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Leiloar em tempos de crise - Palácio do Correio Velho

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Tirag<strong>em</strong>: 19667<br />

Pág: 16<br />

País: Portugal<br />

Cores: Preto e Branco<br />

Period.: S<strong>em</strong>anal<br />

Área: 26,48 x 37,48 cm²<br />

ID: 36622705<br />

REPORTAGEM<br />

22-07-2011 | Outlook<br />

Âmbito: Economia, Negócios e.<br />

Corte: 1 <strong>de</strong> 2<br />

<strong>Leiloar</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> <strong>crise</strong><br />

Ao contrário <strong>do</strong> que se pensa os leilões <strong>de</strong> arte são para todas as carteiras. Em t<strong>em</strong>pos<br />

<strong>de</strong> <strong>crise</strong> há (muito) boas oportunida<strong>de</strong>s. Para entrar neste mun<strong>do</strong>, basta aparecer com BI<br />

e NIF. E claro algum dinheiro<br />

TEXTO MAFALDA DE AVELAR / FOTOS JOÃO PAULO DIAS<br />

Oque é que um martelo e uma<br />

raquete têm <strong>em</strong> comum?<br />

Têm o inesgotável po<strong>de</strong>r, <strong>em</strong><br />

leilão, <strong>de</strong> funcionar como<br />

bolsa <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> alguns<br />

conceitua<strong>do</strong>s artistas e <strong>de</strong><br />

muitos estilos <strong>de</strong> arte. Mas mais ainda: têm<br />

o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dar a uns o que já foi <strong>de</strong> outros.<br />

Tu<strong>do</strong> isto a um preço que reflecte a dita lei da<br />

oferta e da procura. Uma equação <strong>em</strong> que “a<br />

pessoa é que faz o preço”, como refere João<br />

Pinto Ribeiro, proprietário <strong>de</strong> “O Palácio <strong>do</strong><br />

<strong>Correio</strong> <strong>Velho</strong>”,uma das gran<strong>de</strong>s leiloeiras<br />

nacionais. Uma lei económica on<strong>de</strong> os in<strong>do</strong>máveis<br />

espíritos animais keynesianos <strong>de</strong><br />

vez enquanto também aparec<strong>em</strong> – para subir<br />

“paradas”; mas on<strong>de</strong> às vezes a falta <strong>de</strong><br />

liqui<strong>de</strong>z leva a que uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> pau santo<br />

não seja valorizada ou a que um belo quadro<br />

não tenha lugar na pare<strong>de</strong> lá <strong>de</strong> casa – por<br />

mais bonita que seja a paisag<strong>em</strong>.<br />

Ocenárioestánegroeéindiscutívelque<br />

o país vive momentos <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>s. Mas é nas<br />

<strong>crise</strong>s que surg<strong>em</strong> as oportunida<strong>de</strong>s. E isso<br />

po<strong>de</strong> ser constata<strong>do</strong> pelo valor arrecada<strong>do</strong><br />

neste leilão: “Não contan<strong>do</strong> com as peças<br />

O leilão <strong>de</strong><br />

antiguida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> antiquário<br />

José Rosa<br />

arreca<strong>do</strong>u<br />

650.000 euros.<br />

Abriram-se 366<br />

raquetes<br />

<strong>de</strong> licitação<br />

e a visitar<br />

a exposição<br />

estiveram 2000<br />

visitantes<br />

retiradas que representaram 9% da colecção,<br />

o leilão arreca<strong>do</strong>u <strong>de</strong> martelo 650 mil<br />

euros, ou seja 40% acima <strong>do</strong> que esperávamos<br />

e não contabilizan<strong>do</strong> as obras não<br />

vendidas.” Para os responsáveis <strong>de</strong>ste leilão<br />

isto <strong>de</strong>ve-se a três factores: por ser uma<br />

colecção <strong>de</strong> um antiquário da velha guarda,<br />

pelo trabalho <strong>de</strong> preparação <strong>do</strong> leilão e<br />

porque “nos t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os é<br />

cada vez menos perceptível on<strong>de</strong> investir<br />

as poupanças e o nosso dinheiro, e os objectos<br />

<strong>de</strong> arte são s<strong>em</strong>pre um refúgio seguro.<br />

Achamos que qu<strong>em</strong> investe nesta área<br />

está seguramente a fazer bons negócios. E<br />

para qu<strong>em</strong> há 30 anos investiu e <strong>de</strong>sfrutou<br />

