António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT
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10<br />
AGOSTO | SETEMBRO | 2009<br />
entrevista<br />
António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />
reportagem<br />
<strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
<strong>mais</strong> competitiva<br />
reportagem<br />
Política de cidades<br />
Parcerias para a Regeneração Urbana
P r o p r i e d a d e<br />
<strong>CCDR</strong>‐<strong>LVT</strong><br />
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional<br />
de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo<br />
Rua Artilharia 1, nº 33 – 1269‐145 <strong>Lisboa</strong><br />
Tel.: 21 383 71 00 | Fax: 21 383 12 92<br />
www.ccdr‐lvt.pt<br />
D i r e c ç ã o<br />
Presidência da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong><br />
D i r e c ç ã o e x e c u t i v a<br />
Carla Gomes<br />
P r o j e c t o e d i t o r i a l , d e s i g n e p r o d u ç ã o<br />
Fo t o g ra f i a s : C â m a ra a r d e n t e ,<br />
p r o d u ç õ e s fo t o g rá f i c a s [ c a p a e c o n t ra c a p a ]<br />
DDLX [www.ddlx.pt]<br />
José Teófilo Duarte [Direcção]<br />
Eva Monteiro [Design]<br />
Susana Pereira [Contacto]<br />
C o l a b o r a d o r e s<br />
Ana Sousa Dias<br />
Carla Amaro<br />
Fernanda Câncio<br />
Luís de Carvalho<br />
Virgílio Gomes<br />
R e v i s ã o d e Te x t o s<br />
Passar Revista<br />
F o t o g r a f i a<br />
Guto <strong>Ferreira</strong><br />
Câmaraardente, produções fotográficas<br />
I m p r e s s ã o e a c a b a m e n t o<br />
Corlito – Artes Gráficas<br />
T i r a g e m 2500 exemplares<br />
I S S N 1646‐1835<br />
D e p ó s t i o L e g a l 224633/05<br />
L V T # 1 0 – A g o s t o / S e t e m b r o | 2 0 0 9 | Q u a d r i m e s t r a l
índice<br />
Editorial<br />
<strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo<br />
O desafio europeu.................................................................. 2<br />
António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />
Notícias breves..........................................................................4<br />
Opinião<br />
Recentrar a discussão..........................................................10<br />
Fernanda Câncio<br />
Entrevista<br />
António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong>................................................... 16<br />
Ana Sousa Dias<br />
Reportagem<br />
<strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> <strong>mais</strong> competitiva ........................................ 26<br />
Carla Amaro<br />
Reportagem<br />
Política de cidades<br />
Parcerias para a Regeneração Urbana........................34<br />
Luís de Carvalho<br />
Cultura<br />
Portugal e o Mundo nos Séculos XVI e XVII............. 46<br />
Paulo Henriques<br />
Acontecimento<br />
Open Days 2009<br />
<strong>Lisboa</strong> leva «Inovação Social» a Bruxelas................. 48<br />
Destaque<br />
Museu da Presidência da República<br />
5º aniversário........................................................................ 50<br />
Roteiro<br />
Sardinha, rica sardinha......................................................54<br />
Virgílio Gomes<br />
Agenda cultural.....................................................................58
Editorial | António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />
<strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo<br />
O desafio europeu<br />
Desde 1998, período em que presidi à Comissão de Coordenação da Região<br />
de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo, tive o privilégio de participar numa profunda<br />
mudança estrutural deste território, impulsionando a gestão estratégica<br />
que orientou a aplicação dos fundos comunitários na região. Hoje, <strong>Lisboa</strong><br />
é referência nacional e internacional, na transição entre estádios<br />
de desenvolvimento e na perspectiva da coesão europeia.
Em 1998, preparava-se a entrada da região no regime<br />
de «phasing out», com redução de fundos estruturais<br />
e concentrados no reforço da competitividade da<br />
região, visando abrir caminho à sua «maioridade»<br />
europeia e afirmando-a como uma região relevante<br />
e competitiva no contexto comunitário e internacional.<br />
da Gestão Estratégica da Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo, uma<br />
abordagem inovadora a nível regional, introduzindo rigor na execução<br />
dos Quadros Comunitários. Com dificuldades em algumas<br />
áreas, o certo é que a R<strong>LVT</strong> cumpriu todas as regras comunitárias,<br />
nunca tendo perdido fundos por falta de execução e alcançou<br />
o grau <strong>mais</strong> elevado na Avaliação do QCAIII.<br />
O terceiro Quadro-Comunitário de Apoio (QCA III) foi, ainda assim,<br />
um período de forte investimento na infra-estruturação do país.<br />
Na Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo teve elevada eficácia ao dar<br />
avanços decisivos nos sistemas de abastecimento de água e saneamento,<br />
na construção de equipamentos educativos, culturais<br />
e desportivos, na rede viária e nos transportes públicos.<br />
Passamos, agora, por novas mudanças. Com a entrada em vigor<br />
do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), para o período<br />
2007-2013, a região sofreu reajustamentos geográficos.<br />
Ultrapassado o rendimento médio per capita da União Europeia,<br />
a Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> passou a ser a área de intervenção<br />
da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> no que respeita à gestão dos fundos europeus.<br />
A nível da qualificação ambiental, o período ente 2000 e 2008 foi<br />
determinante, também, para o país e a <strong>LVT</strong> se aproximarem dos<br />
patamares da União Europeia, particularmente no que se refere<br />
à gestão de resíduos e à requalificação dos centros urbanos e da<br />
faixa litoral. Em 2003, por fusão entre as CCR e as Direcções Regionais<br />
de Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT) foram<br />
criadas as <strong>CCDR</strong> – Comissões de Coordenação e Desenvolvimento<br />
Regional – assumindo um leque diverso de responsabilidades<br />
no ambiente (qualidade do ar, resíduos, avaliações ambientais),<br />
no ordenamento do território e no desenvolvimento regional.<br />
Uma estratégia bem definida e focada em objectivos prioritários<br />
permitiu que em <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo fossem feitos, com grande<br />
eficácia, investimentos em áreas fundamentais como a cultura,<br />
a inclusão social e a qualificação do espaço público, através de programas<br />
integrados envolvendo a generalidade dos municípios.<br />
Recuperaram-se antigos teatros e cineteatros em 22 municípios,<br />
mas não ficámos por aí. Criou-se uma estrutura permanente<br />
(ARTEMREDE) de programação, envolvendo 14 municípios, permitindo<br />
alcançar economias de custos ao mesmo tempo que promove<br />
crescentes dinamismos culturais, aumentando, simultaneamente,<br />
as oportunidades para os artistas e os agentes locais.<br />
O PROQUAL, por seu turno, concretizou uma das prioridades<br />
estratégicas para a AML, a inclusão social. Com uma forte aposta<br />
na requalificação das periferias urbanas e a melhoria da qualidade<br />
de vida dos seus moradores, sem esquecer a necessária qualificação<br />
e formação das pessoas, com vista à sua integração no mundo<br />
do trabalho, e, por conseguinte, a sua inclusão na sociedade.<br />
É uma área em que certamente ainda há muito a fazer, mas em<br />
que o PROQUAL deixou marcas positivas nos sete bairros envolvidos,<br />
desde a Belavista, em Setúbal, à Brandoa, na Amadora.<br />
A par destas intervenções, outros territórios beneficiaram, também,<br />
de uma abordagem integrada, como foi o caso do Vale do Tejo,<br />
através da Acção Integrada de Base Territorial Valtejo, que apostou<br />
na valorização das margens ribeirinhas do Tejo e dos seus centros<br />
urbanos, envolvendo a vertente da formação e qualificação<br />
de recursos humanos, de forma a promover este território como<br />
espaço de turismo, cultura e lazer por excelência.<br />
O Plano Estratégico da Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo tem sido ao<br />
longo dos anos, o quadro orientador da gestão dos fundos estruturais.<br />
A par da aprovação das candidaturas e da execução dos projectos,<br />
a <strong>CCDR</strong> promoveu a monitorização dos resultados, através<br />
A gestão dos Fundos Estruturais é, agora, suportada pela Estratégia<br />
Regional, <strong>Lisboa</strong> 2020. Trata-se de aplicar a esta Região os<br />
princípios basilares da Estratégia de <strong>Lisboa</strong>, que passam, essencialmente,<br />
por uma forte aposta no reforço da competitividade,<br />
da inovação e da qualificação. Hoje é claro o desafio que se coloca<br />
a esta Região «charneira»: afirmar-se como região Euro-Atlântica<br />
competitiva e relevante no contexto europeu e internacional.<br />
As grandes prioridades do Programa Operacional Regional de<br />
<strong>Lisboa</strong> (<strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong>/QREN) são efectivamente a competitividade<br />
e a inovação, constituindo o primeiro Eixo do Programa que concentra<br />
<strong>mais</strong> de 50% dos fundos disponíveis para <strong>Lisboa</strong> – montantes<br />
muito reduzidos relativamente ao passado e por isso exigindo<br />
uma aplicação ainda <strong>mais</strong> cirúrgica.<br />
A par desta prioridade evidenciam-se na estratégia regional,<br />
a qualificação ambiental – com destaque para a energia e a mobilidade<br />
– e a inclusão social, área em que há ainda muito a fazer,<br />
combatendo a pobreza, repensando a vida nas periferias urbanas<br />
e melhorando a integração dos imigrantes.<br />
O QREN introduziu uma nova lógica de funcionamento que passa<br />
pela concorrência aberta entre candidaturas e pela valorização<br />
das parcerias e acções integradas, o que tem exigido uma adaptação<br />
dos métodos de trabalho dos beneficiários, <strong>mais</strong> rigor e inovação<br />
das propostas. Se, no início, houve algumas dificuldades<br />
e as candidaturas nem sempre estiveram ao nível das expectativas<br />
– em áreas como as redes urbanas para a competitividade<br />
ou a regeneração dos bairros críticos – progressivamente, elas<br />
têm vindo a melhorar em qualidade e quantidade.<br />
Decorridos menos de dois anos sobre a abertura dos primeiros<br />
concursos, é notável a evolução que se verifica. Um sinal muito<br />
positivo para o futuro da Região e para todos os que nela vivem<br />
e trabalham. Mais de metade dos fundos disponíveis já estão<br />
investidos em projectos e planos de acção, em diversas áreas:<br />
investigação e desenvolvimento, incentivos empresariais qualificação<br />
ambiental e coesão sócio-territorial.<br />
Não obstante as dificuldades que a crise global nos coloca,<br />
.a Região de <strong>Lisboa</strong>, a comunidade de parceiros – municípios,<br />
empresas, organizações – prossegue o seu caminho de consolidação<br />
no sentido de alcançar patamares elevados de desenvolvimento,<br />
de se tornar numa das regiões <strong>mais</strong> atractivas e competitivas<br />
da Europa. Um desígnio estratégico que está a ser<br />
alcançado. ■<br />
|
notícias breves<br />
<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> no Portugal Tecnológico 2009<br />
De 7 a 10 de Outubro decorrerá na Feira<br />
Internacional de <strong>Lisboa</strong> (FIL) <strong>mais</strong> uma<br />
edição da Mostra «Portugal Tecnológico»,<br />
que contará este ano com espaços especialmente<br />
dedicado às Regiões.<br />
Tal como nas edições anteriores, o Portugal<br />
Tecnológico apresentará as melhores<br />
soluções em áreas tão distintas como as<br />
Comunicações, os Transportes, a Mobilidade,<br />
a Educação, entre outras, e serão também<br />
apresentadas as empresas e entidades que<br />
contribuem para os avanços tecnológicos<br />
do país. Pretende-se que a mostra divulgue<br />
junto da sociedade a aplicação dos melhores<br />
produtos e serviços de cariz tecnológico<br />
nas diversas áreas do meio empresarial.<br />
O Portugal Tecnológico será ainda palco<br />
da divulgação das melhores práticas que<br />
têm vindo a ser desenvolvidas tanto pela<br />
Administração Pública portuguesa como<br />
pelos Pólos de Competitividade do País,<br />
através da apresentação dos <strong>mais</strong> importantes<br />
projectos, ao mesmo tempo que<br />
toma contacto com outras soluções que<br />
existam no mercado e que poderão vir<br />
a ser adoptadas em novos projectos.<br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> convida as entidades do<br />
Sistema Científico e Tecnológico Nacional<br />
e as empresas da Região ligadas à área<br />
tecnológica e à investigação científica<br />
a associarem-se a este evento, estando<br />
presentes no espaço de cerca de 500m 2<br />
inteiramente dedicado à Inovação,<br />
Tecnologia e Criatividade da Região de<br />
<strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo. Pretende-se que essa<br />
participação se baseie na exposição<br />
de um produto ou protótipo com impacto<br />
visual e de preferência com potencial<br />
de interactividade com o público.<br />
As empresas e entidades interessadas<br />
deverão enviar as suas ideias e sugestões<br />
até ao dia 1 de Setembro para o endereço<br />
dicc@ccdr-lvt.pt. Poderá igualmente<br />
contactar os serviços da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>.<br />
(DICC – Divisão de Inovação, Competitividade<br />
e Cooperação, tel.: 21 383 71 00).<br />
Para <strong>mais</strong> informações relativas à edição<br />
do ano passado poderá consultar o site<br />
http://www.portugaltecnologico.fil.pt/<br />
index2.html ■<br />
Luísa Vale é<br />
nova presidente<br />
da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong><br />
Luísa Maria Leitão do Vale é a nova presidente<br />
da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, nomeada pela<br />
Presidência do Conselho de Ministros e<br />
pelo Ministério do Ambiente,<br />
Ordenamento do Território e<br />
Desenvolvimento Regional (MAOTDR).<br />
A nova presidente, que foi nomeada em<br />
regime de substituição, é licenciada em<br />
Economia e tem acompanhado a execução<br />
do Programa Operacional Regional de<br />
<strong>Lisboa</strong> (no âmbito do QREN 2007-2013)<br />
como membro da sua Comissão Directiva.<br />
Exerceu funções na área orçamental e de<br />
investimento público em diversos ministérios,<br />
designadamente o Ministério das<br />
Finanças e o Ministério das Obras Públicas,<br />
Transportes e Comunicações. Aquando da<br />
sua nomeação, exercia funções na Direcção<br />
Geral do Orçamento. ■<br />
OESTE<br />
LEZÍRIA<br />
DO TEJO<br />
MÉDIO<br />
TEJO<br />
Foi publicado a 6 de Agosto em Diário<br />
da República o Plano Regional de<br />
Ordenamento do Território para a Região<br />
do Oeste e Vale do Tejo (PROT-OVT), que<br />
entrará em vigor a 1 de Novembro deste<br />
ano. O plano, coordenado pela <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,<br />
define as grandes opções estratégicas<br />
de base territorial para o desenvolvimento<br />
regional, o modelo organizativo espacial<br />
e as orientações estratégicas para o Oeste<br />
e Vale do Tejo (Médio Tejo e Lezíria do Tejo).<br />
PROT-OVT<br />
em vigor a<br />
1 de Novembro<br />
competitividade e internacionalização,<br />
a sustentabilidade ambiental, a visão<br />
policêntrica e a valorização da qualidade<br />
de vida urbana, a dinamização do turismo<br />
e lazer alternativos, a qualificação dos<br />
recursos humanos e o reforço da competitividade<br />
das fileiras da produção agrícola,<br />
florestal e agro-florestal.<br />
Consulte diploma do Diário da República<br />
em www.ccdr-lvt.pt. ■<br />
As opções estratégicas de desenvolvimento<br />
consagradas neste PROT são a inovação,<br />
|
<strong>Lisboa</strong> lança Rede de Cidades Criativas<br />
Barcelona, Amesterdão e Helsínquia, assim<br />
como Berlim e <strong>Lisboa</strong>, poderão vir a fazer<br />
parte da Rede Internacional de Cidades<br />
Criativas, uma iniciativa proposta pela<br />
cidade norte-americana de Austin (Texas)<br />
que veio ser lançada a <strong>Lisboa</strong> por William<br />
Wynn, o seu mayor até recentemente.<br />
Wynn deslocou-se a <strong>Lisboa</strong> a 7 de Julho<br />
para participar na conferência de<br />
.lançamento desta ideia organizada pela<br />
<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, programa UT Austin-Portugal<br />
e Câmara Municipal de <strong>Lisboa</strong>.<br />
O evento decorreu no Pavilhão de Portugal,<br />
no Parque das Nações, e contou com<br />
a presença do secretário de Estado da<br />
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,<br />
Manuel Heitor, assim como de alguns<br />
municípios que poderão integrar a futura<br />
Rede Nacional de Cidades Criativas,<br />
Paredes, Guimarães, Cascais e Óbidos.<br />
Foram igualmente convidadas a debater<br />
esta iniciativa a Plataforma das Indústrias<br />
Criativas da AML e a Parque Expo, assim<br />
como as Universidades de Aveiro (Concurso<br />
de Escolas «Cidades Criativas»), Técnica de<br />
<strong>Lisboa</strong> e Nova de <strong>Lisboa</strong>, organizado pela<br />
Universidade de Aveiro.<br />
Estas redes deverão ser formalizadas no<br />
início de 2010, mediante convites directos a<br />
um conjunto de cidades ou vilas, a nível<br />
nacional e internacional. O objectivo será<br />
partilhar experiências e criar sinergias<br />
que ajudem estas cidades a aumentar<br />
a sua capacidade de atracção da «classe<br />
criativa» e dessa forma o seu desenvolvimento<br />
económico.<br />
A iniciativa contou com o apoio do <strong>POR</strong><br />
<strong>Lisboa</strong> /QREN, Parque Expo, Caixa Geral<br />
de Depósitos, Zon Multimédia, Fundação<br />
Luso-Americana para o Desenvolvimento,<br />
Fundação Calouste Gulbenkian e Sapo<br />
(media partner).<br />
Comunicações disponíveis em www.ccdr-lvt.pt.<br />
Website do evento:.<br />
http://creativecitieslisbon.org ■<br />
Observatório vai monitorizar Estratégia de <strong>Lisboa</strong><br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> pretende lançar um<br />
Observatório Inter-regional da Estratégia<br />
de <strong>Lisboa</strong>, ideia debatida no Centro<br />
Cultural de Belém, no dia 25 de Maio, numa<br />
sessão pública que contou com a participação<br />
de altos representantes das regiões<br />
de Helsínquia (Finlândia), Merseyside,<br />
Gloucestershire (Reino Unido), Bilbau<br />
e Ranstaad (Holanda).<br />
O Observatório possibilitará a comparação<br />
das dinâmicas regionais da inovação<br />
na União Europeia, a partilha de ideias<br />
e experiências sobre o papel das regiões<br />
no crescimento económico, no estímulo<br />
à competitividade e à criação de emprego.<br />
Terá entre as suas missões o estreitamento<br />
de relações entre as universidades,<br />
.os governos e o sector privado, assim como<br />
a monitorização das políticas públicas<br />
de incentivo à inovação.<br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> apresentou este projecto<br />
na Assembleia-Geral da Lisbon Regions<br />
Network (LRN), que se realizou em<br />
Amesterdão no dia 3 de Julho, encontro<br />
onde diversas regiões manifestaram<br />
interesse em aderir a este projecto.<br />
A LRN integra 15 regiões, todas elas<br />
.do Objectivo «Competitividade e Emprego».<br />
Nesta reunião foi ainda discutida<br />
.a estratégia a seguir no novo ciclo político<br />
europeu, face à recessão económica<br />
e ao problema do desemprego, assim como<br />
o papel das regiões europeias no incentivo<br />
à inovação. ■<br />
|
<strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong><br />
assina contratos<br />
Foram assinados a 11 de Agosto, com<br />
municípios, entidades da administração<br />
central e associações, contratos no valor<br />
de cerca de 23 milhões de euros, no âmbito<br />
do Programa Operacional Regional de<br />
<strong>Lisboa</strong>/QREN. Os contratos resultam da<br />
aprovação de candidaturas a fundos comunitários,<br />
em três concursos do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />
A cerimónia realizou-se na <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,<br />
pelas 15h00, e contou com a presença<br />
do secretário de Estado do Ordenamento<br />
do Território e Cidades, João Ferrão.<br />
Foram assinados contratos para a construção<br />
ou beneficiação de 10 escolas em 8 municípios<br />
da AML (3.º concurso para Requalificação<br />
da Rede Escolar do 1.º Ciclo do Ensino<br />
Básico e da Educação Pré-Escolar), no valor<br />
de cerca de 6 milhões de euros, assim como<br />
para Acções de Valorização e Qualificação<br />
Ambiental, com destaque para projectos<br />
relacionados com a protecção do Estuário<br />
do Tejo e a melhoria da qualidade do ar<br />
na Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> (sete<br />
contratos), no valor de 1,4 milhões de euros.<br />
No âmbito das Parcerias para<br />
.a Regeneração Urbana – Centros Históricos,<br />
cinco promotores que viram recentemente<br />
aprovados os seus programas de acção<br />
celebraram protocolos de financiamento,<br />
num total de co-financiamento FEDER<br />
de 15,4 milhões de euros.<br />
Na Região de <strong>Lisboa</strong> (18 municípios da Área<br />
Metropolitana) foram já atribuídos cerca<br />
de 159 milhões de euros de FEDER, <strong>mais</strong> de<br />
metade (cerca de 51%) do total disponível<br />
no âmbito do QREN até 2013, para a Região<br />
de <strong>Lisboa</strong>. O <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> abriu até agora<br />
52 concursos e aprovou 340 candidaturas<br />
(6 de Agosto). ■<br />
Lançado Arco<br />
Ribeirinho Sul<br />
O projecto Arco Ribeirinho Sul – uma<br />
intervenção integrada nos municípios<br />
da margem Sul do Tejo, envolvendo<br />
.a reconversão de áreas industriais<br />
.desactivadas – foi oficialmente lançado<br />
a 31 de Julho na Quimiparque, no Barreiro,<br />
com a presença do Primeiro-ministro.<br />
José Sócrates sublinhou «a dimensão<br />
nacional» do projecto, que vem assim<br />
dar corpo ao conceito da «Cidade das<br />
duas margens» já debatido há alguns<br />
anos e consagrado no Plano Regional<br />
de Ordenamento da Área Metropolitana<br />
de <strong>Lisboa</strong> (PROT-AML) desde 2002.<br />
A intervenção em causa vai abranger cerca<br />
de 900 hectares nos municípios de Almada<br />
(Margueira), Seixal (Siderurgia Nacional)<br />
e Barreiro (Quimiparque) e será levada<br />
a cabo através de uma empresa pública,<br />
cuja criação acaba de ser aprovada em<br />
Conselho de Ministros, assim como o Plano<br />
Estratégico do Arco Ribeirinho Sul. O investimento<br />
ultrapassa os 500 milhões de euros.<br />
O presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e coordenador<br />
do grupo de trabalho responsável pelo<br />
Plano Estratégico, sublinhou a oportunidade<br />
que trazem para os municípios do<br />
Arco Ribeirinho as infra-estruturas previstas<br />
para a Margem Sul, como o novo<br />
aeroporto internacional, a nova travessia<br />
do Tejo, a Alta Velocidade e a Plataforma<br />
Logística do Poceirão.<br />
Entre os projectos estruturantes previstos<br />
no âmbito do Arco Ribeirinho Sul estão<br />
o desenvolvimento de indústrias criativas,<br />
da náutica de recreio, a relocalização<br />
de terminais fluviais, a ponte Chelas-Barreiro<br />
e o prolongamento do Metro Sul do Tejo.<br />
O projecto terá impactos em toda a faixa<br />
designada como Arco Ribeirinho Sul,<br />
desde a Fonte da Telha (Almada) a Alcochete,<br />
uma área que abrange seis municípios<br />
e que se prevê que venha a ter cerca<br />
de meio milhão de habitantes em 2021.<br />
