NOSSO LUTO VIROU LUTA! - Redes de desenvolvimento da Maré
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Ano IV, N o<br />
43<br />
julho <strong>de</strong> 2013 - Maré, Rio <strong>de</strong> Janeiro - distribuição gratuita<br />
CAPA<br />
<strong>NOSSO</strong> <strong>LUTO</strong> <strong>VIROU</strong> <strong>LUTA</strong>!<br />
O clima <strong>de</strong> terror imposto pelo Bope, na noite <strong>de</strong> 24<br />
para 25 <strong>de</strong> junho, que resultou na morte <strong>de</strong> 10 pessoas,<br />
se transformou em luta por direitos: à vi<strong>da</strong>, à<br />
segurança pública, a ir e vir. O Brasil e o mundo se<br />
<strong>de</strong>ram conta do que nós, moradores e trabalhadores<br />
<strong>de</strong> espaços populares, já sabíamos: no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
a bala é <strong>de</strong> borracha; aqui, a bala é <strong>de</strong> fuzil.<br />
Mas os moradores foram às ruas logo após o mas-<br />
sacre e conseguiram a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> PM <strong>da</strong> Maré. Voltamos<br />
às ruas uma semana <strong>de</strong>pois para o ato pela<br />
paz, que reuniu pessoas <strong>de</strong> várias partes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Familiares <strong>da</strong>s vítimas prestaram <strong>de</strong>poimento<br />
na <strong>de</strong>legacia, enquanto lí<strong>de</strong>res comunitários e representantes<br />
<strong>de</strong> instituições locais iniciaram diálogo<br />
com as forças <strong>de</strong> segurança, com uma exigência:<br />
Estado que mata, nunca mais! Pág. 8 a 11<br />
Elisângela Leite<br />
Anarriê!<br />
Especial: fotos <strong>da</strong>s<br />
festas juninas <strong>da</strong><br />
Maré! Pág. 15<br />
Censo Maré<br />
Moradores batizam ruas<br />
e enumeram casas pág. 3<br />
Francisco Val<strong>de</strong>an<br />
Seus Direitos<br />
Direitos <strong>da</strong> Criança e do<br />
adolescente pág. 6 e 7<br />
Carlinhos Carteiro<br />
Carteiro <strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong> é o camara<strong>da</strong><br />
mais aguar<strong>da</strong>do pelos moradores (e<br />
também pelos cachorros). Pág. 4<br />
Por <strong>de</strong>ntro<br />
Inscrições para vários<br />
cursos até 29/07 pág. 5<br />
Elisângela Leite<br />
Saú<strong>de</strong><br />
UPA tem dois pediatras<br />
pág. 7<br />
Loucos por corri<strong>da</strong><br />
Conheça a equipe Maré Esporte. Pág. 12<br />
Programação <strong>da</strong> Lona Pág. 14<br />
Shows <strong>de</strong> samba, rock,humor e<br />
novas oficinas
2 3<br />
Conheça os distribuidores<br />
Editorial<br />
do Maré <strong>de</strong> Notícias Se essa rua fosse nossa...<br />
Estado que mata, nunca mais<br />
EDITORIAL<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
A matéria <strong>de</strong> capa <strong>de</strong>sta edição procura<br />
contextualizar os últimos acontecimentos<br />
no campo <strong>da</strong> segurança pública, enfatizando<br />
o protagonismo <strong>da</strong> população<br />
<strong>da</strong> Maré, que conhece seus direitos e<br />
exige respeito por parte do Estado.<br />
O terror implantado pelo Bope na noite<br />
<strong>de</strong> 24 para 25 <strong>de</strong> junho mostrou – mais<br />
uma vez – que existem policiais que se<br />
acham acima do bem e do mal, e agem<br />
como se tivessem permissão para matar.<br />
Essa suposta permissão para matar<br />
os envolvidos com os grupos criminosos<br />
armados (em vez <strong>de</strong> prendê-los) afeta a<br />
vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> todos nós, sem distinção. Implanta<br />
a guerra e não oferece segurança pública.<br />
A polícia <strong>de</strong>ve agir com inteligência.<br />
Por isso, os 10 mortos – o policial do<br />
Bope, os moradores inocentes e os que<br />
supostamente seriam envolvidos – foram<br />
lembrados no ato ecumênico realizado<br />
na Av. Brasil, porque o que precisa<br />
mu<strong>da</strong>r é a lógica do Estado que mata.<br />
Leia a reportagem <strong>de</strong> capa a partir <strong>da</strong><br />
página 8 e também o artigo “Fuzil: no<br />
centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não, mas na favela<br />
sim?!” (pág. 11).<br />
Expediente<br />
Instituição Proponente<br />
<strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Maré<br />
Diretoria<br />
Andréia Martins<br />
Eblin Joseph Farage (Licencia<strong>da</strong>)<br />
Eliana Sousa Silva<br />
Edson Diniz Nóbrega Júnior<br />
Helena Edir<br />
Patrícia Sales Vianna<br />
Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Comunicação<br />
Silvia Noronha<br />
Instituição Parceira<br />
Observatório <strong>de</strong> Favelas<br />
Apoio<br />
Ação Comunitária do Brasil<br />
Administração<br />
do Piscinão <strong>de</strong> Ramos<br />
Associação Comunitária<br />
Roquete Pinto<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores e<br />
Amigos do Conjunto<br />
Bento Ribeiro Dantas<br />
Boa Leitura!<br />
Associação dos Moradores e<br />
Amigos do Conjunto Esperança<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Conjunto Marcílio Dias<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Conjunto Pinheiros<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Morro do Timbau<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Parque Ecológico<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Parque Habitacional<br />
<strong>da</strong> Praia <strong>de</strong> Ramos<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Parque Maré<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Parque Rubens Vaz<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
do Parque União<br />
Associação <strong>de</strong> Moradores<br />
<strong>da</strong> Vila do João<br />
Associação Pró-Desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova Holan<strong>da</strong><br />
Este grupo é bom! Des<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong>ste ano, esta<br />
equipe bacana que está na foto abaixo, forma<strong>da</strong> por<br />
moradores, passou a distribuir o Maré <strong>de</strong> Notícias em<br />
conjunto pelas ruas <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Eles saem juntos, ao longo <strong>de</strong> sete dias úteis, indo <strong>de</strong><br />
rua em rua, <strong>de</strong> casa em casa, geralmente na parte <strong>da</strong><br />
manhã.<br />
Porém, infelizmente não há exemplares para to<strong>da</strong>s as<br />
residências, nem os distribuidores conseguem subir<br />
nas casas situa<strong>da</strong>s nos pavimentos superiores. Por<br />
isso, sempre <strong>de</strong>ixamos uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> jornais em<br />
ca<strong>da</strong> associação <strong>de</strong> moradores <strong>da</strong> Maré e também<br />
Biblioteca Comunitária Néli<strong>da</strong> Piñon<br />
Centro <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> Mulheres<br />
<strong>da</strong> Maré - Carminha Rosa<br />
Conexão G<br />
Conjunto Habitacional Nova Maré<br />
Conselho <strong>de</strong> Moradores<br />
<strong>da</strong> Vila dos Pinheiros<br />
Luta pela Paz<br />
União <strong>de</strong> Defesa e<br />
Melhoramentos do Parque<br />
Proletário <strong>da</strong> Baixa do Sapateiro<br />
União Esportiva<br />
Vila Olímpica <strong>da</strong> Maré<br />
Editora executiva e<br />
jornalista responsável<br />
Silvia Noronha<br />
(Mtb – 14.786/RJ)<br />
Repórteres e re<strong>da</strong>tores<br />
Aramis Assis<br />
Hélio Eucli<strong>de</strong>s (Mtb – 29919/RJ)<br />
Rosilene Miliotti<br />
Fabíola Loureiro (Estagiária)<br />
Fotógrafa<br />
Elisângela Leite<br />
Projeto gráfico<br />
e diagramação<br />
Pablo Ramos<br />
Logotipo<br />
Monica Soffiatti<br />
Colaboradores<br />
Anabela Paiva<br />
André <strong>de</strong> Lucena<br />
Ay<strong>da</strong>no André Mota<br />
Flávia Oliveira<br />
Francisco Val<strong>de</strong>an<br />
Marianna Araujo<br />
Vitor Castro<br />
Coord. <strong>de</strong> distribuição<br />
Givanildo Nascimento<br />
Impressão<br />
Gráfica Jornal do Commércio<br />
Tiragem<br />
40.000 exemplares<br />
Leia nosso Maré na internet e baixe o PDF:<br />
www.re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br<br />
