26.04.2015 Views

António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT

António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT

António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Seria muito interessante saber o porquê destas opções e sobretudo<br />

a razão da exclusão das «zonas históricas» (e, já agora, o que<br />

entendem por tal). Com base em quê se recusa tão liminarmente<br />

uma área da cidade que à partida deveria ser considerada atractiva?<br />

A que ideias e imagens corresponde esse desgosto? É uma<br />

questão estética? Económica? É a tal ideia de que lá não vive ninguém<br />

e ninguém quer lá viver, que as casas são pequenas e velhas,<br />

que as que não são pequenas e velhas são incomportáveis? Qual<br />

o grau de conhecimento dessas zonas que quem as rejeita tem<br />

de facto? Por outro lado, o lugar onde os inquiridos vivem, onde<br />

trabalham ou estudam, desde logo, e o que valorizam numa habitação<br />

e num lugar, também são uma informações determinantes.<br />

E, já agora, quantos dos inquiridos que vivem nas zonas históricas<br />

coincidem no diagnóstico das ditas com os que lá não vivem –<br />

e quantos estão interessados em mudar.<br />

O que se sabe dos resultados do inquérito do estudo Viver <strong>Lisboa</strong><br />

traz <strong>mais</strong> uma informação interessante: a maioria dos habitantes<br />

da cidade, a mudar de habitação, quereria comprar e não arrendar.<br />

Só 23,7% põe a segunda hipótese. Também aqui seria obviamente<br />

interessante perceber porquê – é possível que tal esteja relacionado<br />

com o facto de a maioria já ser proprietária e portanto imaginar<br />

vender uma casa para comprar outra, ou que, <strong>mais</strong> uma vez, tal<br />

corresponda a um conjunto de noções sobre o mercado de arrendamento,<br />

nomeadamente a inexistência de casas acessíveis para<br />

arrendar, que poderá já não ter correspondência com a realidade<br />

mas que é sempre repetida de cada vez que se fala do assunto.<br />

Imaginemos que alguém, para vender um produto, lhe exalta<br />

e exagera os defeitos. Quem o comprará? Só quem, conhecendo-o<br />

já ou sendo seu consumidor satisfeito, não se deixa enganar pela<br />

má publicidade. Qualquer pessoa com noções básicas de marketing<br />

poderá confirmar que os centros das cidades têm aquilo a que<br />

se dá o nome de «problema de imagem». Só isso explica que malgrado<br />

tudo o que mudou – e muito mudou nos últimos anos – se<br />

continue a repetir sobre eles a mesma ladainha menorizante<br />

e contraproducente. Parece evidente que se os decisores e os estudiosos<br />

da cidade querem repovoar o centro e as tais «zonas históricas»<br />

têm de começar por alterar a propaganda. E, de caminho,<br />

informarem-se sobre o que se passa e largarem de vez o diagnóstico<br />

pronto-a-comer que consomem entusiasticamente há anos,<br />

quiçá atrevendo-se mesmo a ir ao terreno em vez de, de um qualquer<br />

gabinete no Campo Grande ou na Cidade Universitária,<br />

decretarem que o metro quadrado dos fogos à venda no centro<br />

de <strong>Lisboa</strong> é «incomportável para jovens», baseando-se nos preços<br />

de habitação nova e ignorando olimpicamente o mercado dos usados,<br />

ou afiançarem, como já se ouviu a um responsável da edilidade<br />

num debate público, que por exemplo a Baixa «não dá para crianças<br />

porque não tem espaços para elas brincarem» (como se houvesse<br />

disso no resto da cidade).<br />

Dá trabalho? Pois dá. Desfaz mitos? Arruína discursos e propostas<br />

políticas? Ah pois. Mas se se quiser fazer algo de correcto, eficaz<br />

e útil, tem mesmo de ser. ■<br />

14 |

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!