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PROJETO: CONHECENDO O CORPO HUMANO Eixo 4 ... - USP

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<strong>PROJETO</strong>: <strong>CONHECENDO</strong> O <strong>CORPO</strong> <strong>HUMANO</strong><br />

<strong>Eixo</strong> 4 – Práticas Pedagógicas, Culturas Infantis e Produção Cultural para crianças<br />

pequenas.<br />

Autoria: SOUZA, Francisca AP. dos Santos Souza & OLIVEIRA, Ionice AP.<br />

(Creche/Pré-Escola Carochinha- SAS/<strong>USP</strong>)<br />

Introdução<br />

O presente trabalho foi desenvolvido com um grupo de 11 crianças de 3 a 4 anos<br />

que freqüentam a Creche/Pré-escola Carochinha- SAS/<strong>USP</strong>, localizada no interior do<br />

estado de São Paulo. As ações educativas foram realizadas no período de Fevereiro a<br />

Maio de 2012. A motivação para a organização das atividades partiu das observações de<br />

alguns comportamentos por parte de algumas crianças do grupo que frequentemente<br />

colocavam o dedo no nariz e, em seguida, na boca. Inicialmente as intervenções ficaram<br />

restritas a explicações verbais sobre a importância de não realizar essa ação, tanto<br />

individualmente com em conversas em roda com o grupo todo. Quanto mais era<br />

abordada a questão, mais as crianças repetiam esse comportamento, muitas vezes, de<br />

costas, viradas para a professora enquanto esta fazia a intervenção. Aliado a isso<br />

também observávamos que algumas crianças da turma jogavam a comida no lixo,<br />

muitas vezes, sem ao menos provar o alimento. Com base nestas observações pensamos<br />

que seria importante desenvolver um projeto que propiciasse às crianças noções de<br />

higiene/saúde para que elas tivessem a oportunidade de mudar alguns hábitos. Pensando<br />

em como iria realizar este trabalho fiz várias leituras buscando informações variadas<br />

que enfocassem a prática da higiene corporal e procurando envolver as famílias nas<br />

ações que seriam realizadas junto às crianças.<br />

Objetivos: inicialmente nossa preocupação focou mais as questões da higiene, de modo<br />

que as crianças melhorassem a prática da lavagem de mãos e percebessem que sempre<br />

que punham a mão no nariz era necessário fazer a higienização. Com o<br />

desenvolvimento das atividades, o foco passou para os hábitos alimentares e nossa<br />

intenção era que as crianças que jogavam praticamente todo o almoço no lixo sem tocar<br />

na comida passassem pelo menos experimentar e, gradativamente, aumentar a ingesta.<br />

Devido ás curiosidade das crianças os objetivos foram se ampliando e o grupo passou a<br />

buscar informações de como funciona o corpo humano.<br />

Desenvolvimento do Trabalho<br />

Foram realizadas inúmeras conversas em roda nas quais abordava-se a importância da<br />

lavagem das mãos e dos bichinhos invisíveis que ficam nela. Nessas ocasiões<br />

salientávamos a importância do uso da água e do sabão, pois só assim os bichinhos<br />

morriam e não entravam na nossa boca, nem ficavam alojados nos dentes ou na<br />

garganta. Nossa fala também abordava a importância da escovação de dentes, do porque<br />

não era legal colocar o dedo no nariz e da importância do banho. Durante essas<br />

conversas as crianças faziam muitas perguntas e também relatavam situações vividas<br />

envolvendo aspectos de higiene corporal, como por exemplo, a criança que falou que<br />

não gostava de usar xampu porque ardia o olho. Durante estes encontros também foi<br />

abordada a importância do hábito da escovação de dentes após as refeições. Percebi<br />

durante as rodas que quando o assunto era nariz as crianças mostravam-se incomodadas,<br />

algumas pareciam ficar meio envergonhadas, outras arregalaram os olhos. Concluímos


que essa temática precisaria ser abordada de outras formas que não apenas conversando.<br />

Durante as conversas um assunto puxava o outro: como ao falar do banho falávamos<br />

sobre as brincadeiras na areia, ao falar sobre a necessidade de cuidar bem da pele,<br />

vinham conversas sobre assadura, coceira e piolho. Nas conversas com as crianças<br />

ficavam evidentes também algumas diferenças entre algumas práticas realizadas na<br />

instituição e as realizadas no âmbito das famílias, como a observação trazida por uma<br />

das meninas: - em casa não tem papel toalha a gente enxuga as mãos na toalha de pano.<br />

