anxiety and Depression Beck and Inventories Visual Cue to elicit craving. Results: On the factorial<br />

analysis two factors were found: Factor 1, related to craving itself, and Factor 2, the perceived lack<br />

of control of crack use. The two-factor factorial analysis presented a total variation of 68.84%, and<br />

the correlation between these factors was significant and of low intensity (r = 0.204; p = 0.041).<br />

A Cronbach’s alpha value from total of points of scale was 0.85. We observed a correlation between<br />

the scale total score and the Visual Analogic Scale (r = 0.515; p < 0.01). Conclusion: The Cocaine<br />

Craving Questionnaire-Brief – Brazilian Crack Adapted Version proved to be an adequate psychometric<br />

instrument for use in research and in clinical settings.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A cocaína, utilizada na forma de pedra, denominada “crack”, é<br />

uma substância psicoativa e psicotrópica, cujo consumo tem<br />

aumentado, assim como a busca por tratamento 1 . Esse consumo<br />

está associado à alta mortalidade entre os usuários 2 .<br />

O craving ou fissura, por outro lado, é uma variável muito<br />

importante na compreensão da dependência, pois influencia<br />

a evolução e a gravidade da síndrome de abstinência, como<br />

também pode determinar a recaída 3,4 . O craving é um dos critérios<br />

da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) a ser<br />

avaliado no diagnóstico de dependência de substância, sendo<br />

descrito no critério A como um desejo forte ou senso de<br />

compulsão por consumir a substância 5 ; o DSM-IV 6 também<br />

lista o craving como um dos critérios a ser considerado, descrito<br />

como um desejo persistente. Sabe-se que o craving do<br />

crack é muito intenso, fenômeno que pode estar relacionado<br />

à via de administração, que produz rápida sensibilização<br />

das áreas dopaminérgicas, e da mesma forma ocorre rápida<br />

diminuição do seu efeito 7 . Apesar da relevância do craving,<br />

não existem muitos instrumentos de avaliação desse sintoma<br />

em usuários de crack/cocaína. O craving tem sido pesquisado<br />

por alguns autores utilizando “gatilhos” como imagens<br />

associadas à substância, para sua indução e aferição, como<br />

o estudo conduzido por Tiffany e Drobes 8 e Zeni e Araujo 9 .<br />

Em nosso meio, Zeni e Araujo utilizaram estímulo visual com<br />

fotografias para induzir o craving por nicotina e crack 9 .<br />

Assim, o Cocaine Craving Questionnaire-Brief (CCQ-B) foi<br />

desenvolvido por Sussner et al. em 2006 10 , a partir do Cocaine<br />

Craving Questionnaire-Now (CCQ-Now) 11 , versão longa do<br />

instrumento, a qual foi validada no Brasil por Silveira et al. 12 .<br />

Na validação psicométrica da versão original do CCQ-B,<br />

foi realizado um estudo de validade convergente com o<br />

CCQ-Now, o qual obteve correlação positiva de intensidade<br />

muito alta, demonstrando a excelente consistência interna<br />

do instrumento 10 . Palihal et al. 11 também utilizaram o CCQ-B<br />

e verificaram que escores mais altos nesse instrumento eram<br />

indicadores de recaída em dependentes de cocaína.<br />

Em 2009, foi publicada, no Brasil, a Validação Semântica<br />

do CCQ-B e de sua versão adaptada para o crack 12 . A validação<br />

semântica é um primeiro passo no processo de validação<br />

de um instrumento, já que proporciona a confiança de<br />

que as adaptações de linguagem relacionadas a diferentes<br />

países foram realizadas, no entanto é necessário que haja<br />

uma confirmação de que as propriedades psicométricas do<br />

instrumento também estão adequadas, sendo definida a sua<br />

forma de análise e seus pontos de corte 13 . Assim, o objetivo<br />

deste estudo é realizar, de forma inédita, a validação psicométrica<br />

do CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada para o Crack<br />

em dependentes internados para desintoxicação.<br />

MÉTODO<br />

Delineamento<br />

Foi realizado um estudo experimental, no qual a variável craving<br />

foi manipulada pela exposição de um estímulo visual.<br />

Os pacientes foram divididos, por sorteio, em dois grupos:<br />

o G1 (grupo experimental), para o qual foi apresentada uma<br />

fotografia de um indivíduo utilizando crack, e G2 (grupo controle),<br />

para o qual não foi apresentado nenhum estímulo.<br />

Amostra<br />

O tamanho da amostra foi definido segundo o critério de Hair<br />

Jr., que preconiza um número de 10 sujeitos por variável para a<br />

utilização da análise fatorial 14 . A amostra foi composta por 109<br />

indivíduos dependentes de crack/cocaína, segundo os critérios<br />

da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) 5 , hospitalizados<br />

para desintoxicação em uma unidade masculina especializada,<br />

na faixa etária de 18 a 60 anos, com escolaridade mínima<br />

de quatro anos. O crack era a droga de preferência, sendo<br />

o último uso relatado no mínimo há sete e, no máximo, 21 dias.<br />

Foram excluídos participantes com dificuldades para a<br />

leitura e a compreensão do questionário, aferidas na entrevista<br />

clínica, que prejudicassem o entendimento das escalas.<br />

Os participantes foram divididos, aleatoriamente por sorteio,<br />

em dois grupos: no Experimental (G1), foi apresentada uma<br />

foto com a imagem de alguém consumindo crack antes da<br />

aplicação dos instrumentos, e no Controle (G2), não foi apresentada<br />

a foto antes da aplicação.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):233-9.


artigo original<br />

Cocaine Craving Questionnaire versão brasileira<br />

235<br />

Instrumentos<br />

1) Entrevista composta por informações sociodemográficas<br />

e descrição do padrão de uso de substâncias psicoativas e<br />

psicotrópicas.<br />

2) Cocaine Craving Questionnaire-Brief (CCQ-B) 10 : escala<br />

com 10 itens, tipo Likert, de 7 pontos, que vai de “discordo<br />

totalmente” até “concordo totalmente”. O escore do CCQ-B,<br />

na validação original 10 , foi obtido a partir da soma de pontos<br />

de todas as questões, não sendo subdividida em fatores. Foi<br />

utilizada, neste estudo, a Versão Brasileira Adaptada para o<br />

Crack, publicada por Araujo et al. 13 . A versão brasileira, na validação<br />

psicométrica, distribuiu-se em dois fatores: o fator 1<br />

representa o constructo do craving, e o fator 2, a falta de controle<br />

do uso do crack. A escala pode ser avaliada a partir de<br />

seu escore total (com as questões 4 e 7 invertidas, devendo<br />

ser somadas às demais), a partir dos pontos do fator 1 (soma<br />

de todas as questões, exceto a 4 e a 7) e do fator 2 (soma<br />

das questões 4 e 7 invertidas). Os pontos de corte da escala<br />

podem ser observados na tabela abaixo:<br />

Pontos de Corte do CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada para o Crack<br />

Escala Grau<br />

Craving<br />

CCQ-B – Versão Brasileira<br />

Adaptada para o Crack –<br />

Escore Total<br />

Fator 1 Fator 2<br />

Mínimo 0 a 11 pontos 0 a 7 pontos 0 a 2 pontos<br />

Leve 12 a 16 pontos 8 a 9 pontos 3 a 4 pontos<br />

Moderado 17 a 22 pontos 10 a 11 pontos 5 a 6 pontos<br />

Grave 23 ou mais pontos 12 ou mais pontos 7 ou mais pontos<br />

3) Escala Analógico-Visual de avaliação do craving pelo<br />

crack no momento (EAV): consiste em uma linha de 10 centímetros,<br />

numerados de 0 a 10, que visa medir a intensidade<br />

de craving (fissura) pelo crack, significando o 0 “nenhuma<br />

fissura” e o 10 “muita fissura”. Essa escala já foi utilizada no<br />

estudo de Zeni e Araujo 9,15 .<br />

4) Inventário Beck de Ansiedade (BAI), desenvolvido por<br />

Steer e Beck 16 , validado para o Brasil por Cunha 17 . Consiste em<br />

um questionário que tem por objetivo medir a gravidade dos<br />

sintomas de ansiedade e é composto por 21 itens. O escore<br />

total é obtido pelo somatório dos escores de cada item. Os<br />

pontos de corte para pacientes psiquiátricos são: de 0 a 10: mínimo;<br />

de 11 a 19: leve; de 20 a 30: moderado; de 31 a 63: grave.<br />

5) O Inventário Beck de Depressão (BDI) é um dos instrumentos<br />

mais usados, tanto na clínica quanto em pesquisa,<br />

para avaliar sintomas depressivos. É uma escala de autorrelato,<br />

composta por 21 itens, desenvolvida por Steer e Beck 16 (1993)<br />

e validada no Brasil 17 . Os pontos de corte para pacientes psiquiátricos<br />

são: 0-11: sintomas mínimos/ausentes; 12-19: sintomas<br />

leves; 20-35: sintomas moderados; 36-63: sintomas graves.<br />

6) Estímulo evocador do craving: composto por uma fotografia<br />

do tamanho A4 com um indivíduo fazendo uso do<br />

crack. Esses estímulos já tinham sido utilizados em outros<br />

estudos 9,15 .<br />

Aspectos éticos<br />

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa<br />

do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Os dados foram coletados<br />

após o indivíduo ter aceitado participar por meio da<br />

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.<br />

Coleta de dados<br />

Foi realizada uma entrevista individual em uma sala pequena,<br />

com poucos estímulos visuais e sonoros, para os dois grupos:<br />

para o Grupo Experimental (G1) foi apresentado, por 60<br />

segundos, o estímulo evocador de craving e para o Grupo<br />

Controle (G2) não foi apresentado nenhum estímulo. Para o<br />

G1, 1 minuto após a apresentação do estímulo, era feito o<br />

preenchimento dos questionários na seguinte ordem: Escala<br />

Analógico-Visual, CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada para<br />

o Crack, BAI e BDI. Para o G2, os mesmos instrumentos, na<br />

mesma ordem, eram aplicados após 2 minutos de seus participantes<br />

terem entrado na sala, para que houvesse equivalência<br />

de tempo entre os dois grupos. Se algum participante<br />

relatasse ter craving ao final da aplicação, era realizada a técnica<br />

comportamental do relaxamento diafragmático 15 .<br />

Análise de dados<br />

Os dados foram analisados por meio do software Statistical<br />

Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17.0, com testes<br />

descritivos e de frequências para a análise exploratória dos<br />

dados. O teste qui-quadrado e o teste exato de Fisher foram<br />

utilizados para analisar a associação entre variáveis categóricas;<br />

o teste t de Student, para amostras independentes, para<br />

comparar G1 e G2 quanto às variáveis contínuas e na validade<br />

discriminante; o coeficiente de correlação linear de Pearson<br />

foi utilizado na validade convergente e de critério e no<br />

estudo correlacional; o alfa de Cronbach, no estudo de confiabilidade;<br />

o Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), o teste de Bartlett e<br />

a ANOVA, na análise fatorial e a regressão linear para verificar<br />

o modelo de composição do craving. O nível de significância<br />

utilizado foi 5%.<br />

RESULTADOS<br />

A amostra de 109 dependentes foi distribuída em: G1, com<br />

50 sujeitos (45,87%), e G2, com 59 sujeitos (54,13%). Todos,<br />

exceto um paciente, iniciaram o uso de cocaína pela via<br />

inalada e depois passaram para o uso do crack. O tempo<br />

médio de diferença entre o início do uso de uma via de<br />

administração para a outra foi de 5,27 anos (SD = 5,01, mínimo<br />

= -3; máximo = 29). Quanto ao uso de outras substâncias,<br />

96,33% eram dependentes de maconha, 91,7%, de<br />

nicotina e 18,35%, de álcool. Não houve diferença significativa<br />

entre os grupos com relação às variáveis analisadas<br />

(Tabela 1).<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):233-9.


236 Araujo RB et al.<br />

artigo original<br />

Tabela 1. Comparação entre médias e (desvios-padrão) entre grupo 1 e grupo 2, segundo aspectos sociodemográficos, padrão de<br />

consumo de substâncias e momentos do tratamento/abstinência<br />

Variáveis Grupo 1<br />

(n = 50)<br />

Idade 29,09 (±6,34) 26,95 (±6,81) 1,648 0,102<br />

Anos de estudo 7,70 (±2,24) 8,53 (±2,73) -1,663 0,100<br />

Tempo de internação 11,67 (±9,31) 14,15 (±5,22) -1,545 0,111<br />

Idade do início do uso da cocaína 17,14 (±2,44) 17,61 (±4,03) -0,666 0,507<br />

Tempo do último uso de cocaína (dias) 436,46 (±778,34) 254,51 (±341,25) 1,523 0,132<br />

Quantidade de cocaína utilizada/semana (gramas) 14,51 (±21,58) 8,01 (±13,99) 1,648 0,103<br />

Idade do início do uso de crack 23,30 (±6,11) 22,38 (±6,42) 0,739 0,461<br />

Tempo do último uso de crack (dias) 12,10 (±10,01) 15,31 (±10,79) -1,732 0,080<br />

Quantidade de crack utilizada/ semana (gramas) 14,68 (±16,57) 11,27 (±14,32) -1,534 0,122<br />

Ansiedade (Inventário Beck de Ansiedade) 16,11 (±38,65) 15,88 (±32,81) 0,655 0,333<br />

Depressão (Inventário Beck de Depressão) 14,07 (±9,22) 15,97 (±8,76) 0,822 0,524<br />

Grupo 2<br />

(n = 59)<br />

T<br />

P<br />

Confiabilidade<br />

Para avaliar a consistência interna do instrumento, foram<br />

calculados os valores do alfa de Cronbach no questionário<br />

como um todo e de seus dois fatores. O alfa total foi de 0,85<br />

(10 itens), o do fator 1 foi 0,93 (8 itens) e o do fator 2 foi 0,66<br />

(2 itens). O método split-half foi utilizado para avaliar a confiabilidade<br />

do instrumento, sendo obtido o coeficiente 0,88.<br />

Análise fatorial<br />

O Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste de Bartlett foram utilizados<br />

com o intuito de comprovar a adequação dos dados<br />

do CCQ-B para a análise fatorial. Os resultados deles foram,<br />

respectivamente, 0,851 e p < 0,001 e comprovaram que a<br />

utilização da ANOVA seria adequada para a validação da escala.<br />

Na tabela 2, estão distribuídas as questões nos fatores<br />

da escala a partir da utilização da rotação promax.<br />

O critério utilizado para a colocação dos itens nos fatores<br />

foi o descrito por Tiffany e Drobes 18 , os quais consideraram,<br />

na validação do Questionnaire of Smoking Urge (QSU), como<br />

pertencentes a um determinado fator itens com carga fatorial<br />

igual ou superior a 0,40, cuja carga no outro fator fosse<br />

menor do que 0,25, devendo a diferença entre ambas ser de,<br />

no mínimo, 0,20.<br />

Os fatores 1 e 2 do CCQ-B apresentaram autovalor de<br />

5,50 e 1,39 e variância de 54,98% e 13,86%, respectivamente,<br />

sendo o total da variância equivalente a 68,84% e a correlação<br />

entre os dois fatores significativa e de baixa intensidade<br />

(r = 0,204; p = 0,041).<br />

Validade convergente e de critério<br />

A validade convergente e de critério do CCQ-B foi mensurada,<br />

respectivamente, por meio da análise das correlações do<br />

CCQ-B e seus fatores com os escores da Escala Analógico-<br />

-Visual e pelas correlações do CCQ-B entre seus fatores (Tabela<br />

3).<br />

Tabela 2. Questões do CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada para o<br />

Crack e distribuição fatorial<br />

Amostra = 109<br />

Fatores<br />

Questões Fator 1 Fator 2<br />

CCQ-B 1 0,734* 0,234<br />

CCQ-B 2 0,795* 0,049<br />

CCQ-B 3 0,935* -0,035<br />

CCQ-B 4 -0,033 0,830*<br />

CCQ-B 5 0,819* 0,016<br />

CCQ-B 6 0,739* -0,098<br />

CCQ-B 7 -0,030 0,836*<br />

CCQ-B 8 0,774* -0,104<br />

CCQ-B 9 0,912* -0,075<br />

CCQ-B 10 0,847* 0,031<br />

* Participa da composição do fator.<br />

Tabela 3. Correlações do CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada<br />

para o Crack, fatores 1 e 2 e a Escala Analógico-Visual<br />

Amostra = 109 CCQB Total Fator 1 Fator 2<br />

Escala<br />

Analógico-<br />

Visual<br />

CCQ-B total 1,00 0,925** 0,550** 0,515**<br />

Fator 1 0,925** 1,00 0,209* 0,447**<br />

Fator 2 0,550** 0,209* 1,00 0,350**<br />

EAV 0,515** 0,447** 0,350** 1,00<br />

*p < 0,05; **p < 0,01.<br />

Validade discriminante<br />

Foi avaliada pelo escore total do CCQ-B, pelo escore de seus<br />

fatores e pela pontuação na Escala Analógico-Visual, no G1<br />

e no G2 (Tabela 4).<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):233-9.


artigo original<br />

Cocaine Craving Questionnaire versão brasileira<br />

237<br />

Tabela 4. Comparação de médias e (desvios-padrão) do craving<br />

entre grupo 1 e grupo 2<br />

Variáveis<br />

CCQ-B total<br />

CCQ-B fator 1<br />

CCQ-B fator 2<br />

Escala Analógico-Visual<br />

Grupo 1<br />

(n = 50)<br />

19,82 (±12,27)<br />

13,38 (±10,29)<br />

6,44 (±4,18)<br />

5,22 (±2,14)<br />

Grupo 2<br />

(n = 59)<br />

15,80 (±6,03)<br />

10,22 (±3,42)<br />

5,57 (±4,23)<br />

3,45 (±2,02)<br />

T<br />

2,045<br />

2,028<br />

1,006<br />

4,617<br />

P<br />

0,044<br />

0,045<br />

0,317<br />

0,001<br />

Modelo do craving<br />

Por meio da regressão linear, foi verificado quais eram as variáveis<br />

indicativas do total de pontos do CCQ-B. O modelo<br />

que melhor explicou essa variável foi o composto por: total<br />

de pontos do BDI e do BAI [R 2 = 0,949; F (4,15) = 23,009;<br />

p < 0,001]. O valor do coeficiente beta do total de pontos do<br />

BDI foi de 0,584 (p = 0,01) e o do BAI, de 0,493 (p = 0,05). As<br />

variáveis excluídas pela regressão linear foram: idade, escolaridade,<br />

estado civil, idade de início do uso de cocaína e de<br />

crack, quantidade consumida de cocaína e de crack e último<br />

consumo de cocaína e de crack.<br />

Craving e fatores associados<br />

O coeficiente de correlação linear de Pearson foi empregado<br />

no estudo correlacional entre o total de pontos do CCQ-B e<br />

algumas variáveis. Foram encontradas correlações positivas<br />

de baixa intensidade (0,20 < r < 0,40) a muito baixa (0 < r <<br />

0,20) e com os sintomas de depressão pelo BDI (r = 0,382;<br />

p = 0,010) e a quantidade de crack consumida em gramas<br />

por semana (r = 0,194; p = 0,044) e correlação negativa de<br />

intensidade baixa com o tempo do último uso de tabaco<br />

(r = -0,230; p = 0,028). O fator 1 teve correlação positiva de intensidade<br />

baixa apenas com os sintomas de depressão pelo<br />

BDI (r = 0,335; p = 0,025), e o fator 2 teve correlação positiva<br />

de intensidade baixa com os sintomas de depressão, BDI (r =<br />

0,299; p = 0,046), e correlação negativa de baixa intensidade<br />

com o tempo do último uso de tabaco (r = -0,234; p = 0,025).<br />

Não foi identificada correlação entre o total do CCQ-B, nem<br />

entre os dois fatores dessa escala e idade, escolaridade em<br />

anos de estudo, idade de início do uso do crack, tempo de internação,<br />

sintomas de ansiedade (BAI) e tempos do último uso<br />

do crack, da cocaína inalada, da maconha e do álcool (p > 0,05).<br />

DISCUSSÃO<br />

Propriedades da escala<br />

O CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada para o Crack demonstrou<br />

ser um instrumento adequado para mensurar o craving<br />

do crack, a partir da avaliação de suas propriedades psicométricas.<br />

Pela análise fatorial, foram obtidos dois fatores com<br />

cargas fatoriais altas, demonstrando a forte participação de<br />

cada questão nos respectivos fatores. Os resultados foram<br />

adequados, segundo os parâmetros de Tiffany e Drobes 18 .<br />

O fator 1 seria o craving e o fator 2, a falta de controle do uso<br />

do crack. Sussner et al. 10 e Palihal et al. 11 não realizaram análise<br />

fatorial do CCQ-B, no entanto, na análise fatorial da escala<br />

original, o CCQ-Now 11 , foi obtida uma solução de quatro fatores,<br />

os quais continham questões relativas a duas ou mais<br />

das seguintes categorias: desejo de usar cocaína, intenção e<br />

planejamento de usar cocaína, antecipação do efeito positivo,<br />

antecipação do alívio dos sintomas de abstinência ou da<br />

disforia e falta de controle do uso da cocaína. Assim, Tiffany<br />

et al. 7 consideraram que as categorias já destacadas na validação<br />

do QSU 18 e que comporiam o craving pelo tabaco<br />

também fariam parte do craving pela cocaína, no entanto salientaram<br />

a presença de uma nova categoria: a falta de controle<br />

do uso. A presença dessa nova categoria igualmente foi<br />

observada em nosso estudo.<br />

Foram encontradas, na validade de critério, correlações<br />

positivas do total de pontos com os dois fatores, no entanto<br />

a correlação com o fator 2 foi de intensidade moderada e<br />

com o fator 1, muito alta, demonstrando que a avaliação do<br />

somatório de pontos da escala e de seu fator 1 mensurou o<br />

mesmo constructo. A correlação entre os dois fatores, por<br />

outro lado, foi de intensidade baixa 19 . Isso significa que o fator<br />

1, denominado de “craving”, mensura o mesmo que o total<br />

de pontos da escala, sendo facultativo utilizar este último<br />

cálculo, por outro lado, demonstra que o fator 2 – falta de<br />

controle do uso do crack – não faz parte do constructo craving,<br />

sendo uma análise separada. O fato de o fator 2 aparecer<br />

como um fator separado pode estar relacionado ao fato<br />

de o seu craving ser muito intenso 15 . Mas deve-se destacar<br />

que as questões que compõem o fator 2 são invertidas, o<br />

que pode ter influenciado nesse resultado, como já alertado<br />

por Tiffany et al. 7 .<br />

O instrumento apresentou um nível satisfatório de consistência<br />

interna e de confiabilidade, de acordo com Bisquerra<br />

et al. 19 . Apesar de o fator 2 ter um valor de alfa inferior a<br />

0,70, foi muito próximo dele (0,66) e pode ser justificado<br />

pelo pequeno número de questões – apenas duas – que<br />

compõem esse fator, não prejudicando a confiabilidade do<br />

instrumento. A confiabilidade do CCQ-B já havia sido encontrada<br />

em outros estudos 10,11 .<br />

Na análise convergente, pode-se observar que o CCQ-B<br />

em seu total de pontos e seu fator 1 tiveram correlações positivas<br />

e moderadas e, em seu fator 2, uma correlação positiva<br />

de intensidade baixa com a Escala Analógico-Visual para<br />

mensurar o craving, resultados também destacados por Palihal<br />

et al. 11 e Sussner et al. 10 . O fato de as correlações serem<br />

de intensidades moderada e baixa, pode-se inferir, ocorreu<br />

em virtude de a Escala Analógico-Visual analisar o craving de<br />

forma uni e não multidimensional, como é o caso do CCQ-B.<br />

Outro ponto que se observa na clínica e que responderia pelos<br />

valores dessas correlações é que os dependentes, quando<br />

questionados diretamente a respeito do craving como<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):233-9.


238 Araujo RB et al.<br />

artigo original<br />

desejo, o confundem com a intenção de realizar esse desejo,<br />

outro componente do craving 4 . A crítica à utilização de escalas<br />

unidimensionais para avaliar o craving já foi feita por<br />

alguns autores, os quais destacam o aspecto multifatorial do<br />

fenômeno 4,18 .<br />

Como não houve diferenças significativas entre os grupos<br />

experimental e controle em variáveis que poderiam interferir<br />

no craving, foi possível realizar a validade descriminante<br />

da escala. A apresentação do estímulo visual foi efetiva<br />

em induzir o craving, como ocorre em outros estudos 8,9,15 .<br />

Segundo a validade descriminante, pode-se verificar que o<br />

CCQ-B foi sensível para perceber diferenças entre o craving<br />

nos grupos experimental e controle, tanto pelo seu total de<br />

pontos quanto pelo seu fator 1 (Craving). O fator 2 (falta de<br />

controle do uso do crack), por outro lado, não variou nos dois<br />

grupos. Isso faz com que se infira que a falta de controle não<br />

faça parte do constructo craving 4 , mas que seja uma consequência<br />

dele, o que torna mais consistente a constatação da<br />

baixa correlação entre os dois fatores da escala. Neste ponto,<br />

os achados são discordantes dos encontrados por Tiffany et<br />

al. 7 , que acreditam que a falta de controle não é uma consequência<br />

do craving, mas que faz parte do automatismo do<br />

comportamento de usar a droga que ocorre em indivíduos<br />

com uma longa história de consumo. A falta de controle do<br />

uso da substância não havia sido destacada como um componente<br />

do craving em estudo relacionado a outra substância<br />

utilizada pela via fumada, o tabaco 18 .<br />

O modelo que melhor explicou o total de pontos do<br />

CCQ-B foi o composto por sintomas de depressão e de ansiedade,<br />

o que está de acordo com o já defendido por alguns<br />

autores como o uso da substância como alívio do afeto negativo<br />

fazer parte do constructo craving 4,7,18 .<br />

Correlações com sintomas psiquiátricos<br />

Na análise correlacional, foi observada correlação positiva de<br />

intensidade baixa entre o total de pontos do CCQ-B, entre os<br />

dois fatores, e os sintomas de depressão no BDI, o que está<br />

de acordo os resultados da literatura 10,11 , sendo encontrada<br />

correlação positiva, mas de intensidade muito baixa, do total<br />

de pontos da escala com a quantidade de crack consumida<br />

em gramas por semana. Tanto os pacientes que apresentavam<br />

mais sintomas de depressão, quanto aqueles que consumiam<br />

mais crack, em nossa amostra, tinham craving mais<br />

intenso, no entanto apenas os deprimidos percebiam uma<br />

maior falta de controle do uso do crack. Tiffany et al. 7 encontraram<br />

correlações positivas do total de pontos dessa escala<br />

e a frequência de utilização da cocaína nos últimos seis meses<br />

utilizando o CCQ-Now.<br />

Foram encontradas correlações negativas de intensidade<br />

baixa entre o total de pontos do CCQ-B e entre o fator 2 e<br />

o tempo do último uso de tabaco, ou seja, quanto menos<br />

tempo passou do último uso do tabaco, maior é o craving<br />

pelo crack e mais o indivíduo percebe-se como não tendo<br />

o controle do uso desta última substância, o que está de<br />

acordo com Zeni e Araujo 9 , que salientaram a associação entre<br />

o craving por ambas as substâncias e a importância do<br />

tratamento concomitante das duas dependências 9 . Pode-se<br />

destacar um dado que contrasta com o de outros estudos 7,10 ,<br />

que foi não encontrar a correlação entre o craving e sintomas<br />

de ansiedade pelo BAI.<br />

Não foram encontradas correlações entre o craving e fatores<br />

associados à gravidade da dependência como: idade<br />

de início do uso do crack, tempo de internação e tempo decorrido<br />

do último uso de crack e de cocaína inalada. Pode-se<br />

inferir que esses achados estejam relacionados, no caso do<br />

crack, à pouca variação dessas variáveis na amostra pesquisada<br />

e, no caso da cocaína inalada, pelo fato de o craving pelo<br />

crack ter suas especificidades como seu efeito fugaz e característico<br />

ritual de consumo 15 . Deve-se destacar que Sussner<br />

et al. 10 também não encontraram associação entre o craving<br />

medido pelo CCQ-B e o número de dias de consumo de cocaína<br />

no último mês.<br />

Limitações<br />

É um estudo com amostra composta apenas por pacientes<br />

adultos, do sexo masculino e em regime de internação,<br />

o que pode influenciar os pontos de corte do questionário<br />

estudado. Outras limitações deste estudo foram a não apresentação<br />

de um estímulo neutro para o G2 e a não mensuração<br />

do craving nos dois grupos antes da apresentação do<br />

estímulo visual.<br />

Diferentes ambientes de tratamento devem ser estudados,<br />

pois a maioria dos dependentes é encontrada no tratamento<br />

ambulatorial. Mulheres e adolescentes dependentes<br />

devem compor novas amostras de pesquisas. Perspectivas<br />

futuras apontam para estudos que também utilizem biomarcadores<br />

na avaliação do craving.<br />

CONCLUSÃO<br />

Conclui-se que o CCQ-B – Versão Brasileira Adaptada para<br />

o Crack possui propriedades psicométricas satisfatórias, podendo<br />

ser um instrumento de avaliação do craving em pesquisas,<br />

como também em ambientes clínicos especializados<br />

no tratamento da dependência, no entanto ressaltamos que<br />

o mesmo deve ser avaliado em outros contextos clínicos.<br />

A amostra neste estudo permitiu sua avaliação em pacientes<br />

masculinos, adultos e hospitalizados, mas são necessários estudos<br />

com outros sujeitos.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao Dr. Bradley Sussner e ao Dr. Stephen Tiffany, pela permissão<br />

de validar o CCQ-Brief – Versão Brasileira e o CCQ-Brief<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):233-9.


artigo original<br />

Cocaine Craving Questionnaire versão brasileira<br />

239<br />

– Versão Brasileira Adaptada para o Crack. Ao referir-se às<br />

versões brasileiras do CCQ-Brief, solicitamos que sejam citados<br />

os artigos Tiffany et al. 7 e Sussner et al. 6 encontrados nas<br />

referências deste artigo.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. Guimarães CF, Santos DVV, Freitas RC, Araujo RBl. Perfil do usuário de crack e fatores<br />

relacionados à criminalidade em unidade de internação para desintoxicação no Hospital<br />

Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre (RS). Rev Psiquiatr Rio Gd Sul. 2008;30(2):101-8.<br />

2. Dias AC, Araújo MR, Dunn J, Sesso RC, De Castro V, Laranjeira R. Mortality rate among<br />

crack/cocaine-dependent patients: a 12-year prospective cohort study conducted in<br />

Brazil. J Subst Abuse Treat. <strong>2011</strong>;41(3):273-8.<br />

3. Marques AC, Seibel SD. O craving. In: Seibel SD, Toscano Jr. A, editores. Dependência de<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):233-9.


ORIGINAL artigo original ARTICLE<br />

Eating habits and psychopathology:<br />

translation, adaptation, reliability of the<br />

Nutrition Behavior Inventory to Portuguese<br />

and relation to psychopathology<br />

Hábitos alimentares e psicopatologia: tradução, adaptação,<br />

confiabilidade do Nutrition Behavior Inventory para o<br />

português e correlação com a psicopatologia<br />

Cássia Roberta Benko 1 , Antonio Carlos de Farias 2 , Mara L. Cordeiro 3<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Eating habits,<br />

psychopathology, children,<br />

mental health.<br />

Objective: The Nutrition-Behavior Inventory (NBI) is a self-administered instrument that allows<br />

eating habits to be correlated with psychopathological symptoms. The objective was to translate<br />

and adapt the NBI to Portuguese, and test the Portuguese NBI’s reliability. The second aim was to<br />

verify its sensitivity for identification of risk factors in terms of behavior/eating habits in children and<br />

adolescents. Methods: The NBI was translated, adapted, and back-translated. The Portuguese<br />

version of the NBI was then applied (N = 96; 9-12 years). In order to verify the internal consistency,<br />

Cronbach’s alpha was used. The psychopathological indicators of the participants were accessed<br />

using the Child Behavior Checklist (CBCL). The mean CBCL scores were analyzed in relation to the<br />

NBI data (cutoff point: ≥ 30 with indicators, and < 30 without). Results: Internal consistency was<br />

high (Cronbach’s alpha = 0.89) for the NBI. The CBCL scores correlated significantly with NBI<br />

(> 30) on the following: anxiety and depression (p = 0.041), social difficulties (p = 0.028), attention<br />

problems (p = 0.001), aggressive behavior (p = 0.015); ADHD (p < 0.001), and conduct problems<br />

(p = 0.032). Conclusion: The present results indicate that the NBI is a reliable instrument. The<br />

NBI can be useful for evaluating psychopathological symptoms related to the eating habits and<br />

behaviors of children and adolescents.<br />

resumo<br />

Objetivo: O Nutrition-Behavior Inventory (NBI) é um instrumento de autorrelato que permite<br />

que os hábitos alimentares sejam acessados e correlacionados com sintomas psicopatológicos.<br />

O objetivo foi traduzir, adaptar e testar a confiabilidade do NBI para o português. O segundo<br />

Recebido em<br />

18/7/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

31/10/<strong>2011</strong><br />

1 Pelé Pequeno Príncipe Research Institute, Department of Neuropsychopharmacology; Faculdades Pequeno Príncipe; Children’s Hospital<br />

Pequeno Príncipe, Department of Psychology, Curitiba, Brazil.<br />

2 Pelé Pequeno Príncipe Research Institute, Department of Neuropsychopharmacology; Faculdades Pequeno Príncipe; Children’s Hospital<br />

Pequeno Príncipe, Department of Neuropediatrics, Curitiba, Brazil.<br />

3 Pelé Pequeno Príncipe Research Institute, Department of Neuropsychopharmacology; Faculdades Pequeno Príncipe; University of California<br />

Los Angeles, Semel Institute for Neuroscience and Human Behavior, Department of Psychiatry and Biobehavioral Sciences of the<br />

David Geffen School of Medicine, United States.<br />

Address for correspondence: Mara L. Cordeiro<br />

Instituto Pelé Pequeno Príncipe,<br />

Departamento de Neuropsicofarmacologia<br />

Av. Silva Jardim, 1632, Água Verde – 80250-200 – Curitiba, PR, Brazil<br />

Tel.: (+55 41) 3310-1036/Telefax: (+55 41) 3322-1446<br />

E-mail: mcordeiro@mednet.ucla.edu


ORIGINAL ARTICLE<br />

Eating habits and psychopathology in children and adolescents<br />

241<br />

Palavras-chave<br />

Hábitos alimentares,<br />

psicopatologia, crianças,<br />

saúde mental.<br />

objetivo foi verificar a sua sensibilidade para a identificação de fatores de risco em termos<br />

de comportamento/hábitos alimentares em crianças e adolescentes. Métodos: O NBI foi<br />

traduzido, adaptado e retrotraduzido. A versão em português do NBI foi então aplicada<br />

(N = 96; 9-12 anos). O instrumento foi analisado em relação à consistência interna por meio do<br />

índice alfa de Cronbach. Os indicadores psicopatológicos dos participantes foram acessados<br />

utilizando o Child Behavior Checklist (CBCL). Os escores médios do CBCL foram analisados em<br />

relação aos dados do NBI (ponto de corte: ≥ 30 com indicadores, e < 30 sem). Resultados:<br />

A consistência interna foi alta (alfa de Cronbach = 0,89) para o NBI. As pontuações do CBCL<br />

foram associadas significativamente com NBI (> 30) em relação aos indicadores: ansiedade<br />

e depressão (p = 0,041), dificuldades sociais (p = 0,028), problemas de atenção (p = 0,001),<br />

comportamento agressivo (p = 0,015), TDAH (p < 0,001) e problemas de conduta (p = 0,032).<br />

Conclusão: Os resultados indicam que o NBI é um instrumento confiável. O NBI pode<br />

ser útil para avaliar sintomas psicopatológicos relacionados com os hábitos alimentares e<br />

comportamentos de crianças e adolescentes.<br />

INTRODUCTION<br />

The etiology of mental disorders is complex and multifactorial,<br />

and more research is needed to decipher it. One of the most<br />

commonly accepted scientific hypotheses regarding the<br />

etiology of mental disorders is that there is a strong interaction<br />

between genetic predisposition and positive and/or negative<br />

environmental factors and that, therefore, interaction with<br />

the environment can affect the development of mental or<br />

physical health problems during a person’s lifespan 1 .<br />

The growing number of mental health problems has<br />

motivated scientists worldwide to study factors that provide<br />

protection from or increase vulnerability to the development<br />

of mental illness 2 . Furthermore, there is a need to find<br />

treatment approaches that are more effective than existing<br />

treatments, as well as to adopt a preventive posture.<br />

Nutrition and eating habits are environmental factors<br />

that can have a substantial positive or negative influence on<br />

mental health 3 . Nutrition and eating behavior merit particular<br />

during childhood and adolescence when maturation and<br />

brain development are accelerated. Appropriate attention<br />

to diet and adequate consumption of nutrients can be vital<br />

to the proper development of neurobiological processes<br />

during this period 4 . Moreover, a child’s dietary choices can<br />

have a strong impact on the way in which s/he learns, feels,<br />

and behaves 5 . The manifestation of early psychopathological<br />

symptoms of mental illness during adolescence, even<br />

when temporary, can be a harbinger of continued and<br />

even more serious mental health problems in adulthood 6 .<br />

Prevention measures should consider the timing of pediatric<br />

susceptibility and what environmental factors may “trigger”<br />

genetic predispositions to mental and behavioral disorders 6 .<br />

A number of studies have demonstrated a relationship<br />

between diet and mental health, but few clearly delineated<br />

scientific studies have addressed this question in subjects<br />

that are in important developmental phases, such as late<br />

childhood and the start of adolescence 7 . During this period,<br />

there are biological, psychological, and a social change that<br />

commonly gives rise to many behavioral changes.<br />

Although it is clear that there is a relationship between<br />

diet and mental disorders, there is not yet a consensus<br />

among scientists as to whether food preferences and choices<br />

are causative or consequential factors of mental disorders 8 .<br />

Early diagnosis can help to prevent problems of increasing<br />

prevalence in the West, especially if diagnosis is followed<br />

by appropriate preventative and therapeutic measures,<br />

including improvements in the quality of dietary practices<br />

in order to reduce the social and personal impact of mental<br />

disorders and behavioral problems in young people 9 .<br />

In 1980, Alexander Schauss developed the “Nutrition-<br />

Behavior Inventory” (NBI) for research examining the<br />

influence of diet on behavior. The NBI addresses behavioral,<br />

physical, and metabolic symptoms and their relationship<br />

to nutrition. It includes questions that enable evidence of<br />

habits involving high consumption of sugar, carbohydrates,<br />

and caffeine, as well as evidence of behaviors arising from<br />

metabolic and behavioral disorders, to be ascertained 10 . The<br />

NBI is an inventory with 52 questions, with each question<br />

addressing a particular symptom(s) of health, dietary habits,<br />

and behaviors. The form can be filled out with a pencil and<br />

takes 15~20 minutes. The higher the score (especially ≥ 30),<br />

the greater the probability that an individual has nutritional<br />

factors that affect their health and behavior 10 . The instrument<br />

can be applied in a self-reporting format with four answer<br />

choices, graded according to frequency as follows: “most<br />

of the time” (3 points); “often” (2 points); “rarely” (1 point);<br />

and “never” (0 points). Of the 52 questions on the NBI, 10<br />

probe for evidence that a person may have a blood sugar<br />

disorder; responses to these questions may also indicate a<br />

high consumption of refined carbohydrates and caffeine 10 .<br />

At the moment, the NBI is the only instrument that allows for<br />

this type of analysis, as most scales used in studies examining<br />

the relationship between dietary habits and behaviors<br />

are specifically directed at identifying eating disorders,<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):240-6.


242 Benko CR et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

such as anorexia, bulimia, and obesity. For example, the<br />

“Eating Attitude Test (EAT)” 11 is an instrument that reveals<br />

susceptibility toward the development of anorexia and<br />

bulimia nervosa in adults, whereas the “Children’s Eating<br />

Attitude Test (ChEAT)” 12 evaluates symptoms of bulimia<br />

and a preoccupation with body weight in children and<br />

adolescents.<br />

The first aim of the present work was to translate<br />

to Portuguese, adapt, and to test the reliability for the<br />

Brazilian population an instrument that is comparable to<br />

the English-language NBI in terms of being capable of<br />

flagging indicators of dietary behaviors or habits that may<br />

be related to mental disorders in people in late childhood<br />

and the start of adolescence. The second aim was to test the<br />

hypothesis that the NBI would be sufficiently sensitive to<br />

reveal associations between eating habit related risk factors<br />

and behavior in a group of children with psychopathologies<br />

relative to a healthy control group using the Child Behavior<br />

Checklist (CBCL) 13 . The CBCL is a broad spectrum inventory<br />

that documents behavioral and emotional problems and<br />

competencies in children 6 to 18 years of age 13 . The CBCL<br />

has been translated into over 80 languages and research has<br />

shown that it has great reliability and validity in clinical and<br />

non-clinical populations 14-19 . Furthermore, studies have also<br />

shown that the CBCL has good convergence with structured,<br />

interview-derived diagnostic categories 20 .<br />

The long-term objective of this work is to provide a<br />

means for performing triage (that can be used not only in<br />

Brazil, but also in English speaking countries) for mental<br />

and/or behavioral problems during the critical period of<br />

development that occurs in late childhood and adolescence,<br />

thereby facilitating the administration of further preventative<br />

actions during this stage.<br />

Method<br />

Participants<br />

This research was carried out in accordance with the<br />

Guidelines established by the Brazilian Ministry of Health’s<br />

National Commission for Research Ethics, Resolution 196/96,<br />

and was approved by the Research Committee for Human<br />

Subjects. The present investigation was part of an ongoing<br />

longitudinal clinical assessment of behavioral, mood, and<br />

learning disorders conducted in our research institute. The<br />

assessment and diagnostic methods employed are described<br />

in detailed elsewhere 21,22 . The study included only children/<br />

adolescents between 9 and 12 years of age, of both sexes,<br />

who were students in schools belonging to the Municipal<br />

Education system of Curitiba, a southern city in Brazil, and<br />

who were sent for evaluation by a multi-professional team<br />

during the period between March 2007 and November<br />

2009. To be included, the participants were required to have<br />

an intelligence quotient (IQ) ≥ 70 as determined by the third<br />

version of the Wechsler Intelligence Test (WISC-III) 23 .<br />

Parents or guardians accompanying enrolled children<br />

provided written informed consent. Since the NBI only<br />

gives indicators of eating habit behavior associated with<br />

psychological problems, we tested the applicability of the<br />

NBI by comparing the results with results obtained from the<br />

CBCL, a well established (worldwide) inventory for evaluating<br />

psychopathology in children and adolescents 14 .<br />

Study procedures<br />

The experimental strategy basically consisted of two steps:<br />

(1) “Translation, back-translation, and adaptation of the NBI”<br />

and (2) “Applicability of the NBI” utilizing results from the<br />

“Child Behavior Checklist” (CBCL).<br />

First step: translation, back-translation, and<br />

adaptation of the NBI<br />

For the translation, adaptation, and validation of the<br />

NBI for the Brazilian population, the researchers sought<br />

the authorization of the original instrument’s author in<br />

accordance with previously suggested guidelines 24-26 .<br />

Briefly, the original NBI was first translated to Portuguese by<br />

two independent professionals fluent in both the original<br />

and target languages; both versions were analyzed and<br />

synthesized. Subsequently, the synthesized version was<br />

back-translated to its original language and reviewed by an<br />

expert committee comprised of two clinical psychologists, a<br />

pediatric neurologist with an MD and a neuroscientist with a<br />

PhD. The Portuguese version of the NBI was then pretested<br />

on 20 respondents to probe for their understanding and<br />

acceptability of the test as well as for the emotional impact<br />

that the test makes. Small changes were necessary in order to<br />

adapt it to Brazilian culture. However, we avoided changing<br />

the essence of the questions as posed by the original author.<br />

Participants who were able to read fluently responded<br />

the questionnaire by self-reporting. The evaluator – a<br />

psychology professional trained and directed to maintain<br />

neutrality while reading the instrument’s questions – read<br />

the questions aloud for those who were not yet able to read<br />

fluently and helped them fill out the form in accordance with<br />

their answers.<br />

In order to verify the internal consistency of the<br />

instrument’s items, Cronbach’s alpha was used. A construct<br />

can be indirectly validated with an internal base of consistency<br />

or no relation between the questions that make up part of<br />

the scale, indirectly leading to the conclusion that the scale is<br />

a valid construction 27 . The Cronbach’s alpha coefficient is the<br />

simplest and best-known measure of internal consistency<br />

and is the primary approach used in constructing the<br />

validation of a scale. In general, a group of items that explore<br />

a common factor have a high Cronbach’s alpha value.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):240-6.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Eating habits and psychopathology in children and adolescents<br />

243<br />

The minimum acceptable value for the Cronbach’s alpha<br />

coefficient is 0.70; alpha values between 0.80 and 0.90 are<br />

considered ideal 28 .<br />

Second step: applicability of the NBI (annex)<br />

Based on their responses in the Portuguese-language version<br />

of the NBI, the subjects were separated into two groups,<br />

using a cutoff of 30 points 10 . The groups (< 30 and ≥ 30)<br />

were analyzed in relation to the scales for the “Child Behavior<br />

Checklist” (CBCL). This instrument, answered by the children’s<br />

guardians, is used across the world, and has been validated in<br />

Brazil 29 , to measure psychopathological indicators and social<br />

and behavioral problems in subjects between 6 and 18 years<br />

old. The CBCL provides scales concerning overall problems<br />

and two scales of Internalizing and Externalizing problems<br />

of the following kind: depression, withdrawal, rule-breaking<br />

behavior, aggressiveness, social problems, and problems in<br />

thinking, attention, and somatization. In addition, the CBCL<br />

has a subscale based on the diagnostic criteria established<br />

by the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders<br />

(DSM), which gives indicators for affective, anxiety and<br />

somatic problems as well as indicators for the diagnosis of<br />

attention deficit/hyperactivity disorder, oppositional defiant<br />

disorder, and conduct problems 29 .<br />

For the scoring, we used software developed by Achenbach<br />

Assessment Data Manager (ADM) 13 , which converts raw<br />

scores into scores that are T-normalized for age and gender.<br />

The 98 th percentile of the normative sample of T scores was 70<br />

or greater and the subclinical (borderline) range for T scores<br />

was 65-70. For total Internalizing and Externalizing Problems,<br />

a T score in the range of 60-63 points is considered borderline<br />

and a T score above 63 points in the clinical range 13 .<br />

Data analyses<br />

For the statistical analyses, Statistica-7.0 (StatiSoft® South<br />

America) software was used. Data were verified in relation<br />

to normality and descriptive analyses using Kolmogorov-<br />

Smirnov tests. The Levene test, one of the strongest and most<br />

robust tests in terms of deviations, was also used to verify<br />

the homogeneity of the variations. In cases where there was<br />

no homogeneity (p < 0.05), Welch’s Student’s T-test (Test W/<br />

Separate Variance Estimates in Statistica) was applied. The<br />

Student T-Test was used to examine relationships between<br />

the dependent variables (IQ, CBCL) and the independent NBI<br />

variable (NBI < 30 or NBI ≥ 30). Comparisons were considered<br />

significant when they had two-tailed values of p < 0.05.<br />

Results<br />

Demographics<br />

The demographic data are summarized in table 1. A total of<br />

96 participants, 9 to 12 years of age, of both sexes (83 boys<br />

and 13 girls), completed the inventory. Average age did not<br />

differ between the groups (p = 0.84). The two groups were<br />

found to be similar with respect to potentially interfering<br />

factors, such as age and IQ. As the children were referred<br />

from the same local public schools, we could presume that<br />

there were not substantial socioeconomic differences in the<br />

groups studied.<br />

Table 1. Demographic data for the study population<br />

Parameter NBI < 30<br />

(N = 28)<br />

Sex<br />

M<br />

(N = 83)<br />

F<br />

(N = 13)<br />

29%<br />

(N = 24)<br />

30.8%<br />

(N = 4)<br />

NBI ≥ 30<br />

(N = 68)<br />

71%<br />

(N = 59)<br />

69.2%<br />

(N = 9)<br />

Age (years) 9.7 ± 1.2 9.8 ± 1.0 0.837<br />

IQ Total (WISC-III) 100.3 ± 20.7 99.3 ± 17.0 0.838<br />

Cultural and sample related adaptations<br />

The cultural adaptation was tested in 20 participants. We<br />

found that after translation and back-translation, some<br />

questions needed to be adapted or withdrawn, as shown<br />

in table 2, to obtain the final version of the adapted<br />

questionnaire. An analysis performed to verify the internal<br />

consistency of the translated instrument yielded a Cronbach’s<br />

alpha index value of 0.8896.<br />

Table 2. Questions on the original NBI inventory that were<br />

changed during adaptation<br />

Original question Translation Adaptation<br />

23. I feel better after<br />

my first snack or meal of<br />

the day<br />

26. I eat sweet things or<br />

drink caffeinated coffee,<br />

tea or cola<br />

31. I drink alcoholic<br />

beverages<br />

36. I constantly worry<br />

about things<br />

23. Eu me sinto melhor<br />

depois do primeiro lanche<br />

ou refeição do dia [I feel<br />

better after my first snack<br />

or meal of the day]<br />

26. Eu como coisas doces<br />

ou bebidas cafeinadas<br />

como café, chá ou Coca-<br />

Cola [I eat sweet things<br />

or caffeinated drinks like<br />

coffee, tea or Coca-Cola]<br />

31. Eu bebo bebidas com<br />

álcool [I drink alcoholic<br />

beverages]<br />

36. Eu constantemente me<br />

preocupo com as coisas<br />

[I constantly worry about<br />

things]<br />

48. I want to kill myself 48. Eu quero me matar<br />

[I want to kill myself]<br />

52. Do you smoke<br />

cigarettes?<br />

52. Você fuma cigarros?<br />

[Do you smoke cigarettes?]<br />

* Questions removed since the study population were underage (9-12 years old).<br />

23. Eu me sinto melhor<br />

depois do café da manhã<br />

[I feel better after<br />

breakfast]<br />

26. Eu como doces ou bebo<br />

Coca-Cola, chá ou café<br />

frequentemente [I often<br />

eat sweets or drink Coca-<br />

Cola, tea or coffee]<br />

Question removed*<br />

35. Eu estou sempre<br />

preocupado com alguma<br />

coisa [I am always worried<br />

about something]<br />

47. Eu já pensei em me<br />

matar [I have thought<br />

about killing myself]<br />

Question removed*<br />

p<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):240-6.


244 Benko CR et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

Analyses of the NBI with respect to CBCL<br />

psychopathological indicators<br />

The averages obtained in the analyses of the subscales of<br />

the CBCL were compared between the groups, according<br />

to their NBI scores (NBI < 30 and NBI ≥ 30) to verify the<br />

statistical difference for each subscale. Figure 1 summarizes<br />

the results obtained for the two groups, participants with an<br />

NBI < 30 versus those with an NBI ≥ 30 points. These analyses<br />

indicate that significant correlations were detected by the<br />

CBCL for the problems of: anxiety and depression (p = 0.041);<br />

social difficulties (p = 0.028); attention problems (p = 0.001);<br />

aggressive behavior (p = 0.015); ADHD (p < 0.001); and<br />

conduct problems (p = 0.032); as well as for the externalizing<br />

problems (p = 0.03); and total problems (p = 0.017).<br />

T-SCORE<br />

71<br />

68<br />

65<br />

62<br />

59<br />

56<br />

AD<br />

DW<br />

SC<br />

SP<br />

NBI: “Nutritional Behavior Inventory”; CBCL: “Child Behavior Checklist”; AD: anxiety/depression; DW: depression/<br />

withdrawal; SC: somatic complaints; SP: social problems; TP: thought problems; AP: attention problems; RRB:<br />

rule-breaking behaviors; AB: aggressive behaviors; AfP: affective problems; AnP: anxiety problems; SP: somatic<br />

problems; ADHP: attention deficit/hyperactivity problems; ODP: oppositional defiance problems; CP: conduct<br />

problems; IP: internalizing problems; EP: externalizing problems; TP: total problems. * (p < 0.05).<br />

Figure 1. Graph comparing the NBI scores and the average T<br />

scores of the CBCL.<br />

Discussion<br />

CBCL – Psychopathologies<br />

TP<br />

AP<br />

RBB<br />

AB<br />

AfP<br />

AnP<br />

NBI < 30<br />

NBI ≥ 30<br />

SP<br />

ADHP<br />

ODP<br />

CP<br />

IP<br />

EP<br />

TP<br />

The present results indicate that the Portuguese version of<br />

the NBI is a reliable instrument. Furthermore, a comparison of<br />

the NBI results with data obtained with the CBCL – a widely<br />

used instrument with excellent psychometric properties<br />

and convergence between structured interview-derived<br />

diagnoses – demonstrated that the NBI can also be useful<br />

for assessing psychopathological symptoms related to the<br />

eating habits and behavior of children and adolescents.<br />

Participants with high NBI scores also presented indicators<br />

of mood, attentional, and behavioral problems in the CBCL.<br />

There is a general consensus that the incidence rate of<br />

psychiatric disorders in children and adolescents has risen over<br />

the last few decades. Although the reasons for this increase<br />

remain speculative, some important research has focused<br />

on possible causes and preventions for these disorders. The<br />

first aim of the present work was to translate and validate the<br />

NBI for Portuguese language speakers, and the second aim<br />

was to analyze whether factors such as eating behaviors and<br />

habits could be associated with psychopathology during<br />

late childhood and early adolescence. The goal was to find<br />

simple ways to identify symptoms and factors that negatively<br />

contribute to the mental health of this population or cause<br />

it to deteriorate. The NBI is a paper and pencil questionnaire<br />

that provides a straightforward analyzable inventory that can<br />

be applied in triage clinical settings or even at schools.<br />

Cultural adaptations and adaptations in relation<br />

to the sample<br />

After the translation and back-translation of the original NBI,<br />

some questions needed to be withdrawn or adapted in light<br />

of the equivalence of construction comparison. Specifically,<br />

questions about smoking (an open question) and alcohol use<br />

(question 31) were removed from the study. We observed<br />

discomfort and resistance to these questions during the pilot<br />

application of the first questionnaire related to the age range<br />

(9-12 years) of the study’s participants. The questions were<br />

removed in order to facilitate the participants’ adherence.<br />

The cultural adaptations proposed did not imply changes<br />

to the main content of the questions; we confirmed this by<br />

observing comparisons between the back-translation and<br />

the original instrument, so as to identify the equivalence<br />

of construction. However, for those wishing to investigate<br />

issues related to alcohol and tobacco use in adults, the<br />

omitted questions may be left in the NBI.<br />

The NBI was analyzed for internal consistency using<br />

Cronbach’s alpha index 27 , which assesses the reliability of<br />

a test in situations in which the researcher is not able to<br />

do other interviews with the individual, but which require<br />

an appropriate estimate of the average degree of error. In<br />

general, scales with an alpha value lower than 0.70 should be<br />

avoided. The alpha value for our translated, adapted NBI was<br />

0.8896, and there were no questions outside the expected<br />

average, indicating that the instrument had good internal<br />

consistency, in accordance with what we expected for its<br />

validation.<br />

Clinical implications and study limitations<br />

The present study had some limitations. First, our sample<br />

was made up mainly of male participants. This gender<br />

imbalance was related to the characteristics of our center’s<br />

line of research, as the students were referred to us from<br />

local schools 21,22 . In this population, teachers tend to<br />

recommend or refer students with externalizing symptoms,<br />

rather than those with internalizing symptoms, and research<br />

has shown 30 that boys tend to have more externalizing<br />

problems than girls. Second, since the NBI has not been<br />

translated to other languages (e.g., Spanish), we were unable<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):240-6.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Eating habits and psychopathology in children and adolescents<br />

245<br />

to compare our results with those of other translations and<br />

cultures. Nonetheless, our work may open new avenues of<br />

research in the area of eating habits and psychopathology<br />

in other countries. Third, we only analyzed the results of<br />

the NBI with respect to CBCL indicators, and not with the<br />

respective conclusive diagnoses of the disorders in the<br />

children. However, several studies have well documented<br />

that the CBCL has good convergence with structured<br />

psychiatric interview 16,31-35 . Fourth, because of the research<br />

characteristics of our center, we could only include children<br />

and adolescents in the sample. Thus, we do not know<br />

whether the NBI as translated would be useful for the adult<br />

population in Brazil. This indicates that further research<br />

validating our already translated NBI may be tested in an<br />

adult Brazilian population.<br />

In spite of the limitations mentioned above, the results<br />

presented indicate that the NBI has sensitivity for identifying<br />

psychopathological symptoms related to the dietary habits of<br />

children and adolescents (Figure 1). It supports current data<br />

in the literature that suggests that emotional difficulties and<br />

problems are correlated with eating habits and consumption<br />

of so-called junk-food 36,37 . Furthermore, early studies showed<br />

that adolescents who together with their parents exhibited<br />

aggressive behavior had very high NBI scores 10 . The present<br />

study showed that pre-adolescents with social problems,<br />

aggressive behavior issues, and conduct problems also had<br />

NBI scores above the cut-off point of 30 (Figure 1). Certainly,<br />

additional studies are needed to extend our seminal findings.<br />

In addition, studies suggest that children who eat more<br />

junk-food may have nutritional imbalances over the longterm,<br />

since these foods are normally rich in sugar and fat,<br />

and in many instances, contain additives, food coloring,<br />

and preservatives, and provide poor quality nutrition 36 .<br />

Consumption of junk-food has been shown to make<br />

adolescents more prone to hyperactivity and attention<br />

problems, as well as other emotional problems that are<br />

often comorbid with these conditions, such as behavioral<br />

disorders and social problems 37 . High consumption of<br />

caffeine and sugar, mainly in the form of soft drinks, has been<br />

associated with aggressive behavior, ADHD, social problems<br />

and somatic complaints 38 .<br />

An unhealthy dietary regimen can also be considered<br />

a subjacent symptom of mental disorders 39 . In addition,<br />

changes in the reward circuit of the brain during puberty<br />

can also be related to depressive symptoms in adolescents.<br />

It is possible; however, that an increase in reward seeking<br />

behavior, at this point in development, may compensate for<br />

changes in affect 40 .<br />

The continual search for foods that are very tasty,<br />

though being poor in nutritional value, uses neutral paths<br />

of behavioral reinforcement, including the dopaminergic<br />

system, progressively degrading the equilibrium of the brain’s<br />

reward circuit and thereby generating more consumption<br />

and a compulsion for this type of food. This circumstance,<br />

termed “dietary dependence”, is considered a mental health<br />

risk factor, especially during childhood and adolescence 40 .<br />

Mood, anxiety disorders and substance abuse disorders<br />

are among the most studied, common, serious, and<br />

incapacitating disorders that arise during adolescence 41 .<br />

Moreover, the manifestation of these disorders during early<br />

adolescence is associated with subsequent development<br />

of serious forms of these diseases, and anxiety symptoms<br />

often precede mood disorders during childhood and<br />

adolescence 40 . Therefore, this issue in and of itself underscores<br />

why early diagnosis and detection of risk factors for mental<br />

health problems during these phases is crucial.<br />

Conclusion<br />

The presently developed Portuguese-language NBI is the first<br />

instrument that allows for triage to evaluate emotional and<br />

behavioral problems and dietary habits related to behavioral<br />

and mood disorders in Portuguese speaking people. The presently<br />

reported analyses of its internal consistency after translation<br />

and adaptation when administered to Brazilian children<br />

and adolescents offer sufficient proof of its validation. Furthermore,<br />

our results suggest that there is a strong association<br />

between NBI findings and CBCL psychopathological indicators<br />

for several mental health problems, such as depression,<br />

anxiety, attention problems, aggressiveness, and conduct<br />

and social problems. The indicators for externalizing and total<br />

problems were also significant.<br />

The results presented in this study suggest that poor diet<br />

may be associated with mental disorders and demonstrate<br />

that the NBI can be used for early identification of symptoms<br />

of emotional problems and behaviors and related dietary<br />

habits in an inexpensive, easy, and rapid manner. The<br />

NBI is easy to administer in walk-in clinics or by teachers<br />

in schools, thus facilitating the early identification of risk<br />

factors that contribute to mood or behavioral disorders.<br />

NBI findings can also serve as a basis for planning possible<br />

complementary actions and therapeutic interventions, such<br />

as modifying dietary habits or secondary prevention tactics.<br />

Such interventions can prevent problems from progressing<br />

or becoming chronic, which is important considering<br />

adolescents’ vulnerability to mental illness.<br />

ACKNOWLEGMENTS<br />

This study was supported by the State of Paraná Department<br />

of Science and Technology (SETI nº 003/07) and the State<br />

Health Department (SESA nº 009/07), Mr. Norbert Gehr and<br />

the UCLA Foundation. We thank social worker Ms. Rosilda<br />

Ferreira for her assistance, the public school teachers, the<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):240-6.


246 Benko CR et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

students and their families for participating in the study. We<br />

also thank Dr. Alexander Schauss for giving us the opportunity<br />

to translate and adapt to Portuguese his questionnaire.<br />

DISCLOSURES<br />

None to declare.<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):240-6.


artigo original<br />

Simulator Sickness Questionnaire:<br />

tradução e adaptação transcultural<br />

Simulator Sickness Questionnaire: translation and cross-cultural adaptation<br />

Marcele Regine de Carvalho¹, Rafael Thomaz da Costa¹, Antonio Egidio Nardi¹<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Cybersickness, realidade<br />

virtual, adaptação<br />

transcultural, equivalência<br />

semântica.<br />

Contexto: O estudo de cybersickness, sintomas desconfortáveis relacionados à interação em<br />

ambientes virtuais, é importante para a implementação de melhorias destes, para ajudar a<br />

preservar o bem-estar dos usuários e reduzir o abandono às exposições virtuais. Usar um<br />

instrumento adequado para identificar e mensurar os sintomas de cybersickness, de forma<br />

padronizada, pode contribuir para essa finalidade. Objetivo: Este estudo tem como objetivo<br />

apresentar as etapas de tradução e adaptação para a língua portuguesa do instrumento<br />

Simulator Sickness Questionnaire, que mede os sintomas de cybersickness. Métodos: Três<br />

traduções e retrotraduções foram realizadas por avaliadores independentes; realizaram-se<br />

a equivalência semântica e a avaliação das versões, sendo elaborada uma versão síntese. Os<br />

comentários dos participantes sobre a versão preliminar do questionário foram examinados.<br />

Resultados: Foi construída a versão brasileira preliminar do questionário. Verificou-se que a<br />

maioria dos participantes entendeu as descrições dos sintomas expostas no questionário em<br />

português. Conclusão: A utilização de três versões de tradução e retrotradução, discussão<br />

sobre a versão síntese e a interlocução com a população-alvo proporcionaram viabilidade ao<br />

processo de equivalência semântica da versão final brasileira.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Cybersickness, virtual reality,<br />

cross-cultural adaptation,<br />

semantic equivalence.<br />

Background: The study of cybersickness, uncomfortable symptoms related to interaction in virtual<br />

environments, is important for these environments’ improvement that help to preserve the welfare<br />

of users and reduce the abandonment of virtual exposures. Using an appropriate instrument to<br />

identify and measure the symptoms of cybersickness in a standardized way can contribute to this<br />

purpose. Objective: The objective of the current study is to present the stages of translation and<br />

adaptation into Portuguese of the instrument “Simulator Sickness Questionnaire”, which measures<br />

cybersickness’ symptoms. Methods: Three translations and back translations were conducted by<br />

independent evaluators, the semantic equivalence and versions’ evaluation were made, producing<br />

a synthesized version. Comments from participants on the preliminary version of the questionnaire<br />

were examined. Results: The preliminary Brazilian version of the questionnaire was developed. It<br />

was found that most participants understood the symptoms’ descriptions given in the translated<br />

questionnaire. Conclusion: The use of three different versions of translation and back translation,<br />

the discussion of the synthetic version and the interaction with the target population have provided<br />

viability for the process of semantic equivalence of the Brazilian final version.<br />

Recebido em<br />

11/4/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

15/6/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (<strong>UFRJ</strong>), Instituto de Psiquiatria, Laboratório do Pânico e Respiração; Instituto Nacional de Ciência<br />

e Tecnologia em Medicina Translacional (INCT-TM).<br />

Endereço para correspondência: Marcele Regine de Carvalho<br />

Av. das Américas, 1155/2005, Barra da Tijuca – 22631-000 – Rio de Janeiro, RJ<br />

E-mail: marcelecarvalho@gmail.com


248 Carvalho MR et al.<br />

artigo original<br />

INTRODUÇÃO<br />

A realidade virtual pode ser definida como uma interface tridimensional<br />

que coloca o sujeito em condição de troca com<br />

um ambiente recriado via computador 1 . Em ambientes virtuais,<br />

os usuários são imersos em ambientes com estímulos<br />

multissensoriais amparados por um sofisticado aparato que<br />

permite interação com o ambiente virtual tridimensional. Em<br />

psiquiatria e psicologia, a exposição de pacientes a ambientes<br />

virtuais é uma técnica psicoterapêutica utilizada como uma<br />

ferramenta para eliciar ansiedade e desencadear o processo<br />

de habituação a estímulos ansiogênicos e também para testar<br />

e modificar cognições distorcidas, principalmente a partir<br />

da abordagem da terapia cognitivo-comportamental 2 . Mas<br />

é possível que nesses ambientes virtuais os usuários sintam<br />

sintomas desconfortáveis (como vista cansada, fadiga, tontura,<br />

ataxia) que atrapalham a experiência virtual e fazem parte<br />

da experiência denominada de “cybersickness”. Além dos<br />

efeitos de cybersickness imediatos, sintomas de cybersickness<br />

consequentes à interação, como flashbacks visuais, desorientação<br />

e distúrbios de equilíbrio podem acontecer até 12 horas<br />

após a exposição ao ambiente virtual 3 .<br />

Sendo assim, muitos usuários experimentam desconforto<br />

durante e, às vezes, depois de uma sessão em um ambiente<br />

virtual 4 . Cobb 5 verificou que 80% de todos os participantes<br />

de sua pesquisa apresentaram aumento nos sintomas de cybersickness<br />

dentro de 10 minutos após ficarem imersos em<br />

um ambiente de realidade virtual. Regan e Ramsey 6 verificaram<br />

que indivíduos expostos à realidade virtual apresentaram<br />

sintomas por até 5 horas após a imersão. A severidade<br />

e a duração desses sintomas podem ser influenciadas pelo<br />

tempo de exposição ao ambiente virtual e da intensidade<br />

da experiência 4 .<br />

Parece existir uma correlação entre a percepção do próprio<br />

movimento sem um movimento físico real e a sensação<br />

de mal-estar (sickness) 7,8 . A experiência de cybersickness é,<br />

provavelmente, o resultado da mescla de estímulos visuais<br />

e de movimento, e não apenas devida ao movimento em si 9 .<br />

Alguns estudos avaliaram a habituação aos efeitos colaterais<br />

de imersão em realidade virtual, observando que ela<br />

ocorria quando a realidade virtual era repetidamente apresentada<br />

10,11 . Apesar disso, os sintomas de cybersickness podem<br />

ser potencialmente graves, já que podem perdurar após<br />

a exposição e ter um efeito sobre a capacidade do usuário<br />

para executar tarefas no mundo real 12 . Outra consequência<br />

de cybersickness é que as pessoas que experimentam esses<br />

sintomas podem evitar o uso de realidade virtual no futuro 13 .<br />

Investigações preliminares demonstraram que sintomas<br />

de cybersickness estão associados com aumento da frequência<br />

cardíaca, da condutância da pele, da taquiarritmia gástrica<br />

e dos níveis plasmáticos de catecolaminas. Mudanças na<br />

atividade do córtex cerebral também foram detectadas por<br />

meio de eletroencefalograma 4 .<br />

Acredita-se que conflitos sensoriais são a chave para o<br />

entendimento da provocação dos sintomas de cybersickness.<br />

Porém, existem algumas outras hipóteses possíveis e coerentes<br />

para o desencadeamento dos sintomas 14 . Uma teoria<br />

bem difundida sobre o assunto foi formulada por Oman 15 sobre<br />

o mal-estar relacionado ao movimento (motion-sickness):<br />

o movimento produz um conflito entre o input sensorial real<br />

e as informações sensoriais esperadas. Essa teoria foi atualizada<br />

para a aplicação em ambientes virtuais 16 .<br />

Na síndrome de cybersickness, os usuários recebem sinais<br />

visuais que podem induzir uma ilusão de movimento do<br />

corpo, enquanto seus corpos são fisicamente parados. Isso<br />

provocaria desacordo entre os estímulos visuais, vestibulares<br />

e proprioceptivos, culminando nos sintomas 14 . Esses desacordos<br />

podem ser consequência de uma gama de fatores<br />

como: erro no rastreamento de posição do usuário em relação<br />

ao programa, atraso na atualização da posição do corpo,<br />

tremor ou oscilação das partes do corpo representadas, gráficos<br />

distorcidos, ótica pobre, tremulação de imagem. A ilusão<br />

do próprio movimento (vection), o atraso entre o tempo<br />

que um movimento físico é realizado e o tempo de resposta<br />

do computador com modificação na imagem gerada, o<br />

campo de visão, variáveis individuais e quantidade de movimentos<br />

da cabeça também são apontados como fatores de<br />

influência para o desacordo entre estímulos 3 .<br />

O Simulator Sickness Questionnaire (SSQ) 17 é um instrumento<br />

bastante utilizado nas investigações sobre cybersickness.<br />

Uma revisão de literatura identificou que 40 estudos, de um<br />

total de 50, utilizaram-no para medir o nível de cybersickness 14 .<br />

O SSQ foi formulado a partir do Motion Sickness Questionnaire<br />

(MSQ) 18 , que consiste de 27 itens que descrevem o desconforto<br />

geral. Para estudar os efeitos individuais da realidade virtual,<br />

o MSQ foi revisto após análise fatorial realizada por Lane<br />

e Kennedy 19 , sendo renomeado como SSQ. Três fatores específicos<br />

(Oculomotor, Desorientação e Náuseas) e um escore<br />

total de Gravidade emergiram desta análise 3 . O SSQ consiste<br />

em 16 itens (sintomas). Os sintomas “boredom, drownsiness,<br />

decreased salivation, depression, visual flashbacks, faintness,<br />

awareness of breathing, decreased appetite, increased appetite,<br />

desire to move bowels, confusion e vomiting” contidos na versão<br />

do MSQ foram retirados. Os sintomas podem ser classificados<br />

como: ausente, leve, moderado ou grave e pontuados de 0<br />

a 3, respectivamente. Para obter os escores de cada subescala<br />

(Oculomotor, Desorientação e Náuseas), os sintomas recebem<br />

pesos específicos, que devem ser multiplicados pelo<br />

valor da pontuação atribuída a cada um deles pelo respondente.<br />

Depois, basta somar os valores obtidos para chegar<br />

ao valor total de cada subescala, que deve ser colocado em<br />

fórmulas de conversão para o escore final de cada subescala.<br />

O escore total de gravidade é obtido pela soma dos valores<br />

obtidos em cada subescala (valores anteriores ao escore final<br />

obtido pelas fórmulas de conversão) e a aplicação em uma<br />

fórmula específica que indicará o resultado final da escala 17 .<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):247-52.


