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A representação do medo na descrição da peste em Atenas (V ...

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História, imag<strong>em</strong> e <strong>na</strong>rrativas<br />

N o 4, ano 2, abril/2007 – ISSN 1808-9895<br />

morreu posteriormente vitima<strong>do</strong> pela epid<strong>em</strong>ia), pela decisão de manter to<strong>do</strong>s confi<strong>na</strong><strong>do</strong>s <strong>na</strong>s<br />

muralhas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. No campo <strong>do</strong>s saberes, houve uma per<strong>da</strong> sensível <strong>da</strong>s certezas e descobertas<br />

que haviam consagra<strong>do</strong> o século V, como um perío<strong>do</strong> de esplen<strong>do</strong>r e efervescência artística e<br />

cultural 4 .<br />

2. História e medici<strong>na</strong>: relação de saberes<br />

A medici<strong>na</strong>, no momento <strong>da</strong> manifestação <strong>da</strong> Peste, <strong>em</strong> Ate<strong>na</strong>s, desenvolvi<strong>da</strong> enquanto<br />

saber especializa<strong>do</strong> e eficaz contra os males <strong>do</strong> corpo encontrou, no ataque <strong>em</strong> questão, seu maior<br />

desafio. Segun<strong>do</strong> Tucídides “não houve nenhum r<strong>em</strong>édio, pode-se dizer, que contribuísse para o<br />

alívio de qu<strong>em</strong> o tomasse” (TUCÍDIDES. II.51). A prática médica, neste momento, resumia-se <strong>na</strong><br />

figura de Hipócrates 5 e sua relação com a <strong>na</strong>rrativa tucididea<strong>na</strong> é notável. O médico, assim como<br />

o historia<strong>do</strong>r e o político, é posicio<strong>na</strong><strong>do</strong>, <strong>na</strong> História <strong>da</strong> Guerra <strong>do</strong> Peloponeso, como o porta<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> “justo meio”, “... como o ator <strong>do</strong> ideal <strong>da</strong> razoabili<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> exclusivamente sobre a<br />

medi<strong>da</strong>” (CAIRUS, 2005, p. 36), como pod<strong>em</strong>os perceber no trecho a seguir:<br />

“E tu, presidente, se pensas que teu dever é zelar pelo b<strong>em</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e se desejas<br />

mostrar-te um bom ci<strong>da</strong>dão, submete esta matéria novamente a voto e obtém uma<br />

nova decisão <strong>do</strong>s atenienses. Se receias submeter a matéria novamente a voto,<br />

considera que não há culpa se se transgride a lei <strong>em</strong> presença de tantas<br />

test<strong>em</strong>unhas; ao contrário, tor<strong>na</strong>r-te-ás o médico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de numa hora <strong>em</strong> que ela<br />

deliberou mal; o bom gover<strong>na</strong>nte é aquele que presta à sua ci<strong>da</strong>de o maior número<br />

4 Apesar <strong>do</strong> desenvolvimento artístico e cultural não ter ocorri<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s <strong>em</strong> Ate<strong>na</strong>s, a maior parte <strong>do</strong>s escritores <strong>do</strong><br />

século V, cuja obra driblou a ação <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, é forma<strong>da</strong> por atenienses; nos permitin<strong>do</strong> vislumbrar o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s idéias nesta ci<strong>da</strong>de. Sobre o “Século de Péricles”, ver: MAFFRE, J. J. O século de Péricles.<br />

Lisboa: Europa-América, 1993.<br />

5 Hipócrates <strong>na</strong>sceu <strong>na</strong> ilha de Cós <strong>em</strong> 460 a.C. aproxima<strong>da</strong>mente, e morreu <strong>na</strong> ilha de Thessaly <strong>em</strong> 370 a.C.. Foi<br />

professor <strong>em</strong> Cós e praticante itinerante <strong>da</strong> arte médica. Desenvolveu estu<strong>do</strong>s sobre: a<strong>na</strong>tomia, fisiologia, patologia,<br />

terapia, diagnóstico, prognóstico, cirurgia, ginecologia, obstetrícia, <strong>do</strong>enças mentais, ética e criou o famoso<br />

juramento hipocrático. Tu<strong>do</strong> o que conhec<strong>em</strong>os sobre a medici<strong>na</strong> desenvolvi<strong>da</strong> por Hipócrates está conti<strong>do</strong> numa<br />

coleção de 72 livros denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> Corpus hippocraticus e nos comentário que alguns autores como Sorano (300 a. C.)<br />

e Galeno (médico no Império Romano) realizaram sobre ele. Segun<strong>do</strong> Wilson Ribeiro “as informações sobre a vi<strong>da</strong><br />

de Hipócrates estão de tal forma mescla<strong>da</strong>s a len<strong>da</strong>s que tor<strong>na</strong>-se quase impossível averiguá-las de forma precisa.”<br />

(JUNIOR, 2005, p. 11). Pod<strong>em</strong>os afirmar, porém, que a existência deste médico coincidiu aproxima<strong>da</strong>mente com a<br />

Guerra <strong>do</strong> Peloponeso e que provavelmente ele foi um <strong>do</strong>s médicos pioneiros que, no século V a. C., <strong>em</strong>penhavamse<br />

<strong>em</strong> desvincular a medici<strong>na</strong> <strong>da</strong> filosofia e <strong>em</strong> reconhecê-la como uma “tekné”, uma “arte” autônoma, <strong>em</strong>bora não<br />

possamos desvincular as especulações filosóficas de Platão às idéias divulga<strong>da</strong>s pela “arte de curar”. Não é à toa que<br />

o famoso Corpus Hippocraticum ou Coleção Hipocrática encontra-se no dialéto Jônico, apesar <strong>do</strong> dialeto dórico<br />

prevalecer <strong>na</strong> região de Cós, sede <strong>da</strong> “Escola Hipocrática”. A Jônia freqüent<strong>em</strong>ente fornecia escritores e sábios;<br />

sen<strong>do</strong> o Jônico freqüente nos escritos filosóficos e poéticos.<br />

http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.br<br />

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