das obras e por motivos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

capital as ven<strong>de</strong> também realizou um bom<br />

investimento.”<br />

ECONÓMICO ACOMPANHA LEILÃO<br />

Eram 16 horas, da passada segunda–feira.<br />

Faltava apenas um dia para o início <strong>de</strong> um<br />

leilãoespecialdacolecção<strong>do</strong>AntiquárioJosé<br />

Rosa, que arrancaria na quarta-feira. O<br />

Palácio <strong>do</strong> <strong>Correio</strong> <strong>Velho</strong>, <strong>em</strong> Lisboa, estava<br />

cheio <strong>de</strong> visitantes. Pessoas, comuns, que<br />

procuravam observar a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s artigos<br />

que viriam a ser leiloa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>do</strong>is dias,<br />

dada a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obras <strong>do</strong> Antiquário.<br />

“Venho aqui porque gosto <strong>de</strong> ver peças antigas<br />

e boas”, diz Maria Eugénia, acrescentan<strong>do</strong><br />

“já comprei, já licitei, nunca vendi.”<br />

Uma afirmação que não po<strong>de</strong> ser dita por alguns<br />

visitantes, que com uma pequena tristeza<br />

no olhar têm que saber gerir a <strong>em</strong>oção<br />

<strong>de</strong> explosivo cocktail, que é bebi<strong>do</strong> <strong>de</strong> estômago<br />

vazio por qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> que ven<strong>de</strong>r.<br />

“Não, não quero dar a cara”, foge um anónimo<br />

<strong>do</strong> grava<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Económico, quan<strong>do</strong><br />

constata que estavam jornalistas na sala.<br />

Debaixo <strong>do</strong> braço transportava, <strong>de</strong>vidamente<br />

<strong>em</strong>brulha<strong>do</strong>, um quadro. Aquele<br />

quadro não era para ir a leilão. Porém na<br />

entrada comum da leiloeira encontrámos,<br />

por mero acaso, qu<strong>em</strong> ia levantar bens, que<br />

adquiriu <strong>em</strong> leilões anteriores, e qu<strong>em</strong> ia<br />

levar bens para ser<strong>em</strong> leiloa<strong>do</strong>s.<br />

A pintura não foi vista mas o rosto <strong>de</strong> Sr.<br />

anónimo não escondia algum incómo<strong>do</strong>.<br />

Ainda assim comentou “ estou aqui porque<br />

tenho muita coisa que her<strong>de</strong>i ao longo <strong>do</strong>s<br />

anos e neste momento estou a tentar <strong>de</strong>s-<br />

À esquerda, João Pinto<br />

Ribeiro, proprietário <strong>de</strong><br />

“O Palácio <strong>do</strong> <strong>Correio</strong> <strong>Velho</strong>,<br />

Leilões e Antiguida<strong>de</strong>s, S.A.,<br />

funda<strong>do</strong><strong>em</strong>1989.Àdireita,<br />

vista geral <strong>de</strong> uma das<br />

inúmeras salas <strong>do</strong> Palácio que<br />

estiveram abertas durante<br />

<strong>do</strong>is dias para visita. O leilão<br />

<strong>de</strong>correu nas passadas quarta<br />

e quinta feiras. Foram<br />

arrecada<strong>do</strong>s 650 mil euros.<br />

Em baixo: jóias, um <strong>do</strong>s bens<br />

que - tal como o ouro e a<br />

prata - estão <strong>em</strong> alta.