artigo original<br />

SSQ: tradução e adaptação transcultural<br />

249<br />

As etapas de tradução e adaptação para a língua portuguesa<br />

do instrumento Simulator Sickness Questionnaire<br />

(SSQ) 17 são apresentadas neste trabalho. O objetivo do presente<br />

estudo foi traduzir e avaliar a equivalência semântica<br />

do SSQ, realizando um estudo piloto na população brasileira<br />

de diferentes níveis de escolaridade. Com isso, buscou-se<br />

produzir uma versão preliminarmente adaptada do SSQ que<br />

possa ser validada em momento posterior. Outro objetivo<br />

foi examinar se o SSQ é aplicável a indivíduos de diferentes<br />

níveis educacionais.<br />

Nota-se a importância em identificar e mensurar os sintomas<br />

de cybersickness, de forma padronizada, assim como<br />

descobrir os fatores a que estão relacionados, para que melhorias<br />

técnicas possam ser feitas nos sistemas de realidade<br />

virtual, preservando o bem-estar dos usuários e reduzindo o<br />

risco de abandono às exposições em ambientes virtuais.<br />

A tradução e a adaptação cultural de instrumentos autoaplicáveis<br />

são uma forma de poupar tempo, já que o desenvolvimento<br />

de um instrumento é uma tarefa que demanda um<br />

longo período de trabalho. Assim, é mais viável usar um instrumento<br />

que já foi desenvolvido e sistematicamente utilizado.<br />

MÉTODOS<br />

É recomendado que o processo de adaptação transcultural<br />

seja uma combinação entre um componente de tradução<br />

literal de um idioma ao outro e um processo de sintonização<br />

que contemple o contexto cultural e o estilo de vida<br />

da população-alvo da versão 20 . O processo de adaptação<br />

transcultural aconteceu em quatro etapas. Foi utilizado o<br />

processo de equivalência semântica, conforme descrito por<br />

Reichenheim e Moraes 20 , que consiste em uma das principais<br />

etapas para avaliação da equivalência transcultural de instrumentos<br />

de aferição.<br />

As primeiras etapas dizem respeito ao processo de tradução<br />

(etapa 1), retrotradução (etapa 2) e avaliação da equivalência<br />

semântica da versão brasileira preliminar (etapa 3).<br />

A última etapa consistiu em um estudo piloto em que 32 participantes<br />

de diferentes níveis acadêmicos foram convidados<br />

a preencher o questionário traduzido e adaptado e apontar<br />

se houve alguma dificuldade quanto ao preenchimento do<br />

questionário ou sugestão para aprimorar a clareza dos itens.<br />

Na etapa 1, dois psicólogos e uma tradutora profissional,<br />

todos brasileiros bilíngues, realizaram, independentemente,<br />

três traduções diferentes do instrumento original em inglês<br />

para o português brasileiro. Cada um dos colaboradores<br />

possui estudos avançados em língua inglesa. Os tradutores<br />

podem ser considerados cegos entre si. Contudo, esses profissionais<br />

foram escolhidos por estarem familiarizados com<br />

os constructos usados no instrumento. Foi pedido para que<br />

prestassem atenção à consistência semântica dos termos e<br />

construções utilizados.<br />

Na segunda etapa, retrotraduções para o inglês foram<br />

feitas de uma versão traduzida preliminarmente por três<br />

psicólogos brasileiros bilíngues, independentemente e sem<br />

conhecimento da escala original.<br />

Na etapa 3, a avaliação da equivalência semântica foi feita<br />

pelos autores deste estudo, e a versão preliminar brasileira<br />

em português foi aperfeiçoada com base nas três traduções<br />

e retrotraduções feitas e a comparação em relação ao instrumento<br />

original (Tabela 1). Para compor a versão brasileira<br />

do questionário, os itens foram incorporados de uma das<br />

três versões, podendo ter sido ligeiramente modificados de<br />

modo a encontrar a melhor combinação de critérios para<br />

equivalência semântica.<br />

Após a elaboração da versão brasileira preliminar do SSQ,<br />

foi realizada a quarta etapa, que consistiu em um estudo<br />

piloto com 32 participantes adultos, que assinaram um termo<br />

de consentimento livre e esclarecido, selecionados de<br />

uma amostra de conveniência (Tabela 2) com base no nível<br />

educacional dos indivíduos, abordados no campus da Praia<br />

Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Isso<br />

ocorreu em virtude da grande diferença cultural observada<br />

na população brasileira e a fim de garantir a compreensão do<br />

questionário por uma parcela grande da população em geral.<br />

Trinta e cinco sujeitos foram abordados. Apenas dois sujeitos<br />

se recusaram a participar do estudo alegando motivo<br />

de horário. Para excluir a possibilidade de algum diagnóstico<br />

psiquiátrico atual ou pregresso, os sujeitos foram entrevistados<br />

pelos autores, utilizando a versão brasileira da entrevista<br />

diagnóstica estruturada Mini International Neuropsychiatric<br />

Interview (MINI 5.0). Os participantes não tinham histórico de<br />

transtorno psiquiátrico. Dos voluntários abordados, apenas<br />

um foi excluído por apresentar diagnóstico de depressão<br />

maior. Os participantes foram divididos em três categorias de<br />

acordo com o nível educacional, tendo em vista o objetivo<br />

exposto acima: educação elementar (oito anos de educação<br />

ou menos), ensino médio (de oito a onze anos de educação)<br />

e ensino superior (nível superior ou acima).<br />

Os participantes foram solicitados a preencher o questionário<br />

e a reportar se cada item estava claro o suficiente e<br />

se havia alguma sugestão para melhorar a compreensão do<br />

instrumento. Os participantes comentaram a versão preliminar<br />

do questionário apontando as dificuldades para melhor<br />

compreensão, ou concordando integralmente com a versão<br />

do questionário. Considerando essas sugestões, foi elaborada<br />

a versão brasileira final do SSQ. O projeto foi submetido<br />

ao Comitê de Ética em Pesquisa.<br />

RESULTADOS<br />

O instrumento original, as traduções (T1, T2e T3), suas respectivas<br />

retrotraduções (B1, B2 e B3) e sua versão final em<br />

português encontram-se na tabela 1.<br />

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250 Carvalho MR et al.<br />

artigo original<br />

Tabela 1. Versão original, traduções, retrotraduções e versão final do SSQ<br />

Versão original Traduções Retrotraduções Versão brasileira<br />

1. General discomfort T1: Mal-estar generalizado<br />

T2: Desconforto geral<br />

T3: Mal-estar<br />

R1: Generalized discomfort<br />

R2: Generalized uneasiness<br />

R3: Generalized malaise<br />

Mal-estar generalizado<br />

2. Fatigue T1: Fadiga<br />

T2: Cansaço<br />

T3: Cansaço<br />

3. Headache T1: Dor de cabeça<br />

T2: Dor de cabeça<br />

T3: Dor de cabeça<br />

4. Eyestrain T1: Vista cansada<br />

T2: Vista cansada<br />

T3: Vista cansada<br />

5. Difficulty focusing T1: Dificuldade em focalizar<br />

T2: Dificuldade em manter o foco<br />

T3: Dificuldade de concentração<br />

6. Salivation increase T1: Aumento de salivação<br />

T2: Aumento de salivação<br />

T3: Aumento de salivação<br />

7. Sweating T1: Sudorese<br />

T2: Suor<br />

T3: Sudorese<br />

8. Nausea T1: Náusea<br />

T2: Enjoo<br />

T3: Enjoo<br />

9. Difficulty concentrating T1: Dificuldade de concentração<br />

T2: Dificuldade de concentração<br />

T3: Dificuldade de concentração<br />

10. “Fullness of the head” T1: “Cabeça cheia”<br />

T2: “Cabeça pesada”<br />

T3: “Cabeça pesada”<br />

11. Blurred vision T1: Visão borrada<br />

T2: Visão turva<br />

T3: Visão embaçada<br />

12. Dizziness eyes open<br />

Dizziness eyes close<br />

T1: Tontura com olhos abertos<br />

Tontura com olhos fechados<br />

T2: Tontura com olhos abertos<br />

Tontura com olhos fechados<br />

T3: Tontura com os olhos abertos<br />

Tontura com os olhos fechados<br />

13. Vertigo T1: Vertigem<br />

T2: Vertigem<br />

T3: Vertigem<br />

14. Stomach awareness T1: Consciência estomacal<br />

T2: Consciência estomacal<br />

T3: Desconforto abdominal<br />

15. Burping T1: Arroto<br />

T2: Arroto<br />

T3: Soluço<br />

16. Other T1: Outro<br />

T2: Outro<br />

T3: Outro<br />

R1: Fatigue<br />

R2: Tiredness<br />

R3: Tiredness<br />

R1: Headache<br />

R2: Headache<br />

R3: Headache<br />

R1: Eyestrain<br />

R2: Tired sight<br />

R3: Tired eyes<br />

R1: Difficulty in keeping focus<br />

R2: Difficulty to maintain focus<br />

R3: Difficulty to maintain focus<br />

R1: Salivation increase<br />

R2: Increased salivation<br />

R3: Increase in salivation<br />

R1: Sweating<br />

R2: Sudoresis<br />

R3: Sweating<br />

R1: Nausea<br />

R2: Nausea<br />

R3: Nausea<br />

R1: Concentration difficulty<br />

R2: Difficulty concentrating<br />

R3: Concentration difficulty<br />

R1: Heavy head<br />

R2: Heavy head<br />

R3: Heavy head<br />

R1: Blurred vision<br />

R2: Blurred vision<br />

R3: Blurred vision<br />

R1: Dizziness with eyes open<br />

Dizziness with eyes closed<br />

R2: Dizziness with open eyes<br />

Dizziness with closed eyes<br />

R3: Dizziness with open eyes<br />

Dizziness with closed eyes<br />

R1: Vertigo<br />

R2: Vertigo<br />

R3: Vertigo<br />

R1: Abdominal disconfort<br />

R2: Abdominal disconfort<br />

R3: Abdominal disconfort<br />

R1: Eructation<br />

R2: Belching<br />

R3: Belching<br />

R1: Other<br />

R2: Other<br />

R3: Other<br />

Cansaço<br />

Dor de cabeça<br />

Vista cansada<br />

Dificuldade de manter o foco<br />

Aumento de salivação<br />

Sudorese<br />

Náusea<br />

Dificuldade de concentração<br />

“Cabeça pesada’’<br />

Visão embaçada<br />

Tontura com olhos abertos<br />

Tontura com olhos fechados<br />

Vertigem<br />

Desconforto Abdominal<br />

Arroto<br />

Outro<br />

A versão revisada pelos tradutores coincidiu entre si com<br />

os itens 3, 4, 6, 7, 9, 12, 13 e 16. Os itens 1, 2, 5, 8, 10, 11 e 14<br />

apresentaram pequenas diferenças, que não alteram o significado<br />

global dos termos. O item 15 foi o único que apresentou<br />

diferença mais significativa entre os significados das traduções.<br />

Nesse item, para a palavra “burping” foram atribuídas<br />

duas diferentes traduções: arroto e soluço.<br />

Em relação às retrotraduções, coincidiram entre si os<br />

itens: 3, 8, 10, 11, 13, 14 e 16. Os itens restantes tiveram retrotraduções<br />

similares, sem que as diferenças de termos utilizados<br />

interferissem no sentido deles.<br />

Comparando as traduções com a versão original, apenas<br />

o item 14 obteve versões não congruentes em relação ao<br />

significado dos termos. “Stomach awareness” foi traduzido li-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):247-52.


artigo original<br />

SSQ: tradução e adaptação transcultural<br />

251<br />

teralmente como “consciência estomacal” e também como<br />

“desconforto abdominal”.<br />

Já na comparação das retrotraduções com a versão original,<br />

observou-se que apenas nos itens 10 e 14 houve divergências,<br />

relacionadas à dificuldade de equivalência de<br />

sentido das expressões nas duas línguas. No item 10, a expressão<br />

“heavy head” extraída das traduções foi proveniente<br />

da utilização das palavras em inglês seguindo literalmente<br />

o sentido das em língua portuguesa, não correspondendo,<br />

assim, integralmente à versão original em inglês. Já no item<br />

14 o inverso ocorreu. As retrotraduções não seguiram necessariamente<br />

o sentido literal das palavras usadas na tradução,<br />

refletindo uma expressão (“abdominal disconfort”) que parece<br />

se aproximar ao sentido do item original.<br />

Sobre a versão final, os itens incorporados pertenciam a<br />

pelo menos uma das três versões de tradução. No caso das<br />

palavras que tivessem o mesmo significado nas traduções<br />

para o português, optou-se por preservar ao máximo aquelas<br />

que mais se aproximassem da tradução literal das da língua<br />

inglesa contidas na versão original.<br />

Sendo assim, na versão final do SSQ em português, nos<br />

itens 2, 8 e 15, a escolha pela tradução final se deu pela maior<br />

aproximação ao sentido literal da frase na tradução do inglês<br />

para o português, já que não havia divergência semântica<br />

entre as opções para tradução.<br />

Nos itens 1, 5, 10 e 11, a escolha final deveu-se ao julgamento<br />

de que os termos escolhidos seriam mais inteligíveis<br />

e/ou usuais do que as demais alternativas.<br />

Já no item 14, a escolha por “desconforto abdominal”<br />

em relação a “consciência estomacal” se deve ao fato de que<br />

essa segunda alternativa é a tradução literal da expressão original<br />

na língua inglesa; seu uso seria pouco coloquial e talvez<br />

de difícil compreensão ou identificação pelos sujeitos.<br />

No estudo piloto do questionário com os participantes<br />

da presente amostra, o propósito era testar a compreensão<br />

e verificar a necessidade de eventuais modificações de qualquer<br />

termo que poderia dificultar o entendimento, a fim de<br />

posteriormente testar a possibilidade de usar o questionário<br />

em uma ampla faixa de indivíduos, com diferenças culturais<br />

e em diferentes contextos educativos. A amostra usada nesse<br />

estudo foi composta por 15 homens e 17 mulheres, com<br />

idades variando de 16 até 71 anos. Dados demográficos dessa<br />

amostra são apresentados na tabela 2.<br />

Os participantes não demonstraram problemas em<br />

preencher o questionário. Dúvidas em apenas dois itens<br />

da versão final do questionário foram referidas por alguns<br />

dos participantes. No item 5, nove participantes de ambos<br />

os sexos, com ensino fundamental ou ensino médio concluído,<br />

acharam a expressão “dificuldade de manter o foco”<br />

vaga, de difícil compreensão, questionando em que manter<br />

o foco e sugerindo “dificuldade de manter a concentração”<br />

como alternativa. Porém, dificuldade de concentração já é<br />

um item (9) do questionário. Optou-se, então, por manter o<br />

Tabela 2. Características demográficas da amostra do estudo<br />

piloto<br />

Estudo Feminino Masculino Total<br />

Ensino fundamental 6 5 11<br />

Ensino médio 5 6 11<br />

Ensino superior 6 4 10<br />

Total 17 15 32<br />

Idade<br />

Média 38,25 38,93 38,57<br />

Desvio-padrão 16,63 18,93 17,43<br />

item inalterado, já que a versão original do questionário no<br />

item 5 não contempla o tipo de explicação requerida. Outro<br />

item comentado pelos participantes foi o 10. Cinco deles, de<br />

ambos os sexos, com ensino fundamental ou ensino médio<br />

concluído, tiveram dificuldade em caracterizar o que seria<br />

“cabeça pesada”. Também se optou por manter o item inalterado,<br />

respeitando a tradução mais próxima ao original.<br />

DISCUSSÃO<br />

O presente estudo para tradução e adaptação transcultural<br />

do SSQ enfatizou a equivalência semântica em vez da equivalência<br />

literal dos termos, com o propósito de expressar<br />

conceitos usuais na população-alvo de futuros estudos. Um<br />

ponto positivo para alcançar os bons resultados foi decorrente<br />

da participação de três tradutores e três retrotradutores<br />

cegos e independentes. Sendo assim, as versões puderam<br />

ser confrontadas e discutidas na elaboração da versão final.<br />

Isso permitiu que discrepâncias pudessem ser identificadas e<br />

discutidas amplamente e que soluções fossem criadas. Além<br />

disso, cinco dos seis colaboradores são psicólogos e têm familiaridade<br />

com os construtos do questionário, contribuindo<br />

ainda mais para a adequação dos resultados que foram avaliados<br />

no processo de equivalência semântica.<br />

Os participantes que preencheram os questionários possuem<br />

diferentes níveis educacionais, o que proporcionou a<br />

possibilidade de discutir a viabilidade da aplicação do instrumento<br />

em diferentes níveis educacionais da população<br />

brasileira. A maioria dos participantes entendeu os sintomas<br />

descritos no questionário. Apenas dois itens geraram dúvidas,<br />

foram discutidos e optou-se por mantê-los na versão<br />

traduzida preliminar. Como uma limitação do estudo aponta-se<br />

o pequeno número de participantes (n = 32) que compuseram<br />

a amostra no estudo piloto.<br />

Como citado anteriormente, para que melhorias técnicas<br />

possam ser implementadas nos sistemas de realidade vir tual<br />

de modo a preservar o bem-estar dos usuários e reduzir a<br />

evasão do tratamento, ressalta-se a importância de identificar<br />

e mensurar os sintomas de cybersickness. A partir da<br />

tradução e da adaptação para o português brasileiro desse<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):247-52.


252 Carvalho MR et al.<br />

artigo original<br />

instrumento já difundido na língua inglesa, essa identificação<br />

e mensuração de sintomas passam a ser possíveis de<br />

realização na população brasileira, agregando aos estudos<br />

sobre realidade virtual no país.<br />

Outros estudos construíram versões finais de escalas<br />

para o português brasileiro utilizando processo semelhante<br />

ao método de tradução e equivalência semântica adotado<br />

neste estudo. De Carvalho et al. 21 elaboraram a versão<br />

brasileira do Driving Cognitions Questionnaire, tendo esta se<br />

mostrado satisfatória em relação ao estudo piloto. Freitas et<br />

al. 22 elaboraram uma versão brasileira da Escala de Compulsão<br />

Alimentar Periódica e consideraram a versão final adequada<br />

para uso clínico. Mattos et al. 23 constataram um nível<br />

satisfatório de equivalência semântica entre a versão em<br />

português da escala ASRS-18, para avaliação de transtorno<br />

de déficit de atenção e hiperatividade em adultos, gerada a<br />

partir da adaptação transcultural e a original em inglês. Silva<br />

e Nardi 24 realizaram um estudo de equivalência semântica<br />

do Social Interaction Self-Statement Test, obtendo resultados<br />

favoráveis à utilização do instrumento na população-alvo. Já<br />

Cicconelli et al. 25 , além da tradução e adaptação transcultural,<br />

realizaram a validação do questionário genérico de avaliação<br />

da qualidade de vida SF-36, no qual a versão final foi considerada<br />

adequada para avaliação de pacientes com artrite<br />

reumatoide e outras patologias.<br />

CONCLUSÃO<br />

Para que um instrumento de pesquisa seja utilizado com<br />

segurança, é necessário que apresente validade e, consequentemente,<br />

boa confiabilidade, além de boa sensibilidade<br />

e especificidade. A adaptação transcultural e a equivalência<br />

semântica são apenas o primeiro estágio no processo de validação<br />

de um questionário. É necessário que, em estudos<br />

futuros, esta versão do SSQ tenha sua estrutura fatorial e<br />

consistência interna testadas e sua validade convergente e<br />

divergente avaliada.<br />

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para o português da escala Adult Self-Report Scale para avaliação do transtorno de déficit<br />

de atenção/hiperatividade (TDAH) em adultos. Rev Psiq Clín. 2006;33(4):188-94.<br />

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tradução e adaptação transcultural. Rev Psiq Clín. 2010;37(5):199-205.<br />

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e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil<br />

SF-36). Rev Bras Reumatol. 1999;39(3):143-50.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):247-52.


artigo original<br />

Validade discriminante do Teste de<br />

Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey:<br />

comparação entre idosos normais e idosos<br />

na fase inicial da doença de Alzheimer<br />

Discriminant validity of the Rey Auditory Verbal Learning<br />

Test: comparison between normal elderly and elderly<br />

patients in early stages of Alzheimer’s disease<br />

Mariana Fonseca Cotta 1 , Leandro Fernandes Malloy-Diniz 2 , Fábio Lopes Rocha 3 , Maria Aparecida Camargos<br />

Bicalho 4 , Rodrigo Nicolato 5 , Edgar Nunes de Moraes 6 , Jonas Jardim de Paula 7<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

RAVLT, memória,<br />

envelhecimento, doença<br />

de Alzheimer.<br />

Objetivo: Este estudo transversal visa avaliar a validade discriminante do Teste de Aprendizagem<br />

Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT), ao comparar uma amostra de idosos normais com<br />

uma de pacientes na fase inicial da doença de Alzheimer (DA). Métodos: Pacientes na fase<br />

inicial da DA (n = 35) e controles saudáveis (n = 35) pareados de acordo com a idade e a<br />

escolaridade foram submetidos ao Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey, ao Miniexame<br />

do Estado Mental e à Escala de Depressão Geriátrica. O desempenho dos dois grupos<br />

foi comparado por meio do teste de Mann-Whitney em cada etapa do RAVLT e, mediante a<br />

análise ROC, foi avaliada a validade discriminante do teste nas duas populações estudadas.<br />

Resultados: O grupo na fase inicial da DA teve desempenho significativamente pior em<br />

todas as etapas do RAVLT quando comparado ao grupo controle, e as etapas demonstraram<br />

bom poder diagnóstico, com áreas sobre a curva ROC oscilando entre 0,806 e 0,989 (A1 =<br />

0,806; A2 = 0,869; A3 = 0,958; A4 = 0,947; A5 = 0,989; A6 = 0,962; A7 = 0,985; TOTAL = 0,975;<br />

LOT = 0,895; REC = 0,915). Conclusão: Os resultados sugerem que o Teste de Aprendizagem<br />

Auditivo-Verbal de Rey é eficaz para discriminar idosos normais de idosos na fase inicial da<br />

doença de Alzheimer.<br />

ABSTRACT<br />

Objective: This transversal study aims to evaluate the discriminant validity of the Rey Auditory<br />

Verbal Learning Test (RAVLT) by comparing a sample of normal elderly with a patient at the initial<br />

stage of Alzheimer’s disease. Methods: Age and educational attainment matched patients<br />

Recebido em<br />

3/6/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

10/10/<strong>2011</strong><br />

1 Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), Programa de Pós-Graduação; Universidade Federal de Minas<br />

Gerais, Hospital das Clínicas, Centro de Referência do Idoso do Núcleo de Geriatria e Gerontologia (UFMG-HC/NUGG).<br />

2 UFMG, Faculdade de Medicina, Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Molecular, Laboratório de Investigações Neuropsicológicas<br />

(INCT/LIN), Departamento de Saúde Mental.<br />

3 IPSEMG, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.<br />

4 UFMG, NUGG/HC, Centro de Referência do Idoso, Departamento de Clínica Médica.<br />

5 UFMG, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Mental.<br />

6 UFMG, NUGG/HC, Centro de Referência do Idoso, Departamento de Clínica Médica.<br />

7 UFMG, NUGG/HC, INCT/LIN, Centro de Referência do Idoso.<br />

Endereço para correspondência: Mariana Fonseca Cotta<br />

Rua Cyro Vaz de Melo, 508/03, Dona Clara – 31255-840 – Belo Horizonte, MG<br />

Telefax: (31) 3309-4222<br />

E-mail: mariana.cotta@gmail.com


254 Cotta MF et al.<br />

artigo original<br />

Keywords<br />

RAVLT, memory, aging,<br />

Alzheimer’s disease.<br />

at the initial stages of Alzheimer’s disease (n = 35) and normal elderly (n = 35) were submitted to<br />

the Rey Auditory Verbal Learning Test, Mini Mental State Examination and the Geriatric Depression<br />

Scale. The performance of the two groups was compared using the Mann-Whitney test at each<br />

stage of the RAVLT and by ROC analysis the discriminant validity of the test in both populations was<br />

evaluated. Results: The group at the initial stages of Alzheimer’s disease had significantly worse<br />

performance in all steps of the RAVLT compared to the control group, and the steps showed good<br />

diagnostic power, with areas under the curve ranging between 0.806 and 0.989 (A1 = 0,806; A2 =<br />

0,869; A3 = 0,958; A4 = 0,947; A5 = 0,989; A6 = 0,962; A7 = 0,985; TOTAL = 0,975; LOT = 0,895; REC =<br />

0,915). Conclusion: The results suggest that the Rey Auditory Verbal Learning Test is effective for<br />

discriminating normal elderly seniors from the ones in early stages of Alzheimer’s disease.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O declínio cognitivo da memória pode ser considerado um<br />

elemento fundamental para o diagnóstico diferencial entre<br />

o envelhecimento normal e o patológico. O Teste de Aprendizagem<br />

Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT) tem se mostrado<br />

útil na avaliação da memória de idosos 1-4 , contribuindo particularmente<br />

para o diagnóstico diferencial entre o envelhecimento<br />

normal e quadros demenciais como a demência do<br />

tipo Alzheimer 5-7 . O teste é utilizado para avaliação da memória<br />

e aprendizagem 8 , sendo considerado um instrumento<br />

sensível ao déficit de memória episódica 2,5,9 .<br />

O teste foi desenvolvido por Rey, em 1958, e publicado<br />

em seu livro, L’exame clinique en psychologie, em 1964, baseado<br />

no Test of Memory for Words desenvolvido pelo psicólogo<br />

suíço Edouard Claparéde 10 . No Brasil, o RAVLT foi traduzido,<br />

adaptado e normatizado por Malloy-Diniz et al. 8 para aplicação<br />

em adolescentes, adultos e idosos. Posteriormente, o<br />

mesmo autor realizou um novo estudo com uma amostra<br />

de idosos normais, utilizando uma versão na qual as listas de<br />

palavras originais foram substituídas por dissílabos concretos<br />

de alta frequência no idioma português praticado no Brasil.<br />

A análise mostrou a importância do nível de escolaridade<br />

nos resultados, que se correlacionou de forma positiva no<br />

desempenho do teste, sugerindo um impacto benéfico do<br />

nível educacional no efeito da idade sobre a cognição 11 .<br />

Outros estudos brasileiros, com idosos saudáveis, também<br />

destacaram contribuições utilizando o teste, como o<br />

de Magalhães e Hamdan 12 , que analisaram a influência de<br />

variáveis demográficas, como idade, gênero e educação,<br />

sobre o desempenho no RAVLT. Constatou-se que a idade<br />

foi o principal fator que influenciou o desempenho no teste.<br />

Houve influência, ainda, da escolaridade, o que não ocorreu<br />

com gênero. Além disso, houve efeito significativo da idade<br />

sobre todas as medidas avaliadas e efeitos significativos<br />

também da escolaridade, com exceção do reconhecimento.<br />

O estudo de Fichman-Charchat et al. 13 constatou que o desempenho<br />

dos sujeitos melhorou com o fator educação e<br />

diminuiu com o aumento da idade, mas não foram encontradas<br />

diferenças significativas de gênero. Já Martins e Damasceno<br />

4 estudaram a memória prospectiva e retrospectiva<br />

em pacientes brasileiros com doença de Alzheimer (DA) leve<br />

e foi verificado desempenho pior na recordação tardia do<br />

teste.<br />

Os idosos com declínio da capacidade cognitiva apresentam<br />

maior risco de desenvolver a doença de Alzheimer,<br />

principalmente os que já evidenciam prejuízo da memória<br />

episódica 14 . O primeiro sintoma observado é exatamente<br />

uma alteração na capacidade de aprender e reter novos conteúdos<br />

1 . Para Fichman-Charchat et al. 14 , o pior desempenho<br />

da memória episódica anterógrada, em especial em tarefas<br />

de aprendizagem associativa e evocação livre após intervalo,<br />

predispõe à DA.<br />

O estudo estrangeiro de Barzotti et al. 15 , por meio do RA-<br />

VLT e testes de rastreio, confirma tais afirmativas. Ele verificou<br />

uma possível correlação entre disfunção cognitiva e prejuízo<br />

de memória verbal, cuja deficiência aparece precocemente<br />

na doença de Alzheimer, concluindo sobre a importância de<br />

avaliar a memória verbal de curto e longo prazo na fase inicial.<br />

O desempenho inferior de pacientes com DA e o comprometimento<br />

cognitivo leve (CCL) no RAVLT também são<br />

estudados, pois se observa que aqueles que têm maior risco<br />

de desenvolver DA são idosos com CCL, principalmente<br />

os que apresentaram prejuízo da memória episódica 14,16 .<br />

O CCL amnéstico é tido como uma transição entre o envelhecimento<br />

normal e a DA em estágio inicial. O teste, portanto,<br />

pode ser um instrumento neuropsicológico eficaz para<br />

também avaliar a memória nessa possível transição 9 . Balthazar<br />

et al. 3 constataram um desempenho inferior dos pacientes<br />

com CCL em relação aos controles que passaram pelo<br />

RAVLT. Pacientes com DA foram ainda piores que aqueles<br />

que tinham comprometimento cognitivo leve, e esses tiveram<br />

desempenho pior que os controles.<br />

Comparando o desempenho de idosos normais e idosos<br />

com doença de Alzheimer, a pesquisa de Sánchez e Sayago 1<br />

verificou a eficiência do RAVLT na avaliação da memória dos<br />

idosos com a demência. Enquanto os controles se sobressaíram<br />

no teste, observou-se que os demais pacientes tive-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):253-8.


artigo original<br />

Validade discriminante do RAVLT: comparação entre idosos normais e idosos na fase inicial da doença de Alzheimer<br />

255<br />

ram alteração na capacidade de aprender e reter uma nova<br />

informação. Concluiu-se que o teste consegue discriminar,<br />

com mínima margem de erro, os pacientes com a doença<br />

de Alzheimer. Estévez-González et al. 5 também confirmaram<br />

a aplicabilidade do RAVLT, ao avaliarem a possibilidade de<br />

diferenciação da fase pré-clínica da doença de Alzheimer,<br />

do comprometimento cognitivo leve e do envelhecimento<br />

normal.<br />

Além disso, idosos com síndrome depressiva também<br />

podem, com frequência, sofrer alterações cognitivas, sendo<br />

muitas alterações decorrentes da depressão semelhantes<br />

às das demências. Por outro lado, outras se assemelham ao<br />

envelhecimento normal 17 . A diferenciação entre depressão<br />

e demência também pode ser auxiliada pelo RAVLT, principalmente<br />

em casos de distração entre evocação imediata e<br />

tardia. Com dificuldade no teste de memória, os pacientes<br />

com DA esquecem o conteúdo das informações após intervalo<br />

de tempo 18 , diferentemente do que ocorre em idosos<br />

em depressão que passam pelo teste 17 .<br />

O estudo da avaliação da memória na população idosa,<br />

possível em testes como o RAVLT, é uma área de crescente<br />

interesse. No entanto, ainda é necessária a normatização brasileira<br />

do teste para auxiliar na diferenciação entre sujeitos<br />

normais e na fase inicial da DA.<br />

Apesar da existência de estudos normativos, ainda não<br />

há estudos sobre a validade de critério do RAVLT no Brasil,<br />

considerando diagnóstico diferencial entre sujeitos normais<br />

e na fase inicial da DA. Assim, este estudo tem como objetivo<br />

avaliar a capacidade do RAVLT em discriminar indivíduos<br />

normais e indivíduos com quadro inicial de demência do<br />

tipo Alzheimer, considerando cada um dos escores obtidos<br />

pela aplicação do instrumento nesses grupos distintos.<br />

MÉTODOS<br />

Participantes<br />

O estudo foi desenvolvido com delineamento transversal.<br />

Avaliaram-se 70 sujeitos de ambos os sexos com idade entre<br />

60 e 84 anos, divididos em dois grupos: o grupo caso (n = 35)<br />

e o grupo controle (n = 35).<br />

Os seguintes critérios foram estabelecidos como condições<br />

para inclusão dos participantes na amostra:<br />

1) Pontuação acima do ponto de corte no MEEM, proposto<br />

por Brucki et al. 19 , condizente com a escolarização formal<br />

do participante, sendo este um critério exclusivo ao grupo<br />

controle.<br />

2) Pontuação inferior a seis pontos na GDS-15, proposto<br />

por Paradela et al. 20 .<br />

3) Ter pelo menos quatro anos de escolaridade, na medida<br />

em que a versão brasileira do teste tem como grupo<br />

normativo indivíduos com esse nível de escolaridade 11 .<br />

O grupo caso foi composto por idosos examinados por<br />

médicos geriatras do Centro de Referência do Idoso do Hospital<br />

das Clínicas da UFMG e que preencheram os critérios<br />

diagnósticos para DA provável, com base no DSM-IV 21 . A escala<br />

de Avaliação Clínica das Demências 22 foi utilizada como<br />

instrumento objetivo para a seleção dos participantes, limitando<br />

a seleção de casos para demência em fase inicial (CDR<br />

= 1). Esses pacientes foram, então, convidados a participar<br />

do presente estudo, preenchendo o termo de consentimento<br />

livre e esclarecido, assim como seus cuidadores diretos.<br />

Os sujeitos incluídos no grupo controle foram selecionados<br />

em grupos de convivência de idosos, com base na<br />

entrevista clínica realizada por um dos autores (MFC). Participantes<br />

com histórico de transtornos psiquiátricos ou neurológicos<br />

foram excluídos da seleção.<br />

Para rastreio de declínio cognitivo patológico em ambos<br />

os grupos, utilizaram-se os testes Miniexame do Estado Mental<br />

(MEEM) 19 e para avaliação de sintomas depressivos, a versão<br />

brasileira da Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) 20-23 .<br />

Os participantes que atenderam aos critérios de inclusão foram,<br />

então, submetidos ao RAVLT e às tarefas, no intervalo<br />

de 20 a 25 minutos, que incluíram o teste Torre de Londres<br />

e Blocos de Corsi.<br />

O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê<br />

de Ética em Pesquisa do Hospital Governador Israel Pinheiro<br />

– IPSEMG, estado de Minas Gerais, Brasil (CEP 374/09).<br />

Descrição do teste<br />

O RAVLT consiste em uma lista de 15 substantivos simples,<br />

palavras de alta frequência no português brasileiro (lista A),<br />

que são lidas em voz alta para o sujeito, com um intervalo<br />

de aproximadamente 1 segundo entre as palavras 10 , por cinco<br />

vezes consecutivas (A1 a A5). Após cada leitura da lista, é<br />

requerido ao probando que tente se lembrar do maior número<br />

possível de palavras da lista, não importando a ordem<br />

(a partir da segunda leitura, devem ser repetidas também as<br />

palavras recordadas anteriormente). Depois da quinta tentativa<br />

(A5), uma lista de interferência, também composta por<br />

15 substantivos (lista B), é lida para o sujeito, sendo seguida<br />

da evocação dela (tentativa B1).<br />

Logo após a tentativa B1, pede-se ao probando que recorde<br />

as palavras da lista A, sem que ela seja, nesse momento,<br />

reapresentada (tentativa A6). Após um intervalo de 20 a<br />

25 minutos, que deve ser preenchido com outras atividades<br />

que não envolvam testes verbais ou de memória, pede-se<br />

ao sujeito que tente se recordar novamente das palavras da<br />

lista A (A7), sem a apresentação do estímulo. Após a etapa<br />

A7 é realizada uma tarefa de reconhecimento, em que o sujeito<br />

deve identificar as 15 palavras da lista A em meio a 35<br />

distratores (palavras da lista B e outras palavras semântica ou<br />

foneticamente associadas às palavras-alvo).<br />

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256 Cotta MF et al.<br />

artigo original<br />

A pontuação do teste de memória de reconhecimento é<br />

calculada somando todos os acertos (quando o sujeito identifica<br />

corretamente que a palavra pertence à lista A ou que a<br />

palavra não pertence à lista A) – 35 (total de distratores). Esse<br />

procedimento permite avaliar não apenas a identificação dos<br />

alvos (palavras da lista A), mas também leva em consideração<br />

o efeito de falsos-positivos (identificação de distratores)<br />

e falsos-negativos (palavras da lista A não identificadas). Porém,<br />

para as análises subsequentes, optou-se por transformar<br />

todos os valores em números positivos, de modo a facilitar<br />

a comparação entre os grupos. Assim, utilizou-se apenas o<br />

número total de acertos na tarefa de reconhecimento.<br />

Procedimentos<br />

Primeiramente, utilizou-se de estatística descritiva para caracterização<br />

da amostra. O teste de Kolmorogov-Sminorff foi<br />

realizado para verificar o tipo de distribuição amostral dos<br />

dados e para a escolha da estatística mais adequada para<br />

comparação entre os grupos (paramétrica ou não paramétrica).<br />

Considerou-se o valor p < 0,05 para estabelecimento<br />

da significância estatística. Em um segundo momento, cada<br />

etapa do RAVLT (A1, A2, A3, A4, A5, B1, A6, A7 e Reconhecimento)<br />

foi utilizada como critério para a discriminação entre<br />

os grupos caso e controle por meio de análise da curva ROC<br />

(Curva de Características de Operação do Receptor), avaliando<br />

o potencial de cada componente no RAVLT para a diferenciação<br />

dos dois grupos.<br />

A maior parte delas está acima de 0,9, indicando que o RAVLT<br />

é um teste bastante sensível e específico na separação dos<br />

dois grupos. As curvas das etapas A1 até A5 estão expostas<br />

no gráfico 1, enquanto as curvas de B1, A6, A7, Total e Reconhecimento,<br />

no gráfico 2.<br />

Tabela 1. Características sociodemográficas e clínicas: comparação<br />

entre os grupos<br />

Características Controle DA a Valor p<br />

Sexo n (%) n (%) < 0,001 b<br />

Masculino 4 (11,4) 17 (48,6)<br />

Feminino 31 (88,6) 18 (51,4)<br />

Idade Anos Anos 0,126<br />

60-80 60-84<br />

Média (DP c )<br />

Média (DP)<br />

71,4 (6,0) 71,7 (7,6)<br />

Escolaridade Anos Anos 0,284<br />

4-11 4-16<br />

Média (DP)<br />

Média (DP)<br />

6,1 (2,8) 7,1 (3,7)<br />

MEEM d 26,8 (1,9) 20,71 (3,9) < 0,001<br />

GDS-15 e 2,74 (1,75) 2,91 (2,13) 0,721<br />

a) DA: doença de Alzheimer; b) Valor de p obtido por meio do qui-quadrado de Pearson. Os demais valores de<br />

p foram obtidos por meio do teste não paramétrico de Mann-Whitney. Ambos significantes se p ≤ 0,05; c) DP:<br />

Desvio-padrão; d) Miniexame do Estado Mental; e) Escala de Depressão Geriátrica. Pontuação inferior a seis pontos.<br />

RESULTADOS<br />

Os dois grupos foram pareados por idade e escolaridade. Os<br />

limites de educação formal dos sujeitos estiveram entre 4 e<br />

16 anos. Para assegurar a equidade dos dois grupos, foram<br />

realizados testes t não paramétricos (Mann-Whitney) com as<br />

variáveis idade (p = 0,126), escolaridade (p = 0,284) e sintomas<br />

depressivos mensurados pela GDS (p = 0,721). Foi utilizado<br />

o teste de associação de qui-quadrado para verificar<br />

estatisticamente se houve diferença entre os grupos em relação<br />

ao sexo. Contudo, o grupo controle contou com mais<br />

mulheres do que homens quando comparado ao grupo clínico<br />

(χ 2 = 11,49 p < 0,001).<br />

A análise das variáveis demográficas mostrou que não<br />

houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos<br />

quanto a idade, escolaridade e GDS (valor p > 0,05). As<br />

características sociodemográficas e clínicas da amostra estão<br />

expostas na tabela 1.<br />

A comparação entre os dois grupos nas diferentes etapas<br />

do RAVLT revelou melhor desempenho do grupo controle<br />

sobre o grupo caso (p < 0,001) em todos os componentes do<br />

teste. Os resultados estão expostos na tabela 2.<br />

As áreas sobre a curva foram robustas na discriminação<br />

entre as duas condições conforme demonstra a tabela 3.<br />

Tabela 2. Comparação entre os grupos nas variáveis do RAVLT*<br />

Itens do teste A1 A2 A3 A4 A5 B1 A6 A7 REC<br />

Mann-Whitney U 238,0 160,0 51,5 64,5 13,0 249,5 46,0 18,0 107,0<br />

Valor p 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00<br />

* Resultado da análise pelo teste Mann-Whitney U. REC: Reconhecimento.<br />

Tabela 3. Áreas sobre curvas para tentativas A1, A2, A3, A4, A5, A6,<br />

A7 e os itens TOTAL, LOT e REC<br />

Variáveis do teste<br />

Área<br />

A1 0,806<br />

A2 0,869<br />

A3 0,958<br />

A4 0,947<br />

A5 0,989<br />

A6 0,962<br />

A7 0,985<br />

TOTAL 0,975<br />

LOT 0,895<br />

REC 0,915<br />

Total: aprendizagem auditivo-verbal; LOT: aprendizagem auditivo-verbal, considerando o aprendizado total em<br />

relação ao aprendizado inicial (A1); REC: reconhecimento.<br />

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artigo original<br />

Validade discriminante do RAVLT: comparação entre idosos normais e idosos na fase inicial da doença de Alzheimer<br />

257<br />

Curva ROC<br />

Curva ROC<br />

Sensibilidade<br />

Origem da curva<br />

A1<br />

A2<br />

A3<br />

A4<br />

1,0 A5<br />

1,0<br />

Linha de referência<br />

0,8 0,8<br />

0,6 0,6<br />

0,4 0,4<br />

Sensibilidade<br />

Origem da curva<br />

A6<br />

A7<br />

TOTAL<br />

LOT<br />

REC<br />

Linha de referência<br />

0,2 0,2<br />

0,0 0,0<br />

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0<br />

1 – Especificidade 1 – Especificidade<br />

Diagonal segments are produced by ties<br />

Gráfico 1. Curva ROC para a tentativa A1, A2, A3, A4, A5.<br />

Diagonal segments are produced by ties<br />

Gráfico 2. Curva ROC para a tentativa A6, A7, TOTAL, LOT, REC.<br />

DISCUSSÃO<br />

O objetivo do presente estudo foi avaliar a validade discriminante<br />

do Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey,<br />

mas ainda não há estudos sobre a validade de critério do teste<br />

no Brasil comparando o desempenho de idosos normais<br />

e idosos na fase inicial da doença de Alzheimer. O principal<br />

resultado encontrado foi de que o RAVLT é um teste capaz<br />

de discriminar esses dois grupos, ao comprovar o desempenho<br />

inferior de pacientes demenciais em relação ao grupo<br />

controle.<br />

As medidas do RAVLT estudadas apresentaram diferença<br />

estatisticamente significativa comparando os idosos<br />

normais com os idosos com diagnóstico presumido da DA<br />

(valor p < 0,00).<br />

As análises dos itens também apontaram para o poder de<br />

discriminação entre sujeitos normais e demenciados, conforme<br />

pode ser observado pelas análises da curva ROC. Alguns<br />

itens mostraram-se particularmente úteis na distinção entre<br />

sujeitos normais e sujeitos demenciados, por exemplo, os<br />

itens A6, A7 e a memória de reconhecimento. Tais evidências<br />

sugerem que as medidas que dependem da sustentação da<br />

informação ao longo do tempo são particularmente importantes<br />

na distinção entre sujeitos normais e com doença de<br />

Alzheimer, sendo compatíveis com os resultados de outros<br />

estudos 1,4,18 .<br />

Além disso, confirmou ser um instrumento sensível ao<br />

déficit de memória episódica 2,5,9 . A aprendizagem de listas de<br />

palavras do RAVLT permitiu a avaliação da memória episódica<br />

na fase inicial da doença, fornecendo dados para caracterização<br />

do funcionamento mnêmico dos pacientes com<br />

DA que demonstraram alteração na capacidade de aprender<br />

e reter uma nova informação. Não apresentaram curva<br />

de aprendizagem, sendo observada uma associação entre<br />

aprendizagem e consolidação, conforme demonstrado em<br />

outros trabalhos 1,5,6,24 .<br />

Nossos resultados são condizentes com estudos anteriores<br />

1,5,24 conduzidos em amostras de países diferentes que<br />

comprovaram desempenho inferior de pacientes demenciais<br />

em relação ao grupo controle ao longo das etapas do<br />

RAVLT. Foi confirmado, semelhante ao estudo de Estévez-<br />

-González et al. 5 , que o RAVLT contribui para o diagnóstico<br />

diferencial da DA na fase inicial e distingue idosos normais,<br />

sendo um teste neuropsicológico útil para tal finalidade.<br />

Barzotti et al. 15 encontraram diferenças significativas entre<br />

controles normais e indivíduos com provável quadro de<br />

Alzheimer nas medidas do RAVLT, além de uma correlação<br />

negativa entre o desempenho no teste e o escore na CDR.<br />

No entanto, os autores não excluíram sujeitos com quadro<br />

depressivo. Nesse sentido, nosso estudo apresenta a vantagem<br />

de comparar sujeitos normais com uma amostra de<br />

indivíduos na fase inicial da doença e sem quadro depressivo<br />

instaurado, conforme resultados do teste de Mann-Whitney<br />

da GDS (valor p = 0, 721).<br />

A análise das variáveis demográficas e clínicas mostrou<br />

que não houve diferença estatisticamente significativa entre<br />

os grupos quanto a idade, escolaridade e escores da GDS<br />

(valor p > 0,05). Esses resultados demonstram a qualidade da<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):253-8.


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artigo original<br />

metodologia empregada para seleção dos indivíduos, uma<br />

vez que tais variáveis, importantes confundidores, não foram<br />

estatisticamente diferentes.<br />

O estudo apresenta limitações no tamanho da amostra<br />

e em relação à diferença da frequência de homens e mulheres<br />

na amostra. Cabe salientar, entretanto, que o efeito do<br />

gênero no RAVLT é controverso, existindo dados que apontam<br />

para um melhor desempenho feminino em alguns itens<br />

do teste 11,18,25-28 e outros que não encontraram tais diferenças<br />

8,12,13,29-31 . De forma a avaliar o papel do gênero no desempenho,<br />

subdividiu-se cada grupo em homens e mulheres,<br />

comparando seus desempenhos por meio do teste Mann-<br />

-Whitney. Não se encontraram diferenças estatisticamente<br />

significativas entre os dois subgrupos (DA: p = 0,053-0,935;<br />

Controles: p = 0,235-0,900). Estudos futuros, com amostras<br />

maiores, deverão utilizar modelos de regressão linear para<br />

avaliar o efeito específico dessa variável na discriminação entre<br />

homens e mulheres com doença de Alzheimer.<br />

Estudos futuros em amostras maiores e mais heterogêneas<br />

poderão fornecer dados adicionais sobre a validade da<br />

nova versão do RAVLT e suas propriedades clínicas em grupos<br />

brasileiros.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os resultados do presente estudo apontam para as boas características<br />

de validade discriminante da versão do RAVLT<br />

composta por palavras de alta frequência no idioma português<br />

praticado no Brasil. Na medida em que já existem normas<br />

brasileiras para aplicação do teste em idosos, os resultados<br />

aqui apresentados reforçam as propriedades psicométricas<br />

adequadas do instrumento, sugerindo sua aplicabilidade na<br />

clínica e pesquisa brasileira com populações semelhantes.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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artigo original<br />

Associação entre polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR e a<br />

resposta ao tratamento da dependência de nicotina<br />

Association between polymorphism SLC6A3 3’UTR VNTR<br />

and response to treatment of nicotine dependence<br />

Guilherme Rubino de Azevedo Focchi 1 , Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva 2 , Sandra Scivoletto 3<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Dependência, nicotina,<br />

abstinência, polimorfismo.<br />

Objetivo: Avaliar a associação entre a resposta ao tratamento da dependência de nicotina<br />

com bupropiona e a presença do polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR, localizado no gene que<br />

codifica o transportador dopaminérgico. Método: Foram acompanhados no Ambulatório<br />

de Tabagismo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP 100 pacientes do<br />

sexo masculino com diagnóstico de dependência de nicotina, sem outras patologias. Todos<br />

receberam bupropiona até 300 mg ao dia por 12 semanas, associada à terapia cognitivo-<br />

-comportamental em grupo. A Escala de Fagerström foi aplicada no início e no final do tratamento,<br />

e avaliou-se a parada do uso de cigarros na última semana de tratamento e um mês<br />

após. Os pacientes tiveram 10 ml de sangue colhidos e genotipados para a existência do<br />

polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR. Resultados: Não foi encontrada associação entre cessação<br />

do uso de cigarro e presença do polimorfismo. Conclusão: São necessários mais estudos<br />

para avaliar se a presença do polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR estaria relacionada à melhor<br />

resposta ao tratamento da dependência de nicotina.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Dependence, nicotine,<br />

withdrawal, polymorphism.<br />

Objective: To evaluate the association between response to treatment of nicotine dependence<br />

with bupropion and the presence of the polymorphism SLC6A3 3’UTR VNTR, in the gene that codifies<br />

the dopaminergic transporter. Method: A hundred patients were treated in the Nicotine Dependence<br />

Outpatient Clinic of the Institute of Psychiatry, University of São Paulo Medical School.<br />

All patients were male, diagnosed as nicotine dependents and had no other diseases. All received<br />

bupropion until 300 mg a day for 12 weeks, combined with cognitive-behavioral group therapy.<br />

The Fagerström Scale was applied at the beginning and at the end of treatment. Cigarette cessation<br />

was evaluated in the last week of treatment and one month later. Patients had 10 ml blood extracted<br />

and genotiped for SLC6A3 3’UTR VNTR polymorphism. Results: There was no association<br />

between cigarettes cessation and the presence of polymorphism. Conclusion: More studies are<br />

needed to assess whether the presence of polymorphism SLC6A3 3’UTR VNTR could be associated<br />

with a better response to treatment of nicotine dependence.<br />

Recebido em<br />

10/6/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

27/9/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Medicina, Instituto de Psiquiatria (IPq), Hospital das Clínicas, Grupo Interdisciplinar de<br />

Estudos em Álcool e Drogas (GREA).<br />

2 Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Faculdade de Medicina, Departamento de Ginecologia, Laboratório de Ginecologia Molecular.<br />

3 USP, Faculdade de Medicina, Departamento de Psiquiatria, IPq, Hospital das Clínicas, Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência<br />

(SEPIA).<br />

Endereço para correspondência: Guilherme Rubino de Azevedo Focchi<br />

Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 785, Cerqueira César – 05403-903 – São Paulo, SP<br />

Telefone: (11) 2661-6960<br />

E-mail grfocchi@gmail.com


260 Focchi GRA et al.<br />

artigo original<br />

INTRODUÇÃO<br />

Atualmente, há cerca de 1,3 bilhão de fumantes no mundo,<br />

e a metade deles, se continuar fumando, morrerá prematuramente<br />

de doenças cardiovasculares, câncer ou doenças<br />

respiratórias. A expectativa de vida dos fumantes é em média<br />

25% menor que a dos não fumantes. O cigarro causa cerca de<br />

5 milhões de mortes anualmente no mundo e, se a tendência<br />

for mantida, o número de mortes em 2020 aumentará para<br />

10 milhões 1-5 . No Brasil, 35% dos homens e 27% das mulheres<br />

fumam, totalizando cerca de 35 milhões de fumantes, sendo<br />

que no país ocorrem cerca de 200 mil mortes ao ano associadas<br />

ao uso de cigarros 6 . Nos Estados Unidos, 60% dos gastos<br />

com saúde são empregados no tratamento de patologias relacionadas<br />

ao tabagismo, totalizando 1 bilhão de dólares ao<br />

dia; no Brasil, os gastos com doenças relacionadas ao tabagismo<br />

ultrapassam 330 milhões de reais ao ano 4,6 . Pode-se afirmar<br />

que a dependência de nicotina constitui hoje a principal<br />

causa de óbito passível de prevenção nos países ocidentais,<br />

sendo um enorme problema de saúde pública. Isso reforça a<br />

necessidade de investimento em pesquisas sobre seus determinantes<br />

e de novas abordagens terapêuticas 7,8 .<br />

Os tratamentos atualmente usados na dependência de<br />

nicotina são: a terapia cognitivo-comportamental, a terapia<br />

de reposição de nicotina (TRN) e os tratamentos farmacológicos<br />

com bupropiona, nortriptilina e, mais recentemente,<br />

com vareniclina 9,10 . No caso específico da bupropiona, as<br />

taxas de cessação do uso de cigarro variam de 25% a 35%<br />

por um período de seis meses, altas se comparadas a outras<br />

medicações 11 .<br />

Sabe-se que o comportamento de fumar é influenciado<br />

pelo genótipo, de forma que há efeito do polimorfismo DRD2<br />

Taq1A na iniciação do tabagismo e da redução da atividade<br />

do polimorfismo CYP 2A6 no aumento do consumo de cigarros<br />

8,10 . Nesse sentido, evidências em modelos humanos e<br />

animais sugerem a importância da dopamina como substrato<br />

do circuito de recompensa na dependência de nicotina.<br />

O foco atual das pesquisas tem se voltado para a influência<br />

da variação individual na transmissão dopaminérgica na resposta<br />

aos tratamentos farmacológicos para tabagismo 12 .<br />

A bupropiona liga-se ao transportador dopaminérgico; o<br />

polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR aumenta a codificação do<br />

transportador e, assim, poderia facilitar a ação desse fármaco.<br />

A associação entre a presença desse polimorfismo e o emprego<br />

da bupropiona, que funciona como agonista dopaminérgico,<br />

aumentaria a disponibilidade de dopamina endógena,<br />

e consequentemente o comportamento de procura<br />

pela nicotina seria reduzido 13 , facilitando a cessação do uso<br />

do cigarro. A presença do alelo 9 do referido polimorfismo<br />

estaria relacionada à maior taxa de cessação de cigarros em<br />

comparação ao alelo 10, o que justificaria o seu estudo 13 .<br />

Uma metanálise envolvendo cinco estudos, com um total<br />

de 2.155 sujeitos, investigou a presença do polimorfismo<br />

SLC6A3 3’UTR VNTR e sua relação com a parada do uso de<br />

cigarros. Verificou-se que em quatro deles houve tendência,<br />

porém sem resultado significativo, à associação entre a presença<br />

desse polimorfismo e a cessação do uso de cigarros.<br />

Os autores enfatizam a importância de mais pesquisas sobre<br />

esse polimorfismo no tratamento de fumantes 13 .<br />

No Brasil, não há estudos controlados farmacogenéticos<br />

sobre o referido polimorfismo e sua influência no tratamento<br />

de dependentes de nicotina com a bupropiona. Considerando<br />

que as diferentes etnias refletem diferenças genotípicas,<br />

faz-se necessário o estudo de polimorfismos na população<br />

brasileira, que é altamente miscigenada.<br />

Dessa forma, o objetivo deste estudo é avaliar a relação<br />

entre a resposta ao tratamento psiquiátrico da dependência<br />

de nicotina e a presença do polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR<br />

em uma amostra clínica brasileira.<br />

MÉTODOS<br />

Seleção dos sujeitos<br />

Os pacientes foram acompanhados em ambulatório específico<br />

para o atendimento de dependentes de nicotina no<br />

Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto<br />

de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade<br />

de Medicina da Universidade de São Paulo (GREA-IPQ-HCF-<br />

MUSP), no período de agosto de 2008 a novembro de 2009.<br />

Foram selecionados 100 sujeitos dependentes de nicotina,<br />

mediante divulgação da pesquisa dentro do Complexo<br />

HC e da FMUSP. Os critérios de inclusão foram: indivíduos<br />

de ascendência europeia, segundo critério do avaliador, para<br />

possibilitar a comparação dos resultados com outros estudos<br />

10 ; sexo masculino; idade entre 18 e 50 anos; diagnóstico<br />

de dependência de nicotina pelo Diagnostic and Statistical<br />

Manual of Mental Disorders, quarta edição (DSM-IV) 7 ; uso de<br />

mais de 10 cigarros por dia há pelo menos um ano; residência<br />

fixa na grande São Paulo; primeiro grau completo; telefone<br />

para contato e assinatura do termo de consentimento<br />

livre e esclarecido 14 . Os critérios de exclusão foram: presença<br />

de patologias clínicas ou psiquiátricas que necessitassem de<br />

tratamento em regime de internação; patologias cardíacas,<br />

como arritmias e infarto agudo do miocárdio; comorbidades<br />

psiquiátricas; uso de medicação psiquiátrica; antecedentes<br />

de epilepsia e convulsões 14 e hipersensibilidade à bupropiona.<br />

A presença de patologias psiquiátricas foi verificada por<br />

meio de entrevista psiquiátrica, realizada pelo médico psiquiatra<br />

e principal pesquisador do estudo, e que também foi<br />

o responsável pela seleção da amostra.<br />

De início, foram triados 250 indivíduos; foram excluídos<br />

150 sujeitos, que não obedeceram aos critérios de seleção,<br />

pois apresentavam outros diagnósticos (por exemplo: depressão,<br />

dependência alcoólica) e pelo uso de outras medi-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):259-65.


artigo original<br />

Polimorfismo e tratamento do tabagismo<br />

261<br />

cações (por exemplo: antidepressivos). Estes foram encaminhados<br />

para outros serviços de tratamento de dependência<br />

de nicotina.<br />

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise<br />

de Projetos de Pesquisa (CAPPesq) da Diretoria Clínica do<br />

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade<br />

de São Paulo (protocolo nº 798/05).<br />

Tratamento e seguimento<br />

Após avaliação dos critérios de inclusão e exclusão, a proposta<br />

e a metodologia do estudo foram explicadas detalhadamente<br />

a cada paciente, enfatizando-se a obrigatoriedade<br />

da coleta de sangue no início do tratamento e o uso da medicação.<br />

Foi utilizado o antidepressivo bupropiona, combinado à<br />

terapia de grupo de modelo cognitivo-comportamental, por<br />

12 semanas 15,16 . As consultas médicas foram realizadas uma<br />

vez por semana, com duração de 30 minutos, e os pacientes,<br />

no mesmo dia da consulta individual, foram atendidos em<br />

grupo de terapia cognitivo-comportamental, pelo mesmo<br />

médico.<br />

Os grupos de terapia tiveram entre quatro e seis pacientes<br />

por grupo. As sessões de grupo tiveram duração de 50<br />

minutos, enfocando a prevenção de recaída no tabagismo,<br />

como a identificação dos fatores de recaída e estratégias<br />

para lidar com a “fissura” pelo cigarro. Os temas nos grupos<br />

não foram definidos previamente, e o terapeuta procurou<br />

coordenar as discussões, sempre enfocando a questão da<br />

dependência de nicotina e a prevenção de recaídas.<br />

Na primeira consulta individual, os pacientes receberam<br />

bupropiona na dose de 150 mg (1 cp) ao dia nos primeiros<br />

quatro dias, aumentando a dose após esse período para 300 mg<br />

ao dia (2 cps, sendo um de manhã e um à tarde). A bupropiona<br />

300 mg ao dia foi mantida até o final do tratamento,<br />

sendo então retirada abruptamente 17 . Os pacientes poderiam<br />

interromper a medicação caso apresentassem efeitos<br />

colaterais intoleráveis. O controle da medicação e de seu<br />

fornecimento aos pacientes foi realizado pelo médico, que<br />

dava aos pacientes comprimidos em quantidade suficiente<br />

até o retorno seguinte. Os efeitos colaterais pela medicação<br />

foram coletados durante as consultas individuais, pelo médico.<br />

Não foi empregado questionário para checagem dos<br />

efeitos colaterais, para evitar indução de relato pelos pacientes,<br />

dando-se, assim, liberdade para que estes observassem<br />

espontaneamente as reações adversas, quando ocorressem.<br />

Os pacientes que abandonaram o tratamento não foram repostos,<br />

sendo também considerados na avaliação dos resultados<br />

desta intervenção.<br />

A Escala de Fagerström, questionário que avalia a gravidade<br />

da dependência de nicotina, foi aplicada na primeira e<br />

na última consulta individual 18,19 .<br />

Os dados sociodemográficos e o perfil de consumo de cigarros<br />

foram coletados na anamnese, pelo médico. No caso,<br />

a anamnese foi realizada mediante entrevista semiestruturada,<br />

com as questões focadas no tema tabagismo.<br />

Na primeira consulta, foram colhidos 10 ml de sangue de<br />

cada paciente (para evitar perdas de material) e, em seguida,<br />

armazenados para estudo genético.<br />

Estudo genético<br />

Após a extração do DNA, foi realizada a amplificação por<br />

meio da reação de cadeia de polimerase (PCR). As sequências<br />

de “primer” utilizadas para a amplificação do DNA foram<br />

5’ – TGT GGT GTA GGG AAC GGC CTG AG – 3’ e 5’ – CTT CCT<br />

GGA GGT CAC GGC TCA AGG – 3’ (alelo 9 do polimorfismo<br />

SLC6A3 3’UTR VNTR) 20 .<br />

Seguimento pós-estudo<br />

Um mês após o final do tratamento, os pacientes foram avaliados<br />

uma única vez por telefone, no sentido de averiguar<br />

se estavam ou não abstinentes de nicotina 9 . Foi perguntado<br />

aos que pararam de fumar se mantinham a cessação do uso<br />

de cigarro e aos que não pararam se haviam conseguido parar.<br />

Em ambos os casos, registrou-se resposta do tipo “sim”<br />

ou “não”. O contato foi realizado pelo pesquisador, que lembrou<br />

os pacientes a respeito do telefonema na última semana<br />

de tratamento.<br />

Análise estatística<br />

Os dados sociodemográficos (estado civil, trabalho e escolaridade)<br />

foram analisados para a amostra completa. As pontuações<br />

na Escala de Fagerström, no início e no final do tratamento,<br />

foram comparadas. Ao final do estudo, os pacientes<br />

foram divididos em dois grupos: aqueles que cessaram o<br />

uso de cigarro e os que não cessaram seu uso. Os dois grupos<br />

foram comparados quanto à presença do polimorfismo<br />

SLC6A3 3’UTR VNTR, tentativas anteriores de parar de fumar,<br />

assiduidade no tratamento e número de cigarros fumados<br />

ao dia. Foi realizada análise bivariada (teste do qui-quadrado<br />

para variáveis categóricas e prova de Mann-Whitney para variáveis<br />

contínuas). Para avaliar a diferença na pontuação da<br />

Escala de Fagerström, foi empregado o teste de Wilcoxon.<br />

O nível de significância considerado foi de 5%.<br />

RESULTADOS<br />

Características sociodemográficas e padrão<br />

inicial de uso de nicotina<br />

Na amostra total, 64% dos pacientes (n = 64) eram casados,<br />

24% (n = 24), solteiros, 11% (n = 11), separados e 1% (1 paciente),<br />

viúvo. A maioria dos pacientes (97%, ou 97 pacientes)<br />

estava trabalhando; quanto à escolaridade, 67% (n = 67)<br />

tinham segundo grau completo, 28% (n = 28) tinham terceiro<br />

grau completo e apenas 5% (n = 5) tinham primeiro grau<br />

completo.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):259-65.


262 Focchi GRA et al.<br />

artigo original<br />

A média/desvio-padrão (DP) da pontuação da Escala<br />

de Fagerström no início do tratamento foi de 5,96 +/- 2,14.<br />

A média/DP do número de cigarros fumados ao dia no início<br />

do estudo foi de 31,85 +/- 14,52.<br />

Aderência ao tratamento e cessação do uso de<br />

cigarro<br />

Dos 100 pacientes que iniciaram o estudo, 80% (n = 80) se<br />

mantiveram até o final do tratamento. Conseguiu-se um<br />

total de 84% amostras de sangue (n = 84). Seis pacientes<br />

que colheram a amostra de sangue no início do tratamento<br />

abandonaram o estudo. Dos pacientes que permaneceram<br />

no estudo, 81% (n = 65) interromperam o uso do cigarro.<br />

Considerando apenas os pacientes que completaram o<br />

estudo (n = 80), a média/DP da Escala de Fagerström no início<br />

do tratamento foi de 5,96 +/- 2,14, e, no final do tratamento, de<br />

0,43 +/- 1,25, encontrando-se redução significativa na gravidade<br />

de dependência segundo esse instrumento (p < 0,0001).<br />

Análise da associação entre cessação de uso de<br />

cigarro versus polimorfismo<br />

Para o estudo da associação da cessação do uso e polimorfismo,<br />

considerou-se a amostra de 84 pacientes, que foram<br />

aqueles que foram genotipados.<br />

Observa-se, na tabela 1, que 75% (n = 63) cessaram o uso<br />

de cigarro e que 42,9% (n = 36) tinham o polimorfismo, ao<br />

passo que 32,1% (n = 27) não tinham o polimorfismo. Quando<br />

foi analisada a cessação um mês após o final do tratamento,<br />

41,6% (n = 35) dos pacientes pararam de fumar e<br />

apresentavam o polimorfismo, enquanto 28,6% (n = 24) não<br />

o apresentavam (Tabela 2). Nessas situações, as diferenças<br />

entre a cessação do uso de cigarro e a presença do polimorfismo<br />

não foram significativas.<br />

Associação entre cessação do uso de cigarros,<br />

assiduidade no tratamento e número de cigarros<br />

fumados<br />

Não foi encontrada associação entre cessar o uso de cigarro<br />

ao término do tratamento, tentativas anteriores de parar de<br />

fumar e assiduidade no tratamento entre os pacientes que<br />

permaneceram no estudo (Tabela 3). Porém, com relação ao<br />

número de cigarros consumidos, verificou-se tendência de<br />

diferença significativa: a média/DP do número de cigarros<br />

consumidos foi menor (30,15 +/- 13,4) entre aqueles que<br />

cessaram o uso de cigarro ao término do tratamento (p =<br />

0,06). Quando se considerou o período de um mês após o<br />

final do tratamento, quatro sujeitos que antes haviam parado<br />

de fumar retomaram o uso de cigarro. Não houve associação<br />

entre essas variáveis e a cessação do uso de cigarros<br />

(Tabela 4).<br />

Tabela 3. Associação entre parada do uso de cigarros ao<br />

término do tratamento e número de cigarros fumados,<br />

tentativas anteriores de parar de fumar e assiduidade durante<br />

o tratamento<br />

Cessação do<br />

uso ao final<br />

do estudo<br />

(n = 65)<br />

Não cessação<br />

do uso ao final<br />

do estudo<br />

(n = 15)<br />

Cigarros<br />

(Média/DP)<br />

Tentativas anteriores de<br />

parar de fumar<br />

Assiduidade<br />

Sim Não Sim Não<br />

30,15 (13,4) 93,8% (61) 6,2% (4) 35,4% (23) 64,6% (42)<br />

37,67 (15,2) 100,0% (15) 0,0% (0) 13,3% (2) 86,7% (13)<br />

P 0,060 0,324 0,097<br />

N total 80<br />

Tabela 1. Associação entre cessação do uso de cigarro e presença<br />

do polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR no final do estudo<br />

Cessação no final do estudo<br />

Sim Não Abandonou<br />

Presença de polimorfismo 42,9% (36) 7,1% (6) 4,8% (4) 0,44<br />

Ausência de polimorfismo 32,1% (27) 10,7% (9) 2,4% (2)<br />

N Total 84<br />

Tabela 2. Associação entre cessação do uso de cigarro e<br />

presença do polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR um mês após o final<br />

do tratamento<br />

Cessação após 1 mês<br />

Sim Não Abandonou<br />

Presença de polimorfismo 41,6% (35) 8,3% (7) 4,8% (4) 0,19<br />

Ausência de polimorfismo 28,6% (24) 14,3% (12) 2,4% (2)<br />

N total 84<br />

p<br />

p<br />

Tabela 4. Associação entre parada do uso de cigarros um<br />

mês após o tratamento e número de cigarros fumados,<br />

tentativas anteriores de parar de fumar e assiduidade durante<br />

o tratamento<br />

Cessação<br />

após 1 mês de<br />

tratamento<br />

(n = 59)<br />

Não cessação<br />

após 1 mês de<br />

tratamento<br />

(n = 21)<br />

Cigarros<br />

Média/(DP)<br />

Tentativas anteriores de<br />

parar de fumar<br />

Assiduidade<br />

Sim Não Sim Não<br />

30,66 (13,6) 93,4% (57) 6,6% (4) 34,4% (21) 65,6% (40)<br />

34,47 (14,9) 100,0% (19) 0,0% (0) 21,1% (4) 78,9% (15)<br />

P 0,301 0,252 0,272<br />

N total 80<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):259-65.


artigo original<br />

Polimorfismo e tratamento do tabagismo<br />

263<br />

Efeitos colaterais<br />

O efeito colateral mais importante nos pacientes que permaneceram<br />

no estudo foi insônia (25%), seguida de obstipação<br />

intestinal (15%) e gosto amargo na boca (13,7%). Um paciente<br />

relatou insônia grave e suspendeu a medicação, permanecendo,<br />

no entanto, até o final do tratamento. Esse paciente<br />

solicitou permanecer na terapia cognitivo-comportamental,<br />

foi incluído na análise genética e não apresentou o polimorfismo.<br />

Não houve relato de efeitos colaterais mais graves,<br />

como convulsões.<br />

DISCUSSÃO<br />

Foi verificada associação entre número de cigarros consumidos<br />

por dia e êxito na cessação do consumo destes: os pacientes<br />

que consumiam menos cigarros por dia tenderam a<br />

conseguir maior êxito na cessação do consumo. Isso evidencia<br />

o número de cigarros fumados ao dia como importante<br />

critério de gravidade, usado, inclusive, na Escala de Fagerström<br />

19 . A intervenção empregada proporcionou a queda da<br />

pontuação nessa escala durante o tratamento, com diferença<br />

significativa entre o início do estudo e seu término. Isso<br />

mostra que o tratamento empregado foi efetivo para reduzir<br />

a gravidade da dependência. De fato, no tratamento do tabagismo,<br />

a simples redução dos sintomas da dependência já<br />

é benéfica para a saúde do indivíduo e pode contribuir para<br />

a cessação do tabagismo em tentativas posteriores de parar<br />

o cigarro. A parada total do uso de cigarros é o objetivo final<br />

do tratamento, e o tratamento precoce é fundamental, antes<br />

que o número de cigarros fumados ao dia aumente 21 .<br />

Não foi verificada associação entre presença do alelo 9<br />

do polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR e a parada do uso de<br />

cigarros ao final das 12 semanas de tratamento, o que difere<br />

do verificado em outros trabalhos 12,13 . Um estudo duplo-<br />

-cego randomizado controlado 10 , com 291 pacientes de<br />

ascendência europeia, que receberam bupropiona ou placebo,<br />

combinados à terapia de modelo cognitivo-comportamental<br />

por 12 semanas, fez a genotipagem para o receptor<br />

dopaminérgico D2 (DRD2-Taq1A), para o transportador de<br />

dopamina (SLC6A3 3’UTR VNTR) e para o citocromo CYP2B6.<br />

A dosagem de cotinina, marcador bastante confiável na averiguação<br />

da abstinência de nicotina, foi realizada durante o<br />

tratamento 9 . Nesse estudo, encontrou-se associação significativa<br />

entre o polimorfismo DRD2-Taq1A2A2 e a abstinência<br />

de nicotina com a bupropiona, havendo também interação<br />

estatisticamente significativa entre os polimorfismos DRD2<br />

Taq1A e CYP2B6, de modo que o encontro desses dois genótipos<br />

correspondeu a maiores taxas de abstinência entre<br />

os participantes do estudo. Os autores fazem uma crítica ao<br />

número pequeno de pacientes, no referente à investigação<br />

farmacogenética. Entretanto, deve-se salientar o uso da dosagem<br />

de cotinina e a importância do estudo da interação<br />

entre polimorfismos, no referido trabalho. A diferença com o<br />

presente estudo pode ser decorrente do tamanho menor da<br />

amostra, que teria sido insuficiente para identificar associação.<br />

Dessa forma, evidências indicam efeito do polimorfismo<br />

do sistema dopaminérgico DRD2Taq1 A2A2 e da interação<br />

dos polimorfismos DRD2Taq1A e CYP2B6 no processo de facilitação<br />

da abstinência de cigarros 22,23 .<br />

Outro estudo, com 583 pacientes tabagistas, examinou<br />

a associação entre o polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR e o<br />

tratamento da dependência de nicotina com terapia de reposição<br />

de nicotina ou bupropiona (à escolha do paciente)<br />

e terapia cognitivo-comportamental, por 12 semanas. Nesse<br />

caso, encontrou-se efeito positivo do polimorfismo na parada<br />

precoce de cigarros 24 . O número de pacientes nesse estudo<br />

é maior, porém o fato de os pacientes escolherem o tratamento<br />

medicamentoso criaria um viés no sentido de saber<br />

qual a medicação realmente efetiva na cessação do cigarro.<br />

De fato, a presença do polimorfismo pode não ser o<br />

único fator a se relacionar com a resposta ao tratamento.<br />

O tamanho do polimorfismo (número de “repeats”) poderia<br />

também contribuir para processos dinâmicos que regulariam<br />

a densidade do transportador de dopamina, incluindo<br />

sua expressão proteica. Nesse caso, não é possível calcular<br />

o equilíbrio de Hardy-Weinberg ( 13,25 ). A presença do alelo 9<br />

do polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR poderia reduzir a recaptação<br />

de dopamina, facilitando a cessação de cigarros<br />

pelo paciente, pois haveria maior disponibilidade desse neurotransmissor<br />

no circuito de recompensa cerebral 13,24 . Além<br />

disso, deve-se salientar que outros polimorfismos poderiam<br />

atuar em conjunto 10,13 . O polimorfismo SLC6A3 3’UTR VNTR<br />

poderia também interagir com adaptações neuropsicológicas<br />

persistentes resultantes do tratamento, podendo auxiliar<br />

na manutenção da abstinência 10 .<br />

Não houve problemas de tolerância à medicação, sendo<br />

a frequência de efeitos colaterais similar à encontrada em<br />

outros trabalhos, ressaltando-se a segurança da bupropiona<br />

no tratamento da dependência de nicotina 11,15 .<br />

O presente estudo apresenta algumas limitações. A<br />

amostra estudada foi limitada em 100 pacientes, um número<br />

considerado pequeno para estudos genéticos 10 . Porém, é<br />

importante lembrar que esse estudo era também de resposta<br />

ao emprego de medicação no tratamento de dependência,<br />

ou seja, um estudo clínico que apresenta dificuldades<br />

para ser realizado com amostras maiores, tais como a seleção<br />

da amostra segundo os critérios bastante específicos<br />

de inclusão e exclusão. Nesse sentido, outra limitação é o<br />

critério de seleção de indivíduos de ascendência europeia<br />

a critério do examinador, a saber, pela cor da pele (branca).<br />

A ascendência não está apenas relacionada à cor de pele,<br />

sendo influenciada pelo genótipo individual, não avaliado<br />

neste trabalho. Além disso, é questionável a seleção de indivíduos<br />

de ascendência europeia na população brasileira, que<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):259-65.


