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A representação do medo na descrição da peste em Atenas (V ...

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História, imag<strong>em</strong> e <strong>na</strong>rrativas<br />

N o 4, ano 2, abril/2007 – ISSN 1808-9895<br />

que <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>va as pessoas ao se ver<strong>em</strong> entre as vítimas, pois a morte era quase certa, e esses<br />

<strong>do</strong>entes eram praticamente aban<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>s, pois o contágio se <strong>da</strong>va de forma muito fácil, rápi<strong>do</strong> e<br />

desconheci<strong>do</strong>.<br />

A experiência de Tucídides gerou uma descrição rica de informações e detalhes acerca<br />

dessa catástrofe e <strong>do</strong>s sintomas que ela geraria. Segun<strong>do</strong> ele, aquele ano havia si<strong>do</strong><br />

excepcio<strong>na</strong>lmente saudável quanto às outras <strong>do</strong>enças que geralmente ocorriam de forma muito<br />

habitual <strong>na</strong> Grécia, como por ex<strong>em</strong>plo: a pneumonia, a gota, a cirrose, a caxumba, a tuberculose,<br />

a malária e a diarréia. Havia também relatos de <strong>do</strong>enças de pele muito comuns <strong>na</strong> sua forma<br />

exant<strong>em</strong>ática caracteriza<strong>da</strong> por uma vermelhidão cutânea, como sarampo, catapora e escarlati<strong>na</strong>,<br />

além de descrições de difteria e graves infecções <strong>na</strong> boca e no pescoço. O fato de ter ocorri<strong>do</strong><br />

uma diminuição perceptível desses casos gerava um clima anormal, pois até aquelas<br />

enfermi<strong>da</strong>des comuns de acontecer<strong>em</strong> <strong>na</strong>quele ano não aconteceram .<br />

Sobre o caráter <strong>da</strong> epid<strong>em</strong>ia <strong>em</strong> questão, a despeito <strong>da</strong> discussão biológica <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença, é<br />

importante perceber sua relação com os aspectos culturais. Nota-se que a <strong>peste</strong>, constituiu-se,<br />

entre os antigos historia<strong>do</strong>res, como uma espécie de arquétipo <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença, estan<strong>do</strong> presente, além<br />

<strong>da</strong> descrição encontra<strong>da</strong> <strong>na</strong> História <strong>da</strong> Guerra <strong>do</strong> Peloponeso, <strong>em</strong> mais duas obras essenciais<br />

para o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> cultura grega: <strong>na</strong> Ilía<strong>da</strong>, e <strong>em</strong> Édipo Rei.. Em um <strong>do</strong>s artigos <strong>do</strong> livro História:<br />

novos objetos, intitula<strong>do</strong> “O corpo”, de Jacques Revel e Jean-Pierre Peter, encontramos uma<br />

ver<strong>da</strong>deira teoria sobre a <strong>peste</strong>. Segun<strong>do</strong> estes <strong>do</strong>is autores, ela é forma<strong>da</strong> por dualismos, pois, <strong>em</strong><br />

si mesma, constitui uma história que, no entanto, v<strong>em</strong> <strong>do</strong> exterior mu<strong>do</strong> <strong>da</strong> historia, ou seja, se<br />

pensarmos a história como um processo ou curso, a <strong>peste</strong>, parece ser um fator externo a ela, que<br />

repenti<strong>na</strong>mente invade a humani<strong>da</strong>de e se retira. A epid<strong>em</strong>ia parece exterior para aquelas<br />

populações que são acometi<strong>da</strong>s por ela, que viv<strong>em</strong> o desenrolar <strong>do</strong>s acontecimentos, mas, no<br />

entanto, quan<strong>do</strong> realizamos uma análise dessa catástrofe perceb<strong>em</strong>os que ela não surge s<strong>em</strong><br />

precedentes, mas que sua história se desenvolve paralelamente à vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s homens, porém estan<strong>do</strong><br />

liga<strong>da</strong> direta ou indiretamente às ações huma<strong>na</strong>s. Quan<strong>do</strong> <strong>peste</strong> e hom<strong>em</strong> se defrontam, estes se<br />

encontram despreveni<strong>do</strong>s, pois estão preocupa<strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais com suas próprias necessi<strong>da</strong>des, não<br />

sen<strong>do</strong> capazes de perceber uma história que não se desenvolve explicitamente, mesmo sen<strong>do</strong>,<br />

muitas vezes, reflexo de seus comportamentos. Assim,<br />

“a <strong>peste</strong> é por excelência social, porém seu lugar <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de não é assi<strong>na</strong>lável;<br />

ela é evidente, mas impalpável; coletiva (<strong>na</strong> medi<strong>da</strong> que atinge populações), mas<br />

http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.br<br />

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