esconder favela - Redes de desenvolvimento da Maré
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Moradores <strong>da</strong> Maré acham que muro foi construído<br />
para “<strong>escon<strong>de</strong>r</strong> <strong>favela</strong>”, diz pesquisa<br />
Levantamento realizado para avaliar impacto <strong>da</strong> construção do muro ao longo <strong>da</strong><br />
Linha Vermelha e o processo <strong>de</strong> preparação do Rio <strong>de</strong> Janeiro para a realização <strong>de</strong><br />
megaeventos esportivos revelou que, para 73% dos entrevistados, principal efeito do<br />
muro foi “<strong>escon<strong>de</strong>r</strong>” a <strong>favela</strong><br />
A pesquisa “Os muros do invisível”, realiza<strong>da</strong> pelo Núcleo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas<br />
sobre Favelas e Espaços Populares <strong>da</strong> REDES <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Maré, em<br />
parceria com Observatório <strong>de</strong> Favelas e ActionAid, revelou que 73% dos<br />
moradores do bairro acreditam que o muro foi construído para <strong>escon<strong>de</strong>r</strong> a <strong>favela</strong> e<br />
isolar ain<strong>da</strong> mais a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> do restante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Moradores acreditam que, com a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> realização <strong>da</strong> Copa do Mundo em<br />
2014 e <strong>da</strong>s Olimpía<strong>da</strong>s em 2016, a construção do muro seria parte do processo <strong>de</strong><br />
maquiagem <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para a recepção <strong>de</strong> turistas estrangeiros e comitivas<br />
governamentais e empresariais <strong>de</strong> vários países do mundo, revela o estudo.<br />
Entre os moradores <strong>da</strong> Maré, 38% consi<strong>de</strong>ram a construção do muro negativa,<br />
enquanto 34% consi<strong>de</strong>ram positiva e 25% são indiferentes. No entanto, a<br />
percepção mu<strong>da</strong> para quem vive perto e quem vive longe do muro: entre os que<br />
estão próximos, 57% consi<strong>de</strong>ram a construção do muro positiva. Dos que moram<br />
longe, esta percepção é <strong>de</strong> apenas 25%. Para os coor<strong>de</strong>nadores <strong>da</strong> pesquisa, isso se<br />
dá pelo fato dos moradores próximos ficarem mais protegidos dos constantes<br />
gestos <strong>de</strong> van<strong>da</strong>lismo cometidos por usuários <strong>da</strong>s vias expressas.<br />
“É curioso como os motivos para a construção do muro variaram <strong>da</strong> segurança dos<br />
usuários à prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes, passando pelo isolamento acústico e, agora, é<br />
reconhecido como proteção contra vân<strong>da</strong>los que vivem fora <strong>da</strong> <strong>favela</strong>”, avalia Eblin<br />
Farage, coor<strong>de</strong>nadora <strong>da</strong> pesquisa e professora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
Fluminense. “Nenhum <strong>de</strong>stes motivos, porém, consi<strong>de</strong>rou as reais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
dos moradores <strong>da</strong> Maré”, conclui.
De acordo com a pesquisa, os moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> reclamaram <strong>da</strong> falta <strong>de</strong><br />
diálogo com o Po<strong>de</strong>r Público. Esta percepção foi reforça<strong>da</strong> pela opinião <strong>da</strong>s<br />
li<strong>de</strong>ranças comunitárias ouvi<strong>da</strong>s na pesquisa, que expressaram <strong>de</strong>scontentamento<br />
com as priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Po<strong>de</strong>r Público na <strong>favela</strong> – lembrando que o projeto inicial<br />
previa a construção <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> lazer e outras intervenções urbanas na<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Este grupo focal salientou ain<strong>da</strong> que, no processo <strong>de</strong> implantação do<br />
muro, a Prefeitura assumiu papel secundário, cabendo à Lamsa (concessionária <strong>da</strong><br />
Linha Amarela) fazer as precárias negociações <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
“É fun<strong>da</strong>mental também discutir a aplicação dos recursos. O muro custou 20<br />
milhões. Por que não ouvir dos moradores on<strong>de</strong> eles gostariam <strong>de</strong> ver esses<br />
recursos aplicados na Maré? Uma <strong>de</strong> nossas principais <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s é que haja<br />
transparência no uso dos recursos públicos e participação popular nas <strong>de</strong>cisões<br />
que envolvem a Copa e as Olimpía<strong>da</strong>s”, questiona a coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> projetos <strong>da</strong><br />
ActionAid, Renata Ne<strong>de</strong>r.<br />
Opinião <strong>de</strong> fora<br />
Entre os usuários <strong>da</strong> via, outro grupo entrevistado na pesquisa, as opiniões foram<br />