264 Focchi GRA et al.<br />

artigo original<br />

tem alto grau de miscigenação. Outro aspecto importante<br />

a ser considerado foi a não utilização de instrumentos de<br />

avaliação para a triagem de pacientes no sentido de excluir<br />

comorbidades psiquiátricas. Optou-se pela entrevista clínica<br />

como instrumento de triagem, porque muitos indivíduos<br />

poderiam apresentar sintomas ansiosos ou depressivos, não<br />

configurando, porém, diagnóstico psiquiátrico. Entretanto,<br />

estudos futuros poderão empregar instrumentos para avaliar<br />

a intensidade de sintomas e correlacioná-los com a resposta<br />

ao tratamento. Da mesma forma, a avaliação do grau de motivação<br />

dos pacientes para o tratamento poderia ser realizada,<br />

no sentido de homogeneizar os grupos de tratamento e<br />

reduzir, assim, a possibilidade de abandonos.<br />

Outro aspecto que merece discussão é o uso de dispositivos<br />

de nicotina, como goma e adesivo, que poderiam<br />

ser usados como forma de tornar a terapêutica mais abrangente.<br />

Porém, o seu uso neste trabalho criaria um viés, na<br />

medida em que não se saberia até que ponto a parada do<br />

uso de cigarros poderia ser atribuída ao efeito específico da<br />

bupropiona.<br />

Também, não foram analisados outros polimorfismos<br />

que poderiam interagir mutuamente e que poderiam estar<br />

associados de forma significativa à parada do uso de cigarros<br />

10 . O citocromo CYP2B6, por exemplo, metaboliza a nicotina,<br />

reduzindo seu nível sérico e reforçando, assim, a procura<br />

por cigarros 26 .<br />

Por fim, outro aspecto a ser considerado é o tempo de seguimento<br />

dos pacientes. Neste trabalho, o tempo de seguimento<br />

foi relativamente curto (12 semanas, mais um telefonema<br />

um mês após o término do tratamento), e a maioria dos<br />

trabalhos publicados sobre o tema faz o follow-up de 12 meses,<br />

haja vista o alto grau de recaídas a médio e longo prazo 14,22 .<br />

Entretanto, um tempo de seguimento mais longo aumentaria<br />

a possibilidade de outros fatores (por exemplo: sociais) interferirem<br />

no estudo, criando um viés e dificultando encontrar a<br />

associação entre o polimorfismo e a cessação do tabagismo.<br />

Apesar das limitações discutidas acima, este trabalho é<br />

o primeiro sobre psicofarmacogenética no tratamento psiquiátrico<br />

do tabagismo no Brasil, país com alto grau de miscigenação<br />

de sua população. Este estudo cria possibilidades<br />

futuras de desenvolvimento de outros trabalhos abordando<br />

a psicofarmacogenética do tabagismo e que contem com o<br />

emprego de metodologias mais refinadas e maior número<br />

de pacientes, tendo como objetivo a seleção de amostras de<br />

indivíduos que responderiam mais efetivamente a tratamentos<br />

propostos, com um mínimo de efeitos colaterais.<br />

CONCLUSÃO<br />

O maior entendimento dos mecanismos genéticos da dependência<br />

de nicotina oferece a possibilidade de tratamento<br />

personalizado aos pacientes, baseado no genótipo. Isso<br />

se configura como o futuro da medicina: o tratamento farmacogenético,<br />

individualizado, com a seleção de pacientes<br />

baseada em seu perfil gênico, levaria à maior efetividade do<br />

tratamento proposto, com um mínimo de efeitos colaterais.<br />

No caso da dependência de nicotina, deve-se salientar<br />

a necessidade de terapias combinadas – medicamentosa e<br />

cognitivo-comportamental –, pois é necessária a mudança<br />

do estilo de vida por parte do paciente para que este se mantenha<br />

abstinente de cigarros 10,24 . Este trabalho aponta para a<br />

necessidade de mais estudos, que contem com melhorias<br />

metodológicas, para avaliar se a presença do polimorfismo<br />

SLC6A3 3’UTR VNTR poderia melhorar a resposta ao tratamento<br />

da dependência de nicotina, sendo importante como modelo<br />

para outros estudos futuros.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

À Maria Rita Passos Bueno, do Instituto de Genômica da Universidade<br />

de São Paulo (USP), e à Cristiane Alves Oliveira, do<br />

Laboratório de Ginecologia Molecular da Universidade Federal<br />

de São Paulo (Unifesp).<br />

O presente trabalho recebeu apoio financeiro (auxílio-<br />

-pesquisa) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de<br />

São Paulo (Fapesp) (projeto 07-54410-4).<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):259-65.


artigo original<br />

Polimorfismo e tratamento do tabagismo<br />

265<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):259-65.


artigo original<br />

Alterações cognitivas em indivíduos brasileiros<br />

com esclerose múltipla surto-remissão<br />

Cognitive profile of Brazilian individuals with<br />

relapsing-remitting multiple sclerosis<br />

Marco Aurélio Negreiros 1 , Jesus Landeira-Fernandez 2 , Cíntia Villela Kirchmeyer 3 , Renata Alves Paes 3 , Regina<br />

Alvarenga 3 , Paulo Mattos 4<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Esclerose múltipla,<br />

cognição, testes<br />

neuropsicológicos.<br />

Objetivo: O objetivo deste estudo é investigar o perfil neuropsicológico de uma amostra de<br />

pacientes brasileiros com esclerose múltipla surto-remissão (EMSR), descrevendo as funções<br />

cognitivas mais comprometidas. Métodos: Cinquenta e quatro pacientes com EMSR e 54<br />

controles pareados por sexo, idade e nível educacional foram avaliados por meio de uma<br />

longa e abrangente bateria neuropsicológica. Resultados: Observou-se que 59,2% dos pacientes<br />

com EMSR apresentaram algum tipo de comprometimento cognitivo em comparação<br />

com o grupo controle. Os testes neuropsicológicos identificaram disfunções executivas,<br />

da memória de longo prazo e da velocidade de processamento de informação. Conclusão:<br />

Os resultados encontram-se em conformidade com estudos anteriores relatados na literatura<br />

internacional. Contudo, mais estudos ainda são necessários para uma estimativa maior do<br />

perfil das alterações cognitivas da esclerose múltipla no Brasil.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Multiple sclerosis, cognition,<br />

neuropsychological tests.<br />

Objective: The goal of this study is to investigate neuropsychological profile of a sample of Brazilian<br />

patients with relapsing-remitting multiple sclerosis (RRMS) and to describe the cognitive functions<br />

more frequently affected. Methods: Fifty-four patients with RRMS and 54 controls matched<br />

by sex, age and education were assessed through a long and comprehensive neuropsychological<br />

battery. Results: We found that 59.2% of patients with RRMS had some sort of cognitive impairment<br />

as compared to the control group. Neuropsychological testing identified executive functions,<br />

long-term memory and speed of information processing as the cognitive functions most frequently<br />

impaired among patients. Conclusion: The results are in line with previous studies reported. However,<br />

as there are few studies of cognitive impairment in patients with multiple sclerosis in Brazilian<br />

literature, more studies are still necessary for a larger evaluation of the cognitive profile of<br />

multiple sclerosis in Brazil.<br />

Recebido em<br />

8/6/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

20/9/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (<strong>UFRJ</strong>), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Departamento de Psicologia,<br />

PUC-RJ.<br />

2 PUC-RJ, Departamento de Psicologia; Universidade Estácio de Sá (Unesa), Departamento de Psicologia.<br />

3 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).<br />

4 <strong>UFRJ</strong>, Instituto de Psiquiatria.<br />

Endereço para correspondência: Marco Aurélio Negreiros<br />

Rua Rita Ludolf, 17/202, Leblon – 22440-060 – Rio de Janeiro, RJ<br />

E-mail: marconegreiros@superig.com.br


artigo original<br />

Frequência da alterações cognitivas na esclerose múltipla no Brasil<br />

267<br />

INTRODUÇÃO<br />

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória e desmielinizante<br />

do sistema nervoso central (SNC), de curso<br />

crônico e progressivo, com sintomas de comprometimento<br />

disseminado do SNC nas áreas motoras, sensitivas, cerebelares,<br />

do tronco cerebral, esfincterianas e mentais 1,2 . Há quatro<br />

subtipos clínicos de esclerose múltipla: surto-remissão<br />

(EMSR), progressiva primária (PP), progressiva secundária (PS)<br />

e progressiva recorrente (PR). Cada um deles possui diferentes<br />

perfis clínicos 3 e fisiopatológicos 4 . O comprometimento<br />

cognitivo em cada diferente subtipo parece ser também diferenciado<br />

5-7 .<br />

A disfunção cognitiva na esclerose múltipla caracteriza-<br />

-se por déficits de memória, atenção, velocidade de processamento<br />

de informação e funções executivas 8-10 . O comprometimento<br />

cognitivo dos pacientes com EM é considerado<br />

moderado quando comparado ao dos indivíduos normais 9 .<br />

A prevalência geral de comprometimento cognitivo é de<br />

45% a 65% 8,10,11 .<br />

A avaliação neurológica clínica, assim como outras medidas<br />

comuns como a Expanded Disability Status Examination<br />

Scale (EDSS) 2 ou o Mini-Mental Status Examination (MMSE) 12 ,<br />

é geralmente incapaz de detectar as alterações cognitivas de<br />

pacientes com EM 8,13 . Testes neuropsicológicos são os melhores<br />

instrumentos para a avaliação da cognição em EM e baterias<br />

de testes foram desenvolvidas para esse propósito 8,14-16 .<br />

Diferenças transculturais são consideradas uma importante<br />

questão em qualquer pesquisa referente à avaliação<br />

da cognição 17 . Há poucos dados disponíveis sobre comprometimento<br />

cognitivo na população brasileira de pacientes<br />

com EM. Um estudo 18 foi conduzido com 25 pacientes brasileiros<br />

com esclerose múltipla surto-remissão (EMSR), no qual<br />

foi constatado que a inteligência geral dos pacientes estava<br />

preservada, mas houve um pior desempenho na memória<br />

de longo prazo verbal e visual e em tarefas que requisitavam<br />

tempo de execução. Paes et al. 19 investigaram o comprometimento<br />

cognitivo em 26 pacientes com EM tipo progressiva<br />

primária e encontraram uma frequência de 50% de comprometimento<br />

geral, sendo 60% de alteração de memória<br />

recente, 40% de alteração de fluência verbal e 40% de alteração<br />

de velocidade de processamento de informação comparativamente<br />

ao grupo controle. Em um trabalho prévio 20 ,<br />

desenvolveu-se uma bateria neuropsicológica breve para<br />

identificar as alterações cognitivas em pacientes brasileiros<br />

com EMSR composta de três testes cognitivos (Fluência Verbal,<br />

Rey Auditorial Verbal Learning Test e Enhanced Cued Recall)<br />

com 80,6% de sensibilidade e 97,2% de especificidade, encontrando<br />

um perfil de alterações cognitivas nesta pesquisa<br />

cujo método e resultados serão discutidos a seguir.<br />

No presente artigo, o perfil cognitivo de uma amostra de<br />

pacientes brasileiros com EMSR foi investigado por meio de<br />

uma abrangente bateria neuropsicológica.<br />

MÉTODOS<br />

Sujeitos<br />

Foram selecionados 54 pacientes de um total de 74 consecutivamente<br />

admitidos no Setor de Doenças Desmielinizantes<br />

do Hospital da Lagoa no Rio de Janeiro. Todos foram diagnosticados<br />

com EMSR, clinicamente definida, de acordo com<br />

os critérios de Poser et al. 21 e possuíam níveis leve a moderado<br />

de incapacidade – 1 a 6,5 – na Expanded Disability Status<br />

Scale (EDSS) 2 . Quatro critérios de exclusão foram empregados<br />

com a finalidade de prevenir possíveis interferências<br />

no desempenho nos testes neuropsicológicos: 1) presença<br />

de déficit motor ou visual que comprometesse a resposta<br />

adequada aos testes cognitivos; 2) estado de surto ou piora<br />

dos sintomas; 3) uso de substâncias psicoativas, além dos<br />

antidepressivos prescritos; e 4) coexistência de condições<br />

clínicas que interferissem na cognição. Todos os pacientes<br />

passaram por uma entrevista-padrão, análise da ficha médica,<br />

exames neurológicos, imagem de ressonância magnética<br />

(RM) e exame de líquido cefalorraquidiano, com a finalidade<br />

de preencher os critérios mencionados. Seis não preencheram<br />

os critérios diagnósticos, cinco tinham EDSS mais alto<br />

do que 6,5, três estavam usando substâncias psicoa tivas, um<br />

apresentou surto agudo e cinco não completaram o processo<br />

de avaliação.<br />

Cinquenta e quatro adultos saudáveis, pareados de acordo<br />

com sexo, idade e escolaridade, formaram o grupo controle.<br />

A mesma entrevista aplicada aos pacientes foi conduzida<br />

com a finalidade de eliminar participantes que preenchessem<br />

algum dos critérios de exclusão. Todos os participantes<br />

assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, concordando<br />

em participar voluntariamente da pesquisa. Este<br />

estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro (<strong>UFRJ</strong>) e do Hospital da Lagoa em<br />

conformidade com os princípios da Declaração de Helsinki.<br />

Testes neuropsicológicos<br />

Rastreamento de demência: Foi aplicado o teste Memória-<br />

-Informação-Concentração (MIC), que é útil para esse propósito<br />

na EM por não conter tarefas visuais e motoras 22 .<br />

Atenção e velocidade de processamento de informação:<br />

Avaliadas pelo Digit Symbol versão oral adaptada por nós<br />

para EM 23 .<br />

Memória de curto-prazo: Avaliada pelo Digit Span Forward<br />

e Backward, respectivamente (Bateria WAIS III) 24 .<br />

Memória de longo prazo: Rey Auditory Verbal Learning<br />

Test (RAVLT) 25 foi empregado para medir a memória de longo<br />

prazo verbal. Uma fase de recordação livre tardia e outra<br />

relacionada ao reconhecimento foram incluídas para que<br />

esses dois processos de memória pudessem ser avaliados.<br />

Buschke Enhanced Cued Recall Test (BECR) 26 . Avalia simultaneamente<br />

memória verbal e não verbal e a memória de<br />

longo prazo com a ajuda de pistas semânticas durante o período<br />

de evocação.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):266-70.


268 Negreiros MA et al.<br />

artigo original<br />

Fluência verbal: Foi testada pelo Controlled Verbal Oral Association<br />

Test (COWAT), que mede também a função executiva<br />

nos subtestes de produção de palavras fonéticas (F-A-S) e<br />

semânticas (animais e frutas) 27 .<br />

Pensamento abstrato: Avaliado por meio da aplicação<br />

das séries A e C do teste Raven Progressive Matrices 28 .<br />

Análise dos dados<br />

As médias dos resultados e seus respectivos desvios-padrão<br />

foram apresentados. Um teste T bicaudado foi empregado<br />

para detectar diferenças significativas nas médias entre EMSR<br />

e grupo controle entre os 26 índices de variáveis cognitivas.<br />

O teste do c 2 foi usado para identificar a porcentagem de<br />

diferença entre os dois grupos. Uma análise de correlação<br />

de Pearson foi usada para acessar a relação entre déficit cognitivo<br />

entre os pacientes com EM e a severidade da doença<br />

de acordo com o EDSS. Um valor p de 0,05 foi considerado<br />

estatisticamente significativo.<br />

Disfunção cognitiva foi definida de acordo com o procedimento<br />

empregado por Rao et al. 8 , o qual controla as<br />

eventuais diferenças individuais nas habilidades cognitivas<br />

pré-mórbidas. A regressão múltipla foi realizada com o escore<br />

bruto de cada um dos 26 índices cognitivos como a variável<br />

dependente e as variáveis demográficas (sexo, idade e<br />

nível educacional) como as variáveis independentes. Como<br />

sexo não é uma variável contínua, foi retornado como uma<br />

variável falsa. Um padrão residual foi obtido subtraindo da<br />

pontuação regressa e da atual para cada um dos 26 índices<br />

de variáveis cognitivas. Falha em cada uma dessas variáveis<br />

foi definida como o quinto percentil ou abaixo do escore padronizado<br />

residual entre o grupo controle pareado.<br />

Déficit cognitivo entre os pacientes com EMSR foi definido<br />

como o quinto percentil do número total de falhas nos índices<br />

cognitivos dos sujeitos controles. A taxa de frequência<br />

de disfunção cognitiva nessa amostra de pacientes EMSR foi<br />

calculada como a diferença entre os percentuais de pacientes<br />

com EMSR que apresentaram déficit cognitivo a partir de<br />

uma taxa de falsos-positivos, definido como a porcentagem<br />

de indivíduos controles pareada, erroneamente classificada<br />

como cognitivamente alterada.<br />

RESULTADOS<br />

Dados sociodemográficos<br />

Não houve diferenças entre idade, escolaridade e sexo entre<br />

os dois grupos (todos ps > 0,1). Nossos resultados indicam<br />

que a incidência de EMSR nesta amostra foi maior em mulheres<br />

(61,1%) do que em homens (38,9%; c² = 7,1, p < 0,05).<br />

Pacientes com EMSR apresentaram um maior número de índices<br />

fracassados em comparação com os sujeitos controles<br />

pareados (t 104 = 6,67; p < 0,001).<br />

Frequência das alterações cognitivas<br />

Empregando um corte de quatro ou mais índices cognitivos<br />

fracassados, uma incidência de 59,2% de pacientes com<br />

EMSR e 7,4% de sujeitos controles foi encontrada com comprometimento<br />

cognitivo. Por isso, uma taxa de frequência<br />

de comprometimento cognitivo nesta amostra foi estimada<br />

em 51,8%. Curiosamente, nenhuma correlação entre o déficit<br />

cognitivo dos pacientes EMSR e a gravidade da doença<br />

(EDSS) foi encontrada (r = 0,03, p > 0,8).<br />

Funções cognitivas e testes alterados<br />

Os resultados indicaram que os pacientes com EMSR apresentam<br />

consistentemente piores desempenhos que os sujeitos<br />

controles (todos ps < 0,05) em todos os 26 índices dos<br />

testes neuropsicológicos. A tabela 1 apresenta as médias e<br />

os desvios-padrão dos 26 índices de variáveis cognitivas.<br />

Fluência verbal fonêmica e semântica foram as variáveis<br />

que apresentaram o maior comprometimento. Aproximadamente<br />

40% dos pacientes com EMSR apresentaram um<br />

déficit na geração de palavras que começam com a letra S<br />

(fonêmica) ou nomes de frutas (semântica).<br />

A memória de longo prazo, medida pelo RAVLT, também<br />

demonstrou um alto índice de comprometimento. Como<br />

pode ser observado na tabela 1, 35,2% dos pacientes apresentaram<br />

um fracasso na segunda evocação do RAVLT e no teste<br />

de reconhecimento, enquanto 33,3% dos pacientes fracassaram<br />

na primeira evocação do RAVLT. Uma considerável sobreposição<br />

entre a primeira e a segunda evocação no RAVLT<br />

no desempenho entre os pacientes EMRR foi detectada. Somente<br />

17% dos pacientes que fracassaram no desempenho<br />

da primeira evocação foram bem na segunda evocação.<br />

A avaliação da memória de longo prazo que inclui o BECR<br />

também demonstrou considerável déficit cognitivo entre os pacientes<br />

com EMSR. Aproximadamente 30% dos pacientes apresentaram<br />

um fracasso na primeira tentativa de evocação livre<br />

do BECR (BECR-Free 1) e durante toda a evocação (48 pontos)<br />

do BECR (BECR-Recall). Esses dois índices não foram redundantes,<br />

pois aproximadamente 58% dos pacientes com EMSR que<br />

apresentaram um déficit na primeira tentativa de evocação livre<br />

tiveram um bom desempenho durante a evocação do BECR.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os resultados obtidos indicaram que 59,2% dos pacientes<br />

com EMSR apresentaram algum tipo de comprometimento<br />

cognitivo. Esse resultado encontra-se em conformidade com<br />

estudos anteriores relatados na literatura, os quais indicavam<br />

que aproximadamente 45%-65% dos pacientes com esclerose<br />

múltipla possuem déficits cognitivos detectados por meio<br />

de testes neuropsicológicos 8,10,11 .<br />

Os déficits no pensamento abstrato e na fluência verbal,<br />

respectivamente detectados em 27,8% e 40,7% dos pacientes,<br />

estão relacionados ao comprometimento no funciona-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):266-70.


artigo original<br />

Frequência da alterações cognitivas na esclerose múltipla no Brasil<br />

269<br />

Tabela 1. Resultados de testes neuropsicológicos*<br />

Teste cognitivo EMRS Controle P % EMRS


270 Negreiros MA et al.<br />

artigo original<br />

memória de longo prazo foi entre 18,5%-29,6% nos pacientes.<br />

Déficits de evocação em todas essas medidas estavam razoavelmente<br />

altas, na extensão de 30%-35%. Interessantemente,<br />

pacientes com EMSR apresentaram 22% e 35% de déficit no<br />

reconhecimento nos testes RAVLT e BECR, respectivamente.<br />

Esses resultados não estão em acordo com a visão clássica<br />

que assume que memória de reconhecimento está preservada<br />

em pacientes com esclerose múltipla 8,14 . Uma maior investigação<br />

será necessária para confirmar esse achado.<br />

O teste que avaliou a velocidade de processamento de<br />

informações, o Digit Symbol, mostrou que 22,2% dos pacientes<br />

apresentaram comprometimento. Esse tipo de teste foi<br />

apontado na literatura como sendo um dos mais sensíveis<br />

para detectar disfunção cognitiva em esclerose múltipla e a<br />

principal função cognitiva afetada nos pacientes 29 . No nosso<br />

caso, embora a frequência de alteração de velocidade<br />

de processamento de informação tenha sido alta (22,2%),<br />

foi inferior ao índice de alteração de memória encontrado.<br />

O teste de rastreamento de demência (MIC) mostrou<br />

comprometimento em 9,3% dos pacientes com EMSR, e os<br />

resultados do Digit Span indicaram que 11,1% desses pacientes<br />

apresentaram comprometimento no span atencional. Esses<br />

resultados são um tanto incoerentes com os relatos da<br />

literatura, os quais indicavam que pacientes com esclerose<br />

múltipla tinham span atencional preservado e menor pontuação<br />

de demência 10,14 . É possível que se tenha que rever os critérios<br />

de pontuação em testes de rastreamento para demência<br />

na população brasileira, como já tem sido feito 30 , visto que<br />

variáveis educacionais e culturais influenciam esses critérios.<br />

CONCLUSÃO<br />

De forma geral, os resultados foram concordantes com a literatura<br />

sobre cognição da esclerose múltipla, visto que as<br />

funções que apresentaram maior comprometimento foram<br />

as funções executivas, memória de longo prazo e velocidade<br />

de processamento de informação. As divergências encontradas<br />

se referem ao comprometimento da memória de reconhecimento,<br />

ao span atencional e ao rastreamento de demência,<br />

tendo sido encontradas alterações não comumente<br />

observadas na literatura internacional. Existem poucos estudos<br />

de levantamento das alterações cognitivas na esclerose<br />

múltipla na literatura brasileira. Portanto, serão necessários<br />

mais estudos para que se conheça o perfil das alterações<br />

cognitivas da esclerose múltipla no Brasil.<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):266-70.


artigo original<br />

Comorbidades clínicas e psiquiátricas em<br />

pacientes com transtorno bipolar do tipo I<br />

Psychiatric and medical comorbidities in type 1 bipolar disorder patients<br />

Izabela Guimarães Barbosa 1 , Rodrigo de Almeida Ferreira 2 , Rodrigo Barreto Huguet 3 , Fábio Lopes Rocha 4 ,<br />

João Vinícius Salgado 3 , Antônio Lúcio Teixeira 3<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Transtorno bipolar,<br />

comorbidades, mania,<br />

suicídio.<br />

Contexto: O transtorno bipolar tipo I está comumente associado a comorbidades clínicas e<br />

psiquiátricas, mas ainda há poucos dados disponíveis sobre pacientes brasileiros. Objetivos:<br />

O objetivo do presente estudo foi avaliar a prevalência de comorbidades clínicas e psiquiátricas<br />

em uma amostra brasileira de pacientes bipolares tipo I. O objetivo secundário foi investigar<br />

as associações de características clínico-demográficas e comorbidades com tentativas<br />

de suicídio. Métodos: Foram incluídos neste estudo 94 pacientes bipolares tipo I. O diagnóstico<br />

psiquiátrico foi determinado utilizando-se a avaliação Mini International Neuropsychiatric<br />

Interview (MINI-Plus). O diagnóstico de comorbidades clínicas foi baseado na história clínica<br />

e no acompanhamento de clínicos gerais. Resultados: As comorbidades mais prevalentes<br />

nos pacientes bipolares foram: transtorno de ansiedade generalizada (19,20%), dependência<br />

de substâncias (43,60%), hipertensão arterial (29,80%), diabetes mellitus (17,00%), dislipidemia<br />

(22,30%) e hipotireoidismo (19,10%). Não foram encontradas diferenças estatísticas em relação<br />

às características demográficas ou à prevalência de comorbidades nos grupos com e<br />

sem tentativa de suicídio. Conclusão: Pacientes bipolares atendidos em serviço psiquiátrico<br />

apresentam elevada prevalência de comorbidades psiquiátricas e clínicas. Nessa população,<br />

tentativas de suicídio não se associam com a presença de comorbidades ou características<br />

demográficas.<br />

ABSTRACT<br />

Background: Bipolar disorder type I is frequently associated with psychiatric and medical comorbidities,<br />

but data regarding Brazilian patients are lacking. Objectives: The aim of the present<br />

study was to evaluate the prevalence of psychiatric and medical comorbidities in a Brazilian sample<br />

of bipolar disorder patients type I. A secondary aim was to investigate the association of demographic<br />

characteristics and comorbidities with suicide attempts. Methods: Ninety four bipolar<br />

disorder type I patients were included in this study. Psychiatric diagnoses were performed following<br />

the Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI-Plus) evaluation. The diagnosis of medical<br />

comorbidities was based on clinical history and general practice consultation. Results: The com-<br />

Recebido em<br />

18/8/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

16/11/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Programa de Pós-Graduação em Neurociências, Belo Horizonte; Instituto de Previdência<br />

dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), Hospital Governador Israel Pinheiro, Ambulatório de Transtorno Bipolar, Belo Horizonte;<br />

Estresse, Psiquiatria e Imunologia, Divisão de Medicina Psicológica, Instituto de Psiquiatria, King’s College London, London, UK.<br />

2 UFMG, Programa de Pós-Graduação em Neurociências; IPSEMG, Ambulatório de Transtorno Bipolar, Hospital; Governador Israel Pinheiro,<br />

Belo Horizonte.<br />

3 Estresse, Psiquiatria e Imunologia, Divisão de Medicina Psicológica, Instituto de Psiquiatria, King’s College London, London, UK.<br />

4 IPSEMG, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Belo Horizonte.<br />

Endereço para correspondência: Antônio Lúcio Teixeira – Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina, UFMG<br />

Av. Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia – 30130-100 – Belo Horizonte, MG<br />

E-mail: altexr@gmail.com


272 Barbosa IG et al.<br />

artigo original<br />

Keywords<br />

Bipolar disorder,<br />

comorbidities, mania,<br />

suicide.<br />

monest comorbidities in bipolar disorder patients were generalized anxiety disorder (19.20%), substance<br />

dependence (43.60%), arterial hypertension (29.80%), diabetes mellitus (17.00%), dyslipidemia<br />

(22.30%) and hypothyroidism (19.10%). There were no differences in demographic characteristics<br />

or the prevalence of comorbidities when comparing patients with and without previous suicide<br />

attempt. Conclusion: Bipolar disorder patients from a psychiatric unit present higher prevalence<br />

of psychiatric and clinical comorbidities. Previous suicide attempts were not associated with comorbidities<br />

or demographic characteristics.<br />

INTRODUÇÃO<br />

MÉTODOS<br />

O transtorno bipolar do tipo I se caracteriza por episódios<br />

recorrentes de mania e depressão e ocorre em 0,6% da população<br />

mundial 1 . Apesar dos avanços relacionados à terapêutica,<br />

os pacientes com transtorno bipolar, mesmo em períodos<br />

de eutimia, apresentam sintomas de humor residuais,<br />

assim como déficits cognitivos 2 . Estima-se que 15% a 20%<br />

das mortes em pacientes com transtorno bipolar possam ser<br />

atribuídas a suicídio 3 . Fatores sociodemográficos parecem<br />

ter pequena influência nas taxas de tentativa de suicídio e<br />

suicídio completo em pacientes com transtorno bipolar, entretanto<br />

a presença de comorbidades psiquiátricas é uma<br />

das principais variáveis associadas 4 .<br />

Comorbidade pode ser conceituada como a ocorrência<br />

de duas ou mais entidades nosológicas no mesmo paciente.<br />

A coocorrência de diagnósticos em um mesmo paciente<br />

pode influenciar o curso, a resposta ao tratamento e/ou o<br />

prognóstico da enfermidade. Pacientes bipolares tipo I apresentam,<br />

em média, 3,1 comorbidades psiquiátricas ao longo<br />

da vida 1 . Há um debate na literatura sobre se esse dado seria<br />

um artefato dos sistemas diagnósticos atuais, que empregam<br />

uma abordagem categórica, ou se refletiria a existência<br />

de entidades nosológicas distintas com um mesmo substrato<br />

neurobiológico 5 . Em relação à presença de comorbidades<br />

clínicas, descreve-se elevada prevalência de distúrbios metabólicos,<br />

cardiovasculares e endócrinos nesses pacientes 6 .<br />

Não se sabe se essas comorbidades clínicas se referem a condições<br />

ligadas ao transtorno bipolar per se, se seriam consequência<br />

do tratamento farmacológico ou uma combinação<br />

de ambos os fatores. Apesar de a presença de comorbidades<br />

psiquiátricas e clínicas ser importante na avaliação, no<br />

prognóstico e no curso do transtorno bipolar, a maioria dos<br />

estudos farmacoterápicos ignora esse fato.<br />

Na população brasileira, ainda há poucos dados sobre a<br />

prevalência de comorbidades e sua influência no transtorno<br />

bipolar. O objetivo deste estudo é, portanto, identificar a<br />

prevalência de comorbidade sem uma amostra de pacientes<br />

com transtorno bipolar do tipo I provenientes de um serviço<br />

psiquiátrico. O objetivo secundário foi avaliar quais as características<br />

do transtorno bipolar e comorbidades (psiquiátricas<br />

e clínicas) estariam relacionadas com a presença de<br />

tentativas de suicídio.<br />

Sujeitos<br />

Foram incluídos no presente estudo 94 pacientes com o<br />

diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. Os pacientes foram<br />

recrutados em serviço psiquiátrico de atendimento especializado<br />

em transtorno bipolar no Instituto de Previdência<br />

dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), Belo<br />

Horizonte. Esse serviço é responsável pelo atendimento de<br />

pacientes provenientes da rede ambulatorial e de internação<br />

do Hospital Governador Israel Pinheiro, que pertence<br />

ao IPSEMG. O diagnóstico de transtornos psiquiátricos baseou-se<br />

na entrevista clínica estruturada Mini International<br />

Neuropsychiatric Interview (MINI-Plus) 7 . Devido ao fato de os<br />

pacientes bipolares serem acompanhados regularmente por<br />

clínicos gerais no mesmo serviço, foi extraído do prontuário<br />

dos pacientes o diagnóstico das seguintes comorbidades clínicas:<br />

1) hipertensão arterial sistêmica; 2) diabetes mellitus; 3)<br />

hipotireoidismo; 4) dislipidemia.<br />

As medidas antropométricas foram realizadas no mesmo<br />

dia da entrevista clínica. Tentativa de suicídio foi definida<br />

como qualquer ato de injúria, deliberadamente autoinfligido,<br />

independentemente do risco da letalidade envolvido,<br />

em que o paciente tenha a intenção consciente de terminar<br />

a própria vida 8 .<br />

Todos os procedimentos descritos no estudo receberam<br />

autorização do comitê de ética local. Todos os participantes<br />

tinham idade superior a 18 anos, e o consentimento livre e<br />

esclarecido foi obtido previamente à entrada no estudo. Não<br />

houve critério de exclusão para a entrada neste estudo.<br />

Análise estatística<br />

A análise descritiva foi usada para apresentar os dados clínicos<br />

e sociodemográficos da população. As variáveis contínuas<br />

foram apresentadas como médias e desvios-padrão.<br />

Os pacientes foram divididos em dois grupos segundo a<br />

presença de tentativas prévias de suicídio. As variáveis categóricas<br />

dos dados sociodemográficos e prevalências de<br />

comorbidades foram comparadas entre o grupo de pacientes<br />

com tentativas prévias de suicídio e o grupo sem tentativas<br />

prévias, empregando-se o teste do qui-quadrado<br />

de Pearson ou o teste exato de Fisher, quando apropriado.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):271-6.


artigo original<br />

Comorbidades no transtorno bipolar<br />

273<br />

O teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar a<br />

distribuição de variáveis contínuas entre pacientes bipolares<br />

que apresentaram ou não tentativas de suicídio. Devido ao<br />

fato de os dados dos pacientes referentes a idade, escolaridade,<br />

índice de massa corporal, primeiro episódio de humor,<br />

primeiro episódio depressivo, primeiro episódio maníaco e<br />

número de internações hospitalares possuírem distribuição<br />

normal, o teste t de Student foi empregado para a comparação<br />

dos dois grupos. As análises foram realizadas utilizando-<br />

-se o programa estatístico SPSS versão 17.0. Um valor de p<br />

bilateral menor que 0,05 foi adotado como nível de significância<br />

estatística para todos os testes.<br />

RESULTADOS<br />

Os dados sociodemográficos e clínicos dos participantes são<br />

apresentados na tabela 1. A prevalência do gênero feminino<br />

foi de 69,10%, e 32,30% dos pacientes eram solteiros. Apesar<br />

de os pacientes apresentarem idade média de 50,25 anos<br />

(DP = 12,02), apenas 68,10% se encontravam inativos laboralmente.<br />

A maioria dos pacientes apresentou longo tempo<br />

de evolução da doença (idade média ± DP em anos de 24,01<br />

± 12,77). Na presente amostra, 33,00% dos pacientes relataram<br />

tentativas de suicídio. O número médio de internações<br />

psiquiátricas foi de 4,18 (DP = 4,04) e o de tentativas de suicídio<br />

foi de 0,90 (DP = 1,58). Curiosamente, 24 pacientes não<br />

tinham apresentado, até o momento da entrevista, nenhum<br />

episódio depressivo.<br />

Tabela 1. Dados sociodemográficos e clínicos da população de<br />

pacientes com transtorno bipolar tipo I<br />

Pacientes bipolares tipo I (n = 94)<br />

Idade em anos (média ± DP) 50,25 ± 12,02<br />

Escolaridade em anos (média ± DP) 10,13 ± 3,63<br />

Gênero feminino 69,10%<br />

Pacientes com histórico de tentativas de suicídio 33,00%<br />

Número de tentativas (média ± DP) 0,90 ± 1,58<br />

Status funcional<br />

Ativo 31,50%<br />

Inativo 68,50%<br />

Idade de início da doença em anos (média ± DP) 26,39 ±10,12<br />

Idade do primeiro episódio depressivo (média ± DP) 26,02 ± 10,35<br />

Idade do primeiro episódio maníaco (média ± DP) 29,74 ± 12,12<br />

Duração da doença em anos (média ± DP) 24,01 ± 12,77<br />

Número de internações (média ± DP) 4,18 ± 4,04<br />

IMC (média ± DP) 29,22 ± 7,54<br />

Medicamentos em uso atual (prevalência)<br />

Lítio 54,30%<br />

Anticonvulsivantes 62,40%<br />

Antipsicóticos 68,50%<br />

Antidepressivos 9,50%<br />

IMC: índice de massa corporal; DP: desvio-padrão.<br />

A prevalência de comorbidades psiquiátricas e clínicas<br />

na amostra é apresentada na tabela 2. Cinquenta e nove<br />

(63,83%) pacientes apresentaram ao menos uma comorbidade<br />

psiquiátrica. Os transtornos mais prevalentes foram:<br />

transtorno de ansiedade generalizada (27,20%), dependência<br />

de álcool (35,50%) e tabaco (43,60%). Em relação a comorbidades<br />

clínicas, 52,13% dos pacientes apresentaram ao<br />

menos uma comorbidade.<br />

Os pacientes bipolares foram subdivididos em dois grupos:<br />

pacientes que apresentaram tentativas de suicídio e pacientes<br />

que não apresentaram tentativas de suicídio. Não foi<br />

encontrada nenhuma associação significativa entre as variáveis<br />

investigadas e a presença ou ausência de tentativas de<br />

suicídio (ver tabela 3).<br />

Tabela 2. Prevalência de comorbidades psiquiátricas e clínicas na<br />

população de pacientes com transtorno bipolar tipo I<br />

Pacientes bipolares tipo I (n = 94)<br />

Qualquer comorbidade psiquiátrica 63,83%<br />

TAG 27,20%<br />

TOC 4,30%<br />

Transtorno de pânico atual 5,30%<br />

Dependência de substâncias ao longo da vida<br />

Álcool 35,50%<br />

Tabaco 43,60%<br />

Outras substâncias 5,30%<br />

Hipertensão arterial sistêmica 29,80%<br />

Diabetes mellitus 17,00%<br />

Hipotireoidismo 19,10%<br />

Dislipidemia 22,30%<br />

TAG: transtorno de ansiedade generalizada; TOC: transtorno obsessivo-compulsivo.<br />

DISCUSSÃO<br />

O presente estudo avaliou as comorbidades clínicas e psiquiátricas<br />

em uma amostra clínica de pacientes bipolares do<br />

tipo I. Transtorno de ansiedade generalizada e dependência<br />

de substâncias foram as comorbidades psiquiátricas mais comuns.<br />

Hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia foram as<br />

comorbidades clínicas mais prevalentes. História de tentativas<br />

de suicídio não se associou com comorbidades clínicas<br />

ou psiquiátricas.<br />

Os dados referentes à prevalência de comorbidades psiquiátricas<br />

em pacientes com transtorno bipolar estão em<br />

consonância com a literatura 1 , inclusive com outros estudos<br />

brasileiros 9-13 . Aparentemente, a presença de comorbidades<br />

em pacientes bipolares é mais regra do que exceção. Uma<br />

das hipóteses que poderia justificar tal dado pode ser um<br />

artefato dos sistemas diagnósticos contemporâneos que<br />

preconizam uma abordagem categórica. Essa abordagem,<br />

apesar de permitir maior confiabilidade dos diagnósticos<br />

psiquiátricos e melhorar a comunicação entre clínicos e<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):271-6.


274 Barbosa IG et al.<br />

artigo original<br />

Tabela 3. Comparação entre dados sociodemográficos e comorbidades em pacientes bipolares tipo I com tentativa de suicídio e sem<br />

tentativa de suicídio<br />

Pacientes bipolares tipo I (n = 94)<br />

Sem tentativa de suicídio (n = 63) Presença de tentativa de suicídio (n = 31)<br />

Valor de p<br />

Idade em anos (média ± DP) 49,79 ± 12,59 51,19 ± 10,89 0,60 †<br />

Escolaridade em anos (média ± DP) 10,16 ± 3,66 10,07 ± 3,64 0,91 †<br />

Gênero feminino 69,80 67,70 0,84 **<br />

Idade de início da doença em anos (média ± DP) 27,19 ± 10,40 24,79 ± 9,51 0,30 †<br />

Primeiro episódio depressivo (média ± DP) 26,77 ± 10,67 24,74 ± 9,90 0,46 †<br />

Primeiro episódio maníaco (média ± DP) 31,11 ± 12,94 26,68 ± 9,56 0,09 †<br />

Duração da doença em anos (média ± DP) 22,54 ± 12,95 26,80 ± 12,12 0,14 †<br />

Número de internações (média ± DP) 3,94 ± 4,45 4,64 ± 3,17 0,50 †<br />

Episódio depressivo prévio 69,8 83,9 0,14 **<br />

Presença de qualquer comorbidade psiquiátrica 60,32 70,97 0,31 **<br />

TAG 24,60 32,3 0,23 **<br />

TOC 1,6 9,7 0,10 *<br />

Transtorno do pânico atual 1,6 3,2 0,54 *<br />

Dependência de substâncias (atual)<br />

Álcool 4,8 6,5 1,00*<br />

Tabaco 34,9 38,7 0,72 **<br />

Outras substâncias 4,8 6,5 0,22*<br />

Hipertensão arterial sistêmica 27,0 35,5 0,40 **<br />

Diabetes mellitus 12,7 25,8 0,11 **<br />

Hipotireoidismo 15,9 25,8 0,25 **<br />

Dislipidemia 19,0 25,0 0,28 **<br />

†<br />

Teste t; * teste exato de Fisher; ** teste do qui-quadrado de Pearson; DP = desvio-padrão; TAG: transtorno de ansiedade generalizada; TOC: transtorno obsessivo-compulsivo.<br />

pesquisadores, apresenta algumas limitações 14 . Por exemplo,<br />

a definição individualizada de categorias diagnósticas<br />

como entidades nosológicas diferentes, ainda que baseada<br />

em consenso de especialistas, pode não ter validade discriminante<br />

que permita separar doenças distintas. Ademais, a<br />

ocorrência de dois transtornos em um mesmo paciente, em<br />

momentos diferentes ou concomitantes, pode sugerir mecanismo<br />

fisiopatológico subjacente em comum 6 . De nota,<br />

transtorno bipolar e transtornos de ansiedade apresentam<br />

aumento de atividade monoaminérgica 15 , alterações de neuroplasticidade<br />

na amígdala e estruturas do sistema límbico 15 ,<br />

assim como genes em comum 16 , o que sugere que possa<br />

haver um mesmo mecanismo fisiopatológico comum a dois<br />

transtornos.<br />

Em relação à prevalência das comorbidades psiquiátricas<br />

descritas no presente trabalho, estudos epidemiológicos<br />

anteriores apontam a mesma prevalência de transtornos de<br />

ansiedade em pacientes bipolares 6 . Entretanto, há estudos<br />

discordantes, não havendo consenso na literatura 1,17 . A prevalência<br />

de qualquer transtorno de ansiedade nos pacientes<br />

bipolares é mais elevada que na população em geral<br />

(18,1%) 18 . Possíveis hipóteses associadas à discrepância dos<br />

dados são diferenças no desenho do estudo, por exemplo,<br />

estudos populacionais e estudos clínicos, assim como o uso<br />

de diferentes instrumentos para entrevista e diagnóstico.<br />

Transtornos relacionados a substâncias apresentaram<br />

elevada prevalência na nossa população em comparação<br />

com estudos que usaram similares ferramentas de entrevista<br />

em pacientes bipolares 12 e mesmo quando comparados<br />

à população geral (3,8%) 18 . Os dados apresentados corroboram<br />

a prevalência de uso e/ou dependência de substâncias<br />

em pacientes bipolares na população brasileira 19 . Há inúmeras<br />

hipóteses que procuram explicar a elevada prevalência<br />

de dependência de substâncias associada ao transtorno<br />

bipolar. Em uma perspectiva baseada em crenças psicológicas,<br />

os pacientes com transtorno bipolar buscariam o uso de<br />

substâncias como uma forma de aliviar sintomas de humor<br />

considerados desagradáveis, como o taquipsiquismo e a irritabilidade<br />

20 . Por outro lado, o uso nocivo de substâncias poderia<br />

deflagrar o primeiro episódio maníaco 21 . Ainda, o fato<br />

de o transtorno bipolar estar relacionado com maior impulsividade,<br />

envolvimento excessivo em atividades prazerosas e<br />

prejuízo de crítica durante o episódio maníaco poderia estimular<br />

a busca de substâncias psicoativas 22 .<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):271-6.


artigo original<br />

Comorbidades no transtorno bipolar<br />

275<br />

Em relação às comorbidades clínicas, a alta prevalência<br />

demonstrada no presente estudo está em conformidade<br />

com dados prévios na literatura em pacientes bipolares 23 .<br />

A sobreposição de comorbidades clínicas no paciente com<br />

transtorno bipolar tem provável etiologia multifatorial. Pesquisas<br />

têm demonstrado que a desregulação do humor e do<br />

apetite compartilha alguns substratos neurobiológicos 24 . Dados<br />

de neuroimagem, por exemplo, mostram que há sobreposição<br />

dos circuitos neurais ligados à regulação do humor<br />

e do comportamento alimentar, como as conexões entre a<br />

amígdala e o córtex pré-frontal 25,26 . Além disso, a hiperatividade<br />

persistente do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal em<br />

pacientes bipolares pode estar relacionada a elevação da<br />

pressão arterial, aumento de resistência à insulina e dislipidemia<br />

27,28 . É importante mencionar que o uso de medicamentos<br />

psicotrópicos, particularmente os antipsicóticos atípicos,<br />

também está ligado a síndrome metabólica, aumento do<br />

apetite e preferência por alimentos doces, assim como redução<br />

da atividade física 29 . Reconhece-se também que o uso<br />

do lítio está associado ao hipotireoidismo.<br />

Em nosso estudo, não foram encontradas associações entre<br />

tentativas de suicídio e comorbidades clínicas ou psiquiátricas.<br />

Esse dado difere do relatado em outros trabalhos, que<br />

demonstraram que comorbidades psiquiátricas aumentam<br />

o risco de suicídio no transtorno bipolar 9,10,30 . É reconhecido<br />

que a inclusão de pacientes bipolares do tipo II nas amostras<br />

de estudo pode determinar o aumento da prevalência de<br />

tentativas de suicídio 11,31 . Ressalta-se ainda que, por se tratar<br />

de um estudo retrospectivo, pode existir viés de recordação.<br />

Como limitações de nosso trabalho, destacam-se alguns<br />

pontos. O fato de se tratar de uma amostra obtida de serviço<br />

de atenção psiquiátrica especializada pode comprometer a<br />

generalização dos achados para pacientes com transtorno<br />

bipolar na comunidade ou acompanhados em outros contextos.<br />

O diagnóstico de comorbidades clínicas por meio do<br />

registro em prontuário pode ter subestimado a prevalência<br />

delas. A inclusão de pacientes bipolares em diferentes estados<br />

de humor (mania, eutimia e depressão) pode ter influenciado<br />

a avaliação da prevalência das comorbidades psiquiátricas.<br />

Deve-se considerar também a possibilidade de que o<br />

presente estudo apresente o viés de Berkson 32 . Segundo esse<br />

viés, pessoas portadoras de mais de uma doença ou transtorno<br />

tendem a procurar mais frequentemente tratamento<br />

médico, o que faz com que amostras clínicas pos suam taxas<br />

de comorbidades maiores que a população geral. Por outro<br />

lado, pelo nosso conhecimento, este é o estudo brasileiro<br />

que investiga o maior número de comorbidades na maior<br />

amostra formada exclusivamente por pacientes portadores<br />

de transtorno bipolar tipo I. Novos estudos, com amostras<br />

ampliadas ou de base populacional, incluindo exames complementares<br />

ou de rastreio para o diagnóstico de comorbidades,<br />

são necessários.<br />

CONCLUSÃO<br />

Pacientes bipolares atendidos em centros psiquiátricos especializados<br />

apresentam elevada prevalência de comorbidades<br />

psiquiátricas e clínicas, particularmente transtornos de<br />

ansiedade, transtornos relacionados a substâncias, hipertensão<br />

arterial sistêmica e dislipidemia. Essas comorbidades não<br />

se associaram a tentativas de suicídio. Portanto, é importante<br />

que sejam incluídos na prática clínica exames complementares<br />

ou de rastreio para o diagnóstico de comorbidades clínicas<br />

em pacientes com transtorno bipolar.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Este trabalho foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />

Científico e Tecnológico (CNPq, Brasil), Fundação<br />

de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais<br />

(Fapemig, Brasil) e Coordenação de Aperfeiçoamento de<br />

Pessoal de Nível Superior (CAPES, Brasil).<br />

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artigo original<br />

Sintomas depressivos em crianças e<br />

adolescentes com anemia falciforme<br />

Depressive symptoms in children and adolescents with sickle cell anemia<br />

Felipe José Nascimento Barreto 1 , Rosana Cipolotti 2<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Anemia falciforme, sintomas<br />

depressivos, crianças,<br />

adolescentes.<br />

Objetivo: Determinar a frequência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes<br />

com anemia falciforme, bem como caracterizar e associar tal sintomatologia aos dados<br />

individuais. Métodos: Realizou-se um estudo transversal com portadores de anemia falciforme<br />

dos 7 aos 17 anos, atendidos em um ambulatório de Hematologia Pediátrica, os<br />

quais preencheram o Inventário de Depressão Infantil (CDI). Resultados: Foram avaliados<br />

76 pacientes, estabelecendo-se em 13 o ponto de corte. Vinte e seis pacientes (34,2%)<br />

apresentavam sintomas sugestivos de depressão. “Não ser tão bom quanto os outros colegas”<br />

foi o item mais pontuado, além de ter predominado significativamente naqueles com<br />

escore de CDI maior ou igual a 13, assim como as variáveis: ter pais separados ou viúvos<br />

e renda familiar mensal menor ou igual a R$ 510,00. O item “preocupação com dores” foi<br />

bem pontuado, independentemente da presença de sintomas depressivos (p = 0,1). Conclusão:<br />

A depressão em crianças e adolescentes com anemia falciforme ainda é pouco<br />

estudada. Os dados obtidos indicam frequência elevada de sintomas depressivos nessa<br />

população. Possivelmente, conviver precocemente com a separação dos pais e pertencer<br />

a uma família com baixa renda esteja relacionado ao desenvolvimento desses sintomas.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Sickle cell anemia,<br />

depressive symptoms,<br />

children, adolescents.<br />

Objective: Determinate prevalence of depressive symptoms in children and adolescents<br />

with sickle cell anemia, characterize and associate then with individuals data. Methods:<br />

A transversal study was conducted with people with sickle cell anemia from 7 to 17 years old,<br />

followed at a Pediatric Hematology Center, which fulfilled the Children’s Depression Inventory<br />

(CDI). Results: A total of 76 children and adolescents were selected, considering a cut-off point of<br />

13. Twenty-six patients (34,2%) had suggestive symptoms of depression. “Not able to be as good<br />

as others siblings” was the most scored item of CDI, and it prevailed significantly in that with CDI<br />

score higher or equal than 13, as the variables: having divorced or widowed parents, and family<br />

income lower or equal to R$ 510,00. The item “worries about pain” obtained high score whether<br />

depressive symptoms were present or not (p = 0,1). Conclusion: Depression in children and<br />

adolescents with sickle cell anemia remains poorly discussed. Data obtained indicates high rates<br />

of depressive symptoms in this population. Probably, early experience of parental separation and<br />

low family income may contribute to development of these symptoms.<br />

1 Universidade Federal de Sergipe (UFS).<br />

2 UFS, Departamento de Medicina.<br />

Recebido em<br />

11/8/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

21/10/<strong>2011</strong><br />

Endereço para correspondência: Felipe José Nascimento Barreto<br />

Praça Tobias Barreto, 220, ap. 302 – 49015-130 – Aracaju, SE<br />

Tel.: (79) 3224-9059<br />

E-mail: lipegauche@hotmail.com


278 Barreto FJN, Cipolotti R<br />

artigo original<br />

INTRODUÇÃO<br />

A anemia falciforme é uma doença autossômica recessiva<br />

caracterizada pela homozigose do gene codificador da hemoglobina<br />

mutante S, que origina hemácias deformadas,<br />

propensas a hemólise e obstrução vascular 1-3 . Sua alta prevalência<br />

entre a população, mais precisamente naquelas em<br />

que a influência negra é predominante, faz dessa enfermidade<br />

um verdadeiro problema de saúde pública em várias<br />

partes do mundo 4 . Só no Brasil, 3.500 crianças nascem por<br />

ano com doença falciforme, grupo de hemoglobinopatias<br />

cuja principal representante é a anemia falciforme 5 .<br />

Em curto ou longo prazo, as várias complicações inerentes<br />

ao estado falcêmico, quando não levam a óbito, constituem<br />

constante ameaça à qualidade de vida 5,6 . Desde cedo,<br />

os portadores de anemia falciforme já sofrem com os efeitos<br />

das crises álgicas, infecções e outras urgências significativas,<br />

que, invariavelmente, aumentam o número de hospitalizações<br />

e diminuem as horas dispensadas à escola e às demais<br />

atividades produtivas 6-9 .<br />

O prejuízo funcional e social é notório e, por despontar<br />

já na infância e adolescência então, torna-se marcante para<br />

fases da vida tão cruciais para a construção da identidade<br />

adulta. Reflexo indireto do histórico de faltas por internações,<br />

o fraco desempenho escolar que muitos possuem favorece a<br />

repetência e dificulta o progresso acadêmico. O menor contato<br />

entre colegas é, em algum grau, uma realidade fatídica<br />

2,6,9,10 . Não é incomum nessa faixa etária que os sinais físicos<br />

da anemia falciforme motivem a exclusão do portador dos<br />

círculos de amizade, muitas vezes, com a errônea justificativa<br />

de que possui uma enfermidade contagiosa 11 .<br />

Diante do convívio prematuro com tantos obstáculos impostos<br />

pela natureza incapacitante, incurável e fatal da anemia<br />

falciforme, sintomas depressivos podem vir à tona ainda<br />

na infância e adolescência 12,13 . E como toda doença crônica<br />

é por si só um fator de risco para depressão 14 , com a anemia<br />

falciforme não poderia ser diferente. Em adultos com anemia<br />

falciforme, taxas de depressão variam de 18% a 44%, valores<br />

similares aos encontrados para outras condições crônicas<br />

severas 9 .<br />

Por sua vez, a depressão contribui de forma negativa no<br />

prognóstico da anemia falciforme 10 . Os sintomas depressivos<br />

são capazes de reduzir o limiar de tolerância para dor e a capacidade<br />

individual de lidar com essa experiência desagradável.<br />

O resultado é um aumento na frequência e intensidade<br />

das crises álgicas, maior número de admissões em pronto-<br />

-socorro e internações e menor adesão ao esquema terapêutico<br />

6,7,13,14 . Por fim, os sintomas depressivos em crianças e<br />

adolescentes são fortes preditores de transtorno depressivo<br />

maior, com ou sem ideação suicida, na fase adulta 6,11 .<br />

Na literatura está bem estabelecida a associação entre<br />

depressão e doenças crônicas da infância 14,15 . Quanto à anemia<br />

falciforme, há muitos estudos avaliando depressão nos<br />

portadores adultos, porém poucos que contemplem crianças<br />

e adolescentes 6,13 . Tendo em vista as nuances da depressão<br />

sobre o desenvolvimento infanto-juvenil 16 , acredita-se<br />

que não seja adequado simplesmente adaptar para essa faixa<br />

etária os achados obtidos em adultos.<br />

O presente estudo visa determinar a frequência de sintomas<br />

depressivos em crianças e adolescentes com anemia<br />

falciforme, caracterizar tal sintomatologia e correlacioná-la<br />

com dados individuais, antecedentes pessoais e familiares.<br />

MÉTODOS<br />

Entre julho de 2010 e março de <strong>2011</strong>, realizou-se um estudo<br />

transversal com crianças e adolescentes atendidos em ambulatório<br />

de Hematologia Pediátrica de um hospital universitário,<br />

entre 7 a 17 anos e com diagnóstico confirmado de<br />

anemia falciforme. Além de estarem em seguimento regular<br />

no serviço por no mínimo seis meses e/ou duas consultas de<br />

rotina, tinham que ser alfabetizados e estar aptos a entender<br />

orientações verbais. Pacientes que foram hospitalizados<br />

há menos de um mês ou que apresentavam intercorrências<br />

agudas eram abordados em consultas posteriores.<br />

As crianças e adolescentes elegíveis, bem como seus<br />

respectivos responsáveis, foram entrevistados por um único<br />

pesquisador no dia da consulta médica de rotina. Após<br />

esclarecimento sobre a natureza e os objetivos da pesquisa,<br />

paciente e responsável eram conduzidos a uma sala reservada.<br />

Com a autorização verbal e escrita, mediante assinatura<br />

de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo responsável,<br />

foram coletados dados referentes à identificação<br />

do paciente e de seu principal cuidador, condições socioeconômicas<br />

da família, antecedentes familiares de doença<br />

psiquiátrica e de anemia falciforme.<br />

A seguir, solicitou-se ao paciente que preenchesse o Inventário<br />

de Depressão Infantil ou Children’s Depression Inventory<br />

(CDI) 17,18 . Cada um dos 27 itens que o compõe possui<br />

três opções de resposta que correspondem a valores de 0 a<br />

2, conforme a gravidade dos sintomas depressivos. Coube<br />

ao sujeito da pesquisa assinalar a opção que melhor descrevesse<br />

seus pensamentos e sentimentos nas duas semanas<br />

anteriores à data da aplicação do CDI, tendo sido enfatizado<br />

que não há resposta certa ou errada e ratificado o sigilo dos<br />

dados fornecidos. Durante essa etapa, pesquisador e responsável<br />

aguardaram do lado de fora da sala até o completo preenchimento<br />

do inventário, a fim de garantir a privacidade do<br />

paciente e maior fidedignidade às suas respostas.<br />

Elaborado por Kovacs 17,18 , o CDI representa uma adaptação<br />

do Inventário de Depressão de Beck às particularidades<br />

desse transtorno afetivo na população infanto-juvenil,<br />

servindo como método de triagem de sintomas sugestivos<br />

de depressão em indivíduos dos 7 aos 17 anos completos 19 .<br />

Nos seus 27 itens, cinco dimensões relevantes de quadros<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):277-83.


artigo original<br />

Sintomas depressivos e anemia falciforme<br />

279<br />

depressivos são avaliadas: humor negativo, problemas interpessoais,<br />

ineficiência, anedonia e autoestima negativa 18 .<br />

O somatório da pontuação obtida fornece um escore<br />

que varia de 0 a 54, sendo estabelecido em 19 o ponto de<br />

corte para a presença de sintomas depressivos em amostras<br />

populacionais e em 13 o ponto de corte para amostras clínicas<br />

19 . No Brasil, o CDI foi inicialmente adaptado e normatizado<br />

por Gouveia et al. 20 , que reduziram o número de itens de<br />

27 para 20, mantendo a consistência interna do instrumento,<br />

e sugeriram um ponto de corte de 17 para escolares e adolescentes<br />

brasileiros. Há ainda uma segunda versão brasileira<br />

do CDI, devidamente traduzida por Baptista 21 e que, por sua<br />

vez, respeita a estrutura original de 27 itens. No presente estudo,<br />

optou-se por empregar esta última adaptação do CDI,<br />

além de fixar um ponto de corte maior ou igual a 13 para a<br />

presença de sintomas depressivos.<br />

Os dados coletados foram analisados pelo programa EPI<br />

Info®, versão 3.5.3. Para as variáveis contínuas, calcularam-<br />

-se média e desvio-padrão, e para as discretas, fez-se a distribuição<br />

de frequências. Proporções foram comparadas<br />

pelos testes qui-quadrado ou de Fisher e comparações que<br />

envolviam médias, pelos testes ANOVA ou Mann-Whitney.<br />

Adotou-se um intervalo de confiança de 95% (p < 0,05).<br />

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa<br />

envolvendo seres humanos da Universidade Federal de Sergipe<br />

(CEP/UFS), sob o protocolo 0075.0.107.000-10.<br />

RESULTADOS<br />

Durante o período de coleta de dados, havia em seguimento<br />

ambulatorial 139 pacientes com idades entre 7 e 17 anos<br />

– 115 deles foram abordados, dos quais 76 pacientes eram<br />

elegíveis (Figura 1).<br />

Dos 76 pacientes avaliados, 41 (53,9%) eram meninos,<br />

com média de idade de 12,9 ± 2,73 anos, sendo oito crianças<br />

(10,5%) e 68 adolescentes (89,5%). A média de irmãos foi de<br />

3,01 ± 2,44 e a de número de pessoas no domicílio foi de 4,6<br />

± 1,88. Quarenta e um pacientes (53,9%) estavam com idade<br />

defasada para a série, ou seja, possuíam idade superior em<br />

no mínimo dois anos àquela recomendada para a série na<br />

qual se encontravam 22 .<br />

No momento da avaliação, 35 pacientes (46,1%) eram filhos<br />

de pais casados ou em união estável, 50,7% moravam<br />

somente com a mãe e sete (9,2%) eram órfãos de pai. Dentre<br />

os cuidadores, 68,6% relataram não ter ensino fundamental<br />

completo e 47,3% não exerciam trabalho remunerado.<br />

A média de renda mensal era de R$ 842,63 ± 591,08 (R$ 90,00-<br />

R$ 3.000,00). Vinte e duas famílias (28,9%) referiram renda<br />

mensal igual ou inferior a um salário-mínimo (R$ 510,00 na<br />

época da coleta). Quarenta e um pacientes (53,9%) recebiam<br />

auxílio-doença de um salário-mínimo do Instituto Nacional<br />

de Seguridade Social. Vinte pacientes (28,2%) tinham outro<br />

portador de anemia falciforme no mesmo domicílio e 19<br />

(25,3%) apresentavam antecedente familiar de transtorno<br />

psiquiátrico.<br />

Todas as crianças e adolescentes preencheram adequadamente<br />

o CDI, que apresentou um escore médio de 10,34 ±<br />

6,63 (0-31). Em 26 pacientes (34,2%), o escore do CDI foi igual<br />

ou superior a 13, sugestivo de sintomas depressivos.<br />

Os itens mais pontuados, em ordem decrescente, foram:<br />

24 (“não ser tão bom quanto os outros colegas”), 19 (“preocupação<br />

com dores”) e 15 (“esforço requerido para realizar<br />

tarefas escolares”) (Figura 2). Tanto o item 24 (p = 0,017)<br />

quanto o 15 (p = 0,012), pertencentes ao domínio “Ineficiência”<br />

do CDI, predominaram de maneira significativa no grupo<br />

com sintomas depressivos, com exceção do item 19, que<br />

foi bem pontuado independentemente da presença ou não<br />

de sintomas depressivos (p = 0,1). Junto com o item 14 (“alteração<br />

da imagem corporal”), o item 9 (“ideação suicida”) foi o<br />

décimo mais pontuado e, como o item 19, não predominou<br />

somente no grupo com sintomas depressivos (Figura 2).<br />

Total de pacientes entre<br />

7 e 17 anos de idade com<br />

anemia falciforme: 139<br />

Não abordados no estudo:<br />

24 (17,3%)<br />

Pacientes abordados no<br />

estudo: 115 (82,7%)<br />

Elegíveis para aplicação do<br />

CDI: 76 (66%)<br />

Não inclusos por<br />

analfabetismo: 34 (29,5%)<br />

Não inclusos por sequelas<br />

auditivas: 4 (3,5%)<br />

Recusou-se a participar do<br />

estudo: 1 (0,86%)<br />

Figura 1. Fluxograma de alocação dos pacientes elegíveis para o estudo.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):277-83.


280 Barreto FJN, Cipolotti R<br />

artigo original<br />

2<br />

1,8<br />

1,6<br />

1,4<br />

Média de cada item e DP<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27<br />

Itens do CDI<br />

Figura 2. Distribuição da média dos 27 itens do CDI.<br />

Quando se compararam as variáveis descritivas com os<br />

grupos que apresentaram escores do CDI ≥ 13 e < 13, houve<br />

uma diferença estatisticamente significante para os quesitos<br />

possuir pais separados ou viúvos (p < 0,001) e renda familiar<br />

mensal ≤ R$ 510,00 (p = 0,034) (Tabela 1). Também houve<br />

associação significativa entre aqueles com escore do CDI<br />

≥ 13 e a média calculada a partir da renda mensal (p = 0,002).<br />

Não se observou correlação entre as médias de idade dos<br />

pacientes, de número de irmãos e de pessoas que moram<br />

no mesmo domicílio.<br />

Dentre os cinco domínios avaliados pelo CDI, o mais prevalente<br />

foi “Anedonia”, seja nos pacientes com escore ≥ 13<br />

ou < 13. Com base na figura 3, verifica-se uma maior varia-<br />

ção entre as pontuações obtidas em cada domínio no grupo<br />

com escore ≥ 13, ao contrário do grupo com escore < 13<br />

(Figura 3).<br />

Fez-se ainda a análise de cada domínio do CDI com as variáveis:<br />

pais separados ou viúvos, idade, renda mensal, sexo,<br />

defasagem idade-série e escolaridade do cuidador. Assim, observou-se<br />

média significativamente maior entre adolescentes<br />

no domínio “Humor deprimido” (p = 0,03). Também foram<br />

significativas as médias das pontuações obtidas nos domínios<br />

“Anedonia” e “Autoestima negativa” entre os pacientes com<br />

pais separados ou viúvos (p = 0,001 e p = 0,02, respectivamente).<br />

Para as demais variáveis pareadas com as médias de<br />

cada domínio, não houve diferença estatística (Tabela 2).<br />

Tabela 1. Comparação entre as variáveis descritivas e os grupos com escore do CDI ≥ 13 (n = 26) e < 13 (n = 50)<br />

CDI ≥ 13 CDI < 13 Total p<br />

n % n %<br />

Sexo Masculino 13 31,7 28 68,3 41<br />

Feminino 13 37,1 22 62,9 35<br />

0,798<br />

Idade (OMS) Criança (< 10 anos) 2 25 6 75 8<br />

Adolescente (10-20 anos) 24 35,3 44 64,7 68<br />

0,44<br />

Nasceram em Aracaju ou região metropolitana 11 34,4 21 65,6 33 0,826<br />

Vivem em Aracaju ou região metropolitana 7 29,2 17 70,8 24 0,711<br />

Defasagem idade-série presente 16 39 25 61 41 0,474<br />

Pais separados ou viúvos 4 11,4 31 88,6 35 < 0,001*<br />

Órfãos de pai 3 42,9 4 57,1 7 0,45<br />

Cuidador com pelo menos ensino fundamental completo 4 18,2 18 81,8 22 0,064<br />

Cuidador sem trabalho remunerado 12 34,3 23 65,7 35 0,941<br />

Renda mensal ≤ R$ 510 12 54,5 10 45,5 22 0,034*<br />

Ganha auxílio-doença 14 34,1 27 65,9 41 0,818<br />

Antecedente de anemia falciforme no mesmo domicílio 5 25 15 75 20 0,394<br />

Antecedente psiquiátrico na família 6 31,6 13 68,4 19 0,961<br />

* p < 0,05.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):277-83.


artigo original<br />

Sintomas depressivos e anemia falciforme<br />

281<br />

Médias e DP<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

CDI ≥ 13<br />

Anedonia<br />

Autoestima negativa<br />

Humor deprimido<br />

Ineficácia<br />

Problemas interpessoais<br />

CDI < 13<br />

Anedonia<br />

Autoestima negativa<br />

Humor deprimido<br />

Ineficácia<br />

Problemas interpessoais<br />

Figura 3. Distribuição das pontuações médias de cada domínio do CDI, com separação entre os grupos com escore de CDI<br />

≥ 13 e escore de CDI < 13.<br />

Tabela 2. Análise comparativa entre as médias dos cinco domínios do CDI e as variáveis descritivas: faixa etária e situação conjugal dos<br />

pais<br />

Domínios do CDI Faixa etária (OMS) Situação conjugal dos pais<br />

Criança Adolescente p Casados ou união estável Separados ou viúvos p<br />

Anedonia 1,87 ± 1,7 3,72 ± 2,6 0,05 2,42 ± 1,7 4,46 ± 2,8 0,001*<br />

Autoestima negativa 0,75 ± 0,8 1,92 ± 1,8 0,08 1,31 ± 1,5 2,2 ± 3,7 0,02*<br />

Humor deprimido 0,62 ± 0,7 1,82 ± 1,7 0,03* 1,31 ± 1,3 2,02 ± 1,8 0,06<br />

Ineficácia 2,12 ± 1,3 2,42 ± 1,7 0,64 2,08 ± 1,5 2,65 ± 1,8 0,14<br />

Problemas interpessoais 1,12 ± 2,0 0,89 ± 1,0 0,7 0,88 ± 1,4 0,95 ± 0,9 0,26<br />

* p < 0,05.<br />

DISCUSSÃO<br />

Na amostra analisada pelo estudo, houve ligeiro predomínio<br />

de meninos e uma nítida maioria de adolescentes. O uso da<br />

defasagem idade-série teve por objetivo identificar o desempenho<br />

escolar, que foi inadequado em pouco mais da metade<br />

dos pacientes. O nível de escolaridade também deixava<br />

a desejar em 68,6% dos cuidadores, que tinham o ensino<br />

fundamental incompleto. Em 50,7% dos casos, não havia um<br />

pai morando na casa do portador de anemia falciforme. No<br />

geral, as condições financeiras das famílias eram precárias,<br />

pois 47,3% dos cuidadores entrevistados nem trabalho remunerado<br />

possuíam. O auxílio-doença, benefício garantido<br />

por lei para custear as medicações e intercorrências ocorridas<br />

no curso de doenças crônicas como a anemia falciforme,<br />

só era cedido a 53,9% dos pacientes. Para 28,9% das famílias,<br />

a renda mensal relatada era de no máximo um salário-<br />

-mínimo. Não foi frequente a positividade para antecedentes<br />

de transtornos psiquiátricos na família, ou de outro portador<br />

de anemia falciforme que residisse no mesmo domicílio dos<br />

sujeitos da pesquisa.<br />

Estudos anteriores já apontavam para a presença de<br />

sintomas depressivos entre crianças e adolescentes com<br />

anemia falciforme. Em 1976, Kumar et al. 23 compararam dois<br />

grupos de crianças, um com portadores de anemia falciforme<br />

e outro sem doenças crônicas, e encontraram resultados<br />

conflitantes. As crianças com anemia falciforme tinham mais<br />

comportamentos de esquiva social e menores índices de<br />

autoconceito do que o grupo controle, entretanto exibiam<br />

as mesmas taxas de problemas de ajustamento que os colegas<br />

sem a doença, e eram até menos ansiosas que estes 23 .<br />

Posteriormente, demonstrou-se que adolescentes com anemia<br />

falciforme vivenciam problemas de ajustamento mais<br />

severos do que aqueles normalmente experimentados por<br />

adolescentes fisicamente saudáveis. Foram encontrados<br />

pior rendimento acadêmico, menor satisfação com o corpo<br />

e maior tendência a evitar contato social no grupo com<br />

anemia falciforme do que no grupo controle. Esses autores<br />

foram pioneiros no uso do CDI em pacientes com anemia<br />

falciforme, encontrando neles médias significativamente<br />

maiores de escore (9,04 ± 5,8) do que nos que não apresentavam<br />

a doença (4,54 ± 3,6) 24 .<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):277-83.