A iniciativa contou ainda com a presença<br />
do Ministro do Ambiente, Ordenamento<br />
do Território e Desenvolvimento Regional,<br />
Francisco Nunes Correia, dos secretários<br />
de Estado do Tesouro e das Finanças,<br />
Ordenamento do Território e Cidades,<br />
Adjunto e da Administração Local e da<br />
Segurança Social, da Governadora Civil<br />
de Setúbal, Eurídice Pereira, dos presidentes<br />
de Câmara dos municípios envolvidos<br />
e de Rolando Borges Martins, presidente<br />
da Parque Expo, empresa que tem dado<br />
apoio técnico ao projecto, assim como<br />
das administrações das áreas industriais<br />
abrangidas.<br />
Leia intervenção de António <strong>Fonseca</strong><br />
<strong>Ferreira</strong> em www.ccdr-lvt.pt ■<br />
|
Costa Polis<br />
Praias da Costa requalificadas<br />
O presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e da Costa Polis,<br />
António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong>, e a presidente<br />
da Câmara de Almada, Maria Emília Sousa,<br />
realizaram no dia 28 de Julho uma visita<br />
à zona das Praias Urbanas. O passo que<br />
faltava para se poder terminar esta requalificação,<br />
orçada em cerca de 21 milhões<br />
de euros, era a demolição do antigo<br />
restaurante «O Barbas», que ficou concluída<br />
na semana passada.<br />
A Costa Polis aproveitou a ocasião da visita<br />
para divulgar os resultados de um estudo<br />
de opinião da Universidade Nova de <strong>Lisboa</strong><br />
- realizado na primeira semana de Julho,<br />
a residentes, veraneantes, visitantes<br />
ocasionais, concessionários, comerciantes<br />
e pescadores da Costa de Caparica –<br />
segundo o qual 93 por cento dos inquiridos<br />
estão satisfeitos com as infra-estruturas<br />
e equipamentos construídos no âmbito<br />
da empreitada das Praias Urbanas.<br />
O inquérito envolveu 480 frequentadores<br />
da zona, e as avaliações dos utilizadores<br />
incidiram sobre as intervenções finalizadas,<br />
nomeadamente na remodelação e acessos<br />
ao paredão e às praias (através de escadas<br />
e rampas), apoios de praia (com novos<br />
bares e restaurantes), serviços prestados<br />
aos banhistas (como casas de banho<br />
e chuveiros), estacionamentos de acesso,<br />
ciclovias, prolongamento da Avenida<br />
Humberto Delgado e apoios de pesca.<br />
As obras são consideradas muito positivas<br />
por 27 por cento dos inquiridos e positivas<br />
por 66 por cento. Apenas 1 por cento<br />
dos inquiridos faz uma avaliação negativa.<br />
Os aspectos <strong>mais</strong> apontados como tendo<br />
melhorado com as obras foram a qualidade<br />
das praias (28 por cento), a melhor<br />
qualidade da oferta turística (24 por cento),<br />
os acessos às praias (20 por cento),<br />
.a imagem/estética da Costa de Caparica<br />
(16 por cento) e a qualidade de vida em<br />
geral na Costa de Caparica (16 por cento).<br />
Quando inquiridos sobre o que piorou<br />
na Costa da Caparica, 82 por cento dos<br />
frequentadores referiu que nada em<br />
particular.<br />
Coincidindo com o final da intervenção<br />
das Praias Urbanas, a Costa de Caparica<br />
foi distinguida com <strong>mais</strong> duas Bandeiras<br />
Azuis – Praia do CDS e Praia do Tarquínio/<br />
Paraíso – o que garante a máxima qualidade,<br />
segurança e bem-estar aos utentes.<br />
O estacionamento disponibiliza<br />
.aos veraneantes cerca de 800 lugares<br />
reordenados, grande parte com sombreamento,<br />
localizados na zona urbana, junto<br />
às praias. Tendo em conta o papel<br />
fundamental dos concessionários no bom<br />
funcionamento das zonas balneares e sua<br />
envolvente, foram criados 22 apoios de<br />
praia, recuperando os <strong>mais</strong> emblemáticos<br />
bares, cafés e restaurantes da zona.<br />
O recém-construído Jardim Urbano<br />
revela‐se uma boa alternativa de lazer,<br />
com 14 hectares de parques infantis<br />
e juvenis, campo de ténis, recinto polidesportivo<br />
e parque de merendas. Também<br />
o paredão agora remodelado, que<br />
.se estende por 3 quilómetros entre São<br />
João e a Nova Praia, permite um passeio<br />
único sob o areal, a pé ou de bicicleta.<br />
Com um investimento de 199,5 milhões<br />
de Euros, a intervenção do Programa Polis<br />
nos 650 hectares de área da Costa de<br />
Caparica pretende valorizar e dinamizar<br />
as actividades turísticas, culturais<br />
.e desportivas da região, de modo a contribuir<br />
para o desenvolvimento económico,<br />
social, ambiental e urbano da zona. ■<br />
|
<strong>LVT</strong><br />
Na frente da<br />
Modernização<br />
Administrativa<br />
A gestão por objectivos e a monitorização<br />
do cumprimento das metas são princípios<br />
que a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem concretizado no<br />
quotidiano, nas suas múltiplas áreas<br />
de intervenção, e que fazem parte de uma<br />
estratégia integrada de modernização<br />
administrativa, apresentada a 15 de Abril<br />
no Centro Cultural de Belém.<br />
O Balanced Scorecard, cuja aplicação é alvo<br />
de um estudo do Instituto Nacional<br />
da Administração, foi uma das inovações<br />
apresentadas na iniciativa «Região de <strong>Lisboa</strong><br />
e Vale do Tejo: na Frente da Modernização<br />
Administrativa», em que marcaram presença<br />
os secretários de Estado do Desenvolvimento<br />
Regional, Rui Nuno Baleiras,<br />
e da Modernização Administrativa,<br />
Maria Manuel Leitão Marques.<br />
Um dos momentos altos do programa foi<br />
a mesa redonda, moderada pelo Presidente<br />
do INA, António Correia de Campos,<br />
em que se debateram entre outros assuntos<br />
a importância da formação de recursos<br />
humanos, o cidadão como destinatário<br />
das políticas de modernização e a necessidade<br />
de atrair novos talentos, com<br />
capacidade de liderança, para a administração<br />
pública.<br />
Anabela Pedroso, presidente da Agência<br />
para a Modernização Administrativa,<br />
João Bilhim, Presidente do Conselho<br />
Directivo do ISCSP (Instituto Superior<br />
de Ciências Sociais e Políticas) e Francisco<br />
Pinto, consultor do INA para o Balanced<br />
Scorecard, animaram o debate.<br />
Paula Cunha, vice-presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,<br />
e Francisco Bruno Soares, consultor,<br />
apresentaram respectivamente a estratégia<br />
de gestão e as medidas que têm vindo<br />
a ser tomadas para simplificar e clarificar<br />
procedimentos, como o Manual de Gestão<br />
ou a cartografia digital.<br />
Qualificação e responsabilização<br />
.são pontos fundamentais desta estratégia,<br />
que passa por um esforço numa correcta<br />
aplicação do SIADAP na avaliação de<br />
dirigentes e funcionários, tendo sido<br />
a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> um dos primeiros organismos<br />
da administração pública a avançar com<br />
o sistema.<br />
Os esforços de racionalização de recursos<br />
têm resultado numa redução progressiva<br />
de efectivos e na contenção das despesas<br />
de funcionamento. Outro dos processos<br />
em marcha é a desconcentração de serviços<br />
e de recursos humanos de <strong>Lisboa</strong> para<br />
as Delegações Sub-Regionais do Oeste,<br />
Península de Setúbal e Vale do Tejo,<br />
.facilitada pela informatização.<br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem investido em permanência<br />
em novas tecnologias de informação,<br />
área em que se destacam a criação<br />
.do Geoportal e o projecto SIG Wireless,<br />
que permitem aos fiscais ambientais<br />
enviar e receber informação directamente<br />
do terreno e em tempo real, identificando<br />
com precisão locais e eventuais irregularidades,<br />
como a existência de depósitos<br />
ilegais de sucata.<br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem igualmente vindo a desconcentrar<br />
os seus serviços, em particular<br />
nas áreas do ordenamento do território,<br />
fiscalização ambiental e apoio administrativo<br />
e financeiro às autarquias. Hoje,<br />
para uma multiplicidade de questões<br />
os municípios, organizações e particulares<br />
podem recorrer directamente às Delegações<br />
sub-regionais do Vale do Tejo, Oeste<br />
ou Setúbal, ou mesmo tratar dos processos<br />
via Internet. ■<br />
|
Campanha de medição da qualidade do ar na AML<br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> desencadeou, com a colaboração<br />
dos municípios e da Faculdade<br />
de Ciências e Tecnologia da Universidade<br />
Nova de <strong>Lisboa</strong> (FCT-UNL) uma vasta<br />
campanha de medição de poluentes<br />
atmosféricos na Área Metropolitana<br />
de <strong>Lisboa</strong>.<br />
Entre o final de Junho e o início de Julho<br />
múltiplos equipamentos de medição,<br />
«tubos de difusão», foram instalados<br />
em postes de iluminação, de electricidade<br />
ou telecomunicações a fim de medir,<br />
em simultâneo em cerca de 500 pontos<br />
em toda a AML, as concentrações de dióxido<br />
de azoto (NO2), dióxido de enxofre (SO2)<br />
e ozono (O3).<br />
Para a realização deste estudo vão ser<br />
realizadas duas campanhas de amostragem<br />
em dois períodos meteorológicos distintos<br />
(Verão e Inverno), utilizando o método<br />
de difusão passiva. Posteriormente será<br />
divulgado um relatório com os resultados.<br />
Estas campanhas têm como objectivo<br />
conhecer a distribuição espacial das<br />
concentrações dos poluentes NO2, SO2<br />
e O3 na Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>,<br />
identificar as áreas <strong>mais</strong> críticas em<br />
termos de poluição atmosférica e avaliar<br />
as zonas onde é maior a exposição<br />
.da população a estes poluentes,<br />
.em complemento dos resultados obtidos<br />
através da rede de estações de monitorização<br />
da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>.<br />
e apoiar a revisão da delimitação das<br />
unidades funcionais de gestão da qualidade<br />
do ar – aglomerações e zonas –<br />
da região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo (R<strong>LVT</strong>).<br />
A técnica por difusão passiva utilizada<br />
neste estudo é um meio simples, rápido<br />
e relativamente pouco oneroso que<br />
permite a avaliação simultânea, numa<br />
extensa área, das concentrações médias<br />
de poluentes gasosos. Este tipo de método,<br />
complementar à monitorização efectuada<br />
em estações fixas e cuja utilização está<br />
prevista pela legislação em vigor, permite<br />
criar mapas da distribuição espacial<br />
das concentrações dos poluentes medidos<br />
recorrendo a técnicas de interpolação<br />
geoestatística. ■<br />
Com este estudo pretende-se também<br />
avaliar a representatividade das medições<br />
efectuadas diariamente nas estações<br />
de monitorização da qualidade do ar<br />
|
10 |
Recentrar a discussão<br />
O discurso repetido há décadas sobre<br />
as cidades e a necessidade de lhes<br />
repovoar os centros reiterou a ideia<br />
desses mesmos centros como lugares<br />
desertos, inóspitos e degradados,<br />
abandonados por falta de oferta de<br />
habitações aprazíveis a preços<br />
suportáveis. Será surpresa, então, que<br />
tão pouca gente se mostre<br />
interessada em lá viver?<br />
Opinião | Fernanda Câncio<br />
Fotografia | ca, produções fotográficas<br />
Fotografias realizadas em <strong>Lisboa</strong>, na Baixa-Chiado (exteriores).<br />
e no atelier do CMDias Arquitectos (interiores).<br />
Quantas vezes, nos últimos anos, vimos o centro<br />
das cidades portuguesas retratado como um<br />
lugar agradável para habitar? Quantas vezes<br />
vimos, em reportagens televisivas ou de imprensa,<br />
o interior de casas antigas desses centros sem<br />
ser para mostrar derrocadas, rachas, buracos, bolores, infiltrações,<br />
inundações e outras maleitas? Quantas vezes ouvimos outra narrativa<br />
sobre os centros que não a lamúria fúnebre que os descreve<br />
como inabitados, a cair, inseguros, «sem condições», «sem vida»?<br />
Que outras justificações ouvimos para isso que não «a especulação<br />
imobiliária», a inexistência de fogos «decentes» para arrendar a preços<br />
acessíveis e o alto preço do metro quadrado dos disponíveis<br />
para venda?<br />
O que genericamente se sabe sobre os centros – ou seja, o que<br />
quem lá não vive e não os frequenta sabe sobre eles – é que aí as<br />
habitações ou estão degradadas ou são demasiado caras (e que<br />
por esses motivos «ninguém lá vive» a não ser idosos na miséria<br />
ou gente rica), que as ruas «não têm ninguém» e «falta animação».<br />
Chama-se a isto propaganda negativa. E o <strong>mais</strong> curioso é que<br />
muita dessa propaganda negativa é efectuada por quem <strong>mais</strong> diz<br />
lamentar aquilo que tão entusiasticamente propala e declara<br />
querer, com todas as forças, «inverter» a situação: autarcas, candidatos<br />
a autarcas, urbanistas, arquitectos, sociólogos, activistas<br />
sortidos. Veja-se por exemplo o diagnóstico implícito e explícito<br />
nos famosos planos que nos últimos anos têm sido apresentados<br />
para a reabilitação da Baixa pombalina: descrevem-na como um<br />
lugar desertificado (apesar dos largos milhares de pessoas que<br />
todos os dias lhe enchem as ruas e do facto de estas serem disputadas<br />
como espaço comercial) que perdeu a capacidade de atrair<br />
habitantes (embora seja notório um fluxo de novos residentes,<br />
facto de que o presidente da Junta de Freguesia de São Nicolau,<br />
a maior da Baixa, se faz eco e é exemplo, sendo ele próprio um<br />
morador recente) e onde a tipologia das casas não permite ter<br />
filhos (o plano diz mesmo que a zona só serve para pessoas «em<br />
princípio e em fim de vida», apesar de a generalidade dos fogos<br />
ter pelo menos 90 metros quadrados) e cuja reabilitação deveria<br />
ser, em consequência, sobretudo direccionada para residências<br />
| 11
de jovens e idosos e hotéis. O Plano Local de Habitação, coordenado<br />
por Helena Roseta, parece ir no mesmo caminho. Num<br />
debate organizado no início de 2009 no âmbito do dito, a maioria<br />
das intervenções apontava, <strong>mais</strong> uma vez, para a ideia de um centro<br />
envelhecido e desabitado pela acção conjugada (cúmplice?) dos<br />
tubarões da especulação e das más políticas de urbanismo e ordenamento<br />
(nas quais a catastrófica lei das rendas não foi, estranhamente,<br />
incluída), um centro onde o preço altíssimo das casas e a<br />
exiguidade da oferta teriam «expulsado» a população de <strong>Lisboa</strong><br />
para os arrabaldes, um centro de onde «os jovens» estariam excluídos<br />
por razões económicas e onde os prédios apodreceriam<br />
.à espera da derrocada e do lucro dos seus proprietários.<br />
A possibilidade de que esta repetição de estereótipos negativos<br />
sobre o centro tenha algum tipo de efeito na realidade, reforçando<br />
tudo aquilo que supostamente se visa combater, parece ja<strong>mais</strong><br />
ocorrer a quem nela insiste. Como não ocorre, pelos vistos, a hipótese<br />
de que as situações possam mudar não por decisões superestruturais,<br />
políticas e legais, de cima para baixo, mas por deliberação<br />
de indivíduos. Que o centro possa repovoar-se porque há quem<br />
procure aí casa, e que se tenha despovoado, na descrita saída para<br />
as periferias, também por escolha e não mero recurso. Preside<br />
a esta atitude, a esta incapacidade de ver, uma mistura de má<br />
informação, preguiça e preconceito.<br />
Má informação porque as alterações sensíveis no centro da cidade,<br />
tanto no que respeita a negócios como a residentes (e na própria<br />
atitude dos autarcas, de que é exemplo o já citado responsável por<br />
São Nicolau, que conseguiu negociar a cobertura wireless gratuita<br />
da sua zona), têm sido ignoradas quer pelos «especialistas» quer<br />
pelos decisores. Esta alteração, que corresponde a uma recomposição<br />
sociológica e demográfica, com um afluxo de jovens adultos<br />
diferenciados que procuram aí habitação não apenas pela localização<br />
privilegiada mas também pelas características do edificado<br />
«de época», procurando especificamente o que fez sair outros, ou<br />
seja, «casas velhas», passa completamente despercebida à maioria<br />
dos que falam sobre esta temática por um motivo simples:<br />
não se dão ao trabalho de saber até porque não lhes passa pela<br />
cabeça que tal seja possível e, na verdade, nem dá muito jeito: que<br />
fariam então aos discursos catastrofistas e salvíficos, do género<br />
«fizeram tudo mal mas eu tenho a solução»?<br />
E eis-nos na preguiça: é certamente muito <strong>mais</strong> fácil perorar<br />
sobre o assunto com base nas análises hiper-repetidas que decretaram<br />
a morte dos centros e culpar sempre os mesmos maus, que<br />
ainda por cima são bons de culpar, enquanto se anunciam intenções,<br />
planos, medidas e opções miríficas que terão o condão de<br />
corrigir as tais decisões e orientações anteriores que lidar com<br />
uma realidade bem <strong>mais</strong> complexa, que inclui a variável responsabilidade<br />
individual e não se limita a «linhas macro».<br />
É a vez do preconceito: perante periferias desqualificadas e a abarrotar<br />
em contraste com centros abandonados nunca ocorre a possibilidade<br />
de que haja quem saia dos centros por deliberação,<br />
por gosto, quando podia ter escolhido ficar, como há quem para<br />
eles se desloque porque assim bem entende.<br />
12 |
Feliz ou infelizmente, as decisões de escolha de habitação não<br />
serão assim tão unívocas como o vulgo das análises sobre fluxos<br />
cidade-periferia as prefiguram. Segundo estas análises, as pessoas<br />
teriam saído de <strong>Lisboa</strong> aos magotes por motivos de ausência de<br />
oferta imobiliária (para venda e arrendamento) dentro da cidade<br />
e/ou por razões económicas – a oferta existente estaria acima das<br />
suas possibilidades. Ou seja: havia poucas casas disponíveis e as<br />
disponíveis eram caras. Esta análise, que parece certeira para avaliar<br />
o que se passou por exemplo nos anos sessenta, setenta e talvez<br />
até oitenta, falha a partir daí. Quando os juros do crédito à habitação<br />
começam a descer, torna-se razoavelmente acessível comprar<br />
e mesmo, decorrentemente, alugar casa no centro de <strong>Lisboa</strong>.<br />
Casas velhas, antigas, bem entendido: sem elevador na sua maioria,<br />
sem garagem, sem jacuzzi nem aquecimento central e com necessidade<br />
de obras, grandes ou pequenas. Sucede, porém, e este é um<br />
dos factores que as análises sobre a «fuga» para a periferia sistematicamente<br />
elidem, que muita gente recusa, à partida, a ideia<br />
de «casas velhas». Não apenas por serem velhas ou precisarem<br />
de obras, mas pela ideia de usado, de gasto, de segunda mão,<br />
e mesmo porque a estética das casas velhas lhes desagrada. Chão<br />
de madeira, janelas de madeira, até tectos altos: há pessoas, muitas<br />
pessoas, que não querem nada disto. Custa a perceber a quem<br />
gosta e quer exactamente isso? Pois custa. Mas é capaz de haver<br />
poucas compras em que os factores estéticos e de história de vida<br />
(sociológicos, sentimentais, psicológicos) pesem tanto. Ao comprar<br />
uma casa, as pessoas projectam-se: querem algo que corresponda<br />
ao seu sonho, à sua opção de vida, muitas vezes àquilo que permite<br />
sentir que se avançou em relação à geração anterior. E para muita<br />
gente o sonho é «uma casa nova a estrear», uma espécie de começo<br />
do zero, de espaço virgem – frequentemente uma casa num sítio<br />
muito diferente daquele onde cresceram. E se cresceram no centro,<br />
num bairro popular, com casas pequenas e antigas com vista para<br />
a janela do vizinho, provavelmente arrendadas a um preço muito<br />
baixo e por isso mal conservadas, querem algo de muito diferente,<br />
mesmo que a quilómetros do emprego e das escolas, mesmo que<br />
longe de tudo e com horas de carro ou transportes pelo meio,<br />
mesmo com os encargos económicos adicionais que isso implica,<br />
mesmo que depois se arrependam e mesmo que essa opção<br />
multiplicada por milhões altere estruturalmente a paisagem e as<br />
vivências, com consequências muito negativas a nível quer<br />
ambiental quer económico, com altos dispêndios energéticos<br />
e de tempo que empobrecem o país.<br />
Um inquérito realizado em 2009 pela Câmara e pelo Instituto<br />
Superior Técnico, intitulado Viver <strong>Lisboa</strong> e cujas principais conclusões<br />
foram divulgadas em Agosto, confirma a importância<br />
das opções individuais e das ideias feitas na conformação das<br />
cidades. Só 13% dos inquiridos que habitam em <strong>Lisboa</strong> e admitiriam<br />
mudar para zona da cidade distinta daquela onde vivem<br />
escolheriam as «zonas históricas» e os restantes prefeririam,<br />
de acordo com uma notícia da Lusa que cita as conclusões do dito<br />
estudo (que por qualquer razão não se encontra disponível na<br />
net) «as da Coroa Norte (Ameixoeira, Lumiar, Charneca e Carnide),<br />
seguidas das da área central consolidada (Campo Grande, S. João<br />
de Brito, Nossa Senhora de Fátima e Alvalade).»<br />
| 13
Seria muito interessante saber o porquê destas opções e sobretudo<br />
a razão da exclusão das «zonas históricas» (e, já agora, o que<br />
entendem por tal). Com base em quê se recusa tão liminarmente<br />
uma área da cidade que à partida deveria ser considerada atractiva?<br />
A que ideias e imagens corresponde esse desgosto? É uma<br />
questão estética? Económica? É a tal ideia de que lá não vive ninguém<br />
e ninguém quer lá viver, que as casas são pequenas e velhas,<br />
que as que não são pequenas e velhas são incomportáveis? Qual<br />
o grau de conhecimento dessas zonas que quem as rejeita tem<br />
de facto? Por outro lado, o lugar onde os inquiridos vivem, onde<br />
trabalham ou estudam, desde logo, e o que valorizam numa habitação<br />
e num lugar, também são uma informações determinantes.<br />
E, já agora, quantos dos inquiridos que vivem nas zonas históricas<br />
coincidem no diagnóstico das ditas com os que lá não vivem –<br />
e quantos estão interessados em mudar.<br />
O que se sabe dos resultados do inquérito do estudo Viver <strong>Lisboa</strong><br />
traz <strong>mais</strong> uma informação interessante: a maioria dos habitantes<br />
da cidade, a mudar de habitação, quereria comprar e não arrendar.<br />
Só 23,7% põe a segunda hipótese. Também aqui seria obviamente<br />
interessante perceber porquê – é possível que tal esteja relacionado<br />
com o facto de a maioria já ser proprietária e portanto imaginar<br />
vender uma casa para comprar outra, ou que, <strong>mais</strong> uma vez, tal<br />
corresponda a um conjunto de noções sobre o mercado de arrendamento,<br />
nomeadamente a inexistência de casas acessíveis para<br />
arrendar, que poderá já não ter correspondência com a realidade<br />
mas que é sempre repetida de cada vez que se fala do assunto.<br />
Imaginemos que alguém, para vender um produto, lhe exalta<br />
e exagera os defeitos. Quem o comprará? Só quem, conhecendo-o<br />
já ou sendo seu consumidor satisfeito, não se deixa enganar pela<br />
má publicidade. Qualquer pessoa com noções básicas de marketing<br />
poderá confirmar que os centros das cidades têm aquilo a que<br />
se dá o nome de «problema de imagem». Só isso explica que malgrado<br />
tudo o que mudou – e muito mudou nos últimos anos – se<br />
continue a repetir sobre eles a mesma ladainha menorizante<br />
e contraproducente. Parece evidente que se os decisores e os estudiosos<br />
da cidade querem repovoar o centro e as tais «zonas históricas»<br />
têm de começar por alterar a propaganda. E, de caminho,<br />
informarem-se sobre o que se passa e largarem de vez o diagnóstico<br />
pronto-a-comer que consomem entusiasticamente há anos,<br />
quiçá atrevendo-se mesmo a ir ao terreno em vez de, de um qualquer<br />
gabinete no Campo Grande ou na Cidade Universitária,<br />
decretarem que o metro quadrado dos fogos à venda no centro<br />
de <strong>Lisboa</strong> é «incomportável para jovens», baseando-se nos preços<br />
de habitação nova e ignorando olimpicamente o mercado dos usados,<br />
ou afiançarem, como já se ouviu a um responsável da edilidade<br />
num debate público, que por exemplo a Baixa «não dá para crianças<br />
porque não tem espaços para elas brincarem» (como se houvesse<br />
disso no resto da cidade).<br />
Dá trabalho? Pois dá. Desfaz mitos? Arruína discursos e propostas<br />
políticas? Ah pois. Mas se se quiser fazer algo de correcto, eficaz<br />
e útil, tem mesmo de ser. ■<br />
14 |
| 15
António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />
Para cargos<br />
executivos desta<br />
natureza, seis a oito<br />
anos é o normal,<br />
<strong>mais</strong> do que dez<br />
é um exagero<br />
Entrevista | Ana Sousa Dias<br />
Fotografia | ca, produções fotográficas<br />
16 |
Ao fim de onze anos à frente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento<br />
Regional de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo, António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong> deixa estas funções<br />
e prepara a candidatura à presidência da Câmara Municipal de Palmela<br />
nas próximas eleições autárquicas.<br />
O especialista em planeamento sai da <strong>CCDR</strong> com as grandes linhas estratégicas já<br />
consolidadas ou em vésperas de aprovação. É o que acontece com o Plano Regional<br />
de Ordenamento do Território (PROT) da Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>, cuja revisão<br />
foi precipitada pela alteração para Alcochete do local do novo aeroporto.<br />
Em cima da mesa ficam preocupações que vão da reformulação do mapa<br />
administrativo do País até mudanças radicais na governação, questões que <strong>Fonseca</strong><br />
<strong>Ferreira</strong> considera urgente repensar.<br />
Sai por vontade própria, dois anos antes de terminar o mandato, e diz que vai<br />
atrasado: «para cargos executivos desta natureza, seis a oito anos é o normal, <strong>mais</strong><br />
do que dez é um exagero». Manterá também a participação partidária que o levou<br />
à Direcção do Partido Socialista.<br />
Apesar de deixar agora a Assembleia Municipal de Trancoso, <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />
sabe que é para a terra onde nasceu, «onde está o verdadeiro sossego», que vai gozar<br />
a reforma. Ou a pós-reforma, claro.<br />
| 17
Neste momento podemos dizer que os resultados<br />
são visíveis, a região está completamente diferente.<br />
No Vale do Tejo e no Oeste, os centros urbanos foram<br />
praticamente todos requalificados. Os centros históricos<br />
– Óbidos, Alcobaça, Abrantes, Almeirim, Rio Maior –<br />
foram completamente renovados nos últimos dez anos.<br />
Os principais instrumentos de planeamento estratégico estão<br />
prontos. Foi por isso que escolheu sair neste momento, depois<br />
de onze anos na presidência da <strong>CCDR</strong>?<br />
Era minha intenção ter saído em Junho do ano passado, porque<br />
para cargos executivos desta natureza seis a oito anos é o normal,<br />
<strong>mais</strong> do que dez é um exagero. Fiquei por causa da revisão do<br />
Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT) da Área<br />
Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> (AML), em função da mudança do aeroporto<br />
para Alcochete.<br />
Fechou-se um ciclo quando ficou pronta a Estratégia <strong>Lisboa</strong> 2020,<br />
que corresponde a preparar o período do Quadro de Referência<br />
Estratégico Nacional (QREN).<br />
Vim para a Comissão em função da minha experiência de planeamento<br />
estratégico e penso que cumpri esse papel. A preparação<br />
do QREN foi uma das coisas que se fizeram bem para a região.<br />
A experiência estendeu-se depois às outras <strong>CCDR</strong>. Também coordenei<br />
o primeiro PROT para a AML, aprovado em 2002. Depois de uns<br />
anos de interrupção, fez-se o plano da zona envolvente da área<br />
metropolitana, Oeste e Vale do Tejo, que saiu em Agosto.<br />
A <strong>CCDR</strong> tem um papel importante nos PDM. Também foi depois<br />
de eu ter chegado que se concluiu a primeira geração de PDM da<br />
região, que já estava adiantada, e neste momento estão em revisão<br />
os PDM para articulá-los com os planos regionais de ordenamento<br />
do território. Concluiu-se, de facto, uma época em termos<br />
do planeamento regional.<br />
Acaba de ser anunciado o projecto Arco Ribeirinho Sul, também<br />
coordenado por si. É a concretização dos modelos que defende?<br />
É <strong>mais</strong> do que um planeamento, é um programa de requalificação<br />
de uma zona fundamental da AML. É um elemento para aquilo<br />
que eu espero que dentro de 20 anos seja uma nova metrópole,<br />
uma nova AML.<br />
Não é por acaso que arranca agora, tem a ver com a mudança do<br />
aeroporto para a Margem Sul. O novo aeroporto de <strong>Lisboa</strong>, a Plataforma<br />
Logística do Poceirão – a grande plataforma logística<br />
do país, os investimentos turísticos na Margem Sul, a Alta Velocidade,<br />
proporcionam uma nova geração de projectos de internacionalização<br />
da economia portuguesa e do País que têm potencial<br />
para transformar a Área Metropolitana, designadamente na<br />
relação das duas margens.<br />
Essa não era uma questão estratégica para si?<br />
Era. A península de Setúbal teve historicamente um papel subsidiário<br />
da AML. Era um dormitório com indústrias temporárias<br />
– a construção naval, a siderurgia, com ciclos de emprego e desemprego.<br />
Esta nova geração de projectos permite uma nova situação,<br />
em função dos investimentos já feitos, designadamente a ligação<br />
ferroviária na Ponte 25 de Abril, a Ponte Vasco da Gama, a requalificação<br />
ribeirinha, iniciada com o Polis da Caparica e também<br />
na baía do Seixal. Com o Arco Ribeirinho, que incide nas antigas áreas<br />
industriais, cria-se uma outra estrutura na área metropolitana.<br />
Deixo uma nota, contudo: podem não ser só coisas boas. Isto é excelente<br />
para o País, para a AML e particularmente para a península<br />
de Setúbal, mas tem os perigos do desordenamento e da degradação<br />
ambiental.<br />
São grandes investimentos, o que significa grandes pressões urbanísticas<br />
e imobiliárias, e num território muito sensível em termos<br />
ambientais.<br />
O estuário do Tejo?<br />
Os estuários do Tejo e do Sado, ligados por corredores ambientais,<br />
designadamente o aquífero subterrâneo. E também o montado<br />
de sobro, que ali é dominante.<br />
18 |
A margem sul tem uma qualidade ambiental e territorial que<br />
é preciso preservar. É bom que estes investimentos avancem,<br />
.porque significam produção de riqueza e emprego, mas têm de<br />
ser feitos dentro de uma matriz de ordenamento do território que<br />
não temos sabido aplicar. Ou seja, de forma ordenada.<br />
Está previsto que a urbanização na margem sul se faça de forma<br />
polarizada, com o crescimento de actividades económicas e de<br />
habitação, a um ritmo muito superior ao que tem acontecido.<br />
Vai abrir-se uma nova frente de urbanização no campo de tiro de<br />
Alcochete, estritamente para a plataforma aeroportuária. Palmela,<br />
Setúbal, Barreiro, Seixal e Almada, vão crescer, são zonas que têm<br />
terrenos com excelentes acessibilidades já em condições urbanas<br />
à espera de arrancar.<br />
E em termos ambientais, é necessário reforçar as áreas de protecção<br />
integral ou de protecção parcial da margem sul. Apesar de<br />
o montado de sobro já ser protegido, acho que deve ser ampliada<br />
a Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo.<br />
com apoio técnico. A Expo e o Parque das Nações foram um laboratório<br />
extraordinário, já aplicado nas operações Polis.<br />
Como é que o crescimento da urbanização se coordena com a<br />
necessidade de a cidade de <strong>Lisboa</strong> ter <strong>mais</strong> gente, ter uma vida<br />
<strong>mais</strong> intensa?<br />
O processo de urbanização vai continuar, até porque os nossos<br />
meios rurais têm pouca potencialidade agrícola. O país tem<br />
de pensar em criar centros urbanos fortes e centros de actividade,<br />
e acho que isso é fácil, no interior. Serão três, ou quatro, ou cinco.<br />
Por outro lado, esta região, e <strong>Lisboa</strong> em particular, têm uma localização<br />
estratégica em termos mundiais e na nova globalização.<br />
<strong>Lisboa</strong> vai continuar a ser atractiva e vai tender a qualificar-se<br />
com serviços <strong>mais</strong> avançados.<br />
Parece que sai tranquilo. Sem mágoas?<br />
De alguma maneira, a gestão de tudo isto depende<br />
da «nova geração de autarcas» de que fala num texto seu.<br />
E também da existência de muito <strong>mais</strong> especialistas<br />
em questões de ordenamento do território.<br />
A seguir ao 25 de Abril, ou mesmo há 15 ou 20 anos, não era possível<br />
fazer isto. Não tínhamos as pessoas nem os instrumentos<br />
de ordenamento.<br />
Apesar disso, haverá sempre uma enorme pressão em contrário.<br />
Mas isso é a vida, a vida tem sempre os dois lados. Depende muito<br />
das decisões políticas e do exercício da política.<br />
Hoje temos também <strong>mais</strong> experiência. Por exemplo, o Parque das<br />
Nações é uma boa experiência para o desenvolvimento do Arco<br />
Ribeirinho Sul. Aliás, está previsto que a Parque Expo participe<br />
Deixo com desgosto uma situação que espero que venha a ser<br />
corrigida: o futuro dos terrenos da Portela. Neste momento, está<br />
a projectar-se a estação de alta velocidade de <strong>Lisboa</strong> para a Gare<br />
do Oriente, onde claramente não cabe em boas condições. É uma<br />
solução à portuguesa, fazer coisas sobre coisas em vez de fazê-las<br />
de forma ordenada. Espero que não se dê cabo daquele ícone da<br />
arquitectura.<br />
É o arquitecto Santiago Calatrava que está a fazer esse projecto.<br />
Admito que por aí corra bem, mas as coisas ficam amontoadas.<br />
A Portela tem as condições ideais, mesmo em termos geográficos,<br />
para receber a alta velocidade que vem do norte. No Plano Director<br />
Municipal (PDM) de <strong>Lisboa</strong> está previsto que a estação fique<br />
no Vale de Chelas, e a linha a passar em túnel por baixo da Portela.<br />
A linha está projectada até à zona de Alenquer, segue em linha<br />
| 19
ecta e vem ter à Portela. A Portela tem cerca de 600 hectares, na<br />
minha opinião seria metade para parque urbano, de que <strong>Lisboa</strong><br />
precisa. E a outra metade devia ser aproveitada para um parque<br />
empresarial moderno, com as instalações que já lá existem,<br />
incluindo o check-in para a Alta Velocidade. Já discuti isso com<br />
pessoas da Refer, dizem-me que não se pode ligar o caminho‐de-<br />
‐ferro convencional. Mas com certeza que se pode ligar à linha<br />
de cintura. A estação seria enterrada, por causa das cotas. Espero<br />
que se reflicta melhor sobre isto.<br />
A outra questão que me deixa preocupado é a componente rodoviária<br />
na travessia Chelas-Barreiro. A minha opinião é que a ponte<br />
deve ficar preparada para no futuro vir a tê-la, mas de momento<br />
é claramente excessiva. No futuro, quando tivermos outra geração<br />
de carros <strong>mais</strong> amigos do ambiente, então sim.<br />
Esta componente rodoviária é <strong>mais</strong> uma facada no transporte<br />
público. Durante o III Quadro Comunitário de Apoio (QCA) adquiriram-se,<br />
com fundos comunitários, nove catamarans, um meio<br />
de transporte excelentíssimo e rápido que está a 40 por cento da<br />
capacidade. Ainda temos capacidade ferroviária na Ponte 25 de<br />
Abril. Temos a Ponte Vasco da Gama com capacidade rodoviária<br />
e está previsto alargá-la com <strong>mais</strong> uma faixa. E temos uma capacidade<br />
de travessia do Tejo excedentária.<br />
Em relação à Alta Velocidade, defende que o eixo Setúbal-<br />
La Coruña deve ser prioritário, e não o eixo <strong>Lisboa</strong>-Madrid.<br />
Mas não é essa a nossa ligação <strong>mais</strong> directa a Espanha<br />
e à Europa?<br />
Pode ser a ligação <strong>mais</strong> directa, mas há uma questão estratégica,<br />
como bem notou o general Loureiro dos Santos num artigo publicado<br />
recentemente. Madrid quer fazer uma estrela, ficar como<br />
centro da Ibéria. De qualquer modo, todos os estudos dizem que<br />
essa linha nunca será rentável. Bem sei que tem havido surpresas<br />
agradáveis – por exemplo a linha Madrid-Sevilha e a linha Madrid-<br />
‐Barcelona tiveram rapidamente muito <strong>mais</strong> passageiros do que<br />
o previsto. Mas <strong>Lisboa</strong>-Madrid não tem grandes centros intermédios<br />
e a distância de 600 quilómetros começa a ser concorrencial<br />
pelo avião. São três horas e de avião faz-se numa hora. Nos estudos<br />
convencionais, a concorrência do avião começa acima dos<br />
300 km.<br />
E o problema é diferente no litoral?<br />
A alta velocidade pode ter um papel virtuoso na faixa litoral<br />
Setúbal‐La Coruña, fortemente urbanizada, onde está previsto<br />
que ao fim de oito a dez anos o comboio seja rentável. Acima<br />
de tudo, isto tem a ver com o exemplo de Taiwan, onde a alta<br />
.velocidade é feita para ligar centros de competência, com novos<br />
serviços de investigação, de desenvolvimento tecnológico, como<br />
nós podemos ter: <strong>Lisboa</strong>, Leiria/Marinha Grande, Coimbra, Aveiro,<br />
Porto, Braga, Galiza. São centros que, cada vez <strong>mais</strong>, requerem<br />
quadros que ensinam numa universidade num pólo, investigam<br />
noutro, dão consultadoria noutro, e isso não é compatível<br />
nem com o caminho-de-ferro convencional, nem com o avião,<br />
nem com a estrada. Num artigo que escrevi, dei o exemplo de<br />
Taiwan, onde fizeram alta velocidade, e a ilha só tem 450 km<br />
de comprimento.<br />
Cita a propósito Richard Florida, que faz um balanço entre<br />
a população, as actividades económicas e também a investigação<br />
científica, os pólos universitários…<br />
Sim, exactamente isso, para fundamentar a minha opinião. Vejo<br />
a Portela como uma zona moderna de Berlim onde está a sede<br />
20 |
da Sony, é um exemplo das áreas de serviços avançados que tendem<br />
a situar-se nas grandes cidades. <strong>Lisboa</strong> pode ter isso; Leiria/<br />
Marinha Grande na área dos moldes, uma das indústrias internacionalizadas<br />
do país; Coimbra e Aveiro são duas universidades<br />
de referência, a saúde em Coimbra e as telecomunicações em Aveiro;<br />
depois o Porto e Braga. Richard Florida mostra que as cidades tendem<br />
a terciarizar-se e o suporte do desenvolvimento tem a ver<br />
com a Tecnologia, o Talento e a Tolerância.<br />
Os três T.<br />
Passou a receber menos dinheiro.<br />
A AML tem um décimo dos fundos que a região de <strong>Lisboa</strong> e Vale<br />
do Tejo tinha, porque evoluiu, em termos de riqueza e de produto.<br />
Os fundos actuais, quanto a mim, devem ser aplicados na melhoria,<br />
na salvaguarda, na qualificação dos aspectos ambientais.<br />
E, por outro lado, nos incentivos a projectos empresariais de elevado<br />
potencial de desenvolvimento em termos tecnológicos.<br />
É para aí que as coisas estão viradas, as indústrias limpas, as questões<br />
da eficiência energética.<br />
Exactamente, e eu acrescento-lhe um outro que é o Território.<br />
O desenvolvimento faz-se territorializado, é preciso contar com<br />
o território. O conceito deste eixo é um conceito territorial.<br />
Vamos voltar aos grandes planos estratégicos que estão<br />
preparados. Em que é que ficamos a ganhar com a aplicação<br />
destes instrumentos?<br />
Tive o privilégio de estar aqui nestes anos em que houve uma<br />
grande evolução da região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo. Não quero<br />
dizer que foi por mérito meu, de alguma maneira foi natural. Cheguei<br />
aqui em 98, quando se estava a concluir o II QCA, um tempo<br />
em que os dinheiros comunitários foram fundamentalmente<br />
aplicados em estruturas enterradas, em saneamento, água, estradas.<br />
Nós pudemos preparar o III QCA (2000-2006) para uma<br />
época um pouco diferente, com requalificações ribeirinhas e urbanas,<br />
e equipamentos, designadamente culturais. Recuperados os<br />
teatros e cineteatros, fez-se a Artemrede, uma rede de programação<br />
cultural. Hoje encontramos novas condições para o aprofundamento<br />
dessa modernização da região. Com isto, a região passou<br />
para o Objectivo I dos fundos comunitários.<br />
O trabalho de planeamento só dá resultados a médio<br />
ou a longo prazo. Isso não é frustrante?<br />
Neste momento podemos dizer que os resultados são visíveis,<br />
a região está completamente diferente. No Vale do Tejo e no Oeste,<br />
os centros urbanos foram praticamente todos requalificados.<br />
Os centros históricos – Óbidos, Alcobaça, Abrantes, Almeirim, Rio<br />
Maior – foram completamente renovados nos últimos dez anos.<br />
Em termos político-partidários, reforçou a voz activa no último<br />
Congresso do Partido Socialista, onde apresentou mesmo uma<br />
moção. Vai manter-se activo nesse campo?<br />
Como dizia nessa moção, considero que este Governo do PS, e particularmente<br />
o Primeiro-Ministro José Sócrates, tiveram o papel<br />
histórico de lançar uma agenda de reformas que o país requeria<br />
há décadas. Desde a minha juventude ouvia falar nas reformas<br />
estruturais, e acabámos por perceber quais eram as reformas<br />
de fundo de que o país precisava e que não avançaram até 2005.<br />
É evidente que é um processo pesado, não basta uma legislatura.<br />
Mas o processo ficou um pouco no início. Foi desencadeado,<br />
| 21
e bem, foi marcada uma agenda de reformas, foram feitas coisas<br />
muito positivas, designadamente na Administração Pública.<br />
Mudou-se o estatuto do funcionalismo público, houve um conjunto<br />
de medidas legislativas positivas, mas a reforma não foi tão<br />
fundo como devia ter ido.<br />
E podia?<br />
Essa é uma boa questão, é uma questão política, uma questão<br />
social. O processo é complicado, como se viu na educação e na<br />
saúde, mas apesar de tudo eu penso que poderia ter ido <strong>mais</strong><br />
fundo.<br />
Na administração pública, por exemplo, o PRACE não foi tão longe<br />
como devia ter ido. Extinguiram-se muitos organismos e lugares<br />
de chefias, mas a verdade é que se criaram outros organismos<br />
que não se devia ter criado.<br />
Reproduziu-se o sistema?<br />
Claro. Por exemplo, ao nível das regiões de turismo, hoje é uma<br />
confusão. Fez-se uma primeira reforma bem, porque proliferavam<br />
as regiões de turismo e passou-se para cinco. Mas depois foi-se<br />
cedendo, criaram-se pólos dentro dessas cinco, como o pólo do<br />
Oeste, no caso da <strong>LVT</strong>, e ainda se criaram umas agências regionais<br />
para a promoção dessas regiões no exterior. Num país tão pequenino,<br />
o Instituto de Turismo de Portugal está preparado, e tem de<br />
estar, para fazer o fundamental, a promoção. São coisas pouco<br />
racionais e pouco convenientes para o país.<br />
Outro exemplo é a criação das novas administrações regionais<br />
hidrográficas. Parte das competências estavam nas <strong>CCDR</strong>, e por<br />
isso mesmo fui muito claro durante todo o processo, não levantei<br />
problemas porque houve uma decisão política e tinha de se obedecer.<br />
Mas tenho dúvidas se se justifica, porque existe o Instituto<br />
Nacional da Água. Este país é pequeno e portanto carece de organismos<br />
a nível nacional que possam reunir competências e saber,<br />
e depois temos de ter estruturas descentralizadas. E em outros<br />
ministérios aconteceu o mesmo.<br />
A minha análise política é que a administração pública está bloqueada.<br />
Se calhar esta reforma não foi <strong>mais</strong> longe porque o actual<br />
xadrez não o permitiu. O problema da administração pública<br />
.portuguesa só se resolve com um processo de regionalização que<br />
dê um novo ciclo ao poder local, em que possa obter novas competências.<br />
E que crie as regiões político-administrativas que recebam<br />
competências da administração central, por um lado, e competências<br />
dos municípios noutras áreas que eles não têm dimensão<br />
para fazer. Isto deve ser acompanhado de toda uma reforma<br />
do mapa administrativo do país, é preciso pôr isso na agenda política.<br />
Nós hoje temos municípios que nem freguesias dão, há municípios<br />
com três mil habitantes…<br />
Isso não é mexer num ninho de vespas?<br />
Mas tem de ser mexido. É preciso ver que a nossa reforma administrativa<br />
foi em 1835, quase há dois séculos. Mudou o país, mudou<br />
a sociedade, mudou a cultura, mudou tudo, e nós continuamos<br />
com uma malha administrativa que hoje é um colete-de-forças.<br />
É irracional termos 35 concelhos com menos de 5 mil habitantes.<br />
E na escala dos 10 mil há dezenas e dezenas. É uma escala absolutamente<br />
irracional para se gerir qualquer coisa. Numa sociedade<br />
avançada, isto não pode ser gerido assim, são escalas paroquiais.<br />
<strong>Lisboa</strong> tem freguesias que não chegam a mil eleitores.<br />
A sociedade moderna ou pós-moderna, o que se queira, a sociedade<br />
dos serviços, a sociedade avançada do conhecimento, da<br />
informação, tem de ser gerida de uma forma muito descentralizada.<br />
Se não, é capturada pelos grandes tubarões, seja em termos<br />
empresariais, sejam os grandes lobbies. Com a globalização,<br />
reforça-se a necessidade da descentralização. Mas temos de ter<br />
uma malha que suporte essa descentralização efectiva. Esta<br />
é uma questão em que acho que há um bloqueio e a volta tem de<br />
ser dada através da regionalização, para fazer a descentralização.<br />
O que é que está a condicionar as grandes reformas?<br />
Tradicionalmente, assaca-se aos funcionários públicos a responsabilidade<br />
de o Estado funcionar mal. E há razões para isso, relacionadas<br />
com o acomodamento dos funcionários perante o seu<br />
vínculo. Mas normalmente não se fala do mau funcionamento da<br />
máquina do próprio Governo.<br />
Dou um exemplo. As <strong>CCDR</strong> foram criadas por um diploma de<br />
Maio de 2003 que previa a extinção das Comissões de Coordenação<br />
Regional (CCR) e das Direcções Regionais do Ambiente e Ordenamento<br />
do Território (DRAOT). Esse diploma previa que a nova lei<br />
orgânica seria publicada num prazo de três meses. Demorou quatro<br />
anos, só saiu nos últimos dias de Abril de 2007, com as dificuldades<br />
que isso levantava para gerir.<br />
Outro exemplo. O Governo decidiu a revisão do PROT da AML,<br />
em função do aeroporto, da nova travessia, etc, com carácter<br />
de urgência, num prazo de 9 meses. Eu tinha proposto um ano ou<br />
14 meses, nove meses era claramente excessivo, mas mostra uma<br />
determinação. Isso foi feito já em 2008 e a <strong>CCDR</strong> não tinha<br />
dotação orçamental para contratar os técnicos e os especialistas<br />
em várias áreas. Em fase de contracção orçamental, encontrámos<br />
rapidamente no orçamento da <strong>CCDR</strong> rubricas de onde eu podia<br />
tirar dinheiro para passar para aqui, e fiz uma proposta de alteração<br />
orçamental. Fi-la em Maio, o Governo decidiu em Junho<br />
essa revisão com carácter de urgência, e a alteração só foi aprovada<br />
em finais de Setembro. Demorou cinco meses! Uma alteração<br />
que devia ser a própria <strong>CCDR</strong> a fazer porque não aumentava<br />
.o orçamento. Passou por não sei quantos organismos, ministérios,<br />
e demorou cinco meses. É terrível, é uma burocracia pesadíssima.<br />
Há que fazer um Simplex para o próprio Governo.<br />
Essa complicação deve-se a um excesso de pessoas,<br />
é a tendência para o «complicómetro»?<br />
Se eu mandasse, reduzia os assessores nos gabinetes ministeriais.<br />
Há muita duplicação com as direcções-gerais. Um governo tem<br />
de ter confiança nos principais suportes técnicos, sem dúvida.<br />
Pode fazê-lo com as direcções-gerais, com organismos como<br />
as <strong>CCDR</strong> ou institutos, em parte. Não quer dizer que os ministros<br />
não tenham alguns assessores. Mas precisam de muito menos<br />
se funcionarem com os suportes técnicos que existem nesses<br />
organismos. Das duas uma: ou têm confiança nos respectivos<br />
directores‐gerais para fazerem isso, muito bem; ou não têm<br />
.e podem mudá-los, a lei permite-o. A tendência é para ter muitos<br />
assessores e adjuntos, normalmente bem escolhidos, gente com<br />
elevado potencial mas normalmente também muito inexperiente.<br />
Para além do excesso, muitas vezes criam problemas com<br />
as direcções-gerais. Um próximo governo deveria tratar disto.<br />
Outra complicação é que também se legisla demasiado. Os nossos<br />
quadros jurídicos são labirintos, em qualquer área, designadamente<br />
no planeamento do território. Há uma proliferação de<br />
22 |
legislação, uma sobrepõe-se à outra, depois está sempre a ser<br />
alterada, e nós precisamos de estabilizar.<br />
Como é que isso se pode alterar?<br />
São as mentalidades. É outra questão que funciona mal no<br />
Governo. No Partido Socialista, colocámos isto como uma das<br />
prioridades. Tem de se mudar a cultura e o modo de funcionamento<br />
dos governos. A tendência é: surge um problema qualquer,<br />
cria-se uma nova lei em vez de se resolver o problema. Se calhar,<br />
é preciso adaptar qualquer coisa na legislação existente, e fazer<br />
pequenas adaptações à legislação até chegar a um quadro <strong>mais</strong><br />
ou menos estabilizado, e depois um quadro simples. Não é por<br />
acaso que tradicionalmente havia os códigos, desde o tempo dos<br />
romanos. Eles sistematizavam. A legislação tem de ser reduzida<br />
e o processo legislativo tem de ser <strong>mais</strong> moderado.<br />
Sai da <strong>CCDR</strong> contente com o trabalho feito?<br />
Sim, muito contente, em termos pessoais e profissionais foi uma<br />
realização. Tive outros momentos, como no Fundo de Fomento da<br />
Habitação e na Câmara de <strong>Lisboa</strong>, mas aqui foi <strong>mais</strong> sustentado,<br />
aliava a parte do planear com o dispor dos recursos para poder<br />
fazer. Acho que as <strong>CCDR</strong> não estão suficientemente aproveitadas,<br />
por tudo o que já disse. Quando houver regionalização, as <strong>CCDR</strong><br />
devem ser transformadas, devem passar a ser serviços técnicos<br />
das regiões.<br />
Como é que aparece a sua candidatura à Câmara de Palmela?<br />
Não me passava pela cabeça há uns meses esta candidatura.<br />
Se alguma vez me passou pela cabeça uma candidatura era<br />
a Trancoso, na reforma para regressar às origens, e fui convidado<br />
a fazê-lo em anos anteriores. Mas isso não se coloca agora, por<br />
razões familiares.<br />
Nas grandes mudanças julgo que há sempre vários factores.<br />
Eu estava disponível para sair da administração central, e saio<br />
com o pensamento de que há um novo papel para a administração<br />
local, articulando isso com as futuras regiões. É aliciante.<br />
Tive a sorte de ser convidado pelos meus amigos do Partido Socialista<br />
de Palmela, e estou seguro de que este é um município<br />
.central para uma estratégia de desenvolvimento para a península<br />
de Setúbal.<br />
Porquê?<br />
É central, quase geograficamente. É o maior município da AML,<br />
tem 456 quilómetros quadrados de área. Aprendi nos meus tempos<br />
universitários com um antropólogo das questões do espaço<br />
que a melhor qualidade do espaço, em termos urbanísticos e territoriais,<br />
é a quantidade. E é um concelho muito diversificado,<br />
tem zonas rurais, zonas industriais, tem qualidades territoriais<br />
ímpares. E tem a questão simbólica, patrimonial, histórica: «Por<br />
que é que Deus criou Palmela? Para olhar para a área metropolitana<br />
de <strong>Lisboa</strong>…» Esta área foi terra de colonização de fenícios,<br />
romanos, era um posto avançado em termos estratégicos, de defesa<br />
e de avanço. E hoje pode retomar esse papel.<br />
Mas o que aconteceu para que o António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />
técnico, especialista, homem dos bastidores, desse um passo<br />
para a política pura e dura?<br />
Ao nível das regiões<br />
de turismo, hoje é uma<br />
confusão. Fez-se uma<br />
primeira reforma bem,<br />
porque proliferavam<br />
as regiões de turismo<br />
e passou-se para cinco.<br />
Mas depois foi-se cedendo,<br />
criaram-se pólos dentro<br />
dessas cinco, (…) e ainda<br />
se criaram umas<br />
agências regionais (…)<br />
| 23
A administração pública<br />
está bloqueada. Se calhar<br />
esta reforma não foi<br />
<strong>mais</strong> longe porque<br />
o actual xadrez não<br />
o permitiu. O problema<br />
da administração<br />
pública portuguesa só se<br />
resolve com um processo<br />
de regionalização que dê<br />
um novo ciclo ao poder<br />
local, em que possa obter<br />
novas competências.<br />
Eu passei a vida fazendo política pelo lado cívico mas nunca tendo<br />
querido meter-me na política. Gostava muito da profissão, designadamente<br />
estas áreas do território, do urbanismo. Duas ou três<br />
vezes na vida colocou-se a hipótese de ser candidato a isto ou<br />
aquilo e recusei. Quando fui para a CML foi-me proposto ser vereador<br />
e não quis, fui como técnico. E tive outros episódios. Não fui,<br />
por razões profissionais.<br />
Neste momento, a satisfação profissional é grande. O último congresso<br />
do Partido Socialista também influenciou a minha decisão.<br />
Além de apresentarmos a moção, candidatámo-nos e tivemos 11<br />
por cento, o que num clima de «unanimismo» é importante.<br />
É muito importante para abrir o pluralismo dentro dos partidos,<br />
neste caso dentro do Partido Socialista, isso foi sempre uma<br />
obsessão minha. Houve sempre tendência para as direcções<br />
.se fecharem dentro de um certo «unanimismo», e eu acho que,<br />
particularmente nos dias de hoje, isso não é muito próprio da<br />
democracia.<br />
Temos 27 elementos na Comissão Nacional, sete na Comissão<br />
Política e isso traz algumas responsabilidades para podermos<br />
continuar a cimentar posições e lutar por aprofundar o pluralismo,<br />
que é aprofundar a democracia.<br />
Essa é uma das razões da minha decisão. Tenho uma educação<br />
judaico-cristã, também senti alguma necessidade de me submeter<br />
a votos.<br />
É a primeira vez que vai a votos?<br />
Faço parte da Assembleia Municipal de Trancoso, vou sair agora<br />
por causa da candidatura a Palmela, mas estou lá há 11 anos.<br />
Tenho pena porque aquilo é o verdadeiro sossego.<br />
Esta decisão significa que deixa de lado a investigação que tem<br />
mantido ao longo da carreira? Deixa de vez o planeamento<br />
regional e o ordenamento do território?<br />
24 |
Vou sair da administração central mas já me ofereci, ao próximo<br />
ministro ou secretário de Estado se tiver afinidades, ou a qualquer<br />
um em termos de participação técnica, para colaborar<br />
nas bases para um novo paradigma de sistema de instrumentos<br />
de planeamento e gestão do território.<br />
O actual está desadequado?<br />
Afinámos este sistema de instrumentos em 1998, com a Lei de Bases.<br />
É um sistema cuja matriz é funcionalista, da Carta de Atenas,<br />
dos anos 30 a 60 do século passado, muito rígido, muito próprio<br />
de uma sociedade que mudava lentamente, uma sociedade<br />
.de cidade/campo. Isso está ultrapassado. Nós precisamos de rever<br />
profundamente o sistema, para o adequar aos tempos modernos,<br />
para um sistema <strong>mais</strong> estratégico, <strong>mais</strong> flexível, sem deixar de ter<br />
os objectivos de ordenamento.<br />
Tenho iniciado um trabalho de aprofundamento, já publiquei<br />
alguns artigos sobre isso. Mas é preciso que seja operacionalizado<br />
em termos legislativos.<br />
Que outras recomendações tem para o próximo governo?<br />
Gostava que o próximo governo, fosse qual fosse, olhasse <strong>mais</strong><br />
pelas periferias. É aí que está a maior parte das pessoas. Acho que<br />
deve ser criado um grande programa, a exemplo do Polis, de qualificação<br />
das periferias. Temos tido medidas de qualificação,<br />
no quadro da regeneração urbana, da política de cidades. Mas<br />
a verdade é que não há um grande programa. Por exemplo, o Polis<br />
é um programa necessário, foi feito fundamentalmente para as<br />
qualificações ribeirinhas e dos centros urbanos onde vive muita<br />
gente. Mas é nas periferias mal cuidadas das áreas metropolitanas<br />
de <strong>Lisboa</strong> e do Porto que estão as pessoas, é aí que estão<br />
os problemas, é aí que temos de investir. Espero que o próximo<br />
governo, seja ele qual for, se dedique a este problema. ■<br />
| 25
<strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
Mais Competitiva<br />
ca, produções fotográficas<br />
26 |
Desde o arranque do programa em 2007, 159 milhões de euros, de um total<br />
de 307 milhões, foram investidos em vários projectos de áreas tão diversas como<br />
investigação e desenvolvimento tecnológico, inovação, renovação do parque<br />
escolar, qualificação ambiental, reabilitação de centros históricos, entre outras.<br />
Projectos de áreas distintas, mas com um denominador comum: têm potencial<br />
para colocar a região na lista das <strong>mais</strong> competitivas da Europa. Estes fundos<br />
provêm do QREN através do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> – Programa Operacional Regional<br />
de <strong>Lisboa</strong>. Com uma aplicação muito abrangente, uma grande parte dos apoios<br />
(cerca de 37%) tem sido, no entanto, direccionada para a área de incentivos<br />
às pequenas e médias empresas, em especial as que se candidatam com<br />
projectos que lhes permitam, num futuro muito próximo, ser competitivas<br />
e geradoras de <strong>mais</strong> emprego. As empresas parecem estar satisfeitas.<br />
Reportagem | Carla Amaro<br />
Fotografia | Guto <strong>Ferreira</strong><br />
Cerca de 57% dos fundos de apoio do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
– Programa Operacional Regional de <strong>Lisboa</strong> foram<br />
aplicados na área geográfica dos 18 municípios da<br />
Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>. O universo dos potenciais<br />
beneficiários é vasto e diversificado: administração<br />
pública (central e local), empresas (incluíndo municipais),<br />
associações empresariais, agentes de investigação e desenvolvimento<br />
tecnológico, agências de inovação, centros de investigação,<br />
centros de desenvolvimento de produto, instituições de ensino,<br />
IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), ONG (Organizações<br />
Não Governamentais) e instituições particulares de interesse<br />
público. Com o financiamento dos seus projectos, as entidades<br />
e empresas reforçam a sua posição no mercado e ao mesmo<br />
tempo contribuem para transformar <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo num<br />
pólo empreendedor com projecção nacional e internacional.<br />
Distribuídos através do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>, Programa Operacional Regional<br />
de <strong>Lisboa</strong> – os <strong>POR</strong> também existem para as regiões do Norte,<br />
Centro, Alentejo, Algarve e regiões autónomas da Madeira e Açores,<br />
co-financiados pelo FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento<br />
Regional) e estruturados territorialmente de acordo com as NUTS II<br />
(Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) –,<br />
sem eles as empresas de pequena e média dimensões não teriam<br />
ao dispor um conjunto de instrumentos financeiros para alanvancagem<br />
e partilha de risco dos seus projectos o que poderia<br />
comprometer a sua concretização. Sem prejuízo de outros objectivos,<br />
dotar as PME de instrumentos que as coloque, a breve prazo,<br />
numa posição <strong>mais</strong> competitiva e autónoma é uma das prioridades<br />
do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />
Desde que ultrapassou a média comunitária do PIB per capita,<br />
a Grande Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> passou de zona de Objectivo<br />
I – estatuto atribuído às regiões <strong>mais</strong> pobres, que têm a convergência<br />
como meta a atingir numa primeira fase –, a zona de<br />
Objectivo II, da competitividade e emprego, situação que se por<br />
um lado lhe traz novos desafios, por outro lado, coloca-a numa<br />
posição menos favorável quanto aos incentivos a receber. Por ser<br />
do Objectivo II, recebe agora menos ajudas financeiras, o que condiciona<br />
bastante a distribuição dos fundos comunitários. A maior<br />
fatia do bolo tem sido direccionada para a área de incentivo às<br />
empresas, em especial as que apresentam projectos que se enquadrem<br />
no primeiro dos quatro grandes eixos que sustentam o <strong>POR</strong><br />
<strong>Lisboa</strong>. No eixo 1 cabem todos os projectos que promovam a competitividade,<br />
a inovação e o conhecimento. Ou seja, «todas as<br />
| 27
Para Manuela Azevedo<br />
e Silva, a participação em<br />
massa dos projectos de<br />
I&DT é reveladora da<br />
riqueza da região de <strong>Lisboa</strong><br />
e Vale do Tejo em termos de<br />
know-how das empresas<br />
e de dinâmica científica<br />
e tecnológica.<br />
Manuela Azevedo e Silva, responsável técnica pelos incentivos do <strong>POR</strong> L às empresas<br />
intervenções que visam estimular a qualificação do tecido produtivo,<br />
por via da inovação, do desenvolvimento tecnológico e do<br />
estímulo do empreendedorismo, bem como da melhoria das<br />
diversas componentes da envolvente da actividade empresarial,<br />
com relevo para a redução dos custos públicos». E como principais<br />
vectores de intervenção, lê-se ainda no documento que substancia<br />
a aplicação do QREN para o período 2007-2013, «a agenda<br />
para os factores de competitividade compreende estímulos à produção<br />
do conhecimento e desenvolvimento tecnológico, incentivos<br />
à inovação e renovação do modelo empresarial e do padrão de<br />
especialização, instrumentos de engenharia financeira para financiamento<br />
e partilha de risco na inovação, intervenções integradas<br />
para a redução dos custos públicos de contexto, acções colectivas<br />
de desenvolvimento empresarial, estímulos ao desenvolvimento<br />
da sociedade de informação, redes e infra-estruturas de apoio à<br />
competitividade regional e acções integradas de valorização económica<br />
dos territórios menos competitivos». Quantos aos restantes<br />
eixos, o eixo 2 pretende a sustentabilidade e a valorização<br />
.territorial; o eixo 3 tem em vista a coesão social; e o eixo 4, a assistência<br />
técnica. Os incentivos são distribuídos conforme a prioridade<br />
estabelecida no <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>. Assim, dos 307 milhões de euros<br />
disponíveis para a região de <strong>Lisboa</strong>, 51% dessa verba foi programada<br />
para projectos do eixo 1 (o correspondente a 155.273.945<br />
euros), o eixo 2 ficou com 23% (cerca de 70.723.914 euros), o eixo 3<br />
também com 23%, para o eixo 4, apenas 3% dos incentivos<br />
(9.967.398 euros).<br />
I&DT tem <strong>mais</strong> procura que a Inovação<br />
A inovação constitui uma das principais componentes da estratégia<br />
de desenvolvimento da região, sendo um dos domínios de<br />
acção chave para o reforço da sua competitividade. Curiosamente,<br />
até ao momento, os projectos de inovação candidatos aos fundos<br />
não são muitos. Segundo Manuela Azevedo e Silva, da Comissão<br />
de Coordenação de Desenvolvimento Regional de <strong>Lisboa</strong> e Vale do<br />
Tejo e responsável técnica pelos incentivos do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> às<br />
empresas, da área da inovação «não temos recebido muitas candidaturas»,<br />
ao contrário da de investigação e desenvolvimento<br />
tecnológico (I&DT), que, aliás, lidera a natureza dos projectos<br />
a concurso. Para Manuela Azevedo e Silva, esta participação em<br />
massa dos projectos de I&DT é reveladora da riqueza da região<br />
de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo em termos de know‐how das empresas<br />
e de dinâmica científica e tecnológica. Uma das empresas que<br />
aposta em I&DT é a YDreams – Informática, SA, que actua no sector<br />
dos serviços, nas áreas de multimédia, computação gráfica, realidade<br />
virtual e sistemas de informação geográfica. Candidatou-se<br />
ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> com três projectos, todos eles aprovados: o projecto<br />
«YInvisible Pré-Industrialização, Estudo e Análise de Viabilidade<br />
da Industrialização da Tecnologia YInvisible», o projecto «Construction<br />
of Humane Autonomous Machines Embodied in Living<br />
Environments of Nature (Chameleon) e o projecto líder mundial<br />
de «Instalações Interactivas». O «YInvisible» tem como objectivo<br />
«o estudo de processos de industrialização viáveis para a produção<br />
de ecrãs electrocrómicos a partir de tecnologia previamente<br />
desenvolvida a nível laboratorial». A viabilidade da industrialização<br />
está a ser estudada tanto do ponto de vista científico-tecnológico<br />
como dos pontos de vista de propriedade intelectual e de<br />
mercado/produtos. A empresa pretende «obter células electrocrómicas<br />
funcionais produzidas por métodos industriais ou facilmente<br />
industrializáveis sobre substratos não convencionais»,<br />
nomeadamente papel, têxtil, vidro, cortiça, madeira, couro e materiais<br />
cerâmicos e plásticos vários. Os métodos de produção a testar<br />
28 |
Ivan Franco, director de investigação da YDreams<br />
incluem «a impressão por inkjet e a deposição por métodos<br />
industriais através de spin-coating e/ou dip-coating». Este projecto<br />
será realizado em parceria com a Faculdade de Ciências e Tecnologia<br />
da Universidade Nova de <strong>Lisboa</strong>, tendo‐lhe sido atribuído<br />
um incentivo do FEDER no valor de 1.219.765,70 euros.<br />
O «Chameleon» tem como objectivos «o estudo e a implementação<br />
de uma plataforma reutilizável, que permita apoiar o desenvolvimento<br />
de aplicações interactivas inteligentes, de interacção<br />
entre pessoas e computadores em diferentes domínios de aplicação.<br />
Deverá ser de utilização geral e será implementada sobre<br />
a plataforma proprietária, YVision». O YVision é em si mesmo<br />
uma plataforma multimédia de integração de tecnologias: visão<br />
computacional, simulação de física, renderização 3D, áudio e outros<br />
dispositivos HCI. O ponto de partida é a análise de resultados de<br />
vários ramos científicos da Inteligência Artificial, nomeadamente<br />
nas áreas da Computação Afectiva, Agentes Inteligentes, Aprendizagem<br />
Automática, Data Mining e Psicologia Cognitiva, cruzando-<br />
‐os com as Interfaces Multimodais (múltiplos sistemas sensoriais).<br />
«O resultado será uma plataforma computacional (framework)<br />
de suporte ao desenvolvimento de aplicações interactivas, onde<br />
estão contemplados e integrados os resultados das análises efectuadas<br />
nas diferentes áreas». O incentivo para este projecto ronda<br />
os 572 mil euros.<br />
O projecto de «Instalações Interactivas» visa a inovação no tecido<br />
nacional através de novos processos de produção, de logística,<br />
de distribuição. A certificação é outro dos objectivos subjacentes,<br />
para que a YDreams se mantenha na lista das <strong>mais</strong> qualificadas<br />
empresas de tecnologias de ponta, reforçando a sua posição no<br />
mercado internacional. Recebeu um incentivo de 544.733 euros.<br />
Para Ivan Franco, director de investigação da YDreams, «estes fundos<br />
são muito importantes para as empresas como a nossa, que<br />
assim têm <strong>mais</strong> margem de manobra para experimentarem<br />
ideias loucas. Correr riscos é um factor necessário a uma empresa<br />
que quer ser competitiva, mas sem o dinheiro que recebemos<br />
do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN certamente não arriscaríamos». Satisfeito<br />
com o modo como tem decorrido todo o processo que envolve a<br />
distribuição dos incentivos, Ivan Franco chama a atenção para o<br />
risco de projectos desta tipologia serem adiados. «Já pedimos<br />
dois adiamentos, porque quando se está a trabalhar em inovação<br />
radical é complicado cumprir rigorosamente os prazos».<br />
De outros prazos queixa-se o presidente da Alfama, Nuno Arantes<br />
de Oliveira. O responsável por esta empresa de investigação e desenvolvimento<br />
de produtos farmacêuticos considera os incentivos do<br />
QREN muito importantes para a solidificação financeira de uma<br />
empresa pequena como a Alfama, mas lamenta a morosidade<br />
na entrega do dinheiro aos beneficiários. «Quer dizer, no nosso<br />
caso o processo sofreu um ligeiro atraso, noutros casos não sei.<br />
Se calhar tivemos azar». Azar ou não, a verdade é que o coordenador<br />
do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN, António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong>, já havia<br />
lamentado, em Agosto passado, numa cerimónia de assinaturas<br />
de contratos (para a aplicação de 23 milhões de euros em escolas,<br />
qualificação ambiental e reabilitação de centros históricos de<br />
cidades da região), o «desfasamento entre a execução física da<br />
obra/projecto e a certificação financeira». António <strong>Fonseca</strong><br />
<strong>Ferreira</strong> manifestou‐se preocupado com a situação e afirmou que<br />
«para bem de todos os intervenientes, o processo entre o início da<br />
obra e o pagamento da mesma deveria ser encurtado». A razão é<br />
económica e simples: «A injecção de dinheiro na economia real é<br />
vantajosa para produzir <strong>mais</strong> obra e gerar <strong>mais</strong> emprego». E nesse<br />
| 29
Nuno Arantes de Oliveira, presidente da Alfama<br />
sentido, admitiu, «os fundos estão a ser insuficientemente aproveitados».<br />
Ou, como ironiza o presidente da empresa Alfama,<br />
podem acabar por se tornar um «presente envenenado». Nuno<br />
Arantes de Oliveira explica: «Estes incentivos são óptimos se forem<br />
um extra; mas se a empresa for pequena e precisar deles a tempo<br />
e horas para desenvolver os seus projectos, poderá ter problemas<br />
de tesouraria graves». Isto, não obstante um dos requisitos para<br />
uma empresa se candidatar ser, justamente, ter arcaboiço para<br />
se autofinanciar. «Sim, esse é um dos requisitos e felizmente<br />
.a Alfama tem como se aguentar, mas não significa que não haja<br />
sufoco. Estaríamos <strong>mais</strong> desafogados se não tivesse havido atrasos<br />
no adiantamento, por exemplo. E se não tivéssemos que reter<br />
num banco uma percentagem significativa do incentivo – outra<br />
condição imposta para recebermos a totalidade da verba». Para<br />
uma jovem empresa farmacêutica criada em 2002, «ter que disponibilizar<br />
70% do adiantamento como garantia bancária é muito<br />
penoso, porque na prática o adiantamento não é 50% do valor<br />
total do incentivo, em termos líquidos é significativamente<br />
menos» [as empresas podem pedir um adiantamento do incentivo<br />
aprovado e na generalidade dos casos esse adiantamento<br />
é de 50%]. Contas feitas, do milhão de euros adiantados (o valor<br />
do incentivo aprovado é de pouco <strong>mais</strong> de dois milhões de euros;<br />
o projecto custa quatro milhões), a Alfama «foi obrigada a reter<br />
num banco 700 mil euros, e aí ficará o dinheiro sem que o possamos<br />
movimentar, pelo menos até apresentarmos facturas num<br />
valor igual ou superior». Esta regra, se por um lado abona a favor<br />
da transparência e do combate à fraude, por outro penaliza as<br />
PME como esta, porque «primeiro têm de investir e só depois<br />
é que recebem os apoios». O cenário piora quando a actividade<br />
de uma empresa a torna <strong>mais</strong> susceptível a colapsos financeiros.<br />
Neste momento a Alfama está empenhada no projecto de I&DT<br />
com que se candidatou ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN, que visa o desenvolvimento<br />
de moléculas com a capacidade de libertar monóxido de<br />
carbono (CO) dentro do organismo, de uma forma controlada,<br />
alcançando os órgãos do corpo que estão doentes. Quando ouvimos<br />
falar em CO, o nosso pensamento imediato recai sobre os<br />
malefícios deste gás para a saúde e ambiente. Mas este gás tem<br />
muito que se lhe diga, pois, imagine-se, também tem benefícios<br />
se o soubermos aproveitar. É isso que a Alfama está a fazer, «a tirar<br />
partido do enorme potencial terapêutico que o CO tem vindo<br />
a revelar ao longo dos últimos anos». As moléculas chamam-se<br />
CORMs e foram, na sua maioria, na qualidade de agentes terapêuticos,<br />
«inventadas, patenteadas e produzidas pela própria<br />
empresa». Os estudos que esta farmacêutica está a desenvolver<br />
no âmbito do seu projecto irão consolidar e expandir o conhecimento<br />
sobre as CORMs, colocando um maior número destas moléculas<br />
em fases adiantadas de desenvolvimento pré-clínico e valorizando<br />
esta plataforma tecnológica. O potencial do monóxido<br />
de carbono é enorme, com repercussões a nível humano, social<br />
e económico, pois, como espera Nuno Arantes de Oliveira, «pode<br />
vir a ser usado para o tratamento de um conjunto de doenças que<br />
actualmente não têm cura, em especial doenças que tenham<br />
uma componente inflamatória ou apoptose (morte celular)».<br />
Centro de Estudos das dinâmicas Regionais de <strong>Lisboa</strong>, Oeste e Vale do Tejo<br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem desenvolvido o trabalho de monitorização estratégica da região através do projecto «Gestão Estratégica da R<strong>LVT</strong>». Mas com<br />
a elaboração, em 2007, de uma nova Estratégia Regional para o horizonte 2020, e com a execução do novo Programa Operacional Regional<br />
(2007-2013) no âmbito do QREN, tornou-se agora necessário repensar o trabalho realizado e analisar a informação sobre as principais dinâmicas<br />
que se processam no seu território. Foi então criado um Centro de Observação das Dinâmicas Regionais que articule e sistematize<br />
toda a informação e que crie uma plataforma de conhecimento capaz de monitorizar e analisar permanentemente as suas dinâmicas, contribuindo<br />
no apoio à decisão, nomeadamente as relativas aos investimentos públicos e comunitários. Numa primeira fase pretende-se criar<br />
uma estrutura tecnológica e humana para responder atempadamente às necessidades de informação quantitativa e qualitativa, actualizada<br />
e compreensível, sobre a região. Pretende-se também dispor de um sistema de indicadores estatísticos de realização, resultado, impacto<br />
e de contexto que permita identificar as tendências sociais, económicas e territoriais da Região de <strong>Lisboa</strong> (no fundo as suas dinâmicas),<br />
contribuindo para avaliar o contributo do instrumento financeiro – <strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong>/QREN – para a concretização das prioridades estratégicas conducentes<br />
ao desenvolvimento regional.<br />
30 |
PME a caminho da internacionalização<br />
As áreas de internacionalização e de qualificação de PME que<br />
querem crescer, através da prospecção de novos mercados, também<br />
têm tido uma «procura bastante razoável» nas candidaturas<br />
aos fundos dos <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN. A internacionalização é um<br />
objectivo estratégico para a região. Esse posicionamento tem por<br />
exemplo a Papo D’ Anjo, Confecções Têxteis Lda, fabricante de<br />
roupa de luxo para criança. Criada em 1995, produz artigos 100%<br />
nacionais, a começar pela mão-de-obra (ao seu serviço tem <strong>mais</strong><br />
de cem costureiras portuguesas, na área de <strong>Lisboa</strong> e do Norte do<br />
país), de um modo quase artesanal e só com tecidos de fibras<br />
naturais. À excepção da compra de tecidos, uma vez que alguns<br />
provêm de outros países europeus, todo o processo de fabrico,<br />
incluíndo a criação das colecções, é feito em Portugal. Presente no<br />
mercado nacional e espanhol, o vestuário da Papo D’ Anjo tem<br />
nos Estados Unidos a sua principal fonte de receitas, onde consegue<br />
o escoamento de 80% da sua produção. Com lojas em <strong>Lisboa</strong>,<br />
Porto e Madrid, a empresa ambiciona outros destinos. A<br />
internacionalização foi sempre o objectivo desta empresa, o que a<br />
levou a candidatar-se ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> com dois projectos. Um dos<br />
projectos, se as previsões de Frederico De Beck, director-geral da<br />
empresa, estiverem certas, «estará concluído ainda antes do final<br />
deste ano». Com ele a empresa pretende reforçar a presença nos<br />
EUA, entrar no Reino Unido e nos grandes armazéns de retalho, e<br />
conquistar os clientes brasileiros e ingleses. «Parte deste objectivo<br />
já o alcançámos, os nossos produtos já estão no Reino Unido.<br />
Quanto aos Estados Unidos, existe uma potencialidade ainda não<br />
totalmente explorada». A empresa pretende chegar aonde não<br />
chegou, não através de lojas mas sim de catálogos e da internet<br />
(aperfeiçoamento do site). Este projecto teve um incentivo de um<br />
milhão de euros.<br />
O segundo projecto, além da impressão e envio de catálogos para<br />
mercados internacionais, consiste na criação de um novo logotipo<br />
e de uma nova imagem de marca associada à cidade de <strong>Lisboa</strong><br />
– «Papo d’ Anjo Lisbon». Este projecto recebeu um incentivo de<br />
918.323,58 euros, para um investimento total de dois milhões<br />
de euros. Para Frederico De Beck, apoios como este às pequenas<br />
e médias empresas são muito importantes para as PME se expandirem<br />
nos mercados internacionais e serem competitivas. «Não<br />
iremos condicionar a nossa iniciativa às ajudas do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/<br />
QREN, mas se surgirem no futuro outros programas comunitários<br />
adequados à nossa linha de desenvolvimento, é claro que iremos<br />
candidatar-nos. Vale muito a pena».<br />
Bastante satisfeito com o sistema de incentivos às empresas<br />
do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> está também Pedro Silva, responsável pela Secção<br />
de Tecnologias de Navegação por Satélite da Deimos. Com apenas<br />
sete anos de actividade, a Deimos especializou-se em estudos de<br />
engenharia e desenvolvimento de software para o sector aeroespacial<br />
e hoje é reconhecida a nível europeu nas seguintes áreas:<br />
Análise de Missão para missões planetárias e interplanetárias,<br />
incluindo missões de exploração, científicas e de demonstração<br />
de tecnologia em voo; suporte a estudos de sistema para missões<br />
científicas e de Observação da Terra; análise, desenho e controlo<br />
para missões mono e multi-satélite (voo em formação, constelações<br />
e rendezvous); Sistemas e técnicas avançadas de guiado,<br />
navegação e controlo para sondas espaciais planetárias e interplanetárias;<br />
análise de mecânica de voo para cenários de entrada<br />
atmosférica; sistemas de navegação por satélite, processamento<br />
Objectivos dos projectos<br />
candidatos ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
Projectos de eixo 1 – Competividade, inovação<br />
e conhecimento<br />
• Qualificar o sistema científico e tecnológico e potenciar<br />
o acesso de instituições e empresas a recursos/programas<br />
internacionais de I&D<br />
• Apoiar a instalação de start-ups de base tecnológica<br />
e indústrias criativas e o desenvolvimento de PME’s em<br />
sectores estratégicos para a competitividade regional,<br />
tendo em consideração o empreendedorismo feminino<br />
• Promover o processo de projecção competitiva da Região<br />
à escala internacional<br />
• Promover a atractividade turística da Região<br />
• Reforçar a Governance regional.<br />
Projectos de eixo 2 – Sustentabilidade territorial<br />
• Melhorar a sustentabilidade e as condições de mobilidade<br />
urbana e metropolitana de forma a garantir ganhos<br />
na produtividade total dos factores<br />
• Promover a eficiência e a sustentabilidade ambientais<br />
Projectos de eixo 3 – Coesão social<br />
• Promover parcerias para a regeneração urbana<br />
• Apoiar a criação e o desenvolvimento de serviços de proximidade<br />
dirigidos à população com necessidades especiais<br />
de apoio e promover a qualidade de vida e o bem-<br />
‐estar urbano potenciadores da conciliação entre a vida<br />
profissional, a vida pessoal e a vida familiar<br />
Projectos de eixo 4 – Assistência técnica<br />
• Implementar, dinamizar, gerir, monitorizar e avaliar de<br />
forma eficaz e eficiente o Programa Operacional e promover<br />
o desenvolvimento de estudos, acções e instrumentos<br />
visando um melhor conhecimento e gestão estratégica<br />
da Região.<br />
de dados GNSS e tecnologias de receptores; desenvolvimento de<br />
ferramentas de simulação específicas para engenharia e análise<br />
de missão; modelação detalhada da dinâmica de veículos espaciais<br />
(ambiente espacial, dinâmica e cinemática, fuel-sloshing,<br />
modos de vibração, etc.) e simulação precisa de sistemas embarcados<br />
(sensores e actuadores).<br />
Aos fundos do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN a Deimos candidatou-se com<br />
dois projectos de I&DT em sistemas de navegação por satélite:<br />
o «Inpos» e o «UltraNav». Com o primeiro, também designado<br />
«Posicionamento em Interiores Usando Técnicas de GNSS Auxiliadas»,<br />
a empresa propôs-se investigar e implementar em software<br />
algorítmos que permitam auxiliar um receptor de alta sensibilidade,<br />
combinando o GPS e o Galileo com sensores inerciais e sistemas<br />
de comunicação sem fios capazes de localizar pessoas e bens<br />
em ambientes interiores e urbanos. Este sistema, que se espera<br />
estar operacional em 2013, recebeu um incentivo de 245 mil euros.<br />
Com o «UltraNav», ou «Desenvolvimento de Tecnologia de Acoplamento<br />
Ultra-Justo para Navegação por Satélite», a Deimos pretende<br />
| 31
Frederico De Beck, director-geral da Papo d’ Anjo<br />
investigar e testar uma técnica avançada de integração de um<br />
receptor GNSS com sensores inerciais – o Acoplamento Ultra-<br />
Justo (AUJ) – que poderá elevar a precisão e exactidão do sistema<br />
híbrido a níveis francamente superiores aos possíveis com a operação<br />
independente de qualquer um deles (aumentando, ao<br />
mesmo tempo, a disponibilidade e fiabilidade da solução encontrada)<br />
e/ou reduzir drasticamente o seu custo. Será implementada<br />
uma plataforma de validação da tecnologia AUJ que servirá de base<br />
para a quantificação do desempenho e requisitos da técnica.<br />
Este projecto custa 242.505 e recebeu um incentivo de 169.753<br />
euros. Um valor sempre bem vindo numa empresa que está<br />
na vanguarda das tecnologias de ponta. «Correu tudo muito bem,<br />
de uma forma bastante suave, sem sobressaltos ou atrasos.<br />
Os incentivos são, sem dúvida, uma <strong>mais</strong>-valia». Esta é uma fase<br />
de implementação de ambos os projectos. 2010 é o ano em que<br />
estarão concluídos.<br />
Observatório do QREN<br />
O QREN, Quadro de Referência Estratégico Nacional, constitui<br />
o enquadramento para a aplicação, em Portugal, dos fundos<br />
da política de coesão da União Europeia para o período 2007-2013,<br />
assumindo para este efeito, cinco grandes prioridades estratégicas<br />
nacionais: qualificação dos cidadãos, dinamização do<br />
.crescimento sustentado, promoção da coesão social, qualificação<br />
dos territórios e das cidades e aumento da eficiência e qualidade<br />
dos serviços públicos. Para assegurar a aplicação eficaz e eficiente<br />
dos fundos foi criado um instrumento – o Observatório do QREN,<br />
que além de desenvolver um conjunto de actividades de coordenação<br />
e acompanhamento do modo como estão a prosseguir<br />
as prioridades estratégicas, tem também como funções analisar<br />
as questões económicas, sociais e territoriais associadas ao contexto<br />
de aplicação do dinheiro, elaborar a estratégia global<br />
.de comunicação do QREN e dos PO (Programas Operacionais),<br />
prestar apoio técnico e administrativo ao funcionamento<br />
.da Comissão de Avaliação das Estratégias de Eficiência Colectiva<br />
(previstas no QREN), contribuir para a elaboração dos relatórios<br />
anuais de monitorização do QREN, entre outras. Integrando não<br />
<strong>mais</strong> de 30 pessoas, desenvolve a sua acção em parceria com<br />
as autoridades dos PO, as autoridades de coordenação nacional<br />
e certificação dos fundos comunitários envolvidos – tais como<br />
o Instituto Financeiro para o Desenvolvimento Regional (IFDR),<br />
no que respeita ao FEDER e ao Fundo de Coesão, e o Instituto de<br />
Gestão do Fundo Social Europeu (IGFSE), no que respeita Fundo<br />
Social Europeu –, a Inspecção Geral de Finanças, os Gabinetes<br />
de Planeamento, Estudos e Relações Internacionais dos diversos<br />
ministérios, e os serviços competentes da Comissão Europeia.<br />
O site www.observatorio.pt tem informação detalhada sobre<br />
o Observatório, os números da implementação do QREN e dos<br />
respectivos programas operacionais (quer em termos financeiros<br />
quer de realizações e resultados), os indicadores de contexto<br />
socio-económicos nacionais e internacionais, a avaliação da utilização<br />
dos fundos comunitários em Portugal, a política de coesão<br />
da União Europeia (passado, presente e futuro) e muito <strong>mais</strong> em<br />
documentos de referência.<br />
32 |
Pedro Silva, responsável pela Secção de Tecnologias de Navegação por Satélite da Deimos<br />
No final de Agosto tinham sido aprovadas 344 candidaturas aos<br />
fundos comunitários destinados à área gerofráfica dos 18 municípios<br />
que integram a Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>, no âmbito do<br />
Programa Operacional Regional de <strong>Lisboa</strong> e estavam em avaliação<br />
projectos que somavam aproximadamente 53 milhões de euros<br />
FEDER. A este ritmo, a meio do período de programação não haverá<br />
<strong>mais</strong> incentivos para atribuir, pois <strong>mais</strong> de metade já estão<br />
aplicados. A bem da região. A bem das empresas. A bem da competitividade<br />
e do emprego.<br />
A informação sobre os procedimentos de candidaturas e o acesso<br />
a formulários estão disponíveis no site www.porlisboa.qren.pt/si.<br />
As candidaturas aos Sistemas de Incentivos do QREN são apresentadas<br />
em www.incentivos.qren.pt. Os concursos abrem ao<br />
longo do ano, de acordo com a calendarização estabelecida. ■<br />
No final de Agosto tinham sido aprovadas<br />
344 candidaturas aos fundos destinados à Área<br />
Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>, num montante de 175 milhões<br />
de incentivo FEDER e estavam em avaliação projectos que<br />
somavam aproximadamente 53 milhões de incentivo<br />
FEDER. A este ritmo, a meio do período de programação<br />
não haverá <strong>mais</strong> incentivos para atribuir.<br />
| 33
34 |<br />
Arquivo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
Política de Cidades<br />
Parcerias para a<br />
Regeneração Urbana<br />
Reportagem | Luís de Carvalho<br />
No âmbito do QREN 2007-2013,<br />
o Instrumento de Politica Parcerias<br />
para a Regeneração Urbana (PRU),<br />
inscrito nos Eixos 2 – Sustentabilidade<br />
Territorial e 3 – Coesão<br />
Social do Programa Operacional<br />
Regional de <strong>Lisboa</strong>, tem permitido<br />
ao poder autárquico promover um<br />
conjunto de intervenções que visam,<br />
sobretudo, desenvolver e concretizar<br />
prioridades estratégicas em três<br />
áreas contempladas – centros<br />
históricos, bairros críticos e frentes<br />
ribeirinhas e marítimas. Até à data,<br />
foram já aprovados 19 Programas<br />
de Acção, o que corresponde<br />
a um montante FEDER<br />
de 54 milhões de euros.<br />
As PRU têm por objectivo promover a requalificação<br />
do espaço urbano a partir de uma abordagem<br />
multidisciplinar e intersectorial que promova<br />
a inclusão social, reforçando a participação dos<br />
cidadãos, estimule e revitalize os espaços urbanos<br />
degradados, contemplando a sua vertente sócio-económica<br />
e cultural,sem esquecer a promoção de factores de igualdade<br />
entre homens e mulheres, numa perspectiva e prática inovadoras<br />
do desenvolvimento urbano. As Parcerias envolvem planos de acção<br />
concertados por diversas entidades , respeitando as orientações<br />
traçadas no Programa Nacional da Politica do Ordenamento do<br />
Território e nos PROT.<br />
As Parcerias definem as prioridades, exigem visão estratégica,<br />
programação das intervenções e sua consequente monitorização,<br />
plasmando assim um processo integrado de intervenção responsável<br />
e partilhado.<br />
Foram já aprovados os Programas de Acção para revitalização dos<br />
centros históricos de Setúbal, Palmela, Almada, Mafra, <strong>Lisboa</strong><br />
e Odivelas, enquanto os municípios de Vila Franca de Xira, Seixal,<br />
Sesimbra ou Moita, por exemplo, apostaram na valorização paisagística,<br />
turística e cultural das suas frentes ribeirinhas ou marítimas.<br />
Odivelas, Moita, <strong>Lisboa</strong>, Amadora, Almada, Barreiro e Setúbal<br />
viram aprovados os seus Programas de Acção para os bairros<br />
críticos. Os Programas de Acção são coordenados pelo Município<br />
em articulação com os diversos parceiros locais – empresas, associações<br />
empresariais, serviços da administração central, instituições<br />
de ensino, moradores e suas associações, etc. –, tendo sempre<br />
presente a inserção equilibrada da área em causa no restante<br />
conjunto da cidade.<br />
A selecção dos Programas de Acção é feita por uma equipa de<br />
peritos externos, após uma exaustiva avaliação do mérito das<br />
candidaturas. As avaliações são complementadas por visitas às<br />
áreas de intervenção e com a participação de técnicos responsáveis<br />
dos municípios candidatos. Os peritos guiam-se por uma<br />
rigorosa matriz de critérios previamente aprovados pela Comissão<br />
de Acompanhamento e pela Comissão Directiva do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />
Desta nova metodologia de selecção, nas palavras de José Miguel<br />
Noras, «importa sublinhar, tanto a correcta formulação dos critérios,<br />
como o escrupuloso e coerente uso que deles foi feito.»<br />
E, a continuação do seu depoimento à <strong>LVT</strong> (ver caixa), «muito bem<br />
andou a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> ao proporcionar visitas aos diferentes territórios<br />
submetidos a apreciação.»<br />
| 35
ca, produções fotográficas<br />
Centros históricos<br />
RESET – Setúbal<br />
tando necessariamente na evolução dos padrões da governação<br />
urbana com a adopção de novas lógicas e formatos de intervenção.<br />
Um dos eixos de intervenção previsto no PRU é o que dá atenção<br />
à recuperação dos centros históricos. Entre os municípios que<br />
viram aprovadas as suas candidaturas encontra-se Setúbal, com<br />
um vasto e ambicioso Programa de Acção para a revitalização do<br />
centro histórico, com um montante elegível de 9 milhões, 729 mil<br />
e 800 euros para o RESET.<br />
Da carteira de projectos no âmbito do RESET consta a ampliação<br />
e modernização do Fórum Municipal Luísa Todi, a renovação da<br />
Praça Miguel Bombarda, a instalação do Ninho de Novas Iniciativas<br />
Empresariais, a instalação da Casa da Cultura, a recuperação do<br />
Convento de Jesus, entre outras iniciativas marcantes neste programa<br />
integrado de regeneração urbana.<br />
O RESET integra diferentes perspectivas sectoriais e institucionais,<br />
numa óptica de médio prazo e constitui-se um instrumento<br />
.fundamental para fazer frente e inverter o definhamento sócio-<br />
‐demo.gráfico, económico e urbanístico que o centro histórico tem<br />
vindo a sofrer nos últimos anos.<br />
O Programa , que assenta numa estratégia mobilizadora dos diferentes<br />
intervenientes, quer devolver ao centro histórico uma centralidade<br />
com múltiplas capacidades e usos, na valorização do<br />
seu património material e simbólico – apostando firmemente na<br />
preservação e qualificação dos activos patrimoniais, na renovação<br />
dos factores de atractividade junto da população (residentes, consumidores,<br />
turistas, visitantes, etc.), estimulando o investimento<br />
da iniciativa privada nesta área, consubstanciando uma visão de<br />
futuro mobilizadora e regeneradora da vivência da cidade, apos-<br />
Uma das <strong>mais</strong> importantes é, sem dúvida, a intervenção no Convento<br />
de Jesus, cujo promotor é o IGESPAR, com um total de investimento<br />
de 3 610 000,00 de euros, uma das principais referências<br />
patrimoniais da cidade de Setúbal, Monumento Nacional desde<br />
1910. Este Convento, fundado em 1490, acolhe actualmente o Museu<br />
de Setúbal, mas o estado de degradação em que se encontra obriga<br />
a uma vasta e complexa intervenção que se reparte pelos dois pisos.<br />
As diversas colecções artísticas, arqueológicas, históricas e documentais<br />
passarão a conhecer melhores condições expositivas,<br />
capacitando o Museu com as melhores condições para o cumprimento<br />
da sua missão.<br />
Serão conduzidas operações de restauro da azulejaria, talha dourada,<br />
marcenaria, tectos, abóbadas e portas artísticas na zona do<br />
Coro Alto e Ante Coro, por exemplo, e serão instalados postos<br />
36 |
informatizados de consulta sobre a Biblioteca e os Arquivos, sobre<br />
a colecção do Museu e sobre a história da cidade e do Convento,<br />
no piso superior.<br />
Parte do piso térreo e do superior até à Sala do Capítulo e à Antiga<br />
Sacristia Conventual será ocupado com a apresentação do Retábulo<br />
da Capela-Mor da Igreja de Jesus em reconstituição conjectural;<br />
na Ala Norte do piso superior, por exemplo, prevê-se a instalação<br />
do núcleo expositivo Arte e Mentalidade, onde serão mostradas<br />
as colecções de pintura, escultura, ouriversaria sacra e artes decorativas<br />
dos séculos XVII ao XIX.<br />
Um outro projecto de recuperação a assinalar será o da Praça<br />
Miguel Bombarda, contígua ao Convento de Jesus, e que tem<br />
como objectivo a valorização do Convento com a renovação do<br />
mobiliário urbano, da iluminação, da arborização e substituição<br />
dos pavimentos, tornando aquele espaço numa praça aprazível<br />
e redimensionada em articulação com a envolvente.<br />
Todo este Programa de Acção, que tem como objectivo a superação<br />
das patologias existentes, irá restituir ao Centro Histórico<br />
a sua dimensão e estatuto de zona nobre.<br />
| 37
(…) importa sublinhar,<br />
tanto a correcta formulação<br />
dos critérios, como<br />
o escrupuloso e coerente<br />
uso que deles foi feito.<br />
Para «complementar»<br />
os referidos critérios,<br />
muito bem andou a <strong>CCDR</strong>-<br />
<strong>LVT</strong> ao proporcionar visitas<br />
aos diferentes territórios<br />