nas instituições parceiras (veja a lista abaixo no<br />
Expediente). Então, se o jornal não chega a sua casa,<br />
busque seu exemplar num <strong>de</strong>sses pontos espalhados<br />
pelas 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré. Na <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré,<br />
on<strong>de</strong> fica a Re<strong>da</strong>ção, o jornal costuma chegar por<br />
volta do dia 10 <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> mês. E aí, então, começa a<br />
distribuição.<br />
Além <strong>de</strong> ler, você po<strong>de</strong> participar <strong>da</strong> elaboração do<br />
conteúdo do jornal! Envie foto, <strong>de</strong>senho, poesia, pia<strong>da</strong>,<br />
sugestão <strong>de</strong> pauta, elogios e críticas para a Re<strong>da</strong>ção:<br />
Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holan<strong>da</strong>. Tel.:<br />
3104-3276. E-mail: comunicacao@re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br.<br />
A partir <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>: Charles, Givanildo (o Giba), Viviane, Sirlene, Luiz, Liliane e Sonia<br />
<strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Maré<br />
Rua Sargento Silva Nunes, 1012,<br />
Nova Holan<strong>da</strong> / Maré<br />
CEP: 21044-242<br />
(21) 3104.3276<br />
(21)3105.5531<br />
www.re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br<br />
comunicacao@re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br<br />
Os artigos assinados não<br />
representam a opinião do jornal.<br />
Parceiros:<br />
Silvia Noronha<br />
Travessa Paraíba:<br />
esse foi o primeiro nome escolhido pelos moradores<br />
<strong>de</strong> uma ocupação no Pinheiro<br />
Rosilene Miliotti<br />
Elisângela Leite<br />
A ocupação ain<strong>da</strong> não é reconheci<strong>da</strong><br />
oficialmente e as ruas não têm nomes nem<br />
números. Com isso, os moradores encontram<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para receber correspondências<br />
e outros serviços, como se o local não<br />
existisse. Alguns chamam este pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong><br />
Vila do Pinheiro <strong>de</strong> Uga-Uga. Bruna <strong>da</strong> Silva,<br />
31 anos, foi a primeira moradora a chegar,<br />
há mais <strong>de</strong> 10 anos. “Estava passando por<br />
algumas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Um dia eu vim pra cá,<br />
sentei em uma pedra e comecei a pensar<br />
na vi<strong>da</strong>. Olhei pra frente e disse ‘aqui dá um<br />
barraco e aqui que eu vou ficar’. Eu tinha<br />
um barraquinho, todo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. A gente<br />
não tinha banheiro. Não tem nem três anos<br />
que os barracos acabaram para <strong>da</strong>r lugar a<br />
casas <strong>de</strong> alvenaria”, lembra Bruna.<br />
Dona Maria José <strong>da</strong> Conceição, 57 anos, moradora<br />
<strong>da</strong> ocupação há três anos, diz que pagar aluguel não<br />
dá. “Estou <strong>de</strong>semprega<strong>da</strong> e fomos construindo a casa<br />
<strong>de</strong>vagar. Bruna foi a primeira moradora e foi conseguindo<br />
trazer re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto e energia aos poucos”.<br />
Bruna, <strong>de</strong> fato, conta ter lutado muito pela chega<strong>da</strong> dos<br />
serviços públicos mais básicos. “Aqui não tinha na<strong>da</strong>.<br />
Eu aproveitei a época <strong>de</strong> eleição e pedi os canos para<br />
um candi<strong>da</strong>to para fazer a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto. Os próprios<br />
Moradores <strong>da</strong> ocupação que fica perto do viaduto novo que liga o<br />
Fundão <strong>de</strong>batem o processo <strong>de</strong> escolha dos nomes <strong>da</strong>s ruas<br />
E<br />
moradores <strong>de</strong>ram a mão <strong>de</strong> obra. Hoje tem luz, esgoto<br />
e água encana<strong>da</strong> e mais <strong>de</strong> 100 pessoas moram aqui<br />
nesse pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong> Vila do Pinheiro”, relata. Ela reivindica<br />
ain<strong>da</strong> coleta <strong>de</strong> lixo e asfaltamento <strong>da</strong>s ruas.<br />
Travessa Paraíba<br />
Para resolver o problema <strong>da</strong>s correspondências,<br />
a saí<strong>da</strong> que os moradores encontraram foi <strong>da</strong>r<br />
o en<strong>de</strong>reço <strong>de</strong> parentes. Bruna conta que usa o<br />
en<strong>de</strong>reço <strong>da</strong> mãe para receber correspondências.<br />
Para mu<strong>da</strong>r essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o processo <strong>de</strong> escolha<br />
do nome <strong>da</strong>s ruas teve início em junho e o estado <strong>da</strong><br />
“Paraíba” foi o primeiro a ser lembrado para batizar<br />
uma travessa.<br />
Shyrlei Rosendo, <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré, explica que,<br />
com as ruas oficializa<strong>da</strong>s, os moradores po<strong>de</strong>rão<br />
exigir dos Correios um CEP para que o local seja<br />
reconhecido. “O importante é que os moradores<br />
participem do processo e eles mesmos batizem as<br />
ruas e enumerem as casas. Nós enviaremos esse<br />
mapa e a lista <strong>de</strong> ruas para os Correios para que eles<br />
reconheçam e futuramente venham entregar cartas.<br />
Nosso objetivo é formalizar e atualizar o mapa <strong>da</strong><br />
Maré. Isso facilitará a vi<strong>da</strong> dos moradores <strong>de</strong>ssas<br />
ruas que oficialmente não existem”, explica ela, que<br />
também é moradora <strong>da</strong> Maré e trabalha no projeto A<br />
Maré que Queremos.<br />
A iniciativa é do projeto A Maré que Queremos, que reúne<br />
associações <strong>de</strong> moradores <strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>da</strong> Maré e instituições locais, com o<br />
objetivo <strong>de</strong> promover melhorias estruturantes<br />
para o bairro. O batismo<br />
<strong>da</strong>s ruas foi possível após o mapeamento<br />
<strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s pelo<br />
Censo Maré, projeto <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong><br />
Maré e do Observatório <strong>de</strong> Favelas.<br />
Em julho e agosto, o Parque<br />
Maré também escolherá o nome<br />
<strong>de</strong> algumas ruas. Outras comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
já escolheram, com<br />
apoio <strong>da</strong>s associações <strong>de</strong> moradores.<br />
“Estava passando por<br />
algumas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Um dia eu vim pra cá,<br />
sentei em uma pedra<br />
e comecei a pensar na<br />
vi<strong>da</strong>. Olhei pra frente<br />
e disse ‘aqui dá um<br />
barraco e aqui que eu<br />
vou ficar ”<br />
Bruna <strong>da</strong> Silva, primeira<br />
moradora <strong>da</strong> ocupação<br />
CENSO MARÉ<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013
4 5<br />
PERFIL<br />
O famoso mensageiro<br />
O que acontece e o que não<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> acontecer por aqui<br />
NOTAS<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
Fabíola Loureiro<br />
<strong>de</strong> Nova Holan<strong>da</strong><br />
Elisângela Leite<br />
Antonio Carlos Silva Azevedo, mais<br />
conhecido como Carlinhos Carteiro,<br />
trabalha nos Correios há 37 anos e<br />
há mais <strong>de</strong> 30 anos na Nova Holan<strong>da</strong>.<br />
No começo, ele encontrou um pouco<br />
<strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois muitas casas não<br />
tinham numeração e as ruas não tinham<br />
nome e CEP. Ele era responsável por<br />
entregar correspondências em to<strong>da</strong><br />
a área <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas hoje há<br />
outros carteiros dividindo o trabalho.<br />
Nascido e criado na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
Cachoeirinha, no Complexo <strong>de</strong> Favelas do<br />
Lins, Carlinhos, que é filho único, conta<br />
que se tornou carteiro por acaso. “Estava<br />
tendo uma blitz <strong>da</strong> polícia na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e eu precisava tirar meus documentos.<br />
Então fui para o centro do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
com este objetivo e reparei umas pessoas<br />
numa fila no prédio ao lado <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu<br />
fiz os documentos. Perguntei para quê<br />
era aquela fila e fiquei sabendo que era<br />
para fazer inscrição para trabalhar nos<br />
Correios. Resolvi me inscrever também, fui<br />
selecionado e em pouco tempo já estava<br />
trabalhando como carteiro”, conta.<br />
Carlinhos tem muitas histórias para contar.<br />
Uma <strong>de</strong>las ocorreu na época em que as<br />
ruas <strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> eram <strong>de</strong><br />
barro. “Tinha chovido e a rua estava cheia<br />
<strong>de</strong> lama, escorreguei e caí no chão e as<br />
cartas voaram <strong>da</strong> minha mão. Eu pensei<br />
que ninguém tivesse visto, mas o pessoal<br />
viu, uns ficaram rindo, outros ficaram<br />
preocupados.”<br />
O mais conhecido<br />
<strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong><br />
Depois <strong>de</strong> algum tempo, Carlinhos veio<br />
morar na Maré e começou a fazer amiza<strong>de</strong><br />
com os moradores. Chegou a fazer parte<br />
<strong>de</strong> um time <strong>de</strong> futebol na Nova Holan<strong>da</strong>, o<br />
Pantera Futebol Clube; tem vários afilhados<br />
e sempre ganha presentes dos moradores<br />
no Natal. Sua populari<strong>da</strong><strong>de</strong> é tanta que um<br />
morador lhe comunicou que ele foi eleito a<br />
pessoa mais conheci<strong>da</strong> <strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong><br />
em uma página <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> social na<br />
internet.<br />
O carteiro continua trabalhando mesmo<br />
tendo se aposentado há dois anos, e já está<br />
preparando o psicológico para não ter muito<br />
impacto quando chegar a hora <strong>de</strong> parar.<br />
Morando atualmente na Praia <strong>de</strong> Mauá,<br />
em Magé, na Região Metropolitana do Rio,<br />
Carlinhos, aos 56 anos, fala que comprou sua<br />
casa lá porque quer virar pescador.<br />
“Amo essa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>“<br />
O botafoguense brinca dizendo ter várias<br />
noivas na Nova Holan<strong>da</strong>, que são as<br />
senhorinhas <strong>de</strong> 80 anos que ficam à sua<br />
espera na janela. E também tem a estu<strong>da</strong>nte<br />
Petronilia Assis dos Santos, <strong>de</strong> 49 anos,<br />
conheci<strong>da</strong> como Lilian, que dizia que ia se<br />
casar com Carlinhos. “Ela sempre dizia isso, a<br />
gente ia casar, marcamos o casamento, mas<br />
<strong>de</strong>pois ela me abandonou”, brinca o carteiro.<br />
Os moradores mais antigos também ficam<br />
esperando ansiosos, na janela <strong>de</strong> suas<br />
“Já levei várias mordi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cachorro,<br />
na barriga, no braço. Também ninguém<br />
nunca man<strong>da</strong> carta para os cachorros,<br />
<strong>de</strong>ve ser por isso que eles não gostam <strong>de</strong><br />
carteiros”<br />
casas, as correspondências chegarem.<br />
Quem também espera são os cachorros,<br />
que sempre correm atrás dos carteiros.<br />
Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o uniforme ter mu<strong>da</strong>do,<br />
os cachorros continuaram a latir e a correr<br />
atrás <strong>de</strong> Carlinhos.<br />
Com um enorme sorriso no rosto, por<br />
on<strong>de</strong> passa, Carlinhos é sau<strong>da</strong>do pelos<br />
moradores e se diz feliz por ter sido acolhido<br />
pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. “Aqui construí laços <strong>de</strong><br />
amiza<strong>de</strong>, aprendi muito com esse pessoal.<br />
Vou sentir sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas na<strong>da</strong> é para<br />
sempre. Costumo dizer que a Nova Holan<strong>da</strong><br />
é um mundo, aqui tem tudo que você<br />
imagina. Eu amo essa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>!”, finaliza.<br />
Na próxima edição, publicaremos reportagem<br />
sobre a falta <strong>de</strong> entrega domiciliar <strong>de</strong><br />
correspondência em cinco <strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>da</strong> Maré.<br />
Coleta seletiva na Maré<br />
Os Conjuntos Pinheiro e Esperança terão coleta seletiva <strong>de</strong> lixo doméstico e<br />
reaproveitamento dos resíduos sólidos e orgânicos. Para isso, foi <strong>de</strong>senvolvido<br />
o Programa Rever, do Núcleo <strong>de</strong> Ação Comunitária e Desenvolvimento Social<br />
(Naco<strong>de</strong>s). As duas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré foram escolhi<strong>da</strong>s em função <strong>da</strong><br />
logística dos blocos, que facilita a implantação <strong>da</strong> coleta seletiva.<br />
O programa tem como priori<strong>da</strong><strong>de</strong> fomentar reflexões e discussões sobre o<br />
ambiente, saú<strong>de</strong>, educação, integração, gestão autônoma e sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
inovadora. Participam as duas associações <strong>de</strong> moradores, os síndicos dos<br />
prédios, o grupo <strong>de</strong> idosos Amor Maior e os Jardineiros Comunitários.<br />
“A base do trabalho é rever conceitos, pois é significativo termos um novo olhar<br />
sobre o lixo”, explica um dos organizadores, Sebastião <strong>da</strong> Silva Rodrigues. “É<br />
muito bom unir forças para beneficiar os moradores”, afirma a presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong><br />
Associação <strong>de</strong> Moradores do Conjunto Pinheiro (Amacovipi), Eunice Cunha.<br />
Cursos <strong>de</strong> capacitação<br />
Hélio Eucli<strong>de</strong>s<br />
A instituição Banco <strong>da</strong> Providência está com inscrições abertas para vários<br />
cursos gratuitos <strong>de</strong> capacitação: Cabeleireiro, Mega-hair e Entrelace; Corte<br />
e Costura, Mo<strong>de</strong>lagem, Costura em Malha e Lycra; Lancheiro (Doces e<br />
Salgados) e Bolos e Tortas; informática (Windows e Word, Excel, Power Point<br />
e Internet, Básico em Montagem e Manutenção <strong>de</strong> Micro Computadores. Ao<br />
final, a instituição encaminha para a agência <strong>de</strong> empregos.<br />
As aulas ocorrerão do dia 29 <strong>de</strong> julho até 23 <strong>de</strong> agosto, às terças e quintas,<br />
<strong>de</strong> 9h às 11h30, em Realengo, mas a instituição pagará o transporte. As<br />
inscrições po<strong>de</strong>m ser feitas na capela <strong>da</strong> Paróquia São José Operário,<br />
na Vila Pinheiro, na Via A1 nº120 A, às terças e quintas, com a assistente<br />
social Vânia <strong>de</strong> Carvalho Pinto (tel.: 8578-0628).<br />
Hélio Eucli<strong>de</strong>s<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
Carlinhos e Lilian:<br />
“Ela sempre dizia<br />
que a gente ia se<br />
casar, marcamos<br />
o casamento, mas<br />
<strong>de</strong>pois ela me<br />
abandonou”, brinca<br />
o carteiro<br />
Pe<strong>de</strong>stres em apuros no PU – Parte 2<br />
Na edição <strong>de</strong> junho, o Maré <strong>de</strong> Notícias mostrou o perigo <strong>da</strong> passagem<br />
<strong>da</strong> Av. Briga<strong>de</strong>iro Trompowski pelos pe<strong>de</strong>stres. A Secretaria Municipal <strong>de</strong><br />
Obras informou que a travessia segura <strong>de</strong>ve ser feita por uma <strong>da</strong>s duas<br />
passarelas do local: uma que liga o Parque União à Av. Brasil e outra em<br />
frente ao Quartel do Exército. É possível ain<strong>da</strong> fazer a travessia por um<br />
passeio exclusivo para pe<strong>de</strong>stres, na faixa <strong>da</strong> direita do Viaduto Engenheiro<br />
Edno Machado, cujo projeto <strong>de</strong> reforma prevê a inclusão <strong>de</strong> gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
proteção. Não está previsto construir passarela ligando os dois lados <strong>da</strong><br />
Av. Brasil, na altura do nº 6.993, por falta <strong>de</strong> espaço, tendo em vista a<br />
modificação viária que ocorrerá com as obras <strong>da</strong> Transcarioca.