282 Barreto FJN, Cipolotti R<br />

artigo original<br />

Por intermédio do CDI com o ponto de corte 13, o presente<br />

estudo revelou sintomas sugestivos de depressão em<br />

35,6% da amostra de crianças e adolescentes com anemia<br />

falciforme. Um percentual congruente, embora menor do<br />

que esse, foi encontrado por Yang et al. 25 em 36 pacientes de<br />

6 a 18 anos que preencheram o Children’s Depression Rating<br />

Scale-Revised (CDRS-R), uma escala de estrutura diferente,<br />

porém com finalidade semelhante à do CDI. Nesse estudo,<br />

29% dos portadores de anemia falciforme tiveram altos escores<br />

do CDRS-R, contra 12% daqueles que compunham o<br />

grupo controle. Entretanto, quando ambos os grupos foram<br />

submetidos a uma entrevista psiquiátrica, a prevalência de<br />

depressão clínica não diferiu significativamente entre eles 25 .<br />

Ainda no estudo de Yang et al., os quatro itens que contribuíram<br />

nos maiores escores de CDRS-R no grupo com<br />

anemia falciforme foram fadiga, queixas somáticas, preocupações<br />

sobre morte e problemas de autoestima 25 . Também<br />

fazendo uso de um instrumento de avaliação para sintomas<br />

depressivos, porém dirigida a pais e professores, Hijmans et<br />

al. 26 encontraram maiores dificuldades escolares e queixas<br />

somáticas e menor interação social em crianças com doença<br />

falciforme do que nos seus colegas saudáveis. No presente<br />

estudo, os itens mais pontuados no CDI foram os relacionados<br />

ao domínio “Ineficácia” (“não ser tão bom quanto os<br />

outros colegas” e “esforço requerido para realizar tarefas escolares”)<br />

e o item sobre “preocupação com dores”, do domínio<br />

“Anedonia”. Este último item foi bem pontuado tanto no<br />

grupo com escore de CDI ≥ 13 quanto naquele com escore<br />

< 13, sugerindo que a dor é sentida em ambos os grupos,<br />

não discriminando quem tem daqueles que não têm sintomas<br />

depressivos relevantes.<br />

Quando comparadas as variáveis descritivas com os escores<br />

do CDI, houve associação significativa entre os quesitos<br />

que apontavam problemas conjugais e restrições financeiras<br />

e as crianças e adolescentes com sintomas depressivos<br />

relevantes. Por outro lado, fatores frequentemente relacionados<br />

à depressão infanto-juvenil, como história familiar de<br />

depressão ou perda do pai 16 , não foram observados entre os<br />

pacientes com escores do CDI ≥ 13. Talvez o convívio precoce<br />

com a separação dos pais, a inclusão dos papéis paternos<br />

na figura da mãe e a renda familiar desfavorável interfiram<br />

negativamente na saúde mental dessas crianças e<br />

adolescentes, propiciando o desenvolvimento de sintomas<br />

depressivos.<br />

O domínio mais pontuado do CDI foi “Anedonia”, embora<br />

seja aquele que abarca maior número de itens entre os<br />

cinco domínios do instrumento. Esse achado encontra respaldo<br />

na literatura, que considera a anedonia como o componente<br />

mais específico da depressão em doentes crônicos,<br />

por ser, dentre toda a sintomatologia depressiva, aquele<br />

que menos é afetado pela condição de base 27 . Os escores<br />

significativamente maiores no domínio “Humor deprimido”<br />

entre os adolescentes estão em concordância com a literatura,<br />

que destaca o humor deprimido como um dos sintomas<br />

mais prevalentes no adolescente com depressão 16 .<br />

A avaliação específica de depressão em crianças e adolescentes<br />

com anemia falciforme ainda é objeto de poucos<br />

estudos, e no Brasil nenhum estudo dessa natureza foi encontrado<br />

na literatura pesquisada. Mesmo a literatura existente<br />

em nível mundial apresenta diferenças metodológicas<br />

que dificultam a interpretação de seus resultados. Sobre as<br />

duas versões brasileiras do CDI, a opção deste estudo foi por<br />

utilizar o inventário com 27 itens traduzido por Baptista 21 ,<br />

em vez daquele de 20 itens de Gouveia et al. 20 . Sabe-se que<br />

ambas cumprem bem o papel de triagem para sintomas depressivos<br />

e, por esse motivo, são utilizadas com frequência<br />

no meio científico brasileiro. No entanto, a versão com 27<br />

itens, cuja configuração é mais fiel ao CDI original, apresenta<br />

um índice mais alto de consistência interna quando comparado<br />

com a versão reduzida 19 . Um dos sete itens a mais<br />

inclusos no CDI com 27 itens, “preocupação com dores”, foi<br />

o segundo mais pontuado entre os pacientes deste estudo.<br />

Algumas dificuldades merecem destaque, como a considerável<br />

parcela de portadores de anemia falciforme que não<br />

são alfabetizados, os quais, pela exigência de o CDI ser autoaplicável,<br />

não puderam ser incluídos. Isso não só restringiu<br />

o tamanho da amostra como deixou de fora um grupo de<br />

indivíduos que já poderiam estar sofrendo com consequências<br />

da depressão em faixas etárias precoces, como o fraco<br />

desempenho escolar. Apesar de ser uma limitação do estudo,<br />

optou-se por não utilizar um grupo controle constituído<br />

de crianças e adolescentes saudáveis, uma vez que os pontos<br />

de corte do CDI são diferentes para populações clínicas e<br />

não clínicas. Não houve, também, uma avaliação psiquiátrica<br />

concomitante à coleta dos dados, já que o CDI não se presta<br />

ao diagnóstico de depressão clínica, mas à identificação de<br />

sintomas depressivos.<br />

Muitos desafios do dia a dia ainda precisam ser superados<br />

por aqueles que padecem da anemia falciforme. Sentimentos<br />

de desesperança e baixa autoestima subsequente a<br />

hospitalizações frequentes, dor e absenteísmo escolar são<br />

queixas comuns desses jovens enfermos 28 e podem sinalizar<br />

quadros depressivos em curso. Ainda é pequena a importância<br />

dada a esse transtorno afetivo em condições crônicas,<br />

sendo o seu subdiagnóstico nessas populações mais a regra<br />

do que a exceção. Além de sua sintomatologia se confundir<br />

muitas vezes com aquela da patologia de base, a depressão<br />

ainda é encarada por alguns profissionais, erroneamente,<br />

como uma reação “normal” à condição médica subjacente 29 .<br />

CONCLUSÃO<br />

Diante da elevada proporção de sintomas depressivos na<br />

amostra estudada, acredita-se que a saúde mental das<br />

crianças e adolescentes com anemia falciforme não deva<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):277-83.


artigo original<br />

Sintomas depressivos e anemia falciforme<br />

283<br />

ser relegada a um segundo plano nas consultas de rotina.<br />

A implantação de meios de triagem para sintomas depressivos,<br />

ou mesmo capacitação de hematologistas e demais<br />

profissionais médicos, pode ser uma estratégia benéfica.<br />

Intervenções de cunho preventivo e terapêutico organizadas<br />

por equipes multidisciplinares devem ser fomentadas.<br />

Todavia, não haverá soluções realmente eficazes se não se<br />

compreen der o meio em que vive o portador de anemia falciforme,<br />

suas condições de escolaridade e aspectos socioeconômicos<br />

inerentes à sua família.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

À Profa. Msc. Karla Maria Nunes Ribeiro, pelas importantes<br />

sugestões e críticas ao projeto e à versão final deste estudo.<br />

CONFLITOS DE INTERESSE<br />

Não há.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):277-83.


artigo original<br />

Satisfação de familiares de pacientes<br />

psiquiátricos com os serviços de saúde<br />

mental e seus fatores associados<br />

Family satisfaction in mental health services and associated factors<br />

Marina Bandeira 1 , Mônia Aparecida da Silva 2 , Cleucimara Aparecida Camilo 3 , Cynthia Mara Felício 4<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Satisfação do usuário,<br />

serviços de saúde mental,<br />

avaliação de resultados<br />

(cuidados de saúde).<br />

Objetivo: Avaliar a satisfação de familiares cuidadores de pacientes psiquiátricos com os<br />

serviços de saúde mental e seus fatores associados. Método: Realizou-se uma pesquisa<br />

avaliativa de serviços, do tipo correlacional e de corte transversal, com uma amostra de<br />

85 familiares cuidadores de pacientes psiquiátricos, atendidos em três serviços de saúde<br />

mental públicos, situados em três cidades do interior de Minas Gerais. Utilizaram-se a Escala<br />

de Avaliação da Satisfação dos Familiares com os Serviços de Saúde Mental (SATIS-BR)<br />

e um questionário de variáveis sociodemográficas e clínicas. Resultados: A maioria dos<br />

familiares estava satisfeita ou muito satisfeita em relação aos aspectos avaliados dos serviços.<br />

A satisfação estava significativa e positivamente associada à idade dos pacientes e<br />

ao número de meses sem internação psiquiátrica. Não foi detectada influência do tipo de<br />

serviço no grau de satisfação. Conclusão: As variáveis dos pacientes foram os principais<br />

fatores associados à satisfação dos familiares. A satisfação dos familiares foi elevada, tendo-<br />

-se inferido a influência parcial do contraste com outros serviços de saúde. Foi apontada<br />

a necessidade de maior diferenciação entre os serviços. Estudos futuros, com amostras<br />

maiores e aleatórias, poderão reavaliar esses resultados.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Users’ satisfaction, mental<br />

health services, results<br />

evaluation (health care)<br />

Recebido em<br />

17/10/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

29/11/<strong>2011</strong><br />

Objective: To evaluate family caregivers’ satisfaction with mental health services and<br />

associated factors. Method: A cross-sectional correlational study of service evaluation<br />

was carried out with a sample of 85 family caregivers of psychiatric patients attending three<br />

public mental health services located in three towns in the state of Minas Gerais. Subjects were<br />

interviewed for the application of the Satisfaction with Mental Health Services Scale (SATIS-BR)<br />

and a sociodemographic and clinic variables questionnaire. Results: Results showed that<br />

most caregivers were satisfied or very satisfied with the services aspects evaluated. Family<br />

satisfaction was significantly and positively associated with patients’ age and time spent without<br />

hospitalization. The statistical analysis did not detect any effect of type of service on family<br />

satisfaction. Conclusion: Patients’ variables were the most important associated factors related<br />

to the family satisfaction. Family satisfaction was high, maybe due partly to a comparison with<br />

other health services. Data suggest the need for more differentiation among services. Future<br />

studies with bigger and randomized samples will be able to reevaluate theses results.<br />

1 Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ); Université de Montreal, McGill University.<br />

2 UFSJ, Programa de Mestrado em Psicologia.<br />

3 UFSJ, Programa de Mestrado em Psicologia, Ambulatório de Saúde Mental de Nepomuceno.<br />

4 UFSJ.<br />

Endereço para correspondência: Marina Bandeira<br />

Departamento de Psicologia – Laboratório de Pesquisa em Saúde Mental (LAPSAM) – UFSJPraça Dom Helvécio, 74, Dom Bosco São –<br />

36301-160 – João del Rei, MG<br />

E-mail: bandeira@ufsj.edu.br


artigo original<br />

Satisfação de familiares em serviços de saúde mental<br />

285<br />

INTRODUÇÃO<br />

A inclusão da perspectiva dos usuários no monitoramento<br />

e avaliação dos serviços de saúde mental tem sido altamente<br />

recomendada, visando assegurar que os cuidados<br />

prestados por esses serviços sejam adequados às necessidades<br />

dos pacientes e de seus familiares 1,2 . Segundo Donabedian<br />

3 , para que os serviços de saúde sejam de qualidade,<br />

os resultados devem ser congruentes com as perspectivas<br />

dos usuários. Além disso, as avaliações subjetivas dos usuários<br />

apresentam a vantagem de aferir o impacto real das<br />

mudanças produzidas pelo tratamento na vida dos pacientes<br />

4 . Incluir as perspectivas dos usuários na avaliação dos<br />

serviços fornece uma informação valiosa, pois muitas vezes<br />

não há uma correspondência direta entre o que os usuários<br />

percebem como mudança desejável e os resultados<br />

objetivos mensurados por terceiros. Pequenas mudanças<br />

produzidas pelo tratamento podem fazer uma grande diferença<br />

para os usuários, enquanto mudanças significativas<br />

em medidas clínicas objetivas podem ser consideradas irrelevantes<br />

para eles 5 .<br />

O envolvimento dos familiares, em colaboração com os<br />

profissionais dos serviços, apresenta vantagens para o sucesso<br />

do tratamento, estando associado à melhora no funcionamento<br />

social dos pacientes, à diminuição da duração das<br />

internações, à redução de conflitos familiares e à diminuição<br />

da sobrecarga dos familiares cuidadores dos pacientes 6,7 .<br />

Perreault et al. 7 apontaram para a necessidade de aumentar a<br />

participação dos familiares no tratamento e na avaliação dos<br />

serviços, tendo em vista que essa colaboração ainda deixa a<br />

desejar e que os familiares se ressentem com isso. As queixas<br />

dos familiares estão relacionadas com a falta de informação<br />

sobre os transtornos psiquiátricos e o tratamento dos pacientes<br />

e com a falta de orientações sobre como agir com os<br />

pacientes, no dia a dia e nos momentos de crise 7,8 .<br />

Utilizar as avaliações dos familiares sobre os resultados<br />

do tratamento pode ser particularmente útil, porque eles são<br />

os principais provedores de cuidados aos pacientes, nas atividades<br />

cotidianas, na supervisão aos comportamentos problemáticos<br />

e na tomada dos medicamentos, que afetam os<br />

próprios resultados do tratamento 9,10 . Eles podem, portanto,<br />

detectar mudanças em virtude do tratamento, em diversos<br />

aspectos da vida dos pacientes, e essas informações ajudam<br />

os profissionais a identificarem os aspectos do tratamento<br />

que já atendem às necessidades dos pacientes e aqueles<br />

que ainda necessitam ser melhorados para atingir esses objetivos.<br />

Além disso, incluir os familiares na avaliação do tratamento<br />

pode ter um efeito positivo em seu bem-estar e sentimento<br />

de empoderamento, podendo diminuir seu grau de<br />

sobrecarga com o papel de cuidador, segundo Perreault et<br />

al. 7 e Tessler e Gamache 9 .<br />

Uma das medidas mais utilizadas para a avaliação da qualidade<br />

dos serviços de saúde mental consiste na satisfação<br />

dos usuários 11 . A satisfação dos usuários tem sido associada<br />

com melhor adesão ao tratamento e menor taxa de abandono<br />

2,11,12 , além de ser um fator preditivo para menor taxa de<br />

hospitalizações futuras dos pacientes 13 . Hanson 2 destaca que<br />

as avaliações subjetivas de satisfação dos usuários com os<br />

serviços são importantes, porque estão mais associadas com<br />

a utilização de serviços do que as medidas objetivas tomadas<br />

por terceiros. O conceito de satisfação tem sido formulado<br />

por diferentes modelos explicativos, sendo o mais utilizado<br />

o modelo da expectativa, segundo o qual o usuário avalia o<br />

serviço a partir de uma comparação que ele faz entre as expectativas<br />

que possuía previamente e os resultados reais de<br />

sua experiência com o serviço. Três modelos de expectativa<br />

foram formulados, dentre os quais o modelo do contraste,<br />

que postula que a satisfação ocorre quando o usuário observa<br />

que sua experiência atual com um determinado produto<br />

ou serviço está acima das suas experiências prévias, em<br />

situa ções semelhantes 14 .<br />

Há um consenso de que a satisfação é um construto<br />

multidimensional, devendo, portanto, ser avaliado por<br />

medidas multifatoriais. Medidas multifatoriais, que são<br />

compostas por subescalas, são importantes para detectar<br />

aspectos específicos dos serviços que determinam a insatisfação<br />

ou a satisfação, o que não pode ser avaliado com<br />

medidas globais. Avaliações de serviços devem também ser<br />

feitas com medidas padronizadas, com suas propriedades<br />

psicométricas avaliadas, visando favorecer a validade dos<br />

dados coletados e garantir a possibilidade de comparação<br />

entre os estudos 11,14 .<br />

A maioria das pesquisas de avaliação de serviços de saúde<br />

mental tem focalizado a satisfação dos pacientes. Pouca<br />

ênfase tem sido dada à avaliação da satisfação dos familiares<br />

com esses serviços, apesar das recomendações feitas sobre a<br />

necessidade da inclusão dos familiares no monitoramento e<br />

avaliação dos serviços 1,8,15 .<br />

Alguns estudos internacionais levantaram os fatores associados<br />

à satisfação dos familiares com os serviços e com<br />

o papel de cuidador. Stengard et al. 8 entrevistaram, na Finlândia,<br />

uma amostra de 545 familiares de pacientes com<br />

esquizofrenia, deinstitucionalizados, após três anos de sua<br />

alta do hospital, usando uma medida de um único escore<br />

global de três pontos para avaliar a satisfação com os serviços.<br />

O estudo constatou que um terço da amostra estava<br />

insatisfeita com os serviços de saúde mental. A insatisfação<br />

era maior quando os pacientes recebiam menos tratamento<br />

ou frequentavam menos o serviço, apresentavam sintomatologia<br />

psicótica mais severa e menor nível de autonomia.<br />

Os autores concluíram que a satisfação dos familiares estava<br />

associada a dois fatores principais: ter uma participação mais<br />

ativa como colaboradores dos profissionais do serviço e ter<br />

serviços que ajudem o paciente a atingir o máximo de autonomia<br />

possível.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


286 Bandeira M et al.<br />

artigo original<br />

Perreault et al. 7 analisaram, por meio de regressão múltipla,<br />

a influência relativa de diversas variáveis na determinação<br />

da satisfação com os serviços, em uma amostra de<br />

145 familiares canadenses, tendo encontrado que o fator<br />

preditivo mais importante era o grau de colaboração entre<br />

familiares e profissionais. Além disso, a satisfação dos familiares<br />

era maior quando eles tinham um maior número de<br />

necessidades de tratamento preenchidas, menor grau de<br />

sobrecarga objetiva e subjetiva e quando os pacientes apresentavam<br />

menor número de comportamentos problemáticos.<br />

Observou-se que os familiares estavam mais satisfeitos<br />

com o relacionamento com os profissionais do que com as<br />

características da estrutura e organização dos serviços, o que<br />

confirma, segundo os autores, a tendência dos resultados<br />

dos estudos que avaliaram a satisfação dos próprios pacientes<br />

com os serviços.<br />

No contexto brasileiro, foram encontrados apenas quatro<br />

estudos, publicados em periódicos científicos indexados,<br />

que avaliaram a satisfação dos usuários com os serviços de<br />

saúde mental, utilizando escalas de medidas validadas para<br />

aferir a satisfação. Apenas um desses estudos focalizou a satisfação<br />

dos familiares, porém com o objetivo de fazer a validação<br />

de uma escala de medida 16 , e os três outros estudos<br />

avaliaram a satisfação dos pacientes 17-19 . Tendo em vista a<br />

carência de estudos com os familiares e a importância dessa<br />

temática, a presente pesquisa teve como objetivo avaliar a<br />

satisfação de familiares de pacientes psiquiátricos em relação<br />

aos serviços de saúde mental e seus fatores associados.<br />

MÉTODO<br />

Delineamento do estudo<br />

Trata-se de um estudo correlacional visando avaliar os fatores<br />

associados à satisfação dos familiares com os serviços de<br />

saúde mental. A pesquisa é de corte transversal, realizada a<br />

partir de dados coletados em uma única entrevista estruturada,<br />

com aplicação de uma escala de medida multifatorial da<br />

satisfação dos familiares.<br />

Consiste, também, em uma pesquisa avaliativa, do tipo<br />

somativa, definida como aquela que visa avaliar os efeitos de<br />

serviços ou programas de tratamento, segundo a classificação<br />

de Selltiz et al. 20 e de Contandriopoulos et al. 21 . No caso<br />

deste estudo, avaliou-se a satisfação dos familiares com os<br />

serviços oferecidos aos pacientes, em relação às dimensões<br />

dos resultados do tratamento, dos cuidados prestados e<br />

competência da equipe, da privacidade e confidencialidade<br />

dos serviços.<br />

Participantes<br />

Participaram deste estudo 85 familiares de pacientes<br />

psiquiá tricos que estavam sendo atendidos em três serviços<br />

de saúde mental de diferentes municípios do interior de Minas<br />

Gerais. Houve a participação de apenas um familiar por<br />

paciente. Foi utilizada uma amostra não probabilística de familiares,<br />

selecionados por meio de indicações dos profissionais<br />

dos serviços, que preenchiam os seguintes critérios de<br />

inclusão: ter idade igual ou superior a 18 anos, ser indicado<br />

como principal cuidador do paciente e conviver diariamente<br />

com ele. Foram excluídos os familiares que apresentavam<br />

transtornos psiquiátricos e que não tinham condições de<br />

compreender as questões dos instrumentos utilizados. Os<br />

serviços participantes desta pesquisa incluíram: dois Centros<br />

de Atenção Psicossocial (um CAPS tipo I e um CAPS tipo II) e<br />

um Ambulatório de Saúde Mental. Apesar de a amostra ser<br />

constituída, em geral, por familiares de pacientes de CAPS,<br />

a maioria dos pacientes estava sendo atendida em regime<br />

não intensivo, que inclui apenas consultas mensais, para<br />

acompanhamento da medicação aos pacientes com quadro<br />

clínico estável.<br />

Instrumentos de medida<br />

Escala de avaliação da satisfação dos familiares: A satisfação<br />

dos familiares foi avaliada por meio da versão abreviada da<br />

Escala de Avaliação da Satisfação dos Familiares com os Serviços<br />

de Saúde Mental (SATIS-BR). Essa escala foi elaborada<br />

pela Divisão de Saúde Mental da Organização Mundial de<br />

Saúde 22 e validada, para o Brasil, por Bandeira et al. 16 .<br />

Essa escala possui oito itens agrupados em três subescalas:<br />

1. Resultados do tratamento; 2. Acolhida e competência<br />

da equipe; e 3. Privacidade e confidencialidade do serviço. As<br />

alternativas de resposta aos itens estão dispostas em uma escala<br />

do tipo Likert, com 5 pontos (1 = muito insatisfeitos e 5 =<br />

muito satisfeitos). A escala SATIS-BR apresentou bons indicadores<br />

de consistência interna, avaliada pela análise da alfa de<br />

Cronbach, tendo obtido um valor de alfa de 0,79 para o escore<br />

global e valores entre 0,76 e 89 para suas subescalas. Esses<br />

valores situam-se dentro da faixa considerada ideal (0,75 a<br />

0,85) por Vallerand 23 , indicando que as questões da escala são<br />

homogêneas, sem serem repetitivas. A validade de construto<br />

da escala foi avaliada pela análise de sua estrutura dimensional,<br />

pelo método dos Componentes Principais, com rotação<br />

Varimax, tendo sido obtidos três fatores, com eigenvalues acima<br />

de 1.0, que explicaram 77% da variância dos dados 16 .<br />

Questionário sociodemográfico e clínico: Os dados sociodemográficos<br />

dos familiares e dos pacientes e os dados clínicos<br />

dos pacientes foram coletados por meio de um questionário,<br />

previamente testado em um estudo piloto, visando<br />

avaliar a compreensão das questões pela população-alvo.<br />

O questionário incluía questões sobre as seguintes variáveis:<br />

idade, gênero, data de nascimento, estado civil, escolaridade,<br />

renda, tipo de trabalho e parentesco com o paciente.<br />

As variáveis clínicas dos pacientes avaliadas foram: tipo de<br />

diagnóstico, presença de comorbidade psiquiátrica, duração<br />

do transtorno, duração do tratamento psiquiátrico, número<br />

de internações, tipo de medicação utilizada, existência de<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


artigo original<br />

Satisfação de familiares em serviços de saúde mental<br />

287<br />

doenças físicas e número de crises no último ano. Dados<br />

clínicos referentes ao diagnóstico, comorbidades, tempo<br />

de tratamento e tipo de medicação foram identificados nos<br />

prontuá rios dos pacientes.<br />

Coleta de dados<br />

Os dados foram coletados por meio de entrevistas estruturadas,<br />

com duração aproximada de 30 minutos, para aplicação<br />

dos instrumentos de medida, por estagiários de Psicologia<br />

previamente treinados. As entrevistas foram realizadas nos<br />

serviços de saúde mental, quando os familiares se apresentavam<br />

para acompanhar os pacientes, ou em suas residências,<br />

após agendamento prévio e conforme sua disponibilidade.<br />

A compreensão dos familiares acerca das questões da escala<br />

de satisfação foi verificada por meio da Técnica de Sondagem<br />

(Probe Technique) 24 , que consiste em solicitar aos sujeitos<br />

que justifiquem suas respostas a cada um dos itens da<br />

escala.<br />

O presente estudo foi aprovado pela Comissão de Ética<br />

em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEPES) da UFSJ,<br />

processo nº 016-a/2010/CEPES, e pela direção das instituições<br />

participantes. Os entrevistados foram informados sobre<br />

os objetivos do estudo e sobre o sigilo e anonimato dos<br />

resultados, tendo assinado um Termo de Consentimento<br />

Livre e Esclarecido concordando em participar da pesquisa.<br />

Os participantes receberam uma cópia desse documento,<br />

com um número de telefone para contato com os pesquisadores.<br />

Análise dos dados<br />

Os dados foram computados e analisados por meio do programa<br />

SPSS, versão 13.0. As análises estatísticas foram propostas<br />

com base nas obras de Bisqueira et al. 25 e Dancey e<br />

Reidy 26 . Foram utilizados testes estatísticos não paramétricos,<br />

uma vez que os dados não apresentavam distribuição normal,<br />

conforme avaliado pelo teste Kolmogorov-Smirnov (KS:<br />

1,53; p = 0,02).<br />

Para a descrição das características sociodemográficas<br />

e clínicas da amostra e avaliação dos escores de satisfação<br />

global, por subescalas e por itens, foi utilizada a análise estatística<br />

descritiva, com cálculo de médias, desvios-padrão<br />

(DP) e porcentagens. Foram também calculadas as porcentagens<br />

de familiares que se declararam insatisfeitos, mais ou<br />

menos insatisfeitos ou satisfeitos com os serviços. Os escores<br />

médios das três subescalas da SATIS-BR foram comparados,<br />

utilizando-se os testes não paramétricos de Kendall’s W para<br />

verificar se havia diferença significativa entre eles. Além disso,<br />

essas médias foram comparadas duas a duas, pelo teste<br />

de Wilcoxon para duas amostras relacionadas, visando identificar<br />

quais pares de subescalas apresentavam diferenças<br />

significativas. Para identificar os itens específicos da escala<br />

que apresentavam escores médios mais elevados de satisfação,<br />

foi feita uma análise da média de postos, pelo teste não<br />

paramétrico de Friedman. Foi utilizado o nível de significância<br />

de p < 0,05.<br />

Foi realizada também uma análise estatística univariada,<br />

para identificar as variáveis clínicas dos pacientes e as variáveis<br />

sociodemográficas dos pacientes e familiares, associadas<br />

à maior satisfação dos familiares com os serviços de<br />

saúde mental. Para as variáveis categóricas, foram utilizados<br />

o teste Man-Whitney para comparar dois grupos e o teste<br />

de Kruskal-Wallis para comparar mais de dois grupos. Para as<br />

variáveis contínuas, foi utilizada a correlação de Spearman.<br />

Não foi feita uma análise multivariada de regressão múltipla,<br />

tendo em vista que os dados dos escores de satisfação não<br />

apresentaram distribuição normal.<br />

RESULTADOS<br />

Descrição das amostras<br />

As tabelas 1 e 2 mostram os principais dados descritivos da<br />

amostra dos familiares avaliados e as características dos pacientes<br />

dos quais eles cuidavam. A maioria dos familiares era<br />

do gênero feminino (80,00%), vivendo com companheiro<br />

em união estável (60,00%), com escolaridade de ensino fundamental<br />

(71,80%). A idade média era de 54,61 anos, sendo a<br />

idade mínima de 19 e a máxima de 78 anos. A maioria dos familiares<br />

não possuía trabalho formal (79,60%), mas tinha renda<br />

própria (62,40%), de um a dois salários-mínimos (79,30%),<br />

originada principalmente de aposentadoria (54,80%). Com<br />

relação ao grau de parentesco, as mães e pais eram os principais<br />

cuidadores dos pacientes (43,60%).<br />

Os pacientes que recebiam cuidados dos familiares estudados<br />

eram, em sua maioria, do gênero feminino (57,60%) e<br />

com escolaridade de ensino fundamental (78,70%). A idade<br />

média era de 43,53 anos, sendo a mínima de 20 e a máxima<br />

de 73 anos. Grande parte possuía renda própria (62,40%),<br />

cujo valor era, na maioria dos casos (79,30%), de um a dois<br />

salários-mínimos e as principais fontes de renda eram a<br />

aposentadoria (49,00%) e o auxílio do governo (20,80%).<br />

A maioria dos pacientes possuía diagnóstico da categoria<br />

“Esquizofrenia, Transtornos esquizotípicos e Transtornos delirantes”<br />

(60,00%), não apresentava comorbidade psiquiátrica<br />

(81,20%) e não possuía doenças físicas (55,30%). Metade<br />

dos pacientes (50,60%) não havia apresentado crises no último<br />

ano e 36,50% nunca tinham sido internados em hospitais<br />

psiquiátricos. A idade média de início do transtorno psiquiátrico<br />

era de 27,10 anos; a duração média do transtorno era de<br />

16,89 anos; e a duração média do tratamento psiquiátrico era<br />

de 13,02 anos. Os pacientes tomavam, em média, 2,99 tipos<br />

de medicamentos por dia. A maioria tomava a medicação<br />

de forma independente, sem a ajuda do familiar (65,90%).<br />

A maioria estava em regime de tratamento psiquiátrico não<br />

intensivo (56,50%).<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


288 Bandeira M et al.<br />

artigo original<br />

Tabela 1. Principais características sociodemográficas dos familiares e dos pacientes<br />

Variáveis Categorias Familiares<br />

Frequência (%)<br />

Gênero<br />

Feminino<br />

Masculino<br />

Estado civil<br />

Solteiro<br />

Casado/Vivendo como casado<br />

Separado/divorciado/viúvo<br />

Nível de escolaridade<br />

Analfabeto<br />

Ensino fundamental completo ou incompleto<br />

Ensino médio completo ou incompleto<br />

Pós-graduação<br />

Trabalho formal<br />

Sim<br />

Não<br />

Possui renda própria<br />

Sim<br />

Não<br />

Renda (em salários-mínimos) < 1<br />

1 a 2<br />

2,1 a 3<br />

3,1 a 4<br />

Origem da renda<br />

Emprego ou trabalho regular<br />

Aposentadoria<br />

Pensão<br />

Auxílio do governo/Encostado<br />

Outra<br />

Parentesco entre familiar e paciente<br />

Mãe ou pai<br />

Irmão(a)<br />

Cônjuge<br />

Filho(a)<br />

Outro<br />

68 (80,00%)<br />

17 (20,00%)<br />

11 (12,90%)<br />

51 (60,00%)<br />

23 (27,10%)<br />

12 (14,10%)<br />

61 (71,80%)<br />

12 (14,10%)<br />

-<br />

11 (20,40%)<br />

74 (79,60%)<br />

53(62,40%)<br />

32 (37,60%)<br />

5 (9,40%)<br />

42 (79,30%)<br />

5 (9,40%)<br />

1 (1,90%)<br />

11 (20,70%)<br />

29 (54,80%)<br />

11 (20,70%)<br />

1 (1,90%)<br />

1 (1,90%)<br />

37 (43,60%)<br />

17 (20,00%)<br />

15 (17,60%)<br />

8 (9,40%)<br />

8 (9,40%)<br />

Pacientes<br />

Frequência (%)<br />

49 (57,60%)<br />

36 (42,40%)<br />

5 (5,90%)<br />

67 (78,70%)<br />

10 (11,80%)<br />

3 (3,60%)<br />

7 (13,20%)<br />

78 (86,80%)<br />

53 (62,40%)<br />

32 (37,60%)<br />

5 (9,40%)<br />

42 (79,30%)<br />

5 (9,40%)<br />

1 (1,90%)<br />

7 (13,20%)<br />

26 (49,00%)<br />

8 (15,10%)<br />

11 (20,80%)<br />

1 (1,90%)<br />

Tabela 2. Principais características clínicas dos pacientes<br />

Variáveis Categorias Frequência (%) Média ± desvio-padrão<br />

Categoria diagnóstica ––<br />

Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos<br />

e delirantes<br />

––<br />

Transtornos do humor e afetivos<br />

––<br />

Transtornos neuróticos relacionados ao<br />

estresse e somatoforme<br />

––<br />

Transtornos fóbicos e ansiosos<br />

––<br />

Diagnóstico não especificado<br />

51 (60,00%)<br />

23 (27,00%)<br />

8 (9,40%)<br />

1 (1,20%)<br />

2 (2,40%)<br />

Comorbidade psiquiátrica<br />

Sim<br />

Não<br />

Não especificado<br />

15 (17,60%)<br />

69 (81,20%)<br />

1 (1,20)<br />

Regime de tratamento<br />

Idade de início do transtorno psiquiátrico<br />

Duração do transtorno<br />

Duração do tratamento psiquiátrico<br />

Crises no último ano<br />

Internações<br />

Número de tipos de medicamentos psiquiátricos<br />

Toma o medicamento sozinho<br />

Doenças físicas<br />

CAPS dia<br />

Ambulatorial<br />

Não teve crises<br />

Teve 1 crise<br />

Teve de 2 a 5 crises<br />

Teve de 6 a 10 crises<br />

Nunca foi internado<br />

1 a 5 internações<br />

6 a 10 internações<br />

Mais de 10 internações<br />

Não souberam informar<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

37 (43,50%)<br />

48 (56,50%)<br />

43 (50,60%)<br />

21 (24,70%)<br />

17 (20,00%)<br />

4 (4,70%)<br />

31 (36,50%)<br />

35 (41,20%)<br />

11 (12,90%)<br />

7 (8,20%)<br />

1 (1,20%)<br />

56 (65,90%)<br />

29 (34,10%)<br />

38 (44,70%)<br />

47 (55,30%)<br />

27,10 ± 11,88 anos<br />

16,89 ± 10,32 anos<br />

13,02 ± 9,33 anos<br />

2,74 ± 2,38 crises<br />

7,42 ± 18,00 internações<br />

2,99 ± 1,21 tipos<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


artigo original<br />

Satisfação de familiares em serviços de saúde mental<br />

289<br />

Satisfação dos familiares com os serviços<br />

Análise por subescalas: A tabela 3 apresenta os escores<br />

médios de satisfação dos familiares, para a escala global e<br />

para as três subescalas da SATIS-BR e os valores de p para a<br />

comparação entre elas, duas a duas, por meio do teste não<br />

paramétrico de Wilcoxon para amostras relacionadas. O escore<br />

médio de satisfação global foi de 4,41 (DP = 0,56), em<br />

uma faixa de variação entre 1 e 5, indicando que, em geral,<br />

os familiares dos pacientes estavam entre satisfeitos e muito<br />

satisfeitos com os serviços.<br />

Os escores médios de satisfação foram elevados também<br />

para as subescalas, sendo 4,55 para a subescala 1, “Resultados<br />

do tratamento”, 4,29 para a subescala 2, “Acolhida e<br />

competência da equipe” e 4,40 para a subescala 3, “Privacidade<br />

e confidencialidade do serviço”. Uma comparação<br />

dessas médias, pelo teste não paramétrico de Kendall’s W,<br />

indicou uma diferença significativa entre elas (χ 2 = 26,85;<br />

p < 0,001). A comparação das médias das subescalas duas<br />

a duas, pelo teste de Wilcoxon, confirmou que os familiares<br />

estavam significativamente mais satisfeitos em relação aos<br />

“Resultados do tratamento”, comparativamente à “Acolhida<br />

e competência da equipe” (p < 0,001) e à “Privacidade e confidencialidade<br />

do serviço” (p < 0,01). Não houve diferença estatisticamente<br />

significativa da satisfação dos familiares entre<br />

as subscalas 2 e 3 (p = 0,09).<br />

Tabela 3. Médias de satisfação dos familiares por subescalas e<br />

escala global e comparação das médias das subescalas, duas a<br />

duas, pelo teste não paramétrico de Wilcoxon<br />

Subescalas<br />

Média (DP)<br />

1. Resultados do tratamento 4,55 (0,64)<br />

Wilcoxon<br />

p (1-2) p (1-3) p (2-3)<br />

2. Acolhida e competência da equipe 4,29 (0,64) 0,00** 0,09<br />

3. Privacidade e confidencialidade do serviço 4,40 (0,59) 0,00*<br />

Escala global 4,41 (0,56)<br />

** p < 0,001; * p < 0,01; p (1-2): comparação das subescalas 1 e 2; p (1-3): comparação das subescalas 1 e 3;<br />

p (2-3): comparação das subescalas 2 e 3; DP: desvio-padrão.<br />

Análise por itens: A tabela 4 apresenta os resultados descritivos<br />

dos escores de satisfação dos familiares para cada<br />

item da escala SATIS-BR, em termos das porcentagens de familiares<br />

insatisfeitos, mais ou menos satisfeitos e satisfeitos<br />

com os serviços. Os resultados mostram que a maioria dos<br />

familiares estava satisfeita ou muito satisfeita (respostas 4 e 5)<br />

em relação aos diversos aspectos avaliados (81,20% a 96,40%).<br />

Os itens que apresentaram maiores porcentagens de satisfação<br />

dos familiares foram: as medidas tomadas para assegurar<br />

a privacidade do tratamento (item 5), a confidencialidade das<br />

informações (item 6), a competência do profissional (item 7)<br />

e a capacidade dos serviços em ajudar o paciente a lidar mais<br />

eficientemente com os seus problemas (item 3).<br />

No que se refere às porcentagens mais elevadas de insatisfação,<br />

destacaram-se os itens: compreensão do paciente<br />

pelo profissional que o admitiu (item 1), compreensão pela<br />

equipe do tipo de ajuda que o paciente necessitava (item 2)<br />

e obtenção do tipo de ajuda de que o paciente necessitava<br />

(item 4). Nenhum familiar estava insatisfeito em relação à<br />

competência do terapeuta principal.<br />

A tabela 4 apresenta também os dados referentes à comparação<br />

dos escores médios de satisfação aos itens específicos<br />

da escala, por meio de uma análise da média de postos<br />

de Friedman. Os resultados mostraram uma diferença significativa<br />

entre os escores de satisfação dos familiares nos oito<br />

itens da escala (χ 2 = 68,16; p < 0,001). As médias mais elevadas<br />

de satisfação se concentraram principalmente nos itens<br />

que avaliaram: os benefícios que o paciente recebeu com<br />

o tratamento (item 8), se os serviços recebidos ajudaram o<br />

paciente a lidar mais eficientemente com seus problemas<br />

(item 3), a competência do terapeuta principal (item 7) e se o<br />

paciente obteve o tipo de ajuda de que necessitava (item 4).<br />

Fatores associados à satisfação dos familiares<br />

Para a análise dos fatores associados à satisfação dos familiares,<br />

algumas categorias de variáveis foram agrupadas e<br />

outras não foram investigadas, por causa da ocorrência de<br />

Tabela 4. Porcentagens de resposta dos familiares para cada item da escala SATIS-BR e médias de postos de Friedman<br />

Itens<br />

Insatisfeitos<br />

Respostas<br />

1 e 2<br />

Mais ou menos<br />

satisfeitos<br />

Respostas<br />

3<br />

Satisfeitos<br />

Respostas<br />

4 e 5<br />

Média de postos<br />

1. Compreensão do paciente pelo profissional que o admitiu 5 (5,90%) 11 (12,90%) 69 (81,20%) 3,69<br />

2. Equipe compreendeu o tipo de ajuda de que o paciente necessitava 1 (1,20%) 14 (16,50%) 70 (82,30%) 3,86<br />

3. Serviços recebidos ajudaram o paciente a lidar melhor com os seus problemas 1 (1,20%) 4 (4,70%) 80 (94,10%) 5,27<br />

4. Obtenção do tipo de ajuda de que o paciente necessitava 3 (3,50%) 9 (10,60%) 73 (85,90%) 4,46<br />

5. Medidas tomadas para assegurar a privacidade do tratamento 2 (2,40%) 1 (1,20%) 82 (96,40%) 4,36<br />

6. Confidencialidade das informações 2 (2,40%) 3 (3,50%) 80 (94,10%) 4,43<br />

7. Competência do profissional - 5 (5,90%) 80 (94,10%) 4,64<br />

8. Beneficiou-se com o tratamento 1 (1,20%) 6 (7,10%) 78 (91,70%) 5,29<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


290 Bandeira M et al.<br />

artigo original<br />

baixas frequências de resposta. Os vários tipos de diagnósticos<br />

dos pacientes, que estavam sob cuidado desses familiares,<br />

foram agrupados em três categorias, de acordo com<br />

a CID-10 27 : (1) “Esquizofrenia, Transtornos esquizotípicos e<br />

Transtornos delirantes”, (2) “Transtornos do humor e afetivos”,<br />

e (3) “Transtornos neuróticos relacionados ao estresse e<br />

somatoforme”. A categoria diagnóstica Transtornos fóbicos<br />

ansiosos não foi analisada, porque tinha apenas um sujeito.<br />

Para a variável “local de tratamento”, foram comparados os<br />

dados de apenas dois serviços, ambulatório e CAPS, pois so-<br />

mente quatro pacientes faziam tratamento em um terceiro<br />

serviço.<br />

A tabela 5 apresenta os resultados referentes à análise das<br />

variáveis categóricas sociodemográficas e clínicas, associadas<br />

à satisfação dos familiares. Nessa tabela, para comparar duas<br />

categorias, foi utilizado o teste Man-Whitney e, para comparar<br />

mais de duas categorias, foi utilizado o teste de Kruskal-<br />

-Wallis. A tabela 6 apresenta a análise das variáveis contínuas<br />

sociodemográficas e clínicas associadas à satisfação dos familiares,<br />

por meio do coeficiente de correlação de Spearman.<br />

Tabela 5. Análise univariada das variáveis categóricas sociodemográficas e clínicas associadas à satisfação global dos familiares com os<br />

serviços, por meio dos testes Man-Whitney e Kruskal-Wallis<br />

Variáveis Categorias N Média (DP) P<br />

Gênero do paciente<br />

Feminino<br />

68<br />

4,46 (0,63)<br />

0,58<br />

Masculino<br />

17<br />

4,34 (0,50)<br />

Paciente frequentou escola<br />

Renda própria (paciente)<br />

Categoria diagnóstica<br />

Comorbidade psiquiátrica<br />

Local de tratamento<br />

Modalidade de tratamento<br />

Paciente possui doenças físicas<br />

Paciente faz outro tratamento de saúde<br />

Paciente internou-se<br />

Paciente toma o medicamento sozinho<br />

Tipo de medicação<br />

Gênero do familiar<br />

Familiar frequentou escola<br />

Renda própria do familiar<br />

Trabalho formal (familiar)<br />

Familiar reside com o paciente<br />

Estado civil do familiar<br />

Parentesco do familiar com o paciente<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

– Esquizofrenia, Transtornos Esquizotípicos e Transtornos Delirantes<br />

– Transtornos do Humor e Afetivos<br />

Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes<br />

Transtornos neuróticos relacionados ao estresse e somatoforme<br />

Transtornos do humor e afetivo<br />

Transtornos neuróticos relacionados ao estresse e somatoforme<br />

Sim<br />

Não<br />

Ambulatório<br />

CAPS<br />

CAPS DIA<br />

Ambulatorial<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

Via oral<br />

Oral e intramuscular<br />

Feminino<br />

Masculino<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

Solteiro<br />

Casado<br />

Vivendo como casado<br />

Separado<br />

Viúvo<br />

Mãe/pai<br />

Irmão<br />

Cônjuge<br />

Filho<br />

Outro<br />

80<br />

5<br />

53<br />

32<br />

51<br />

23<br />

51<br />

8<br />

23<br />

8<br />

15<br />

69<br />

46<br />

35<br />

37<br />

48<br />

38<br />

47<br />

35<br />

50<br />

54<br />

31<br />

56<br />

29<br />

68<br />

17<br />

68<br />

17<br />

74<br />

11<br />

53<br />

32<br />

53<br />

32<br />

12<br />

73<br />

11<br />

49<br />

2<br />

7<br />

16<br />

37<br />

17<br />

15<br />

8<br />

8<br />

4,38 (0,57)<br />

4,80 (0,19)<br />

4,46 (0,55)<br />

4,34 (0,57)<br />

4,40 (0,60)<br />

4,44 (0,54)<br />

4,40 (0,60)<br />

4,50 (0,42)<br />

4,44 (0,54)<br />

4,50 (0,42)<br />

4,28 (0,58)<br />

4,44 (0,56)<br />

4,41(0,51)<br />

4,44 (0,60)<br />

4,37 (0,51)<br />

4,44 (0,59)<br />

4,33(0,56)<br />

4,48 (0,55)<br />

4,41 (0,51)<br />

4,41 (0,59)<br />

4,43 (0,57)<br />

4,38 (0,54)<br />

4,37 (0,60)<br />

4,49 (0,47)<br />

4,46 (0,52)<br />

4,21 (0,67)<br />

4,40 (0,60)<br />

4,47 (0,38)<br />

4,43 (0,58)<br />

4,30 (0,36)<br />

4,42 (0,55)<br />

4,41 (0,58)<br />

4,58 (0,48)<br />

4,39 (0,57)<br />

4,39 (0,54)<br />

4,57 (0,63)<br />

4,42 (0,52)<br />

4,47 (0,52)<br />

4,56 (0,27)<br />

4,11 (0,53)<br />

4,34 (0,72)<br />

4,33 (0,60)<br />

4,62 (0,46)<br />

4,31 (0,48)<br />

4,47 (0,54)<br />

4,52 (0,70)<br />

0,12<br />

0,24<br />

0,93<br />

0,99<br />

0,96<br />

0,20<br />

0,41<br />

0,31<br />

0,14<br />

0,76<br />

0,48<br />

0,55<br />

0,17<br />

0,81<br />

0,17<br />

0,83<br />

0,32<br />

0,11<br />

0,60<br />

0,20<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


artigo original<br />

Satisfação de familiares em serviços de saúde mental<br />

291<br />

Os resultados das tabelas 5 e 6 mostraram que, de todas<br />

as variáveis analisadas, somente a idade do paciente e o<br />

tempo transcorrido desde a sua última internação estavam<br />

significativamente associados ao grau de satisfação dos familiares.<br />

Os familiares apresentaram maior grau de satisfação<br />

com os serviços quando os pacientes eram mais velhos (r =<br />

0,23; p = 0,04) e quando estavam há mais tempo, medido em<br />

meses, sem passar por uma internação psiquiátrica (r = 0,26;<br />

p = 0,05). Nenhuma variável sociodemográfica dos familiares<br />

estava associada à sua satisfação com os serviços de saúde<br />

mental avaliados.<br />

Tabela 6. Análise univariada das variáveis contínuas sociodemográficas<br />

e clínicas associadas à satisfação global dos familiares<br />

com os serviços, por meio da correlação de Spearman<br />

Variáveis Média (DP) R P<br />

Idade do paciente 43,53 (12,49) 0,23 0,04*<br />

Número de anos de escolaridade do paciente 4,99 (3,34) - 0,18 0,10<br />

Idade do início do transtorno psiquiátrico 27,10 (11,88) 0,04 0,74<br />

Duração do transtorno 16,89 (10,32) 0,20 0,08<br />

Duração do tratamento psiquiátrico 13,02 (9,33) 0,18 0,09<br />

Número médio de internações 7,42 (18,00) 0,06 0,65<br />

Duração da última internação 55,91 (67,66) 0,06 0,64<br />

Tempo desde a última internação (em meses) 96,85 (93,60) 0,26 0,05*<br />

Número de crises no último ano 2,74 (2,38) 0,03 0,82<br />

Número de tipos de medicamentos 2,99 (1,21) - 0,05 0,62<br />

Idade do familiar 54,61 (14,38) - 0,01 0,94<br />

Número de anos de escolaridade do familiar 4,98 (3,34) 0,00 0,99<br />

Renda do familiar (em reais) 555,06 (254,18) - 0,09 0,53<br />

* p ≤ 0,05.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os resultados do presente estudo mostraram que a grande<br />

maioria dos familiares (entre 81,20% e 96,40%) demonstrou<br />

satisfação ou muita satisfação em relação aos diferentes aspectos<br />

dos serviços. Uma minoria (1,20% a 5,90%) relatou estar<br />

insatisfeita ou muito insatisfeita, e uma porcentagem um<br />

pouco maior (1,20% a 16,50%) apresentou a resposta “mais<br />

ou menos”, intermediária entre satisfação e insatisfação.<br />

Dois estudos internacionais encontraram taxas mais baixas<br />

de satisfação dos familiares com os serviços de saúde<br />

mental, comparativamente ao presente estudo. Embora essa<br />

diferença de resultados possa estar relacionada com o tipo<br />

de serviço, sua organização e tratamentos envolvidos, não<br />

é possível fazer uma comparação nesse nível, uma vez que<br />

os autores não apresentaram descrições detalhadas sobre<br />

esses aspectos. Outras hipóteses, entretanto, podem ser levantadas<br />

para explicar as diferenças entre os resultados dos<br />

estudos. Na pesquisa de Perreault et al. 7 , as porcentagens<br />

mais baixas de satisfação ou muita satisfação encontradas<br />

(46,40% a 85,70%) talvez se expliquem pelo tipo de amostra<br />

avaliada, pois se tratava de familiares que faziam parte de<br />

grupos de suporte, portanto possivelmente mais organizados,<br />

informados e engajados em movimentos coletivos do<br />

que os familiares da amostra brasileira avaliada, o que poderia<br />

talvez contribuir para uma manifestação mais aberta<br />

de opiniões, expectativas e críticas. Além disso, a forma de<br />

coletar os dados, por meio de entrevistas por telefone, talvez<br />

tenha contribuído também para uma maior manifestação de<br />

insatisfação do que entrevistas face a face, tal como utilizada<br />

no presente trabalho.<br />

No estudo de Stengard et al. 8 , os familiares foram entrevistados<br />

em uma avaliação de follow-up após a alta de internação,<br />

sendo que dois terços da amostra demonstraram<br />

satisfação com os serviços, enquanto um terço apresentou<br />

insatisfação, particularmente com a falta de sua participação<br />

no tratamento e com a falta de informações por parte dos<br />

profissionais dos serviços. Neste estudo, o tipo de amostra<br />

também pode ter contribuído para uma maior manifestação<br />

de insatisfação, pois se tratava de 60% dos familiares<br />

da amostra total do estudo, cujos pacientes estavam em<br />

condições clínicas mais desfavoráveis do que o restante da<br />

amostra total, uma vez que usavam mais medicamentos, frequentavam<br />

mais os serviços e apresentavam menor grau de<br />

autonomia. Além disso, tratava-se de pacientes que tinham<br />

recebido alta dos hospitais há apenas três anos, possivelmente<br />

ainda em processo de readaptação. No presente estudo,<br />

ao contrário, a amostra era constituída por pacientes<br />

estabilizados, que estavam em regime ambulatorial, viviam<br />

na comunidade e tinham uma média de 17,89 anos de duração<br />

da doença, e a maioria (51,80%) tinha tido apenas uma<br />

ou nenhuma internação, há 96,85 meses em média. No último<br />

ano, a maioria (75,30%) tinha sofrido apenas uma ou nenhuma<br />

crise. A presente amostra apresenta, portanto, características<br />

diferentes das amostras dos dois estudos citados<br />

acima, que talvez expliquem as diferenças de resultados da<br />

satisfação dos familiares.<br />

No que se refere às condições clínicas dos pacientes, já<br />

foi constatado que essa variável está associada à satisfação<br />

dos familiares com os serviços. Por exemplo, Stengard et al. 8<br />

encontraram que familiares de pacientes com melhor funcionamento<br />

global estavam mais satisfeitos com os serviços<br />

de saúde mental (OR = 0,73; p = 0,003). O estudo de Perreault<br />

et al. 7 também mostrou que a satisfação dos familiares estava<br />

significativamente associada ao maior tempo de duração da<br />

doença do paciente (r = 0.21 e p = 0.014), o que sugere estabilidade<br />

do quadro clínico dos pacientes. No presente estudo,<br />

a maior satisfação dos familiares estava correlacionada<br />

com duas variáveis dos pacientes: maior tempo transcorrido<br />

desde a última internação e maior idade, o que também sugere<br />

uma estabilidade do quadro clínico. Na presente amostra,<br />

os pacientes com maior idade eram também aqueles<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


292 Bandeira M et al.<br />

artigo original<br />

que possuíam o transtorno psiquiátrico há mais tempo (r =<br />

0,39, p < 0,001), que faziam tratamento psiquiátrico por um<br />

período mais longo (r = 0,37, p ≤ 0,001) e que estavam há<br />

mais tempo sem internação (r = 0,54, p < 0,001).<br />

Outra hipótese explicativa dos resultados da presente<br />

pesquisa pode ser levantada examinando a realidade dos<br />

serviços de saúde do país, comparativamente aos serviços de<br />

saúde mental e os efeitos dessa comparação nas expectativas<br />

e apreciações dos familiares dos pacientes psiquiátricos.<br />

A alta satisfação dos familiares do presente trabalho talvez se<br />

explique à luz do modelo da expectativa, em particular a teoria<br />

do contraste, descrito na introdução deste artigo. Segundo<br />

esse modelo, os sujeitos avaliam um determinado serviço,<br />

com base em uma comparação que fazem entre a experiência<br />

atual com o serviço e experiências prévias com outros<br />

serviços de saúde. No presente estudo, uma comparação entre<br />

as experiências prévias dos familiares com os serviços de<br />

saúde em geral, tais como os postos de saúde, nos quais eles<br />

enfrentam filas de espera longas para conseguir uma consulta,<br />

em contraste com a de um serviço de saúde mental, como<br />

os CAPS, apontaria para as vantagens desse último serviço.<br />

No estudo de Silva 28 , os próprios pacientes haviam relatado<br />

que, nos CAPS, eles não necessitam enfrentar filas de espera<br />

para marcar consultas, além de terem medicamentos gratuitos,<br />

e que eles se sentiam satisfeitos com os serviços de saúde<br />

mental por causa dessas suas características. Essa interpretação<br />

é coerente com os resultados de outros estudos brasileiros<br />

com pacientes psiquiátricos, que também relataram alto<br />

nível de satisfação desses pacientes com os serviços 17-19 .<br />

No entanto, outro resultado da presente pesquisa, que<br />

merece comentários, foi o fato de a variável serviço não<br />

constituir um fator associado ao grau de satisfação dos familiares,<br />

embora se tratasse de dois tipos teoricamente diferentes<br />

de serviço, CAPS e ambulatório. Esses resultados<br />

são surpreendentes, pois serviços definidos por objetivos e<br />

organizações distintas tenderiam a proporcionar níveis diferenciados<br />

de satisfação dos familiares, por exemplo, quando<br />

esses serviços desenvolvem intervenções diferentes 7 . Os<br />

CAPS deveriam, em princípio, ser diferentes dos ambulatórios,<br />

em termos da diversidade de intervenções e da atenção<br />

mais frequente e intensiva aos pacientes e seus familiares,<br />

podendo gerar níveis diferentes de satisfação. Os resultados<br />

encontrados no presente trabalho talvez se expliquem pela<br />

semelhança de tratamento oferecido aos pacientes da presente<br />

amostra, independentemente do tipo de serviço que<br />

frequentavam. Como se tratava de pacientes estabilizados, o<br />

tratamento se limitou ao medicamento e consultas médicas<br />

infrequentes, em ambos os tipos de serviço. Esses dados sugerem<br />

uma realidade peculiar dos serviços de saúde mental<br />

avaliados e apontam para a necessidade de maior diferenciação<br />

entre eles. Destaca-se, em particular, a necessidade<br />

de maior desenvolvimento, nos CAPS, das ações previstas de<br />

intervenções psicoeducacionais de grupo, com os familiares<br />

e pacientes e visitas domiciliares. Uma tendência à “ambulatorização”<br />

dos CAPS já foi apontada em outras localidades,<br />

assim como a escassez de intervenções voltadas para a reinserção<br />

social dos pacientes, o que compromete a qualidade<br />

do atendimento em saúde mental 29 .<br />

O presente estudo apresenta a limitação de ter incluído<br />

uma amostra pequena, e do tipo não aleatório, de familiares<br />

participantes. Amostras não aleatórias podem influenciar os<br />

resultados em favor de um maior grau de satisfação dos familiares<br />

com os serviços. O tamanho reduzido da amostra<br />

pode também ter influenciado o resultado referente à falta<br />

de diferenciação entre os serviços. Pesquisas futuras com<br />

amostras aleatórias e de maior tamanho poderão reavaliar os<br />

resultados obtidos.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os dados destacaram a elevada porcentagem de satisfação<br />

dos familiares com os serviços de saúde mental, o que talvez<br />

se explique pelo contraste cognitivo com outros serviços de<br />

saúde. Dentre os fatores associados à satisfação, destacou-<br />

-se a influência das variáveis dos pacientes, em particular<br />

suas condições clínicas, no grau de satisfação dos familiares<br />

cuidadores. O nível de satisfação não diferiu entre dois tipos<br />

teoricamente diversos de serviço, CAPS e ambulatório, provavelmente<br />

devido a semelhanças do tratamento oferecido<br />

nesses serviços. Esses resultados apontam para a necessidade<br />

de maior diferenciação entre os serviços, porém tais dados<br />

devem ser reavaliados em estudos futuros, com amostras<br />

maiores.<br />

CONFLITO DE INTERESSES<br />

Nenhum.<br />

FINANCIAMENTO<br />

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais<br />

(Fapemig) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal<br />

de Nível Superior (Capes).<br />

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artigo original<br />

Satisfação de familiares em serviços de saúde mental<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):284-93.


artigo original<br />

Tentativas de suicídio e mortalidade por suicídio<br />

em um município no interior da Bahia<br />

Suicide attempts and suicide mortality in a countryside Bahia city<br />

Viviane dos Santos Souza 1 , Murilo da Silva Alves 1 , Lívia Angeli Silva 2 , Débora Cristiane Silva Flores Lino 3 ,<br />

Adriana Alves Nery 4 , Cezar Augusto Casotti 4<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Suicídio, tentativa de<br />

suicídio, epidemiologia,<br />

declaração de óbito.<br />

Objetivo: Descrever o perfil das tentativas de suicídio e mortalidade por suicídio no município<br />

de Jequié/BA, no período entre 2006 e 2010. Método: Estudo epidemiológico descritivo.<br />

Os dados das tentativas de suicídio foram obtidos no Corpo de Bombeiros e DATASUS,<br />

enquanto aqueles referentes à mortalidade por suicídio foram coletados por meio das declarações<br />

de óbito (DOs) da 13ª Diretoria Regional de Saúde da Bahia (13ª DIRES) e complementados<br />

pelos registros do Instituto Médico Legal (IML). A análise foi feita por meio de estatística<br />

descritiva. Resultados: Nas tentativas de suicídio, a maior frequência foi na faixa etária<br />

de 20 a 39 anos (57,69%), entre indivíduos do sexo feminino (53,4%) e utilizando-se como<br />

meio a queda de altura (69,2%). Em relação ao suicídio, a taxa média de mortalidade foi de<br />

3,19/100.000 habitantes, com maior frequência em indivíduos acima dos 40 anos (54,16%), do<br />

sexo masculino (87,5%), por meio de enforcamento (58,3%) e tendo como local de ocorrência<br />

o domicílio (83,33%). Conclusão: O município mostrou-se dentro das estatísticas da região<br />

Nordeste e abaixo das taxas nacionais de suicídio. Houve diferenciação entre as características<br />

do perfil das tentativas de suicídio e mortalidade por suicídio, especialmente segundo o<br />

sexo, faixa etária e meios utilizados.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Suicide, suicide attempt,<br />

epidemiology, death<br />

certificate.<br />

Objective: Describing the profile of suicide attempts and suicide mortality in the city of Jequié/BA,<br />

in the period between 2006 and 2010. Method: A descriptive epidemiological study. Data of suicide<br />

attempts were obtained from the Fire Department and DATASUS, while those related to suicide mortality<br />

were collected by means of Death Certificates (DOs) of the 13 th Regional Health Board of Bahia<br />

(13 th DIRES) and supplemented by records from the Forensic Medicine Institute (IML). The analysis<br />

was made using descriptive statistics. Results: In suicide attempts, the biggest frequency was in<br />

people aged from 20 to 39 years (57.69%); among females (53.4%) and using as means the fall from<br />

height (69.2%). Regarding suicide, the average mortality rate was 3.19/100,000 inhabitants, most<br />

frequently in people over 40 years (54.16%), male (87.5%), by hanging (58.3%) and taking the place<br />

of occurrence as the home (83.33%). Conclusion: The city showed up in the statistics of the Northeast<br />

region and below the national rates of suicide. There was differentiation between the profile<br />

characteristics of suicide attempts and suicide mortality, especially by gender, age and used means.<br />

Recebido em<br />

11/8/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

29/11/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde (PPGES).<br />

2 UESB, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), PPGES.<br />

3 Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Grupo de Pesquisa em Saúde Mental.<br />

4 UESB, Departamento de Saúde, PPGES.<br />

Endereço para correspondência: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e<br />

Saúde (PPGES). Rua José Moreira Sobrinho, s/n, Jequiezinho – 45206-190 – Jequié, BA<br />

Telefax: (73) 3528-9738<br />

E-mail: ppgesjq@uesb.edu.br


artigo original<br />

Tentativas e suicídios em um município da Bahia<br />

295<br />

INTRODUÇÃO<br />

O suicídio constitui-se como um grave problema de saúde<br />

pública mundial, em especial por seu crescimento entre a<br />

população mais jovem 1,2 . Segundo estimativas da Organização<br />

Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é definido como<br />

o ato humano de causar a cessação da própria vida, sendo<br />

uma das dez principais causas de morte em todo o mundo,<br />

chegando a ocupar a terceira posição entre os óbitos ocorridos<br />

na faixa etária de 15 a 35 anos 3,4 .<br />

As tentativas de suicídio e o comportamento suicida<br />

podem ser conceituados como atos intencionais de autoagressão<br />

que não resultam em morte, podendo envolver atos<br />

mais graves, para os quais são necessárias hospitalizações.<br />

Algumas autoagressões podem, ainda, não necessitar de<br />

atendimento médico, o que dificulta a realização de estudos<br />

acerca das tentativas de suicídio 5 .<br />

Dados da OMS mostram que, no ano de 2000, 1 milhão<br />

de pessoas cometeram suicídio no mundo, o que representou<br />

uma morte a cada 40 segundos 5,6 . Anualmente, 10 a 20<br />

milhões de pessoas tentam o suicídio 7 . O Brasil apresenta<br />

uma taxa geral de suicídio considerada baixa na escala mundial<br />

(4 a 6 óbitos por 100.000 habitantes), ocupando o 71º<br />

lugar quando comparado com outros países no mundo e 9ª<br />

posição em números absolutos de mortes por suicídio 2,8 .<br />

O Brasil encontra-se distante das maiores taxas de suicídio<br />

mundiais, mais de 16/100.000 habitantes, como encontradas<br />

na França, China, Suíça, Bélgica, Áustria, Estados Unidos e no<br />

Leste Europeu. Contudo, registros nacionais sobre a mortalidade<br />

demonstram o aumento da incidência de suicídios na<br />

faixa etária de adulto jovem, principalmente no sexo masculino,<br />

mesmo considerando as possíveis subnotificações<br />

existentes 3,5,9 . De acordo com dados de 2006, a mortalidade<br />

por suicídio no Brasil computou um total de 8.506 mortes,<br />

correspondendo a 6,7% do total de mortes naquele ano 3 .<br />

Entre as regiões brasileiras, a região Sudeste concentra<br />

50% dos registros de suicídio; a região Sul possui os maiores<br />

coeficientes de suicídio; e as regiões Norte e Nordeste apresentam<br />

os menores índices. Os estados brasileiros com maiores<br />

taxas de suicídio são o Rio Grande do Sul (8 a 10/100.000<br />

habitantes), Santa Catarina (7 a 8,5/100.000 habitantes), Paraná<br />

(7,1 suicídios por 100.000 habitantes), seguidos de São<br />

Paulo e Goiás 7,10,11, .<br />

A região Norte apresentou a média de 3,4 mortes por 100<br />

mil/habitantes e a Nordeste, uma média de 2,7 mortes por<br />

100 mil/habitantes. Os maiores aumentos de suicídio foram<br />

verificados na região Nordeste, que experimentou um incremento<br />

de 130% entre 1980 e 2006, e na região Centro-Oeste,<br />

com aumento de 68% no mesmo período 12 .<br />

Diversos estudos comprovaram fatores associados ao<br />

suicídio, principalmente os socioeconômicos. Nesse sentido,<br />

a baixa escolaridade e a pobreza, normalmente associadas<br />

entre si, além de viuvez, perda de uma pessoa querida, separação<br />

afetiva, desentendimentos com familiares ou amigos,<br />

divórcio e solidão das grandes cidades, são considerados<br />

fatores ou circunstâncias que podem aumentar o risco de<br />

suicídio por serem produtores de estresse, bem como outros,<br />

que incluem religião, problemas legais, desemprego e<br />

trabalho, especialmente o agrícola 3,4,8 .<br />

Uso abusivo de álcool e drogas, disponibilidade dos meios<br />

para efetuar o ato suicida, violência física e/ou sexual na infância,<br />

isolamento social, baixo suporte social e familiar, baixa<br />

qualificação profissional, histórico de tratamento psiquiátrico<br />

e distúrbios psíquicos, como depressão, esquizofrenia ou falta<br />

de esperança, podem, ainda, ser contributivos para o aumento<br />

de risco e a consumação da tentativa de suicídio 4,9,10,13 .<br />

Tais observações demonstram que esse ato não possui<br />

uma única causa ou razão, mas resulta de uma complexa<br />

interação de fatores, entre eles os biológicos, genéticos, psicológicos,<br />

sociais, culturais e ambientais, sendo difícil explicar<br />

como a exposição aos mesmos fatores de risco implicam condutas<br />

diferenciadas dependendo dos sujeitos envolvidos 3,4,8 .<br />

O comportamento autodestrutivo, como o uso de substâncias<br />

psicoativas, recusa de tratamento médico, determinados<br />

estilos de vida que também podem resultar em morte,<br />

é considerado por alguns autores como comportamento<br />

suicida, mas que pode ser distorcido ou mascarado como se<br />

tivesse sido natural 5 .<br />

O suicídio tem impactos diretos sobre a vida de familiares<br />

e pessoas próximas ao suicida. Além disso, representa prejuízos<br />

para a sociedade, pelos investimentos necessários para a<br />

formação do indivíduo, anos potenciais de vida perdidos devido<br />

à morte precoce e aos custos de internações com indivíduos<br />

que não obtêm sucesso com o ato. Na perspectiva de<br />

prevenir comportamentos suicidas, foi publicado em 2006,<br />

pelo Ministério da Saúde, o Manual de Prevenção ao Suicídio,<br />

destinado aos profissionais das equipes de saúde mental 14 .<br />

No Brasil e em outros países, a qualidade dos dados<br />

disponibilizados referentes aos óbitos é fator que limita as<br />

pesquisas sobre a mortalidade por suicídio 10 . A ocorrência<br />

de subnotificação dos casos de suicídio acontece devido a<br />

motivações religiosas, sociais, culturais, entre outras 15 . Alguns<br />

autores indicam que essa distorção deve variar no espaço e<br />

no tempo, entre 20% e 100% 5 .<br />

Tais distorções podem estar relacionadas a estigma social<br />

acerca do óbito por suicídio, razões jurídicas, religiosidade devido<br />

à não aprovação do suicídio e, ainda, a relutância ou preenchimento<br />

inadequado pelo profissional médico ao registrar o<br />

óbito como “morte acidental” ou “causa indeterminada” 16 .<br />

Os acidentes e as violências têm causado intenso impacto<br />

na morbimortalidade da população brasileira. Por isso, o<br />

governo tem implementado políticas públicas, a exemplo<br />

da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por<br />

Acidentes e do Plano Nacional para Prevenção do Suicídio,<br />

lançado em 2009. Estas surgem como iniciativas do Ministério<br />

da Saúde para tentar diminuir a incidência de casos no<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):294-300.