dividi<strong>da</strong>s: 36% consi<strong>de</strong>ram a obra negativa, enquanto 34% consi<strong>de</strong>ram positiva e<br />
30% são indiferentes. Nesse grupo foram ouvidos 422 pessoas, entre alunos,<br />
professores e funcionários do campus <strong>da</strong> UFRJ, taxistas e usuários do aeroporto<br />
internacional.<br />
Quando perguntados sobre o impacto que acreditam que o muro teve para a<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, 66% dos usuários <strong>da</strong> via acham que os moradores <strong>da</strong> Maré<br />
consi<strong>de</strong>ram a instalação do muro negativa, 13% consi<strong>de</strong>ram que os moradores<br />
avaliam positivamente e 19% são indiferentes.<br />
Para as coor<strong>de</strong>nadoras <strong>da</strong> pesquisa, este resultado se dá pelo fato <strong>da</strong>s <strong>favela</strong>s só<br />
ocuparem o noticiário a partir <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> violência enquanto outras<br />
dimensões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> são <strong>de</strong>scarta<strong>da</strong>s, gerando certa indiferença do<br />
restante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação ao cotidiano dos moradores <strong>da</strong> <strong>favela</strong>.<br />
Essa imagem acaba por se refletir na forma como os próprios moradores <strong>da</strong> Maré<br />
projetam esta percepção. Segundo a pesquisa, 61% dos moradores entrevistados<br />
consi<strong>de</strong>ram que para os usuários <strong>da</strong>s vias a instalação do muro foi positiva,<br />
enquanto 13% avaliam que os usuários consi<strong>de</strong>ram a instalação negativa e 24%<br />
são indiferentes.<br />
Sobre a pesquisa<br />
A pesquisa “Os muros do invisível” foi realiza<strong>da</strong> <strong>de</strong> fevereiro a agosto <strong>de</strong>sse ano<br />
com cerca <strong>de</strong> 750 pessoas. Foram ouvidos usuários <strong>da</strong>s vias expressas, moradores<br />
<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré, ven<strong>de</strong>dores ambulantes <strong>da</strong>s vias e artistas que não
aceitaram ce<strong>de</strong>r sua arte para os muros que foram construídos ao longo <strong>da</strong>s linhas<br />
Vermelha e Amarela. Além <strong>da</strong>s entrevistas in loco, foram realizados grupos focais<br />
com moradores e uma enquete virtual junto a pessoas que trabalham na Maré.<br />
Sobre a <strong>Re<strong>de</strong>s</strong><br />
A <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Maré (<strong>Re<strong>de</strong>s</strong>) é uma organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil que se <strong>de</strong>dica a<br />
promover a construção <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, volta<strong>da</strong> para a transformação<br />
estrutural do conjunto <strong>de</strong> <strong>favela</strong>s <strong>da</strong> Maré. A <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> busca produzir conhecimento referente aos<br />
espaços populares e realizar ações com o intuito <strong>de</strong> interferir na lógica <strong>de</strong> organização <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
contribuir para a superação <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Sobre o Observatório <strong>de</strong> Favelas<br />
Criado em 2001, o Observatório <strong>de</strong> Favelas é uma organização social <strong>de</strong> pesquisa, consultoria e ação<br />
pública <strong>de</strong> atuação nacional e <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à produção do conhecimento e <strong>de</strong> proposições políticas<br />
sobre as <strong>favela</strong>s e fenômenos urbanos. O Observatório busca afirmar uma agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Direitos à<br />
Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na ressignificação <strong>da</strong>s <strong>favela</strong>s, também no âmbito <strong>da</strong>s políticas públicas. O<br />
Observatório foi fun<strong>da</strong>do e é composto por pesquisadores e profissionais oriundos <strong>de</strong> espaços<br />
populares.<br />
Sobre a ActionAid<br />
Organização internacional sem fins lucrativos que trabalha há 39 anos pelo fim <strong>da</strong> pobreza. Está em<br />
quase 50 países, beneficiando cerca <strong>de</strong> 25 milhões <strong>de</strong> pessoas. Em pesquisa divulga<strong>da</strong> pela ONU em<br />
2007, a ActionAid foi avalia<strong>da</strong> como uma <strong>da</strong>s 20 organizações sem fins lucrativos mais competentes<br />
do mundo. No Brasil há 12 anos, atua em 13 estados, beneficiando mais <strong>de</strong> 300 mil pessoas em<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> pobres. O trabalho é realizado em parceria com organizações locais <strong>da</strong>s próprias<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ele se concentra em quatro principais áreas temáticas: alimentação, educação,<br />
participação <strong>de</strong>mocrática e direito <strong>da</strong>s mulheres e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes.