António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT
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e bem, foi marcada uma agenda de reformas, foram feitas coisas<br />
muito positivas, designadamente na Administração Pública.<br />
Mudou-se o estatuto do funcionalismo público, houve um conjunto<br />
de medidas legislativas positivas, mas a reforma não foi tão<br />
fundo como devia ter ido.<br />
E podia?<br />
Essa é uma boa questão, é uma questão política, uma questão<br />
social. O processo é complicado, como se viu na educação e na<br />
saúde, mas apesar de tudo eu penso que poderia ter ido <strong>mais</strong><br />
fundo.<br />
Na administração pública, por exemplo, o PRACE não foi tão longe<br />
como devia ter ido. Extinguiram-se muitos organismos e lugares<br />
de chefias, mas a verdade é que se criaram outros organismos<br />
que não se devia ter criado.<br />
Reproduziu-se o sistema?<br />
Claro. Por exemplo, ao nível das regiões de turismo, hoje é uma<br />
confusão. Fez-se uma primeira reforma bem, porque proliferavam<br />
as regiões de turismo e passou-se para cinco. Mas depois foi-se<br />
cedendo, criaram-se pólos dentro dessas cinco, como o pólo do<br />
Oeste, no caso da <strong>LVT</strong>, e ainda se criaram umas agências regionais<br />
para a promoção dessas regiões no exterior. Num país tão pequenino,<br />
o Instituto de Turismo de Portugal está preparado, e tem de<br />
estar, para fazer o fundamental, a promoção. São coisas pouco<br />
racionais e pouco convenientes para o país.<br />
Outro exemplo é a criação das novas administrações regionais<br />
hidrográficas. Parte das competências estavam nas <strong>CCDR</strong>, e por<br />
isso mesmo fui muito claro durante todo o processo, não levantei<br />
problemas porque houve uma decisão política e tinha de se obedecer.<br />
Mas tenho dúvidas se se justifica, porque existe o Instituto<br />
Nacional da Água. Este país é pequeno e portanto carece de organismos<br />
a nível nacional que possam reunir competências e saber,<br />
e depois temos de ter estruturas descentralizadas. E em outros<br />
ministérios aconteceu o mesmo.<br />
A minha análise política é que a administração pública está bloqueada.<br />
Se calhar esta reforma não foi <strong>mais</strong> longe porque o actual<br />
xadrez não o permitiu. O problema da administração pública<br />
.portuguesa só se resolve com um processo de regionalização que<br />
dê um novo ciclo ao poder local, em que possa obter novas competências.<br />
E que crie as regiões político-administrativas que recebam<br />
competências da administração central, por um lado, e competências<br />
dos municípios noutras áreas que eles não têm dimensão<br />
para fazer. Isto deve ser acompanhado de toda uma reforma<br />
do mapa administrativo do país, é preciso pôr isso na agenda política.<br />
Nós hoje temos municípios que nem freguesias dão, há municípios<br />
com três mil habitantes…<br />
Isso não é mexer num ninho de vespas?<br />
Mas tem de ser mexido. É preciso ver que a nossa reforma administrativa<br />
foi em 1835, quase há dois séculos. Mudou o país, mudou<br />
a sociedade, mudou a cultura, mudou tudo, e nós continuamos<br />
com uma malha administrativa que hoje é um colete-de-forças.<br />
É irracional termos 35 concelhos com menos de 5 mil habitantes.<br />
E na escala dos 10 mil há dezenas e dezenas. É uma escala absolutamente<br />
irracional para se gerir qualquer coisa. Numa sociedade<br />
avançada, isto não pode ser gerido assim, são escalas paroquiais.<br />
<strong>Lisboa</strong> tem freguesias que não chegam a mil eleitores.<br />
A sociedade moderna ou pós-moderna, o que se queira, a sociedade<br />
dos serviços, a sociedade avançada do conhecimento, da<br />