296 Souza VS et al.<br />

artigo original<br />

Brasil, visando à redução das taxas de mortes por suicídio e<br />

danos causados às pessoas envolvidas direta e indiretamente<br />

nesse ato 3 .<br />

Tais políticas são importantes, uma vez que a rede de<br />

saúde enfrenta desafios para desenvolver ações preventivas<br />

e assistenciais relacionadas ao suicídio. Nesse sentido, mais<br />

estudos são necessários, com o objetivo de produzir informações<br />

que colaborem na formulação de estratégias para<br />

a redução da morbimortalidade da população, reduzindo as<br />

taxas de tentativas de suicídio no Brasil.<br />

Assim, visando melhorar a situação de saúde e subsidiar<br />

o planejamento de ações preventivas nos serviços de saúde,<br />

este estudo objetivou descrever o perfil das tentativas de suicídio<br />

e mortalidade por suicídio no município de Jequié/BA,<br />

no período de 2006 a 2010.<br />

MÉTODO<br />

Trata-se de estudo epidemiológico descritivo, com dados do<br />

Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) obtidos na 13ª<br />

Diretoria Regional de Saúde da Bahia (13ª DIRES) e do 8º Grupamento<br />

de Bombeiro Militar (8º GBM) de Jequié/BA, complementados<br />

com dados do Instituto Médico Legal (IML) e<br />

do Sistema de Informação Hospitalar (SIH) do DATASUS.<br />

O município de Jequié localiza-se na região Sudoeste da<br />

Bahia, distante 365 quilômetros de Salvador, capital do estado,<br />

e possui uma população de 151.921 habitantes 17 .<br />

Os dados de mortalidade foram obtidos na 13ª DIRES, por<br />

meio das declarações de óbito (DOs) registradas no SIM, correspondentes<br />

às Causas Externas da Classificação Internacional<br />

de Doenças (CID-10). Quando necessário esclarecimento<br />

ou confirmação da causa de morte, uma vez que alguns<br />

campos da DO não estavam preenchidos ou remetiam à<br />

duplicidade de causa entre suicídio e homicídio, foram consultados<br />

os registros do IML do município.<br />

Para identificar as tentativas de suicídio, recorreu-se aos<br />

dados do 8º GBM de Jequié/BA, por este possuir melhor qualidade<br />

de informações, uma vez que é o serviço requisitado<br />

para atendimento nesses casos. Para fins deste estudo,<br />

foram incluídas nessa categoria as ameaças de suicídio que<br />

não se concretizaram em virtude da intervenção desse serviço<br />

e que são registradas por ele. Os dados foram obtidos<br />

nas planilhas de controle de ocorrência, nas quais existe um<br />

campo específico para as tentativas de suicídio, sendo descartadas<br />

as que obtiveram sucesso, com óbito, uma vez que<br />

já estavam presentes nas DOs da 13ª DIRES e IML.<br />

Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva,<br />

utilizando o programa Excel versão 2007. Foram<br />

definidas como variáveis para o suicídio: sexo, idade, etnia,<br />

escolaridade, estado civil, ocupação, local de ocorrência do<br />

evento, local de moradia, meio utilizado, CID-10, horário, dia<br />

da semana, mês e ano do óbito.<br />

Em relação às tentativas, as variáveis foram em menor<br />

número, devido à pequena quantidade de informações disponibilizadas<br />

nos relatórios do Corpo de Bombeiros sobre<br />

as ocorrências. Assim, utilizaram-se as variáveis: sexo, idade,<br />

local de ocorrência do evento, local de moradia, meio utilizado,<br />

horário, dia da semana, mês, ano da ocorrência e consumação<br />

das tentativas. Analisou-se, ainda, a tendência das<br />

internações por tentativa de suicídio no período de 2006 a<br />

2010, com base nos dados do SIH/DATASUS.<br />

O projeto de pesquisa foi avaliado pelo Comitê de Ética<br />

em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia<br />

(CEP/UESB), sendo aprovado com o parecer nº 210/2010.<br />

RESULTADOS<br />

No período 2006 a 2010, foram registrados no município de<br />

Jequié 24 suicídios (taxa média de mortalidade de 3,19 por<br />

100.000 habitantes) e 26 tentativas de suicídio, com média<br />

de 3,45 casos por 100.000 habitantes. Na distribuição ao<br />

longo dos cinco anos, há uma tendência decrescente nos<br />

casos de suicídio, apresentando um pico no ano de 2009<br />

(4,64/100.000) com a maior taxa do período. Em contrapartida,<br />

as tentativas apresentam uma tendência crescente, conforme<br />

a figura 1.<br />

Coeficiente<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

2006 2007 2008 2009 2009 2010<br />

Tentativas<br />

Suicídio<br />

Figura 1. Distribuição do coeficiente de mortalidade por<br />

suicídio e tentativas de suicídio no período de 2006 a 2010<br />

(Jequié/BA, <strong>2011</strong>).<br />

Dentre as tentativas, verificou-se que a maioria, 61,53% (n<br />

= 16), não consumou o ato planejado, geralmente por causa<br />

da intervenção do serviço de resgate e/ou de pessoas da comunidade,<br />

enquanto 30,76% (n = 8) consumaram o ato, mas<br />

não foram a óbito. Ressalta-se que, das tentativas, dois casos<br />

(7,69%) não possuíam informações quanto à consumação<br />

do ato.<br />

Observou-se predominância de suicídio no sexo masculino,<br />

com 87,5% (n = 21), enquanto nas tentativas predominou<br />

o sexo feminino, com 53,4% (n = 14). Assim, a taxa de mor-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):294-300.


artigo original<br />

Tentativas e suicídios em um município da Bahia<br />

297<br />

talidade por suicídio entre os homens foi de 5,71/100.000<br />

e entre as mulheres foi de 0,78/100.000. Já em relação aos<br />

casos de tentativas entre os homens, constatou-se uma taxa<br />

média de 2,71/100.000 e entre as mulheres, de 3,64/100.000.<br />

A proporção de suicídios de mulheres em relação aos homens<br />

foi de 1:4. Em comparação, nas tentativas, a proporção<br />

de homens em relação às mulheres foi de 1:1,4.<br />

No que se refere à idade, verificou-se que, nos casos de<br />

suicídio, houve uma concentração na faixa etária de 40 anos<br />

e mais. Já nos casos de tentativas, concentrou-se entre 20 e<br />

39 anos, conforme se observa na tabela 1. Quanto ao intervalo<br />

entre idade mínima e máxima, encontrou-se uma variação<br />

de 16 a 76 anos para as tentativas e 16 a 77 anos para os<br />

casos de suicídio.<br />

Tabela 1. Distribuição dos casos de tentativas de suicídio e<br />

suicídio, segundo sexo e idade, no período de 2006 a 2010<br />

(Jequié/BA, <strong>2011</strong>)<br />

Características segundo<br />

sexo e idade<br />

Sexo<br />

Tentativas de<br />

suicídio<br />

Evento<br />

Suicídio<br />

Total<br />

N % N % N %<br />

Masculino 10 38,46 21 87,5 31 62<br />

Feminino 14 53,84 3 12,5 17 34<br />

Sem registro 2 7,96 - - 2 4<br />

Faixa etária (em anos)<br />

< 20 2 7,69 3 12,5 5 10<br />

20-30 8 30,77 4 16,67 12 24<br />

30-40 7 26,92 4 16,67 11 22<br />

40-50 6 23,08 8 33,33 14 28<br />

Acima dos 50 anos 1 3,85 5 20,83 6 12<br />

Sem registro 2 7,69 - - 2 4<br />

TOTAL 26 100 24 100 50 100<br />

No que diz respeito à ocupação das vítimas de suicídio,<br />

identificou-se que não havia essa informação no campo correspondente<br />

na DO em 25% (n = 6) dos casos. Nas demais,<br />

12,5% (n = 3) eram estudantes, seguidos de profissionais autônomos,<br />

carpinteiros, comerciantes e trabalhadores rurais,<br />

e cada uma dessas classes correspondia a 8,33% (n = 2). E<br />

com menor percentual, verificaram-se as seguintes ocupações:<br />

agrônomo, aposentado, do lar, funcionário público,<br />

industriá rio, motorista e pedreiro, com 4,16% (n = 1) cada.<br />

Em relação ao campo raça/cor da DO, foram encontrados<br />

41,66% pardos (n = 10), 29,16% brancos (n = 7), 16,66%<br />

ignorados (n = 4) e 12,5% de cor preta (n = 3). Em relação ao<br />

estado civil, prevaleceram os solteiros (41,66%, n = 10), seguidos<br />

dos casos ignorados (41,66%, n = 10) e casados (16,66%,<br />

n = 4). A escolaridade apresentou a maior taxa de não preenchimento<br />

com 91,66% (n = 22) e 8,3% preenchidos com 4 a<br />

7 anos de estudos concluídos (n = 3).<br />

Para o suicídio, os meios utilizados foram enforcamento<br />

58,33% (n = 14), seguido de arma de fogo, envenenamento<br />

e queda de altura, com o mesmo percentual de 12,5% (n = 3)<br />

cada um deles, e queimadura (4,17%, n = 1). Já nos casos das<br />

tentativas, os meios utilizados foram a queda de altura em<br />

69,23% (n = 18) dos casos, seguida de envenenamento, com<br />

23,08% (n = 6) e 7,69% (n = 2) sem informação.<br />

Nos casos de óbitos por suicídio, foram identificadas as<br />

seguintes causas de morte de acordo com a Classificação Internacional<br />

de Doenças, conforme a tabela 2.<br />

Tabela 2. Distribuição da Classificação Internacional de Doenças<br />

(CID-10) nos casos de suicídio, no período de 2006 a 2010 (Jequié/<br />

BA, <strong>2011</strong>)<br />

Classificação Internacional de Doenças – CID-10<br />

Suicídio<br />

N %<br />

X68 Autointoxicação por pesticidas 2 8,33<br />

X69 Autointoxicação por substâncias não especificadas 1 4,17<br />

X70 Lesão autoprovocada intencionalmente por enforcamento 14 58,3<br />

X74 Lesão autoprovocada intencionalmente por disparos de arma de fogo 3 12,5<br />

X76 Lesão autoprovocada intencionalmente pela fumaça, pelo fogo e por chamas 1 4,17<br />

X80 Lesão autoprovocada intencionalmente por precipitação de lugar elevado 3 12,5<br />

TOTAL 24 100<br />

Os suicídios ocorreram com maior frequência no inverno<br />

(29,17%) e no verão (29,17%), principalmente nos dias<br />

de quinta-feira (20,83%), sexta-feira (16,87%) e domingo<br />

(16,87%). Já as tentativas ocorreram, mais frequentemente,<br />

no outono (26,92%) e primavera (26,92%), prevalecendo os<br />

dias de sábado (23,1%) e terça-feira (19,23%).<br />

Em relação aos horários predominantes para o suicídio,<br />

não foi possível essa identificação, pois o horário em que<br />

ocorreu o evento que precipitou o suicídio não constava<br />

no registro da declaração de óbito, mas apenas o horário do<br />

próprio óbito, que nem sempre coincide com o horário do<br />

ato suicida. Quanto às tentativas, estas acontecem, preferencialmente,<br />

nos turnos da manhã (46,15%) e noite (30,77%).<br />

No município, os suicídios ocorrem com maior frequência<br />

em residentes do Centro da cidade (20,83%) e no bairro<br />

do Joaquim Romão (16,67%). Este último é um dos maiores<br />

bairros do município que, por sua grande extensão, abrange<br />

tanto o perímetro central da cidade quanto o periférico;<br />

enquanto as tentativas foram mais frequentes nos bairros<br />

Joaquim Romão (23,08%) e Curral Novo (19,23%), sendo este<br />

último um bairro periférico.<br />

Tal bairro possui uma característica geográfica que merece<br />

destaque no estudo, uma vez que a existência de uma<br />

elevada formação rochosa denominada Pedra do Curral<br />

Novo tem favorecido a acessibilidade para tentativas de<br />

suicídio.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):294-300.


298 Souza VS et al.<br />

artigo original<br />

Nos casos de suicídio, verificou-se uma relação entre<br />

meio utilizado e local da ocorrência. Dentre os casos, 83,33%<br />

(n = 20) ocorreram no domicílio, estando mais relacionados<br />

a enforcamentos (65%), lesões por armas de fogo (15%), envenenamentos<br />

(10%), queimaduras (5%) e queda de altura<br />

(5%). Quanto aos demais locais, 8,33% (n = 2) dos casos de<br />

suicídio ocorreram em decorrência da queda de altura, em<br />

que foi utilizada a formação rochosa existente no município<br />

e 8,33% (n = 2) em local não informado, sendo um caso de<br />

envenenamento e outro de enforcamento.<br />

Nas tentativas, a relação verificada decorreu entre o meio<br />

utilizado e o local de residência. Houve predomínio da precipitação<br />

de altura (69,23%), estando estas relacionadas com<br />

os ambientes próximos ao local de residência, como pontes,<br />

viaduto, telhados, sacadas e mais destacadamente a Pedra<br />

do Curral Novo (61,11%).<br />

Nota-se que, apesar da tendência ascendente nos casos<br />

de tentativa de suicídio, com variação de 2,01/100.000 habitantes<br />

em 2006 para 5,26/100.000 habitantes em 2010, os<br />

dados de internação referente ao mesmo período apresentam<br />

certa linearidade. As taxas anuais foram, respectivamente,<br />

0,67, 1,34, 0,66, 0,0 e 0,65.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os resultados do estudo mostram que a taxa de mortalidade<br />

por suicídio no município apresenta oscilações, variando de<br />

4,02 em 2006 a 1,97 em 2010, com a maior taxa no período<br />

de 4,64 em 2009 e taxa média de 3,19/100.000 habitantes.<br />

No âmbito nacional, outros estudos apresentam a taxa geral<br />

de mortalidade por suicídio, no Brasil, estimada entre 4,1 e<br />

5,7/100.000 12,18-20 , e, no Nordeste, essa taxa varia entre 2,4 e<br />

3,1 suicídios por 100 mil/habitantes 12,20 .<br />

Assim, acompanhando as estimativas nacionais, o município<br />

apresenta uma taxa média de mortalidade baixa,<br />

contudo, de acordo com o perfil epidemiológico da região<br />

Nordeste, essa taxa no município apresenta-se no limiar máximo<br />

para a região, constituindo-se em fator relevante para<br />

o planejamento das políticas públicas e gestão da saúde em<br />

nível local.<br />

Identificou-se que a tentativa de suicídio encontra-se<br />

em ascensão no período estudado, constituindo-se em risco<br />

para o aumento da mortalidade por suicídio. As taxas de<br />

tentativas mais elevadas que as de suicídios convergem com<br />

outros estudos 19,21 , estimando-se que as tentativas de suicídio<br />

sejam 20 vezes mais frequentes do que os suicídios 19 .<br />

Apesar de no Brasil os óbitos associados ao suicídio constarem<br />

nos bancos de dados do SIM, no que se refere às informações<br />

sobre as tentativas de suicídio não há registro ou<br />

notificação sistemática nos serviços de saúde, fazendo-se<br />

necessário consultar informações em outros serviços, como<br />

a Polícia Militar 21 e, neste estudo, o Corpo de Bombeiros.<br />

Mesmo nos casos de suicídio, em que há um sistema de<br />

informação que disponibiliza dados sobre o evento, observam-se<br />

falhas no preenchimento das DOs e lacunas na alimentação<br />

do sistema. Esses fatores geram subnotificação e/<br />

ou discrepâncias entre os dados sobre suicídios nas pesquisas<br />

e aqueles disponibilizados no DATASUS 1,19,20 . Inconsistências<br />

de dados foram identificadas neste estudo ao comparar<br />

o número de casos de suicídio registrados no SIM/DATASUS<br />

de domínio público com os dados do mesmo período, obtidos<br />

diretamente das DOs na 13ª DIRES, onde foi encontrado<br />

um número menor de casos, semelhante ao que foi identificado<br />

no estudo de Parente et al. 20 .<br />

Quanto ao preenchimento das DOs, verificou-se incompletude<br />

de modo geral e, principalmente, nas variáveis raça/<br />

cor (16,66% ignorados), estado civil (41,66% ignorados) e escolaridade<br />

(91,66% ignorados), que apresentaram baixo índice<br />

de completude como também foi observado em outro<br />

estudo 1 . As duas últimas variáveis apresentaram, respectivamente,<br />

o índice de completude ruim (não completude de<br />

20% a 50%) e muito ruim (não completude acima de 50%),<br />

segundo o escore proposto por Romero e Cunha 22 .<br />

Alguns estudos destacam o suicídio como a mais passível<br />

de subestimação entre as causas externas 1,23 de mortalidade,<br />

relacionando-se a vários motivos (religiosos, sociais, culturais,<br />

políticos, econômicos etc.), os quais geram omissão de informações<br />

e subnotificação 1,15,16 . O suicídio apresenta um dos<br />

piores índices de preenchimento das DOs, de acordo com<br />

o estudo de Macente e Zandonade 1 , que realizaram uma<br />

avaliação da completude do sistema de informação sobre<br />

mortalidade por suicídio.<br />

No que se refere ao perfil dos casos de suicídio e de tentativas,<br />

verificaram-se significativas diferenças, principalmente<br />

em relação às características sexo, idade e meios utilizados,<br />

que convergem com os resultados encontrados por Macente<br />

et al. 21 . Quanto ao sexo, os resultados estão em conformidade<br />

com a produção científica, ocorrendo o predomínio<br />

de suicídio no sexo masculino 5,12,19-21,24-27 , com proporção de<br />

quatro casos masculinos para um feminino, corroborando o<br />

estudo de Viana et al. 24 , enquanto as tentativas ocorrem mais<br />

destacadamente entre o sexo feminino 13,19,21,28 .<br />

Em relação à idade, as tentativas são mais comuns entre<br />

os jovens, enquanto o suicídio é mais frequente entre a população<br />

acima de 40 anos, também identificado em outros<br />

estudos 9,12,13,19,21-26,28 . Isso reflete a influência que os fatores socioeconômicos<br />

e psicossociais 19 relacionados às fases do ciclo<br />

vital exercem sobre a tentativa de suicídio, mais comum<br />

em adultos jovens 9,13,28 , enquanto a consumação com êxito<br />

se observa mais nas idades avançadas 12,19,21,24-26 .<br />

Nota-se uma relação entre os meios utilizados e o índice<br />

de letalidade 19 , tendo em vista que, nos suicídios, o meio<br />

mais utilizado foi o enforcamento (58,33%) 12,19-21,24-27 , enquanto<br />

nas tentativas os meios mais utilizados foram a ameaça<br />

de precipitação de altura (69,23%) e o envenenamento<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):294-300.


artigo original<br />

Tentativas e suicídios em um município da Bahia<br />

299<br />

(23,08%), aproximando-se de outros estudos com resultados<br />

semelhantes 12,19,20,24-26,28, . A ameaça de precipitação de altura<br />

como meio mais utilizado nas tentativas merece destaque,<br />

pois 61,11% ocorreram em uma elevação rochosa no município,<br />

sugerindo que os fatores geográficos podem favorecer<br />

a escolha do método.<br />

Ainda em relação às tentativas na elevação rochosa, observou-se<br />

que, nos casos em que houve intervenção da equipe<br />

de resgate, foi possível evitar a precipitação, por causa do<br />

treinamento específico que o Corpo de Bombeiros possui<br />

para esse tipo de intervenção. Isso reforça a necessidade de<br />

que as equipes do SAMU também sejam qualificadas para o<br />

atendimento às tentativas de suicídio em lugares de risco.<br />

Verificou-se que nas tentativas as intervenções foram realizadas<br />

pela equipe de bombeiros e população local (religiosos,<br />

familiares, vizinhos, amigos e pessoas que passavam no<br />

local). Logo, o papel das equipes de saúde restringiu-se à<br />

prestação de atendimento nos casos de lesão física em consequência<br />

da efetivação do plano suicida.<br />

Os meios utilizados estão associados ao perfil das pessoas<br />

que cometem e tentam o suicídio, principalmente ao<br />

sexo e idade. A maioria dos que obtêm sucesso é de homens<br />

com faixa etária de mais idade 19,26 , logo utilizam meios mais<br />

violentos e letais, como enforcamento e disparo de arma de<br />

fogo 24,25,27 , enquanto nas tentativas a maioria é de mulheres<br />

e jovens 26 , que escolhem métodos mais suaves e lentos, com<br />

destaque para o envenenamento e a queda de altura 19,21 . Tais<br />

características perpassam os signos da masculinidade e da<br />

feminilidade e relacionam-se à produção de sentidos acerca<br />

do suicídio e da tentativa, para ambos os sexos 21,29 .<br />

Aos meios utilizados relacionou-se, ainda, o local do<br />

evento e residência. Estes, por sua vez, possuem influência,<br />

respectivamente, sobre a disponibilidade e a acessibilidade<br />

aos meios 19 . Observou-se que 83,33% dos suicídios ocorreram<br />

na residência 12,25 , por meio de enforcamento (65%),<br />

seguido de disparos de arma de fogo, envenenamentos e<br />

queda de altura, convergindo com outros estudos 12,25 . Nesse<br />

sentido, as equipes de saúde da família e de saúde mental<br />

podem ser capacitadas para a identificação das pessoas e<br />

grupos vulneráveis ao evento, a fim de orientar as famílias e<br />

pessoas que convivem com tais grupos, visando à vigilância<br />

e à prevenção do evento 14,30 .<br />

Em relação às tentativas, o meio mais utilizado foi a precipitação<br />

de altura (69,23%) 19,21 , estando relacionadas aos<br />

ambientes próximos da residência, como pontes, viaduto,<br />

telhados, sacadas e, mais destacadamente, a Pedra do Curral<br />

Novo (61,11%). O fato de ocorrerem em locais públicos favorece<br />

a intervenção em tempo oportuno, enquanto os casos<br />

que ocorrem no domicílio, na maioria das vezes, não são percebidos<br />

antes da consumação do ato. Nos casos de tentativa<br />

no domicílio, a intervenção ocorre após o dano, como nas<br />

tentativas por ingestão de substâncias químicas e medicamentos<br />

(30,77%).<br />

No que se refere aos dias da semana, constatou-se que,<br />

no suicídio, houve maior concentração na quinta-feira, seguida<br />

da sexta-feira e do domingo, convergindo com outro<br />

estudo em relação à sexta-feira 21 . Nas tentativas, essa concentração<br />

ocorreu no sábado, seguido da terça-feira. Os turnos<br />

de maior ocorrência das tentativas são as manhãs e as<br />

noites, percebendo-se que no período da manhã ocorreram,<br />

principalmente, as tentativas por precipitação de altura.<br />

Quanto à morbidade por tentativas de suicídio, ao investigar<br />

os registros do SIH, encontrou-se discrepância em<br />

relação à característica ascendente das tentativas. Apenas<br />

os casos mais graves levam à internação hospitalar, sendo<br />

a maioria dos casos atendida nas emergências, o que acaba<br />

não gerando AIHs 21 .<br />

Assim, os dados de internação obtidos no Sistema de Informação<br />

Hospitalar, referentes a 2009, destoam dos dados<br />

de mortalidade e tentativas encontrados no estudo, pois<br />

esse foi o ano que apresentou maior taxa de mortalidade<br />

(4,64/100.000 habitantes) e a segunda maior taxa de tentativas,<br />

enquanto as internações registradas decorrentes das tentativas<br />

de suicídio, no ano de 2009, apresentaram taxa zero.<br />

Dentre as limitações do estudo, destaca-se a escassez de<br />

dados oficiais sobre tentativas de suicídio, que levou à restrição<br />

da utilização aos casos atendidos pelo Corpo de Bombeiros.<br />

Ao observar que muitas intervenções são feitas por<br />

populares, amigos e familiares das vítimas, ou pelas equipes<br />

de Saúde Mental, Saúde da Família e Serviço Pré-hospitalar,<br />

considera-se uma provável subestimação de casos.<br />

Outra limitação diz respeito à impossibilidade de verificação<br />

das reincidências dos casos, dado o caráter transversal<br />

do estudo. Logo, faz-se necessário desenvolver pesquisas,<br />

com maior amplitude e utilização de fontes de dados diversas,<br />

que apresentem uma caracterização mais fidedigna<br />

do perfil de tentativas, bem como a correlação destas com<br />

transtornos psiquiátricos e uso de substâncias psicoativas.<br />

Além disso, percebe-se grande lacuna de conhecimento<br />

no que se refere aos estudos sobre suicídio e tentativas<br />

de suicídio na região Nordeste, bem como pesquisas em<br />

municípios de pequeno e médio porte. Assim, este estudo<br />

visa contribuir com a construção de conhecimento nessa<br />

perspectiva e também apontar para a necessidade de novos<br />

estudos na área.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os resultados apontam para a diferenciação entre as características<br />

do perfil das tentativas de suicídio e mortalidade por<br />

suicídio, especialmente segundo o sexo, faixa etária e meios<br />

utilizados. As tentativas são mais frequentes entre as mulheres<br />

jovens, por meio da precipitação de altura ou outros métodos<br />

que não levam à morte imediata, sendo a maioria em<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):294-300.


300 Souza VS et al.<br />

artigo original<br />

locais públicos, onde a atuação dos serviços tem conseguido<br />

diminuir a consumação do ato. Quanto aos suicídios, acontecem<br />

entre homens acima de 40 anos, por enforcamento,<br />

escolhendo o domicílio como local para a sua consumação,<br />

o que dificulta a intervenção.<br />

Os dados de mortalidade por suicídio entre os anos de<br />

2006 e 2009, no município, encontram-se em consonância<br />

com as estatísticas da região Nordeste e abaixo das taxas<br />

nacionais de suicídio. Quanto aos dados encontrados, verificou-se<br />

a incompletude no preenchimento das DOs, principalmente<br />

em relação à escolaridade, estado civil e raça/cor.<br />

Além disso, foi identificada a necessidade da melhoria dos<br />

registros oficiais, dos serviços de saúde, especialmente, em<br />

relação às tentativas.<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):294-300.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Cardio-respiratory symptoms in panic disorder: a<br />

contribution from cognitive-behaviour therapy<br />

Sintomas cardiorrespiratórios no transtorno de pânico: uma<br />

contribuição da terapia cognitivo-comportamental<br />

Anna Lucia Spear King 1 , Adriana Cardoso de Oliveira e Silva 2 , Alexandre Martins Valencça 3 , Antonio Egidio Nardi 4<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Panic, anxiety, phobia,<br />

exposures.<br />

Palavras-chave<br />

Pânico, ansiedade, fobia,<br />

exposições.<br />

Objective: To compare patients with panic disorder with agoraphobia treated with cognitive-<br />

-behavioural therapy (CBT) associated with the medication with patients treated only with medication<br />

and verify the behaviour of the cardio-respiratory symptoms of both groups. Methods:<br />

Randomized sample in the Psychiatry Institute of the Federal University of Rio de Janeiro, divided in<br />

two groups of 25 participants each. Group 1 undertook 10 weekly sessions of CBT with one hour of<br />

duration each together with medication. Group 2, Control, were administered medication that only<br />

consisted of tricyclic anti-depressants and selective inhibitors of the re-uptake of serotonin. Evaluation<br />

instruments were applied at the beginning and to the end of the interventions. Results: According<br />

to the applied scales, group 1 showed statistically more significant results than group 2, with:<br />

reduction of panic attacks, cardio-respiratory symptoms, anticipatory anxiety, agoraphobia avoidance<br />

and fear of bodily sensations. Conclusion: Exposures (in vivo and interoceptive), especially<br />

for induction symptom exercises and relaxation, were considered essential to prepare patients with<br />

panic disorder to handle future cardio-respiratory symptoms and panic attacks with agoraphobia.<br />

RESUMO<br />

Objetivo: Comparar pacientes com transtorno de pânico com agorafobia, tratados com<br />

terapia cognitivo-comportamental (TCC) e medicação, com pacientes com o mesmo diagnóstico,<br />

tratados apenas com medicação, e verificar o comportamento dos sintomas cardiorrespiratórios<br />

em ambos os grupos. Métodos: Amostra randomizada com 50 voluntários<br />

diagnosticados no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dividida<br />

em dois grupos de 25 pacientes: o grupo 1 realizou 10 sessões semanais e individuais de TCC<br />

com uma hora de duração combinada com medicação. O grupo 2, controle, foi tratado apenas<br />

com medicação. A medicação para ambos os grupos consistiu de antidepressivos tricíclicos<br />

e inibidores seletivos de recaptação da serotonina. Instrumentos de avaliação foram aplicados<br />

no início e ao final das intervenções. Resultados: De acordo com as escalas aplicadas,<br />

o grupo 1 apresentou resultados estatisticamente mais significativos do que o grupo 2, com<br />

redução dos ataques de pânico, dos sintomas cardiorrespiratórios, ansiedade antecipatória,<br />

esquiva agorafobia e medo das sensações corporais. Conclusão: As exposições (in vivo e interoceptivas)<br />

e os exercícios de indução dos sintomas e de relaxamento foram considerados<br />

essenciais para os pacientes aprenderem a lidar com o transtorno de pânico, com os ataques<br />

e com as possíveis situações agorafóbicas futuras.<br />

Recebido em<br />

10/2/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

1/6/<strong>2011</strong><br />

1 Federal University of Rio de Janeiro (<strong>UFRJ</strong>), Psychiatry Institute (<strong>IPUB</strong>), Panic and Respiration Laboratory (LABPR), National Institute of<br />

Technological Science – Translational Medicine (INCT – Translational Medicine/CNPq), Rio de Janeiro, Brazil.<br />

2 Federal University Fluminense (UFF), Laboratory of Thanatology and Psychometrics, LABPR/<strong>IPUB</strong>/<strong>UFRJ</strong> – INCT-TM.<br />

3 UFF, Medical Sciences Centre, LABPR/<strong>IPUB</strong>/<strong>UFRJ</strong> – INCT-TM/CNPq.<br />

4 LABPR/<strong>IPUB</strong>/<strong>UFRJ</strong> – INCT-TM/CNPq.<br />

Address for correspondence: Anna Lucia Spear King<br />

Rua Almirante Gomes Pereira, 8 (casa), Urca – 22291-170 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil<br />

Tel.: (55 21) 2295-4477/(55 21) 9219-1233<br />

E-mail: annaluciaking@gmail.com


302 King ALS et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

INTRODUCTION<br />

Panic disorder (PD) 1 is characterized by the presence of frequent<br />

and recurrent acute attacks of anxiety, followed by<br />

physical and cognitive symptoms originating from mistaken<br />

associations of body sensations (BS) related to a premonition<br />

of something serious or of some potential illness. According to<br />

the cognitive theory 2 , due to this cognitive distortion, the individual<br />

assumes a badly adapted level of behaviour and loses<br />

the capability of identifying BS as natural forms of reactions<br />

stemming from the physiological mechanisms of adaptation 3 .<br />

We hypothesized that patients with panic disorder may<br />

reduce their number of panic attacks after the cognitive behavioural<br />

therapy (CBT) 4 sessions with symptom induction<br />

exercises (SIE) 5 and can also learn to deal with the cardiorespiratory<br />

symptoms such as tachycardia and abnormal<br />

breathing.<br />

Individuals with PD fear BS, and frequently suffer from<br />

panic attacks 6 (PAs) in certain stressful situations. PAs are described<br />

as traumatic, aggressive, and unpredictable.<br />

CBT 4 has the characteristic of being a short and well<br />

recom mended type of psychotherapy for the treatment<br />

of PD. Its methods include psycho education (educational<br />

techniques for the individual to learn to deal with anxiety<br />

and ample knowledge by the patient of the disorder in question),<br />

respiratory re-education (RR) exercises; progressive<br />

muscular relaxation (PMR) and cognitive restructuring (CR),<br />

which consists of giving a new meaning to the mistaken<br />

thought levels, are procedures of great importance in CBT.<br />

Finally, Interceptive exposure (IE) techniques have the objective<br />

of correcting catastrophic interpretations of the physical<br />

symptoms (bodily sensations) experienced by the patient. In<br />

vivo exposure (IVE) of the individual to feared places or situations<br />

is considered to be the primary intervention applied<br />

in the treatment, so that the patient with PD can overcome<br />

agoraphobic avoidance 7 .<br />

During the patient’s treatment, the techniques of IE<br />

and IVE are intended to interact to assist in the remission of<br />

the components of cognitive dysfunctions that are linked<br />

to agora phobic avoidance and to autonomic symptoms<br />

verified in PD. According to Rangé 8 , CBT is very efficient<br />

when compared to placebo, psychopharmacological treatments<br />

9,10 , and other forms of psychotherapy. However, some<br />

studies 11,12 have shown a good clinical response of panic disorder<br />

only to psychopharmacological treatment.<br />

IE and IVE can be administered by means of SIE and personal<br />

contact of the person with places and situations that<br />

the person has specifically defined as stressful. The successful<br />

overcoming of the initial stages of the treatment by the<br />

patient is required for the success of the subsequent steps.<br />

From the application of these exposures, the patient builds<br />

new internal defences that make him or her capable of staying<br />

naturally in prolonged contact with their own BS.<br />

The objective of this study is to compare PD patients<br />

treated with CBT associated with antipanic medication and<br />

patients treated only with antipanic medication and observe<br />

the evolution of cardio-respiratory symptoms in both groups.<br />

METHODOLOGY<br />

Patient selection<br />

For inclusion in the research the criteria adopted was, patients<br />

over 18 years old of both sexes with a diagnosis of PD<br />

with agoraphobia and no serious comorbidities. Patients<br />

that showed alcohol or drug dependency, mental retard, or<br />

serious mental disorders were excluded from the study. The<br />

randomized controlled trials were undertaken at the Panic<br />

and Respiration Laboratory (LABPR) at the Psychiatry Institute<br />

(<strong>IPUB</strong>) of the Federal University of Rio de Janeiro (<strong>UFRJ</strong>)<br />

and National Institute of Technologic Science – Translational<br />

Medicine (INCT-TM).<br />

All patients who agreed to participate in the study signed<br />

a “Term of Free and Clarified Consent” and were made aware<br />

of all the procedures to be undertaken, as approved by the<br />

Committee of Ethics for the research <strong>IPUB</strong>/<strong>UFRJ</strong>.<br />

Patients with PD with agoraphobia were diagnosed by<br />

clinical psychiatrists from the team at the LABPR/<strong>IPUB</strong>/<strong>UFRJ</strong>,<br />

according to the diagnostic criteria of the Manual of Diagnostic<br />

and Statistics of Mental Disorder 1 and the Structured<br />

Clinical Interview Diagnostic (SCID-I) evaluation instrument 13 .<br />

The sample consisted of 50 voluntary patients divided<br />

into two groups by means of a random draw. The first group<br />

(n = 25) received 10 sessions of CBT in conjunction with<br />

pharmacotherapy. The second group, the control group (n<br />

= 25), received only medication. The patients started on concomitant<br />

medication and CBT.<br />

We found that there was no loss in the sample. Fifty two<br />

volunteers were evaluated in the total survey. Of all the study<br />

volunteers, only two dropped out. We noted that all the remaining<br />

volunteers felt welcome and receptive to the study<br />

from the beginning and therefore continued till the end.<br />

Of the two who dropped out, one was due to travel and<br />

the other just dropped without any explanation. The raters<br />

were blind to refer patients to one group or another.<br />

Variables before and after treatment were collected by<br />

the same psychologist evaluator with training in cognitive<br />

behavioural therapy, the same professional also implemented<br />

all the scales and questionnaires. This professional psychologist<br />

received supervision from a multidisciplinary team<br />

from the LABPR/<strong>IPUB</strong>/<strong>UFRJ</strong>.<br />

Patient evaluation<br />

With a view to comparing the results of the groups after the<br />

interventions, the following evaluation instruments were ap-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):301-8.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Panic and cardio-respiratory symptoms<br />

303<br />

plied at the beginning and at the end of the research: Beck<br />

Anxiety Inventory 14 ; Sheehan Disability Scale 15 ; Global Assessment<br />

of Functioning (AXIS V) 13 ; questionnaire of fears and phobias<br />

16 ; questionnaire of cognitive agoraphobias 17 ; questionnaire<br />

of body sensations 17 ; and Panic and Agoraphobia Scale 18 .<br />

The scales used in the study sought to assess anxiety,<br />

fears, phobias, bodily sensations, and the individual’s ability<br />

to work, to relate socially and with his or her family, among<br />

others. The scales were selected in order to answer the questions<br />

inherent in the study. Assessments were made only at<br />

the beginning and at the end of the study, there being no<br />

application of scales during treatment.<br />

Pharmacotherapy<br />

Tricyclic anti-depressants (TAD) or selective serotonin reuptake<br />

inhibitors (SSRI) were prescribed with fortnightly reevaluation<br />

and/or sending to CBT treatment. The SSRI used<br />

in this study was paroxetine 20 mg once daily and 150 mg of<br />

TAD imipramine was also administered once daily.<br />

Patients were not receiving medication before the study<br />

and began to use it from the beginning of the study. The psychiatrist<br />

after the collection of personal records and the data<br />

obtained in SCID was able to make a diagnosis from clinical<br />

signs and prescribe the medication best suited, TAD or SSRI.<br />

Cognitive-behavioural therapy<br />

The 10 CBT sessions were based on an earlier study 19 with<br />

some modifications and adaptations appropriate to the<br />

characteristics of patient population being studied. The contents<br />

of the sessions were distributed in the following way:<br />

psycho education, agoraphobia, panic, and hyperventilation;<br />

respiratory re-education (RR) exercises; progressive muscular<br />

relaxation (PMR) 20 exercises; preparation of a scale of patient<br />

fears, ordered from the smallest to the greatest cause<br />

of anxiety; identification of cognitive distortions; cognitive<br />

restructuring (CR); symptom induction exercises (SIE); IE; IVE;<br />

reinforcement of conquests; observation of procedural difficulties;<br />

and maintenance of treatment gains.<br />

Patients were encouraged to apply cognitive strategies<br />

at home (for example, to expose themselves to changes of<br />

temperature, physical exercise, and other sources of anxiety)<br />

several times, with the purpose of inducing and tolerating<br />

the sensations without therapeutic assistance. Learning in<br />

the first treatment phase of the treatment that body sensations<br />

related to panic are not really dangerous is essential to<br />

overcoming agoraphobia and controlling panic.<br />

Standard model of the 10 CBT sessions<br />

First session: Psycho education concerning the trajectory<br />

of PD and relaxation techniques. RR exercise: Placing ones<br />

hand above ones stomach, feeling the air passing through<br />

the diaphragm, with perception of the abdominal movement<br />

at each respiration. Slow inspiration through the nose<br />

while counting to three, holding the respiration while counting<br />

to three, and releasing the air slowly through the mouth<br />

while counting to six. Repetition of the exercise several times<br />

in a row. PMR is undertaken with the individual, whereby the<br />

individual respectively tenses and relaxes each of four muscle<br />

groups (face; arms, shoulders, chest, and neck; abdomen,<br />

spine, and genitals; legs and feet) for ten seconds each of<br />

tensioning and relaxing.<br />

Second S<br />

Session: Explanation concerning the physiological mechanism<br />

of “fight and flight” 3 , and verification of the similarity<br />

between the sensation originating from this mechanism and<br />

BS that emerge from panic. Conducting the RR exercise. The<br />

patient should understand that when one manages to alter<br />

thoughts referring to the capacity to deal with feared situations,<br />

one is capable of controlling physical symptoms.<br />

Third session: Modelling of hyperventilation, as delineated<br />

by the exaggerated rhythm and depth of respiration in<br />

the context of the needs of the body at a given moment. Hyperventilation<br />

modelling 5 as the patient inspires and expires<br />

deeply for 90 seconds, observation of patient reactions and<br />

explanation of the reason for the emerging symptoms. Conducting<br />

the RR exercise. The patient should understand that<br />

anticipated anxiety is characterized by anticipatory thought<br />

processes (generally negative) of feared situations.<br />

Fourth session: SIE: sitting, the patient looks fixedly<br />

at a light for one minute and afterwards stands up quickly<br />

and tries to read something. Analysis with the patient of the<br />

sensations felt and the levels of negative, catastrophic, and<br />

repetitive thoughts that have occurred. The patient begins<br />

to understand the origin of their symptoms and to perceive<br />

them as inoffensive. Conducting the RR exercise.<br />

Fifth session: Explanation of the concepts of BS that<br />

can be accentuated due to a situation or to substances. Examples<br />

include: exercising oneself or moving oneself quickly,<br />

brusque changes of temperature, bright light, and use of caffeine,<br />

alcohol, medicines, and irregular levels of respiration 8 .<br />

Conducting SIE: turning around in circles for one minute, and<br />

understanding and giving a new positive significance to the<br />

reactions verified after stopping. Conducting the RR exercise<br />

immediately after IE.<br />

Sixth session: Patient complaints during PAs included:<br />

“I cannot breathe”, “I am going to suffocate”, “I am going to<br />

lose control”, “I am going to die”, “I am going to have a heart<br />

attack” or I am going mad”. The concepts of hyperventilation<br />

are remembered and SIE from the 4 th session is repeated, followed<br />

by the RR exercise.<br />

Seventh session: Education concerning CR. The patient<br />

should try to identify and give a new significance to specific<br />

badly-adapted thoughts. The concepts of anticipated an-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):301-8.


304 King ALS et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

xiety (AA) and agoraphobic avoidance (PA-aa) 7 are clarified.<br />

Patients have the custom of myths in relation to PA, including<br />

but not limited to: the patient is instructed to question<br />

and contest his or her conjectures and beliefs, concentrate<br />

on realistic probabilities, and gather evidence and formulas<br />

to deal with events.<br />

Eighth session: The IE refers to the fear learned from internal<br />

states. Certain sensations of terror, similar to previously<br />

experienced fear, may precipitate new Pas 6 . The automatic<br />

stimulus generated intensifies the feared sensations, creating<br />

a vicious circle. Conduct two SIEs: first, the patient sits<br />

down and places their head between their legs for 30 seconds,<br />

after which they sit up quickly and look to the ceiling.<br />

Second, the patient holds their breath until it can no longer<br />

be held while turning around in circles for 30 seconds. In<br />

continuity, analysis of the symptoms and trying to understand<br />

the originating causes. RR exercise is conducted.<br />

Ninth session: Conduct three SIEs: first, repeat the SIE<br />

from the 5 th session. Then follow the first SIE with the two<br />

SIEs from the 8 th session. Subsequently conduct the RR exercise.<br />

The purpose for the patient is to associate the symptom<br />

with the cause. Explain that the symptoms emerge from<br />

physiological alterations triggered for some reason, and that<br />

BS do not emerge from nowhere, with no apparent reason.<br />

Before CBT, the patient would make distorted associations<br />

of facts, interpreting tachycardia, perspiration, and loss of<br />

breath, among others, as signs of imminent death or loss of<br />

control, and not as resulting from specific triggering factors.<br />

Tenth session: Conduct one SIE: the patient standing<br />

up and turns his or her head from side to side for 30 seconds,<br />

stops, and tries to fix his or her eyes on a spot on the wall.<br />

Repeat this exercise after the SIE from the third session, in<br />

continuity; recover the patient’s physical balance and respiration<br />

with RR or PMR exercises. Evaluate the IVE concept regarding<br />

confronting the patient with agoraphobic situations<br />

or locations. Real confrontation with the feared situation was<br />

repeated with each item on the priority list of each patient’s<br />

fears, beginning with the least anxiety-provoking and culminating<br />

with the most feared. Patients were asked to practice<br />

IVE whenever possible. The IVEs conducted were reviewed,<br />

practical repetitions were encouraged, and difficulties in the<br />

procedures were discussed with each patient.<br />

The therapist stimulated thoughts concerning the avoided<br />

tasks and helped the patients with CR. The fact was<br />

commented upon that additional diagnostics, including comorbidities<br />

such as depression, generalized anxiety and social<br />

phobia, tended to decline after PD treatment. The therapist<br />

also reaffirmed that the fear response was inoffensive,<br />

passing, and controllable, and that BS appear and disappear<br />

and do no need to be actively avoided.<br />

After the end of all the stages of the research, the two<br />

groups were re-evaluated with the same initial instruments.<br />

The groups were compared, and the changes that had occurred,<br />

relative benefits, losses, and differences between the<br />

two groups were observed and documented.<br />

Statistical analysis<br />

Inferential analysis of the results was undertaken by means of<br />

Chi-square tests for several categories and analysis of variance<br />

(ANOVA) for the continuous variables, considering the<br />

differences between the averages of the scores obtained by<br />

the participants at the beginning and the end of treatment,<br />

in each of the separate evaluator instruments. In the characterization<br />

of the groups, the tests were undertaken with the<br />

values identified at the beginning of treatment. Thus, the<br />

effi ciency of the initiatives undertaken could be perceived.<br />

The confidence interval was arbitrated at 95% and p-valu es<br />

≤ 0.05 were considered significant. Data processing and<br />

analysis were conducted using SPSS software (version 14.0).<br />

RESULTS<br />

Patient characteristic<br />

Table 1 presents the socio-demographic and clinical features<br />

of the general population and clinical comorbidity (both<br />

groups).<br />

Administered pharmacotherapy: in the intervention<br />

group 44% of patients were using TAD and 56% used SSRI,<br />

while in the control group we observed 64% of patients with<br />

TAD and 36% with SSRI.<br />

Age of the participants<br />

Group 1 and group 2 (control) differed significantly in age.<br />

The minimum age for both groups was 22 and the maximum<br />

was over 55 years old. However, the average age for the<br />

group 1 was 44.5 (standard deviation, SD = 12.8; confidence<br />

interval (CI) (95%) = 39.0 – 49.8) and for the Control group<br />

(2) was 33.7 (SD = 9.6; CI (95%) = 29.7-37.7). The analysis of<br />

variance (ANOVA) test of means showed 0.000 significance,<br />

which is lower than the p – value 0.05, with 95% confidence.<br />

Test results<br />

At the end of the study, cardio-respiratory symptoms, PAs,<br />

anticipated anxiety, agoraphobic avoidances and fear of BS<br />

were significantly reduced in group 1 compared to group<br />

2 (Table 2). In the global assessment of functioning scale,<br />

group 1 increased its overall well-being from 60.8 to 72.5,<br />

while overall well-being in group 2 progressed, but to a<br />

slightly lesser extent, 66.0% to 71.3%. In the respiratory<br />

subtype 21 PAs, the following respiratory symptoms were<br />

prominent during PAs: sensation of suffocation, respiratory<br />

difficulty, paresthesias, dizziness, and fear of death 22 . It was<br />

observed that 77.6% of the surveyed patient population<br />

presented the respiratory subtype and 22.4% presented the<br />

non-respiratory subtype.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):301-8.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Panic and cardio-respiratory symptoms<br />

305<br />

Table 1. Socio-demographic and clinical descriptions of the<br />

general population<br />

n<br />

% or<br />

Mean (Standard<br />

Deviation)<br />

Age 50 39,08 (± 12,46)<br />

Minimum = 22;<br />

Maximum = 67<br />

Sex<br />

Male 39 78%<br />

Female 11 22%<br />

Marital status<br />

Single 18 36%<br />

Married 21 42%<br />

Separated 11 11%<br />

Religion<br />

Roman catholic 31 62%<br />

Evangelical 11 22%<br />

Other 8 16%<br />

Schooling<br />

First grade 14 28%<br />

Second grade 19 38%<br />

Higher education 17 34%<br />

Years of study 50 11,82 (± 3,39)<br />

Minimum = 6;<br />

Maximum = 20<br />

Occupational situation<br />

Working 27 54%<br />

Away from work/on leave from work 10 20%<br />

Other 13 26%<br />

Subtype of PD<br />

Non-respiratory 14 28%<br />

Respiratory 36 72%<br />

Clinical comorbidity<br />

No 21 42%<br />

Yes 29 58%<br />

Psychiatric comorbidity<br />

No 26 52%<br />

Yes 24 48%<br />

The combination of CBT with pharmacotherapy was<br />

efficacious for Group 1, compared to the control group 2.<br />

The results of these tests were classified, according to sociodemographic<br />

data, presence of patients with physical and<br />

psychic comorbidity, and administration of medication.<br />

The test results of group 1 are summarized in table 2. Of<br />

the tests applied, 6 (67%) showed positive results in group<br />

1. In the scale of panic and agoraphobia, anticipated anxiety<br />

symptoms were satisfactorily reduced from 2.9 to 2.1;<br />

PAs were reduced from 1.4 to 0.7; agoraphobic avoidance<br />

was reduced from 2.4 to 1.6. In scale of Global Assessment<br />

of Functioning (GAF) 1 , which was scored from 0 to 100 and<br />

considered psychological, social, and occupational function<br />

in a hypothetical continuum, group 1 obtained a significant<br />

statistical increase in global well-being from 60.8 to 72.5.<br />

Patients in group 1 showed a reduced loss of control from<br />

2.8 to 2.1, and reduced fears of physical problems from 2.6 to 2.0,<br />

as evaluated by the agoraphobic cognitions questionnaire 17 .<br />

Patients in group 1 also showed reduction in general anxiety<br />

from 34.9 to 20.0, as evaluated by the Beck Anxiety Inventory 14 ;<br />

and reductions in individual work disability from 5.2 to 0.4; in social<br />

life disability from 4.8 to 2.2, and in family life disability from<br />

4.6 to 1.8, as evaluated by the Sheehan Disability Scale 15 . Overall,<br />

personal disability in Group 1 was reduced from 14.6 to 4.4.<br />

Symptoms in group 1 resulting from PD (including tachycardia,<br />

breathlessness, dizziness, tingling, nausea, perspiration,<br />

and disorientation, among others), was verified through<br />

the application of the Body Sensation questionnaire 17 . The<br />

results showed a general reduction from 3.1 to 2.4.<br />

PA in group 1 was reduced from 1.4 to 0.7, in avoidance<br />

agoraphobia was reduced from 2.4 to 1.6, and anticipated<br />

anxiety was reduced from 2.9 to 2.1, as evaluated by the<br />

panic and agoraphobia scale 18 . Overall, group 1 reduced the<br />

main behaviours verified in PD from 27.9 to 18.6.<br />

Group 2 did not show significant statistical differences<br />

between the beginning and the end of the treatment. The<br />

results of the Sheehan scale showed that the only revea ling<br />

factor leading to comprehension of the difference in the<br />

Sheehan total and Sheehan work value scales is the strong<br />

independent association of the Sheehan work value scale<br />

with psychiatric comorbidity, when controlled for by the<br />

other variables.<br />

It is worth noting that group 2 (the control group) has<br />

more individuals with psychiatric comorbidities than group 1.<br />

This may explain the distinct difference between the Sheehan<br />

total and Sheehan work results.<br />

The psychiatric comorbidity of depression is responsible<br />

for depressive symptoms that can interfere in the professional<br />

work and social life of the individual.<br />

The Sheehan scale showed significant variation in relation<br />

to family when the final averages of group 1 and group<br />

2 were compared. However, this variation is no longer relevant<br />

when the results are controlled against the other variables.<br />

If there are real differences between group 1 and group<br />

2, they may be due simply to pharmacotherapy, with or without<br />

CBT.<br />

The group receiving medication alone had fortnightly<br />

contact with the psychiatrist as well as with the psychologist<br />

for progress of treatment monitoring. We truly believe that<br />

this group was at a disadvantage compared to the group<br />

that received 10 sessions of CBT, borne out in final results of<br />

the study, from the benefits achieved in a number of aspects<br />

with exposure to CBT, such as reduction of panic attacks, reduction<br />

in hyperventilation and cardio-respiratory symptoms<br />

and learning about the restructuring of negative thoughts,<br />

among others. The study was relevant in demonstrating the<br />

important role of CBT in the treatment of panic disorder.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):301-8.


306 King ALS et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

Table 2. Comparison between the Intervention and Control groups percentage of responders at the end of treatment period<br />

Tests<br />

Group 1 (G1)<br />

Group 2 (G2)<br />

Sig Dif.**<br />

Baseline 1 Week Baseline 1 Week<br />

Sig Dif.** G1 (%) G2 (%) Sig Dif.**<br />

BAI (Beck Anxiety Inventory) 34.9 ± 11.2 20.0 ± 7.3 0.001 29.3 ± 15.3 26.8 ± 12.0 0.531 60 56 0.116<br />

Sheehan Disability Scale – Total 14.6 ± 3.2 4.4 ± 0.8 < 0.001 13.2 ± 4.3 10.3 ± 4.2 0.228 44 36 0.013<br />

Sheehan Work 5.2 ± 1.1 0.4 ± 0.1 < 0.001 4.0 ± 1.6 3.0 ± 1.8 0.290 52 60 0.001<br />

Sheehan Social 4.8 ± 2.0 2.2 ± 0.6 0.009 4.7 ± 2.0 3.5 ± 2.0 0.195 32 28 0.179<br />

Sheehan Family 4.6 ± 1.9 1.8 ± 0.8 0.005 4.5 ± 1.2 3.8 ± 1.5 0.451 48 44 0.035<br />

Phobic Fear Questionnaire (PFQ) – Total 49.4 ± 17.2 38.3 ± 9.7 0.186 44.6 ± 5.8 39.5 ± 13.2 0.491 56 60 0.872<br />

PFQ – Agoraphobia Score 20.2 ± 3.3 14.7 ± 3.5 0.132 14.1 ± 2.8 14.1 ± 5.7 0.990 64 68 0.860<br />

PFQ – Blood Score 15.6 ± 3.8 11.6 ± 1.8 0.207 15.6 ± 4.8 13.8 ± 3.9 0.531 48 40 0.431<br />

PFQ – Sociability Score 13.7 ± 4.2 12.0 ± 2.1 0.584 14.9 ± 5.0 11.6 ± 5.4 0.118 52 60 0.882<br />

Agoraphobic Cognitions Questionnaire (ACQ) 2.7 ± 0.5 2.1 ± 0.8 0.012 3.9 ± 2.1 2.3 ± 1.3 0.283 60 52 0.233<br />

ACQ – Loss of Control 2.8 ± 1.4 2.1 ± 1.0 0.021 2.3 ± 1.2 2.3 ± 1.2 0.852 68 76 0.384<br />

ACQ – Physical Problems 2.6 ± 0.6 2.0 ± 0.6 0.027 2.7 ± 1.3 2.4 ± 0.9 0.114 44 40 0.161<br />

Body Sensations Questionnaire 3.1 ± 1.0 2.4 ± 1.1 0.008 2.3 ± 1.0 2.4 ± 1.2 0.739 56 52 0.957<br />

Panic and Agoraphobia Scale (PAS) 27.9 ± 8.6 18.6 ± 3.4 0.012 25.5 ± 4.4 22.4 ± 5.3 0.372 64 70 0.304<br />

PAS – Panic Attacks 1.4 ± 0.5 0.7 ± 0.2 0.016 1.4 ± 0.5 1.1 ± 0.7 0.413 72 64 0.149<br />

PAS – Avoidance Agoraphobia 2.4 ± 0.7 1.6 ± 0.5 0.033 1.7 ± 0.8 1.6 ± 0.6 0.596 56 60 0.965<br />

PAS – Anticipated Anxiety 2.9 ± 0.6 2.1 ± 0.9 0.028 2.7 ± 1.2 2.3 ± 1.0 0.235 52 48 0.609<br />

PAS – Disability 2.2 ± 1.0 1.6 ± 1.0 0.109 2.1 ± 0.6 1.9 ± 0.7 0.480 56 52 0.359<br />

PAS – Over precaution 2.1 ± 0.7 1.5 ± 0.8 0.117 2.4 ± 0.7 2.1 ± 0.8 0.465 60 68 0.098<br />

Mobility Inventory - Accompanied 2.4 ± 1.1 1.9 ± 0.5 0.056 2.1 ± 1.1 2.5 ± 1.7 0.353 40 36 0.235<br />

Mobility Inventory - Alone 3.5 ± 0.9 3.0 ± 0.7 0.183 3.2 ± 1.6 3.1 ± 1.4 0.781 52 48 0.869<br />

Global Well-being Assessment 60.8 ± 12.3 72.5 ± 9.2 0.015 66.0 ± 20.4 71.3 ± 25.0 0.139 68 60 0.769<br />

# Evaluation Scales for group 1 (Cognitive Behaviour Therapy and Medication) and Evaluation Scales for group 2 (Control – with Medication and no Cognitive Behaviour Therapy). Results observed between the beginning and the end of the<br />

treatment for both groups.<br />

DISCUSSION<br />

These study results corroborate other research findings 24 ,<br />

which suggest that the combination of CBT with pharmacotherapy<br />

19 produces better results than using therapy alone.<br />

The advent of effective drugs 25 revolutionized the treatment<br />

of psychiatric diseases, reducing the number and length of<br />

hospitalizations and restoring quality of life for patients.<br />

Self-evaluated quality of life evaluation improved, with<br />

reduced phobic-hypochondriac behaviour 26 resulting in<br />

greater freedom in daily life. Not all mental disorders need<br />

to be treated through pharmacological approaches. Other<br />

therapeutic strategies 27 are available, the physician may indicate<br />

the optimal treatment for patients, psychotherapy<br />

alone or in combination with pharmacological treatment. It<br />

is important to establish a good doctor-patient relationship<br />

and discuss all procedures and fears of the patient, such as<br />

becoming medication dependent, of being “different”, sedated,<br />

etc.<br />

Most prior research also restricted surveyed populations<br />

to patients without agoraphobia or with light agoraphobia,<br />

leaving unknown the efficiency of CBT in patients with more<br />

serious agoraphobias 7 . In the population studied, all the patients<br />

showed “with agoraphobia” symptoms.<br />

De-Melo-Neto et al. 22 studied patients with respiratorysubtype<br />

PD with agoraphobia, in which specific hyperventilation<br />

exercises were used for the purpose of producing<br />

symptoms similar to panic. The objective was CR of certain<br />

negative levels of behaviour and response, and the<br />

comprehension by patients that the symptoms expressed<br />

were inoffensive and could be handled. In the present<br />

study, we also had the opportunity to observe the importance<br />

of CR in the sample studied, as this technique made<br />

an important contribution to the reduction of PD related<br />

symptoms.<br />

During the research, it was observed that the satisfactory<br />

evolution of patients depended on several procedures, including<br />

the use of medication prescribed after the psychiatric<br />

evaluation, together with CBT techniques such as SIE, CR,<br />

RR and PMR exercises. At the end of the SIE, patients were<br />

able to perceive that although the sensations produced by<br />

the exercises were similar to those of panic, they did not produce<br />

the feared consequences, were inoffensive, and were<br />

caused by specific stimuli.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):301-8.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Panic and cardio-respiratory symptoms<br />

307<br />

This practice allows the patient to find adequate individual<br />

CR, lose the fear of being alone with his or her BS, and<br />

perceive that the physiological reactions that he or she is<br />

having are normal, that they are not originating from something<br />

serious, and that they can be handled by the patient.<br />

It was verified that patients with PD with agoraphobia lost<br />

the fear of natural BS that emerged from physiological alterations<br />

as they were able to perceive, by means of SIE, that the<br />

sensations had a triggering reason and did not arise spontaneously.<br />

Before, the patients usually made erroneous associations<br />

about their BS, interpreting tachycardia, perspiration,<br />

and breathlessness among other symptoms, as signs of<br />

imminent death or loss of control.<br />

According to Barlow 3 , the proposed techniques, IE, and<br />

feared in vivo situations are widely recognised as primary, fundamental,<br />

and efficacious in the reduction of phobic anxiety<br />

reactions. According to Carvalho et al. 2 , the exposure of the<br />

patient to situational generators of anxiety during treatment<br />

should act as a habit-creating process, producing a reduction<br />

of anxiety in the face of stimuli that generate patho logical<br />

anxiety. He 2 verified the efficiency of cognitive interventions,<br />

behavioural interventions, and their combination.<br />

Attention should be given to the improvement of important<br />

methodological aspects in studies that evaluate the<br />

efficiency of CBT, with a view toward obtaining increasingly<br />

true results, thereby indicating which directions that may<br />

contribute to the refining of the techniques used.<br />

In making comparison between the two groups, significant<br />

differences were found in the progress of patients in<br />

the group 1 compared with the control group 2 in the scales:<br />

Sheehan Disability Scale (Total), Sheehan (Work), Sheehan<br />

(Social) and Sheehan (Family). Group 1 showed an improvement<br />

compared to group 2 in all respects. We observed<br />

in group 1 increased motivation to work and to social and<br />

family relationships after 10 sessions of CBT. We believe that<br />

these results were those that involved increased self-esteem<br />

and self-confidence due to the reduction of fears and PA.<br />

Despite the difference found between beginning and<br />

end of treatment period, comparing the two groups was not<br />

statistically significant for the other measurements. Observing<br />

the results of group 1 individually, who received CBT<br />

intervention through the model; we found statistically significant<br />

differences between measurements performed before<br />

and after intervention in most of these parameters, indicating<br />

an improvement in clinical status.<br />

This same improvement cannot be observed in the results<br />

of the control group, considering the same period of<br />

time. Such progress in group 1 should not be discarded,<br />

even by their clinical value.<br />

We therefore suggest that future work on these variables<br />

can be controlled to better understand the effectiveness of<br />

CBT in the context studied. It is necessary to verify if the results<br />

and differences found at the end of the treatment were<br />

actually due to CBT or to the existing variations in the profile<br />

of the group, including, physical or psychiatric comorbidity.<br />

CONCLUSION<br />

The techniques of SIE in the controlled laboratory setting<br />

were essential to reduce and/or remove the hyperventilation<br />

symptoms, tachycardia and changes in breathing as well as<br />

other symptoms. Patients treated with CBT had significant<br />

improvement compared to the group treated with medication.<br />

The techniques of psycho education, CR, IVE and IE, the<br />

PMR exercises and RR exercises were key to the reduction<br />

and management of symptoms in panic disorder.<br />

Our study showed that patients with PD may lower the<br />

PA, hyperventilation and cardio vascular symptoms after the<br />

CBT sessions with SIE.<br />

The main purpose of the study was achieved, which was<br />

to test and observe the efficacy and limitations of the proposed<br />

CBT model in the treatment of PD patients. In spite of<br />

some limitations, the results of this study showed the importance<br />

of CBT and its various techniques, in the treatment of<br />

PD with agoraphobia.<br />

ACKNOWLEDGEMENTS<br />

We would like to express our acknowledgements for the<br />

team of the Panic and Respiration Laboratory (LABPR/<strong>IPUB</strong>/<br />

<strong>UFRJ</strong>, National Institute of Technological Science – Translational<br />

Medicine (INCT-TM) and the National Council for Technological<br />

and Scientific Development (CNPq) for supporting<br />

this research program.<br />

Clinical Trial register number: NCT 00772746.<br />

Committee of Ethics in Research (CEP – <strong>IPUB</strong>/<strong>UFRJ</strong>) Number:<br />

07-06 Approved in 09/03/2006.<br />

Sources of funding: National Council for Scientific and Technological<br />

Development (CNPq).<br />

Conflict of interest: Not declared.<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):301-8.


artigo original<br />

Insatisfação corporal de adolescentes<br />

atletas e não atletas<br />

Body dissatisfaction of teen athletes and non-athletes<br />

Leonardo de Sousa Fortes 1 , Valter Paulo Neves Miranda 1 , Ana Carolina Soares Amaral 1 ,<br />

Maria Elisa Caputo Ferreira 2<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Imagem corporal,<br />

adolescente, atletas.<br />

O objetivo deste estudo foi comparar a insatisfação corporal de adolescentes atletas e não<br />

atletas. Foram avaliados 58 atletas e 61 não atletas do sexo masculino, com idade média de<br />

15 ± 2,12 e 16 ± 1,67 anos, respectivamente. Aplicou-se o Body Shape Questionnaire (BSQ) para<br />

mensurar a insatisfação corporal. O índice de massa corporal (IMC) foi obtido pela razão entre<br />

a massa corporal (kg) dividida pela estatura (m) elevada ao quadrado (IMC = massa corporal/<br />

estatura²). Utilizou-se o software SPSS 17.0 para análise dos dados por meio de estatística<br />

descritiva, Kolmogorov-Smirnov, qui-quadrado de Pearson e ANCOVA. Os resultados apresentaram<br />

diferenças de pontuações no BSQ e de prevalência de insatisfação corporal entre os<br />

grupos de atletas e não atletas (p < 0,05). Concluiu-se que adolescentes não atletas são mais<br />

insatisfeitos com peso e aparência corporal, além de apresentarem maior prevalência desse<br />

fenômeno comparado aos atletas de futsal e natação do sexo masculino.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Body image, adolescent,<br />

athletes.<br />

The objective of this study was to compare body dissatisfaction among adolescents athletes and<br />

non-athletes. We evaluated 58 athletes and 61 non-athletes sex male, mean age 15 ± 2,12 and 16<br />

± 1,67 years, respectively. We applied the Body Shape Questionnaire (BSQ) to measure the dissatisfaction<br />

body. The body mass index (BMI) was calculated as the ratio of body mass (kg) divided by<br />

height (m) squared (BMI = body mass/height²). We used the SPSS 17.0 software for data analysis<br />

through descriptive statistics, Kolmogorov-Smirnov test, Pearson chi-square and ANCOVA. The results<br />

showed differences in BSQ scores and prevalence of body dissatisfaction among groups of<br />

athletes and non-athletes (p < 0.05). It was concluded that adolescent non-athletes are more dissatisfied<br />

with weight and body appearance, and have a higher prevalence of this phenomenon<br />

compared to athletes in soccer and swimming males.<br />

Recebido em<br />

7/7/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

31/10/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade Federal de Visçosa (UFV); Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Faculdade de Educação Física e Desportos.<br />

2 Universidade de São Paulo (USP); UFJF, Faculdade de Educação Física e Desportos.<br />

Endereço para correspondência: Leonardo de Sousa Fortes<br />

Rua Guaçui, 525/202, São Mateus – 36025-190 – Juiz de Fora, MG<br />

E-mail: leodesousafortes@hotmail.com


310 Fortes LS et al.<br />

artigo original<br />

INTRODUÇÃO<br />

Durante o crescimento, o ser humano sofre diferentes alterações<br />

em sua forma e composição corporal, bem como<br />

em suas características psíquicas 1 . Um dos períodos em que<br />

ocorrem as mudanças mais significativas é a adolescência,<br />

marcada por grandes modificações 2 .<br />

A adolescência é definida pela OMS 3 como o período compreendido<br />

entre 10 e 19 anos de idade. Nessa etapa, o crescimento<br />

e o desenvolvimento biológico são fortemente influenciados<br />

pela interação de fatores genéticos e ambientais 4 .<br />

Nesse período, muitos jovens engajam-se em processo<br />

de treinamento físico sistematizado com o propósito de otimizar<br />

o rendimento esportivo 5 . O número de atletas adolescentes<br />

tem aumentado substancialmente 6 , o que determina<br />

a importância de avaliar esses indivíduos sob o olhar de diversas<br />

áreas do conhecimento.<br />

O ambiente atlético possui características peculiares, tais<br />

como exigência de perda/controle de peso, pressão exercida<br />

por treinadores no anseio por melhores resultados e uma morfologia<br />

considerada ideal para atingir um bom pico de rendimento<br />

7 . Essas características acabam levando atletas a serem<br />

mais exigentes com seus corpos. Em caso de não aceitação<br />

corporal, esses sujeitos podem apresentar altos índices de insatisfação<br />

com o corpo 8 . Esta, por sua vez, é definida como a<br />

depreciação que o indivíduo tem com sua aparência física e,<br />

segundo Ricciardelli et al. 9 , é considerada sintoma de primeira<br />

ordem no desencadeamento de transtornos alimentares.<br />

A insatisfação corporal faz parte de um componente da<br />

imagem corporal relacionado com as atitudes e comportamentos<br />

em relação ao próprio corpo 2,9 . Ela pode ser avaliada<br />

por meio de figuras do corpo, partes dele (como barriga,<br />

braços, pernas e quadris) e questionários com perguntas sobre<br />

peso corporal e aspectos relacionados com a aceitação<br />

corporal.<br />

A insatisfação corporal sofre influência de diversos fatores,<br />

entre eles: índice de massa corporal 10 (IMC), mídia, cultura<br />

9 , idade 11 , sexo 12 e prática de atividade física 13 . A cultura<br />

atual veicula como ideal de corpo, por intermédio da mídia,<br />

uma estética magra para as meninas e musculosa para os<br />

meninos 2 . Por isso, a gordura corporal é considerada aspecto<br />

depreciado em nossa sociedade 11 . Portanto, a prática de<br />

atividade física pode ser vista como um fator positivo na<br />

satisfação com a imagem corporal, considerando as alterações<br />

morfológicas (ganho de massa magra e perda de massa<br />

gorda) provocadas por ela 13 . Atletas geralmente apresentam<br />

maior massa muscular e menor perfil lipídico comparados a<br />

indivíduos não atletas 5 .<br />

Estudos têm apresentado que os atletas possuem imagem<br />

corporal mais positiva que os não atletas 13,14 . No entanto,<br />

outros achados identificaram que atletas são mais<br />

insatisfeitos com o corpo do que aqueles que não praticam<br />

atividade física sistematizada 15 . Portanto, ainda há uma inconsistência<br />

da literatura a respeito da associação dos componentes<br />

atitudinais da imagem corporal à prática ou não<br />

de atividade física sistemática. Ainda não se sabe se atletas<br />

são mais satisfeitos com seus corpos em relação aos não<br />

atletas, principalmente entre o público adolescente, que é<br />

considerado a faixa etária com maiores graus de insatisfação<br />

corporal na população 2 . Diante do exposto, o objetivo<br />

do presente estudo foi comparar a insatisfação corporal de<br />

adolescentes atletas e não atletas.<br />

MÉTODOS<br />

Trata-se de um estudo transversal e comparativo realizado<br />

no ano de 2010, na cidade de Juiz de Fora/MG, com alunos<br />

do sexo masculino de uma escola da rede particular de ensino<br />

e atletas competitivos de um clube esportivo, com idades<br />

entre 11 e 19 anos.<br />

Aspectos éticos<br />

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa<br />

em Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora<br />

(Protocolo 342/2009; parecer nº 129.273.2009).<br />

Todos os participantes apresentaram o termo de consentimento<br />

livre e esclarecido, (TCLE) assinado pelos pais ou<br />

responsáveis. Nesse documento, explicavam-se os objetivos<br />

e procedimentos do estudo.<br />

Amostra<br />

Foram avaliados 58 atletas do sexo masculino das modalidades<br />

de futsal (n = 26) e natação (n = 32), com idade média<br />

de 14,66 ± 2,14 anos, selecionados por conveniência. Nesse<br />

método de seleção amostral, a participação é voluntária ou<br />

os elementos da amostra são escolhidos por uma questão<br />

de conveniência. Contudo, o método tem a vantagem de<br />

ser rápido, barato e de fácil aplicabilidade. O tempo médio<br />

de treinamento físico desses sujeitos era de 3 ± 2,65 anos.<br />

Os indivíduos com menos de um ano de treinamento físico<br />

sistematizado ou que não fossem participar de competições<br />

no ano de 2010 foram excluídos do grupo “atletas”.<br />

Além desse grupo, avaliaram-se 61 adolescentes escolares,<br />

com média de 15,69 ± 1,81 anos, selecionados por amostragem<br />

casual simples. Indivíduos que estivessem em processo<br />

de treinamento físico sistematizado ou inscritos em alguma<br />

competição foram excluídos do grupo “não atletas”.<br />

O sexo feminino não foi incluído nas análises do presente<br />

estudo em virtude de alguns motivos que merecem destaque:<br />

1) haviam poucas meninas nos clubes avaliados que<br />

cumpriam os critérios de inclusão no grupo “atletas”; 2) poucas<br />

meninas que pertenciam ao grupo “não atletas” apresentaram<br />

o TCLE assinado pelo responsável; 3) estudos com o<br />

sexo feminino sobre variáveis afetivas são abundantes no Brasil,<br />

devendo-se priorizar estudos utilizando o sexo masculino.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):309-14.


artigo original<br />

Insatisfação corporal de atletas e não atletas<br />

311<br />

Instrumentos<br />

Foi aplicado o Body Shape Questionnaire (BSQ) 16 , com o intuito<br />

de avaliar a insatisfação corporal. Trata-se de um questionário<br />

de autopreenchimento, com 34 questões, em escala<br />

Likert de pontos de 1 (nunca) a 6 (sempre), destinadas a<br />

avaliar a preocupação que o sujeito apresenta com seu peso<br />

e com sua aparência física. A versão utilizada neste estudo<br />

foi validada para adolescentes brasileiros por Conti et al. 16 .<br />

Sua análise de consistência interna revelou um α de 0,96<br />

para ambos os sexos; seu coeficiente de correlação entre os<br />

escores do teste-reteste foi significativo, variando de 0,89 a<br />

0,91 para mulheres e homens, respectivamente. O escore é<br />

calculado a partir da soma das respostas e varia de 34 a 204,<br />

e quanto maior o escore obtido, maior a insatisfação com o<br />

corpo. Segundo o escore total, o sujeito é classificado como<br />

livre de insatisfação corporal (pontuações abaixo de 80), com<br />

leve insatisfação corporal (entre 80 e 110), moderadamente<br />

insatisfeito (entre 110 e 140) e com grave insatisfação corporal<br />

(escores acima de 140).<br />

O peso dos adolescentes foi aferido utilizando-se balança<br />

de Bio-Impedância G-Tech®, com graduação em 0,1 kg, usando<br />

roupas leves e descalços. A estatura foi mensurada com<br />

um estadiômetro portátil de marca Tonelli® com graduação<br />

em 1 mm.<br />

O índice de massa corporal (IMC) foi obtido pela razão<br />

entre a massa corporal (kg) dividida pela estatura (m) elevada<br />

ao quadrado (IMC = massa corporal/estatura²).<br />

Procedimentos<br />

Primeiramente, os pesquisadores buscaram autorização dos<br />

treinadores do clube e diretores da escola privada para efetuar<br />

a coleta de dados. Após esse consentimento, atletas e<br />

escolares foram abordados em seus locais de treinamento e<br />

em sala de aula, respectivamente, por um dos pesquisadores.<br />

Todos os sujeitos da pesquisa foram informados sobre os<br />

objetivos e procedimentos do estudo. Solicitou-se aos menores<br />

de 18 anos que levassem a seus responsáveis o TCLE.<br />

Esse documento deveria ser devolvido assinado na semana<br />

subsequente a esse encontro. Os adolescentes que não entregaram<br />

o TCLE foram excluídos do estudo.<br />

Antes de iniciar a coleta de dados, o profissional de educação<br />

fí sica envolvido na avaliação antropométrica (LSF)<br />

participou de treinamento para padronizar medidas, com o<br />

objetivo de obter maior precisão dos dados coletados (massa<br />

corporal e estatura), seguindo as recomendações da National<br />

Center for Health Statistics (2000) 17 . Para aferir a massa<br />

corporal, foram adotados os seguintes critérios: adolescente<br />

em pé, descalço com o mínimo de roupas, posicionado no<br />

centro da plataforma com os braços estendidos ao longo do<br />

corpo e com olhar fixo à frente, de modo a evitar oscilação<br />

na leitura da medida. Para a estatura, os indivíduos deveriam<br />

ficar em pé, olhando para o infinito, sem sapatos, com calcanhares,<br />

glúteos, dorso e cabeça encostados ao plano vertical<br />

e os pés e calcanhares unidos formando um ângulo de 45°.<br />

Nessa posição, a peça do estadiômetro em ângulo reto foi<br />

posicionada sobre o topo da cabeça do adolescente, e a medida<br />

foi anotada.<br />

Para o BSQ, um único pesquisador (LSF) ficou responsável<br />

por sua aplicação nos sujeitos para que não houvessem<br />

interferências interavaliadores nas explicações sobre o instrumento.<br />

As instituições onde foram realizadas as coletas de dados<br />

deste estudo disponibilizaram para nossa equipe salas<br />

adequadas para aferição antropométrica e aplicação do<br />

questionário. Esses procedimentos foram realizados em dias<br />

subsequentes. O primeiro encontro foi destinado apenas à<br />

avaliação de massa corporal e estatura, e no segundo dia os<br />

adolescentes responderam ao BSQ.<br />

Durante o primeiro encontro, os pesquisadores autorizavam<br />

apenas um jovem a adentrar no ambiente em que se<br />

realizavam as medidas antropométricas. No segundo dia, os<br />

questionários foram entregues aos indivíduos, que receberam<br />

então a mesma orientação verbal. Uma orientação escrita<br />

sobre os procedimentos adequados também estava presente<br />

nestes. As eventuais dúvidas foram esclarecidas pelo<br />

responsável pela aplicação do BSQ. Os sujeitos do estudo<br />

não se comunicavam entre si. Além disso, não houve limite<br />

de tempo para preencher o questionário.<br />

Análise estatística<br />

Para as variáveis idade, IMC e insatisfação corporal, utilizou-<br />

-se a estatística descritiva (média e desvio-padrão). O teste<br />

Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para averiguar a distribuição<br />

dos dados por grupo. Como a normalidade dos dados foi<br />

violada no grupo não atletas, utilizou-se teste Mann-Whitney<br />

para comparar idade e IMC entre os grupos (atletas e não<br />

atletas). Análise univariada de covariância (ANCOVA), incluindo<br />

a idade como covariável, foi conduzida para comparar a<br />

insatisfação corporal entre os grupos (atletas e não atletas),<br />

pois se constatou que escolares eram mais velhos (p < 0,05)<br />

do que os atletas, o que poderia de alguma forma interferir<br />

nos resultados. A comparação de prevalência de insatisfação<br />

corporal entre atletas e não atletas foi realizada por meio do<br />

teste qui-quadrado de Pearson. Para isso, as classificações de<br />

insatisfação corporal do BSQ (leve insatisfação, moderadamente<br />

insatisfeito e grave insatisfação) foram agrupadas em<br />

“insatisfeito”. Para todas as análises, utilizou-se o software SPSS<br />

17.0. Em todos os casos, o nível de significância foi de 5%.<br />

RESULTADOS<br />

A tabela 1 apresenta a comparação de idade e IMC entre os<br />

grupos atletas e não atletas. Foram encontradas diferenças<br />

apenas para a idade (p < 0,05).<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):309-14.