Além das muitas conversas em roda, as crianças fizeram vários desenhos relacionados<br />

aos assuntos abordados. Para finalização do Projeto tivemos a vinda da mãe de uma das<br />

crianças do grupo, acompanhada de uma amiga bióloga que trouxe uma boneca do<br />

tamanho de um adulto que tinha no corpo alguns tubos que faziam uma analogia ao<br />

sistema digestivo. A boneca foi apresentada ás crianças e batizada pelas mesmas de<br />

Julia Carina. Através dela, a mãe foi mostrando para as crianças o percurso que o<br />

alimento faz no nosso corpo. As crianças mostraram-se bastante interessadas e fizeram<br />

muitas perguntas que não ficavam restritas a esse sistema, tais como: - O coração fica<br />

ai? E o pulmão? Por que fazemos xixi? E o cocô? Com o auxilio da boneca e do<br />

desenho de uma silueta de uma das crianças no papel foi possível mostrar para as<br />

crianças onde se localizavam estes órgãos e falar brevemente sobre a importância deles<br />

para o funcionamento do nosso corpo. Durante o desenvolvimento das atividades, as<br />

professoras selecionaram algumas histórias que foram lidas para as crianças e ficavam<br />

disponibilizadas na biblioteca setorial (cantinho de leitura da sala), além de alguns<br />

livros e revistas que mostravam como é o corpo humano. Algumas histórias chamaram<br />

mais a atenção das crianças, como: Próxima Parada: Estação Barriga, de Anna<br />

Russelmann (Editora ática) e Audição, de Mandy Suhr (tradução de Lila Spinelli,<br />

Editora Scipione).<br />

Desdobramentos do trabalho<br />

Ao iniciar o trabalho o foco era de ajudar as crianças a mudarem alguns hábitos<br />

de higiene e alimentação. Com o desenvolvimento do projeto pudemos perceber o<br />

quanto a curiosidade pela forma de funcionamento do corpo humano ficou aguçada.<br />

Considerando as características da faixa etária (3 a 4 anos) no qual as crianças estão<br />

muito interessadas na constituição da sua identidade, o despertar da curiosidade sobre<br />

como funciona o nosso corpo favoreceu a ampliação dos conhecimentos sobre si<br />

própria, associando as informações que eram trazidas nos nossos encontros para o<br />

âmbito pessoal e para o ambiente familiar. Um dos pais relatou que ao colocar o dedo<br />

no nariz, a filha fez uma grande explicação sobre o porquê isso não era adequado e<br />

também porque ele deveria lavar as mãos em seguida. O assunto ainda não se esgotou.<br />

Outras curiosidades têm aparecido e nossa querida boneca, assim como outras fontes de<br />

informação, poderão auxiliar nossas conversas e a grande aventura de saber mais sobre<br />

o corpo humano. Atualmente o grupo tem trazido algumas falas de que eles “já são<br />

grandes, não são mais bebês”. Vale lembrar que essa turma estava na no módulo Creche<br />

no ano passado e, atualmente, freqüenta a Pré-escola, fato que tem um grande<br />

significado para elas nesse processo de constituição de identidade. Assim, estamos<br />

avaliando que um próximo passo para o a continuação do desenvolvimento do trabalho<br />

possa ser propiciar oportunidades para que as crianças possam fazer comparações entre<br />

o tamanho do próprio corpo e o tamanho do corpo de quando eram bebês e o tamanho<br />

do corpo dos pais e/ou outros familiares. Mas esta etapa ainda está em fase de<br />

planejamento.


Considerações Finais<br />

Pudemos observar que as ações realizadas contribuíram para a mudança da<br />

atitude das crianças de freqüentemente levar o dedo ao nariz. A magia também de<br />

acessar as informações para saber o caminho que o alimento faz quando entra pela nossa<br />

boca e percorre o sistema digestivo, bem como a importância dos alimentos para a nossa<br />

saúde também, de alguma maneira, colaboraram para que algumas crianças<br />

resignificassem o momento de almoço, mas ainda não foram suficientes para que a<br />

ingesta ou o repertório alimentar aumentasse como era nosso desejo inicial. Isso ainda é<br />

um desafio para pensarmos através de outras estratégias que temos utilizado, como as<br />

oficinas culinárias e o trabalho com os canteiros.<br />

Em relação ás informações trabalhadas sabemos que as crianças ainda não<br />

constroem conceitos, mas comparando as falas das crianças da Turma com o registro de<br />