submetidos a apreciação.<br />
José Miguel Noras, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico<br />
e perito externo na avaliação de candidaturas<br />
Adoptou-se uma nova metodologia para a avaliação do mérito<br />
das candidaturas. Quais as vantagens deste novo processo?<br />
Quais os critérios relevantes?<br />
Os critérios são, todos eles, como os guarda-chuvas. Verdadeiramente,<br />
só se definem bem consoante o uso que deles fazemos.<br />
Todavia, neste caso concreto, importa sublinhar, tanto a correcta<br />
formulação dos critérios, como o escrupuloso e coerente uso que<br />
deles foi feito. Para «complementar» os referidos critérios, muito<br />
bem andou a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> ao proporcionar visitas aos diferentes<br />
.territórios submetidos a apreciação.<br />
De futuro, seria prudente solicitar-se (a cada município candidato<br />
a qualquer programa) uma detalhada informação quanto às possibilidades<br />
orçamentais de concretização dos projectos apresentados.<br />
Tudo isto para evitar possíveis arrependimentos futuros<br />
e impedir que, no final, o balanço se traduza na existência de verbas<br />
por utilizar, devido à incapacidade financeira desta ou daquela<br />
autarquia.<br />
Há, muitas vezes, uma tendência desmesurada para criar realidades<br />
artificiais a partir do nada, de inovar esquecendo o que e quem<br />
já existe, de optar pela utopia das miragens em detrimento da<br />
«poética das raízes». Só a título de exemplo: em <strong>Lisboa</strong>, a casa<br />
onde viveu Almeida Garrett foi demolida. Nenhuma pedra da calçada<br />
se levantou. É o delirante triunfo do «novo» em relação ao<br />
«antigo», sem se saber conciliar o «antigo» relativamente ao<br />
«novo».<br />
Quais os parceiros locais intervenientes nas acções previstas?<br />
Os parceiros dos projectos consistiram, com poucas mas importantes<br />
excepções, nas associações empresariais de cada município.<br />
Os moradores ficaram, quase sempre, de fora. Curiosa e antiteticamente,<br />
o melhor processo de requalificação deve ter a vida<br />
e as pessoas como componentes primaciais da sua concepção<br />
e do seu desenvolvimento.<br />
38 |
Arquivo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira<br />
Frentes ribeirinhas<br />
Vila Franca de Xira<br />
prevendo diversas oficinas, assim como a participação activa das<br />
comunidades de moradores.<br />
O Programa de Acção para a Requalificação Ribeirinha da Cidade<br />
de Vila Franca de Xira está enquadrado numa vasta intervenção<br />
que abrange toda a frente ribeirinha direita deste município<br />
à beira Tejo. A candidatura aprovada em Agosto de 2008 abrange<br />
um território fortemente marcado pelas actividades tradicionais<br />
ligadas à agricultura e ao rio.<br />
Assumindo a água como “factor de competitividade e diferenciação”,<br />
este programa de acção procura “desenvolver a relação perdida<br />
entre o homem e o rio”, respeitando os desígnios da sustentabilidade<br />
ambiental e da descarbonização das actividades económicas.<br />
O programa divide-se em cinco áreas: Qualificação do Espaço<br />
Público e do Ambiente Urbano; Desenvolvimento Económico;<br />
Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Cultural e Animação<br />
da Parceria/Dinamização.<br />
A criação de uma praça pública em lugar da antiga Fábrica de Descasque<br />
de Arroz será um dos projectos <strong>mais</strong> emblemáticos, assim<br />
como a requalificação do Cais de Vila Franca de Xira, a Requalificação<br />
Ambiental do Esteiro do Nogueira, a criação de um Centro<br />
de Artes do Rio ou de uma “Jangada Cultural”, entre outros. A preocupação<br />
em preservar as tradições, mantendo-as activas no presente,<br />
reflecte-se na remodelação do Barco Varino “Liberdade” (construído<br />
em 1945), outros dos projectos integrados no programa.<br />
Na vertente social, o programa abrange operações como a requalificação<br />
do bairro dos Avieiros e não esquece a vertente da formação,<br />
A área da antiga Fábrica de Descasque de Arroz, actualmente em<br />
avançado estado de degradação e mesmo obstáculo físico à relação<br />
da cidade com o rio, dará lugar a uma vasta praça pública, que<br />
fará a ligação com o rio e permitirá ainda o prolongamento da<br />
ciclovia que se inicia em Alhandra. Quanto ao Cais de Vila Franca<br />
de Xira, fundamental na história do município de Vila Franca, está<br />
prevista a requalificação e melhoria das condições de recreio e lazer<br />
de toda a área.<br />
A par das intervenções físicas e de cariz social, o programa prevê<br />
todo um conjunto de actividades culturais e de animação, que<br />
incluirá teatro de rua, passeios no rio, feiras do livro e concertos,<br />
assim como festas populares. A grande novidade na área da cultura<br />
será a criação de uma “Jangada Cultural”, um equipamento<br />
recuperado a partir de um antigo batelão, que terá diversas zonas<br />
de acostagem ao longo da frente ribeirinha e funcionará como<br />
um palco móvel, onde será possível apresentar espectáculos<br />
diversos. Associada às viagens da jangada haverá programação<br />
cultural para os períodos do Inverno e do Verão. O objectivo é chegar<br />
ao máximo número de pessoas no concelho.<br />
O investimento total elegível deste projecto é de 10 milhões<br />
de euros, sendo comparticipado pelo FEDER em 3,5 milhões de euros<br />
e envolve parceiros como a REFER, a SMAS de Vila Franca e a<br />
OBRIVERCA, SA.<br />
| 39
Bairros críticos<br />
Amadora – Zambujal Melhora<br />
O Programa de Acção para o bairro do Zambujal, na freguesia<br />
da Buraca, Amadora, envolve uma vasta operação que inclui<br />
23 componentes, num total de 34 acções, com grande incidência<br />
em três eixos fundamentais – habitação, ambiente e espaço<br />
público e desenvolvimento social e económico.<br />
Na área da habitação, está prevista a recuperação e melhoramentos<br />
dos edificados em cerca de 1100 habitações, 1000 das quais<br />
geridas pelo IHRU e os restantes com responsabilidade da CMA.<br />
Neste eixo estão também previstas acções de intervenção na recuperação<br />
de espaços verdes, ligações pedonais e viárias, arruamentos<br />
e mobiliário urbano.<br />
A limpeza das margens da Ribeira de Algés, a criação de uma horta<br />
comunitária, a reconversão de dois campos polidesportivos são<br />
outras das acções previstas para a recuperação e qualificação<br />
do ambiente urbano desta comunidade, promovendo padrões<br />
de habitabilidade, comodidade e urbanidade que, em profunda<br />
articulação com o terceiro eixo de intervenção – desenvolvimento<br />
social e económico –, promove a integração dos cidadãos na<br />
cadeia económica e profissional. Este programa, integrado no<br />
programa municipal de empreendedorismo social AMADORA<br />
EMPREENDE, tem como objectivo a identificação de ideias de<br />
negócio viáveis, facilitando não só a sua concretização através<br />
da criação de empresas, cooperativas ou projectos de carácter<br />
produtivo no âmbito associativo, como a promoção da capacidade<br />
concretizadora da camada <strong>mais</strong> jovem de recém licenciados<br />
e finalistas do ensino profissional. Também estão pensadas acções<br />
de empreendedorismo para os beneficiários de apoios sociais<br />
e para residentes em bolsas de pobreza.<br />
Todas estas acções promovem 3 princípios orientadores: igualdade<br />
de género, igualdade de oportunidades e sutentabilidade.<br />
O programa privilegia um «modelo de cooperação estratégica<br />
público-privado capaz de tirar partido dos investimentos e politicas<br />
públicas, do saber universitário, do saber fazer e competitividade<br />
do sector empresarial e da experiência e sentido de missão do<br />
sector das solidadriedades, unidos pela cooperação de indivíduos<br />
empreendedores, gerando sinergias e capitalizando os seus efeitos»,<br />
assim vem no documento oficial de apresentação de Amadora<br />
Empreende.<br />
A complexidade das operações, componentes e acções, assim como<br />
a estratégia de implementação de parcerias e monitorização dos<br />
programas suscitou o interesse da <strong>LVT</strong> em escutar um dos responsáveis<br />
municipais, Jorge Miranda, que explicita na entrevista que<br />
aqui publicamos os passos fundamentais do Programa de Acção<br />
para o Bairro do Zambujal.<br />
40 |
O resultado final que se<br />
pretende, a visão que<br />
estamos a construir<br />
com os residentes e que<br />
queremos alcançar, é a<br />
correcção destas disfunções.<br />
Queremos FAZER CIDADE ali!<br />
Jorge Miranda, Coordenador do Projecto Zambujal Melhora<br />
O Programa de Acção envolve parcerias com actores locais<br />
relevantes para a sua realização.Que parceiros constituem<br />
a Parceria Local? E qual o grau de envolvimento das populações?<br />
Na componente de desenvolvimento social e económico, em que<br />
as intervenções preconizadas são essencialmente imateriais<br />
e portanto não financiáveis na sua maioria pelo PRU, o Programa<br />
«Zambujal Melhora!» é implementado através de uma parceria<br />
de desenvolvimento integradora das organizações locais ou com<br />
destacada actividade no bairro e consequente envolvimento<br />
comunitário, cujo quadro de desenvolvimento se encontra definido<br />
no Plano de Acção, prevendo-se que serão objecto de candidaturas<br />
ao FSE e definição específica em função das respectivas<br />
oportunidades e regras de financiamento.<br />
A parceria está organizada a três níveis:<br />
1. Unidade de Direcção com representantes da CMA e IHRU, competindo-lhe<br />
a coordenação global do programa;<br />
2. Estrutura de Apoio Técnico, composta por técnicos da CMA e IHRU;<br />
3. Comissão de Parceiros, constituída por um representante de cada<br />
uma das seguintes instituições:<br />
ISS.IP, Junta de Freguesia da Buraca, EIPDA – Escola Intercultural das<br />
Profissões e do Desporto, Santa Casa da Misericórdia da Amadora,<br />
Fundação AFID Diferença, CESIS, COOPERACTVA, Associação de Moradores<br />
a Partilha, Pastoral dos Ciganos, ACARPS, Recomeço e UPAJE<br />
4. Conselho de Parceiros que apoia a reflexão sobre a monitorização<br />
e avaliação do programa, contribuindo para a sua correcção<br />
prevendo-se que o mesmo venha a reunir-se pelo menos duas<br />
vezes por ano. O Conselho de Parceiros é composto por todas as<br />
entidades anteriores, acrescidas das seguintes a convidar no primeiro<br />
ano de implantação do projecto no terreno:<br />
SEF, Conselho Local de Acção Social, Comissão Social da Freguesia<br />
da Buraca, Conselho Local de Educação, Comissão para a Igualdade<br />
no Trabalho e no Emprego, CIG, Comissão para a Igualdade<br />
e contra a Discriminação Racial, Plataforma Nacional sobre Políticas<br />
de Acolhimento e Integração de Imigrantes, Fundação<br />
.Gulbenkian.<br />
Que ordem de dificuldades têm encontrado na implementação<br />
do Programa de Acção?<br />
A complexidade da intervenção, imposta pelo grau de integração<br />
institucional e das acções previstas, constitui uma dificuldade<br />
natural e a construção de uma visão comum entre os poderes<br />
públicos, as instituições parceiras e os residentes é o maior desafio<br />
do projecto. É neste momento o seu maior investimento, agora<br />
que foi realizado pelo IHRU e pela CMA (proprietários dos fogos)<br />
um diagnóstico exaustivo da situação socio-económica dos residentes.<br />
Do mesmo modo, também é alta a fasquia do objectivo<br />
de proceder à concepção do espaço público com recurso a metodologias<br />
participativas, além de contribuir para a apropriação<br />
do espaço público urbano e melhor conservação do mesmo, contribui<br />
de forma importante para a coesão social e para o reforço<br />
da segurança no bairro, corrigindo disfunções por via da resolução<br />
«cirúrgica» de pontos críticos de segurança ou segregação espacial<br />
(cultural, étnica).<br />
A gestão do processo participativo de forma a informar mas sobretudo<br />
a «ouvir direccionadamente» e integrar as resultantes nos<br />
projectos técnicos de concepção do espaço público, é neste<br />
momento a maior aposta do projecto e obriga a grande dispêndio<br />
de energia para decorrer em tempo útil e com resultados produtivos.<br />
| 41
Agora estamos a proceder<br />
a sessões de esclarecimento<br />
sistemáticas com todos os<br />
residentes, num total de <strong>mais</strong><br />
de 1000 fogos. Estas sessões,<br />
além de informativas,<br />
dada a expectativa dos<br />
residentes, são ainda<br />
de trabalho sobre problemas<br />
e soluções para o bairro (…)<br />
Num primeiro momento, de «ouvir as organizações» foram realizadas<br />
reuniões de parceria e sectoriais para a concepção e implementação<br />
do plano de acção.<br />
Num segundo momento, realização do workshop «Zambujal<br />
Melhora – Dos problemas às soluções» com estas organizações<br />
e com cerca de 60 residentes convidados e seleccionados em conjunto.<br />
Foi importantíssimo para a finalização do Plano de Acção<br />
e ajustamento do diagnóstico e, sobretudo, construção partilhada<br />
de uma visão.<br />
Agora estamos a proceder a sessões de esclarecimento sistemáticas<br />
com todos os residentes (1 participantes por fogo em média),<br />
num total de <strong>mais</strong> de 1000 fogos. Estas sessões, além de informativas,<br />
naturalmente dada a expectativa dos residentes, são ainda<br />
de trabalho sobre problemas e soluções para o bairro, identificação<br />
de pontos críticos e potenciais, recolha de ideias e sugestões<br />
de acção e, naturalmente informação específica sobre o prédio<br />
em que cada um habita. Identificam-se ainda situações de carácter<br />
social e saúde iniciando-se, in-loco, o respectivo encaminhamento.<br />
Estas reuniões decorrerão, até final de 2009 e nelas participam,<br />
além dos residentes, dirigentes e técnicos da Câmara Municipal<br />
da Amadora e do IHRU, das diversas áreas envolvidas nas diferentes<br />
operações do projecto, desde o social às equipas projectistas<br />
de arquitectura e engenharia. Participam ainda a Junta de Freguesia<br />
da Buraca e a Associação de Moradores «A partilha».<br />
Quais os resultados esperados tendo em conta a tipologia<br />
dos projectos aprovados do Programa de Acção ?<br />
O bairro tem estado fechado sobre si próprio, na periferia dos centros<br />
urbanos e de decisão, longe de todos os poderes públicos. Em consequência<br />
disso, aprendeu a viver sozinho e, ao longo de décadas,<br />
foi estabelecendo equilíbrios entre os residentes e com o exterior,<br />
acomodando pessoas de diferentes culturas e raízes étnicas e favorecendo<br />
algum grau de segregação espacial, agravada pelo facto<br />
de se tratar de uma zona quase exclusivamente residencial a que<br />
faltam as funções para fazer as pessoas interagir. O espaço público<br />
degradou-se e o privado também, sendo frequentes as ocupações<br />
e transacções infor<strong>mais</strong> de chaves. Socialmente, além da família<br />
e de bolsas de relação e vizinhança, é difuso o sentido de comunidade<br />
e, praticamente ausente a sua vivência.<br />
O resultado final que se pretende, a visão que estamos a construir<br />
com os residentes e que queremos alcançar, é a correcção destas<br />
disfunções. Queremos FAZER CIDADE ali! Construir laços sociais<br />
ancorados no território urbano, entre as pessoas e entre estas<br />
o espaço onde vivem. Aumentar a intensidade da identificação<br />
com os outros e com o território. Tornar habitável e vivido por<br />
todos o espaço público e melhorar as casas dos residentes é um<br />
bom cumprimento do plano de acção, fazer cidade será verdadeiramente<br />
o resultado do projecto!<br />
42 |
Guto <strong>Ferreira</strong><br />
Eco-Bairros<br />
Decorreu até ao passado dia 31 de Agosto, no âmbito<br />
das Parcerias para a Regeneração Urbana, um concurso<br />
para projectos de Eco-Bairros, com um financiamento<br />
de 12 milhões de euros de Feder. Os projectos a gozar deste<br />
apoio terão de cumprir objectivos de eficiência energética,<br />
com base nos princípios do desenvolvimento sustentável,<br />
e devem adoptar boas práticas que permitam rentabilizar<br />
a gestão e utilização dos diversos recursos, nomeadamente<br />
energia, água, resíduos, transportes, mobilidade e espaço<br />
público, tendo em vista a melhoria do desempenho ambiental<br />
do bairro.<br />
A transversalidade do programa de acção revê-se na tipologia<br />
de acções que devem contemplar, nomeadamente: a qualificação<br />
do espaço público e do ambiente urbano; o desenvolvimento<br />
económico, através da dinamização das actividades económicas<br />
associadas às tecnologias ambientais e desenvolvimento de<br />
novas oportunidades de qualificação; desenvolvimento social,<br />
com a promoção de comportamentos adequados, a qualificação<br />
e modernização dos serviços de interesse colectivo, entre outros;<br />
e o desenvolvimento cultural, entre outros objectivos.<br />
O concurso esteve aberto às autarquias locais em parcerias com<br />
associações locais, serviços da administração central, empresas<br />
públicas, instituições de ensino e formação profissional, centros<br />
de I&D, Ong e fundações e associações sem fins lucrativos.<br />
| 43
Luísa <strong>Ferreira</strong><br />
João Ferrão<br />
Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades<br />
A visão estratégica que foi desenhada para a Política de Cidades<br />
tem produzido alterações significativas no planeamento<br />
prospectivo do território? Quais?<br />
Em Agosto de 2009, isto é, cerca de dois anos após o lançamento<br />
dos vários instrumentos da Política de Cidades POLIS XXI, constatamos<br />
um forte envolvimento dos municípios na preparação de<br />
operações integradas de desenvolvimento urbano. No conjunto<br />
das regiões do continente, há cerca de sete dezenas de centros<br />
urbanos com Programas de Acção aprovados no âmbito das «Parcerias<br />
para a Regeneração Urbana» e cerca de quatro dezenas<br />
.participando nas oito «Redes Urbanas para a Competitividade<br />
e a Inovação» com Programas Estratégicos aprovados até ao<br />
momento. Os valores para a Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo são,<br />
respectivamente, duas dezenas e uma dezena.<br />
Todas essas candidaturas pressupõem a apresentação de estratégias<br />
e planos de acção preparados de forma concertada por<br />
diversas entidades e em consonância com as orientações consagradas<br />
no Programa Nacional da Política de Ordenamento do<br />
.Território e, sempre que possível, nos respectivos Planos Regionais<br />
de Ordenamento do Território.<br />
Podemos, pois, afirmar que aqueles dois instrumentos da Política<br />
de Cidades constituem um estímulo muito significativo à valorização<br />
do exercício de planeamento prospectivo de base territorial<br />
e à sua concretização através de projectos adequados às estratégias<br />
desenhadas.<br />
É, aliás, minha firme convicção que o planeamento prospectivo<br />
de base territorial está hoje, para um número cada vez <strong>mais</strong> relevante<br />
de actores públicos e privados, a deixar de ser um mero<br />
exercício de acomodação a requisitos obrigatórios de acesso<br />
a financiamentos públicos para se afirmar proactivamente como<br />
uma prática natural e inevitável de quem compreende que a «visão<br />
de obra» deve dar lugar a uma «visão de território».<br />
Na verdade, num mundo em permanente mutação e fortemente<br />
interactivo, a visão prospectiva de território constitui uma fonte<br />
virtuosa de inteligência colectiva, ao permitir integrar actores<br />
responsáveis por recursos de diferente natureza (ambientais, económicos,<br />
sociais, culturais, etc.) e escala (local, regional, nacional,<br />
global) em contextos de decisão tornados <strong>mais</strong> resilientes pela<br />
partilha de um horizonte estratégico e de uma linha de rumo<br />
comuns.<br />
44 |
Na verdade, num mundo em permanente mutação<br />
e fortemente interactivo, a visão prospectiva de território<br />
constitui uma fonte virtuosa de inteligência colectiva,<br />
ao permitir integrar actores responsáveis por recursos<br />
de diferente natureza (ambientais, económicos, sociais,<br />
culturais, etc.) e escala (local, regional, nacional, global)<br />
em contextos de decisão tornados <strong>mais</strong> resilientes pela<br />
partilha de um horizonte estratégico e de uma linha<br />
de rumo comuns.<br />
Que balanço faz desta primeira experiência das Parcerias<br />
para a Regeneração Urbana, tendo em conta o envolvimento<br />
intersectorial de ministérios, autarquias e parceiros sociais?<br />
Num país, como Portugal, marcado por uma administração<br />
demasiado centralizada e sectorializada, por uma cultura de relativa<br />
desconfiança entre a administração central e as autarquias<br />
e por uma sociedade civil pouco organizada, é imperioso abrir<br />
espaços estruturados de comunicação, intercâmbio e trabalho<br />
conjunto que se transformem em verdadeiros contextos de oportunidade<br />
para todos os envolvidos.<br />
É por isso que a aplicação do princípio da parceria, nomeadamente<br />
em iniciativas que envolvem o acesso a financiamento<br />
público através de procedimentos concursais, é tão importante:<br />
introduz maior racionalidade nas decisões, garante <strong>mais</strong> justiça<br />
relativa, viabiliza economias de escala, propicia mecanismos de<br />
circulação de informação e conhecimento, favorece processos<br />
colectivos de aprendizagem, criatividade e inovação. Ora todos<br />
estes aspectos são particularmente decisivos para intervir adequadamente<br />
na qualificação, modernização e dinamização de realidades<br />
tão complexas como são as cidades.<br />
A constituição de parcerias confronta-se, no entanto, com problemas<br />
há muito identificados, desde o recurso oportunista aos chamados<br />
«parceiros de conforto» à designada «fadiga institucional»<br />
inerente a processos que se tornam, não raro, demasiado<br />
complexos e absorventes para as capacidades das entidades<br />
envolvidas e para os resultados visados.<br />
Para ser eficiente, o princípio da parceria – que se pode resumir,<br />
como alguém disse, numa equação muito simples: 1+1 = 3 – exige<br />
visão estratégica, definição de prioridades, programação da acção,<br />
monitorização. É esta a filosofia do instrumento «Parcerias para<br />
a Regeneração Urbana». E é este o desafio com que se confrontam<br />
todos aqueles que a ele recorrem ou desejam recorrer.<br />
A experiência no terreno associada ao instrumento «Parcerias<br />
para a Regeneração Urbana» é ainda demasiado recente para<br />
.permitir um balanço consistente. Mas os primeiros resultados<br />
parecem promissores: entidades de cidades de todo o país aceitaram<br />
sentar-se à volta de uma mesma mesa para partilharem projectos<br />
e recursos, comprometendo-se com um programa de acção<br />
comum, dando, assim, sentido a intervenções integradas em meio<br />
urbano, centros históricos nalguns casos, frentes ribeirinhas noutros,<br />
bairros suburbanos noutros ainda.<br />
Esta é, afinal, a missão fundadora do ordenamento do território:<br />
proporcionar, para territórios concretos, a adequada ponderação<br />
de valores e interesses diferentes e até contraditórios. E esta é,<br />
ainda, uma das formas <strong>mais</strong> nobres de reconhecermos a centralidade<br />
da «boa cidade» para o desenvolvimento das sociedades<br />
contemporâneas: encará-la como objecto federador e racionalizador<br />
de decisões e acções indispensáveis à prossecução do interesse<br />
comum e à qualidade da vida colectiva.<br />
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46 |<br />
José Pessoa | Divisão de Documentação Fotográfica - INSTITUTO DOS MUSEUS E DA CONSERVAÇÃO, I.P.