312 Fortes LS et al.<br />

artigo original<br />

Tabela 1. Comparação da idade, IMC e insatisfação corporal entre<br />

atletas e não atletas pelo teste Mann-Whitney<br />

Variável/Grupo Atletas Não atletas p valor<br />

Idade 14,66 ± 2,14 15,69 ± 1,81 p < 0,02<br />

IMC 21,19 ± 2,76 20,74 ± 3,48 p < 0,17<br />

Em relação à comparação da insatisfação corporal utilizando<br />

a idade como covariável na análise univariada de<br />

covariância (ANCOVA), os não atletas apresentaram pontuações<br />

superiores no BSQ comparados aos atletas (p < 0,05)<br />

(Tabela 2).<br />

Tabela 2. Comparação da insatisfação corporal entre atletas e<br />

não atletas avaliada por meio da análise univariada de covariância<br />

(ANCOVA)<br />

Variável/Grupo Atletas Não atletas p valor<br />

BSQ 49,30 ± 2,70 57,40 ± 2,63 p < 0,04<br />

A comparação da prevalência de insatisfação corporal<br />

entre os grupos está ilustrada na tabela 3. Adolescentes não<br />

atletas apresentaram maiores frequências de insatisfação<br />

com a imagem corporal (14,8) do que os atletas (3,4), havendo<br />

diferenças estatisticamente significativas entre os grupos<br />

(p < 0,05).<br />

Tabela 3. Comparação da prevalência (%) de insatisfação corporal<br />

entre adolescentes atletas e não atletas<br />

Insatisfação/Grupo Atletas Não atletas p valor<br />

Satisfeito 96,6 85,2 p < 0,001<br />

Insatisfeito 3,4 14,8 p < 0,001<br />

DISCUSSÃO<br />

O estudo teve como premissa comparar a insatisfação corporal<br />

entre adolescentes atletas e não atletas do sexo masculino.<br />

Os resultados revelaram diferença de idade entre os<br />

grupos (p < 0,05 – Tabela 1), mas não foi identificada diferença<br />

de IMC entre atletas e não atletas. Foi evidenciada diferença<br />

de insatisfação corporal entre os dois grupos (p < 0,05<br />

– Tabela 2), mesmo utilizando a idade como covariável na<br />

análise univariada de covariância (ANCOVA). Além disso, os<br />

não atletas apresentaram maior prevalência de insatisfação<br />

corporal comparados aos atletas (p < 0,05 – Tabela 3).<br />

O presente estudo apresentou limitações importantes.<br />

Uma delas foi utilizar como instrumento principal um questionário.<br />

Pesquisadores afirmam que os indivíduos podem<br />

não responder com fidedignidade a instrumentos autoaplicáveis<br />

2,12 . Portanto, os resultados podem não refletir a realidade<br />

do contexto avaliado, visto que o resultado final é fruto<br />

de respostas subjetivas. Outra limitação da presente pesquisa<br />

foi apresentar um tamanho amostral relativamente baixo<br />

para ambos os grupos. Entretanto, ressalta-se a dificuldade<br />

de acesso em avaliar atletas na cidade de Juiz de Fora/MG,<br />

pois geralmente treinadores recusam a participação voluntária<br />

de seus atletas nesse tipo de estudo. Por outro lado,<br />

pesquisas desse gênero têm utilizado amostras com número<br />

de participantes semelhantes ao do presente estudo 6,15 .<br />

Contudo, este estudo mostra importantes evidências a respeito<br />

da comparação da insatisfação corporal entre atletas<br />

e não atletas do sexo masculino, acrescentando à literatura<br />

algumas questões relevantes sobre esse tema, que tem sido<br />

pouco explorado no Brasil.<br />

Os resultados do presente estudo demonstram uma prevalência<br />

de 14,8% dos meninos não atletas com insatisfação<br />

corporal, indicando que existiam baixas taxas de depreciação<br />

com peso e aparência física comparado a outros achados<br />

2,12 . Os estudos que se destinam a investigar esse aspecto<br />

têm encontrado altas prevalências de insatisfação corporal<br />

no público adolescente 2,11,18 . O número de casos de adolescentes<br />

do sexo masculino insatisfeitos com o corpo tem aumentado<br />

nos últimos anos 19 . Já são encontradas pesquisas<br />

que demonstram que os meninos têm maior prevalência de<br />

insatisfação com aparência física do que as meninas 10,20 . Pelegrini<br />

e Petroski 10 , utilizando escala de silhuetas, encontraram<br />

prevalência de insatisfação corporal em 66% dos adolescentes<br />

do sexo masculino da rede pública de Florianópolis. Em<br />

outro estudo semelhante, Petroski et al. 12 identificaram que<br />

60% dos adolescentes do sexo masculino do município de<br />

Chapecó/SC estavam insatisfeitos com a aparência física.<br />

Os achados do presente estudo demonstram maior prevalência<br />

de insatisfação corporal no grupo de não atletas<br />

(Tabela 3), corroborando a metanálise realizada por Hausenblas<br />

e Downs 13 . A insatisfação corporal parece se manifestar<br />

em atletas com frequências diferentes em relação aos não<br />

atletas. Estudos têm apresentado que essa população possui<br />

baixa prevalência de insatisfação corporal 6,13 . Vieira et al. 6 avaliaram<br />

a insatisfação corporal de atletas de judô do estado do<br />

Paraná e encontraram prevalência de 7% nessa amostra. Por<br />

outro lado, alguns autores encontraram grandes prevalências<br />

de insatisfação com peso corporal em atletas 5,15 . Talvez<br />

a exposição do corpo em público, em uniformes que salientam<br />

o formato corporal, juntamente com a pressão imposta<br />

por treinadores no anseio pela otimização do desempenho<br />

esportivo ou simplesmente controle de peso corporal possam<br />

ser fatores que influenciem negativamente a imagem<br />

corporal, fazendo com que jovens esportistas preocupem-se<br />

ainda mais com peso e aparência física 5,17 .<br />

A presente pesquisa buscou utilizar esportes que não<br />

apresentassem características estéticas, nem que exigissem<br />

baixo peso corporal (futsal e natação). Além disso, é necessário<br />

averiguar se há ou não diferenças de variáveis entre grupos<br />

de atletas e não atletas que podem influenciar na insatis-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):309-14.


artigo original<br />

Insatisfação corporal de atletas e não atletas<br />

313<br />

fação corporal. Em uma metanálise comparando a imagem<br />

corporal de atletas e não atletas 13 , foi identificado que atletas<br />

apresentavam imagem corporal mais positiva do que os não<br />

atletas. Alguns estudos têm corroborado esses achados 21,22 .<br />

No entanto, os resultados de outras pesquisas recentes vêm<br />

conflitando com a tendência retromencionada 5,7 . Sobretudo,<br />

existem vários fatores peculiares do ambiente atlético que<br />

podem influenciar a imagem corporal em atletas e impossibilitar<br />

comparações generalizadas. Um destes aspectos<br />

é o tipo de esporte que o sujeito pratica. Sundgot-Borgen<br />

e Torstveit 7 e Krentz e Warschsburger 5 argumentam que<br />

atletas que praticam esportes com características estéticas<br />

e com exigência de baixo peso corporal tendem a ser mais<br />

insatisfeitos com o corpo. Dependendo das modalidades esportivas<br />

em que são comparadas com os não atletas, podem<br />

ser encontrados resultados diversos.<br />

Na presente pesquisa, identificou-se diferença apenas na<br />

idade entre os grupos (Tabela 1), o que poderia interferir nos<br />

resultados da comparação de insatisfação corporal. Por isso,<br />

decidiu-se utilizar uma análise (ANCOVA) que reconfigura as<br />

pontuações do BSQ igualando a idade de todos os participantes.<br />

Esse teste revelou que adolescentes não atletas do<br />

sexo masculino eram mais insatisfeitos com o corpo comparados<br />

ao grupo de atletas (p < 0,05 – Tabela 2). Esses achados<br />

corroboram as afirmações de Hausenblas e Downs 13 , que<br />

apontaram maior insatisfação corporal em sujeitos que não<br />

praticam atividade física sistematizada. Autores como Conti<br />

et al. 11 e Scherer et al. 2 afirmam que a idade e o IMC são fatores<br />

que influenciam a imagem corporal. Várias pesquisas têm<br />

apresentado que o IMC é fortemente associado com a insatisfação<br />

corporal no público adolescente 10,12 . Estudos têm<br />

mostrado que adolescentes mais velhos do sexo masculino<br />

tendem a ser menos insatisfeitos com peso e aparência corporal<br />

comparados aos mais jovens 11 .<br />

Para futuros estudos, sugere-se que sejam avaliados atletas<br />

de outros esportes, além de se incluir o sexo feminino nas<br />

análises. É recomendado que sejam realizadas análises multivariadas<br />

de covariância utilizando fatores de instrumentos<br />

como o BSQ, como variáveis dependentes, e medidas antropométricas<br />

(IMC e percentual de gordura) como covariáveis,<br />

a fim de se identificarem com mais precisão diferenças de<br />

imagem corporal entre atletas e não atletas. Ademais, recomenda-se<br />

que sejam incluídos instrumentos que avaliem<br />

pressão do ambiente esportivo na tentativa de identificar se<br />

treinadores e colegas de equipe influenciam positiva ou negativamente<br />

em variáveis afetivas de jovens atletas.<br />

CONCLUSÃO<br />

Pode-se dizer, entre a amostra do presente estudo, que os<br />

não atletas são mais insatisfeitos com peso e aparência corporal,<br />

além de apresentarem maior prevalência desse fenômeno<br />

comparado aos atletas de futsal e natação do sexo<br />

masculino. Dessa forma, destaca-se a importância de intervenções<br />

nas escolas que visem a uma melhor aceitação do<br />

corpo na adolescência, a fim de promover maior satisfação<br />

com a imagem corporal nessa fase, prevenindo o desenvolvimento<br />

de problemas psicológicos.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Aos adolescentes participantes deste estudo, pela colaboração;<br />

à diretora da escola privada Flávia Marcele Cipriani; aos treinadores<br />

das equipes avaliadas, Artur Castellões (futsal) e Luiz<br />

Francisco Junqueira Marques (natação), pela permissão de os<br />

adolescentes participarem da pesquisa; ao Laboratório de Estudos<br />

do Corpo (UFJF), pela disponibilização dos instrumentais<br />

do estudo; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico<br />

e Tecnológico (CNPq), pelo financiamento do projeto.<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):309-14.


314 Fortes LS et al.<br />

artigo original<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):309-14.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Body image dissatisfaction and its<br />

relationship with physical activity and body<br />

mass index in Brazilian adolescents<br />

Insatisfação com a imagem corporal e sua relação com atividade<br />

física e índice de massa corporal em adolescentes brasileiros<br />

Maria F. Laus 1 , Telma M. Braga Costa 2 , Sebastião S. Almeida 1<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Body image, physical<br />

activity, body mass index,<br />

adolescent.<br />

Objective: To evaluate body image dissatisfaction and its relationship with physical activity and<br />

body mass index in a Brazilian sample of adolescents. Methods: A total of 275 adolescents (139<br />

boys and 136 girls) between the ages of 14 and 18 years completed measures of body image dissatisfaction<br />

through the Contour Drawing Scale and current physical activity by the International<br />

Physical Activity Questionnaire. Weight and height were also measured for subsequent calculation<br />

of body mass index. Results: Boys and girls differed significantly regarding body image dissatisfaction,<br />

with girls reporting higher levels of dissatisfaction. Underweight and eutrophic boys preferred<br />

to be heavier, while those overweight preferred be thinner and, in contrast, girls desired to be thinner<br />

even when they are of normal weight. Conclusion: Body image dissatisfaction was strictly related<br />

to body mass index, but not to physical activity.<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Imagem corporal,<br />

atividade física, índice<br />

de massa corporal,<br />

adolescentes.<br />

Objetivo: Investigar a insatisfação com a imagem corporal e sua relação com atividade física<br />

e índice de massa corporal em adolescentes brasileiros. Métodos: Participaram do estudo<br />

275 adolescentes (139 meninos e 136 meninas) com idade entre 14 e 18 anos. A coleta de<br />

dados consistiu na tomada de medidas de peso e altura, seguida pela aplicação da Escala<br />

de Figuras de Silhuetas e do Questionário Internacional de Atividade Física. Resultados:<br />

As meninas apresentaram índices significativamente maiores de insatisfação com a imagem<br />

corporal. Meninos eutróficos e com baixo peso relataram o desejo de pesar mais, enquanto<br />

meninos acima do peso gostariam de pesar menos. Em contrapartida, as meninas desejam<br />

ser mais magras, mesmo quando estão com peso normal. Conclusão: A insatisfação com a<br />

imagem corporal foi estritamente relacionada ao índice de massa corporal, mas não manteve<br />

relação com a prática de atividade física.<br />

Recebido em<br />

14/9/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

28/11/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Departamento de Psicologia.<br />

2 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Curso de Nutrição.<br />

Address for correspondence: Sebastião S. Almeida<br />

Laboratório de Nutrição e Comportamento, Departamento de Psicologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto,<br />

Universidade de São Paulo<br />

Av. Bandeirantes, 3900 – 14040-901 – Ribeirão Preto, SP, Brasil<br />

Tel.: (16) 3602-3663<br />

E-mail: sebasalm@usp.br


316 Laus MF et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

INTRODUCTION<br />

Body image has been considered an internal representation<br />

of an individual’s body shape, weight, size, or other features<br />

related to physical appearance 1 . However, researchers have<br />

long argued that body image has a multifactorial etiology<br />

involving perceptual, affective, cognitive, evaluative, and investment/behavioral<br />

components 2 .<br />

Because adolescence is a period characterized by great<br />

emotional, social, and physical change, body image disturbance<br />

is among the most widespread disorders associated<br />

with the onset of adolescence 3 . Although the research on body<br />

image has primarily focused on women and patients with eating<br />

disorders 4 , increasing recognition of the psychosocial<br />

problems associated with body disturbance among adolescents<br />

has led to the need to understand the factors influencing<br />

body image for boys and girls in nonclinical populations.<br />

According to some authors, a number of studies have<br />

emphasized the problems of distorted body image, dissatisfaction<br />

with one’s body weight and symptoms of unhealthy<br />

weight control among adolescents as a social pressure 5 . The<br />

beauty ideal is conveyed and reinforced by many social influences,<br />

including media representations, cultural traditions<br />

and attitudes of friends and relatives 6 .<br />

Studies conducted in the West during the last three decades<br />

reflect general agreement that “ideal body” is equated<br />

with youth, beauty, health, competence, and self-control<br />

and is a key to many social benefits 7 . The male ideal is a<br />

V-shaped figure with emphasis placed on large biceps, chest,<br />

and shoulders; whereas the female ideal is to be extremely<br />

thin, with emphasis placed on slim hips, bottom, and thighs 8 .<br />

However, since for most people this ideal is impossible to<br />

achieve, body image disturbance is a likely consequence.<br />

It is known that body mass index (BMI) has been the most<br />

consistent biological characteristic related to body image<br />

satisfaction 9 with some studies finding that BMI explained<br />

unique variance in body dissatisfaction above and beyond<br />

socio-cultural variables 10 . The general finding from cross-sectional<br />

and longitudinal research has been that girls and boys<br />

who have greater body mass have expressed heightened<br />

body image disturbances 9 .<br />

A substantial body of literature data attests to the negative<br />

distress caused by body image disturbance in both females<br />

and males, as well as its association with depression<br />

symptoms, low self-esteem, and increased risk for suicide 3,11 .<br />

It is also known that body image disturbances might be associated<br />

with unhealthy weight-control behaviors 10 .<br />

In that way, physical activity is often considered as a way<br />

to reduce body weight and research shows that adolescents<br />

frequently relate fitness to appearance and to “looking<br />

good” 12 . Thus, according to Jankauskiené and Kardelis 5 ,<br />

several studies have revealed many problems related to<br />

weight, body image and physical activity such as pathological<br />

weight control concerns, drive for thinness (particularly<br />

in girls), drive for muscularity (particularly in boys), and commitment<br />

to exercise.<br />

On the other hand, some authors argue that regular<br />

physical activity among children and adolescents could be<br />

associated with high self-esteem, positive social skills, and<br />

a reduced risk of participating in health-risk behaviors 13 in<br />

which adolescents often engage, with immediate or longterm<br />

consequences to their health and well-being.<br />

On this basis, adolescents’ body concerns are an important<br />

issue and studies should be conducted in an attempt<br />

to answer a number of different questions related to body<br />

image disorders. Although this is an important issue, only a<br />

few published studies explore issues surrounding body image<br />

perception and its related factors among Brazilian adolescents.<br />

Thus, the main purpose of the present study was to<br />

evaluate body image dissatisfaction and its relationship with<br />

physical activity and body mass index in a Brazilian sample<br />

of adolescents.<br />

METHODS<br />

Participants<br />

Before the beginning of the study, a survey was conducted<br />

in the Municipal Secretary of Education to verify the number<br />

of adolescents regularly enrolled in high school in the city,<br />

resulting in 23.754 students. After that, a simple random and<br />

convenient sample corresponding to, at least, 1% of this total<br />

was defined. To ensure the inclusion of subjects from all socioeconomic<br />

strata, five public and five private schools were<br />

randomly selected from each region of the city (north, south,<br />

west, east and central). The authors made contact to each director<br />

and, after the agreement, students were randomly recruited<br />

to voluntarily participate in the study. At the end, 275<br />

adolescents (139 boys and 136 girls) agreed to participate in<br />

the study and there were no refusals during data collection.<br />

Participants ranged in age from 14 to 18 years (16.2 ± 1.0).<br />

Measures<br />

Body Mass Index (BMI): BMI is defined as the ratio of weight<br />

(kg) to height (m) squared. Weight was measured using a<br />

calibrated electronic scale (Kratos-Cas, Brazil) and subjects<br />

were weighed wearing light clothes, barefoot and carrying<br />

no heavy objects. Height was measured using a portable anthropometer<br />

(Kratos-Cas, Brazil) set against the wall, ensuring<br />

accurate subject posture before reading the fixed marker.<br />

Nutritional status was defined by the age- and sex-specific<br />

percentile of BMI based on Ministry of Health parameters 14 .<br />

Weight and height data were processed with the Epi-Info®<br />

software, which classified each individual according to the<br />

percentile limits as follows: underweight P < 3; normal weight<br />

P3 – P < 85; overweight ≥ P85 – P < 97, and obesity P ≥ 97.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):315-20.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Factors related to dissatisfaction in adolescents<br />

317<br />

International Physical Activity Questionnaire<br />

(IPAQ): The IPAQ was developed as an instrument for crossnational<br />

monitoring of physical activity and inactivity 15 . The<br />

Brazilian version of the questionnaire was validated for adolescents<br />

of both sexes by Guedes et al. 16 .<br />

The short version of the IPAQ assesses physical activity<br />

undertaken across a comprehensive set of domains including:<br />

leisure time physical activity; domestic and gardening (yard)<br />

activities, work-related physical activity, and transport-related<br />

physical activity, and asks about three specific types of activity<br />

undertaken in the above four domains. The specific types of<br />

activity assessed are walking, moderate-intensity activities<br />

and vigorous-intensity activities. The 3 items in the short<br />

IPAQ form were structured to provide separate scores on<br />

walking, moderate-intensity and vigorous-intensity activity.<br />

Computation of the total score for the short form requires<br />

summation of the duration (in minutes) and frequency<br />

(days) of walking and of moderate-intensity and vigorousintensity<br />

activities. For each question, participants are given<br />

examples of moderate, vigorous, and walking activities and<br />

physiological cues for breathing and heart rate to help them<br />

recall activities at an appropriate intensity level. The IPAQ<br />

does not take into account activities performed for less than<br />

10 consecutive minutes, and the intensity is based on selfreport<br />

15 . Data are analyzed as categorical variable.<br />

The Contour Drawing Scale (CDS): The Brazilian version<br />

of the scale was created and validated by Kakeshita<br />

et al. 17 . In this study it was used the adult scale, which was<br />

tested by the authors in adolescents * . The scale comprises<br />

a set of fifteen contour drawings of each gender presented<br />

on separate cards showing escalating measures, from leaner to<br />

wider drawings, and mean BMI ranging from 12.5 to 47.5 kg/m 2 ,<br />

which evaluates body image dissatisfaction. The method applied<br />

consisted of asking subjects to pick one card from a set<br />

of cards displayed in ascending order, which would better<br />

describe their own body contour at that time (“Perceived”<br />

BMI). Subjects were then asked to point out the card with<br />

their desired body contour (“Ideal” BMI) and the card which<br />

indicates a healthy BMI. Body dissatisfaction is represented<br />

as the discrepancy between perceived and ideal BMI. Results<br />

are given as a continuous variable, and the closer to zero, the<br />

lower dissatisfaction.<br />

Procedure<br />

The project was approved by the Institutional Ethics Committee.<br />

Data collection was carried out in rooms provided by the<br />

schools and comprised the application of contour drawing<br />

tests, weight and height measures and self-administration of<br />

the IPAQ. All data were collected in 2008 by one investigator<br />

* Laus MF, Murarole, MB, Braga Costa TM, Almeida SS. Estudo de fidedignidade<br />

teste-reteste de uma escala de silhuetas brasileira em adolescentes<br />

(unpublished manuscript).<br />

trained in the use of the instruments. Written informed consent<br />

was obtained from all subjects.<br />

Data analysis<br />

Data were analyzed using evaluation scales of each test and<br />

the calculation of BMI. Statistical analysis was performed using<br />

the Statistica 5.0 software. Data adhered to the assumption<br />

for parametric data. Analysis of Variance (ANOVA) was used<br />

to determine whether there were any differences in BMI, level<br />

of physical activity and body image dissatisfaction between<br />

boys and girls and possible interactions between these factors.<br />

When applicable, the multiple comparisons Newman-<br />

Keuls test was used to determine which groups were different.<br />

A Pearson correlation test between BMI and CDS was<br />

also performed. The level of significance was set at 5%.<br />

RESULTS<br />

Table 1 describes the characteristics of the sample in<br />

terms of physical activity level, nutritional status, BMI, body<br />

image perception, and dissatisfaction. As can be seen,<br />

approximately 73.4% of the boys and 54.4% of the girls were<br />

participating in moderate-intensity physical activity lasting<br />

for at least 10 min. Seventy-eight percent of the boys and<br />

83.1% of the girls were of normal weight and there was no<br />

significant difference in mean BMI between adolescent boys<br />

and girls (p < .05).<br />

Table 1. Descriptive statistics of the study sample (n = 275)<br />

Physical activity level †<br />

Boys<br />

(n = 139)<br />

Girls<br />

(n = 136)<br />

Sedentary 2.9 6.8<br />

Low activity 23.7 39.0<br />

Moderate activity 47.5 41.2<br />

High activity 25.9 13.2<br />

Nutritional status †<br />

Underweight 3.6 0.7<br />

Normal weight 78.4 83.1<br />

Risk of overweight 10.1 12.5<br />

Overweight 7.9 3.7<br />

Body mass index ‡ 22.0 (3.8) (16.0 – 35.6) 21.7 (3.5) (16.9 – 35.6)<br />

CDS ‡<br />

“Perceived” BMI 24.4 (6.2) 26.7 (6.2)<br />

“Ideal” BMI 24.2 (3.5) 24.2 (3.6)<br />

“Health” BMI 24.8 (3.6) 24.9 (3.5)<br />

Dissatisfaction ‡ -0.2 (5.5) -2.5 (5.6) a<br />

†<br />

Data are reported in percentage. ‡ Data are reported in kg/m 2 as mean (Standard Deviation). a p < .001 compared<br />

to boys.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):315-20.


318 Laus MF et al.<br />

ORIGINAL ARTICLE<br />

Still on table 1, it can be seen that, according to the CDS,<br />

girls would like to have a lower BMI than they think they have.<br />

Body image data were then submitted to one-way (dissatisfaction<br />

x gender) ANOVA to determine possible differences<br />

in dissatisfaction between boys and girls. Table 1 shows that<br />

boys and girls differed significantly in body dissatisfaction<br />

[F (1,273)<br />

= 11,26; p < .001)], with girls reporting higher levels of<br />

dissatisfaction than boys.<br />

In order to evaluate differences in body image dissatisfaction<br />

between boys and girls who currently do and do<br />

not participate in some form of physical activity, a two-way<br />

ANOVA was performed. As can be seen, ANOVA revealed no<br />

significant effect of the body image dissatisfaction x physical<br />

activity levels x gender interaction (p > .05) which indicates<br />

that, in this sample, dissatisfaction exist regardless physical<br />

activity level or gender (Table 2).<br />

Table 2. Means (and Standard Deviations) for body image<br />

dissatisfaction (in kg/m 2 ) of boys and girls according to physical<br />

activity level and nutritional status<br />

Physical activity level<br />

Boys<br />

(n = 139)<br />

Body image dissatisfaction<br />

Girls<br />

(n = 136)<br />

Sedentary -6.3 (1.6) -1.9 (1.9)<br />

Low activity -0.8 (1.2) -1.8 (0.7)<br />

Moderate activity 0.0 (0.7) -3.2 (0.8)<br />

High activity 0.6 (0.7) -2.2 (0.8)<br />

Nutritional status<br />

Underweight 6.0 (1.3) a 0.0 (0.0) a<br />

Normal weight 1.2 (1.3) a -1.5 (0.5) a<br />

Risk of overweight -4.5 (1.1) b -7.4 (1.3) b<br />

Overweight -11.4 (1.8) b -8.5 (1.0) b<br />

a, b<br />

p < .05 (means with different superscripts differ significantly).<br />

A two-way ANOVA also was conducted to determine differences<br />

in body image dissatisfaction between boys and<br />

girls according to the nutritional status. As can be seen on<br />

table 2, ANOVA demonstrated no significant effect of gender<br />

(p > .05) but revealed a significant effect of the dissatisfaction<br />

x nutritional status interaction [F (3,267)<br />

= 31.71; p < .05]. Posthoc<br />

analysis showed that respondents with higher BMI were<br />

more dissatisfied with their weight than respondents with<br />

lower BMI. As expected, underweight and normal weight<br />

boys would like to be heavier, while those overweight would<br />

like to be thinner. In contrast, girls would like to be thinner,<br />

even when they are normal weight.<br />

Significant correlations were observed between body<br />

image dissatisfaction and BMI in boys (r = -.79) and girls (r =<br />

-.60), indicating that, in this sample, dissatisfaction with body<br />

image proportionally increased with increasing BMI in both<br />

sexes (p < .05) (Table 3).<br />

Table 3. Pearson’s correlation coefficients between body mass<br />

index (kg/m 2 ) and body image dissatisfaction (kg/m 2 ) for boys<br />

and girls<br />

Boys<br />

Body image dissatisfaction<br />

Girls<br />

Body mass index -.79 a -.60 a<br />

a<br />

Significant at p < .05.<br />

DISCUSSION<br />

The objective of the present study was to investigate body<br />

image dissatisfaction and its relationship with physical activity<br />

and body mass index in a Brazilian sample of adolescents.<br />

The results showed a large proportion of adolescents engaged<br />

in some form of physical activity and that most participants<br />

were of normal weight. Body image dissatisfaction<br />

was strictly related to BMI, but not to physical activity.<br />

Our data concerning the levels of physical activity of adolescents<br />

tested by the IPAQ agree with other national studies<br />

18 . Thus, it is important to note that there is a difference<br />

between “physical activity” and “exercise”. Caspersen et al. 19<br />

define physical activity as any bodily movement produced<br />

by skeletal muscles that results in energy expenditure. In<br />

daily life it can be categorized into occupational, sports, conditioning,<br />

household, or other activities. On the other hand,<br />

exer cise is a subcategory of physical activity. In fact, both<br />

have a number of common elements; however, exercise<br />

is not synonymous with physical activity. Exercise is physical<br />

activity that is planned, structured, repetitive, and intentional,<br />

in the sense that improvement or maintenance of<br />

one or more components of physical fitness is an objective 19 .<br />

The IPAQ is a measure of total physical activity and includes<br />

transportation and occupational physical activities making<br />

no distinction between the two terms.<br />

Particularly in developing countries, occupational and<br />

transportation activities represent a substantial proportion<br />

of total physical activity 20 . Thus, most of the participants possibly<br />

practice this kind of activity, and not specifically “exercise”.<br />

Since it is known that exercise is more often performed<br />

for appearance-related reasons 21 compared to physical activities,<br />

this could be one explanation for the lacking relationship<br />

between physical activity and body image disturbance.<br />

Concerning nutritional status, Madrigal et al. 22 have<br />

pointed out that the relationship between body weight and<br />

body image self-perception is well-documented in the literature,<br />

as confirmed in the present study. The present study<br />

shows that body dissatisfaction scores of both boys and<br />

girls were significantly correlated with their BMI, indicating<br />

that body image disturbance increases with increasing BMI.<br />

Similarly, previous studies have also found a direct relationship<br />

between BMI and body image disturbance 23,24 . A review<br />

conducted by Wardle 25 examining recent empirical evidence<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):315-20.


ORIGINAL ARTICLE<br />

Factors related to dissatisfaction in adolescents<br />

319<br />

on the relationship between obesity and body dissatisfaction<br />

found, without exception, greater body dissatisfaction<br />

among heavier children and adolescents, confirming that<br />

overweight during adolescence may indicate greater body<br />

concern and discomfort.<br />

The high correlation between body image and anthropometric<br />

characteristics suggests that the analysis of body<br />

image perception could play an important role in nutritional<br />

surveillance 24 .<br />

According to Champion and Furnham 26 , many theorists<br />

have postulated that the media may play a central role in<br />

creating and exacerbating the phenomenon of body dissatisfaction.<br />

Television and other media represent one of the<br />

most important and underrecognized influences on children<br />

and adolescents’ behavior 27 . Figures in the media provide information<br />

on fashion, beauty, and body satisfaction, and have<br />

the potential to provide positive images for adolescents in<br />

the process of their social development and emerging sense<br />

of identity. However, adolescents often identify with media<br />

characters who are unnaturally thin or who engage in harmful<br />

behaviors, and often develop unrealistic and unhealthy<br />

norms of physical appearance 28 .<br />

The adult stereotypes of beauty and obesity are naturally<br />

assimilated by children and a review conducted by Feldman<br />

et al. 29 investigating the absorption of these stereotypes in<br />

children concluded that children by the age of 6-9 years old<br />

already acquire an active dislike of the obese body and by<br />

the age of 7 years have assimilated adult cultural perceptions<br />

of attractiveness 26 .<br />

According to Pesa et al. 30 , adolescence is a period of life<br />

marked by pronounced physical, psychological, emotional,<br />

and social changes. The physical changes that characterize<br />

this life stage have been implicated as a trigger for body<br />

image problems in both males and females. With pubertal<br />

development, girls experience an increase in body fat 31 . This<br />

new body often conflicts with the cultural ideal of a slender<br />

body and girls generally become more dissatisfied with their<br />

bodies. It stands to reason that excess body weight may have<br />

a negative impact on the well-being especially of female adolescents<br />

31 . In fact, dissatisfaction with body image in girls is<br />

normally shown by the desire to lose weight. In contrast, studies<br />

have shown that boys seem to be approximately equally<br />

divided between those desiring weight gain and those desiring<br />

weight loss 8 , as confirmed in the present study.<br />

This study has presented numerous interesting findings.<br />

Nevertheless, it is not without limitations. This study has presented<br />

numerous interesting findings. Nevertheless, it is not<br />

without limitations. The first one is related to the use of one<br />

self-applicable instrument, which may contain a bias component,<br />

once it depend on those who will answer the questions,<br />

fact that can result in subjective data. Second, there<br />

is the relatively small sample size, which could not properly<br />

represent all considered strata, but may provide baseline<br />

data to begin to examine body dissatisfaction and its related<br />

factors during adolescence.<br />

In conclusion, boys and girls differed significantly in body<br />

dissatisfaction, with girls reporting higher levels of dissatisfaction.<br />

In general, underweight and normal weight boys<br />

would like to be heavier, while those overweight would like<br />

to be thinner and, in contrast, girls would like to be thinner,<br />

even when they are of normal weight. Contrary to expectations,<br />

body image dissatisfaction was strictly related to BMI,<br />

but not to physical activity.<br />

These results demonstrated that biological factors, as<br />

BMI, may play an important role in the development and<br />

maintenance of body image dissatisfaction and provided<br />

helpful information about risk population that should be target<br />

of interventional programs.<br />

ACKNOWLEDGE<br />

The authors acknowledge Fundação de Amparo à Pesquisa do<br />

Estado de São Paulo – FAPESP for financial support (Process<br />

2006/01606-6).<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):315-20.


evisão de literatura<br />

A patogênese genética e molecular<br />

da síndrome de Angelman<br />

The genetic and molecular pathogenesis of the Angelman syndrome<br />

Angelica Francesca Maris 1 , Alexis Trott 2<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Síndrome de Angelman,<br />

UBE3A, retardo mental,<br />

deficiência mental,<br />

imprinting genômico,<br />

disfunção sináptica.<br />

Objetivo: Fornecer uma revisão atualizada em língua portuguesa sobre a síndrome de Angelman,<br />

com ênfase nos mecanismos genéticos e moleculares dessa patologia, uma causa<br />

de deficiência mental severa que em alguns casos pode apresentar recorrência familiar. Método:<br />

Foi feita uma revisão bibliográfica utilizando a base de dados do PubMed, tendo como<br />

critérios de busca o termo “Angelman syndrome” isoladamente e combinado com “UBE3A”,<br />

“clinical”, “genetics” e “molecular” no título dos artigos. Dentre esses, foram selecionados artigos<br />

de revisão e artigos originais sobre a fisiopatologia da síndrome, com ênfase nos últimos<br />

dez anos. Resultados: Utilizando-se “Angelman syndrome” na busca, apareceram cerca de<br />

1.100 artigos, incluindo 240 de revisão. Nos últimos dez anos são mais de 600 artigos, aproximadamente<br />

120 de revisão, 50% dos quais publicados nos últimos cinco anos. Na base<br />

de dados SciELO, são apenas nove artigos sobre a síndrome, dos quais três em português<br />

e nenhum artigo atual de revisão. Conclusão: Após ter sido uma das principais causas que<br />

atraíram atenção ao estudo e ao entendimento dos mecanismos do imprinting genômico, a<br />

síndrome de Angelman está agora se revelando como uma patologia das sinapses. Apesar<br />

de o entendimento da fisiopatologia molecular da síndrome de Angelman ainda estar longe<br />

de ser compreendida, seu estudo está fornecendo uma visão extraordinária sobre os mecanismos<br />

que regem a plasticidade sináptica, novamente atraindo a atenção de pesquisadores<br />

que trabalham na fronteira do conhecimento.<br />

ABSTRACT<br />

Objective: The aim of this work is to provide an actualized review in Portuguese language of the<br />

main clinical and behavioral features and in particular of the genetic and molecular aspects of<br />

Angelman syndrome, a cause of severe intellectual disability, which in rare cases can be recurrent<br />

in the family. Method: This paper is a literature review that used as a source of research, scientific<br />

papers with the terms “Angelman syndrome” or combined with UBE3A, clinical, genetics, and molecular<br />

in their title, retrieved trough the PubMed database. Among those, mainly review articles and<br />

original papers about cellular and molecular aspects of the pathology were selected, prioritarily,<br />

those published in the last ten years. Results: The term Angelman syndrome retrieved about 1100<br />

papers, including close to 240 review articles. During the last ten years there were over 600 publica-<br />

Recebido em<br />

29/6/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

18/10/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética, Laboratório de Neurogenética<br />

do Desenvolvimento.<br />

2 Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), Área de Ciências Biológicas e da Saúde.<br />

Endereço para correspondência: Angelica Francesca Maris<br />

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética<br />

Trindade – 88040-900 – Florianópolis, SC, Brasil<br />

Tel.: (+55 48) 3721-9887<br />

E-mail: afmaris@gmail.com


322 Maris AF, Trott A<br />

revisão de literatura<br />

Keywords<br />

Angelman syndrome,<br />

UBE3A, mental retardation,<br />

intellectual disability,<br />

genetic imprinting, synaptic<br />

dysfunction.<br />

tions, with approximately 120 reviews, 50% of whom published in the last five years. The SciELO database<br />

was also searched and nine publications about the syndrome were found, three of which in<br />

Portuguese and no recent review article. Conclusion: After being one of the main causes to attract<br />

attention and stimulate studies to unravel the mechanisms of the genetic imprinting, Angelman<br />

syndrome is again in the spotlight because it is revealing itself as pathology of synaptic dysfunction.<br />

Albeit still long from understood, the molecular and cellular alterations in Angelman syndrome are<br />

allowing an extraordinary insight into the mechanisms which control synaptic plasticity.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Descrita pela primeira vez em 1965, pelo pediatra inglês Harry<br />

Angelman, a síndrome que atualmente leva seu sobrenome<br />

se caracteriza por retardo mental (RM) severo, acompanhado<br />

por incapacidade de falar palavras ou frases, andar atáxico<br />

desequilibrado e convulsões e pelo fato de seus portadores<br />

rirem excessivamente sempre que há um estímulo de<br />

qualquer natureza. Essas risadas inapropriadas, que ocorrem<br />

independentemente de um fato alegre, quase como um reflexo,<br />

além do andar vacilante, levou à denominação de “happy<br />

puppet syndrome” (síndrome da marionete feliz) para essa<br />

condição. Posteriormente, considerada pejorativa, foi renomeada<br />

de síndrome de Angelman (AS) 1 . As estimativas da incidência<br />

de AS variam de 1/10.000 a 1/40.000 nascimentos 2-4 .<br />

Em 1997, a causa da síndrome de Angelman foi relacionada<br />

à perda da função de UBE3A. O gene UBE3A, localizado<br />

no cromossomo 15, apresenta uma característica incomum,<br />

pois a transcrição desse gene não ocorre do alelo herdado<br />

do pai nos neurônios de pessoas normais, um mecanismo<br />

denominado de impressão genômica paterna (imprinting paterno),<br />

pois todas as pessoas dependem do alelo herdado da<br />

mãe para expressar a proteína UBE3A nessas células. Em todos<br />

os outros tecidos, a expressão de UBE3A ocorre de forma<br />

bialélica (dos alelos herdados de ambos os pais). A síndrome<br />

de Angelman se deve a alterações genéticas que impedem<br />

a produção de UBE3A do alelo materno, pois então não haverá<br />

a função dessa proteína nos neurônios. O produto do<br />

gene UBE3A codifica uma ubiquitina ligase, que é responsável<br />

por direcionar certas proteínas para degradação. Evidências<br />

recentes indicam que desbalanços na função de UBE3A comprometem<br />

a função e a plasticidade neuronal; quando não há<br />

atividade de UBE3A nos neurônios, desenvolve-se a síndrome<br />

de Angelman; já sua expressão aumentada está relacionada<br />

com sintomas de autismo 5,6 .<br />

Neste estudo, o objetivo foi revisar os principais mecanismos<br />

genéticos e moleculares envolvidos na patogênese<br />

e na fisiopatologia da síndrome de Angelman, delineando<br />

brevemente o impacto da síndrome no comportamento e<br />

desenvolvimento dos afetados.<br />

Aspectos clínicos e comportamentais da<br />

síndrome de Angelman<br />

As crianças com a síndrome de Angelman geralmente nascem<br />

com aparência e desenvolvimento inicial indistinguível<br />

de outros bebês saudáveis. A gestação costuma ser normal,<br />

os bebês nascem com tamanho e peso normais e, em geral,<br />

não há nenhum indício que possa levar os pais ou os médicos<br />

pediatras a suspeitarem de qualquer anormalidade 2-4 .<br />

Somente entre 6 meses e 1 ano é que começa a aparecer o<br />

retardo em seu desenvolvimento. Talvez um dos primeiros<br />

indícios seja a facilidade em sorrir e rir. Já muito cedo essas<br />

crianças sorriem mais que o usual, um fato inexplicável até<br />

o momento. Sinais de hipotonia podem se manifestar com<br />

dificuldades para sucção e deglutição, dificultando a alimentação.<br />

Além do retardo em todos os marcos do desenvolvimento,<br />

hiperatividade, risadas explosivas, ausência de linguagem<br />

verbal (restrita à sonorização de três a cinco sílabas<br />

e raramente quatro a cinco palavras) e o aparecimento de<br />

crises convulsivas, que ocorrem em 80% dos casos, geralmente<br />

antes dos 4 anos de idade, podem levar o médico<br />

a diagnosticar a AS 1,2,7-9 . Porém, a idade média de diagnóstico<br />

gira em torno dos 6 anos de idade e muitos pais ficam<br />

anos à procura de respostas 2 . O comportamento de alegria<br />

contagiante das crianças afetadas, sua disposição social e a<br />

facilidade de satisfazer emocionalmente a criança com AS<br />

também podem levar muitos pais a ignorarem por bastante<br />

tempo a condição 10 . Um dos sinais diagnósticos típicos é um<br />

padrão de eletroencefalograma (EEG) característico, com ondas<br />

trifásicas amplas e picos lentos 2 .<br />

O desenvolvimento motor dos portadores da AS mostra<br />

déficits desde os 6 ou 7 meses de idade, com atraso nos marcos<br />

mais característicos. Raramente sentam sem apoio antes<br />

do primeiro ano de vida e geralmente só conseguem andar<br />

sozinhos em torno dos 4 anos de idade ou mais, e cerca de<br />

10% não desenvolvem ambulação 10 . O seu andar é característico,<br />

desajeitado, como que desequilibrado, com frequência<br />

sendo acompanhado por tremores, com os braços posicionados<br />

com cotovelos flexionados, os antebraços erguidos e as<br />

mãos flexionadas para baixo. Todos apresentam dificuldade<br />

em coordenar a musculatura motora voluntária e possuem<br />

hipotonia do tronco e ao mesmo tempo contratividade de<br />

membros. A hiperatividade e a hiperexcitabilidade estão em<br />

100% dos casos, sendo que reagem aos menores estímulos físicos<br />

e mentais com explosões descontroladas de risos, vocalizações<br />

(gritos de excitação) e com agitação (abano) das mãos.<br />

Apesar de esse comportamento ser descrito como um mero<br />

reflexo motor, tem-se a impressão de que os afetados tendem<br />

a se sentir felizes e satisfeitos, exceto quando não estão conseguindo<br />

comunicar um desejo.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):321-30.


evisão de literatura<br />

A patogênese da síndrome de Angelman<br />

323<br />

Por causa de sua hiperatividade, as crianças pequenas<br />

com AS sempre estão manuseando algum brinquedo e o<br />

colocando na boca, assim como os próprios dedos. Mais tarde,<br />

é comum empurrarem, puxarem cabelos, beliscarem e<br />

morderem outras crianças. Mesmo sem nada na boca, são<br />

frequentes os movimentos de mastigação, e sua dificuldade<br />

com a deglutição pode levá-los a apresentar sialorreia (escape<br />

oral de saliva) em graus variados. Além das dificuldades<br />

com alimentação, hiperatividade e hiperexcitabilidade, os<br />

distúrbios do sono também são muito comuns em pacientes<br />

com a síndrome, tornando-se um transtorno para toda a<br />

família e por isso é frequente que sejam administradas medicações<br />

para dormir 9 . Principalmente na infância, há grande<br />

dificuldade para pegar no sono e muita facilidade para acordar<br />

e uma aparente necessidade de somente cinco a seis horas<br />

de sono por noite, sem que isso perturbe a sua disposição<br />

e atenção durante o período de vigília 11,12 .<br />

Os indivíduos com AS atingem uma idade mental e funcional<br />

máxima considerada equivalente a 12 e 30 meses de<br />

idade 1,10,13 . Sua capacidade de compreensão é muito maior<br />

que sua capacidade de verbalização. Parece haver influência<br />

do tipo de mutação nessa condição, e os mais comprometidos<br />

são aqueles com deleções mais extensas, que se caracterizam<br />

pela ausência total de linguagem, seguidos pelos<br />

que têm mutação no gene UBE3A, que podem chegar a falar<br />

duas a cinco sílabas e, eventualmente, três a quatro palavras.<br />

Os menos afetados são os portadores de dissomia uniparental,<br />

cujo vocabulário pode chegar a mais de dez palavras, porém<br />

nunca há aquisição de linguagem verbal com mais de<br />

algumas palavras, exceto para casos de mosaicismo somático.<br />

A ausência de linguagem verbal associada ao comportamento<br />

de risadas reativas e descontroladas e a ausência de<br />

regressão nas habilidades adquiridas tendem a ser marcos<br />

inconfundíveis da síndrome, servindo quase sempre para a<br />

suspeita inicial de diagnóstico.<br />

Com o passar dos anos, a hiperatividade característica<br />

diminui e aumenta a capacidade prestar atenção e de seguir<br />

ordens simples. A maioria desenvolve comunicação suficiente<br />

para demonstrar sua vontade e fazer escolhas, como<br />

o que quer comer ou vestir. Portadores da AS podem aprender<br />

a se comunicar mais com gestos que com a linguagem<br />

verbal e há relato de que, mesmo com esforços consistentes<br />

para intervir no desenvolvimento da linguagem verbal, o sucesso<br />

é praticamente nulo. Por isso, a intervenção no quesito<br />

comunicação deveria se concentrar no desenvolvimento da<br />

capacidade de comunicação não verbal, ensinando-se comunicação<br />

com utilização de imagens, fotos e gestos, uma<br />

vez que a frustração com a incapacidade de comunicar seus<br />

desejos ou expressar sua contrariedade são as principais causas<br />

que originam comportamentos agressivos em portadores<br />

de AS 14,15 .<br />

Os indivíduos com AS necessitam de suporte intenso<br />

por toda a vida e de supervisão durante as 24 horas do dia.<br />

Apesar de desenvolverem certa independência para realizar<br />

algumas atividades, não têm noção de perigo e tendem a<br />

sempre necessitar de ajuda para realizar as tarefas mais básicas,<br />

como tomar banho, escovar os dentes, comer e vestir-se.<br />

Muitos aprendem a se despir e a manusear talheres<br />

simples, especialmente colheres. Um terço a 50% aprendem<br />

a utilizar o banheiro durante o dia, porém é comum molharem<br />

a cama à noite 2,11 . Podem exibir hipersensibilidade ao<br />

calor e uma das características marcantes em portadores da<br />

AS é sua fascinação por água, não sendo incomum jogarem-<br />

-se em uma piscina com roupa. Gostam de ver fotos, escutar<br />

música alta – inclusive para dançar –, assistir à TV, assim<br />

como manusear plásticos brilhantes ou papéis metalizados,<br />

como as embalagens de salgadinhos, balões e outros brinquedos<br />

que chamam atenção e não exigem coordenação<br />

motora fina.<br />

A entrada na puberdade ocorre no período normal, assim<br />

como o desenvolvimento sexual 16 . Indivíduos com AS<br />

são férteis e há ao menos um caso relatado de uma mulher<br />

com AS transmitindo a mutação para uma filha 17 . Sua<br />

expectativa de vida sob cuidados é considerada normal,<br />

porém, após os 50 anos, podem apresentar distonia ou parkinsonismo<br />

10 .<br />

Características físicas típicas dos portadores da<br />

síndrome de Angelman<br />

Apesar de indistinguíveis de bebês normais ao nascimento,<br />

80% dos portadores da AS apresentam atraso no crescimento<br />

cefálico, que resulta em microcefalia aos 2 anos de idade<br />

e, conforme crescem, muitos se caracterizam por prognatismo,<br />

com queixo proeminente, boca larga, com o lábio superior<br />

fino, a língua protusa e os dentes espaçados. A cabeça<br />

mais achatada no sentido anteroposterior também é achado<br />

comum. Muitos adultos desenvolvem obesidade devido a<br />

uma ingesta calórica grande (adoram comer) e uma relativa<br />

relutância em caminhar ou participar de atividades esportivas,<br />

mas também surge como efeito colateral de anticonvulsivantes<br />

1,4,18 .<br />

Entre os portadores de deleções que incluem o gene P, é<br />

comum a hipopigmentação da pele, dos olhos e da retina e<br />

uma alta proporção de estrabismo. O gene P, necessário para<br />

pigmentação normal, fica próximo ao gene UBE3A e codifica<br />

um transportador de membrana para pequenas moléculas,<br />

provavelmente envolvido no transporte de tirosina, precursora<br />

de melanina, nos melanócitos 19 .<br />

Síndrome de Angelman e autismo<br />

Alguns autores consideram que uma parte dos afetados<br />

por AS apresenta autismo, já que no autismo como na AS<br />

há ausência de linguagem e atraso no desenvolvimento<br />

social, satisfazendo alguns dos critérios mais relevantes.<br />

Porém, as controvérsias a esse respeito são muitas. Ao contrário<br />

dos autistas, é notória a disposição para interação<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):321-30.


324 Maris AF, Trott A<br />

revisão de literatura<br />

social nos portadores de AS, mesmo que não desenvolvam<br />

muitas habilidades sociais 20 . Na realidade, são os casos<br />

mais graves, com maior comprometimento cognitivo, que<br />

se enquadrariam melhor no diagnóstico autista, porém<br />

há autores que alertam que para qualquer condição que<br />

resulta em uma deficiência intelectual profunda ou idade<br />

mental abaixo de 12 meses de idade é difícil a diferenciação<br />

do autismo com base nos critérios utilizados 21,22 . Vale<br />

mencionar que alterações na expressão do gene UBE3A<br />

têm apresentado uma relação com o autismo, mas o mecanismo<br />

seria justamente oposto ao que causa a AS, uma<br />

vez que cerca de 1% dos indivíduos com autismo apresenta<br />

duplicação da região do cromossomo 15 que contém o<br />

gene UBE3A. Portanto, a atividade aumentada (e não deficiente)<br />

de UBE3A poderia ser responsável pelos sintomas<br />

de autismo nessas pessoas 5,6 .<br />

O gene UBE3A<br />

Esse gene codifica a E6-AP ubiquitina ligase humana, um<br />

membro de uma classe de ubiquitina-proteína ligases funcionalmente<br />

relacionadas às E3 ubiquitina ligases definido<br />

por um domínio carboxiterminal denominado de HECT (Homologous<br />

to the E6-AP CarboxiTerminus) 23 . As proteína-ligases<br />

E3 participam de um sistema de degradação proteica não<br />

lisossomal, por meio da via ubiquitina-proteossoma, que é<br />

responsável pela degradação da maioria das proteínas e de<br />

vida curta, cuja síntese e eliminação são reguladas, assim<br />

como daquelas envolvidas em processos de sinalização celular,<br />

progressão do ciclo celular e reparação de DNA, além<br />

de também degradar proteínas anormais 24,25 . O sistema de<br />

ubiquitinização envolve a ação coordenada de três enzimas:<br />

enzimas ativadoras de ubiquitina (E1), enzimas conjugadoras<br />

de ubiquitina (E2) e (E3) proteínas ligases. As enzimas E3<br />

parecem ser críticas para definir que substrato será ubiquitinado,<br />

e aquelas com domínio HECT formam intermediários<br />

com os substratos para que estes possam receber a ubiquitina<br />

da proteína E2 23,26,27 .<br />

Além de seu papel como ubiquitina ligase, cuja função<br />

depende do domínio HECT e de um domínio de transativação<br />

localizados na porção C-terminal da proteína, o produto<br />

do gene UBE3A também funciona como coativador de transcrição<br />

pela família de receptores nucleares de hormônios.<br />

A atividade de coativador reside em um domínio localizado<br />

na porção terminal N-terminal de E6-AP, que, na maioria dos<br />

pacientes com AS por mutação em UBE3A, se encontra intacta,<br />

por isso não é considerada relevante para a patogênese<br />

da condição 28 .<br />

As alterações gênicas que causam a síndrome de<br />

Angelman<br />

A grande maioria dos casos da síndrome de Angelman é<br />

causada por quatro mecanismos genéticos distintos, definidos<br />

como classes de mutação I a IV, todos resultando em<br />

uma ausência de expressão do gene UBE3A materno, localizado<br />

na região 15q13. Em uma quinta classe – classe V –, são<br />

incluídos aqueles casos impossíveis de serem enquadrados<br />

nas classes anteriores 2 .<br />

A classe de mutação I representa 70%-75% dos casos de<br />

AS e envolve uma deleção na região 15q11-13 cujo tamanho<br />

varia, mas a maioria é de 4 Mb e ocorre em pontos de quebra<br />

típicos, provavelmente por crossing-over desigual devido à<br />

presença de sequências repetitivas nessa região. Essas deleções<br />

costumam representar mutações novas, geradas na<br />

gametogênese da mãe, e resultam na ausência da expressão<br />

de UBE3A do alelo materno. Quando a mesma deleção<br />

é herdada do pai, o indivíduo não desenvolve a síndrome de<br />

Angelman, mas a síndrome de Prader-Willi (PW) que não está<br />

relacionada ao gene UBE3A e seus portadores apresentam<br />

problemas mais leves.<br />

As mutações de classe II representam 2%-3% dos afetados<br />

e são devidas à dissomia uniparental do cromossomo<br />

paterno. Os mecanismos pelos quais essa dissomia ocorre<br />

são discutidos, havendo evidências de não disjunção meiótica,<br />

porém a maioria parece se dever a eventos pós-zigóticos<br />

e tendem a envolver o cromossomo inteiro. Nesse caso, ambos<br />

os cromossomos 15 apresentam padrão de imprinting<br />

paterno e o gene UBE3A não é expresso.<br />

A terceira classe de mutações, que representa 3%-5%<br />

dos casos de Angelman, é causada por alterações no padrão<br />

de metilação do cromossomo 15 materno e se deve<br />

a alterações no centro de imprinting envolvendo AC-SRO<br />

(Figura 1), de forma que resulta em um padrão de imprinting<br />

genômico paterno para ambos os cromossomos 15<br />

herdados.<br />

A classe IV se deve a mutações que envolvem somente<br />

o gene UBE3A, representando 5% a 10% dos casos identificados.<br />

A grande maioria das mutações identificadas se deve<br />

a pequenas deleções ou inserções que podem causar um<br />

deslocamento do quadro de leitura e geralmente levam a<br />

códons de terminação precoces, truncando a porção carboxiterminal<br />

da proteína codificada, e algumas são mutações<br />

de sentido trocado, que alteram apenas um ou dois aminoácidos<br />

da proteína codificada.<br />

Estrutura gênica de UBE3A<br />

O gene UBE3A apresenta 16 éxons que se estendem por<br />

aproximadamente 120 kb e é transcrito no sentido do centrômero<br />

para o telômero no braço longo do cromossomo<br />

15. Esse gene codifica para um número ainda não totalmente<br />

definido de isoformas, e ao menos cinco mRNAs<br />

distintos foram descritos, resultado de um processamento<br />

alternativo complexo da porção 5’ do transcrito primário 29 .<br />

Esse processamento pode levar à utilização de inícios de<br />

tradução alternativos, localizados nos éxons 4, 5 e 7-8 (Figura<br />

2).<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):321-30.


evisão de literatura<br />

A patogênese da síndrome de Angelman<br />

325<br />

Figura 1. Região cromossômica em 15q11-13. PAT: representando alelos expressos do cromossomo paterno (caixas escuras, no<br />

cromossomo do alto), e em cinza-claro os alelos com imprinting paterno (UBE3A e ATP10A). MAT: representando alelos expressos do<br />

cromossomo materno com caixas escuras (UBE3A e ATP10A) e em cinza-claro os alelos com imprinting materno. Seta representando<br />

a orientação da região cromossômica do trecho representado. Fonte: Adaptado de Lalande e Calciano, 2007 34 .<br />

Figura 2. Organização gênica de UBE3A, representando éxons 1-16, em escala proporcional, e os locais alternativos de iniciação<br />

de tradução (códons ATG), nos éxons 4, 5 e 7-8. Fonte: Adaptada de Lossie et al., 2001 18 .<br />

Impressão genômica (imprinting) e o gene<br />

UBE3A<br />

A impressão genômica ou o imprinting genômico (termo<br />

que na prática é mais utilizado e também será utilizado neste<br />

texto) marca a origem parental de cromossomos, de regiões<br />

cromossômicas ou de genes, resultando em padrões<br />

de expressão diferencial de até 100 genes identificados até<br />

o momento, sem alterar a sequência de bases no DNA. Mecanismos<br />

epigenéticos como metilação de DNA e modificações<br />

em histonas são os responsáveis por estabelecer o<br />

imprinting genômico, que inicialmente se pensava ocorrer<br />

somente em mamíferos placentários. Os genes que sofrem<br />

imprinting tendem a ter o alelo “imprintado” silenciado,<br />

portanto apresentam expressão monoalélica; aqueles com<br />

imprinting paterno somente se expressam do alelo materno<br />

e os com imprinting materno têm sua expressão apenas do<br />

alelo paterno 30 . Esse processo pode ser mais comum do que<br />

se imagina e já foi verificado em várias espécies de insetos<br />

e em plantas 31 . Talvez a principal razão para a evolução do<br />

imprinting genômico seja para servir como mais uma barreira<br />

à reprodução assexual ou partenogênica 32 . Curiosamente,<br />

vários dos genes regulados por esse mecanismo no início<br />

do desenvolvimento fetal estão envolvidos na alocação de<br />

recursos da mãe para o feto, e há uma teoria muito aceita de<br />

que o imprinting evoluiu como uma “disputa” de genomas<br />

paternos de mamíferos poligâmicos para alocar o máximo<br />

de recursos da mãe para seu descendente e a defesa da mãe<br />

para conservar recursos suficientes para garantir a sua sobrevivência<br />

e de outros filhos 30 .<br />

Acredita-se que a maioria dos genes exibe o padrão de<br />

imprinting genômico em todas as células do organismo ao<br />

longo de sua existência. Porém, mais recentemente se verificou<br />

que o imprinting pode reger a expressão diferencial<br />

de alelos, dependendo de sua origem paterna ou materna<br />

de forma não somente tecido-específica, mas também de<br />

forma diferencial em vários estágios do desenvolvimento<br />

embrionário 30 .<br />

A região 15q11-13, deletada no cromossomo materno da<br />

maioria dos pacientes com AS, contém uma série de genes<br />

sujeitos à impressão genômica materna ou paterna. Quando<br />

essa região está ausente (deletada) no cromossomo paterno,<br />

origina a síndrome de Prader-Willi, caracterizada por hipoto-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):321-30.


326 Maris AF, Trott A<br />

revisão de literatura<br />

nia neonatal, atraso no crescimento, hiperfagia desde a infância<br />

que resulta em obesidade, baixa estatura, mãos e pés<br />

pequenos, hipogonadismo, problemas de comportamento<br />

e RM de leve a moderado 33 . A ausência da mesma região no<br />

cromossomo materno causa a síndrome de Angelman, cujas<br />

consequências no desenvolvimento mental e funcional são<br />

bem mais graves. O desenvolvimento de PW depende da<br />

ausência da expressão de vários genes da região no alelo paterno,<br />

enquanto para AS a ausência específica da expressão<br />

do gene UBE3A do alelo materno causa a condição.<br />

A regulação dessa região do cromossomo 15 parece ser<br />

coordenada por um centro de impressão genômica (PW/AS-<br />

-IC) com dois elementos funcionais, denominados PW-SRO<br />

e AS-SRO (SRO está para shortest region of overlap: região de<br />

mínima sobreposição entre todas as deleções que causam a<br />

condição por mecanismos que afetam o padrão de impressão<br />

genômica) 34,35 .<br />

A PW-SRO é uma região de 4,1 kb, que contém o promotor<br />

e o primeiro éxon do gene SNRP. Um cromossomo 15<br />

sem a PW-SRO se apresenta com o padrão de expressão de<br />

cromossomo de origem materna independentemente de<br />

ter sido transmitido pelo pai ou pela mãe, não expressando<br />

os vários genes do cromossomo que sofrem impressão<br />

genômica materna. Normalmente, a PW-SRO sofre metilação<br />

pós-zigótica (dependente de AS-SRO) no cromossomo<br />

de origem materna, permitindo a metilação secundária dos<br />

genes de impressão genômica materna da região 15q11-13,<br />

enquanto no cromossomo paterno PW-SRO não é metilado,<br />

conseguindo evitar a metilação dos alelos paternos daqueles<br />

genes.<br />

O AS-SRO representa uma região de 880 pb, distante 35 kb<br />

do éxon 1 de SNRPN, em direção ao centrômero. Essa região<br />

contém éxons u5 e u6 localizados antes da origem de transcrição<br />

usual de SNRPN, que estão presentes em uma proporção<br />

muito pequena de transcritos alternativos de SNRPN.<br />

A AS-SRO é necessária para estabelecer o padrão de expressão<br />

materno (essencial para expressão de UBE3A) de seu<br />

cromossomo somente quando a PW-SRO está funcional.<br />

Em caso de deleção ou metilação de PW-SRO, a função de<br />

AS-SRO é dispensável (Figura 1) 34,35 .<br />

O mecanismo de impressão genômica secundária de<br />

UBE3A difere funcionalmente da maioria dos genes da região<br />

por somente ser estabelecida em neurônios do cérebro<br />

e não apresentar alterações epigenéticas em seu DNA ou<br />

histonas que diferenciem sua origem parental. Foi reportado<br />

que o silenciamento da cópia paterna de Ube3a (camundongo)<br />

se deve a um transcrito de sentido contrário (antisense)<br />

ao gene Ube3a, expresso somente em neurônios cerebrais<br />

exclusivamente do cromossomo de origem paterna 36 . Porém,<br />

dados mais recentes contradizem esse fato, e o exato<br />

mecanismo de silenciamento do gene Ube3a ainda não está<br />

totalmente esclarecido 34,37 .<br />

Os alvos de UBE3A e efeitos da falta de expressão<br />

de UBE3A nas células<br />

Alguns dos alvos de ubiquitinização por UBE3A são conhecidos,<br />

como o supressor de tumor p53 38,39 , porém não parece<br />

ser esse o responsável pela síndrome. Apesar de, até pouco<br />

tempo atrás, nenhum alvo direto de ubiquitinização identificado<br />

esclarecer o fenótipo apresentado por afetados com<br />

AS, estudos em camundongo revelaram que a deficiência de<br />

UBE3A resulta em um aumento da fosforilação inibitória da<br />

proteína kinase dependente de cálcio/calmudolina tipo 2<br />

(CaMKII) e diminui sua concentração no terminal pós-sináptico<br />

40 . Isso pode indicar que a proteína kinase responsável<br />

pela fosforilação inibitória da CaMKII seja alvo de degradação<br />

regulada por UBE3A, que não ocorreria nos camundongos<br />

mutantes. Conhecida por seus efeitos na modulação<br />

da plasticidade neuronal, aprendizado e memória, a CaMKII<br />

também é essencial para o aprendizado motor cerebelar e<br />

a plasticidade de células de Purkinje 41 . Sua ativação provoca<br />

crescimento de filopódia e formação de espinhas dendríticas<br />

e sua inibição resulta na perda delas. Camundongos<br />

duplo-mutantes para AS e para uma mutação em CaMKII<br />

que impede a sua fosforilação inibitória demonstraram uma<br />

diminuição de 60% na incidência de crises convulsivas em<br />

relação a camundongos somente AS e uma reversão praticamente<br />

total para os fenótipos cognitivos, motores dos<br />

animais, assim como para os déficits severos no estímulo de<br />

potenciação de longa duração (LTP) verificada em hipocampo<br />

de camundongos AS. Isso sugere que a proteína kinase<br />

que provoca a fosforilação inibitória em CaMKII ou alguma<br />

proteína necessária para a via de fosforilação inibitória seja<br />

substrato de degradação por meio de UBE3A sempre que<br />

há a necessidade de ativar CaMKII. Os duplo-mutantes (AS e<br />

CaMKII mutada), que apresentam a atividade de degradação<br />

de proteínas regulada por UBE3A disfuncional, porém possuem<br />

uma CaMKII mutada de forma que não possa ocorrer a<br />

inibição por fosforilação, também não apresentam o aumento<br />

médio em 20% no peso visto em camundongos que somente<br />

têm a mutação AS 42 . Até que ponto esses resultados<br />

podem ser extrapolados para seres humanos não está claro,<br />

porém, fornecem um forte indicativo de um papel importante<br />

da CaMKII na fisiopatologia da síndrome de Angelman.<br />

Em 2010, finalmente alguns substratos de UBE3A que podem<br />

explicar os déficits cognitivos na AS foram identificados.<br />

Pesquisadores do grupo de Michael Greenberg (Harward<br />

Medical School) descobriram que UBE3A regula o desenvolvimento<br />

de sinapses excitatórias por meio do controle da<br />

degradação de ARC, uma proteína sináptica que promove a<br />

interiorização de receptores de glutamato do subtipo AMPA.<br />

Portanto, se não houver UBE3A nos neurônios, haverá mais<br />

proteína ARC, o que resulta em um aumento na interiorização<br />

(portanto, em uma diminuição no número) de receptores<br />

AMPA nas sinapses excitatórias. Desse modo, a desregulação<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):321-30.


evisão de literatura<br />

A patogênese da síndrome de Angelman<br />

327<br />

da expressão dos receptores AMPA nas sinapses, importante<br />

para definir se uma sinapse será potenciada ou deprimida,<br />

pode ser uma das principais causas para a disfunção cognitiva<br />

que ocorre na síndrome de Angelman 43,44 . Outra proteína<br />

cuja degradação é regulada por UBE3A, a Ephexin-5 (Efexina-5),<br />

foi descoberta pelo mesmo grupo 45 . A Efexina-5 atua<br />

como uma proteína ativadora de RhoA, que é uma pequena<br />

proteína sinalizadora da família das proteínas G, que em seu<br />

estado ativo limita a formação de novas sinapses por antagonizar<br />

com a ação de Rac, outra proteína G sinalizadora, cuja<br />

função, porém, é estimular o desenvolvimento de espículas<br />

sinápticas. Após estímulo adequado, a Efexina-5 é fosforilada,<br />

ubiquitinada (marcada para degradação) via UBE3A e degradada,<br />

liberando, assim, Rac para agir no desenvolvimento<br />

sináptico. Na ausência da ação de UBE3A, a degradação da<br />

Efexina não ocorre de forma adequada, prejudicando a plasticidade<br />

sináptica.<br />

Expressão e função do gene UBE3A na estrutura<br />

cerebral e neuronal<br />

Os primeiros estudos de expressão do gene UBE3A verificaram<br />

expressão bialélica (do alelo materno e paterno) em<br />

linfócitos e fibroblastos humanos em cultura 46 , o que apresentou<br />

um paradoxo para os pesquisadores, uma vez que<br />

somente a ausência de um gene UBE3A funcional da cópia<br />

materna, mas não do alelo paterno, causava a síndrome. Até<br />

então existia a ideia generalizada de que o padrão de imprinting<br />

era estabelecido na gametogênese e que esse padrão<br />

seria expresso em todas as células do organismo 47 .<br />

Estudos com embriões humanos em estágio de pré-implantação<br />

(4 a 8 céls) constatam que o gene UBE3A já é expresso<br />

nessa fase, e provavelmente por ambos os alelos 48 . Análise<br />

direta em cérebros de fetos humanos e de afetados por AS<br />

com a deleção característica no cromossomo materno 49 demonstrara<br />

que o gene UBE3A sofre imprinting paterno específico<br />

no cérebro, e não em outros tecidos. Para analisar esse<br />

fenômeno mais em detalhe, os pesquisadores se valeram de<br />

modelos animais, mais especificamente de camundongos.<br />

Em 1997, um grupo de pesquisadores demonstrou um modelo<br />

de AS em camundongo devido à dissomia uniparental<br />

do cromossomo paterno que porta o gene Ube3a. Como as<br />

duas cópias de Ube3a neste caso sofrem imprinting paterno,<br />

não ocorre a expressão do alelo materno 50 . Isso tornou<br />

viável utilizar o camundongo como modelo para examinar<br />

a expressão de Ube3a em subgrupos específicos de células<br />

cerebrais e também durante o desenvolvimento embrionário.<br />

Em camundongos normais, ao contrário do relatado para<br />

embriões humanos, não foi detectada a expressão de Ube3a<br />

bem no início da fase embrionária até os 7,5 dias, somente<br />

a partir de 8,5 dias foi detectada a expressão no neuroepitélio<br />

e em vários tecidos mesenquimais, incluindo os arcos<br />

branquiais, que foi sendo vista na maioria dos tecidos analisados<br />

no decorrer do desenvolvimento do embrião 50 . Nessas<br />

fases, os autores não estabeleceram o padrão de expressão<br />

de Ube3a em camundongos com dissomia paterna para<br />

comparação, mas o fizeram em cérebros de camundongos<br />

adultos de 7-9 meses. Nestes, foram encontradas diferenças<br />

de expressão para grupos celulares específicos, mas nos mutantes<br />

não foi detectada expressão de Ube3a em neurônios<br />

do hipocampo e células Purkinje e uma expressão diminuída<br />

no córtex cerebral. No restante das regiões cerebrais e outros<br />

tecidos, não foram detectadas diferenças na expressão<br />

entre camundongos normais e mutantes, levando a concluir<br />

que nestes o gene Ube3a é expresso de forma bialélica. Os<br />

autores não detectaram diferenças histopatológicas entre as<br />

estruturas de animais com e sem a expressão do alelo materno.<br />

Atualmente se acredita que a expressão de Ube3a nos<br />

nichos de células-tronco que revestem os ventrículos laterais<br />

e no giro dentado da formação do hipocampo, assim como<br />

células progenitoras de neurônios e neurônios imaturos,<br />

ocorre de forma bialélica. A expressão monoalélica (exclusivamente<br />

do alelo materno) parece ser estabelecida somente<br />

no decorrer da maturação dos neurônios 51 .<br />

Para esclarecer se o imprinting de Ube3a era específico<br />

para regiões cerebrais ou se era específico de tipos celulares,<br />

Yamasaki et al. analisaram a expressão desse gene em<br />

culturas de células cerebrais (neurônios e células gliais) de<br />

camundongos normais e de camundongos com a mutação<br />

para AS. Foi verificado que, no cultivo de células neuronais,<br />

a expressão do gene Ube3a ocorria somente quando havia a<br />

expressão do alelo materno, enquanto nas células gliais (astrócitos)<br />

a expressão era bialélica 36 .<br />

Dindot et al. analisaram a expressão em detalhes ainda<br />

mais específicos, com o objetivo de localizar não somente as<br />

células que expressam o gene em seu contexto cerebral, mas<br />

encontrar a localização subcelular de UBE3A, assim como os<br />

efeitos da ausência da proteína na microestrutura neuronal 52 .<br />

Para tal, esses autores fusionaram o gene Ube3a de camundongo<br />

à proteína fluorescente amarela (UBE3A-YFP) e verificaram<br />

por imunoistoquímica que Ube3a é expressa quase<br />

exclusivamente do alelo materno em neurônios cerebrais de<br />

todas as regiões do cérebro em camundongos normais. Essa<br />

expressão ocorre em níveis mais elevados nas células piramidais<br />

do hipocampo e do córtex e nas células Purkinje do cerebelo,<br />

do que nas células gliais que delimitam os ventrículos<br />

o gene é expresso de forma bialélica. Em astrócitos de outras<br />

regiões do cérebro, não foi encontrada expressão da proteína<br />

codificada por Ube3a. A análise da localização subcelular<br />

de UBE3A demonstrou alta concentração no núcleo de todas<br />

as células em que é expressa, distribuição menos concentrada<br />

pelo corpo celular com concentração maior nos<br />

cones de crescimento dos neurônios e nos compartimentos<br />

pré e pós-sinápticos. Esses autores confirmaram a aparência<br />

normal da arquitetura celular do cérebro e da arborização<br />

dendrítica dos neurônios em camundongos mutados, porém<br />

encontraram nesses neurônios espinhas dendríticas de<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):321-30.