informação, tem de ser gerida de uma forma muito descentralizada.<br />
Se não, é capturada pelos grandes tubarões, seja em termos<br />
empresariais, sejam os grandes lobbies. Com a globalização,<br />
reforça-se a necessidade da descentralização. Mas temos de ter<br />
uma malha que suporte essa descentralização efectiva. Esta<br />
é uma questão em que acho que há um bloqueio e a volta tem de<br />
ser dada através da regionalização, para fazer a descentralização.<br />
O que é que está a condicionar as grandes reformas?<br />
Tradicionalmente, assaca-se aos funcionários públicos a responsabilidade<br />
de o Estado funcionar mal. E há razões para isso, relacionadas<br />
com o acomodamento dos funcionários perante o seu<br />
vínculo. Mas normalmente não se fala do mau funcionamento da<br />
máquina do próprio Governo.<br />
Dou um exemplo. As <strong>CCDR</strong> foram criadas por um diploma de<br />
Maio de 2003 que previa a extinção das Comissões de Coordenação<br />
Regional (CCR) e das Direcções Regionais do Ambiente e Ordenamento<br />
do Território (DRAOT). Esse diploma previa que a nova lei<br />
orgânica seria publicada num prazo de três meses. Demorou quatro<br />
anos, só saiu nos últimos dias de Abril de 2007, com as dificuldades<br />
que isso levantava para gerir.<br />
Outro exemplo. O Governo decidiu a revisão do PROT da AML,<br />
em função do aeroporto, da nova travessia, etc, com carácter<br />
de urgência, num prazo de 9 meses. Eu tinha proposto um ano ou<br />
14 meses, nove meses era claramente excessivo, mas mostra uma<br />
determinação. Isso foi feito já em 2008 e a <strong>CCDR</strong> não tinha<br />
dotação orçamental para contratar os técnicos e os especialistas<br />
em várias áreas. Em fase de contracção orçamental, encontrámos<br />
rapidamente no orçamento da <strong>CCDR</strong> rubricas de onde eu podia<br />
tirar dinheiro para passar para aqui, e fiz uma proposta de alteração<br />
orçamental. Fi-la em Maio, o Governo decidiu em Junho<br />
essa revisão com carácter de urgência, e a alteração só foi aprovada<br />
em finais de Setembro. Demorou cinco meses! Uma alteração<br />
que devia ser a própria <strong>CCDR</strong> a fazer porque não aumentava<br />
.o orçamento. Passou por não sei quantos organismos, ministérios,<br />
e demorou cinco meses. É terrível, é uma burocracia pesadíssima.<br />
Há que fazer um Simplex para o próprio Governo.<br />
Essa complicação deve-se a um excesso de pessoas,<br />
é a tendência para o «complicómetro»?<br />
Se eu mandasse, reduzia os assessores nos gabinetes ministeriais.<br />
Há muita duplicação com as direcções-gerais. Um governo tem<br />
de ter confiança nos principais suportes técnicos, sem dúvida.<br />
Pode fazê-lo com as direcções-gerais, com organismos como<br />
as <strong>CCDR</strong> ou institutos, em parte. Não quer dizer que os ministros<br />
não tenham alguns assessores. Mas precisam de muito menos<br />
se funcionarem com os suportes técnicos que existem nesses<br />
organismos. Das duas uma: ou têm confiança nos respectivos<br />
directores‐gerais para fazerem isso, muito bem; ou não têm<br />
.e podem mudá-los, a lei permite-o. A tendência é para ter muitos<br />
assessores e adjuntos, normalmente bem escolhidos, gente com<br />
elevado potencial mas normalmente também muito inexperiente.<br />
Para além do excesso, muitas vezes criam problemas com<br />
as direcções-gerais. Um próximo governo deveria tratar disto.<br />
Outra complicação é que também se legisla demasiado. Os nossos<br />
quadros jurídicos são labirintos, em qualquer área, designadamente<br />
no planeamento do território. Há uma proliferação de<br />
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