Portugal e o Mundo<br />
nos Séculos XVI e XVII<br />
A cultura é a obra do tempo: o que pensamos, fazemos e desejamos,<br />
matéria primeira para o conhecimento do homem como criador<br />
de realidade e vida, através de expressões infinitas que renovam<br />
o pensamento e, deste modo, as sociedades.<br />
Cultura | Paulo Henriques [Director do Museu Nacional de Arte Antiga]<br />
Oolhar retrospectivo sobre o património cultural<br />
permite conhecer este objecto da memória, hoje<br />
muito legado à ignorância, fixados que estamos<br />
no efémero e esquecidos das estruturas civilizacionais<br />
que é imperativo legar ao futuro. Esta<br />
responsabilidade não configura a rejeição da contemporaneidade,<br />
antes é o lastro da transmissão evolutiva dos saberes, essencial<br />
ao desenvolvimento do cidadão.<br />
Sobre isto nos permite reflectir a exposição Encompassing the<br />
Globe. Portugal e o Mundo nos Séculos xvi e xvii: verificação e elogio<br />
justo à capacidade de Portugal para gerar civilização através<br />
das suas viagens de expansão iniciadas no século xv, propiciadoras<br />
de novas conexões humanas, económicas, sociais, politicas e culturais,<br />
fundadoras do ciclo moderno da História da Europa e do<br />
Mundo, nucleares para a compreensão da contemporaneidade.<br />
A exposição permite-nos também a verificação do paradigma que<br />
caracteriza o País, o da dispersão dos patrimónios próprios, geradores<br />
de identidade nacional, prestígio e riqueza, em favor de uma<br />
vivência imediata e individualista, algo esquecida do que é necessário<br />
perpetuar e construir, com utopia de futuro.<br />
<strong>Lisboa</strong> é aqui mostrada como a grande porta para o Mundo, lugar<br />
de chegada das <strong>mais</strong> exóticas mercadorias, conhecimentos e gentes<br />
que, circulando pela Europa, alteraram os hábitos do quotidiano e<br />
do pensamento, científico e filosófico. Sinal desta disseminação<br />
foi a presença de grandes intelectuais portugueses nos principais<br />
centros da Europa, assim como a constatação, que as obras expostas<br />
sublinham, da quantidade e variedade de produtos que,<br />
em trânsito por <strong>Lisboa</strong>, foram desejados, por gosto e curiosidade<br />
científica, pelas <strong>mais</strong> sofisticadas sociedades europeias.<br />
O olhar dos responsáveis científicos da exposição, Jay Levenson,<br />
Jean Michel Massing, Julian Raby, Regina Khral e James Ulak, em<br />
articulação com Nuno Vassalo e Silva, traz uma leitura não-portuguesa<br />
deste ciclo da História de Portugal, actualizada no quadro<br />
contemporâneo da globalização.<br />
Em tempo de crise, a exposição fala ainda da força e do génio dos<br />
portugueses em vencer obstáculos e inventar Mundos. A própria<br />
exposição é disso prova, trabalho perseverante da equipa do Museu<br />
Nacional de Arte Antiga que, em conjugação com a do Instituto<br />
dos Museus e da Conservação, soube erguer esta produção da<br />
Smithsonian Institution.<br />
A versão de <strong>Lisboa</strong> não é réplica das que foram vistas na Freer and<br />
Sackler Gallery, Washington D. C., e no Palais des Beaux Arts, Bruxelas,<br />
em 2007. Respeitando o conceito original, integra agora tesouros<br />
nacionais, desejados desde sempre pelos comissários científicos<br />
mas que, por imperativos técnicos, não puderam ser cedidos.<br />
Algumas das jóias do nosso Património, oriundo de várias instituições<br />
de Portugal, brilham a par das obras raras cedidas<br />
por grandes colecções do Mundo.<br />
Um profundo agradecimento é devido ao Presidente da<br />
Smithsonian Institution, Wayne Clough; aos Comissários científicos,<br />
Jay Levenson, Julian Raby e Nuno Vassalo e Silva; ao Presidente<br />
da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, e ao Director<br />
do Instituto dos Museus e da Conservação, Manuel Bairrão Oleiro,<br />
cujo empenho neste projecto gerou força para vencer tormentas,<br />
afinal outro dos talentos do ser português. ■<br />
Museu Nacional de Arte Antiga<br />
Rua das Janelas Verdes | 1249-027 <strong>Lisboa</strong>.<br />
Tel: 21 391 2800 | Fax 21 397 3703 .<br />
mnarteantiga@ipmuseus.pt.<br />
mnaa.imc-ip.pt<br />
Como chegar autocarros: 60, 713, 727 Rua das Janelas Verdes; .<br />
28, 714, 732 – Avenida 24 de Julho; eléctricos: 15E, 18E – Avenida<br />
24 de Julho; 25 – Largo de Santos<br />
Horário terça a domingo: 10:00h às 18:00h.<br />
quinta-feira: das 10:00h às 23:00h.<br />
Encerrado: todas as segundas-feiras<br />
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48 |
<strong>Lisboa</strong> leva «Inovação Social» a Bruxelas<br />
No Ano Europeu da Criatividade<br />
e da Inovação, e pelo terceiro ano<br />
consecutivo, a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> lidera uma<br />
parceria dedicada ao tema da<br />
inovação social no âmbito dos Open<br />
Days, evento organizado pela<br />
Comissão Europeia e Comité das<br />
Regiões, que se realiza em Bruxelas<br />
entre 5 e 8 de Outubro.<br />
Nesta edição, a parceria regional intitulada «Rede<br />
para o Crescimento Económico Criativo e Inclusivo»<br />
(Creative and Inclusive Economic Growth<br />
Network), é a <strong>mais</strong> alargada de sempre, integra<br />
parceiros de 8 regiões europeias de 7 Estados<br />
Membros: Reino Unido (Merseyside, Gloucestershire), Irlanda<br />
(NASC Ireland West Partnership), Holanda (Província da Zelândia),<br />
Itália (Abruzzo), Espanha (País Basco), Malta e Portugal (Açores).<br />
A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e os restantes parceiros pretendem discutir o fortalecimento<br />
de pontes entre a inovação social e o crescimento económico<br />
e partilhar soluções inovadoras para promover a inclusão<br />
social. Tendo em conta que é fundamental investir numa sociedade<br />
do conhecimento baseada no capital humano e no potencial<br />
dos cidadãos, é imprescindível articular a dimensão social com<br />
a dimensão tecnológica da inovação e da criatividade.<br />
Neste evento em Bruxelas, a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> vai promover o seminário<br />
«Inovação Social: Partilhando Ideias Criativas para um Crescimento<br />
Sustentável», no dia 8 de Outubro, nas instalações da REPER<br />
Portuguesa. O seminário apresenta um modelo de debate público<br />
composto por um key-speaker e um moderador participante que<br />
dinamizarão os convidados e a audiência, onde estarão responsáveis<br />
pelas políticas públicas, coordenadores de projectos e beneficiários<br />
das políticas sociais. A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> irá destacar neste evento<br />
o projecto «Orquestras Juvenis Geração» e o trabalho do «Chapitô».<br />
A convite da DGRegio (Direcção-Geral de Política Regional da<br />
Comissão Europeia), a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> vai levar este ano a Bruxelas a<br />
«Orquestra Juvenil Geração» do Bairro Casal da Boba na Amadora,<br />
composta por cerca de 30 crianças, para actuar no dia 7 num<br />
espaço nobre deste evento. Esta Orquestra é o embrião de um dos<br />
projectos <strong>mais</strong> importantes da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> na área da inclusão<br />
social, tendo o <strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong> financiado recentemente <strong>mais</strong> 6 novas<br />
orquestras com crianças e jovens provenientes de bairros críticos<br />
em diferentes municípios da AML e cujo objectivo é criar <strong>mais</strong><br />
tarde uma orquestra metropolitana.<br />
As inscrições nos seminários dos Open Days 2009 estão abertas<br />
em: http://ec.europa.eu/regional_policy/conferences/od2009. ■<br />
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Museu da<br />
Presidência da<br />
República<br />
5º aniversário<br />
Fotografia | IL/MPR<br />
50 |
Inaugurado a 5 de Outubro de 2004, o Museu da Presidência da República<br />
comemora, este ano, o seu quinto aniversário. Este Museu representa<br />
hoje um dos <strong>mais</strong> importantes veículos de conhecimento e divulgação<br />
da instituição presidencial, sendo, por inerência, um espaço privilegiado<br />
de relação com a história portuguesa dos últimos 100 anos.<br />
Resgatando um património histórico anteriormente<br />
ameaçado pela dispersão e pelo esquecimento,<br />
o MPR reúne, actualmente, na sua colecção, milhares<br />
de peças, entre presentes de Estado, objectos<br />
pessoais e condecorações. O acervo documental<br />
do Museu agrega cerca de um milhão de documentos – correspondência<br />
oficial e privada, manuscritos e imagens, testemunhos<br />
da vida pública e familiar dos Chefes de Estado. Através do projecto<br />
«arquivo digital» (candidato, com sucesso, ao Programa Operacional<br />
da Sociedade do Conhecimento) este acervo encontra-se em<br />
processo de tratamento e digitalização e acessível on line.<br />
Procurando contribuir de forma activa para a construção da cidadania<br />
e para a aproximação da instituição presidencial à sociedade<br />
civil, o MPR investe numa forte componente pedagógica e cultural:<br />
oficinas pedagógicas, encontros temáticos, visitas orientadas, colóquios,<br />
acções de formação, exposições temporárias e itinerantes.<br />
Na exposição permanente, apoiada por tecnologias inovadoras<br />
e interactivas, o visitante é convidado a percorrer as diferentes fases<br />
da República portuguesa, aqui se dando a conhecer o papel e evolução<br />
da instituição presidencial e a vida e acção política dos seus<br />
protagonistas. Combinando a exposição tradicional de peças com<br />
conteúdos informativos em suporte audiovisual e touch screens,<br />
a Exposição explora, ainda, temas do património material e imaterial<br />
associados à República e ao exercício da magistratura presidencial:<br />
símbolos nacionais, presentes de Estado, Ordens Honoríficas<br />
e Palácio de Belém.<br />
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Tratando-se de uma instituição de dimensão nacional, pela sua<br />
missão e objectivos, o Museu da Presidência da República alargou<br />
o seu projecto cultural ao conjunto do território. Através da promoção<br />
de exposições temporárias e itinerantes, encontros, seminários<br />
e actividades de formação, o Museu assinalou a sua presença em<br />
todos os distritos do país, incluindo regiões autónomas. Para<br />
a concretização deste projecto o MPR conta com a colaboração<br />
de vários parceiros, públicos e privados. Destacam‐se, a este nível,<br />
as parcerias efectuadas com várias Câmaras Municipais. São disso<br />
exemplo, as exposições promovidas em diversas autarquias<br />
do país, por ocasião das celebrações oficiais do Dia de Portugal,<br />
de Camões e das Comunidades Portuguesas.<br />
As iniciativas culturais do Museu constituem tanto o corolário,<br />
como o motor, de uma intensa actividade de investigação. A promoção<br />
do conhecimento, de forma sustentada, tem-se materializado<br />
numa série de publicações (cerca de 40 títulos), cobrindo<br />
temas de História, Arte, Património, Política e Cidadania.<br />
O reconhecimento público da actividade do Museu traduziu-se<br />
nalguns prestigiados prémios, como o Prémio Europa Nostra,<br />
da Federação Pan-Europeia para o Património Cultural da União<br />
Europeia, e o Prémio José de Figueiredo, da Academia Nacional<br />
de Belas-Artes.<br />
Até 2010, ano em que se celebra o primeiro centenário da República<br />
Portuguesa, o Museu da Presidência da República prevê<br />
a apresentação do projecto de ampliação do Museu, onde se inclui<br />
a criação de um Centro de Estudos. Dar-se-á continuidade à actividade<br />
editorial, com a publicação de obras relacionadas com os<br />
Presidentes e a História da República portuguesa. Paralelamente,<br />
serão lançados os alicerces para a criação de uma rede de museus<br />
associados ao Museu da Presidência da República que, a par das<br />
exposições itinerantes e temporárias promovidas em todo o país,<br />
contribuirá para o seu programa de descentralização cultural. ■<br />
Palácio Nacional de Belém<br />
Praça Afonso de Albuquerque 1349-022 <strong>Lisboa</strong>.<br />
(+351) 21 361 46 60.<br />
museu@presidencia.pt<br />
www.museu.presidencia.pt<br />
Serviço de Educação e Animação Cultural.<br />
(+351) 21 361 46 60.<br />
museu@presidencia.pt.<br />
Museu: Terça a Domingo, 10h – 18h<br />
Visitas ao Palácio e Jardins: Sábados, 10h – 16h30<br />
(disponibilidade das visitas condicionada.<br />
pela agenda presidencial).<br />
Línguas de atendimento:.<br />
Português, Inglês,Espanhol e Francês<br />
52 |
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Sardinha,<br />
Rica Sardinha<br />
A sardinha faz parte do grupo<br />
de peixes teleósteos abdominai<br />
e adquire o nome científico<br />
de «Sardina pilchardus».<br />
Não pensem que vou continuar com<br />
esta linguagem ou com as<br />
definições técnicas deste<br />
maravilhoso peixe que nos<br />
identifica no Mundo. A sardinha<br />
sempre foi associada a alimentação<br />
popular e recentemente assistimos<br />
à sua utilização por grandes chefes e<br />
para grandes mesas, que dizer, alta<br />
gastronomia ou cozinha de autor.<br />
Roteiro | Virgilio Gomes<br />
Fotografia | ca, produções fotográficas<br />
Ninguém como os portugueses para se deliciarem<br />
com sardinhas assadas colocadas sobre fatia<br />
de pão de mistura. Claro que instintivamente<br />
a tradição de comer sardinhas está associada<br />
à época em que o seu sabor é melhor. Por isso<br />
a sardinha transforma-se em emblema culinário das festas populares<br />
de Junho. E lá diz o ditado: «No S. João a sardinha pinga<br />
no pão». Claro que a sardinha é também o elemento culinário do<br />
Santo António. É de facto neste tempo que a sardinha está gorda,<br />
a sua pele liberta-se com facilidade e a sua gordura embebe o pão<br />
de forma gulosa.<br />
Domingos Rodrigues (1680), autor do primeiro livro de receitas<br />
em portugal sugere os meses de Novembro e Dezembro, apesar<br />
de não dar nenhuma receita. Lucas Rigaud (1780) nem sequer<br />
menciona as sardinhas. Já João da Mata (1876) lhe concede honras<br />
de três receitas: Sardinhas à Mata, Sardinhas em Pastelinhos<br />
à Portuguesa, e Sardinhas em Espiches.<br />
Olleboma (1936), autor de Culinária Portuguesa recomendava<br />
que a sardinha fosse consumida de Junho a Outubro pois eram os<br />
meses de melhor sabor e menciona que «a sardinha é o peixe<br />
<strong>mais</strong> abundante em toda a costa de Portugal… consome-se fresca,<br />
salgada e em conserva de azeite». Como modos de confecção<br />
apresenta várias receitas de fritas, grelhadas ou assadas na brasa,<br />
recheadas e fritas com molho de tomate à moda de Setúbal.<br />
Não vou continuar a relatar a presença da sardinha nos clássicos<br />
de receituários de culinária portuguesa. Devo, no entanto, referir<br />
a importância que a indústria conserveira teve durante o século xx.<br />
O sistema de conserva dos alimentos após cozedura e isolamento<br />
do ar foi descoberto por um cozinheiro francês de nome Appert<br />
e já em 1804. Mas é em Inglaterra que se estabelece em 1810 a<br />
primeira indústria de conservas em folha-de-flandres, mas o produto<br />
final era muito caro pelo seu manuseamento.<br />
Curioso é encontrar já uma receita de sardinhas no famoso livro,<br />
que eu traduzo directamente do francês para «As delícias da<br />
mesa e os melhores tipos de comida», de Ibn Razin Tujibi, escrito<br />
entre 1238 e 1266, e publicado no tempo da dinastias Almohade<br />
.e Mérinide, no domínio de Al Andalus e do Maghreb. Isto porque<br />
a sardinha era considerada um peixe popular, ou menor.<br />
www.virgiliogomes.com<br />
Fotografias realizadas em Setúbal - restaurante A Nau -, e em <strong>Lisboa</strong>, no Bairro Alto.<br />
Será fácil admitir que a sardinha já constava dos peixes que os<br />
romanos consumiam e que seria um dos elementos que entrava<br />
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56 |
no famoso garum. Este seria uma pasta de peixe imaginada como<br />
sistema de conservação do peixe após a chegada dos barcos, e de<br />
cujo fabrico temos informações de Setúbal e Monte Gordo, condizentemente<br />
os locais onde se estabeleceram as primeiras indústrias<br />
de conserva.<br />
Durante a Idade Média haveria até 240 dias de jejum de carne<br />
pelo que os frutos pesqueiros seriam a base da alimentação.<br />
A sardinha era primordial. Consta mesmo que no primeiro<br />
«restaurante» instalado na Praça da Ribeira, o Mal Cozinhado, se<br />
prestaria a fritar o peixe e servi-lo sobre fatias de pão.<br />
A sardinha transformou-se num produto popular pelo seu preço,<br />
e vulgarizou-se, como a melhor forma de a saborear, assada na brasa.<br />
A sardinha durante o século xx teve picos de glória e de abandono,<br />
deixando de ser prato de mesas finas ou abastadas. Para o interior<br />
vinham em barricas com sal pois para as grandes tarefas<br />
agrícolas era necessário contratar galegos que não abdicavam<br />
de comer peixe. Outras formas, de conservação, levaram à criação<br />
de outro receituário como as empadas ou bolas de sardinha.<br />
A importância popular da sardinha foi, e é, tão grande que a linguagem<br />
proverbial a adoptou em vários sentidos:<br />
«Da garganta para baixo, tanto sabe a galinha como a sardinha».<br />
«Na tua casa não tens sardinha e na alheia pedes galinha».<br />
«Nem sempre galinha, nem sempre sardinha».<br />
«A mulher e a sardinha querem-se pequenina».<br />
«A mulher e a sardinha quanto maior <strong>mais</strong> danadinha».<br />
«Não há comida abaixo da sardinha, nem burro abaixo de jumento».<br />
«Se tens sardinha… não andes à cata de peru».<br />
«Estar apertado como sardinha em lata».<br />
«Comer sardinha e arrotar pescada».<br />
«Tirar a sardinha com a mão do gato»<br />
Para todas as ocasiões e para todos os sentidos.<br />
A sardinha assada é, para mim, um elemento diferenciador da alimentação<br />
portuguesa. Os países <strong>mais</strong> próximos que consomem<br />
sardinha, como a Espanha, França ou Itália não o fazem como nós.<br />
E muito menos com o acto convivial de comer sardinhas assadas<br />
na brasa, em conjunto à volta do assador. E com a simplicidade<br />
de o fazer à mão e sobre uma fatia de pão. Claro que estará sempre<br />
por perto uma boa salada com pimentos e bom vinho.<br />
Não resisto a lembrar o único sítio que comi sardinhas assadas<br />
e me fez lembrar, ou poder pensar que estava em Portugal. Em<br />
Essaouira, Marrocos e antiga praça portuguesa de Mogador, junto<br />
à lota há uma espécie de restaurantes que se limitam a ser umas<br />
mesas corridas e apenas temos que escolher o peixe. Está incluído<br />
o pão, salada de tomate e refrigerantes (país muçulmano e com<br />
uma mesquita na proximidade). Escolhi três variedades de peixe<br />
e, a medo, apenas duas sardinhas. Chegado o peixe comecei pelas<br />
sardinhas e de imediato pedi <strong>mais</strong> seis. Voltei lá <strong>mais</strong> vezes só para<br />
comer sardinhas. ■<br />
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artemrede<br />
Evelina Lindqvist<br />
Na sequência do investimento realizado em conjunto<br />
com as autarquias na construção, recuperação, modificação<br />
de cine‐teatros e outros equipamentos culturais<br />
congéneres destinados à apresentação de espectáculos,<br />
maioritariamente financiado através dos fundos estruturais<br />
europeus, decidiu a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> – Comissão de Coordenação<br />
e Desenvolvimento Regional de <strong>Lisboa</strong> e Vale<br />
do Tejo promover a realização de um estudo que identificasse<br />
os meios e instrumentos <strong>mais</strong> adequados à dinamização,<br />
qualificação e criação de condições de sustentabilidade<br />
desses equipamentos.<br />
A realização do referido estudo incluiu um trabalho de<br />
inventariação dos teatros e Cineteatros e de análise das<br />
dinâmicas culturais da Região, bem como uma ampla<br />
discussão e troca de ideias com as autarquias, ao nível,<br />
quer dos seus responsáveis políticos, quer de responsáveis<br />
dos departamentos culturais ou dos próprios teatros.<br />
Este processo culminou com a proposta de criação de uma<br />
rede formal que integrasse os teatros e equipamentos<br />
culturais congéneres da região, entendida como a melhor<br />
solução para dar resposta às necessidades de qualificação,<br />
assistência técnica e desenvolvimento que as autarquias<br />
sentem neste domínio. A criação da Rede foi consubstanciada<br />
através da constituição de uma associação cultural<br />
privada sem fins lucrativos «Artemrede – Teatros Associados»,<br />
integrando, presentemente, o projecto 16 autarquias:<br />
Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Almeirim,<br />
Barreiro, Caldas da Rainha, Cartaxo, Entroncamento,<br />