328 Maris AF, Trott A<br />

revisão de literatura<br />

formato anormal e com tamanho e densidade reduzida, assim<br />

como dendritos secundários mais delgados e com algumas<br />

regiões nodulares (Figura 3).<br />

Esses resultados levaram à conclusão de que UBE3A não<br />

afeta a neurogênese em si, mas parece ter um papel local<br />

para regular o desenvolvimento das espinhas dendríticas<br />

ou a plasticidade sináptica 52 , o que vai de encontro com o<br />

envolvimento da proteína kinase cálcio/calmudolina dependente<br />

do tipo II (CaMKII), conforme mencionado acima.<br />

A demonstração pelo grupo de Greenberg, de que a degradação<br />

regulada da proteína Arc e Efexina-5 depende de<br />

UBE3A, reforça o conceito emergente de que a síndrome de<br />

Angelman é uma síndrome de disfunção no desenvolvimento<br />

sináptico. O grupo de Philpot demonstrou que a UBE3A<br />

é necessária para a plasticidade neocortical e a plasticidade<br />

dependente de experiências in vivo, indicando que os déficits<br />

de aprendizado apresentados pelos indivíduos com a AS<br />

provavelmente se devem a uma rigidez sináptica severa 53 .<br />

O mesmo grupo, estudando o cérebro de camundongos<br />

que não expressam Ube3a materno, verificou que há uma<br />

severa diminuição de sinapses excitatórias no 21º dia do<br />

desenvolvimento pós-natal e que mais tarde no desenvolvimento<br />

também são encontradas diminuições severas no<br />

desenvolvimento de sinapses inibitórias, sendo que a ausência<br />

destas talvez explique a suscetibilidade a convulsões<br />

apresentadas pelos afetados pela síndrome 51 .<br />

Síndrome de Angelman, síndrome do X-frágil e a<br />

síndrome de Rett: três síndromes com alterações<br />

nas espinhas dendríticas<br />

Além da AS, ao menos duas outras patologias relacionadas<br />

com retardo mental são causadas por mutações que alteram<br />

a formação, morfologia ou densidade de espinhas dendríticas.<br />

Uma delas, a síndrome do X-frágil, é causada por mutações<br />

que abolem a expressão da proteína FMR1, envolvida<br />

no transporte e tradução local de mRNAs específicos junto<br />

a espinhas dendríticas 54-56 , e um dos mRNAs cuja tradução é<br />

regulada pela proteína FMR1 é o da proteína ARC 51 , considerada<br />

um dos alvos mais relevantes de UBE3A. A ausência de<br />

FMR1 causa aumento na densidade de espinhas dendríticas,<br />

porém a morfologia destas é anormal, sendo mais alongadas<br />

e sem o formato de cogumelo característico 57-59 . Na síndrome<br />

de Rett, cujo gene mutado é MECP2, que codifica para uma<br />

proteína ligadora a metil-CpG, que em neurônios age como<br />

repressor de transcrição na ausência de estímulo sináptico,<br />

há uma diminuição na densidade de espinhas dendríticas<br />

que também se apresentam imaturas (alongadas e sem o<br />

formato de cogumelo característico). Porém, a ausência de<br />

Mecp2 (camundongo), além da alteração na função sináptica,<br />

também afeta a orientação dos axônios de certos grupos<br />

celulares, resultando em sua desorganização 60 . Realmente, o<br />

efeito de mutações de perda de função em MECP2 tem efeito<br />

devastador; como esse gene se localiza no cromossomo X, a<br />

ausência de sua função tende a apresentar letalidade in utero<br />

para meninos, e meninas heterozigotas apresentam déficits<br />

variados dependendo da gravidade da mutação e do padrão<br />

de inativação do X. Ao contrário do que ocorre para as síndromes<br />

de Angelman e X-frágil, em que os afetados têm seu<br />

desenvolvimento prejudicado, porém não tendem a perder<br />

habilidades adquiridas, maior parte dos afetados pela síndrome<br />

de Rett, após desenvolvimento aparentemente normal<br />

durante os primeiros 6-18 meses de vida, apresenta graves<br />

sintomas de regressão cognitiva e funcional 61 .<br />

MÉTODO<br />

Figura 3. Morfologia alterada e densidade reduzida de<br />

espinhas dendríticas em neurônios Purkinje do cerebelo<br />

e em neurônios piramidais do hipocampo e do córtex de<br />

camundongos com deficiência materna para Ube3a, apesar<br />

de a arquitetura celular e de a quantidade de ramificações<br />

dendríticas aparentemente serem normais. Outras alterações<br />

verificadas se referem a ramificações dendríticas secundárias<br />

aparentemente mais finas com alguns nódulos mais largos<br />

(indicado pela ponta de seta) em neurônios piramidais.<br />

AS: camundongos com deficiência materna para Ube3a; WT:<br />

camundongos tipo selvagem; PC: células de Purkinje; HP:<br />

neurônios piramidais do hipocampo; CT: neurônios piramidais<br />

do córtex. Fonte: Imagem de Dindot et al., 2008 52 .<br />

Este trabalho é uma revisão bibliográfica que utilizou como<br />

fonte de pesquisa as bases de dados do PubMed e Medline,<br />

tendo como critérios de busca os termos “síndrome de Angelman”,<br />

de forma isolada e em combinações variadas com<br />

“UBE3A”, “genetics”, “clinic”, “molecular” e “review” no título dos<br />

artigos, com ênfase nos últimos dez anos. Dentre os artigos<br />

encontrados, foram selecionados, a critério dos autores, artigos<br />

de revisão para rever a parte clínica e comportamental<br />

da síndrome, assim como para rever os mecanismos genéticos<br />

que levam à alteração da função de UBE3A. Já para entender<br />

a parte da fisiopatologia molecular e celular, foram<br />

selecionados artigos originais, com ênfase nas descobertas<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):321-30.


evisão de literatura<br />

A patogênese da síndrome de Angelman<br />

329<br />

dos últimos dez anos. Além desses, alguns outros trabalhos<br />

foram citados, por sua relevância para a discussão do tema.<br />

RESULTADOS<br />

Utilizando “Angelman syndrome” na busca, apareceram cerca<br />

de 1.100 artigos, incluindo 240 de revisão. Nos últimos dez<br />

anos, são mais de 600 artigos, aproximadamente 120 de revisão,<br />

50% dos quais publicados nos últimos cinco anos. Na<br />

base de dados SciELO, são apenas nove artigos sobre a síndrome,<br />

dos quais três em português e nenhum artigo atual<br />

de revisão. Conforme explicado em métodos, a escolha dos<br />

artigos utilizados nesta revisão foi feita pelos autores. A presente<br />

revisão não é exaustiva quanto a todas as mutações<br />

encontradas no gene UBE3A e nem quanto a todos os substratos<br />

encontrados para UBE3A. Foram incluídos e discutidos<br />

os substratos para os quais pode haver uma correlação<br />

com a fisiopatologia dos afetados, um destaque que não é<br />

exclusividade dos presentes autores. As figuras foram incluídas<br />

pelo seu poder de ilustrar e tornar mais compreensível<br />

a parte genética do artigo. A fotografia dos dendritos com<br />

suas espículas sinápticas explica o que palavras são pobres<br />

para explicar. Nos últimos dois anos, a disfunção de algumas<br />

condições clínicas de deficiência intelectual está sendo traçada<br />

para a sinapse e está servindo para esclarecer muitos<br />

pontos desconhecidos da formação, modulação e manutenção<br />

delas.<br />

CONCLUSÃO<br />

Após ter sido uma das principais causas para o estudo mais<br />

aprofundado dos mecanismos do imprinting genômico, a<br />

síndrome de Angelman está se revelando como uma patologia<br />

das sinapses. A utilização de modelos animais para a<br />

síndrome de Angelman e a possibilidade de cultivar células<br />

deficientes na expressão materna de UBE3A estão levando<br />

ao reconhecimento de proteínas cuja degradação é comprometida<br />

nessas células, permitindo estudar sua expressão,<br />

localização e função, assim como as alterações micromorfológicas<br />

apresentadas pelos neurônios afetados. Apesar de<br />

o conhecimento da fisiopatologia molecular da síndrome<br />

de Angelman ser muito recente, e seu entendimento estar<br />

apenas começando a ser desvendado, seu estudo está fornecendo<br />

uma visão extraordinária sobre os mecanismos que<br />

regem a plasticidade sináptica.<br />

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evisão de literatura<br />

Revisão dos métodos empregados na<br />

avaliação da dimensão corporal em<br />

pacientes com transtornos alimentares<br />

Review of methods employed in the assessment of<br />

body size in patients with eating disorders<br />

Bianca Elisabeth Thurm 1 , Maria Luiza de Jesus Miranda 2 , Fabio Tapia Salzano 3 , Raphael Cangelli Filho 3,4 ,<br />

Táki Athanássios Cordás 3 , Eliane Florêncio Gama 1<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Imagem corporal, distorção<br />

da percepção, percepção<br />

de tamanho, transtorno<br />

alimentar.<br />

Objetivo: O presente artigo analisou os métodos de avaliação da percepção da dimensão<br />

corporal abordados na literatura científica. Método: Foram utilizadas a palavra-chave “body<br />

image” e a combinação desta com os termos “size perception” e “size estimation”, nas bases de<br />

dados Medline, Bireme, EBSCO e SCOPUS, para o levantamento científico. O período considerado<br />

para essas buscas foi de 1975 a 2010. Resultados: Foram encontrados quatro métodos<br />

que avaliam e quantificam a percepção dimensional do corpo, aplicando-se um índice de<br />

percepção da dimensão corporal. Os métodos diferem em sua forma de execução, utilização<br />

de instrumentos, uso ou não de feedback visual por parte do avaliado, utilização de estímulo<br />

tátil ou não para gerar a resposta do avaliado. Conclusão: O Image Marking Procedure (IMP)<br />

mostrou-se apropriado para a avaliação da dimensão corporal nos distúrbios alimentares,<br />

pela possibilidade de avaliar o grau de distorção corporal e dos segmentos corporais específicos<br />

sem a interferência visual, cognitiva e qualquer referencial externo comparado aos<br />

outros testes que mostraram limitações quanto a esses aspectos. Sugere-se que ele seja utilizado<br />

em futuras pesquisas que avaliem o aspecto dimensional da percepção corporal.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Body image, perceptual<br />

distortion, size perception,<br />

eating disorders.<br />

Recebido em<br />

25/7/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

25/10/<strong>2011</strong><br />

Objective: This paper analyzed the methods of assessing the perception of body size discussed in<br />

scientific literature. Method: The information search was bases on computerized databases from<br />

1975 to 2010 (Medline, Bireme, EBSCO and Scopus). We used the keyword “body image” and the<br />

combination of the terms “size perception” and “size estimation” for the scientific survey. Results:<br />

There were four methods found to evaluate and quantify the dimensional perception of the body<br />

by applying a body perception index. The methods differ in their form of execution, use tools, whether<br />

or not visual feedback from the evaluation, use of tactile stimulation or not to generate the<br />

response evaluated. Conclusion: The Image Marking Procedure (IMP) was appropriate for the<br />

evaluation of body size on eating disorders by the possibility of evaluating the degree of distortion<br />

of the body and specific body segments without visual and cognitive interference and any external<br />

referent compared to other tests that showed limitations on these aspects. We suggest that the IMP<br />

test could be used in future researches to assess the dimensional aspect of body perception.<br />

1 Universidade São Judas Tadeu (USJT), Departamento de Fisioterapia, Laboratório de Percepção Corporal e Movimento Humano da USJT.<br />

2 USJT, Laboratório de Percepção Corporal e Movimento Humano.<br />

3 Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina, Hospital das Clínicas (HC-FMUSP), Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares<br />

do Instituto de Psiquiatria (Ambulim-IPq-HC).<br />

4 USJT, Departamento de Psicologia.<br />

Endereço para correspondência: Bianca Elisabeth Thurm<br />

Universidade São Judas Tadeu, Departamento de Fisioterapia<br />

Rua Taquari, 546, Mooca – 03166-000 – São Paulo, SP, Brasil<br />

Tel.: (11) 8182-9426/Fax: (11) 3271-8487<br />

E-mail: biancathurm@uol.com.br


332 Thurm BE et al.<br />

revisão de literatura<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os transtornos alimentares caracterizam-se por alterações<br />

de comportamento alimentar e com etiopatogenia multifatorial,<br />

incluindo fatores biológicos, psicológicos, culturais,<br />

familiares e genéticos que interagem entre si de modo complexo<br />

1 .<br />

Os principais transtornos alimentares são a bulimia nervosa<br />

e a anorexia nervosa, e uma característica comum<br />

nesses transtornos é a grande importância que a pessoa<br />

dá à imagem corporal. Nos dois casos, uma imprecisão na<br />

percepção do tamanho real do corpo é evidente, fazendo<br />

com que pacientes com anorexia nervosa e bulimia nervosa<br />

apresentem uma distorção da percepção de sua dimensão<br />

corporal no sentido de se perceberam maiores do que realmente<br />

são (hiperesquematia) 2-4 .<br />

A percepção do corpo pode ser conceituada a partir de<br />

dois componentes distintos: a imagem corporal e o esquema<br />

corporal. A imagem corporal corresponde ao componente<br />

atitudinal e se refere aos aspectos cognitivos, atribuições,<br />

crenças e expectativas do sujeito em relação ao seu corpo<br />

e ao estado emocional proveniente dele. Já o esquema corporal<br />

refere-se ao componente perceptual que diz respeito<br />

à percepção da dimensão do corpo relacionada especificamente<br />

ao tamanho e à forma corporal, somado à representação<br />

dinâmica da posição dos segmentos corporais e sua<br />

relação com o espaço ao seu redor. Depende das múltiplas<br />

informações sensório-motoras e de sua integração para o<br />

planejamento e execução das ações 5-8 . A região cortical responsável<br />

por esse mecanismo é a área temporoparietal 9-12 .<br />

Estudos que avaliam a percepção corporal sugerem que a<br />

separação desses componentes é considerada como o princípio<br />

básico para a compreensão das distorções da percepção<br />

corporal em pacientes com transtornos alimentares 13-15 .<br />

Quando se avalia a imagem corporal, o objetivo é identificar<br />

a diferença de como o sujeito se vê e como ele gostaria<br />

de se ver ou de ser visto pelo outro. Essa avaliação mostrará<br />

o nível de satisfação corporal do sujeito 16 utilizando testes<br />

de escala de silhueta, técnicas de distorção de imagem e<br />

desenhos. Nesses testes, avalia-se o corpo inteiro 6,7,14 . Outras<br />

formas de avaliar a imagem corporal são por meio de questionários<br />

e escalas 16-18 .<br />

O objetivo de avaliar a percepção da dimensão corporal<br />

é analisar a diferença entre a medida percebida do próprio<br />

corpo e a medida real do sujeito; neste caso, avaliam-se as<br />

partes do corpo. A diferença entre as medidas torna-se um<br />

indicador do grau de distorção da percepção da dimensão<br />

corporal 16 .<br />

A avaliação da imagem corporal é largamente utilizada<br />

nos estudos clínicos dos transtornos alimentares; já a avaliação<br />

clínica do esquema corporal, ou seja, o nível da distorção<br />

da percepção corporal, é muito pouco citada ou mesmo<br />

utilizada, apesar de os estudos darem ênfase à separação da<br />

avaliação dos componentes atitudinal da dimensional. Percebe-se<br />

que a sugestão de avaliar o esquema corporal é mais<br />

evidente no âmbito teórico. Segundo Hundleby e Borgoin 8 e<br />

Gardner 14 , existem problemas metodológicos e falta de consenso<br />

entre as pesquisas em relação aos métodos usados<br />

para avaliação do esquema corporal.<br />

Portanto, o objetivo foi analisar os métodos de avaliação<br />

da percepção da dimensão corporal abordados na literatura<br />

científica.<br />

MÉTODO<br />

A busca de artigos científicos para este trabalho de revisão<br />

foi realizada a partir da base de dados Medline, Bireme,<br />

EBSCO e SCOPUS.<br />

A busca foi conduzida por meio de descritor do DeCs/<br />

MeSH. O descritor utilizado foi “body image”, refinado com os<br />

termos “size perception” e “size estimation”.<br />

Foram incluídos na análise os estudos que utilizaram<br />

testes para avaliar o esquema corporal e que faziam uso da<br />

aplicação de um índice de percepção corporal (IPC). Desses,<br />

foram analisados apenas os estudos experimentais realizados<br />

em população adulta, nas línguas inglesa, portuguesa e<br />

alemã e que apresentassem transtorno alimentar. O período<br />

considerado para essas buscas foi de 1975 a 2010. Foram excluídos<br />

os artigos de revisão e metanálise e aqueles relacionados<br />

com avaliações do aspecto atitudinal em relação ao<br />

corpo, dentre eles os que incluem as técnicas de distorção<br />

da imagem por vídeo e computador, distorção do espelho e<br />

fotografia, teste do desenho da figura humana, método de<br />

avaliação por meio de silhuetas e questionários.<br />

RESULTADOS<br />

Verificou-se que o descritor “esquema corporal” não constava<br />

na listagem do DeCs/MeSH e, dessa forma, optou-se por um<br />

descritor mais próximo a este conceito que foi “imagem corporal”<br />

(“body image”).<br />

A partir do descritor “imagem corporal”, foi encontrado<br />

um total de 9.022 artigos até a data determinada pelo<br />

levantamento bibliográfico (10/10/2010). Para filtrar essa<br />

busca, utilizou-se a combinação dos termos “body image”<br />

+ “size perception”, totalizando 399 artigos, e “body image” +<br />

“size estimation”, totalizando 126 artigos. Desse total, foram<br />

selecionados inicialmente 141 artigos referentes à primeira<br />

combinação de unitermos e 65 artigos relacionados à segunda.<br />

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão<br />

delimitados por este estudo, chegou-se a 7 e 9 artigos, respectivamente<br />

(Tabela 1). Desses, 8 tratavam de anorexia, 1<br />

de bulimia, 2 de anorexia e bulimia e 5 sem patologia e no<br />

sexo feminino (Tabela 2).<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):331-6.


evisão de literatura<br />

Dimensão corporal nos transtornos alimentares<br />

333<br />

Em relação aos descritores encontrados, pôde-se observar<br />

que o termo “imagem corporal” é utilizado em todos os<br />

artigos revisados, e em segundo lugar aparece o termo “distorção<br />

da percepção”. Os outros termos encontrados e sua<br />

ocorrência estão descritos na tabela 3.<br />

Tabela 1. Resultado do levantamento bibliográfico utilizando<br />

descritores e unitermos<br />

Descritor<br />

Nº artigos<br />

encontrados<br />

Esquema corporal 0<br />

Imagem corporal 9.022<br />

Imagem corporal +<br />

percepção de tamanho<br />

Body image + size<br />

perception<br />

Body image + size<br />

estimation<br />

Nº artigos que<br />

abordam dimensão<br />

corporal<br />

Nº artigos<br />

selecionados a<br />

partir dos critérios<br />

estabelecidos<br />

14 0 0<br />

399 141 7<br />

126 65 9<br />

Com relação aos métodos empregados, foram encontrados<br />

16 artigos, dentre eles 12 aplicaram o índice de percepção<br />

corporal (IPC), que é utilizado para classificar a percepção<br />

corporal usando a fórmula tamanho percebido/tamanho<br />

real x 100. Nesse caso, os sujeitos que se percebem acima<br />

de 100% são classificados como hiperesquemáticos; os que<br />

se percebem abaixo de 100% são considerados hipoesquemáticos;<br />

e os que se percebem 100%, adequados. Foram<br />

encontrados quatro procedimentos que avaliam o esquema<br />

corporal, sendo eles: 1. Movable caliper procedure (5 artigos),<br />

que utiliza uma barra horizontal com dois pontos luminosos<br />

montados num carreto. É solicitado ao sujeito que aproxime<br />

ou afaste os pontos luminosos para identificar a largura da<br />

parte corporal solicitada (cabeça, ombros, cintura, quadril e<br />

perna). A barra é mantida na altura dos olhos; 2. Visual size<br />

estimation procedure (1 artigo), que se utiliza de uma barra<br />

com duas lâmpadas acopladas e, a partir da projeção da luz<br />

na parede, o sujeito orienta o avaliador a parar de mover os<br />

pontos luminosos quando estes corresponderem à largura<br />

do segmento corporal solicitado (largura entre os ossos zigomáticos,<br />

entre os dois ombros, abdome, cintura e quadril).<br />

Tabela 2. Características dos artigos consultados quanto à utilização de testes para a avaliação da dimensão corporal<br />

Autor Ano País N Teste utilizado IPC Tipo análise<br />

Askevold 1975 Noruega 15 AN<br />

IMP Não Quanti<br />

22 diversos<br />

pierloot et al. 1976 Inglaterra 31 AN<br />

IMP<br />

Sim<br />

Quanti<br />

20 NL<br />

MCP<br />

whitehouse et al. 1986 Inglaterra 22 BN IMP Sim Quanti<br />

fichter et al. 1986 Inglaterra 21AN MCP<br />

Não<br />

Quanti<br />

IMP<br />

whitehouse et al. 1988 Inglaterra 12 AN<br />

IMP Sim Quanti<br />

20 NL<br />

thompson et al. 1989 Estados Unidos 32 NL fem MCP Sim Quanti<br />

Bowden et al. 1989 Inglaterra 12 AN<br />

12 BN<br />

24 NL<br />

fonagy et al. 1990 Inglaterra 20 NL masc<br />

20 NL fem<br />

IMP<br />

VSEP<br />

Não<br />

Quanti<br />

MCP Sim Quanti<br />

Thomas et al. 1991 Estados Unidos 200 NL fem IMP Não Quanti<br />

lautenbacher et al. 1992 Inglaterra 21 AN<br />

IMP<br />

Sim<br />

Quanti<br />

20 NL<br />

KSEA<br />

lautenbacher et al. 1993 Inglaterra 42 NL IMP<br />

Sim<br />

Quanti<br />

KSEA<br />

Hundleby et al. 1993 Canadá 100 NL fem MCP Não Quanti<br />

molinari 1995 Italia 20 AN<br />

IMP Sim Quanti<br />

20 NL<br />

deter et al. 1997 Alemanha 50 AN fem<br />

IMP Sim Quanti<br />

05 AN masc<br />

Lautenbacher et al. 1997 Inglaterra 57 AN IMP<br />

Sim<br />

Quanti<br />

KSEA<br />

Aranda et al. 1999 Espanha 25 BN<br />

IMP Sim Quanti<br />

19 AN<br />

AN: anorexia nervosa; BN: bulimia nervosa; fem: sexo feminino; masc: sexo masculino; NL: normal; esquizo: esquizofrenia; OB: obeso; IMP: image marking procedure; KSEA: kinesthetic size estimation apparatus; MCP: movable caliper<br />

procedure; VSEP: visual size estimation procedure; quanti: análise quantitaviva; IPC: quanto ao uso ou não do cálculo.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):331-6.


334 Thurm BE et al.<br />

revisão de literatura<br />

Tabela 3. Descritores utilizados pela base de dados dos artigos<br />

selecionados<br />

Descritor utilizado<br />

Ocorrência<br />

Imagem corporal 16<br />

Distorção da percepção 9<br />

Constituição corporal 4<br />

Resultado de tamanho 3<br />

A barra é mantida na altura dos olhos durante o teste; 3.<br />

Kinesthetic size estimation apparatus – KSEA (3 artigos), uma<br />

barra com dois puxadores é colocada à altura dos ombros do<br />

sujeito com os olhos vendados e ele deve posicioná-los na<br />

largura dos pontos corporais correspondentes tocados pelo<br />

avaliador (ombros, cintura, quadril e coxa). 4. Image marking<br />

procedure – IMP (13 artigos), na qual os sujeitos, com os olhos<br />

vendados, projetam numa folha de papel pendurada na parede<br />

à sua frente a percepção da dimensão de segmentos<br />

corporais determinados, estimulados de forma tátil (alto da<br />

cabeça, ombros, cintura, quadril, coxa) (Tabela 2).<br />

DISCUSSÃO<br />

A busca da literatura científica na base de dados mostrou<br />

que não existe uma padronização dos descritores e palavras-<br />

-chave em relação ao conteúdo dos artigos no que diz respeito<br />

à percepção da dimensão corporal e/ou avaliação do<br />

esquema corporal. Essa variedade de descritores dificulta a<br />

busca específica dos artigos.<br />

O termo imagem corporal sempre foi usado englobando<br />

tanto o aspecto atitudinal quanto o dimensional da percepção<br />

corporal. Somente por volta de 1990 alguns estudos<br />

como os de Thompson e Dolce 19 e outros 14,20 começaram a<br />

abordar a questão de utilizar avaliações diferentes para cada<br />

aspecto da percepção do corpo. Esses estudos foram classificados<br />

em dois tipos: as avaliações de corpo inteiro, que<br />

estão relacionadas com o componente atitudinal, e as avaliações<br />

de partes do corpo, que analisam o componente perceptual<br />

da dimensão corporal. As pesquisas sobre avaliação<br />

do esquema corporal foram conduzidas principalmente no<br />

período entre 1975 e 1989.<br />

Desse período até 2010, a avaliação da dimensão corporal<br />

foi utilizada cada vez menos e observou-se que houve<br />

uma tendência de as pesquisas relacionadas aos transtornos<br />

alimentares focarem mais no aspecto psicológico da doença,<br />

mesmo nos estudos utilizando a ressonância magnética<br />

para avaliar a ativação e lesões das áreas corticais nesse grupo<br />

de sujeitos 14-16,18,21 . Pelo fato de os sujeitos com transtornos<br />

alimentares serem assistidos principalmente por uma<br />

equipe de psiquiatras e psicólogos, parece natural que os<br />

pesquisadores foquem no aspecto atitudinal da percepção<br />

da dimensão corporal utilizando instrumentos que estão relacionados<br />

à sua área de atuação profissional, como é o caso<br />

dos questionários e avaliação da satisfação corporal.<br />

Em relação à falta de padronização dos testes que avaliam<br />

a percepção dimensional do corpo, é necessário discutir<br />

algumas questões.<br />

Considerando os segmentos corporais utilizados nos artigos<br />

para avaliar a dimensão corporal, foi observado que não<br />

existe uma padronização. Alguns segmentos como cabeça,<br />

ombros, cintura e quadril são avaliados em todos os estudos,<br />

porém alguns deles utilizam também a avaliação da percepção<br />

das larguras das coxas, pernas e abdome 2,9,19,20 . Em nenhum<br />

dos artigos foi mencionado que esses testes que avaliam<br />

a percepção da dimensão corporal são validados, dessa<br />

forma acredita-se que a falta de padronização da escolha dos<br />

segmentos corporais se deva a esse fato, fazendo com que<br />

cada pesquisador opte pelos segmentos de acordo com o<br />

delineamento de sua pesquisa.<br />

O mesmo ocorre para calcular o tamanho real dos segmentos<br />

corporais, ou seja, não há uma uniformização para<br />

essa medida. Alguns usam um antropômetro, que é uma régua<br />

com hastes deslizantes que avalia grandes segmentos<br />

corporais 3,4,13,22-24 , um empregou um compasso de ponta 25 ,<br />

outros utilizaram um caliper (uma barra) 19 , diversos marcam<br />

em uma folha de papel pendurado na parede as medidas<br />

reais do sujeito 2,9,20,26,27,29,30 . Os instrumentos utilizados nesses<br />

estudos se propõem a medir o tamanho real de forma diferente,<br />

podendo gerar diferentes medidas e, desse modo,<br />

dificultando a comparação entre os diferentes estudos.<br />

Analisando os testes encontrados, foi observado que todos<br />

visam mensurar a capacidade do sujeito em perceber a<br />

sua dimensão corporal, e pareceu viável separá-los em: 1. Os<br />

que usam uma barra como ferramenta para a avaliação da<br />

dimensão corporal; 2. Os que usam o membro superior livre.<br />

Diferenças na forma de execução entre os testes serão<br />

apontadas: o uso de uma barra pode ser um diferencial na<br />

forma de realização dos testes, pois a barra pode ser um referencial<br />

externo que talvez sirva como um guia. Outro ponto<br />

importante é que nos testes movable caliper procedure e no<br />

visual size estimation procedure, apesar de não informarem<br />

claramente nos artigos quanto ao feedback visual, infere-se<br />

que os sujeitos permaneceram de olhos abertos. Nesse caso,<br />

a visão forneceria informações, possibilitando ao indivíduo<br />

fazer ajustes no sentido de comparar a largura real dos segmentos<br />

corporais avaliados e a estimativa da percepção da<br />

dimensão corporal. Já no IMP, o sujeito marca no papel à sua<br />

frente a percepção dos pontos corporais tocados por um<br />

avaliador com o membro superior livre. Dessa forma, o teste<br />

usa apenas a capacidade do indivíduo de perceber o segmento<br />

corporal tocado e, a partir daí, projetá-lo no espaço<br />

sem o auxílio da visão. Além disso, não é utilizado nenhum<br />

referencial externo, como uma barra, usando somente estí-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):331-6.


evisão de literatura<br />

Dimensão corporal nos transtornos alimentares<br />

335<br />

mulos exteroceptivos e proprioceptivos. Desse modo, parece<br />

mais adequada a utilização de um teste que não propicie<br />

ajustes a partir de referenciais externos (visão ou barra), visto<br />

que nos transtornos alimentares a comparação visual com<br />

relação ao próprio corpo ou o corpo de outros é distorcida<br />

pela própria natureza da doença.<br />

O teste do IMP vem de encontro aos conceitos do esquema<br />

corporal, um sistema neurológico que depende de<br />

informações exteroceptivas e proprioceptivas para fornecer<br />

a capacidade ao sujeito de perceber e reconhecer o corpo<br />

sem a utilização da visão 9,10,31 . A utilização de recursos como<br />

uma barra e a visão, que ocorre nos demais testes encontrados,<br />

acaba favorecendo o ajuste voluntário e automático da<br />

percepção da dimensão corporal pelo sujeito.<br />

Nesse sentido, alguns autores sugerem que o IMP é o<br />

único método que acessa a percepção da dimensão corporal<br />

baseado no estímulo tátil direto, pois o toque sobre a pele<br />

promove a base para a percepção dos limites do corpo 32 . As<br />

regiões tocadas no IMP correspondem às estruturas anatômicas<br />

localizadas nas extremidades corporais como o alto da<br />

cabeça, os acrômios na região dos ombros, a cintura e os trocanteres<br />

na região do quadril. Somados, estes pontos representam<br />

os limites da dimensão corporal. Uma vez que nos<br />

transtornos alimentares ocorre uma distorção da percepção<br />

dos limites corporais, o IMP consegue identificar o grau da<br />

distorção da dimensão corporal a partir do cálculo do IPC.<br />

É possível analisar, ainda, qual é a região corporal mais afetada<br />

pelo transtorno, já que o teste também avalia partes do<br />

corpo que comumente são as maiores queixas dessa população,<br />

como as regiões da cintura e do quadril. De acordo<br />

com as pesquisas, uma característica importante do teste<br />

IMP é que ele permite uma comparação direta da largura<br />

percebida e da real e permite calcular valores estatísticos 33,34 .<br />

Apesar de todos os testes encontrados se proporem a<br />

avaliar a percepção da dimensão corporal, não se sabe se os<br />

instrumentos utilizados levam a um resultado final igual. Um<br />

estudo que avaliou a percepção da dimensão corporal em<br />

atletas de alto rendimento utilizando dois instrumentos – o<br />

KSEA e o IMP – mostrou, a partir da análise estatística de equivalência,<br />

correlação negativa entre eles, ou seja, os resultados<br />

obtidos são diferentes 35 . Fichter et al. 23 usaram três métodos<br />

para avaliar o distúrbio da percepção corporal em um grupo<br />

de anoréxicas, bulímicas e controle: o IMP, o movable caliper<br />

procedure e a distorção da imagem por vídeo. Seus resultados<br />

mostraram que o IMP foi mais eficiente para discriminar<br />

entre pacientes com anorexia nervosa e grupo controle. Os<br />

autores consideram que a vantagem do uso dessa avaliação<br />

está na simplicidade técnica e conceitual do método.<br />

Segundo Valtolina 5 , o IMP é um método não verbal que<br />

envolve a percepção e aspectos da motricidade. A autora<br />

utilizou o IMP para avaliar a dimensão corporal e, a partir dos<br />

seus resultados, considerou o teste como sendo o mais apropriado,<br />

por ser uma forma direta e não verbal de acessar a<br />

percepção da dimensão corporal, o que não ocorre quando<br />

se usam questionários. O teste de percepção de Askevold foi<br />

desenhado para avaliar a percepção das dimensões de diferentes<br />

áreas do corpo, fazendo uso da habilidade do paciente<br />

de se projetar no espaço. O estudo direto é o mais compatível<br />

para esse tipo de investigação, pois tem a vantagem<br />

de não precisar se basear em uma percepção não corporal,<br />

como é o caso do uso de questionário ou de entrevista 23,35 .<br />

O julgamento de valores está muito comprometido nos<br />

transtornos alimentares, desse modo o uso de uma técnica<br />

direta de avaliação da dimensão corporal leva a crer que minimizaria<br />

essa interferência cognitiva.<br />

CONCLUSÃO<br />

Foram encontrados quatro métodos que avaliam e quantificam<br />

a percepção corporal utilizando o índice de percepção<br />

da dimensão corporal. Os métodos diferem em sua forma<br />

de execução, utilização de instrumentos e o uso ou não de<br />

feedback visual por parte do avaliado, uso ou não de estímulo<br />

tátil para gerar a resposta do avaliado. Dentre os métodos<br />

analisados, o Image Marking Procedure (IMP) mostrou-se<br />

apropriado para avaliação da dimensão corporal, particularmente<br />

nos transtornos alimentares, por ele ser capaz de<br />

ativar a capacidade do sujeito de identificar as partes constituintes<br />

do seu corpo e de projetá-lo no espaço sem o auxílio<br />

da visão, o que corresponde às funções neurológicas do<br />

esquema corporal.<br />

Acreditamos que o teste do IMP possa contribuir para a<br />

avaliação do componente perceptual (esquema corporal) e<br />

se somar à avaliação do componente atitudinal da percepção<br />

corporal tanto na bulimia nervosa quanto na anorexia<br />

nervosa, para ampliar a compreensão desse mecanismo<br />

complexo que leva à distorção da dimensão do corpo e à<br />

busca de abordagem terapêutica direcionada para cada<br />

componente.<br />

Levando em conta o aspecto proprioceptivo, a possibilidade<br />

de avaliar o grau de distorção corporal e dos segmentos<br />

corporais específicos, parece que o IMP é o teste mais<br />

adequado para a avaliação do esquema corporal nos transtornos<br />

alimentares, por abarcar os aspectos sensoriais da<br />

percepção corporal, além da possibilidade de projetar livremente<br />

a percepção dos limites corporais sem a interferência<br />

visual, cognitiva e qualquer referencial externo comparado<br />

aos outros testes que mostraram limitações quanto a esses<br />

aspectos.<br />

Sendo a distorção da percepção corporal o sintoma central<br />

nos pacientes com transtornos alimentares, não só as<br />

estratégias terapêuticas devem ser aprofundadas e desenvolvidas,<br />

mas também os métodos de avaliação, de modo a<br />

aquilatar os benefícios das terapias empregadas.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):331-6.


336 Thurm BE et al.<br />

revisão de literatura<br />

Levando em conta a praticidade, a exequibilidade e o<br />

baixo custo do teste de percepção da dimensão corporal<br />

(IMP), sugerimos que ele seja utilizado em futuras pesquisas<br />

que avaliem o aspecto dimensional da percepção corporal,<br />

seja em pacientes com transtornos alimentares ou com síndromes<br />

que levam ao distúrbio do esquema corporal.<br />

REFERÊNCIAs<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):331-6.


comunicação breve<br />

Formas deficitária e não deficitária da esquizofrenia<br />

não diferem quanto à sazonalidade de<br />

nascimentos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil<br />

Deficit and non-deficit schizophrenia do not differ regarding<br />

season of birth in Brazilian Southern and Southeast regions<br />

Victor M. V. Lopes 1 , Cláudio E. M. Banzato 1 , Clarissa R. Dantas 1<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Esquizofrenia, estações<br />

do ano, psicopatologia,<br />

epidemiologia.<br />

Objetivos: Entre os pacientes com esquizofrenia originários do hemisfério norte, observa-<br />

-se um excesso de 5%-10% de nascimentos no inverno e na primavera. Entretanto, entre os<br />

pacientes com a forma deficitária da doença, há uma pequena sobrerrepresentação de nascimentos<br />

no verão. Neste estudo, buscou-se verificar se tais associações se repetem entre os<br />

pacientes com esquizofrenia nascidos nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Métodos: Setenta<br />

e seis pacientes com esquizofrenia foram avaliados quanto a características sociodemográficas<br />

e psicopatológicas e categorizados quanto à presença da síndrome deficitária. Pacientes<br />

com e sem síndrome deficitária foram comparados quanto à estação de nascimento.<br />

Adicionalmente, compararam-se características psicopatológicas entre pacientes nascidos<br />

nas quatro estações do ano. Resultados: A distribuição de nascimentos de acordo com as<br />

estações não apresentou diferenças significativas. Entre pacientes com síndrome deficitária,<br />

dois terços nasceram no verão e outono, mas essa diferença não alcançou significância estatística.<br />

Não foram encontradas diferenças psicopatológicas relacionadas à estação do ano de<br />

nascimento. Conclusão: Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, não foi observado o excesso de<br />

nascimentos no verão entre pacientes esquizofrênicos com síndrome deficitária, bem como<br />

não foi constatado excesso de nascimentos no inverno e primavera no grupo geral de pacientes<br />

com esquizofrenia.<br />

ABSTRACT<br />

Objectives: There is a 5%-10% excess of births in winter and spring among the patients with<br />

schizophrenia born in the northern hemisphere. However, in patients with the deficit syndrome of<br />

schizophrenia, there is a slight over-representation of births in summer. In this study, we aimed at<br />

verifying whether the same patterns are found in patients with schizophrenia born in the Brazilian<br />

South and Southeast regions. Methods: Seventy-six patients with schizophrenia were assessed<br />

for demographics and psychopathology and also categorized for the presence of deficit syndrome.<br />

Patients with deficit and non-deficit schizophrenia were compared for the season of birth.<br />

1 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas (Unicamp/FCM), Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria.<br />

Recebido em<br />

24/10/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

01/12/<strong>2011</strong><br />

Endereço para correspondência: Clarissa R. Dantas<br />

Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)<br />

Rua Tessália Vieira de Camargo, 126, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão Geraldo – 13083-887 – Campinas, SP, Brasil<br />

Telefax: (19) 3521-7206<br />

E-mail: dantascr@gmail.com


338 Lopes VMV et al.<br />

comunicação breve<br />

Keywords<br />

Schizophrenia, seasons,<br />

psychopathology,<br />

epidemiology.<br />

In addition, we compared psychopathological variables between patients born in all four seasons.<br />

Results: There was no significant difference in the distribution of births according to the seasons.<br />

Although two thirds of the patients with deficit syndrome were born in the summer and autumn,<br />

this over-representation did not reach statistical significance. We found no differences regarding<br />

psychopathology between patients born in all four seasons. Conclusion: In the South and<br />

Southeast regions of Brazil, there was no significant excess of births in the summer between schizophrenic<br />

patients with deficit syndrome, neither was an excess of births in winter and spring in the<br />

overall sample of patients with schizophrenia.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Uma grande variedade de fatores ambientais, tanto biológicos<br />

quanto psicossociais, incidindo sobre diversas fases do<br />

desenvolvimento, desde o período pré-natal até o início da<br />

vida adulta, tem sido implicada na etiologia da esquizofrenia<br />

1 . Ainda que o aumento no risco de desenvolvimento da<br />

doença representado pela exposição isolada a cada um de<br />

tais fatores seja de pequena magnitude, chama a atenção a<br />

consistência com que se reproduzem achados epidemiológicos<br />

ligando a esquizofrenia a, por exemplo, infecção e má<br />

nutrição pré-natais, complicações obstétricas, urbanicidade,<br />

migração e nascimento nos meses de inverno e primavera 1 .<br />

O efeito da estação de nascimento sobre o risco para a<br />

esquizofrenia tem sido relatado desde a década de 1920 2 . Entre<br />

os pacientes com esquizofrenia originários do hemisfério<br />

norte, verifica-se um excesso de 5%-10% de nascimentos no<br />

inverno e na primavera 3 . Encontrou-se uma razão de chances<br />

estimada de 1,07 (intervalo de confiabilidade de 95%: 1,05-<br />

1,08) para nascimentos no inverno/primavera e um risco populacional<br />

atribuível de 3,3% em uma grande metanálise de<br />

estudos conduzidos naquele hemisfério 3 . Essa associação entre<br />

esquizofrenia e nascimento no inverno/primavera parece<br />

fortalecer-se com o aumento da latitude (estações mais bem<br />

definidas) e com a maior severidade do inverno 1 .<br />

Estudos sobre sazonalidade de nascimentos na esquizofrenia<br />

realizados no hemisfério sul apresentam resultados<br />

menos consistentes. Em uma metanálise incluindo dados<br />

publicados e não publicados, encontrou-se um excesso de<br />

nascimentos nos meses de inverno e primavera, entretanto,<br />

apesar de um tamanho amostral de mais de 20.000, tal excesso<br />

não alcançou significância estatística 4 . Por outro lado,<br />

dois estudos conduzidos no Nordeste brasileiro, onde se observa<br />

pouca variação de temperatura ao longo do ano, mas<br />

períodos de chuva e de estiagem bem definidos, encontraram<br />

associação entre nascimento três a quatro meses após<br />

o período de chuvas e risco de desenvolver esquizofrenia 5,6 .<br />

As hipóteses explicativas para a distribuição desproporcional<br />

de nascimentos de esquizofrênicos ao longo do ano<br />

têm em comum a ideia de que a estação de nascimento atue<br />

como um marcador para fatores não genéticos sazonais que<br />

modificariam o riso para esquizofrenia 4 . Dentre os vários fatores<br />

candidatos propostos, destacam-se as infecções virais,<br />

especialmente pelo vírus influenza, e a deficiência de vitamina<br />

D 4 .<br />

A síndrome deficitária da esquizofrenia – definida pela<br />

presença de sintomas negativos primários, proeminentes e<br />

persistentes – tem sido associada a um padrão sazonal de<br />

nascimentos, inverso ao descrito para a esquizofrenia em geral,<br />

isto é, um excesso de nascimentos no verão 7-9 . É possível<br />

que a exposição diferencial aos supostos fatores modificadores<br />

do risco para a esquizofrenia subjacentes à sazonalidade<br />

de nascimento contribua também, em algum grau, para diferenças<br />

psicopatológicas, de curso da doença, ou ainda de<br />

outra natureza, entre esquizofrênicos nascidos no inverno/<br />

primavera e aqueles nascidos no verão/outono 10,11 .<br />

Neste estudo, buscou-se verificar se o excesso de nascimentos<br />

nos meses de inverno/primavera entre esquizofrênicos<br />

em geral, observado no hemisfério norte, pode ser<br />

encontrado também entre pacientes com esquizofrenia nascidos<br />

nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, com estações do<br />

ano melhor definidas e maiores latitudes que a região Nordeste<br />

do país, onde estudos sobre a sazonalidade de nascimentos<br />

na esquizofrenia foram anteriormente conduzidos.<br />

Investigou-se ainda a associação entre estação de nascimento<br />

e presença da síndrome deficitária da esquizofrenia e/ou<br />

de outras diferenças psicopatológicas.<br />

MÉTODOS<br />

Este estudo foi realizado no contexto do desenvolvimento<br />

de um projeto de pesquisa mais amplo intitulado “Psicopatologia<br />

dos sintomas negativos da esquizofrenia”, que incluiu<br />

a tradução para o português e a validação das versões brasileiras<br />

da Scale for the Assessment of Positive Symptoms (SAPS),<br />

da Scale for the Assessment of Negative Symptoms (SANS) e do<br />

Schedule for the Deficit Syndrome (SDS) (resultados ainda não<br />

publicados), além de uma extensa avaliação cognitiva de pacientes<br />

esquizofrênicos 12 .<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):337-40.


comunicação breve<br />

Sazonalidade de nascimentos na esquizofrenia<br />

339<br />

O projeto recebeu a aprovação do Comitê de Ética em<br />

Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e<br />

todos os pacientes incluídos no estudo assinaram um Termo<br />

de Consentimento Livre e Esclarecido.<br />

A amostra total do projeto amplo consistiu de 85 pacientes<br />

esquizofrênicos acompanhados no Ambulatório de<br />

Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade<br />

Estadual de Campinas (Unicamp) e em dois dos Centros de<br />

Atenção Psicossocial (CAPS) de Campinas. Houve uma busca<br />

ativa de pacientes com características deficitárias, portanto<br />

trata-se de uma amostra de conveniência, e não representativa.<br />

Critérios de inclusão e exclusão, bem como a caracterização<br />

da amostra, já foram descritos em outra publicação 12 .<br />

Os pacientes foram avaliados quanto à presença da síndrome<br />

deficitária (SD) com a utilização da versão brasileira<br />

do Schedule for the Deficit Syndrome (SDS) 13 . Para a caracterização<br />

psicopatológica, foram adotadas as versões brasileiras<br />

da Scale for the Assessment of Positive Symptoms (SAPS) e da<br />

Scale for the Assessment of Negative Symptoms (SANS) e a Escala<br />

Breve de Avaliação Psiquiátrica (BPRS).<br />

Selecionando aqueles nascidos nas regiões Sul e Sudeste<br />

do Brasil, foram encontrados 76 pacientes, que foram divididos<br />

em grupos de acordo com a estação do ano ao nascimento,<br />

considerando que no hemisfério sul o verão tem<br />

início no dia 22 de <strong>dezembro</strong>; o outono, dia 21 de março; o<br />

inverno, dia 21 de junho; e a primavera, em 23 de setembro.<br />

Para comparação de proporções, foi utilizado o teste<br />

qui-quadrado ou teste exato de Fisher; para comparação de<br />

variáveis contínuas entre os quatro grupos, foi utilizado o<br />

teste de Kruskal-Wallis; para comparação entre dois grupos<br />

(inverno/primavera versus verão/outono), foi utilizado o teste<br />

de Mann-Whitney. O nível de significância adotado para os<br />

testes estatísticos foi 5%.<br />

RESULTADOS<br />

A distribuição dos pacientes de acordo com a estação em<br />

que nasceram não apresentou variações estatisticamente<br />

significativas, tendo 20 nascidos no verão, 20 no outono, 14<br />

no inverno e 22 na primavera (teste qui-quadrado para igualdade<br />

de proporções, p = 0,5945). Considerando-se os gêneros<br />

(18 mulheres e 58 homens), tampouco foram observadas<br />

diferenças com valor estatístico: 5 mulheres haviam nascido<br />

no verão, 5 no outono, 2 no inverno e 6 na primavera; entre<br />

os homens, 15 haviam nascido no verão, 15 no outono, 12<br />

no inverno e 16 na primavera (p = 0,8607).<br />

Entre os pacientes com síndrome deficitária, observou-se<br />

que dois terços haviam nascido no verão ou no outono, mas<br />

tal excesso não alcançou significância estatística, como pode<br />

ser observado na tabela 1.<br />

A comparação entre os pacientes nascidos em cada uma<br />

das estações não revelou diferenças significativas quanto à<br />

severidade de sintomas positivos, de sintomas negativos e<br />

de psicopatologia geral (Tabela 2).<br />

Tabela 1. Distribuição dos nascimentos por estação do ano entre pacientes com e sem a síndrome deficitária da esquizofrenia<br />

Estação de nascimento<br />

Pacientes com esquizofrenia<br />

Verão Outono Inverno Primavera p<br />

Forma deficitária 9 (33,3%) 9 (33,3%) 3 (11,1%) 6 (22,2%)<br />

0,343<br />

Forma não deficitária 11 (22,4%) 11 (22,4%) 11 (22,4%) 16 (32,7%)<br />

* Teste exato de Fisher, nível de significância 5%.<br />

Tabela 2. Características dos pacientes com esquizofrenia segundo a estação de nascimento<br />

Estação de nascimento<br />

Verão Outono Inverno Primavera p<br />

Características média (± dp) média (± dp) média (± dp) média (± dp)<br />

Idade (anos) 33,2 (± 9,4) 34,5 (± 7,0) 34,1 (± 9,2) 29,1 (± 8,0) 0,219<br />

Idade ao início dos sintomas (anos) 20,3 (± 6,9) 18,5 (± 3,3) 19,4 (± 3,8) 19,3 (± 5,5) 0,963<br />

Psicopatologia geral (escore total da BPRS) 9,6 (± 5,9) 11,7 (±5,2) 9,9 (± 8,7) 8,5 (± 5,4) 0,338<br />

Sintomas positivos (escore total da SAPS) 4,4 (± 4,4) 6,2 (± 3,2) 5,3 (± 4,4) 4,5 (± 3,7) 0,246<br />

Sintomas negativos (escore total da escore SANS) 11,0 (± 7,4) 12,0 (± 6,0) 10,3 (± 7,5) 9,0 (±6,7) 0,495<br />

* Teste Kruskal-Wallis, nível de significância 5%.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):337-40.


340 Lopes VMV et al.<br />

comunicação breve<br />

DISCUSSÃO<br />

Tal como relatado na literatura 7 , encontrou-se uma sobrerrepresentação<br />

de pacientes nascidos nos meses de verão<br />

e outono entre esquizofrênicos com síndrome deficitária<br />

nascidos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, entretanto tal<br />

excesso não alcançou significância estatística. É possível<br />

que o tamanho amostral, definido em função da avaliação<br />

cognitiva que integrou o estudo abrangente original, tenha<br />

sido insuficiente estatisticamente para detectar diferenças<br />

na sazonalidade. Por outro lado, os estudos que identificaram<br />

associação entre esquizofrenia deficitária e nascimento<br />

nos meses de verão e outono foram realizados no hemisfério<br />

norte 7 e é possível que, assim como ocorre para a associação<br />

entre a esquizofrenia em geral e nascimento nos meses de<br />

inverno e primavera, o efeito da estação de nascimento não<br />

seja o mesmo nos dois hemisférios e em diferentes latitudes.<br />

Diferentemente do relatado nos estudos conduzidos no<br />

Nordeste brasileiro 5,6 , não se encontrou um padrão sazonal<br />

para o nascimento no grupo geral de pacientes esquizofrênicos.<br />

Em latitudes comparáveis às das regiões Sul e Sudeste<br />

brasileiras, na Austrália 14 , foi encontrada uma tendência similiar<br />

à do hemisfério norte, porém sem significância estatística.<br />

Talvez diferenças de latitude e climáticas expliquem os achados<br />

discrepantes quanto à sazonalidade de nascimentos na<br />

esquizofrenia, ainda que não possamos desconsiderar as limitações<br />

impostas ao nosso estudo pelo tamanho amostral.<br />

Tomados em conjunto, os dados de nosso estudo e os de<br />

outras pesquisas sobre o efeito da estação de nascimento sobre<br />

o risco para a esquizofrenia reforçam a noção de que múltiplos<br />

fatores de risco de pequena magnitude devem interagir de forma<br />

complexa para determinar a manifestação da doença 1 .<br />

CONCLUSÃO<br />

Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, não foi observado excesso<br />

de nascimentos no verão entre pacientes esquizofrênicos<br />

com síndrome deficitária, bem como não foi constatado<br />

excesso de nascimentos no inverno e primavera no grupo<br />

geral de pacientes com esquizofrenia.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem a Cleide Aparecida Moreira Silva e<br />

Helymar da Costa Machado, pela ajuda com as análises estatísticas,<br />

e aos revisores anônimos pelas contribuições. Este<br />

estudo recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa<br />

do Estado de São Paulo (Fapesp) (08/09488-8) e do Programa<br />

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional<br />

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Pibic-<br />

-CNPq) (108807/2010-0).<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):337-40.


comunicação breve<br />

Escolha de alimentos durante a abstinência<br />

alcoólica: influência na fissura e no peso corporal<br />

Food choice during alcohol abstinence: influence in craving and body weight<br />

Mayla Cardoso Fernandes Toffolo 1 , Izabelle de Sousa Pereira 2 , Karine Aparecida Louvera Silva 2 ,<br />

Cláudia Aparecida Marliére 3 , Aline Silva de Aguiar Nemer 4<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Síndrome de abstinência,<br />

craving, carboidratos, peso<br />

corporal.<br />

Objetivo: Avaliar a influência da fissura na escolha de alimentos doces e alteração do peso<br />

corporal em pacientes alcoolistas. Métodos: Vinte e um pacientes alcoolistas em tratamento<br />

no Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas (CAPSad), Ouro Preto/MG, foram<br />

selecionados para participar deste estudo (14 homens e 7 mulheres, com idade entre 25<br />

e 64 anos). Foi aplicado questionário para avaliar a fissura (craving) e o consumo alimentar.<br />

A alteração do peso corporal e do índice de massa corporal (IMC) foi estimada por métodos<br />

antropométricos para avaliar o estado nutricional. As avaliações foram realizadas no momento<br />

inicial e final, contemplando até três meses de tratamento. Resultados: As mulheres apresentaram<br />

ganho de peso (1,9 ± 1,86 kg) e os homens, perda de peso corporal (-0,13 ± 2,09 kg)<br />

(p = 0,04). Não houve diferença estatística quando essa variação de peso foi comparada entre<br />

os abstinentes (AB) e não abstinentes (NA) (Homens: AB = 0,39 ± 2,19 kg; NA: -1,06 ± 1,75 kg/<br />

Mulheres: AB: 2,73 ± 1,95 kg; NA: 1,42 ± 1,85 kg). A presença de fissura inicial e final foi semelhante<br />

entre os que recaíram e os abstinentes. Os abstinentes mantiveram menor fissura e<br />

maior sensação de bem-estar com o consumo de alimentos fontes de carboidratos simples<br />

ou complexos. Conclusão: Os alcoolistas que conseguiram se abster tiveram menor grau<br />

de fissura com maior bem-estar com o consumo de alimentos fontes de carboidratos. Houve<br />

mudanças do peso corporal ao longo do tempo de acompanhamento dos alcoolistas em<br />

tratamento para a abstinência.<br />

ABSTRACT<br />

Objective: To assess the craving influence in the choice of simple carbohydrate and changing in<br />

body weight in alcoholics patients. Methods: Twenty one patients alcoholics in treatment in a<br />

specialized center for alcohol and drugs (CAPSad), Ouro Preto/MG were selected to participate in<br />

the study (14 men and 7 women), with aged between 25 and 64 years. A questionnaire was applied<br />

to assess craving, and food consumption. The change in body weight and body mass index (BMI)<br />

were estimated by anthropometrical methods to assess the nutritional status. Evaluations were performed<br />

at baseline and end up covering three months of treatment. Results: It was observed in<br />

women the average increase in weight (1.9 ± 1.86 kg), and in men the average loss of weight (-0.13<br />

Recebido em<br />

27/7/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

29/11/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Escola de Nutrição (ENUT), Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição.<br />

2 ENUT/UFOP.<br />

3 ENUT/UFOP, Departamento de Nutrição Clínica e Social.<br />

4 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Departamento de Nutrição; UFOP, Programa de Pós-<br />

-Graduação em Saúde e Nutrição.<br />

Endereço para correspondência: Aline Silva de Aguiar Nemer<br />

Universidade Federal de Juiz de Fora/Instituto de Ciências Biológicas – Departamento de Nutrição<br />

Cidade Universitária – 36036-900 – Juiz de Fora, MG<br />

Tels.: (32) 2102-3234/(32) 8888-0193<br />

E-mails: aline.nemer@ufjf.edu.br; alinesaguiar@yahoo.com.br


342 Toffolo MCF et al.<br />

comunicação breve<br />

Keywords<br />

Withdrawal syndrome,<br />

craving, carbohydrate, body<br />

weight.<br />

± 2.09 kg) (p = 0.04). The statistical analysis showed no difference in the weight change when compared<br />

abstinent (A) and non-abstinent (NA) Men: AB = 0.39 ± 2.19 kg; NA: -1,06 ± 1,75 kg/Women:<br />

AB: 2.73 ± 1.95 kg; NA: 1.42 ± 1.85 kg. The initial and final craving was similar between those who<br />

relapsed and the abstinents. Abstainers maintained lower craving and greater sense of well-being<br />

with food sources of simple and complex carbohydrates consumption. Conclusion: There were<br />

changes in body weight over time of follow-up treatment for alcoholics in abstinence.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O álcool é a única substância psicoativa que fornece calorias<br />

consideradas “vazias” (7,1 kcal/g), por não fornecer outros<br />

nutrientes como proteínas, minerais, oligoelementos<br />

ou vitaminas 1 . O consumo extra das calorias do álcool pode<br />

favorecer o excesso de peso e o aumento da gordura corporal<br />

entre consumidores moderados de álcool 2 . Porém, seu<br />

consumo crônico e pesado está relacionado à desnutrição,<br />

tanto primária (por interferir no consumo de alimentos fontes<br />

de macro e micronutrientes) quanto secundária (por ser<br />

responsável pela má absorção e agressão celular decorrentes<br />

de sua citotoxicidade direta) 3 .<br />

Quando dependentes de álcool diminuem o seu consumo<br />

ou se abstêm, podem apresentar um conjunto de sinais<br />

e sintomas denominados síndrome de abstinência do álcool<br />

(SAA) 4 . Devido às amplas alterações orgânicas e neuroquímicas<br />

causadas pela dependência alcoólica, sintomas como<br />

tremores, insônia, agitação e inquietação psicomotora são<br />

comuns na síndrome de abstinência 5 .<br />

A síndrome de abstinência aguda do álcool geralmente<br />

é superada até o final dos primeiros sete dias de tratamento 6 .<br />

É nessa fase que o craving ou “fissura” (desejo intenso em<br />

usar a substância) está mais intenso. Entretanto, os três primeiros<br />

meses são críticos para a manutenção da abstinência,<br />

mesmo após uma interrupção mais prolongada, e o craving<br />

pode estar presente, levando a um lapso ou recaída 7 .<br />

Alterações dos padrões alimentares e sobrepeso têm<br />

sido observados durante tratamento para dependência química<br />

8,9 . Wurtman e Wurtman 8 observaram o aumento da<br />

vontade de comer alimentos ricos em carboidratos, como<br />

doces, durante a abstinência, por causa de sua influência na<br />

melhora do humor e alívio da irritabilidade. Esses alimentos<br />

contribuem para o aumento dos níveis de triptofano cerebral<br />

e, consequentemente, para a síntese e liberação do neurotransmissor<br />

serotonina, aliviando potencialmente a sua<br />

deficiência pela interrupção do uso do álcool na abstinência.<br />

O aumento do consumo alimentar a fim de aliviar os sintomas<br />

de abstinência pode levar ao ganho de peso corporal.<br />

Cowan e Devine 9 observaram aumento do consumo de alimentos<br />

ricos em gorduras e açúcares e excessivo ganho de<br />

peso entre homens durante a recuperação da dependência<br />

alcoólica, o que pode favorecer o desenvolvimento de doenças<br />

crônicas 9 .<br />

Entretanto, ainda há poucos estudos na literatura avaliando<br />

a escolha de alimentos durante a abstinência entre<br />

homens e mulheres e de como esses alimentos podem favorecer<br />

a manutenção da abstinência e levar ao ganho de<br />

peso corporal.<br />

Uma vez que o início da abstinência é marcado por intensa<br />

fissura, nossa hipótese é de que os pacientes abstinentes<br />

consomem mais alimentos ricos em carboidratos para controlar<br />

a fissura, levando ao ganho de peso. Assim, o objetivo<br />

deste estudo foi avaliar a influência da fissura na escolha de<br />

alimentos e alteração do peso corporal em pacientes alcoolistas<br />

em tratamento.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Trata-se de um estudo longitudinal, realizado no período de<br />

junho a <strong>dezembro</strong> de 2010. A avaliação inicial foi realizada de<br />

junho a setembro de 2010 e a avaliação final, ao completar<br />

três meses de tratamento, até <strong>dezembro</strong> de 2010. Participaram<br />

da pesquisa 21 pacientes alcoolistas de ambos os sexos<br />

(14 homens), com idade de 25 a 64 anos e frequentadores do<br />

Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas (CAPSad),<br />

Ouro Preto/MG, Brasil. Foram incluídos todos os pacientes<br />

diagnosticados como dependentes de álcool, conforme critérios<br />

da Classificação Internacional das Doenças (CID-10).<br />

Não participaram da pesquisa os usuários de drogas ilícitas,<br />

mulheres grávidas, menores de 18 anos, pacientes<br />

que não apresentaram condições cognitivas adequadas e<br />

os que não completaram três meses de acompanhamento<br />

no CAPSad. Para avaliar o estado cognitivo dos participantes,<br />

utilizou-se o Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental<br />

State Examination – MMSE) 10 . A pontuação do MMSE pode<br />

variar de 0 (maior grau de comprometimento cognitivo) a<br />

30 pontos (melhor capacidade cognitiva). Considera-se que<br />

haja comprometimento cognitivo no caso de: alfabetizados<br />

que obtêm menos de 24 pontos; indivíduos com escolaridade<br />

entre o 5º e o 9º ano que obtêm menos de 18 pontos;<br />

e analfabetos que obtêm pontuação menor que 14 pontos.<br />

Todos que concordaram em participar do estudo assinaram<br />

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.<br />

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da<br />

Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil (CEP/UFOP –<br />

CAAE: 0031.0.238.000-09).<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):341-6.


comunicação breve<br />

Fissura, alimentos e peso corporal em alcoolistas<br />

343<br />

No início do tratamento, os participantes responderam<br />

a um questionário com informações sociodemográficas. Em<br />

seguida, responderam a um questionário semiestruturado<br />

para obter informações sobre os alimentos consumidos para<br />

controlar a fissura ou craving pelo uso de álcool. Para cada<br />

alimento relatado, atribuiu-se uma nota, numa escala analógica<br />

de 0 a 10 pontos, para sensação de bem-estar e alívio da<br />

fissura após consumir tal alimento. A nota 0 foi atribuída para<br />

nenhuma sensação de bem-estar; a nota 1 ou 2, para pouca<br />

sensação de bem-estar; as notas 3 a 6, para média sensação<br />

de bem-estar; as notas 6 a 8, para forte sensação de bem-<br />

-estar; a nota 9 ou 10, para ótima sensação de bem-estar.<br />

Nesse questionário inclui-se a terceira questão adaptada do<br />

questionário para avaliação do craving, proposto por Araújo<br />

et al. 6 para avaliar a nota atribuída à fissura sentida na semana<br />

da avaliação, a saber: não teve fissura (nota 0), fissura fraca<br />

(nota 1 ou 2), fissura média/fraca (nota 3 ou 4), fissura média/<br />

forte (nota 5 ou 6), fissura forte (nota 8) e fissura muito forte<br />

(nota 9 ou 10).<br />

A avaliação nutricional foi baseada nas medidas de peso<br />

corporal e altura, para cálculo do índice de massa corporal<br />

(IMC). As medidas foram coletadas seguindo normas propostas<br />

por Lohman 11 .<br />

Após três meses de tratamento, foi repetida a aplicação<br />

do questionário sobre o consumo de alimentos durante a<br />

fissura pelo álcool e realizada a avaliação antropométrica.<br />

Utilizou-se o software PASW versão 17.0 para a análise<br />

dos dados. Variáveis categóricas foram analisadas pelo teste<br />

exato de Fischer. Para comparações das variáveis contínuas<br />

iniciais e finais de peso corporal e IMC, utilizou-se o teste não<br />

paramétrico de Wilcoxon para amostras pareadas. Para comparação<br />

da diferença de peso (peso final/peso inicial) entre<br />

homens e mulheres, utilizou-se o teste U Mann-Whitney. As<br />

variáveis classificadas em inicial e final referem-se à primeira<br />

e à última semana de acompanhamento, respectivamente. O<br />

nível de significância foi fixado em menor que 5% (p < 0,05).<br />

RESULTADOS<br />

Trinta e seis pacientes foram convidados para participar da<br />

pesquisa. Foram excluídos usuários de drogas ilícitas (n = 10),<br />

menores de 18 anos (n = 1), paciente com estado cognitivo<br />

não adequado (n = 1), pacientes que não completaram três<br />

meses de acompanhamento (n = 3). Nenhum paciente convidado<br />

se recusou a participar. Vinte um participantes foram<br />

incluídos no estudo; 12 mantiveram a abstinência e 9 não<br />

se abstiveram ao final dos três meses de acompanhamento.<br />

Homens e mulheres apresentaram média de idade em torno<br />

de 45,57 ± 9,97 anos e 39,14 ± 7,13 anos, respectivamente.<br />

A amostra estudada apresentou perfil sociodemográfico<br />

semelhante (p > 0,05) entre abstinentes e não abstinentes<br />

(Tabela 1).<br />

Tabela 1. Descrição sociodemográfica e do início do uso do<br />

álcool entre mulheres e homens abstinentes e não abstinentes do<br />

CAPSad de Ouro Preto, MG *<br />

Variáveis<br />

Estado civil<br />

Abstinentes<br />

(n = 9)<br />

Homem<br />

Não<br />

abstinentes<br />

(n = 5)<br />

Abstinentes<br />

(n = 3)<br />

Mulher<br />

Não<br />

abstinentes<br />

(n = 4)<br />

Solteiro 6 1 1 1<br />

Casado 2 2 2 2<br />

Separado/divorciado 0 2 0 1<br />

Viúvo 1 0 0 0<br />

Escolaridade<br />

≤ 4ª série 6 1 0 1<br />

> 4ª série 2 4 3 3<br />

Raça*<br />

Branco 4 4 2 4<br />

Não branco 5 1 1 0<br />

Mora atualmente<br />

Sozinho 3 0 0 1<br />

Com a família 6 5 3 3<br />

Renda<br />

≤ 1 salário-mínimo 7 4 3 3<br />

> 1 salário-mínimo 2 1 0 1<br />

Responsável pela renda<br />

Próprio paciente 5 2 1 1<br />

Outros 4 3 2 3<br />

Situação trabalhista<br />

Atividade regular c/ direitos<br />

trabalhistas<br />

Atividade regular s/ direitos<br />

trabalhistas<br />

2 0 0 0<br />

1 1 0 1<br />

Afastado a mais de 15 dias 1 0 0 1<br />

Aposentado 3 1 0 0<br />

Desempregado 2 3 3 2<br />

Início do uso do álcool<br />

≤ 15 anos 3 1 1 3<br />

16 a 20 anos 3 4 2 1<br />

≥ 21 3 0 0 0<br />

* p > 0,05 para todas as variáveis analisadas – teste exato de Fisher.<br />

As mulheres apresentaram ganho de peso e os homens,<br />

perda de peso corporal (Mulheres: 1,98 ± 1,86 kg/Homens:<br />

-0,13 ± 2,09; p = 0,04). Entretanto, não houve diferença estatística<br />

quando a variação de peso corporal foi comparada,<br />

separadamente, entre homens e mulheres abstinentes e não<br />

abstinentes (Tabela 2). Embora não significativo, as mulheres<br />

abstinentes e não abstinentes ganharam mais peso do que<br />

os homens.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):341-6.


344 Toffolo MCF et al.<br />

comunicação breve<br />

A classificação da fissura inicial e final foi semelhante entre<br />

os que recaíram (não abstinentes) e os abstinentes. Porém,<br />

após consumir o alimento escolhido para controlar a vontade<br />

de usar o álcool, a maioria dos abstinentes (n = 9,75%) que<br />

apresentaram fissura fraca ou não sentiram fissura relatou<br />

maior sensação de bem-estar em comparação aos que não<br />

conseguiram se abster (p = 0,04 – teste exato de Fischer).<br />

Houve diferença estatística quanto ao grau de fissura entre<br />

as mulheres abstinentes e não abstinentes no início do<br />

tratamento. Entre as abstinentes, não houve relato de fissura<br />

no início do tratamento. Porém, para as que não conseguiram<br />

se abster, o início do tratamento foi enfrentado com<br />

relato de fissura moderada a fraca (n = 3) e fissura muito<br />

forte (n = 1) (p = 0,04 – teste exato de Fischer). Não houve<br />

diferença para a pontuação de fissura final, porém a maioria<br />

das não abstinentes apresentou fissura média (n = 3). Entre<br />

os homens, a abstinência foi marcada pela presença de fissura<br />

forte a muito forte (n = 5). A pontuação ≥ 5 para a sensação<br />

inicial e final de bem-estar após o consumo de doce<br />

(numa escala de 0 a 10) foi atribuída por 65% dos homens e<br />

86% das mulheres.<br />

Os alimentos relatados para controlar a fissura eram fontes<br />

de carboidratos simples e complexos, tanto doces quanto<br />

salgados. Entre os 21 participantes, 19 (90%) relataram<br />

consumir doces para controlar a vontade de usar droga (Figura<br />

1). Dentre os alimentos consumidos, os mais relatados<br />

entre os usuários foram: doces, balas, refrigerantes, frutas e<br />

sucos, massas, pães e salgadinhos.<br />

Tabela 2. Média e desvio-padrão de peso corporal, IMC e diferença de peso corporal (peso final – peso inicial) entre mulheres e homens<br />

abstinentes e não abstinentes do CAPSad de Ouro Preto, MG<br />

Variáveis antropométricas<br />

Homem<br />

Mulher<br />

Abstinente Não abstinentes Abstinente Não abstinentes<br />

Média ± DP<br />

Média ± DP<br />

n (%) 9 (42,85) 5 (23,80) 3 (14,30) 4 (19,05)<br />

Peso inicial (kg) 72,63 ± 13,94 55,3 ± 5,28 67,80 ± 10,46 53,15 ± 9,26<br />

Peso final (kg) 73,02 ± 13,33 54,24 ± 6,77 70,53 ± 11,28 54,57 ± 10,03<br />

p** 0,59 0,34 0,11 0,14<br />

IMC inicial (kg/m 2 ) 24,01 ± 3,61 19,65 ± 0,59 25,68 ± 3,50 21,92 ± 2,87<br />

IMC final (kg/m 2) 24,15 ± 3,37 19,22 ± 0,56 26,72 ± 3,90 22,47 ± 2,89<br />

p** 0,59 0,34 0,11 0,14<br />

Diferença peso (kg) a 0,39 ± 2,19 -1,06 ± 1,75 2,73 ± 1,95 1,42 ± 1,85<br />

* (-) perda de peso; ** Test Wilcoxon.<br />

Tabela 3. Relato da fissura inicial e final e sensação de bem-estar após ingerir o alimento escolhido para controlar a vontade de consumir<br />

o álcool<br />

Fissura inicial<br />

Nota de 0 a 4<br />

n (%)<br />

Sensação de bem-estar após consumir o alimento para controlar a vontade de usar a droga<br />

Abstinente (n = 12) Não abstinentes (n = 9)<br />

Nota 5 a 10<br />

n (%)<br />

Nota de 0 a 4<br />

n (%)<br />

Não teve fissura a fissura média/fraca 5 (41,7) 6 (50,0) 2 (22,2) 5 (55,6)<br />

Fissura média/forte a muito forte 1 (8,3) 0 (0) 1 (11,1) 1 (11,1)<br />

Fissura final<br />

Não teve fissura média/fraca 1 (8,3) 9 (75,0) * 2 (22,2) 6 (66,7)<br />

Fissura média/forte a muito forte 2 (16,7) 0 (0) 0 1 (11,1)<br />

* Teste exato de Fisher, p = 0,04.<br />

Nota 5 a 10<br />

n (%)<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):341-6.


comunicação breve<br />

Fissura, alimentos e peso corporal em alcoolistas<br />

345<br />

8<br />

7<br />

HOMENS MULHERES TODOS<br />

Abstinente<br />

Não abstinente<br />

Número de participantes<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Não buscou<br />

Alimentos doces<br />

Doces e salgados<br />

Não buscou<br />

Alimentos doces<br />

Doces e salgados<br />

Não buscou<br />

Alimentos doces<br />

Doces e salgados<br />

Figura 1. Alcoolistas abstinentes e não abstinentes que buscaram ou não alimentos doces e salgados para controle da vontade<br />

de usar a droga. p > 0,05 – teste exato Fisher.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os resultados deste estudo indicam que alcoolistas que conseguiram<br />

se abster, durante o período de acompanhamento,<br />

mantiveram menor grau de fissura e maior sensação de<br />

bem-estar com o consumo de alimentos fontes de carboidratos<br />

simples ou complexos para controlar a vontade de<br />

usar o álcool.<br />

No presente estudo, observou-se que mulheres abstinentes<br />

e não abstinentes ganharam peso no período de<br />

acompanhamento. Já os homens abstinentes apresentaram<br />

pequeno ganho de peso corporal (390 g) e os não abstinentes<br />

perderam peso.<br />

O mecanismo de ganho de peso durante a abstinência<br />

não foi ainda bem compreendido de acordo com o estudo<br />

que avaliou o ganho de peso em pacientes alcoolistas durante<br />

a abstinência 12 . Por outro lado, diferenças encontradas<br />

nas alterações de peso entre homens e mulheres podem ser<br />

atribuídas a outros fatores não avaliados neste estudo, como<br />

hábito alimentar diferenciado entre os sexos, estados motivacionais,<br />

processos metabólicos e fisiológicos.<br />

A redução do IMC e da gordura corporal em homens alcoolistas<br />

em abstinência foi encontrada por Addolorato et<br />

al. 12 , os quais foram normalizados após o tempo mínimo de<br />

três meses de abstinência, enfatizando a melhora do estado<br />

nutricional com a abstinência.<br />

O relato de menor sensação de fissura ou até mesmo de<br />

não senti-la no início entre os que mantiveram a abstinência,<br />

neste estudo, pode estar associado à frequência de maior<br />

sensação de bem-estar com o consumo de alimentos fontes<br />

de carboidratos para controlar o uso do álcool.<br />

Em contrapartida, Wurtman e Wurtman 8 relataram que<br />

alterações neuroquímicas em áreas cerebrais envolvidas na<br />

recompensa podem ser induzidas pelo consumo de açúcares.<br />

A maioria dos alcoolistas e dependentes de outras drogas<br />

apresenta preferência por alimentos com alta concentração<br />

de carboidratos simples, indicando que o consumo<br />

de alimentos doces promove a liberação de endorfinas e dopamina<br />

no cérebro, simulando o efeito da droga de abuso 13 .<br />

Entretanto, ainda são poucos os estudos que relacionam<br />

o abuso de álcool e sua abstinência com o consumo de açúcares<br />

e a recompensa. Krahn et al. 14 mostraram que alcoolistas<br />

têm preferência por alimentos com sacarose e que a<br />

busca por doces, no primeiro mês de abstinência, é grande e<br />

tende a diminuir ao longo de seis meses sem consumo alcoólico.<br />

Entretanto, essa preferência alimentar por doces seria<br />

um dos motivos que contribuem para o ganho de peso na<br />

abstinência.<br />

Recentemente, Cowan e Devine 9 observaram presença<br />

de compulsão alimentar e uso de alimentos como substitutos<br />

das drogas para satisfazer a fissura entre homens alcoolistas<br />

em tratamento para a abstinência. Os autores também<br />

relataram que a privação alimentar durante a adicção<br />

e as interações entre o estágio de recuperação e convívio<br />

ambiental podem contribuir para mudanças na escolha de<br />

alimentos e para o ganho de peso excessivo na abstinência,<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):341-6.


