António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT
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Seria muito interessante saber o porquê destas opções e sobretudo a razão da exclusão das «zonas históricas» (e, já agora, o que entendem por tal). Com base em quê se recusa tão liminarmente uma área da cidade que à partida deveria ser considerada atractiva? A que ideias e imagens corresponde esse desgosto? É uma questão estética? Económica? É a tal ideia de que lá não vive ninguém e ninguém quer lá viver, que as casas são pequenas e velhas, que as que não são pequenas e velhas são incomportáveis? Qual o grau de conhecimento dessas zonas que quem as rejeita tem de facto? Por outro lado, o lugar onde os inquiridos vivem, onde trabalham ou estudam, desde logo, e o que valorizam numa habitação e num lugar, também são uma informações determinantes. E, já agora, quantos dos inquiridos que vivem nas zonas históricas coincidem no diagnóstico das ditas com os que lá não vivem – e quantos estão interessados em mudar. O que se sabe dos resultados do inquérito do estudo Viver Lisboa traz mais uma informação interessante: a maioria dos habitantes da cidade, a mudar de habitação, quereria comprar e não arrendar. Só 23,7% põe a segunda hipótese. Também aqui seria obviamente interessante perceber porquê – é possível que tal esteja relacionado com o facto de a maioria já ser proprietária e portanto imaginar vender uma casa para comprar outra, ou que, mais uma vez, tal corresponda a um conjunto de noções sobre o mercado de arrendamento, nomeadamente a inexistência de casas acessíveis para arrendar, que poderá já não ter correspondência com a realidade mas que é sempre repetida de cada vez que se fala do assunto. Imaginemos que alguém, para vender um produto, lhe exalta e exagera os defeitos. Quem o comprará? Só quem, conhecendo-o já ou sendo seu consumidor satisfeito, não se deixa enganar pela má publicidade. Qualquer pessoa com noções básicas de marketing poderá confirmar que os centros das cidades têm aquilo a que se dá o nome de «problema de imagem». Só isso explica que malgrado tudo o que mudou – e muito mudou nos últimos anos – se continue a repetir sobre eles a mesma ladainha menorizante e contraproducente. Parece evidente que se os decisores e os estudiosos da cidade querem repovoar o centro e as tais «zonas históricas» têm de começar por alterar a propaganda. E, de caminho, informarem-se sobre o que se passa e largarem de vez o diagnóstico pronto-a-comer que consomem entusiasticamente há anos, quiçá atrevendo-se mesmo a ir ao terreno em vez de, de um qualquer gabinete no Campo Grande ou na Cidade Universitária, decretarem que o metro quadrado dos fogos à venda no centro de Lisboa é «incomportável para jovens», baseando-se nos preços de habitação nova e ignorando olimpicamente o mercado dos usados, ou afiançarem, como já se ouviu a um responsável da edilidade num debate público, que por exemplo a Baixa «não dá para crianças porque não tem espaços para elas brincarem» (como se houvesse disso no resto da cidade). Dá trabalho? Pois dá. Desfaz mitos? Arruína discursos e propostas políticas? Ah pois. Mas se se quiser fazer algo de correcto, eficaz e útil, tem mesmo de ser. ■ 14 |
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