6 7<br />
Coluna especial<br />
SEUS DIREITOS<br />
Equipe Social <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré<br />
O mundo é nosso e o direito é <strong>de</strong> todos!<br />
equipesocial.re<strong>de</strong>s@gmail.com<br />
Quarto<br />
Direitos <strong>da</strong> Criança e do Adolescente<br />
tema:<br />
SEUS DIREITOS<br />
SAÚDE<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
No dia 13 <strong>de</strong> julho, o Estatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente (ECA, lei 8.069/90) completa 23 anos. Depois <strong>de</strong> tanto tempo, será que conhecemos<br />
bem o que essa lei garante? Quais são os <strong>de</strong>safios para que seja cumpri<strong>da</strong>?<br />
O ECA nasceu a partir <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral do Brasil <strong>de</strong> 1988 e passou a tratar to<strong>da</strong>s as crianças e adolescentes como sujeitos <strong>de</strong> direitos<br />
que <strong>de</strong>vem receber proteção <strong>de</strong> forma prioritária e integral. No Brasil, antes <strong>da</strong> promulgação do ECA, a legislação volta<strong>da</strong> para a infância era<br />
o “Código <strong>de</strong> Menores”, <strong>de</strong>stinado àqueles que estavam em “situação irregular”, ou seja, afetava principalmente as famílias e crianças pobres e<br />
“abandona<strong>da</strong>s”. Essa política previa que as ruas <strong>de</strong>veriam ser protegi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> uma possível ameaça <strong>de</strong>ssa população que <strong>de</strong>veria ser “corrigi<strong>da</strong>”.<br />
A história <strong>da</strong> política para a infância no Brasil e a <strong>de</strong>sinformação po<strong>de</strong>m ter contribuído para alguns equívocos, ain<strong>da</strong> cometidos em relação<br />
ao ECA hoje. Trataremos sobre alguns <strong>de</strong>les:<br />
Menor x criança : O ECA adota os termos: criança e adolescente, sem qualquer discriminação. Ou seja, esses termos <strong>de</strong>vem ser usados<br />
tanto para um menino ou menina estu<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> escola particular <strong>da</strong> zona sul, quanto para aquele ou aquela que esteja cumprindo medi<strong>da</strong><br />
socioeducativa.<br />
Direitos e <strong>de</strong>veres : Há no senso comum um discurso <strong>de</strong> que, a partir do ECA, crianças e adolescentes passaram a não ter responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />
que o ECA não pune o adolescente que comete ato infracional, que a família per<strong>de</strong>u a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> diante dos filhos, entre outros. No entanto,<br />
na própria legislação constam cinco tipos <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s socioeducativas a serem adota<strong>da</strong>s àqueles que cometem algum ato infracional.<br />
Politicamente, o ECA foi uma significativa conquista <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil. Trabalhadores <strong>da</strong> área contribuíram para a elaboração <strong>de</strong>ssa<br />
legislação. O Sistema <strong>de</strong> Garantia <strong>de</strong> Direitos, previsto pelo ECA, correspon<strong>de</strong> à articulação e integração entre instituições governamentais<br />
e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil para promover instrumentos normativos e mecanismos <strong>de</strong> promoção, <strong>de</strong>fesa e controle que garantam os direitos <strong>da</strong>s<br />
crianças e dos adolescentes. Ou seja, por meio <strong>de</strong>sses três eixos foi possível estabelecer uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> instâncias que consoli<strong>da</strong>m a política<br />
<strong>de</strong> atendimento à criança e ao adolescente.<br />
Primeiro eixo: Defesa dos Direitos Humanos : Formado por: órgãos públicos judiciais; Ministério Público, <strong>de</strong>fensorias públicas e, <strong>de</strong>ntre<br />
outras, o Conselho Tutelar, órgão que funciona como um guardião dos direitos <strong>da</strong> criança e do adolescente. Sua atribuição é aten<strong>de</strong>r crianças,<br />
adolescentes e orientar suas famílias. Ele <strong>de</strong>ve ser acionado sempre que uma criança ou adolescente estiver em situação <strong>de</strong> risco social,<br />
abuso, violência física, sexual ou emocional, ou qualquer situação <strong>de</strong> violação <strong>de</strong> direitos. Para isso, o conselheiro tutelar aplicará medi<strong>da</strong>s<br />
que zelem pela proteção dos direitos. Ao contrário do que muitas pessoas acham, o Conselho Tutelar não tem competência <strong>de</strong> justiça ou <strong>de</strong><br />
polícia. Ou seja, não po<strong>de</strong> julgar nenhum caso e nem mesmo po<strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r crianças e adolescentes.<br />
Segundo eixo: Promoção dos Direitos : Direcionado às instituições que oferecem programas<br />
e serviços que aten<strong>de</strong>m os direitos humanos <strong>de</strong> crianças e adolescentes, especificamente<br />
<strong>da</strong>s políticas sociais, medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> proteção e medi<strong>da</strong>s socioeducativas.<br />
Terceiro eixo: Controle e a efetivação do Direito: Ocorre por<br />
meio <strong>de</strong> instâncias públicas colegia<strong>da</strong>s, como: conselhos<br />
setoriais <strong>de</strong> formulação e controle <strong>de</strong> políticas públicas e<br />
os conselhos dos direitos <strong>de</strong> crianças e adolescentes.<br />
Ca<strong>da</strong> estado e município possuem seus conselhos<br />
<strong>de</strong> direitos e no âmbito do governo fe<strong>de</strong>ral, existe<br />
o Conselho Nacional dos Direitos <strong>da</strong> Criança<br />
e do Adolescente. A divisão <strong>de</strong>sses orgãos<br />
é forma<strong>da</strong> por conselheiros <strong>de</strong> direitos<br />
governamentais e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil.<br />
A <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Maré está como instituição conselheira<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil na atual gestão (2011-2013) do Conselho Municipal dos<br />
Direitos <strong>da</strong> Criança e do Adolescente do Rio <strong>de</strong> Janeiro (CMDCA-Rio).<br />
O papel do CMDCA é formular e <strong>de</strong>liberar políticas públicas relativas<br />
às crianças e adolescentes, articulando-se com outras políticas sociais<br />
como a saú<strong>de</strong>, assistência social, educação, esporte e lazer, entre<br />
outras. É sua atribuição, também, organizar e controlar as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
atenção volta<strong>da</strong>s para esse público e promover a articulação <strong>da</strong>s ações,<br />
<strong>da</strong>s enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e programas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e do po<strong>de</strong>r público. To<strong>da</strong><br />
a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> instituições para crianças e adolescentes <strong>de</strong>ve ser orienta<strong>da</strong><br />
para garantir os direitos fun<strong>da</strong>mentais, tal como prevê o ECA:<br />
“Art. 4º É <strong>de</strong>ver <strong>da</strong> família, <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
em geral e do po<strong>de</strong>r público assegurar, com absoluta<br />
priori<strong>da</strong><strong>de</strong>, a efetivação dos direitos referentes à vi<strong>da</strong>, à<br />
saú<strong>de</strong>, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,<br />
à profissionalização, à cultura, à digni<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao respeito,<br />
à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e à convivência familiar e comunitária”.<br />
(ECA. Lei Nº 8.069/90)<br />
Serviços para a criança<br />
e o adolescente <strong>da</strong> Maré:<br />
Conselho Tutelar <strong>de</strong> Bonsucesso<br />
En<strong>de</strong>reço: Rua <strong>da</strong> Regeneração, nº654. Bonsucesso.<br />
Tel.: 2573-1013<br />
Vara <strong>da</strong> Infância, <strong>da</strong> Juventu<strong>de</strong> e do Idoso<br />
En<strong>de</strong>reço: Praça Onze <strong>de</strong> Junho, nº 403. Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova.<br />
Tel.: 2503-6300 ramal 6344 (Cartório).<br />
Defensoria Publica do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
CDEDICA - Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Defesa dos Direitos<br />
<strong>da</strong> Criança e do Adolescente.<br />
En<strong>de</strong>reço: Rua São José, 35/ 13° an<strong>da</strong>r, Centro<br />
(Edifício Menezes Cortes).<br />
ATENÇÃO! antes <strong>de</strong> dirigir-se ao<br />
en<strong>de</strong>reço informado ligue grátis<br />
para 129 e informe-se sobre<br />
os dias, horários e lista <strong>de</strong><br />
documentos para o seu<br />
atendimento.<br />
UPA Maré tem nova<br />
administração<br />
Viva Rio assumiu gestão prometendo diálogo<br />
com comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Hélio Eucli<strong>de</strong>s<br />
Ao completar seis anos, a Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pronto Atendimento <strong>da</strong><br />
Maré (UPA), na Vila do João, mudou a equipe gestora. Antes o<br />
atendimento era feito por profissionais do Corpo <strong>de</strong> Bombeiros,<br />
e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> janeiro passou para o Viva Rio Saú<strong>de</strong>, num contrato <strong>de</strong><br />
terceirização do serviço.<br />
“O pediatra é um diferencial e agora estamos acabando com a<br />
lacuna. Já estamos com dois profissionais”, afirmou o coor<strong>de</strong>nador<br />
Roberto Simões, após uma reunião com as li<strong>de</strong>ranças comunitárias<br />
do bairro, em junho. A falta <strong>de</strong> pediatra era uma <strong>da</strong>s reclamações<br />
dos moradores.<br />
Ele lembrou que, mesmo fora do horário do pediatra, é importante<br />
que o morador leve a criança doente até a UPA para uma avaliação<br />
e encaminhamento ao local a<strong>de</strong>quado, se necessário com o uso<br />
<strong>da</strong> ambulância.<br />
O Viva Rio Saú<strong>de</strong> já administra seis centros municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
localizados nos Cieps <strong>da</strong> Maré, uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> na Vila do João, outra<br />
no Parque União e a Clínica <strong>da</strong> Família Augusto Boal.<br />
4 médicos clínicos<br />
2 pediatras*<br />
1 <strong>de</strong>ntista<br />
1 técnico <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> bucal<br />
5 enfermeiros<br />
11 técnicos <strong>de</strong> enfermagem<br />
1 assistente social<br />
Equipe <strong>da</strong> UPA Maré<br />
1 técnico <strong>de</strong> radiologia<br />
1 farmacêutico,<br />
1 auxiliar <strong>de</strong> farmácia<br />
1 maqueiro<br />
1 enfermeiro especialista<br />
em infecção<br />
Além do quadro <strong>de</strong> apoio<br />
* O plantão pediátrico é <strong>de</strong> 19h <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> até as 19h <strong>de</strong><br />
quinta. Está aberto o processo <strong>de</strong> seleção para contratação<br />
<strong>de</strong> mais um pediatra.<br />
Informações: 2334-7830 / 2234-7832 / 2234-7834.<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013
8 9<br />
SEGURANÇA PÚBLICA<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
Reação pela paz surte resultado<br />
Depois <strong>da</strong> chacina, moradores vão às ruas pedir paz e iniciam diálogo com a polícia,<br />
enquanto familiares <strong>da</strong>s vítimas buscam justiça<br />
A operação truculenta do Batalhão<br />
<strong>de</strong> Operações Especiais <strong>da</strong> Polícia<br />
Militar (Bope), na Maré, que resultou<br />
na morte <strong>de</strong> 10 pessoas, além <strong>de</strong><br />
feridos, na noite <strong>de</strong> 24 para 25<br />
<strong>de</strong> junho, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a reação<br />
dos moradores, que foram às ruas<br />
protestar e pedir paz. Presi<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>da</strong>s associações <strong>de</strong> moradores e<br />
representantes <strong>de</strong> instituições locais<br />
conseguiram iniciar um diálogo<br />
com o Bope e com o Comando<br />
<strong>de</strong> Operações Especiais <strong>da</strong> PM.<br />
Parentes <strong>da</strong>s vítimas, <strong>de</strong>sta vez,<br />
estão buscando justiça e já foram<br />
prestar <strong>de</strong>poimento na Delegacia <strong>de</strong><br />
Homicídios. Em diversas ocasiões,<br />
brasileiros <strong>de</strong> diferentes partes do<br />
país prestaram soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> aos<br />
moradores <strong>da</strong> Maré, que também<br />
contaram com o apoio <strong>da</strong> Comissão<br />
<strong>de</strong> Direitos Humanos <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m dos<br />
Advogados do Brasil (OAB) e <strong>da</strong><br />
Assembleia Legislativa (Alerj).<br />
Cartazes no ato ecumênico lembram os nomes <strong>da</strong>s vítimas<br />
A noite <strong>de</strong> terror incluiu <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
invasões a casa <strong>de</strong> moradores e <strong>de</strong>ixou<br />
ruas às escuras porque tiros foram<br />
disparados em transformadores. “A morte<br />
<strong>de</strong> um policial gerou uma chacina aqui.<br />
Mas não é só a morte <strong>de</strong> pessoas. É o<br />
<strong>de</strong>scaso, a forma <strong>de</strong> tratar o morador, são<br />
os palavrões gritados aqui. A violência<br />
mais evi<strong>de</strong>nte acaba sendo a morte, mas<br />
a violência que acontece aqui <strong>de</strong>ntro é<br />
generaliza<strong>da</strong>, é psicológica, é o medo que<br />
marca pra vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong>. Marca na alma, mais<br />
do que fisicamente”, ressalta Bira Carvalho,<br />
fotógrafo, morador <strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong>,<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que mais sofreu com a ação.<br />
A operação teve início na noite <strong>de</strong> segun<strong>da</strong>feira,<br />
dia 24, após um grupo ter efetuado<br />
furtos na Aveni<strong>da</strong> Brasil, ao final <strong>de</strong> uma<br />
manifestação em Bonsucesso. A versão<br />
oficial fala em arrastão na aveni<strong>da</strong>, mas<br />
não apresenta nenhuma pessoa presa<br />
responsável pelos furtos. Após os roubos,<br />
o grupo teria corrido para <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> Maré,<br />
pela Rua Teixeira Ribeiro, no Parque Maré,<br />
um dos acessos mais movimentados <strong>da</strong><br />
favela. A partir <strong>da</strong>li, o Bope entrou atirando<br />
na Teixeira, segundo testemunhas, <strong>da</strong>ndo<br />
início a uma <strong>da</strong>s mais truculentas ações<br />
do Estado na Maré. Logo no início <strong>da</strong><br />
operação, um sargento do Bope, Ednelson<br />
dos Santos, foi baleado e morto. A partir <strong>da</strong>í<br />
o que os moradores presenciaram foi uma<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira caça<strong>da</strong> em busca <strong>de</strong> vingança.<br />
Houve tiros durante to<strong>da</strong> a noite. Na manhã<br />
<strong>de</strong> terça, dia 25, o Bope continuava na<br />
favela. Os corpos, com exceção <strong>de</strong> um,<br />
eram levados pelos próprios policiais<br />
e houve relatos <strong>de</strong> mortos a faca<strong>da</strong>s,<br />
supostamente para evitar barulho <strong>de</strong> tiro,<br />
tendo em vista a presença <strong>da</strong> imprensa na<br />
favela quando o dia clareou. Como o Bope<br />
levou os corpos – inclusive embrulhado em<br />
saco preto segundo testemunhas –, não há<br />
certeza sequer do número exato <strong>de</strong> vítimas.<br />
Reação dos moradores<br />
A ação evi<strong>de</strong>nciou o que uma enorme faixa<br />
já anunciava dias antes no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
nas manifestações que se generalizaram ao<br />
longo do mês <strong>de</strong> junho: ”A polícia que reprime<br />
na aveni<strong>da</strong> é a mesma que mata na favela”.<br />
No centro do Rio, a repressão era com balas<br />
<strong>de</strong> borracha, bombas <strong>de</strong> gás lacrimogêneo<br />
e spray <strong>de</strong> pimenta. Na favela, balas <strong>de</strong><br />
fuzil e outras armas <strong>de</strong> grosso calibre. E foi<br />
exatamente o que aconteceu na noite <strong>de</strong> 24<br />
para 25 na Maré. A diferença <strong>de</strong> tratamento<br />
<strong>de</strong>ixou indignados moradores locais e <strong>de</strong><br />
várias partes do Brasil e do mundo, pois a<br />
imprensa internacional também divulgou o<br />
assunto.<br />
Na Maré, a população foi guerreira. Na<br />
terça (25/06), todos temiam que o Bope<br />
permanecesse aqui por mais uma noite.<br />
Instituições locais <strong>de</strong>cidiram marcar uma<br />
manifestação para as 15h. O objetivo era<br />
conseguir a imediata retira<strong>da</strong> do Bope.<br />
Cerca <strong>de</strong> 500 moradores caminharam do<br />
Parque Maré até o Parque União, gritando<br />
palavras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m contra a ação policial. Abrindo o<br />
protesto estava a faixa: “A polícia que reprime na aveni<strong>da</strong><br />
é a mesma que mata na favela”, que foi trazi<strong>da</strong> para cá<br />
por moradores.<br />
Um dos momentos mais emocionantes foi quando a<br />
população parou a alguns metros do carro blin<strong>da</strong>do <strong>da</strong><br />
polícia, estacionado na Rua Principal, e berrou: “Não,<br />
não, não! Não queremos caveirão!” e “Fora caveirão!”. O<br />
blin<strong>da</strong>do acabou saindo e o grupo, então, extravasou:<br />
“Ão, ão, ão! Expulsamos o caveirão”. Os manifestantes<br />
seguiram <strong>de</strong> volta para a Rua Teixeira Ribeiro, próximo<br />
<strong>da</strong> Av. Brasil, on<strong>de</strong> havia um enorme grupo <strong>de</strong> policiais<br />
e vários blin<strong>da</strong>dos. Houve negociação e finalmente a<br />
notícia <strong>de</strong> que não haveria mais ação policial naquela<br />
noite.<br />
“A polícia não po<strong>de</strong> ser uma polícia que mata. A polícia<br />
tem que garantir segurança para as pessoas, investigar<br />
crimes. Uma polícia que pega uma pessoa cometendo<br />
ato ilícito, ela mesma julga essa pessoa e a con<strong>de</strong>na à<br />
morte, é inaceitável”, afirma Eliana Sousa Silva, diretora<br />
<strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré.<br />
No dia seguinte (26/06), os presi<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong>s Associações<br />
<strong>de</strong> Moradores <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré e representantes<br />
<strong>de</strong> instituições locais, como os postos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, o Uerê, a <strong>Re<strong>de</strong>s</strong>, Observatório e Luta pela Paz,<br />
iniciaram um diálogo com o Comando <strong>de</strong> Operaçõ<br />
es Especiais (COE) <strong>da</strong> PM e também<br />
com o Bope. As reuniões continuam ocorrendo<br />
semanalmente. Entre as reivindicações<br />
estavam a apuração dos excessos cometidos<br />
“A polícia tem que garantir<br />
segurança para as pessoas,<br />
investigar crimes. Uma<br />
polícia que pega uma pessoa<br />
cometendo ato ilícito, ela<br />
mesma julga essa pessoa<br />
e a con<strong>de</strong>na à morte, é<br />
inaceitável”<br />
Eliana Sousa Silva<br />
Francisco Val<strong>de</strong>an<br />
Bhega, morador e músico, canta no ato pela paz, na Av. Brasil<br />
Claudio Duarte Rodrigues, morador baleado no<br />
Parque União: Bope entrou atirando<br />
Caminha<strong>da</strong> dos moradores no dia 25, que expulsou o blin<strong>da</strong>do<br />
Elisângela Leite<br />
Elisângela Leite<br />
Segurança Pública<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013
10 11<br />
Segurança Pública<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
MorgueFile<br />
Elisângela Leite<br />
Moradores relatam como foi a noite dos crimes<br />
“Por volta <strong>da</strong>s onze e meia <strong>da</strong> noite, Eraldo foi atingido por uma bala no rosto. Apenas esse tiro pegou <strong>de</strong>ntro do bar; pra mim não foi<br />
bala perdi<strong>da</strong>. O caveirão passou duas vezes pelo corpo caído na porta do bar, na terceira vez os policiais pararam o caveirão, saíram do<br />
blin<strong>da</strong>do e man<strong>da</strong>ram as pessoas que estavam no bar ir para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um banheiro. Tinha também uma grávi<strong>da</strong>. Os policiais chutavam<br />
as mesas e ca<strong>de</strong>iras e xingavam as pessoas o tempo todo. Man<strong>da</strong>ram apagar as luzes e diziam: ‘Olha a mer<strong>da</strong> que a gente fez’. Os<br />
policiais ain<strong>da</strong> fizeram terror psicológico em um outro funcionário, dizendo que a culpa <strong>da</strong> morte do amigo era <strong>de</strong>le. Com Eraldo, havia<br />
anéis, cordão e uma carteira com documentos e dinheiro. Pegaram o corpo do Eraldo, colocaram um pano na cabeça, colocaram <strong>de</strong>ntro<br />
do caveirão e saíram. Depois, apenas a carteira, sem dinheiro, foi encontra<strong>da</strong>. Além disso, os policiais recolheram várias cápsulas na rua<br />
e também a cápsula que atingiu a vítima.”<br />
Testemunha <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> Eraldo, garçom atingido <strong>de</strong>ntro do bar on<strong>de</strong> trabalhava no Parque União<br />
“Foi <strong>de</strong> manhã que entraram na minha casa, às 8 h. Tiraram<br />
meu filho <strong>da</strong> cama. Meu filho tem problema psiquiátrico e<br />
estava dormindo. Aí ele (policial) disse: “Isso é vagabundo’.<br />
E começou a gritar: ‘Cadê o laudo <strong>de</strong>ssa porra?’. Eu disse<br />
a ele: ‘Vocês estão fazendo o papel <strong>de</strong> vocês, mas tem que<br />
ser <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> lei. Invadiram a minha casa, sem man<strong>da</strong>do,<br />
sem na<strong>da</strong>, nenhuma <strong>de</strong>núncia’. Bagunçaram tudo. Man<strong>da</strong>ram<br />
acor<strong>da</strong>r todo mundo, mas não levaram na<strong>da</strong>. Sei que teve<br />
casa que levaram R$ 300. Ninguém dormiu aqui a noite to<strong>da</strong>,<br />
às 5h <strong>da</strong> manhã ain<strong>da</strong> estavam <strong>da</strong>ndo tiro.”<br />
Moradora que teve a casa invadi<strong>da</strong><br />
“Ouvi os gritos e <strong>de</strong>pois só os gemidos. Não podíamos colocar a cabeça na janela para olhar o que estava acontecendo, se não eles<br />
matavam a gente. Não podíamos nem an<strong>da</strong>r <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa, tive <strong>de</strong> an<strong>da</strong>r <strong>de</strong> quatro até o banheiro porque tive diarreia <strong>de</strong> nervoso. Foi uma<br />
madruga<strong>da</strong> <strong>de</strong> horror. Acho difícil alguém <strong>da</strong> Rua São Jorge ter conseguido dormir naquela noite.”<br />
Moradora <strong>da</strong> Rua São Jorge, no Parque Maré, on<strong>de</strong> três pessoas foram mortas numa mesma casa, segundo a perícia,<br />
e os corpos retirados do local pelo Bope<br />
durante a operação e a exigência <strong>de</strong> que a<br />
polícia não mais atue na favela <strong>de</strong> um jeito<br />
diferente do que faz em outras partes <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, como o centro e a zona sul.<br />
Ato pela paz na Av. Brasil<br />
Uma semana <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> chacina, na terça,<br />
dia 2 <strong>de</strong> julho, cerca <strong>de</strong> 5.500 pessoas<br />
participaram <strong>de</strong> outro momento histórico.<br />
O ato ecumênico “Estado que Mata,<br />
Nunca Mais” em memória aos mortos<br />
reuniu moradores e tam bém pessoas <strong>de</strong><br />
outras partes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, como estu<strong>da</strong>ntes<br />
universitários, funcionários <strong>da</strong> Fiocruz e<br />
artistas, entre eles os atores Paulo Betti e<br />
Enrique Diaz, MC Leonardo, rapper Fiell<br />
e o cantor Bhega, morador do Parque<br />
“Fui reivindicar nossos direitos. Não adianta ficar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
casa, achando que as outras pessoas vão fazer isso por nós“<br />
Lenice, moradora <strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong> que foi ao ato com o marido e a filha <strong>de</strong> 8 anos<br />
A<strong>de</strong>mir <strong>da</strong> Silva Lima, <strong>de</strong> 29 anos,<br />
André Gomes <strong>de</strong> Souza Júnior, <strong>de</strong> 16 anos,<br />
Carlos Eduardo Silva Pinto, <strong>de</strong> 23 anos,<br />
“Quando chegaram lá em cima, falaram pro meu filho e pro meu<br />
genro: ‘Se eu achar qualquer coisa, eu vou matar vocês’. Quando<br />
<strong>de</strong>sceram, me man<strong>da</strong>ram fechar a porta. Eu ri e perguntei: ‘Que porta<br />
eu vou fechar? Eu sou assalaria<strong>da</strong>, como eu vou fazer com a porta?’<br />
Ele tirou R$ 180 e me <strong>de</strong>u. Mas a porta nova foi R$ 380. Os policiais<br />
entraram no início <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> e ficaram até o dia amanhecer.<br />
Mas não vou <strong>da</strong>r queixa na <strong>de</strong>legacia, sabe por quê? Conforme<br />
eles puxavam a arma, eles batiam foto dos meninos <strong>da</strong>qui <strong>de</strong> casa.<br />
Tiraram fotos <strong>da</strong> gente. Então, eu vou <strong>de</strong>nunciar pra quê?”<br />
Morador que teve a porta arromba<strong>da</strong> e a casa invadi<strong>da</strong> por cerca <strong>de</strong> 15<br />
policiais que usaram a sua laje como base durante a operação<br />
União. Organizado por um coletivo <strong>de</strong> 26<br />
instituições, o ato aconteceu na Av. Brasil,<br />
na altura <strong>da</strong> Passarela 9, e fechou a pista<br />
lateral <strong>de</strong> subi<strong>da</strong> por cerca <strong>de</strong> uma hora.<br />
Tudo transcorreu na paz.<br />
O casal Dilson e Lenice, moradores <strong>da</strong><br />
Nova Holan<strong>da</strong>, fez questão <strong>de</strong> comparecer<br />
e ain<strong>da</strong> levou a filha <strong>de</strong> 8 anos. “Fui<br />
reivindicar nossos direitos. Não adianta<br />
ficar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa, achando que as outras<br />
pessoas vão fazer isso por nós”, ressalta<br />
ela. O marido acrescenta que o momento<br />
é <strong>de</strong> união para que no futuro essas<br />
arbitrarie<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Estado não aconteçam<br />
mais com os seus filhos. “Temos que lutar<br />
pelos nossos direitos”, aconselha ele.<br />
Para a presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Associação <strong>de</strong><br />
Moradores <strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong>, Andrea<br />
<strong>de</strong> Matos, “a Maré mostrou que <strong>de</strong>seja<br />
respeito, paz e mais oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para<br />
todos os seus ci<strong>da</strong>dãos”.<br />
Para saber mais, acesse www.re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br ou siga a <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> no facebook e no twitter: @re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.<br />
Em memória <strong>de</strong>:<br />
Ednelson dos Santos, <strong>de</strong> 42 anos,<br />
Eraldo Santos <strong>da</strong> Silva, <strong>de</strong> 35 anos,<br />
Fabrício Souza Gomes, <strong>de</strong> 26 anos,<br />
Jonatha Farias <strong>da</strong> Silva, <strong>de</strong> 16 anos<br />
José Everton Silva <strong>de</strong> Oliveira, <strong>de</strong> 21 anos,<br />
Renato Alexandre Mello <strong>da</strong> Silva, <strong>de</strong> 39 anos,<br />