346 Toffolo MCF et al.<br />

comunicação breve<br />

que excede o peso perdido durante a adicção. Não foram<br />

encontrados estudos comparando esses fatores entre homens<br />

e mulheres em tratamento para o alcoolismo, apenas<br />

estudo avaliando o perfil nutricional e o padrão alimentar de<br />

25 adolescentes frequentadores do CAPSad, encontrando-se<br />

eutrofia em 84% dos participantes eutróficos e bom padrão<br />

de consumo alimentar diário 15 .<br />

Durante o acompanhamento nutricional de pacientes alcoolistas<br />

em tratamento, é prudente considerar a mudança<br />

de hábitos alimentares com maior consumo de alimentos<br />

fonte de carboidratos, justificado pela sensação de bem-<br />

-estar para controlar a fissura entre os abstinentes, além do<br />

desenvolvimento de maior risco de doenças crônicas não<br />

transmissíveis, como o diabetes 10 .<br />

Neste estudo, foi pequeno o número de alcoolistas avaliados,<br />

assim como a participação do sexo feminino. Isso se<br />

justifica pela característica do serviço prestado pelo CAPSad,<br />

onde a procura em sua grande maioria é espontânea, e neste<br />

caso poucos pacientes, especificamente as mulheres, procuraram<br />

tratamento.<br />

Como outros métodos para avaliação do consumo alimentar,<br />

o levantamento de consumo de alimentos a posteriori<br />

apresenta viés de memória. Para minimizar esse tipo de<br />

erro e obter resultados mais fidedignos, obedeceu-se a todo<br />

o protocolo previamente estabelecido, no qual as entrevistas<br />

foram individualizadas, o que o torna mais sensível para<br />

detectar diferenças culturais mediante a coleta livre de informação,<br />

não forçando um nível de padronização.<br />

Este estudo inicial indica alterações antropométricas durante<br />

o tratamento e comportamentos diferentes para a fissura<br />

e a manutenção da abstinência entre homens e mulheres,<br />

sugerindo a necessidade de abordagens multidisciplinares<br />

nos CAPSad. Porém, é necessário mais estudos com número<br />

maior de participantes para melhor caracterizar a diferença<br />

entre os sexos quanto ao consumo de alimentos e à alteração<br />

da composição corporal durante o processo de abstinência.<br />

CONCLUSÃO<br />

Houve alteração de peso corporal ao longo do tempo de<br />

acompanhamento e maior fissura inicial entre as mulheres<br />

que não conseguiram se abster. O relato de consumo de<br />

alimentos fonte de carboidratos simples e complexos foi<br />

semelhante entre alcoolistas abstinentes e não abstinentes.<br />

Porém, a sensação de bem-estar com o consumo desses alimentos,<br />

para evitar o uso do álcool, foi maior entre os abstinentes<br />

que também relataram não ter ou ter fissura fraca.<br />

É importante a orientação para as escolhas alimentares<br />

entre alcoolistas em tratamento, a fim de controlar a fissura<br />

e manter o estado nutricional adequado, estabelecendo<br />

metas de peso saudável e evitando o aumento de peso corporal,<br />

compatível com aumento de riscos cardiovasculares.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação/UFOP,<br />

à Escola de Nutrição/UFOP, a Paulo Francisco<br />

e a todos os funcionários e usuários do CAPSad e à Késia<br />

Diego Quintaes, por contribuírem para a realização deste<br />

trabalho.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. Lands WEM, Zakhari S. The case of missing calories. Am J Clin Nutr. 1991;54(1):47-8.<br />

2. Silva ABJ, Oliveira AVK, Silva JD, Quintaes KD, Silva-Fonseca VA, Aguiar-Nemer AS. Relação<br />

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Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(3):210-5.<br />

3. Lieber CS. Alcohol and the liver: 1994 update. Gastroenterology. 1994;106:1085-105.<br />

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comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artmed; 2001.<br />

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shared neural pathways and genes. J Psychoactive Drugs. 2010;42(2):147-51.<br />

14. Krahn D, Grossman J, Henk H, Mussey M, Crosby R, Gosnell B. Sweet intake, sweet-liking,<br />

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Colet. 2010;4(1):145-54.<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):341-6.


elato de caso<br />

Considerações sobre a clínica e o tratamento de uma<br />

manifestação incomum do transtorno dismórfico<br />

corporal: a síndrome de referência olfatória<br />

Considerations on the clinical picture and treatment<br />

of an unusual manifestation of body dysmorphic<br />

disorder: the olfactory reference syndrome<br />

Cristiane Maluhy Gebara 1 , Tito Paes de Barros Neto 1<br />

RESUMO<br />

Palavras-chave<br />

Exposição, síndrome de<br />

referência olfatória, terapia<br />

cognitivo-comportamental,<br />

transtornos somatoformes.<br />

Neste relato, descreve-se o caso de um rapaz de 23 anos que apresentava a crença de exalar<br />

um odor desagradável proveniente da transpiração e acreditava que incomodava as outras<br />

pessoas. O paciente foi medicado com amissulprida associada a técnicas de terapia cognitivo-comportamental<br />

(TCC), tendo havido acentuada melhora do quadro clínico. Foram abordados<br />

aspectos relativos à nosologia e às manifestações clínicas da síndrome de referência<br />

olfatória (SRO), e o seu tratamento foi discutido. Observou-se que experimentos comportamentais<br />

envolvendo exposição com desafio às crenças delirantes podem ser úteis no tratamento<br />

desse transtorno e que os antipsicóticos, particularmente a amissulprida, podem ser<br />

uma boa alternativa aos inibidores de recaptação da serotonina (IRSs) no tratamento da SRO.<br />

ABSTRACT<br />

Keywords<br />

Exposure, olfactory<br />

reference syndrome,<br />

cognitive behavior therapy,<br />

somatoform disorders.<br />

We report the case of a 23 year old man who believed he emitted an unpleasant odor from perspiration<br />

which he’s believed bothered other people. He was treated with amisulpride in combination<br />

with cognitive-behavioral therapy (CBT), and there was marked improvement in the clinical status.<br />

Aspects related to the clinical manifestations and nosology of olfactory reference syndrome (ORS)<br />

and treatment were discussed. It was noted that behavioral experiments involving exposure with<br />

challenge to the delusional beliefs may be useful in the treatment of this disorder, and antipsychotics,<br />

particularly amisulpride may be a good alternative to the serotonin reuptake inhibitors (SRIs)<br />

in the treatment of ORS.<br />

Recebido em<br />

27/10/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

16/11/<strong>2011</strong><br />

1 Universidade de São Paulo (USP), Hospital das Clínicas, Instituto de Psiquiatria, Departamento de Psiquiatria, Programa de Ansiedade<br />

(AMBAN).<br />

Endereço para correspondência: Cristiane Maluhy Gebara<br />

Rua Ovidio Pires de Campos, 785, 3º andar, Jardim Paulista – 04503-010 – São Paulo, SP, Brasil<br />

E-mail: crisgebara@gmail.com


348 Gebara CM, Barros Neto TP<br />

relato de caso<br />

INTRODUÇÃO<br />

A síndrome de referência olfatória (SRO) foi descrita há mais<br />

de um século 1 e se caracteriza pela preocupação com uma<br />

crença falsa de emitir um odor desagradável ou mesmo<br />

ofensivo, que não é percebido pelos outros. Poucos estudos<br />

foram realizados até o momento abordando esse tema. Pryse-Phillips<br />

2 introduziu o termo síndrome de referência olfatória<br />

para diferenciá-la dos sintomas olfatórios presentes na<br />

esquizofrenia, na depressão e na epilepsia do lobo temporal.<br />

O transtorno é grave e o sofrimento é intenso, podendo levar<br />

à incapacitação. O DSM-IV 3 , apesar de não classificar a SRO<br />

em uma categoria diagnóstica específica, a considera um<br />

transtorno delirante de tipo somático. Em um recente artigo<br />

de revisão sistemática, em que foram encontrados 84 relatos<br />

de casos de SRO, os autores desses relatos expressaram ceticismo<br />

quanto à natureza delirante da crença em boa parte<br />

dos casos 4 . Outro estudo, realizado no Brasil por Prazeres et<br />

al. 5 , observou que apenas 21% dos pacientes apresentavam<br />

crenças delirantes. No entanto, um estudo mais recente observou<br />

que as crenças em relação ao odor corporal eram delirantes<br />

em 85% dos casos 6 .<br />

Para alguns autores, a SRO estaria dentro do espectro da<br />

ansiedade social, incluindo-se a fobia social, Taijin Kyofusho<br />

e transtorno dismórfico corporal (TDC) 7 . Há ainda autores<br />

que acreditam que a SRO faça parte do espectro obsessivo-<br />

-compulsivo 8 .<br />

Para Begum e McKenna 4 , a SRO é um transtorno psiquiátrico<br />

primário que não se encaixa na classificação do DSM-IV<br />

como um subtipo de transtorno delirante. Feusner et al. 9 ,<br />

a exemplo de Lochner e Stein 7 , propuseram a inclusão de<br />

critérios específicos para o diagnóstico da SRO e recomendaram<br />

que esta venha a fazer parte do apêndice do DSM-V.<br />

Prazeres et al. 5 entendem que a SRO seja um subtipo de<br />

transtorno dismórfico corporal.<br />

O fato é que o status nosológico da SRO é uma questão<br />

controversa e ainda existem dúvidas sobre quais tratamentos<br />

são eficazes. Os estudos em que os pacientes foram submetidos<br />

à psicoterapia são escassos.<br />

Em relação ao tratamento, as drogas mais utilizadas<br />

são os antidepressivos, sobretudo os inibidores de recaptação<br />

da serotonina (IRSs) 9 , embora os antipsicóticos<br />

também sejam citados 4 . Há relatos de casos que sugerem<br />

que a combinação de ambos seja eficaz 5 . Note-se que as<br />

crenças presentes nos casos de SRO frequentemente são<br />

delirantes. A terapia comportamental também aparece<br />

como uma boa alternativa de tratamento 4 . Ao se fazer um<br />

levantamento sobre esses aspectos, pode-se afirmar que<br />

os estudos que abordam o tratamento da SRO são bastante<br />

limitados 6 .<br />

O objetivo deste relato de caso é propor que um antipsicótico<br />

associado à terapia cognitivo-comportamental possa<br />

ser eficaz no tratamento da SRO.<br />

DESCRIÇÃO DO CASO<br />

O paciente, um homem de 23 anos, chegou ao consultório<br />

e relatou com dificuldade o problema: acreditava exalar um<br />

odor desagradável pela transpiração e que isso incomodava<br />

as pessoas. Ele afirmava saber disso, pois notava que as pessoas<br />

se afastavam dele. O paciente terminou com dificuldade<br />

o ensino médio, mas, por causa de sua forte convicção<br />

de que exalava um odor desagradável, desistiu de estudar,<br />

abandonando os planos de ingressar na faculdade, evitando<br />

até sair de casa. Permanecia o dia todo no computador, principalmente<br />

na internet. Esse paciente encontrava-se confinado<br />

à sua casa havia seis anos.<br />

Relatou que aos 16 anos, quando voltava da escola, num<br />

dia quente, sua mãe pediu para que tomasse banho. A partir<br />

desse fato, passou a se preocupar com o suor e o odor que<br />

exalava, embora negasse sudorese excessiva. Chegava a tomar<br />

quatro banhos por dia. Procurou vários dermatologistas<br />

e experimentou diversas marcas de desodorantes para tentar<br />

resolver o problema. Foi atendido por um terapeuta de<br />

orientação psicodinâmica durante cinco anos.<br />

Ele relatou ter um bom relacionamento com os pais e<br />

o irmão mais velho. Disse ter sido uma criança muito ativa.<br />

Jogava futebol, tinha vários amigos, mas preferia conversar<br />

com adultos.<br />

O paciente apresentava diversas cognições: “pareço não<br />

pertencer a nenhum grupo”, “me sinto com cem anos, sou<br />

velho para várias coisas”, “nunca mais vou alcançar meus colegas”,<br />

tudo está no lugar errado, tudo é uma escuridão”.<br />

Ao exame psíquico, apresentava esquiva de contato interpessoal,<br />

ideias delirantes, autorreferência e autoestima<br />

diminuída.<br />

Foi feita a hipótese diagnóstica de SRO. O paciente foi medicado<br />

com paroxetina, mas teve muitos efeitos colaterais e<br />

nenhum ganho terapêutico. Seu grau de convicção em relação<br />

a exalar o odor desagradável chegava a 95%. Foi suspensa<br />

a paroxetina e introduzida a sertralina até 100 mg ao dia,<br />

sem que houvesse qualquer melhora do quadro, com diversos<br />

efeitos colaterais, como insônia, inquietação e tremor. Foi<br />

então, associada a risperidona, 1 mg ao dia, mas o paciente<br />

parou a medicação por conta própria, alegando sonolência<br />

excessiva e sentimentos de estranheza. Foi introduzida a<br />

amissulprida na dose de 50 mg ao dia e foi encaminhado para<br />

terapia cognitivo-comportamental. O paciente referiu alguma<br />

melhora com a nova medicação. Sentiu-se mais tranquilo,<br />

mas mantinha a convicção de exalar o odor desagradável.<br />

Na abordagem cognitivo-comportamental, foram feitas<br />

algumas sessões de exposição ao vivo, que caracterizavam<br />

experimentos comportamentais, e de reestruturação cognitiva.<br />

A primeira sessão de exposição foi feita na rua e consistia<br />

em, após o paciente fazer uso de uma marca de desodorante,<br />

cujo rótulo foi coberto, perguntar para os transeuntes se<br />

percebiam algum odor desagradável no paciente. A ideia era<br />

configurar uma pretensa pesquisa para uma marca de deso-<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):347-9.


elato de caso<br />

Clínica e tratamento da síndrome de referência olfatória<br />

349<br />

dorante que não poderia ser identificada. Mais de 20 pessoas<br />

responderam às perguntas e não houve nenhuma resposta<br />

de que o odor que o paciente exalava era desagradável. A<br />

convicção de que exalava tal odor passou de 95% para 75%.<br />

As suas cognições passaram a ser mais funcionais. (“agora<br />

penso em fazer algo”, “quero estar com pessoas”). A dose de<br />

amissulprida foi ajustada para 100 mg ao dia, com o paciente<br />

estando mais ativo; ele fez uma trilha e viajou para a praia.<br />

O paciente prosseguiu com suas sessões de exposição.<br />

A terapeuta sugeriu um lugar público fechado. O elevador<br />

de um shopping center foi escolhido para esse outro experimento<br />

comportamental. No elevador, a terapeuta perguntava<br />

às pessoas se sentiam algum odor estranho. Foram feitas<br />

diversas viagens de elevador e só uma pessoa respondeu<br />

que percebia um odor diferente, mas não desagradável. Sua<br />

convicção em relação a exalar o odor passou para 50%.<br />

Atualmente, o paciente encontra-se matriculado em um<br />

curso pré-vestibular. Ele tem saído com os amigos, o que não<br />

fazia antes, e fez um trabalho em um blog para um familiar. Em<br />

relação ao odor corporal, o paciente diz que este não incomoda<br />

todas as pessoas. Relata tomar um ou dois banhos por dia.<br />

Nas aulas, escolhe uma cadeira em que fique perto das pessoas<br />

que já conhece, mas ainda evita pegar elevador lotado.<br />

Após algumas sessões de reestruturação cognitiva, sua convicção<br />

em relação a exalar o odor desagradável caiu para 25%.<br />

Um comentário sobre o diagnóstico da SRO nos parece oportuno,<br />

uma vez que em alguns artigos ela aparece dentro dos<br />

espectros da ansiedade social 7 e do transtorno obsessivo-<br />

-compulsivo (TOC) 8 e guarda semelhanças com o TDC. Sobre<br />

essa questão, é importante lembrar que a esquiva e o medo<br />

de situações sociais que ocorre na SRO são secundários à<br />

crença de exalar o odor. O mesmo se pode dizer em relação<br />

ao TOC, por exemplo, em rituais de lavagem na tentativa de<br />

eliminar o odor. Em relação ao TDC, há uma preocupação<br />

em relação a um defeito imaginário. E, neste caso, pode-se<br />

especular se uma crença a respeito de um funcionamento<br />

defectivo do corpo estaria se manifestando.<br />

Técnicas específicas de TCC podem ser úteis no tratamento<br />

de sintomas psicóticos positivos como alucinações<br />

e delírios, sobretudo quando causam sofrimento 10 . No caso<br />

desse paciente, a exposição com o desafio à crença, associada<br />

à amissulprida, levou à melhora do quadro. Vale ressaltar<br />

que apenas um artigo foi localizado, em que a amissulprida<br />

foi usada no tratamento da SRO: um relato de caso 11 . Segundo<br />

Phillips e Menard 6 , os IRSs são as drogas de primeira escolha,<br />

associados ou não a antipsicóticos. Estes últimos, usados<br />

isoladamente, também podem ser uma boa alternativa. No<br />

caso do paciente em questão, não foi isso que ocorreu. Ele<br />

não respondeu a IRSs, mas a sua resposta ao antipsicótico<br />

foi bastante favorável, contrariando o que existe na literatura<br />

e denotando que antipsicóticos, particularmente a amissulprida,<br />

são uma boa alternativa no tratamento da SRO. No<br />

entanto, é importante realçar que este artigo é um relato de<br />

caso, o que dificulta a generalização do resultado.<br />

O uso de experimentos comportamentais que desafiam<br />

os delírios é encontrado na literatura e leva à redução da convicção<br />

nas crenças 10,12 . Isso pode ser observado no paciente,<br />

que, após ter se submetido às sessões de TCC, estimou ter<br />

havido uma redução de 75% na sua convicção de exalar o<br />

odor. Remanesce a questão de as crenças da SRO serem ou<br />

não delirantes. Poderiam ser ideias deliroides? Ou mesmo<br />

prevalentes? Essa é uma questão controversa que parece estar<br />

longe de se resolver. A esse respeito, Feusner et al. 9 , em<br />

sua sugestão de haver critérios específicos para o diagnóstico<br />

da SRO no DSM-V, propõem discriminar se as crenças são: 1)<br />

provavelmente não verdadeiras, 2) provavelmente verdadeiras<br />

ou 3) indubitavelmente verdadeiras. Desse ponto de vista,<br />

pode-se fazer um paralelo entre essa especificação e a questão<br />

de serem ideias prevalentes, deliroides ou delirantes.<br />

Em relação às cognições relatadas pelo paciente, também<br />

houve progresso, com o abandono parcial do discurso<br />

repetitivo em relação aos anos que ficou sem fazer nada, voltando-se<br />

para o presente e também para o futuro próximo.<br />

São necessários mais estudos controlados que evidenciem<br />

quais são os tratamentos mais eficazes da SRO.<br />

DISCUSSÃO<br />

REFERÊNCIAS<br />

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11. Yeh YW, Chen CK, Huang SY, Kuo SC, Chen CY, Chen CL. Successful treatment with amisulpride<br />

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12. Chadwick P, Birchwood M, Trower P. Cognitive therapy for delusion, voices and paranoia.<br />

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J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):347-9.


índice artigo remissivo original por autor<br />

A<br />

Adriana Alves Nery 294<br />

Adriana C. A. Guimarães 164<br />

Adriana Cardoso de Oliveira e Silva 99, 158,<br />

176, 301<br />

Adriana Trejger Kachani 57<br />

Adriane Bueno Marangoni 198<br />

Aihancreson Vaz Kirchoff de Oliveira 210<br />

Albina R. Torres 123<br />

Alessandra Bertinatto Pinto Fonseca 216<br />

Alexandre Dido Balbinot 205<br />

Alexandre Martins Valença 144, 301<br />

Alexandre Rafael de Mello Schier 99<br />

Alexandro Andrade 216<br />

Alexis Trott 321<br />

Aline Sardinha 227<br />

Aline Silva de Aguiar Nemer 210, 341<br />

Alpheu Ferreira do Amaral Junior 205<br />

Amanda Bertolini de Jesus Silva 210<br />

Amaury Cantilino da Silva Junior 171<br />

Ana Carolina Soares Amaral 309<br />

Ana Cecilia Petta Roselli Marques 233<br />

Andre J. Xavier 164<br />

André Soares Rebello 7<br />

Angelica Francesca Maris 321<br />

Anna Lucia Spear King 301<br />

Antonio Carlos de Farias 240<br />

Antônio de Pádua Serafim 11<br />

Antonio Egidio Nardi 99, 144, 158, 227, 247, 301<br />

Antonio Lucio Teixeira 131, 141, 271<br />

Antonio Roma-Torres 182<br />

Arthur Kummer 131<br />

B<br />

Barbie P. do Rosario 164<br />

Bernard Pimentel Range 176<br />

Bernardo Rangel Tura 158<br />

Bianca Elisabeth Thurm 331<br />

Bruno Copio Fabregas 141<br />

C<br />

Carla Fonseca Zambaldi 171<br />

Carlos Alberto Buchpiguel 1<br />

Carlos Eduardo Paula Leite 123<br />

Carlos Francisco Almeida de Oliveira 46<br />

Cassia Roberta Benko 240<br />

César de Moraes 40<br />

Cezar Augusto Casotti 294<br />

Cintia Villela Kirchmeyer 266<br />

Clareci Silva Cardoso 221<br />

Clarissa R. Dantas 135, ,337<br />

Claudia Aparecida Marliere 341<br />

Claudio E. M. Banzato 341<br />

Claudio Gil Soares de Araujo 227<br />

Cleucimara Aparecida Camilo 284<br />

Cristiane Cauduro de Souza 73<br />

Cristiane Maluhy Gebara 347<br />

Cynthia Mara Felício 284<br />

D<br />

Daianny Macedo de Sousa Rego 46<br />

Daniel Martins de Barros 11<br />

Debora Cristiane Silva Flores Lino 294<br />

Denise Brasil 50<br />

Domingos Sávio da Costa 23<br />

E<br />

Edgar Nunes de Moraes 253<br />

Eduardo Jardel Portela 131<br />

Eleni de Araújo Sales 34<br />

Eliana Zandonade 151<br />

Eliane Florencio Gama 331<br />

Euclides Timóteo da Rocha 1<br />

Euripedes Constantino Miguel 1<br />

Everto Botelho Sougey 171<br />

F<br />

Fabiana Saffi 11<br />

Fabio Lopes Rocha 253, 271<br />

Fabio Tapia Salzano 331<br />

Felipe Filardi da Rocha 148<br />

Felipe Jose Nascimento Barreto 277<br />

Fernanda Monte 164<br />

Filipa Vieira 182<br />

Flavia Domingues Vitorino 141<br />

Frederico D. Garcia 71<br />

G<br />

Gabriel Soares Ledur Alves 205<br />

Geraldo Busatto Filho 1<br />

Gerardo Maria de Araujo Filho 131<br />

Gilson de Vasconcelos Torres 86<br />

Giovanni Marcos Lovisi 91<br />

Guilherme Nogueira M. de Oliveira 131<br />

Guilherme Rubino de Azevedo Focchi 259<br />

H<br />

Hannia Roberta Rodrigues Paiva da Rocha 34<br />

Heloísa Karmelina Carvalho de Sousa 34<br />

Héloïse Delavenne 71<br />

Helymar da Costa Machado 198<br />

Henrique Claudio Vicentini 123<br />

I<br />

Isa de Pádua Cintra 198<br />

Isabel Brandão 182<br />

Isabella Nascimento 144<br />

Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva 259<br />

Izabela Guimarães Barbosa 271<br />

Izabelle de Sousa Pereira 341<br />

J<br />

Jair Sindra Virtuoso Junior 80<br />

Janiara David Silva 210<br />

Jaqueline Garcia da Silva 73<br />

Jesus Landeira-Fernandez 266<br />

João C. Villares 111<br />

João Carlos Alchieri 34, 86<br />

João Carlos Nascimento de Alencar 34<br />

João Domingos Scalon 221, 271<br />

João Vinicius Salgado 131<br />

Jonas Jardim de Paula 253<br />

José Carlos Souza 23<br />

José Luis G. Pinho Costa 111<br />

Joyce dos Santos Neves 123<br />

Juliana Kelly Pinto Moreira 221<br />

K<br />

Karine Aparecida Louvera Silva 341<br />

Karine Porpino Viana 171<br />

Késia Diego Quintaes 210<br />

L<br />

Laila da Camara Lima Kurtinaitis 171<br />

Lays Guimaraes Amorim de Oliveira 216<br />

Leandro Fernandes Malloy-Diniz 253<br />

Leonardo de Sousa Fortes 309<br />

Leonardo F. Fontenelle 64<br />

Leonor Lencastre 182<br />

Letícia Leite 233<br />

Lívia Angeli Silva 294<br />

Lucas F. B. Mella<br />

Lucas O. Maia 111<br />

Lucia Abelha 91<br />

Luciana Araújo dos Reis 86<br />

Luciene Bolzam Macente 151<br />

M<br />

Maick da Silveira Viana 216<br />

Manoel Antônio dos Santos 16<br />

Manuel A. Fernandez Esteves 111<br />

Mara L. Cordeiro 240<br />

Marcele Regine de Carvalho 247<br />

Marcelo Rossoni da Rocha 233<br />

Marcia Dourado 50<br />

Márcia Freitas 64<br />

Marco Aurelio Negreiros 266<br />

Marcos Rogério Capello Sousa 40<br />

Margareth da Silva Oliveira 73<br />

Maria Aparecida Camargos Bicalho 253<br />

Maria Aparecida Conti 190<br />

Maria Aparecida Zanetti Passos 198<br />

Maria da Glória da Costa Carvalho 7<br />

Maria da Graça Tanori de Castro 233<br />

Maria Elisa Caputo Ferreira 190, 309<br />

Maria F. Laus 315<br />

Maria Fernanda Barroso de Sousa 50<br />

Maria Fernanda Faria Achá 11<br />

Maria Luiza de Jesus Miranda 331<br />

Maria Tavares Cavalcanti 91<br />

Mariana Fonseca Cotta 253<br />

Marilia Suzi Pereira dos Santos 171<br />

Marina Bandeira 221, 284<br />

Marina Prista Guerra 182<br />

Maura Maria Guimarães de Almeida 80<br />

Mauro Fisberg 198<br />

Mauro V. Mendlowicz 67<br />

Mauro Vitor Mendlowicz 144<br />

Mayla Cardoso Fernandes Toffolo 341<br />

Mônia Aparecida da Silva 284<br />

Murilo da Silva Alves 294<br />

N<br />

Naira Vassalo Lage 148<br />

Natalia Pinho de Oliveira Ribeiro 99<br />

O<br />

Orlandi-Mattos P. 111<br />

P<br />

Paola Lucena dos Santos 233<br />

Paulo Mattos 266<br />

Priscilla Lourenço Leite 176<br />

R<br />

Rafael Thomaz da Costa 247<br />

Raimundo Félix dos Santos Júnior 46<br />

Raphael Cangelli Filho 331<br />

Raquel Luiza Santos 50<br />

Regina Alvarenga 266<br />

Regina Ponce da Silva 158<br />

Renata Alves Paes 266<br />

Renata Brasil Araujo 28, 205, 233<br />

Ricardo Brandt 216<br />

Ricardo de Azevedo Klumb Steffens 216<br />

Rodolfo de Castro Ribas Junior 176<br />

Rodrigo Barreto Huguet 271<br />

Rodrigo de Almeida Ferreira 271<br />

Rodrigo Moura-Neto 7<br />

Rodrigo Nicolato 253<br />

Ronaldo Bastos 190<br />

Rosana Cipolotti 277<br />

Rosemeri Siqueira Pedroso 233<br />

S<br />

Samuel Robson Moreira Rego 46<br />

Sandra Scivoletto 259<br />

Sandra Torres 182<br />

Saulo Vasconcelos Rocha 80<br />

Sebastião S. Almeida 315<br />

Sérgio Paulo Rigonatti 11<br />

Silvia Parcias 164<br />

Silvio Roberto Sousa-Pereira 131<br />

Stela Verzinhase Peres 1<br />

T<br />

Taís Cardoso de Zeni 28<br />

Táki Athanássios Cordás 57<br />

Talvane Marins de Moraes 144<br />

Tânia Maria Araújo 80<br />

Tarcísio Gomes Dutra 171<br />

Tatiana Fernandes Carpinteiro da Silva 91<br />

Tatiana Zambrano Filomensky 176<br />

Telma M. Braga Costa 315<br />

Thaiza Teixeira Xavier Nobre 86<br />

Thiago Sakae 164<br />

Tito Paes de Barros Neto 347<br />

V<br />

Valter Paulo Neves Miranda 190, 309<br />

Vanessa Machado 16<br />

Vanessa Mason 91<br />

Victor M. V. Lopes 337<br />

Vilma Aparecida da Silva Fonseca 210<br />

Vitor Brito da Silva 46<br />

Viviane dos Santos Souza 294<br />

W<br />

Walmor J. Piccinini 231<br />

William Berger 67<br />

Z<br />

Zanon Passos 64


índice artigo remissivo original por assunto<br />

A<br />

Abstinência 28, 29, 30, 32, 73, 74, 76, 77, 118,<br />

206, 207, 234, 236, 237, 259, 263, 341,<br />

342, 343, 344, 345<br />

Adaptação transcultural 99, 164, 176, 177, 247,<br />

249, 251, 252<br />

Adesão 17, 30, 41, 46, 47, 48, 49, 53, 73, 74,<br />

77, 78, 136, 137, 138, 139, 158, 159,<br />

162, 278, 285<br />

Adolescência 40, 41, 60, 61, 62, 63, 190, 191,<br />

192, 193, 194, 196, 197, 278, 310, 313<br />

Adolescente 23, 40, 41, 42, 43, 44, 58, 74, 78,<br />

126, 127, 190, 191, 192, 193, 194, 195,<br />

196, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 217,<br />

238, 241, 254, 277, 278, 279, 280, 281,<br />

282, 309, 310, 311, 312, 313, 315, 346<br />

Adultos 23, 35, 36, 41, 43, 57, 59, 61, 65,<br />

159, 195, 196, 199, 202, 203, 211, 217,<br />

238, 249, 252, 254, 267, 278, 295, 298,<br />

323, 348<br />

AIDS 46, 47, 48, 49<br />

Álcool 7, 30, 31, 35, 36, 37, 38, 41, 46, 47, 48,<br />

49, 76, 77, 78, 82, 91, 126, 145, 156, 158,<br />

160, 161, 184, 207, 210, 211, 212, 213,<br />

214, 215, 235, 237<br />

Álcool desidrogenase 7, 214<br />

Alcoolismo 7, 78, 210, 346<br />

Análise individual 1<br />

Anemia falciforme 277, 278, 279, 280, 281,<br />

283, 283<br />

Anorexia nervosa 57, 58, 59, 61, 123, 124, 127,<br />

182, 183, 186, 332, 333, 335<br />

Anosognosia 50, 51, 52, 53, 54<br />

Ansiedade 28, 29, 30, 31, 32, 35, 37, 38, 41,<br />

43, 69, 76, 81, 84, 87, 90, 124, 125, 126,<br />

127, 128, 129, 133, 158, 160, 161, 162,<br />

219, 227, 228, 229, 230, 233, 235, 236,<br />

237, 238, 241, 248, 271, 273, 274, 275,<br />

301, 348, 349<br />

Antropometria 205<br />

Apoio social 16, 156<br />

Atenção primária à saúde 221, 222<br />

Atividade física 26, 44, 56, 59, 61, 80, 81, 82, 83,<br />

84, 214, 228, 275, 310, 313, 315<br />

Atletas 217, 309, 310, 311, 312, 313, 335<br />

Autoconhecimento 135, 136<br />

Avaliação de resultados (cuidados de saúde)<br />

129, 284<br />

Avaliação nutricional 210, 343<br />

C<br />

Carboidratos 214, 341, 342, 344, 345, 346<br />

CCQ-B 233, 234, 235, 236, 237, 238<br />

Cirurgia cardíaca 86, 87, 88, 89, 90<br />

Cocaína (crack) 28, 29, 205, 206, 233, 234, 237<br />

Cognição 52, 118, 138, 139, 254, 266, 267,<br />

269, 270<br />

Comorbidades 32, 88, 102, 125, 160, 260, 264,<br />

271, 272, 273, 274, 275<br />

Comportamento aditivo 205<br />

Comportamento compulsivo 171, 176, 178<br />

Comportamento obsessivo 171<br />

Composição corporal 81, 205, 206, 209, 210,<br />

211, 310, 346<br />

Consciência do déficit 50, 51, 52, 53<br />

Crack/cocaina (ver cocaina/crack<br />

Craving 28, 29, 30, 31, 32, 120, 205, 206, 233,<br />

234, 235, 237, 238, 341, 342, 343<br />

Crianças 23, 40, 41, 42, 44, 65, 124, 125, 126,<br />

159, 172, 174, 195, 241, 277, 278, 279,<br />

280, 281, 282, 322, 323, 348<br />

Criminoso sexual 11<br />

Cybersickness 247, 248, 249, 251<br />

D<br />

Declaração de óbito 294, 297<br />

Deficiência mental 58, 61, 321<br />

Demência 50, 51, 52, 53, 54, 55, 84, 132, 143,<br />

254, 255, 257, 267, 269, 270<br />

Depressão 35, 37, 38, 41, 43, 44, 47, 51, 53,<br />

54, 58, 60, 76, 81, 84, 87, 116, 117, 125,<br />

131, 132, 133, 134, 141, 142, 143, 156,<br />

157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164,<br />

165, 166, 167, 168, 169, 170, 216, 217,<br />

218, 219, 220, 233, 235, 236, 237, 238,<br />

241, 249, 253, 255, 256, 260, 272, 275,<br />

277, 278, 282, 295, 348<br />

Disfunção sináptica 321<br />

Distorção da percepção 331, 332, 333, 334, 335<br />

Doença crônica 83, 84, 85, 99, 139, 278<br />

Doença de Alzheimer 253, 254, 255, 256,<br />

257, 258<br />

E<br />

Educador físico 23<br />

Emetofobia 123, 124, 125, 256, 127, 128, 129<br />

Endocanabinoide 111, 112, 113, 114, 116, 117,<br />

118, 119, 120, 121<br />

Envelhecimento 52, 54, 81, 253, 254, 255<br />

Epilepsia 60, 131, 132, 133, 134, 145, 260, 348<br />

Equivalência semântica 166, 247, 249, 251, 252<br />

Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton<br />

131, 165<br />

Escalas de graduação psiquiátrica 176<br />

Esclerose múltipla 266, 267, 268, 269, 270<br />

Esquizofrenia 11, 38, 91, 135, 136, 137, 138,<br />

139, 140, 285, 287, 288, 290, 295, 333,<br />

337, 338, 339, 340, 348<br />

Estações do ano 337, 338<br />

Estado nutricional, 190, 191, 192, 193, 194,<br />

195, 196, 197, 198, 199, 201, 202, 211,<br />

214, 341, 345, 346<br />

Estágios de mudança 73, 75<br />

Estatura 42, 67, 68, 190, 192, 193, 198, 199,<br />

200, 201, 202, 203, 205, 206, 207, 211,<br />

309, 311, 326<br />

Estilos de personalidade 36, 86, 87, 88, 89, 90<br />

Estudo longitudinal 50, 342<br />

F<br />

Febre reumática 158, 159, 161, 231<br />

Fibromialgia 143, 216, 217, 219<br />

Fobia de vômito(ar) 123, 124, 125, 126, 128<br />

(ver também medo de vomitar)<br />

H<br />

HAART 46, 47, 49<br />

Hábitos alimentares 44, 58, 62, 142, 211, 240,<br />

241, 346<br />

Humor 29, 58, 60, 61, 117, 134, 142, 143, 160,<br />

162, 164, 165, 166, 216, 217, 218, 219,<br />

220, 272, 273, 274, 275, 279, 280, 281,<br />

282, 288, 290<br />

I<br />

Idoso 75, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 168, 170, 253,<br />

254, 255, 257, 258<br />

Imagem corporal 57, 59, 60, 61, 62, 127, 190,<br />

191, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 201,<br />

202, 203, 279, 309, 310, 312, 313, 315,<br />

331, 332, 333, 334<br />

Imprinting genômico 321, 324, 325, 329<br />

Índice de massa corporal 40, 42, 61, 182, 184,<br />

186, 190, 192, 193, 194, 198, 199, 200,<br />

201, 205, 207, 208, 210, 211, 212, 213,<br />

273, 309, 310, 311, 315, 341, 343<br />

Infância 40, 41, 59, 61, 62, 65, 125, 126, 132,<br />

191, 231, 278, 295, 323, 326<br />

Insight 50, 51, 52, 53, 135, 136, 138, 139,<br />

140, 146<br />

Internação compulsória de doente mental 144<br />

Inventário de Depressão de Beck 131, 132, 278<br />

J<br />

Jogo patológico 73, 74, 75, 78<br />

M<br />

Mania 43, 271, 272, 275<br />

Medição da dor 86<br />

Medo de vomitar (ver também fobia de<br />

vomitar) 123, 124, 125, 127, 128<br />

Memória 29, 32, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 65, 81,<br />

113, 120, 138, 219, 253, 254, 255, 256,<br />

257, 266, 267, 268, 269, 270, 326, 346<br />

Motivação para mudança 73, 74, 75, 76, 77<br />

N<br />

Neurobiologia 111, 112, 148<br />

Neuroplasticidade 111, 112, 116, 117, 119,<br />

120, 274<br />

Nicotina 29, 30, 32, 207, 214, 234, 235, 259,<br />

260, 261, 263, 264<br />

O<br />

Obesidade 40, 41, 42, 43, 44, 60, 81, 82, 83, 88,<br />

190, 192, 193, 194, 195, 196, 199, 201,<br />

202, 203, 214, 323, 326<br />

P<br />

Pânico 43, 123, 124, 125, 126, 127, 128,<br />

129, 158, 160, 161, 162, 227, 228,<br />

273,274, 301<br />

Percepção de tamanho 331, 333<br />

Peso corporal 58, 59, 62, 127, 196, 198, 201,<br />

207, 214, 228, 310, 312, 313, 341, 342,<br />

343, 344, 345, 346<br />

Polimorfismo 7, 148, 259, 260, 261, 262,<br />

263, 264<br />

Pós-operatório 86, 87, 88, 89, 90<br />

Pós-parto 171, 172, 175<br />

Programa Saúde da Família 221, 222<br />

Próteses valvulares cardíacas 158<br />

Psicometria 99, 100, 176<br />

Psicopatologia 34, 36, 42, 57, 59, 62, 64, 124,<br />

135, 136, 139, 140, 144, 147, 240, 241,<br />

337, 338, 339<br />

Psiquiatria forense 144, 147<br />

Q<br />

Qualidade de vida 23, 55, 58, 82, 84, 85, 90, 91,<br />

99, 100, 209, 219, 228, 252, 278<br />

R<br />

RAVLT 253, 254, 255, 256, 257, 258, 267,<br />

268, 269, 270<br />

Readmissão 16<br />

Realidade virtual 247, 248, 249, 251, 252<br />

Refratariedade 141, 142, 143<br />

Retardo mental 11, 29, 35, 57, 58, 59, 60, 144,<br />

145, 146, 147, 321, 322, 328<br />

Reumatologia 99, 100, 101, 102<br />

S<br />

Satisfação do usuário 284<br />

Saúde mental 11, 16, 17, 20, 21, 23, 25, 26, 35,<br />

36, 37, 42, 44, 61, 68, 70, 80, 81, 82, 84,<br />

91, 99, 100, 101, 102, 113, 145, 158, 159,<br />

162, 165, 169, 171, 172, 175, 177, 216,<br />

217, 218, 219, 222, 225, 241, 282, 284,<br />

285, 286, 287, 289, 291, 292, 295, 299<br />

Serviços de saúde mental 21, 36, 42, 91, 222,<br />

284, 285, 286, 287, 291, 292<br />

Sexo 23, 25, 125,<br />

SF-36 23, 24, 25, 252<br />

Síndrome de abstinência 234, 341, 342,<br />

Síndrome de Angelman 321, 322, 323, 324,<br />

326, 327, 328, 329<br />

Síndrome de referência olfatória 347, 348<br />

Sintomas afetivos 182<br />

Sintomas depressivos 32, 44, 53, 54, 65, 81,<br />

84, 132, 133, 134, 136, 139, 141, 142,<br />

148, 165<br />

Sintomas psíquicos 44, 91<br />

Sistema Básico de Saúde 221<br />

Sistemas de informação 151<br />

SPECT cerebral 1<br />

SPM 1, 2, 3, 4, 5<br />

Suicídio 52, 60, 75, 136, 151, 152, 153, 154,<br />

155, 156, 157, 158, 160, 161, 162, 163,<br />

271, 272, 273, 274, 275, 294, 295, 296,<br />

297, 298, 299, 300<br />

Suicídio/tendências 151<br />

T<br />

Tabaco 28, 29, 30, 31, 32, 76, 207, 237, 238,<br />

239, 273, 274<br />

Taxa de permanência 16, 17, 18, 19, 20, 21<br />

Tentativa de suicídio 60, 152, 271, 273, 274,<br />

294, 295, 296, 298<br />

Terapia cognitivo-comportamental 62, 74,<br />

128, 227, 228, 248, 260, 261, 263, 301,<br />

347, 348,<br />

Testes neuropsicológicos 51, 266, 267, 268, 269<br />

TOC (ver Transtorno obsessivo-compulsivo)<br />

Transtorno alimentar 58, 60, 127, 183, 331, 332<br />

Transtorno bipolar 35, 271, 272, 273, 274, 275<br />

Transtorno de comportamento 40


352 índice remissivo por assunto<br />

Transtorno de estresse pós-traumático 64,<br />

67, 69<br />

Transtornos de personalidade 34, 35, 37, 38<br />

Transtornos do humor 58, 143, 164, 288, 290<br />

Transtornos mentais comuns 80, 81, 82, 83, 84,<br />

85, 221, 222, 224<br />

Transtornos mentais 11, 35, 36, 80, 81, 82, 83,<br />

84, 85, 124, 125, 134, 140, 145, 160, 161,<br />

163, 165, 166, 221, 222, 223, 224, 225,<br />

Transtorno obsessivo-compulsivo 1, 59, 123,<br />

125, 127, 148, 158, 160, 161, 172, 178,<br />

231, 273, 274<br />

Transtornos por uso de Cannabis 111, 112,<br />

120, 121<br />

Transtornos psiquiátricos 43, 58, 59, 62, 84,<br />

101, 129, 132, 144, 148, 149, 158, 159,<br />

160, 161, 163, 173, 228, 231, 255, 272,<br />

281, 285, 286, 299<br />

U<br />

UBE3A 321, 322, 323, 324, 325, 326, 327,<br />

328, 329<br />

URICA 73, 74, 75, 77<br />

Usuários de droga 74, 78, 205, 342, 343<br />

V<br />

Validação 30, 35, 36, 52, 55, 82, 133, 164, 165,<br />

166, 167, 169, 170, 177, 178, 217, 233,<br />

234, 235, 236, 237, 252, 286, 338<br />

Violência 11, 144, 146, 147, 157, 172, 174,<br />

208, 225, 295<br />

Vitamina B12 141, 142, 143<br />

J Bras Psiquiatr. <strong>2011</strong>;60(4):350-2.


instruções aos autores<br />

Informações Gerais<br />

Missão – O Jornal Brasileiro de Psiquiatria (JBP), órgão oficial do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro,<br />

é publicado regularmente há mais de 70 anos e o periódico de psiquiatria mais tradicional do Brasil. A missão do JBP é contribuir para<br />

o avanço no entendimento e na assistência de indivíduos com transtornos mentais por meio da publicação de artigos que abordam as<br />

relações da psiquiatria com diferentes áreas do conhecimento científico, incluindo a medicina clínica, a psicologia e a sociologia.<br />

O Jornal Brasileiro de Psiquiatria aceita artigos escritos em português, inglês ou espanhol nas seguintes categorias:<br />

(a) artigos originais;<br />

(b) comunicações breves;<br />

(c) revisões;<br />

(d) atualizações;<br />

(e) casos clínicos;<br />

(f) cartas ao editor;<br />

(g) resenha de livros<br />

Os manuscritos devem ser enviados para Leonardo Fontenelle, editor, para o seguinte e-mail: editora@ipub.ufrj.br. Os manuscritos<br />

devem estar acompanhados de uma carta de autorização, assinada por todos os autores, seguindo o modelo abaixo, que deve ser enviada<br />

por correio para o endereço do jornal. Uma vez aceito para publicação, torna-se o trabalho propriedade permanente do Jornal Brasileiro de<br />

Psiquiatria, que reserva todos os direitos autorais no Brasil e no exterior.<br />

Carta de Autorização – Modelo<br />

“Os autores abaixo assinados transferem ao Jornal Brasileiro de Psiquiatria, com exclusividade, todos os direitos de publicação, em<br />

qualquer meio, do artigo..., garantem que é inédito, não está sendo avaliado por outro periódico e que o estudo foi conduzido conforme<br />

os princípios da Declaração de Helsinki e de suas emendas, com o consentimento informado aprovado por Comitê de Ética devidamente<br />

credenciado” (incluir nome completo, endereço postal, telefone, fax, e-mail e assinatura de todos os autores).<br />

Avaliação por Pareceristas (Peer Review)<br />

O(s) autor(es) receberá(ão) uma confirmação (por e-mail ou por carta) informando sobre a chegada do manuscrito e seu número de<br />

protocolo, o qual será usado durante toda a comunicação posterior. Os artigos submetidos ao Jornal Brasileiro de Psiquiatria são inicialmente<br />

avaliados quanto à sua adequação ao formato (estrutura do manuscrito) e ao escopo editorial do periódico. Os editores se reservam ao<br />

direito de recusar artigos sem uma revisão externa se julgarem que o artigo não se encaixa nos objetivos do JBP, seja por falta de qualidade<br />

ou por inadequação ao escopo do periódico. Artigos qualitativos que não representem um estudo inovador serão recusados. Após passar<br />

pelo crivo dos editores, os artigos são enviados, de forma anônima, a pelo menos dois pareceristas anônimos e independentes. A decisão<br />

final dos editores, com as cópias dos pareceres, é encaminhada aos autores. No caso de manuscritos que caiam em exigências, o(s) autor(es)<br />

deve(m) retornar uma versão final do texto incorporando as modificações solicitadas e uma carta com respostas específicas a cada ponto<br />

levantado pelos revisores. Não serão reavaliados artigos que não sejam acompanhados por uma carta resposta detalhada ou cuja carta<br />

resposta contenha apenas comentários gerais.<br />

Conflitos de Interesse<br />

Solicitamos aos autores para declarar todas as possíveis formas de conflitos de interesse, incluindo relações financeiras, entre outras.<br />

A não existência de conflito de interesse também deve ser declarada. O autor pode consultar o editorial sobre esse assunto no British Medical<br />

Journal intitulado “Beyond conflict of interest” (além dos conflitos de interesse) (http://www.bmj.com/cgi/content/full/317/7154/291).<br />

Artigos sem declarações acerca de conflitos de interesse serão enviados de volta aos autores.<br />

As fontes de financiamento devem ser declaradas na seção de agradecimentos.<br />

Permissão para Reproduzir Material Publicado Previamente<br />

Solicitamos que nos envie cópias de permissão para reproduzir materiais (como ilustrações e tabelas) do proprietário do copyright.<br />

Não poderemos publicar o material sem essas permissões.<br />

Termos de Consentimento<br />

Os artigos devem citar que os pacientes incluídos nos estudos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a<br />

regulamentação de pesquisa clínica no País.<br />

Aprovação Ética das Pesquisas<br />

Deve ser declarado claramente, na seção de Métodos, que estudo com seres humanos somente foi conduzido após a aprovação de um<br />

Comitê de Ética em Pesquisa. De forma similar, deve-se confirmar que experimentos envolvendo animais estão de acordo com os padrões<br />

éticos de cuidados com os animais envolvidos.<br />

Estrutura Geral do Manuscrito<br />

O arquivo deve ser produzido em Word, em Arial, tamanho 12. As abreviações deverão ser evitadas, entretanto abreviações oficiais<br />

poderão ser utilizadas, com a primeira menção no texto completa, seguida da sua forma abreviada entre parênteses. Os nomes de<br />

medicamentos deverão ser mencionados pela sua denominação química. Todas as páginas devem estar numeradas, indicando-se na<br />

primeira a contagem do número total de palavras presentes no corpo do texto (excluindo-se resumo e palavras-chave, abstract, referências,<br />

figuras e ilustrações).<br />

A primeira página (folha de rosto) deve conter o título em português e em inglês e o título resumido com até 50 caracteres incluindo<br />

letras, espaços e pontuações.<br />

A segunda página deve conter o RESUMO do trabalho em português. O resumo deve ser informativo, dando uma descrição clara e<br />

concisa do conteúdo do artigo, e não deve exceder o limite de 200 palavras. Nos artigos originais, nas comunicações breves e nas revisões,


instruções aos autores<br />

os resumos devem ser estruturados contendo quatro tópicos: Objetivo(s), Métodos<br />

(e não metodologia), Resultados e Conclusões. As palavras-chave deverão estar logo<br />

após o resumo, devendo ter um número máximo de 4, e refletir o conteúdo do assunto.<br />

Recomenda-se o uso de termos da lista denominada Medical Subject Headings, do Index<br />

Medicus, ou da lista de Descritores de Ciências da Saúde, publicada pela BIREME, para<br />

trabalhos em português.<br />

A terceira página deve conter o título, o resumo do trabalho (Abstract) e as palavraschave<br />

em inglês (keywords), que devem ser idênticos às suas versões em português. Os<br />

editores recomendam atenção especial à linguagem no abstract. Artigos poderão ser<br />

recusados com base na qualidade do inglês.<br />

A partir da quarta página, deve-se iniciar o corpo do texto que, nos artigos originais<br />

e nas comunicações breves, deve conter as seguintes seções: Introdução, Métodos,<br />

Resultados, Discussão e Conclusões. Os autores não devem incluir Resultados e Discussão<br />

em uma mesma sessão.<br />

Introdução – Deve conter uma revisão sucinta da literatura diretamente relacionada<br />

com o tema, assim como o objetivo do estudo.<br />

Métodos – Devem descrever o modelo do estudo e os detalhes dos métodos que<br />

permitam sua replicação por outros autores.<br />

Resultados – Devem ser descritos de forma lógica, sequencial e concisa, com o<br />

eventual auxílio de tabelas e ilustrações.<br />

Discussão – Deve se limitar a ressaltar os achados obtidos, destacar as semelhanças<br />

ou diferenças com os achados obtidos por outros autores, ressaltar as implicações dos<br />

achados, suas limitações e perspectivas futuras.<br />

Conclusões – Devem especificar, preferencialmente em um parágrafo curto, apenas<br />

as conclusões que os dados do estudo permitem sustentar, com seu significado clínico<br />

(evitando generalizações excessivas).<br />

As tabelas e os gráficos devem ser numerados em algarismos arábicos e preparados<br />

em folhas separadas, com as respectivas legendas. Cada tabela deve conter um título<br />

descritivo e uma legenda (se necessário). As tabelas devem ser autoexplicativas e não<br />

repetir as informações já contidas no texto. Não serão aceitos gráficos do tipo histograma<br />

em estudos meramente descritivos. Os locais sugeridos para a inserção deverão ser<br />

indicados no texto, com destaque.<br />

Ilustrações e fotografias devem ser enviadas em arquivos de alta resolução, em<br />

formato tif ou.jpg. A impressão de fotos em cores será cobrada do autor. Os Agradecimentos<br />

deverão incluir nomes de participantes que contribuíram intelectual ou tecnicamente em<br />

alguma fase do estudo, mas que não são classificados como autores: agradecimentos por<br />

apoio financeiro, auxílio técnico etc. devem aparecer antes das Referências.<br />

Referências<br />

As referências devem seguir o padrão estilo de Vancouver (consultar: “Uniform<br />

Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for<br />

Medical Publication”<br />

[http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html]), ser numeradas no<br />

manuscrito e listadas no final na mesma ordem em que foi utilizada. Todas as citações do<br />

texto devem constar, de forma correta, na bibliografia.<br />

Artigos<br />

• Versiani M. A review of 19 double-blind placebo-controlled studies in social anxiety<br />

disorder (social phobia). World J Biol Psychiatry. 2000;1(1):27-33.<br />

• Appolinario JC, McElroy SL. Pharmacological approaches in the treatment of binge<br />

eating disorder. Curr Drug Targets. 2004;5(3):301-7.<br />

• Dekker J, Wijdenes W, Koning Y A, Gardien R, Hermandes-Willenborg L, Nusselder<br />

H, et al. Assertive community treatment in Amsterdam. Community Ment Health J.<br />

2002;38:425-34.<br />

Livro<br />

• Goodwin FK, Jamison KR. Manic-Depressive Illness. New York: Oxford University<br />

Press; 1990.<br />

Capítulo de Livro<br />

• Heimberg RG, Juster HR. Cognitive-behavioral treatments: literature review. In:<br />

Heimberg RG, Liebowitz MR, Hope DA, Scneier FR, editors. Social phobia – Diagnosis<br />

Assessment and Treatment. New York: The Guilford Press; 1995. p. 261-309.<br />

Artigos aceitos para publicação (in press) podem ser incluídos na bibliografia, mas<br />

o nome do periódico deve aparecer e, se possível, o volume e o ano devem ser indicados.<br />

Referências a materiais não publicados devem ser citadas entre parênteses no texto, mas<br />

não na bibliografia. Resumos (Abstracts) podem ser citados somente quando contiverem<br />

informações substanciais e não publicadas em outras fontes. Sua natureza deve ser citada<br />

na bibliografia, com o termo adicional (Resumo) no final da referência.<br />

Referências a páginas na Web devem ser listadas como a seguir. Por exemplo:<br />

Associação Brasileira de Psiquiatria – Diretrizes para a Indústria da Moda. Recomendações<br />

da Comissão Técnica Brasileira de Grupos Especializados no Estudo e Tratamento de<br />

Transtornos Alimentares. http://www.abpbrasil.org.br/newsletter/comissao_ta/<br />

diretrizes_moda.pdf. Acessado em: 12 de abril de 2007.<br />

Tipos de Artigos<br />

1. Artigos originais – São trabalhos destinados a comunicar resultados de<br />

pesquisa, experiências clínicas ou outras contribuições originais. Tipicamente, os artigos<br />

originais apresentam dados novos derivados de uma investigação com um número<br />

representativo de indivíduos. Os artigos originais não devem exceder 4.000 palavras nem<br />

30 referências bibliográficas.<br />

2. Comunicação breve – Caracteriza-se por trabalhos contendo pequenas<br />

experiências ou comunicações preliminares, que tenham caráter de originalidade, não<br />

ultrapassando 2.000 palavras nem 15 referências bibliográficas.<br />

3. Artigos de revisão − São revisões sistemáticas da literatura que buscam<br />

responder a uma pergunta bem delimitada. Devem conter até 6.000 palavras e 80<br />

referências bibliográficas. Deverão apresentar: folha de rosto, resumo estruturado,<br />

introdução, métodos e discussão, conclusões e referências bibliográficas.<br />

4. Artigos de atualização − São trabalhos descritivos e interpretativos baseados na<br />

literatura recente sobre a situação global em que se encontra determinado assunto. Devem<br />

conter até 3.000 palavras e 40 referências bibliográficas, devendo também ser mais breves<br />

que os artigos de revisão. Deverão apresentar: folha de rosto, resumo não necessariamente<br />

estruturado, introdução, métodos e discussão, conclusões e referências bibliográficas.<br />

5. Artigos de apresentação de casos clínicos – Trabalhos contendo casos<br />

clínicos interessantes e originais. Deverão apresentar: folha de rosto, resumo, abstract,<br />

introdução, descrição do caso clínico, sua relevância e/ou originalidade, discussão,<br />

conclusão e a bibliografia consultada sobre o tema. Não deverão ultrapassar 1.500 palavras<br />

nem 15 referências. O relato do caso deve ser sucinto, apresentando uma breve revisão<br />

da literatura sobre os aspectos clínico e terapêutico, evitando-se dados redundantes ou<br />

que não contribuam para o esclarecimento do caso. A discussão deve apresentar os dados<br />

contrapondo-os (semelhanças e diferenças) com os casos semelhantes da literatura.<br />

6. Cartas – Comunicações que visam a discutir artigos recentes publicados na revista<br />

ou a relatar pesquisas originais ou achados científicos significativos. Cartas breves com, no<br />

máximo, 500 palavras e até 5 referências serão consideradas, se estiver explícita a frase<br />

“para publicação”.<br />

7. Resenhas de livros – Resenhas breves sobre livros recentes de interesse para<br />

a área da psiquiatria. O texto deve incluir uma breve descrição da obra seguida de um<br />

conjunto de comentários críticos que forneçam uma visão geral do livro. Não devem<br />

ultrapassar 900 palavras.<br />

Envio de manuscritos<br />

Os manuscritos devem ser enviados para os editores Leonardo Fontenelle ou Antônio<br />

Egídio Nardi para o seguinte e-mail: editora@ipub.ufrj.br<br />

Jornal Brasileiro de Psiquiatria<br />

Av. Venceslau Brás, 71 − Fundos<br />

22290-140 −Rio de Janeiro, RJ<br />

Tel.: (5521) 2295-2549 Fax: (5521) 2543-3101<br />

Os manuscritos devem estar acompanhados de uma carta de autorização, assinada<br />

por todos os autores, seguindo o modelo abaixo, e que deve ser enviada por correio para<br />

o endereço do jornal (mesmo para os artigos enviados por e-mail). Uma vez aceito para<br />

publicação, torna-se o trabalho propriedade permanente do Jornal Brasileiro de Psiquiatria,<br />

que reserva todos os direitos autorais no Brasil e no exterior.<br />

Carta de Autorização − Modelo<br />

“Os autores abaixo assinados transferem ao Jornal Brasileiro de Psiquiatria, com<br />

exclusividade, todos os direitos de publicação, em qualquer meio, do artigo ..., garantem<br />

que o artigo é inédito e não está sendo avaliado por outro periódico e que o estudo foi<br />

conduzido conforme os princípios da Declaração de Helsinki e de suas emendas, com o<br />

consentimento informado aprovado por comitê de ética devidamente credenciado.” (Incluir<br />

nome completo, endereço postal, telefone, fax, e-mail e assinatura de todos os autores.)


Instructions for authors<br />

Background<br />

Mission – The Brazilian Journal of Psychiatry (BJP), the official journal of Institute of Psychiatry of the Federal University of Rio de<br />

Janeiro, is published regularly for more than 70 years and the most traditional psychiatric journal in Brazil. The mission of BJP is to advance<br />

the understanding and care of individuals with mental disorders through the publication of articles that discuss the relationship of psychiatry<br />

with different scientific fields, including clinical medicine, psychology, and sociology.<br />

The Jornal Brasileiro de Psiquiatria accepts articles written in Portuguese, English or in Spanish, within the following categories:<br />

a) original articles;<br />

b) brief communications;<br />

c) reviews;<br />

d) updates;<br />

e) case reports;<br />

f) letters to the editor;<br />

g) book reviews;<br />

The original must be sent to editor Leonardo Fontenelle by the following e-mail: editora@ipub.urfr.br. The original must bring an<br />

authorization letter signed by all of the authors, according to the model below, and it must be sent by mail to the journal address. Once<br />

accepted for publication, the paper becomes permanent ownership to Jornal Brasileiro de Psiquiatria and all rights are reserved in Brazil and<br />

abroad.<br />

Permission Letter<br />

“The undersigned authors transfer to the Jornal Brasileiro de Psiquiatria, with exclusivity, all the publishing rights, under any means,<br />

of the article..., here the authors guarantee that the article is neither published nor being evaluated by other periodicals, moreover that<br />

the study was conducted in accordance to the principles of the Declaration of Helsinki and its amendments, including informed consent<br />

approved by a properly qualified ethics committee.” (Include complete name, address for postage, telephone, fax, e-mail and signature of<br />

all the authors).<br />

Peer Review<br />

Authors will receive, through e-mail or letter, a confirmation note and a protocol number upon the manuscript’s arrival. The number<br />

shall be used throughout the following correspondence. Articles submitted to the Jornal Brasileiro de Psiquiatria are primarily evaluated<br />

for its structure and the publishing scope of the journal. The editors reserve the right to reject articles without an external review if they<br />

believe that the work does not fit the goals of BJP, either because of poor quality or inadequate content. Qualitative studies that do not<br />

pose a groundbreaking hypothesis will be refused. After being evaluated by the editors, articles are submitted anonymously to at least two<br />

anonymous and independent reviewers. Authors will receive the editors’ final decision, along with copies of the reviewer’s comments. In case<br />

of manuscripts that fall on demand, authors must return the final text with necessary changes, according to the editor’s instructions, and a<br />

letter describing the specific answers to each point raised by the reviewers. Articles that are not accompanied by a detailed response letter or<br />

whose response letter contains only general comments will not be sent to re-review.<br />

Disclosures<br />

The authors are requested to disclose all possible kinds of conflict of interest, including sources of funding and any other relationship.<br />

If you are sure you do not have any disclosure, please state “none” under “Disclosures”. You can read an editorial about the subject, entitled<br />

Beyond conflict of interest, in the British Medical Journal available at: http://www.bmj.com/cgi/content/full/317/7154/281. Do not forget<br />

sources of funding must be disclosed under “Acknowledgments”. Articles that contain no statement regarding disclosure will be sent back<br />

to authors.<br />

Permission to Reproduce Materials Previously Published<br />

The authors are requested to send us permission copies to reproduce materials (i.e., illustrations and tables) from copyright owner. Your<br />

reports will not be published unless we have got that permission.<br />

Consent Terms<br />

The reports must mention that patients included in studies gave a Written Informed Consent, according to clinical research regulation<br />

in the country.<br />

Research Ethical Approval<br />

The authors are requested to state clearly under “Methods” that any study of humans has been conducted only after approval by a<br />

Research Ethical Board. Also, they must confirm animal trials are in accordance with ethical care standards to animals involved.<br />

Overall Structure of the Manuscript<br />

Abbreviations should be avoided; official abbreviations, however, may be used, keeping in mind that the first mention of a term in the<br />

text must be complete, followed by its abbreviation between brackets. Medicines must be referred to under their chemical name.<br />

• All pages must be numbered, with total words count indicated at the first page (except for abstracts, in Portuguese and English,<br />

references, pictures and illustrations).<br />

The first page (cover page) should contain both Title and Short Title in English and in Portuguese. The Short Title should contain a total<br />

of up to 50 characters (with spaces).<br />

The second page must contain an abstract in Portuguese. Non-Portuguese speakers may request help from the editorial board regarding<br />

Portuguese language in the abstract. The abstract must be informative, giving a clear and concise description of the article’s content, never<br />

exceeding the limit of 200 words. In original articles, brief communications and reviews, summaries must be structured containing four


instructions for authors<br />

topics: objective(s), methods, results and conclusions. Keywords in Portuguese should<br />

follow the summary and be limited to four words reflecting the content of the article’s<br />

subject. We recommend the terms presented at the list entitled Medical Subject Headings<br />

from the Index Medicus or, for articles in Portuguese, at Descritores de Ciências da Saúde,<br />

published by BIREME.<br />

The third page must contain an abstract and keywords, in English, which must be<br />

both identical to their versions in Portuguese.<br />

From the fourth page on begin the body of text which in original articles and brief<br />

communications, must contain the following sections: Introduction, Methods, Results,<br />

Discussion and Conclusions. The authors should not mix Results and Discussion in the same<br />

session.<br />

Introduction – Must contain a concise review of any literature directly related to the<br />

theme, as well as the aim of the study.<br />

Methods – Must describe the model of study and a detailed account of methods that<br />

permit its replication by other authors.<br />

Results – Must be described logically, sequentially and concisely, with the occasional<br />

help of tables and illustrations.<br />

Discussion – The discussion must be limited to highlighting the conclusions of the<br />

study, consider any similarities or differences with the results of other authors, implications<br />

of the findings, limitations and future perspectives.<br />

Conclusions – One must specify, preferentially in a short paragraph, solely the<br />

conclusions the study data allow to support, together with their clinical significance<br />

(avoiding excessive generalizations).<br />

Tables and illustrations must be numbered in Arabic numerals, and prepared in<br />

separate paper sheets, with the respective captions. They should be in a digital format and<br />

independent file, proper for reproduction. Each table must be self-explanatory, and must<br />

not repeat the information already present in the text. Places for table’s insertion must be<br />

clearly indicated in the text. Histograms describing results from descriptive studies will not<br />

be accepted.<br />

Illustrations and photographs must be sent in high resolution files, format.tif or.jpg.<br />

Printing will be charged on the authors.<br />

Acknowledgements must be mentioned before references.<br />

References<br />

References must be presented in Vancouver stile (“Uniform Requirements for<br />

Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication”<br />

[http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html]), in the same order to quoted<br />

in the text, as in the example.<br />

Article<br />

• Versiani M. A review of 19 double-blind placebo-controlled studies in social anxiety<br />

disorder (social phobia). World J Biol Psychiatry. 2000;1(1):27-33.<br />

• Appolinario JC, McElroy SL. Pharmacological approaches in the treatment of binge<br />

eating disorder. Curr Drug Targets. 2004;5(3):301-7.<br />

• Dekker J, Wijdenes W, Koning Y A, Gardien R, Hermandes-Willenborg L, Nusselder<br />

H, et al. Assertive community treatment in Amsterdam. Community Ment Health J.<br />

2002;38:425-34.<br />

Book<br />

• Goodwin FFK, Jamison KR. Manic-Depressive Illness. New York: Oxford University<br />

Press; 1990.<br />

Book chapter<br />

• Heimberg RG, Juster HR. Cognitive-behavioral treatments: literature review. In:<br />

Heimberg RG, Liebowitz MR, Hope DA, Scneier FR, editors. Social Phobia – Diagnosis<br />

Assessment and Treatment. New York: The Guilford Press, 1995.<br />

In press articles may be included in the bibliography, but they must show the periodical<br />

name, with volume and year indicated. Unpublished material may be cited in parentheses<br />

in the text, but should not be listed in the bibliography. Abstracts may be cited only when<br />

they contain substantial information that is not published elsewhere. Their nature must be<br />

cited in the bibliography by adding the term (Abstract) at the end of the reference.<br />

References to web pages must be listed as followed: Associação Brasileira de<br />

Psiquiatria – Diretrizes para a Indústria da moda. Recomendações da Comissão Técnica<br />

Brasileira de Grupos Especializados no Estudo e Tratamento de Transtornos Alimentares.<br />

http://www.abpbrasil.org.br/newsletter/comissao_ta/diretrizes_moda.pdf. Accessed on:<br />

April 12, 2007.<br />

Types of Articles<br />

1. Original articles – Manuscripts communicating results of research, clinical<br />

experiences or other original contributions. Typically, the original articles present new<br />

data derived from an investigation done with a representative number of individuals. The<br />

original articles must not exceed 4,000 words and 30 bibliographic references.<br />

2. Brief communications – Characterized by manuscripts containing small<br />

experiences or preliminary communications with original character, never longer than<br />

2,000 words and with 15 bibliographic references.<br />

3. Review articles − Systematic reviews of the literature that attempt to answer<br />

a well-defined question. They should contain a maximum of 6,000 words and 80<br />

bibliographic references. They should have front page, structured abstract, introduction,<br />

methods and discussion, conclusions and bibliographic references.<br />

4. Updating articles − Descriptive and interpretative works based on recent<br />

literature about the current status of a given subject. They should contain no more than<br />

3,000 words and 40 bibliographic references and must be briefer than review articles. They<br />

should have front page, abstract (not necessarily structured), introduction, methods and<br />

discussion, conclusions and bibliographic references.<br />

5. Case reports – Manuscripts containing interesting and original clinical cases.<br />

They should contain: front page, summaries, introduction, description of the case, its<br />

relevance and/or originality, discussion, conclusion and bibliography on the theme. They<br />

should not exceed 1,500 words and 15 references. The description of the case must be brief,<br />

with a review of the literature about clinic and therapeutic aspects, avoiding redundant<br />

or unimportant data. The discussion must have the data in comparison and contrast with<br />

similar cases present in literature.<br />

6. Letters – Communications aiming at discussing articles recently published in the<br />

journal or describing original researches or meaningful scientific discoveries. Brief letters<br />

with a maximum of 500 words and five references will be considered, as long as the<br />

sentence for publishing is explicit.<br />

7. Book reviews – Brief reviews about recently published books that may interest<br />

the psychiatric milieu.<br />

Sending of Manuscripts<br />

The originals must be sent to the editor Leonardo Fontenelle or Antônio Egídio Nardi<br />

by e-mail: editora@ipub.ufrj.br.<br />

Jornal Brasileiro de Psiquiatria<br />

Av. Venceslau Brás, 71 − Fundos<br />

22290-140 −Rio de Janeiro, RJ<br />

Tel: (55-21) 2295-2549 Fax: (55-21) 2543-3101<br />

In addition, the authors must send an authorization letter signed by all of the authors,<br />

according to the model below.<br />

Once accepted for publication, the paper becomes permanent ownership to Jornal<br />

Brasileiro de Psiquiatria and all rights are reserved in Brasil and abroad.<br />

Permission Letter<br />

“The undersigned authors transfer to the Jornal Brasileiro de Psiquiatria, with<br />

exclusivity, all the publishing copyrights, under any means, of the article ..., here the authors<br />

guarantee that the article is neither published nor being evaluated by other periodicals,<br />

moreover that the study was conducted in accordance to the principles of the Declaration of<br />

Helsinki and its amendments, including informed consent approved by a properly qualified<br />

ethics committee.” (Include complete name, address for postage, telephone, fax, e-mail<br />

and signature of all the authors).

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