Tirag<strong>em</strong>: 19667<br />

Pág: 17<br />

País: Portugal<br />

Cores: Cor<br />

Period.: S<strong>em</strong>anal<br />

Área: 27,23 x 35,48 cm²<br />

ID: 36622705<br />

22-07-2011 | Outlook<br />

Âmbito: Economia, Negócios e.<br />

Corte: 2 <strong>de</strong> 2<br />

fazer-me <strong>de</strong> coisas que não me diz<strong>em</strong><br />

nada”, afirma este senhor (b<strong>em</strong> posto) que<br />

<strong>de</strong>ixa escapar que ven<strong>de</strong> “algumas obras<br />

por uma questão <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z financeira.”<br />

Com alguma liqui<strong>de</strong>z mensal <strong>de</strong>stinada a<br />

estes investimentos, Fernan<strong>do</strong> Penha Coutinho,<br />

partilha que “hoje aproveitei para ver<br />

a exposição <strong>do</strong> próximo leilão e ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po levantar obras que adquiri”. Penha<br />

Coutinho, que estava acompanha<strong>do</strong> pela<br />

sua mulher, é a prova <strong>de</strong> que se pod<strong>em</strong> fazer<br />

bons negócios recorren<strong>do</strong> a uma leiloeira.<br />

Levou para casa nove livros <strong>de</strong> escritores <strong>de</strong><br />

“ gran<strong>de</strong> valia” por 208 euros.<br />

Nos corre<strong>do</strong>res da leiloeira o interesse era,<br />

a um dia <strong>do</strong> leilão, a palavra <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> para<br />

os visitantes <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s, nacionalida<strong>de</strong>s<br />

e conhecimentos E encontrámos <strong>de</strong><br />

tu<strong>do</strong>: até qu<strong>em</strong> ia, provavelmente pago,<br />

para dar um parecer microscópico <strong>de</strong> especialista<br />

<strong>em</strong> arte.<br />

DOIS DIAS DEPOIS…<br />

O Económico foi participar no segun<strong>do</strong> dia<br />

<strong>do</strong> leilão. Resulta<strong>do</strong>: fascinante. É assim que<br />

se <strong>de</strong>fine um leilão <strong>de</strong> arte, on<strong>de</strong> ao contrário<br />

<strong>do</strong> que se possa pensar exist<strong>em</strong> peças a<br />

ser<strong>em</strong> leiloadas por 30 euros; e outras, que<br />

s<strong>em</strong> ofertas <strong>de</strong> compra, são adquiridas por<br />

valores inferiores ao preço base. Mas essa<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> baixar o preço <strong>de</strong> licitação cabe a<br />

uma pessoa só: ao presi<strong>de</strong>nte da mesa e <strong>do</strong><br />

leilão. João Pinto Ribeiro presidia a mesa la<strong>de</strong>a<strong>do</strong><br />

por mais seis el<strong>em</strong>entos da sua equipa.<br />

O cenário era imponente. As personagens,<br />

<strong>em</strong> silêncio, eram autênticas águias,<br />

que com os olhos b<strong>em</strong> abertos procuravam<br />

adquirir o tal b<strong>em</strong>. Além <strong>do</strong> público, que levantan<strong>do</strong><br />

uma raquete lança propostas, ao<br />

telefone com clientes que iam fazen<strong>do</strong> ofertas<br />

encontravam-se cinco colabora<strong>do</strong>res da<br />

entida<strong>de</strong>. A mostrar as peças, mais três. E lá<br />

fora, no mesmo guiché on<strong>de</strong> foi feita a inscrição<br />

no leilão (on<strong>de</strong> são pedi<strong>do</strong>s apenas BI<br />

e NIF), <strong>do</strong>is colabora<strong>do</strong>res a recepcionar,<br />

<strong>do</strong>is a <strong>em</strong>brulhar e um a filmar. Um belo filme,comargumentoimprevisível,compersonagens<br />

principais muito b<strong>em</strong> articuladas<br />

e comsecundáriosmuitodistintos:unsloucos<br />

por comprar a bons preço - “à procura<br />

da dita oportunida<strong>de</strong>”, outros a tentar<strong>em</strong><br />

avaliar “o que têm lá <strong>em</strong> casa” e outros ainda<br />

para adquirir<strong>em</strong> aquilo que era <strong>de</strong>les.<br />

Esse foi o caso da viúva <strong>de</strong> José Rosa, que<br />

também marcou lugar no leilão.<br />

O Económico foi<br />

participar no<br />

segun<strong>do</strong> dia <strong>do</strong><br />

leilão. Resulta<strong>do</strong>:<br />

Fascinante. É assim<br />

que se <strong>de</strong>fine<br />

um leilão <strong>de</strong> arte,<br />

on<strong>de</strong> ao contrário<br />

<strong>do</strong> que se po<strong>de</strong><br />

pensar exist<strong>em</strong><br />

peças a ser<strong>em</strong><br />

leiloadas por 30<br />

euros; e outras,<br />

que s<strong>em</strong> ofertas<br />

<strong>de</strong> compra,<br />

são adquiridas por<br />

valores inferiores<br />

ao preço base<br />

SEBASTIÃO,<br />

O SUCESSOR<br />

Viveu 11 anos fora. Estu<strong>do</strong>u Arte,<br />

tirou um MBA, trabalhou na banca<br />

internacional e ganhou <strong>do</strong>is prémios<br />

como melhor PR <strong>em</strong> Londres.<br />

Hoje está <strong>de</strong> volta.<br />

Sebastião Pinto Ribeiro é o segun<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> quatro filhos (e o único rapaz)<br />

<strong>de</strong> João Pinto Ribeiro,<br />

proprietário <strong>de</strong> uma das maiores<br />

leiloeiras portuguesas - a leiloeira<br />

<strong>de</strong> “O Palácio <strong>do</strong> <strong>Correio</strong> <strong>Velho</strong>”,<br />

entida<strong>de</strong> que existe no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1989. Com 32 anos Sebastião,<br />

que é reconheci<strong>do</strong> pelo seu largo<br />

sorriso, resolveu voltar para Portugal<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um telefon<strong>em</strong>a <strong>do</strong> seu pai<br />

<strong>em</strong> que o mesmo lhe transmitiu<br />

que precisava <strong>de</strong> ajuda na gestão<br />

<strong>do</strong> negócio <strong>de</strong> família – e “ninguém<br />

melhor que os familiares po<strong>de</strong> fazer<br />

isto”. Voltou. E hoje é Director-Geral<br />

da <strong>em</strong>presa, on<strong>de</strong> preten<strong>de</strong> inovar<br />

diariamente no mun<strong>do</strong> da arte.<br />

Universo on<strong>de</strong> nasceu e cresceu.<br />

Um mun<strong>do</strong> que resolveu explorar,<br />

estudan<strong>do</strong> a tão <strong>de</strong>licada arte,<br />

e simultaneamente tentan<strong>do</strong> adquirir<br />

conhecimentos <strong>de</strong> gestão. “Daí que<br />

tenha tira<strong>do</strong> um MBA”, diz.<br />

Em Londres trabalhou na Banca<br />

e foi Public Relations. Uma mistura<br />

<strong>de</strong> experiências pessoais<br />

e profissionais que faz<strong>em</strong> (toda)<br />

a diferença na hora <strong>de</strong> gerir<br />

um negócio on<strong>de</strong> a arte<br />

e as finanças se cruzam. Com um tom<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>, Sebastião confessa<br />

que “a arte <strong>do</strong> negócio e o mun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s negócios na arte são duas<br />

vertentes que consegui juntar.”<br />

Por isso, conclui, “era impossível<br />

estar num outro sítio.”

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