um episódio, ocorrido no ano anterior, com uma das crianças (registrado por outra<br />

professora), podemos afirmar que as crianças puderam ampliar suas hipóteses acerca do<br />

que é o corpo humano. O episódio ocorreu da seguinte maneira: as crianças tomavam<br />

banho e na medida em que saíam do chuveiro, a professora as ajudava com a troca de<br />

roupas. Ao interagir com uma das crianças a professora disse: – Gabriel (nome fictício)<br />

pegue a sua toalha e enxugue o seu corpo! E a criança emitiu a seguinte frase: - Eu não<br />

tenho corpo! A professora então foi até ele, apalpou seu peito e sua barriga e disse: -<br />

isso é seu corpo! O que a criança retrucou: - Não! isso é minha barriga! Então ela passa<br />

a mão em todo o corpo da criança e diz: tudo isso aqui é o seu corpo! E ele novamente<br />

retruca: - Não, isso é o Gabriel! Outra cena envolvendo também crianças de mesma<br />

faixa etária nos dá pistas para hipotetizarmos como as crianças assimilam as<br />

informações sobre o funcionamento do corpo ocorreu em um momento de despedida<br />

quando a professora chamava a atenção de uma das crianças dessa mesma faixa etária<br />

para o movimento dos peixes no aquário. Ao interromper seu choro em função da<br />

despedida da mãe, a criança olha fixamente para um dos peixinhos, respira fundo e diz:<br />

- o peixe não pode sentar porque ele não tem bumbum!<br />

Essas falas das crianças revelam o quanto as aprendizagens são muitas e o<br />

quanto nessa faixa etária ao trabalharmos conhecimentos sobre o corpo humano estamos<br />

também ajudando as crianças a se constituem como sujeitos, ou seja, construir a sua<br />

identidade. Como nos diz a pesquisadora Ana Paula Soares (2010) essas práticas<br />

“constituem zonas de possibilidades de construção do eu e do outro”.<br />

Referências Bibliográficas.<br />

Coleção: O Corpo Humano. Editora Globo S.A, 1995. Publicação original:<br />

Editorial Planeta De Agostini S.A. Barcelona, Espanha.<br />

MARANHÃO, Damaris Gomes. O cuidado de si e do outro. In: Revista<br />

Educação Infantil. Editora Segmento. Outubro, 2011. pgs 14 -29.<br />

MEC/SEB. Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para Educação<br />

Básica. Coordenação Geral da Educação Infantil. Diretrizes Curriculares Nacionais<br />

para Educação Infantil. Brasília, Brasil. 2010


PARKER, Steve. O olho e a visão (tradução de Alicia Brandt e adaptação de<br />

José Mariano Amabis & Gilberto Martho In: Coleção O Corpo Humano. Editora<br />

Scipione, 2 edicão, 1989.<br />

SOARES DA SILVA, Ana Paula. A construção de identidades e de sujeitos<br />

na Educação Infantil. In: O dia a dia nas creches e pré-escolas – crônicas brasileiras.<br />

MELLO, Ana (orgs). Artmed, 2010.<br />

Resumo<br />

<strong>PROJETO</strong>: <strong>CONHECENDO</strong> O <strong>CORPO</strong> <strong>HUMANO</strong><br />

SOUZA, Francisca AP. dos Santos Souza & OLIVEIRA, Ionice AP.<br />

(Creche/Pré-Escola Carochinha- SAS/<strong>USP</strong>)<br />

O presente trabalho foi desenvolvido com um grupo de 11 crianças de 3 a 4 anos que<br />

freqüentam a Creche e Pré-escola Carochinha/SAS-<strong>USP</strong>. As ações educativas foram<br />

realizadas no período de Fevereiro a Maio de 2012 e envolveu uma série de atividades<br />

como: conversas em roda, leitura e contação de histórias, desenhos, a vinda de uma das<br />

mães com uma amiga bióloga para trabalhar o caminho que o alimento faz dentro do<br />

corpo humano, entre outras. A motivação para a organização das atividades partiu das<br />

observações de alguns comportamentos por parte de algumas crianças do grupo que<br />

frequentemente colocavam o dedo no nariz e em seguida, na boca. Os resultados foram<br />

além dos objetivos iniciais que era mostrar para as crianças a necessidade de se evitar<br />

essa ação e da importância da lavagem das mãos. A partir das rodas de conversa as<br />

crianças demonstraram interesse em diferentes aspectos relacionados ao corpo fazendo<br />

com que o assunto se tornasse fonte de pesquisa por parte das professoras e crianças.

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