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A representação do medo na descrição da peste em Atenas (V ...

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História, imag<strong>em</strong> e <strong>na</strong>rrativas<br />

N o 4, ano 2, abril/2007 – ISSN 1808-9895<br />

apareciam <strong>na</strong>s axilas e <strong>na</strong>s virilhas, principal característica <strong>do</strong> ataque <strong>na</strong> Alta I<strong>da</strong>de Média<br />

(SOURNIA, 1984, p. 79). Esta teoria é reafirma<strong>da</strong> pelo filólogo: Francisco Antonio Garcia<br />

Romero que critica autores como Oza<strong>na</strong>m, Hooker e Williams, por ter<strong>em</strong> considera<strong>do</strong> que a<br />

epid<strong>em</strong>ia <strong>em</strong> Ate<strong>na</strong>s foi, realmente, de <strong>peste</strong> bubônica e não de varíola, tifus, sarampo, escarlati<strong>na</strong><br />

ou qualquer <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>ais enfermi<strong>da</strong>des propostas (ROMERO, 2000, p. 259). Dentre os sintomas<br />

mais característicos <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença a qual se refere Tucídides, encontramos:<br />

“intenso calor <strong>na</strong> cabeça... vermelhidão e inflamação nos olhos, as partes inter<strong>na</strong>s<br />

<strong>da</strong> boca ficavam imediatamente cor de sangue e passavam a exalar um hálito<br />

anormal e féti<strong>do</strong>. No estagio seguinte apareciam espirros e rouquidão, e pouco<br />

t<strong>em</strong>po depois o mal descia para o peito, seguin<strong>do</strong>-se tosse forte. Quan<strong>do</strong> o mal se<br />

fixava no estomago, este ficava perturba<strong>do</strong> e ocorriam vômitos de bile de to<strong>do</strong>s os<br />

tipos mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelos médicos, segui<strong>do</strong>s também de terrível mal estar...<br />

Exter<strong>na</strong>mente o corpo não parecia muito quente ao toque; não ficava páli<strong>do</strong>, mas<br />

de um vermelho forte e lívi<strong>do</strong>, e cheio de peque<strong>na</strong>s bolhas e ulceras...”(<br />

TUCÍDIDES. II. 49)<br />

A riqueza de detalhes, <strong>na</strong> descrição de Tucídides, surpreende ain<strong>da</strong> hoje os estudiosos. O<br />

historia<strong>do</strong>r enfatiza sua percepção direta até mesmo nos sintomas descritos, uma vez que foi, ele<br />

mesmo, vitima<strong>do</strong> pelo mal; e preocupa-se, como no restante <strong>da</strong> obra, <strong>em</strong> depositar como herança,<br />

um relato s<strong>em</strong>pre útil, como nos informa <strong>na</strong> frase: “ ... descreverei a maneira de ocorrência <strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>ença, detalhan<strong>do</strong>-lhe <strong>do</strong>s sintomas, de tal mo<strong>do</strong> que, estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-os, alguém mais habilita<strong>do</strong> por<br />

seu conhecimento prévio não deixe de reconhecê-lo se algum dia ela voltar a manifestarse...”(TUCÍDIDES.<br />

II. 48).<br />

A <strong>do</strong>ença que atacou os atenienses é trata<strong>da</strong> hoje como epid<strong>em</strong>ia, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que este<br />

termo, segun<strong>do</strong> escritos médicos, é explica<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> um tipo de <strong>do</strong>ença passageira, porém<br />

contagiosa (e isso implica as diversas formas de contágio existentes), que ataca ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

e no mesmo lugar grande número de pessoas. Julga-se que este termo tenha sua orig<strong>em</strong> no grego<br />

clássico: epi (sobre) + d<strong>em</strong>os (povo) e sabe-se ter si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> por Hipócrates. Para o médico<br />

grego, as epid<strong>em</strong>ias relacio<strong>na</strong>vam-se com fatores climáticos, raciais, dietéticos e <strong>do</strong> meio onde as<br />

pessoas viviam.<br />

http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.br<br />

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