Roberto Alves Rodrigues.<br />
Fuzil: no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não,<br />
mas na favela sim?!<br />
Por Eliana Sousa Silva - Diretora <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré e <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Integração Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> PR-5 – UFRJ<br />
“Fuzil <strong>de</strong>ve ser utilizado em guerra, em<br />
operações policiais em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
e favelas. Não é uma arma para se<br />
utilizar em área urbana”.<br />
Este comentário foi feito pelo consultor<br />
<strong>de</strong> segurança pública Rodrigo Pimentel,<br />
durante o telejornal RJ TV 1ª edição <strong>de</strong> 18<br />
<strong>de</strong> junho. Ele foi feito <strong>de</strong> forma natural, ao<br />
analisar a imagem <strong>de</strong> um policial militar com<br />
uma metralhadora atirando para o alto, mas<br />
na direção <strong>de</strong> manifestantes que praticavam<br />
ações violentas em frente à Assembléia<br />
Legislativa do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ele ressalta<br />
o <strong>de</strong>spreparo do profissional <strong>da</strong> segurança<br />
pública, chamando a atenção para o fato <strong>de</strong><br />
que “o tiro, do mesmo jeito que vai para o<br />
alto, <strong>de</strong>sce e po<strong>de</strong> atingir <strong>de</strong> maneira letal<br />
qualquer pessoa.”<br />
A observação do atual comentarista<br />
<strong>da</strong> área <strong>da</strong> segurança pública <strong>da</strong> Re<strong>de</strong><br />
Globo <strong>de</strong>monstra o pensamento <strong>de</strong> parte<br />
significativa <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, com ênfase<br />
para os governantes, sobre como as políticas<br />
públicas são i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong>s e efetiva<strong>da</strong>s a<br />
partir <strong>de</strong> uma visão hierarquiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e dos ci<strong>da</strong>dãos. No caso <strong>da</strong> reportagem,<br />
a afirmação <strong>de</strong> que a metralhadora não<br />
po<strong>de</strong>ria ser utiliza<strong>da</strong> numa cena urbana <strong>de</strong><br />
protestos, mas na favela ou em situação <strong>de</strong><br />
guerra sim, ilustra como o valor a vi<strong>da</strong> na<br />
nossa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do território ou<br />
<strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong>s quais estamos falando.<br />
Afinal, o que <strong>de</strong>fine a diferença fun<strong>da</strong>mental<br />
para o uso do fuzil, quando estamos falando<br />
<strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>? E, ressaltese,<br />
no caso <strong>da</strong>s favelas, temos ci<strong>da</strong>dãos<br />
que não têm garantido o direito elementar<br />
no campo <strong>de</strong> segurança pública.<br />
É triste precisar afirmar algo tão óbvio: que<br />
não se justifica em passeatas ou nas favelas<br />
a utilização <strong>de</strong> armas pesa<strong>da</strong>s, tampouco<br />
as violências policiais características <strong>da</strong>s<br />
últimas manifestações pelo país afora, e<br />
historicamente nas favelas.<br />
Rodrigo Pimentel entrou aos 18 anos para a<br />
Polícia Militar do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Trabalhou<br />
como capitão do Bope, durante 5 anos e<br />
ganhou notorie<strong>da</strong><strong>de</strong> pela participação no<br />
documentário “Notícias <strong>de</strong> uma Guerra<br />
Particular” e outros filmes vinculados à favela<br />
e aos grupos criminosos. Deixou a polícia<br />
para se <strong>de</strong>dicar ao trabalho profissional <strong>de</strong><br />
analista <strong>de</strong> segurança pública.<br />
O que estarrece é o fato <strong>de</strong> serem as opiniões<br />
e análises <strong>de</strong>sse profissional consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s<br />
um bom parâmetro para se enten<strong>de</strong>r o<br />
que acontece na segurança pública do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. É a partir <strong>de</strong> visões como a<br />
apresenta<strong>da</strong> por Rodrigo Pimentel que se<br />
sedimentam juízos perversos e estereotipados<br />
sobre as favelas e quem ali resi<strong>de</strong>.<br />
Quando realizei pesquisa <strong>de</strong> doutorado<br />
em 2009 no campo <strong>da</strong> segurança<br />
pública, tive como motivação enten<strong>de</strong>r as<br />
práticas dos policiais militares nas favelas,<br />
especificamente na Maré. As questões ali<br />
propostas, e várias ain<strong>da</strong> me acompanham,<br />
se relacionam <strong>de</strong> maneira direta com a fala<br />
do citado comentarista.<br />
O meu intuito e <strong>de</strong>sejo como alguém que<br />
cresceu e se socializou na favela era o<br />
<strong>de</strong> construir um quadro interpretativo <strong>da</strong>s<br />
práticas cotidianas presentes na Maré,<br />
em especial as violentas, que permitisse ir<br />
além <strong>da</strong>s representações hegemônicas no<br />
mundo social carioca e brasileiro sobre a<br />
violência estabeleci<strong>da</strong> nas favelas do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro. Dessas, duas estão diretamente<br />
relaciona<strong>da</strong>s com a fala <strong>de</strong> Pimentel: “Quais<br />
seriam as representações, valores, princípios<br />
e regras que têm orientado as práticas dos<br />
profissionais <strong>da</strong> segurança pública, quando<br />
se trata do trabalho junto às populações mais<br />
pobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro?” e “As<br />
experiências e representações dominantes<br />
nas organizações do Estado, na mídia,<br />
na população em geral, estão centra<strong>da</strong>s<br />
na idéia <strong>de</strong> que a única possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
enfrentamento dos grupos criminosos<br />
passa, necessariamente, por uma opção<br />
sustenta<strong>da</strong> em práticas também violentas?”<br />
A fala <strong>da</strong>quele comentarista é simplesmente<br />
a expressão <strong>de</strong> uma lógica perversa, violenta<br />
e irracional dissemina<strong>da</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e nas forças do Estado, que enxergam a<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e as populações <strong>da</strong>s favelas<br />
como “problemas” a serem eliminados e não<br />
como sujeitos <strong>de</strong> direitos que <strong>de</strong>vem ser<br />
reconhecidos e respeitados.<br />
Apesar dos dizeres do cartaz, instituições <strong>da</strong> Maré iniciaram diálogo com<br />
a polícia pedindo o fim <strong>da</strong>s operações truculentas<br />
Elisângela Leite<br />
ARTIGO<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013
12 13<br />
ESPORTE<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
Vai correndo tudo bem<br />
Neste mês <strong>de</strong> julho, a equipe <strong>de</strong> corri<strong>da</strong> Maré Esporte completa dois anos.<br />
Eles tinham apenas vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr e hoje contam com a estrutura e a<br />
parceria <strong>da</strong> Vila Olímpica <strong>da</strong> Maré<br />
Para participar <strong>de</strong> competições e viajar, os<br />
atletas contam com recursos próprios, não<br />
há patrocínio. Em algumas competições<br />
conseguem isenção.<br />
Correndo 24h<br />
Paulo José <strong>da</strong> Silva, 46 anos, começou a correr<br />
em 2005, e reconhece que a primeira corri<strong>da</strong><br />
foi um martírio. Hoje, diz que não vai parar<br />
mais e que começa a gostar <strong>da</strong> corri<strong>da</strong> só após<br />
percorrer 15 km. Hoje ele está se preparando<br />
para a Maratona 24h. “Já participei <strong>de</strong>sta competição<br />
em 2011 (quando fez 137 km num dia,<br />
parando para refeições e i<strong>da</strong>s ao banheiro). O<br />
objetivo <strong>da</strong> corri<strong>da</strong> é ficar mais tempo na pista e<br />
fazer o maior percurso em 24h”, explica.<br />
A equipe sofre com a não renovação dos atletas.<br />
A média <strong>de</strong><br />
i<strong>da</strong><strong>de</strong> dos competidores<br />
é <strong>de</strong> 40 anos.<br />
A mais nova tem 30<br />
anos, o mais velho<br />
tem 71 anos. Para<br />
Paulo, se a Maré<br />
tivesse uma pista<br />
<strong>de</strong> atletismo <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, como possui a Vila<br />
Olímpica <strong>da</strong> Mangueira, os mais novos se<br />
interessariam pelo esporte.<br />
Em visita à Maré, o secretário <strong>de</strong> Esportes<br />
e Lazer, Índio <strong>da</strong> Costa, foi questionado<br />
pelos maratonistas sobre a construção <strong>da</strong><br />
pista <strong>de</strong> corri<strong>da</strong> <strong>da</strong> VOM. Segundo o grupo,<br />
o secretário explicou que seria necessário<br />
investir cerca <strong>de</strong> R$ 5 milhões para a obra e<br />
que no momento é inviável.<br />
Quer participar <strong>da</strong> equipe?<br />
É preciso passar por uma avaliação<br />
médica. Em segui<strong>da</strong>, procure a<br />
coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> atletismo <strong>da</strong> Vila<br />
Olímpica <strong>da</strong> Maré <strong>de</strong> terça a sexta-feira,<br />
<strong>da</strong>s 9h às 16h.<br />
Esporte<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
Rosilene Miliotti<br />
Roberta Araujo,<br />
autônoma, 31<br />
anos e moradora<br />
<strong>da</strong> Nova Holan<strong>da</strong>,<br />
começou<br />
a correr <strong>de</strong>pois<br />
que ouviu a frase:<br />
“Casou, teve filho e se acomodou”. Na<br />
época, ela pesava 90 kg. Tomou coragem,<br />
começou a caminhar e fazer dieta. Um dia,<br />
tentou correr e percorreu meia pista <strong>da</strong> Vila<br />
Olímpica <strong>da</strong> Maré (VOM). No dia seguinte,<br />
conseguiu um pouco mais, começou a<br />
fazer amiza<strong>de</strong> com os outros corredores e<br />
passou a correr três vezes ao dia. “Cheguei<br />
a pesar 56 kg, mas fiquei muito magra. Em<br />
2011, completei minha primeira maratona<br />
(42 km) em 5 horas. Uma vitória”, afirma a<br />
corredora, que hoje pesa 62 kg e é atleta<br />
do Maré Esporte.<br />
Os 38 atletas do Maré Esporte, grupo que existe<br />
há três anos, participam <strong>de</strong> maratonas pela<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e até <strong>da</strong> São Silvestre, em São Paulo, uma<br />
<strong>da</strong>s corri<strong>da</strong>s mais famosas do mundo. Fora <strong>da</strong>s<br />
pistas <strong>de</strong> corri<strong>da</strong>, eles ganham a vi<strong>da</strong> nas mais<br />
diferentes profissões: enfermeiro, camelô, agente<br />
penitenciário, aposentado, mecânico, estofador,<br />
diarista, entre outros.<br />
Eles correm pelo menos duas horas por dia. E<br />
quando um atleta não aparece, os outros ficam<br />
preocupados. Os treinos acontecem às terças e<br />
quintas na piscina e quartas e sextas na pista <strong>de</strong><br />
corri<strong>da</strong>. Segun<strong>da</strong> é dia <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, mas nos<br />
fins <strong>de</strong> semana eles participam <strong>de</strong> competições<br />
e, só para não enferrujar, correm cerca <strong>de</strong> 15 km.<br />
A equipe foi batiza<strong>da</strong><br />
com o nome<br />
Maré Esporte, no<br />
Aterro do Flamengo,<br />
após uma<br />
corri<strong>da</strong>. “Nos conhecemos<br />
pelas<br />
competições, correndo<br />
na Maré e na<br />
Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Universitária ao longo <strong>de</strong> vários anos”,<br />
explica William Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira, 36 anos,<br />
guar<strong>da</strong> municipal e morador <strong>da</strong> Vila do Pinheiro.<br />
Equipe faz sucesso<br />
Para William, a Maré ain<strong>da</strong> é conheci<strong>da</strong> como um<br />
lugar violento e <strong>de</strong> pobreza. “Um dos objetivos <strong>da</strong><br />
equipe é mostrar que a Maré é muito mais do que<br />
violência. Em to<strong>da</strong>s as competições nós somos<br />
aplaudidos e convi<strong>da</strong>dos a participar sempre”,<br />
diz William, que aproveita para reivindicar mais<br />
investimento do po<strong>de</strong>r público na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
“A re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto está <strong>de</strong>fasa<strong>da</strong> e os jovens não<br />
tem escola técnica aqui”, afirma.<br />
Antonio Alves <strong>da</strong> Silva Filho, 62 anos, compete na<br />
categoria 60 a 64 anos e este ano vai participar<br />
pela 30ª vez <strong>de</strong> uma maratona. Ele já participou<br />
<strong>de</strong> competições na Favela do Pinto (comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
situa<strong>da</strong> no Leblon,<br />
<strong>de</strong>struí<strong>da</strong> pelo governo<br />
nos anos 1960);<br />
na primeira corri<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> Ponte, em 1983; e<br />
na meia maratona na<br />
Barra, em 1982, quando<br />
ain<strong>da</strong> nem tinha ciclovia.<br />
“Fui atleta <strong>da</strong> Marinha, morava na Baixa do<br />
Sapateiro e treinava muito no Fundão. Na época,<br />
essa área não era aterra<strong>da</strong>. Antes <strong>da</strong> Vila Olímpica<br />
tinha uma ciclovia aqui. Aí fomos conhecendo as<br />
pessoas que iam para competições e formando<br />
equipes. Essa é a terceira equipe <strong>de</strong> corri<strong>da</strong><br />
forma<strong>da</strong> na Maré”, conta o veterano.<br />
Antonio participa <strong>de</strong> competições na categoria<br />
Master e já ganhou várias corri<strong>da</strong>s. No geral,<br />
sempre chega entre os 50 primeiros <strong>de</strong> sua<br />
categoria. Ele lembra que, há muitos anos, os<br />
moradores <strong>da</strong> Maré já realizaram um evento<br />
<strong>de</strong> corri<strong>da</strong> na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e que até hoje as<br />
pessoas perguntam se vai ter novamente.<br />
Antonio, na corri<strong>da</strong> <strong>da</strong> ponte, em 1983<br />
Arquivo Antonio Silva<br />
Antonio, correndo na Praia <strong>de</strong> Inhaúma em 1981. Ao fundo, on<strong>de</strong> estão as árvores,<br />
é o local on<strong>de</strong> foi construí<strong>da</strong> a Vila do Pinheiro
14 15<br />
Favela Rock<br />
CULTURA<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
Elisângela Leite<br />
Lona cultural<br />
Herbert Vianna<br />
entra<strong>da</strong> gratuita<br />
Gastronomia e Gênero<br />
A partir <strong>de</strong> 16 anos<br />
3 as , <strong>de</strong> 14 às 16h -<br />
4 as , <strong>de</strong> 9h às 12h ou <strong>de</strong> 13 às 16h<br />
Prof.: Marianna Aleixo<br />
PROGRAME-SE!<br />
Veja a programação completa<br />
em www.re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br<br />
Ro<strong>da</strong> <strong>de</strong> Samba<br />
Sábado, 13/07, 18h<br />
Com o Grupo Nova Raiz<br />
Divulgação<br />
Maré <strong>de</strong> Humor<br />
Sexta, 19/07, 21h<br />
Com Diogo Santos,<br />
apresentando personagens<br />
do cotidiano <strong>da</strong> Maré<br />
Oficinas com inscrições abertas<br />
Dança <strong>de</strong> salão<br />
A partir <strong>de</strong> 16 anos<br />
Sáb., 18 às 20h<br />
Prof.: Roberto Queiróz<br />
Divulgação /Rosana Rose<br />
Oficina <strong>de</strong> MC’s<br />
A partir <strong>de</strong> 12 anos<br />
2 as e 4 as , <strong>de</strong> 15 às 17h<br />
Prof.: Succo Emici<br />
Sexta, 26/07, 21h<br />
Com as ban<strong>da</strong>s Alogia e Andrea’s Vintage<br />
Andrea’s Vintage, cover <strong>de</strong> Iron Mai<strong>de</strong>n<br />
Desenho Básico<br />
A partir <strong>de</strong> 10 anos<br />
2 as , <strong>de</strong> 10 às 12h<br />
Prof.: Jandir Leite<br />
Ban<strong>da</strong> Alogia<br />
Artesanato<br />
(Módulo I: Fuxico)<br />
A partir <strong>de</strong> 12 anos<br />
2 as , <strong>de</strong> 8h às 10h<br />
Prof.: Jandir Leite<br />
Olha a chuvaaaa!<br />
Por to<strong>da</strong> a Maré, nas ruas, becos e vielas ocorrem festas juninas. O ensaio fotográfico<br />
aqui apresentado, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Francisco Val<strong>de</strong>an, mostra festas ocorri<strong>da</strong>s na Baixa<br />
do Sapateiro e no Morro do Timbau<br />
Francisco Val<strong>de</strong>an<br />
Grupo Forrobodó<br />
em apresentação<br />
na festa do Morro<br />
do Timbau<br />
Cultura<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
cultura<br />
R. Ivanildo Alves, s/n - Nova Maré Tels.: 3105-6815 / 7871-7692<br />
lona<strong>da</strong>mare@gmail.com FACE: Lona <strong>da</strong> Maré Twitter: @lona<strong>da</strong>mare<br />
O CAM e a Escola Livre <strong>de</strong> Dança<br />
<strong>da</strong> Maré retomam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
regulares no dia 5 <strong>de</strong> agosto. Em<br />
julho haverá somente a oficina do<br />
Maré <strong>de</strong> Fronteiras e o Teatro em<br />
Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
oficinas regulares<br />
R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holan<strong>da</strong><br />
Programação no local ou pelo tel. 3105-7265<br />
Grupo Ração Junina<br />
em apresentação no<br />
Morro do Timbau, on<strong>de</strong><br />
a festa foi organiza<strong>da</strong><br />
por comerciantes<br />
locais, com apoio<br />
<strong>da</strong> associação <strong>de</strong><br />
Moradores <strong>da</strong> Baixa do<br />
Sapateiro<br />
Grupo Chico Halley em<br />
apresentação na Baixa<br />
do Sapateiro, on<strong>de</strong> a festa<br />
também foi organiza<strong>da</strong> por<br />
comerciantes locais com<br />
o Apoio <strong>da</strong> Associação <strong>de</strong><br />
Moradores <strong>da</strong> Baixa do<br />
Sapateiro<br />
Grupo Isto<br />
é Show se<br />
apresenta<br />
na Baixa do<br />
Sapateiro<br />
Dia 18 <strong>de</strong> julho, <strong>da</strong>s 10h às 15h, tem “festa julina” do Centro <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> Mulheres <strong>da</strong> Maré – Carminha Rosa (CRMM),<br />
com comi<strong>da</strong>s típicas, brinca<strong>de</strong>iras, <strong>da</strong>nças e oficina <strong>de</strong> grafite. Na Rua 17, s/nº, Vila do João.
16<br />
Maré <strong>de</strong> Notícias N o 43 - julho / 2013<br />
Segurança Pública<br />
PÁGINA<br />
16Imagens do Ato em Memória aos Mortos<br />
na Maré, que reuniu mais <strong>de</strong> 5 mil pessoas.<br />
Fotos: Elisângela Leite