MÚSICA<br />
STOCKHOLM LISBOA PROJECT<br />
Música do Mundo | Tradicional [Portugal | Suécia]<br />
Sexta, 25 Setembro | 21h30<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />
Sábado, 26 Setembro | 21h30<br />
Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />
Sábado, 10 Outubro | 21h30<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Sexta, 11 Dezembro | 21h30<br />
Abrantes | Cineteatro S. Pedro<br />
Sexta, 18 Dezembro | 22h00<br />
Externato Cooperativo da Benedita | Centro Cultural Gonçalves Sapinho<br />
Duração: 90 min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/3 anos<br />
Músicos portugueses e suecos juntaram-se neste projecto para explorar pontos de<br />
encontro entre as suas tradições musicais. Distantes no espaço mas unidos pela<br />
linguagem universal que é a música, encontraram novas texturas e pontes Norte-Sul,<br />
entre uma tradição e a outra.<br />
Simon Stålspets, Sérgio Crisóstomo, Liana e Filip Jers são a face deste projecto que traz<br />
a palco tradições das suas raízes culturais.<br />
O seu repertório abrange Música tradicional Portuguesa e Escandinava, desde Fado a<br />
Polskas, levadas até aos ouvintes pelas cores sonoras do violino, mandolim, mandola<br />
nórdica e voz.<br />
O último álbum «Diagonal» ganhou o prémio «Award of the German critics/<br />
journalists – third quarter 2009».<br />
Moita, Montijo, Palmela, Santarém, Sesimbra, Sobral<br />
de Monte Agraço e Torres Vedras, e o Externato Cooperativo<br />
da Benedita.<br />
58 |
Dominique Shi/Homardpayette<br />
«Fractal», é o homem dividido entre dois universos: o do enclausuramento quotidiano<br />
e medíocre e o do sonho, do entusiasmo que, a todo o momento, o torna livre e<br />
brilhante sob os projectores.<br />
É graças às luzes de cena que esta metamorfose é produzida. Mas assim que as luzes<br />
da ribalta se apagam, o que é que fica?<br />
Metáfora do artista, mas também esquizofrenia quotidiana: Fractal, sem outros meios<br />
que não o corpo do dançarino e uma chuva luminosa, interroga as contradições e as<br />
nossas angústias de uma forma muito lúdica.<br />
Strategy in Action<br />
DANÇA<br />
FRACTAL<br />
Compagnie Fractal<br />
Hip Hop Contemporâneo [França]<br />
Quarta, 16 Setembro | 21h30<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Sexta, 18 Setembro | 21h30<br />
Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras<br />
Sábado, 19 Setembro | 21h30<br />
Alcanena | Cineteatro São Pedro<br />
Domingo, 20 Setembro | 21h30<br />
Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />
Terça, 22 Setembro | 16h00<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />
Quinta, 24 Setembro | 10h10<br />
Externato Cooperativo da Benedita | Centro Cultural Gonçalves Sapinho<br />
Sexta, 25 Setembro | 22h00<br />
Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo<br />
Sábado, 26 Setembro | 21h30<br />
Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />
Duração Espectáculo: 40min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/6 anos<br />
Um homem que acorda num asilo psiquiátrico. Fechado. Porquê? Sem dúvida que<br />
existe uma razão, mas ele já a esqueceu.<br />
TEATRO<br />
DO DESASSOSSEGO<br />
Comuna – Teatro De Pesquisa<br />
Drama [Portugal]<br />
Sábado, 05 Setembro | 21h30<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Quarta, 07 Outubro | 21h30<br />
Almada | Teatro Municipal de Almada<br />
Sexta, 06 Novembro | 21h30<br />
Palmela | Cineteatro São João<br />
Quinta, 12 Novembro | 14h00<br />
Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />
Segunda, 07 Dezembro | 21h30<br />
Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras<br />
Duração: 65 min. [s/ int.] | Público Alvo: Adulto | Faixa Etária: m/12 anos<br />
Este espectáculo será uma reflexão sobre um século que teve em Fernando Pessoa um<br />
dos seus maiores expoentes, pela clareza, a inteligência e a frieza com que soube<br />
interrogar e interrogar-nos. O desassossego português através da palavra do maior<br />
poeta da língua portuguesa do século que findou.<br />
Fernando Pessoa, ele próprio, será o músico, que sem palavras, mas recorrendo aos<br />
<strong>mais</strong> variados instrumentos, executará temas originais, preencherá silêncios,<br />
anunciará mudanças e marcará ritmos – maestro por excelência dos seus<br />
heterónimos.<br />
Resta-lhe apenas a imaginação para fugir desta condição insuportável.<br />
Está sozinho em cima do seu banco, as suas mãos perturbam-no como se de um corpo<br />
estranho se tratasse. Mexem-se sozinhas, agridem-no. Mas cedo irão tornar-se suas<br />
aliadas. Submetem-se à sua vontade e criam pequenos universos nascidos da sua<br />
imaginação, que se constroem em espirais como uma curva fractal até que, raspando<br />
o chão, faz surgir um génio, ou antes, é ele que se transforma num génio. Sob as luzes<br />
da ribalta, ofuscando de virtuosidade e de liberdade. Torna-se noutro homem,<br />
mas o efeito mágico não perdura e cansa-se em esforços cómicos e simultaneamente<br />
desesperantes para voltar a encontrar esse estado de graça.<br />
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DRÁKULA<br />
Companhia do Chapitô<br />
Comédia [Portugal]<br />
Sexta, 18 Setembro | 21h00<br />
Golegã | Cineteatro Gil Vicente<br />
Sábado, 17 Outubro | 21h30<br />
Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />
Sexta, 27 Novembro | 21h30<br />
Abrantes | Cineteatro S. Pedro<br />
Sábado, 28 Novembro | 21h30<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim D’almeida<br />
Domingo, 29 Novembro | 16h00<br />
Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />
Duração: 90 min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/12 anos<br />
Dr. Jonathan Harker, um célebre dentista inglês é chamado de urgência à Transilvânia.<br />
Ao chegar ao castelo do seu cliente depara-se com um vasto espólio de doenças e<br />
estranhos hábitos de dieta e higiene oral: queda de dentes, gengivite, mau hálito e<br />
uma acentuada ausência de vitamina D. No regresso a Londres, sucedem-se incidentes<br />
ainda <strong>mais</strong> perturbantes: o conde não consegue abandonar os seus hábitos perversos,<br />
nem a sua particular preferência por certos grupos de sangue. Nada parece detê-lo.<br />
Sem alternativa Dr. Harker pede auxilio ao seu colega e amigo Prof. Van Helsing –<br />
o grande «Vampirologista». Entre A positivo e RH negativo, o romance, o suspense<br />
e o drama nas ruas sombrias de Londres. O renascimento do afamado Conde Drácula,<br />
para recuperar uma dentição que não resistiu à passagem dos séculos. O mito no seu<br />
sentido <strong>mais</strong> vampiresco.<br />
CRIANÇAS E JOVENS<br />
A CAÇA<br />
Teatro O Bando<br />
Teatro [Portugal]<br />
Sábado, 03 Outubro | 11h00<br />
Torres Vedras | Cineteatro de Torres Vedras<br />
Sábado, 10 Outubro | 16h30<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />
Sábado, 31 Outubro | 18h00<br />
Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />
Domingo, 06 Dezembro | 17h00<br />
Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota<br />
Domingo, 13 Dezembro | 16h00<br />
Almada | Fórum Municipal Romeu Correia<br />
Duração: 1h15 [c/ int. 5min. sem saída do Público] | Lotação Máxima: 60 espectadores |<br />
Público Alvo: Escolar e Familiar | Faixa Etária: m/ 6 anos<br />
Com encenação de Rogério de Carvalho [galardoado com o Prémio da Crítica por duas<br />
vezes e ainda com o Prémio Garrett e o Prémio Almada], A CAÇA é também o nome da<br />
curta-metragem homónima de Manoel de Oliveira, estreada em 1964. Cruzando as<br />
linguagens do Teatro e do Cinema, colocamo-nos assim entre o palco e a tela, entre os<br />
actores e a projecção, de modo a podermos acompanhar os passeios de dois amigos,<br />
dois caçadores sem espingarda que atravessam lameiros e observam a violência quotidiana<br />
dos homens, a agressividade da Natureza.<br />
A CAÇA encerra uma trilogia teatral iniciada em 2006. Depois de GRÃO DE BICO, ponto<br />
de partida que explorou a Voz e o Gesto, e de LINHA DA VIAGEM, a qual percorreu a<br />
Pintura de Nadir Afonso e nos hipnotizou com a vertigem da Dança, chegamos agora<br />
ao plano da estação com A CAÇA, onde se exploram as sensações surpreendentes<br />
desencadeadas pelo Cinema.<br />
60 |
OFICINAS<br />
Gémeo Luís<br />
SAM<br />
A VER NAVIOS<br />
No Reinado de D. João VI e Carlota Joaquina<br />
S.A. Marionetas<br />
Teatro | Marionetas [Portugal]<br />
Sexta, 23 Outubro | 14h00<br />
Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />
Sábado, 24 Outubro | 16h00<br />
Almada | Solar dos Zagalos<br />
Sábado, 14 Novembro | 11h00<br />
Torres Vedras | Cineteatro de Torres Vedras<br />
Domingo, 15 Novembro | 16h00<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Domingo, 22 Novembro | 16h00<br />
Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />
O PRAZER DO POEMA<br />
Susana Menezes<br />
Oficina associada ao espectáculo<br />
Do Desassossego, Teatro da Comuna<br />
Poesia | Escrita [Portugal]<br />
Sábado, 12 Setembro | 16h00<br />
Sobral de Monte Agraço<br />
Biblioteca Municipal de Sobral de Monte Agraço<br />
Sábado, 31 Outubro | 18h00<br />
Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />
Quarta, 11 Novembro<br />
Santarém | Universidade da Terceira Idade [hora a definir]<br />
Almada [local e data a definir]<br />
Duração: 1h30 | Lotação Máxima: 15 participantes | Público Alvo: m/18 anos | Monitor:<br />
Paulo Campos dos Reis<br />
O poema [um qualquer] é a matiz. Lesse e relesse de diversos modos. A cabeça<br />
entende-o. As vozes dão-lhe cores. Fazem-se exercícios de análise e de expressão<br />
dramática. Vêm-se imagens das coisas que os poemas contêm. Compõem-se os versos<br />
dos poemas com essas imagens. Compõem-se as imagens do poema com versos.<br />
No final cada participante terá o princípio do mundo numa folha de papel:<br />
O seu poema.<br />
Golegã | Cineteatro Gil Vicente [data a definir]<br />
Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Lotação Máxima: 200 espectadores | Público Alvo:<br />
Familiar e Escolar [2º e 3º Ciclos] | Faixa Etária: m/6 anos<br />
1807, Novembro. quase às portas de <strong>Lisboa</strong> as tropas de Napoleão ameaçam fazer<br />
capitular o Rei, como já aconteceu por toda a Europa e mesmo com a vizinha Espanha<br />
com quem tinha anteriormente feito uma coligação.<br />
No gabinete D. João VI reúne com os seus conselheiros. Tem que decidir se entra no<br />
Bloqueio Continental decretado por Napoleão contra os Ingleses, ou se parte numa<br />
viagem ja<strong>mais</strong> feita por um monarca europeu contando com o apoio dos «sempre<br />
presentes e velhos aliados» Ingleses.<br />
Em <strong>Lisboa</strong>, capital do reino corre-se desenfreadamente. Finalmente foi tomada a<br />
decisão há muito pensada e por todos adiada. A corte vai partir numa viagem inédita.<br />
Transfere-se a Rainha, o Príncipe Regente, a Princesa sua mulher, os príncipes e as<br />
princesas, ministros, conselheiros, tesoureiros, secretários, esmoleres, alcaides, escrivães,<br />
criados, pratas, livros, ouros, quadros, porcelanas… para o outro lado do oceano.<br />
Assim tem início o espectáculo que conta a grande aventura de D. João VI e toda a sua<br />
corte no Brasil. Conta-se como foi e porque foi.<br />
O elenco conta com cerca de 20 marionetas de fios que representam o D. João, D.<br />
Carlota, D. Maria, os filhos D. Pedro e D. Miguel, os Conselheiros D. Rodrigo de Sousa<br />
Coutinho, António Araújo e Azevedo, William Beresford, Lord Strangford, entre outros<br />
e como não podia deixar de ser Napoleão Bonaparte.<br />
Inicia-se a narrativa com a partida da corte para o Brasil e o impacto da mesma<br />
na vida da colónia, regressando por momentos a Portugal e às Guerras Peninsulares,<br />
para de novo voltar às peripécias da vida quotidiana do Reino Unido de Portugal,<br />
Brasil e Algarve do outro lado do Oceano. No final teremos D. Pedro que fica<br />
e Napoleão que confessa ter sido enganado.<br />
Destaca-se ainda o grande rigor na confecção dos figurinos das marionetas bem como<br />
de cenários e estruturas cénicas que se baseiam em originais da época.<br />
AS PESSOAS DO PESSOA<br />
Susana Menezes<br />
Oficina associada ao espectáculo<br />
Do Desassossego, Teatro da Comuna<br />
Escrita | Expressão Dramática<br />
[Portugal]<br />
Alcobaça [local e data a definir]<br />
Externato Cooperativo da Benedita<br />
Centro Cultural Gonçalves Sapinho<br />
[data a definir]<br />
Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 1 turma<br />
Público Alvo: alunos do ensino secundário<br />
Monitor: Catarina Requeijo<br />
Conhecer um pouco melhor Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis<br />
e a relação que cada um deles estabeleceu com os diferentes lugares ou cidades.<br />
A ideia de heterónimo como espaço de liberdade para a existência de um outro<br />
eu num outro pequeno mundo.<br />
De quantas pessoas é feita uma pessoa? quantos temos dentro de nós?<br />
Seremos diferentes em diferentes cidades? E casas? E lugares?<br />
Através da escrita e da expressão dramática vamos fazer uma viagem ao interior<br />
de um escritor/jornalista/publicitário/empreendedor e amante.<br />
Como é que tantas pessoas cabem dentro de uma só?<br />
Gémeo Luís<br />
| 61
Sábado, 10 Outubro | 10h30<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />
Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras [data a definir]<br />
Gémeo Luís<br />
Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota [data a definir]<br />
Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 12 [ao fim-de-semana] 1 turma [durante a<br />
semana] | Faixa Etária: m/8 anos | Monitor: Catarina Requeijo, Inês Barahona<br />
OFICINA DE DJING<br />
Susana Menezes<br />
Oficina associada ao espectáculo Fractal, Cie. Impact [França]<br />
Música [Portugal]<br />
Terça, 22 Setembro | 13h30<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />
Sexta, 25 Setembro | 18h00<br />
Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />
Sábado, 26 Setembro | 14h30<br />
Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />
Sexta, 02 Outubro | 21h30<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Domingo, 04 Outubro | 17h00<br />
Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />
Sábado, 07 e 14 Novembro | 16h00<br />
Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />
Abrantes [local e data a definir]<br />
Partindo das ideias chave do espectáculo – caça e censura – criámos uma Oficina em<br />
que as crianças podem fazer uma viagem a um tempo em que, felizmente, não<br />
viveram. Terão contacto com notícias, desenhos, caricaturas e outros materiais que<br />
foram censurados e poderão experimentar exprimir-se com uma liberdade de<br />
expressão relativa.<br />
A Oficina está estruturada em dois momentos: num primeiro momento, que passa<br />
sobretudo pela escrita, as crianças serão «caçadores» de notícias censuradas que têm<br />
de reconstruir, a partir de fragmentos de texto e de imagens que foram enterrados na<br />
areia. Num segundo momento terão a possibilidade de dramatizar as notícias escritas,<br />
apresentando-as em diversos formatos: debate televisivo, programa de rádio,<br />
conferência de imprensa…É sobretudo neste segundo momento que serão<br />
confrontadas com as limitações à sua liberdade de expressão, através de armadilhas<br />
preparadas pelos monitores.<br />
Oficina criada no contexto da Programação do Centro de Pedagogia e Animação do<br />
Centro Cultural de Belém.<br />
OFICINA DE HIP HOP<br />
Susana Menezes<br />
Oficina associada ao espectáculo<br />
Fractal, Cie. Impact [França]<br />
Dança [Portugal]<br />
Alcobaça [local e data a definir]<br />
Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras [data a definir]<br />
Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 15 participantes | Público Alvo: m/16 anos |<br />
Monitor: DJ Ride<br />
Observações: A Oficina só se realiza com o mínimo de 6 participantes<br />
Pequena introdução ao djing/turntablism/scratch. O que é um setup standart,<br />
diferença entre os diferentes materiais. Elucidação das funções <strong>mais</strong> básicas da mesa<br />
de mistura/gira-discos. quais as principais marcas de mesas/gira-discos, diferenças<br />
entre elas, qualidade/preço, etc.. Diferenças entre os diversos estilos musicais, Hip Hop,<br />
Funk, Soul, BreakBeat, House, Drum ‘n Bass. Primeiras noções básicas de mistura, BPM’s,<br />
etc.. Diferenças entre misturar com vinil, com CD ou com software. Diferença entre<br />
vinil/cd. Vantagens e desvantagens do uso do vinil/cd ou software. Utilização dos<br />
auscultadores, munição, cue. O que é o «Scratch». Diferentes técnicas e potencialidades<br />
do Scratch. Diferença entre DJ, Turntablist e Scratch Producer/musician. Noções de<br />
beat jugling/pass pass e como incorporar estas técnicas num dj Setembro. Exemplos/<br />
showcase das técnicas <strong>mais</strong> básicas. Noções básicas sobre softwae de mistura<br />
[traktor], final scratch/rane Serato e gravação/produção: ableton live, adobe audition.<br />
As diferenças entre pôr som VS tocar VS live act/performance. Parte prática.<br />
OFICINA DE ESCRITA E TEATRO<br />
Susana Menezes<br />
Oficina associada ao espectáculo A Caça, Teatro O Bando<br />
Escrita | Teatro [Portugal]<br />
Gémeo Luís<br />
Segunda, 14 Setembro | 16h00<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Terça, 22 Setembro | 10h30<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />
Sábado, 26 Setembro | 15h00<br />
Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo<br />
Domingo, 27 Setembro | 17h00<br />
Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />
Quinta, 08 Outubro | 15h00<br />
Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />
Sexta, 09 Outubro | 18h00<br />
Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />
Sábado, 21 Novembro | 16h00<br />
Palmela | Centro Cultural do Poceirão<br />
Abrantes [local e data a definir]<br />
Alcanena | Cineteatro São Pedro [data a definir]<br />
Alcobaça [local e data a definir]<br />
Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras [data a definir]<br />
Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 15 [ao fim-de-semana] 1 turma<br />
[durante a semana] | Público Alvo: m/12 anos | Monitor: Nelson Lucas<br />
Inclusão da Dança na biografia da Cultura Hip Hop.<br />
Base técnica para as 4 vertentes da Dança HH [Popping, Locking, Newschoo,<br />
e Breakdance].<br />
Gémeo Luís<br />
Aliar o estilo House e partilhar técnicas utilizadas no HH.<br />
Construção coreográfica baseada nas 4 vertentes da Dança HH.<br />
62 |
David Burns<br />
FESTA DA MARIONETA<br />
EGGBIRD E OUTRAS HISTÓRIAS DE MARIONETAS<br />
Stephen Mottram<br />
Marionetas [Inglaterra]<br />
Sexta, 16 Outubro | 14h30<br />
Alcobaça | Cineteatro de Alcobaça<br />
Domingo, 18 Outubro | 16h00<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro do Sobral de Monte Agraço<br />
Sábado, 24 Outubro | 16h00<br />
Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo<br />
Domingo, 25 Outubro | 11h00<br />
Palmela | Auditório Municipal do Pinhal Novo<br />
Domingo, 25 Outubro | 16h00<br />
Montijo | Cinema-teatro Joaquim d’Almeida<br />
Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Público Alvo: Familiar | Faixa Etária: m/4 anos<br />
Uma caixa de Pandora de surpresas mágicas, com bonitas marionetas, que tomam<br />
vida ao serem tocadas. Uma carinhosa mãe-pássaro com o seu ovo, uma mosca<br />
dançante, um misterioso circo e um comovente conto de fadas, completado com<br />
um príncipe e uma princesa.<br />
Uma hora bem passada, com uma história de drama e comédia, apresentada por<br />
um mestre da marioneta de fios.<br />
IN SUSPENSION<br />
Stephen Mottram<br />
Marionetas [Inglaterra]<br />
Sexta, 16 Outubro | 21h30<br />
Alcobaça | Cineteatro de Alcobaça<br />
Sábado, 17 Outubro | 21h30<br />
Alcanena | Cineteatro São Pedro<br />
Quinta, 22 Outubro | 11h00<br />
Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras<br />
Sexta, 23 Outubro | 21h30<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />
Duração Espectáculo: 67min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/12 anos<br />
O incrível mundo de IN SUSPENSION está cheio de surpresas, desde os momentos <strong>mais</strong><br />
ternos até aos <strong>mais</strong> macabros. Elegante na sua simplicidade, joga com os nossos<br />
sentidos, transportando-nos para um engraçado e poético mundo alternativo, onde as<br />
regras parece terem sido alteradas. A música – de Glyn Perrin, Simon Waters e Pete<br />
McPhail – envolve a hipnótica coreografia de Stephen Mottram como um casulo e as<br />
marionetas tornam-se perturbadoramente independentes do artista que as<br />
manipula.<br />
Trabalhando à vista do público num pequeno palco aberto com marionetas de fio,<br />
Stephen Mottram capta o seu público numa mágica e inesperada experiência. A<br />
música especialmente é composta para envolver a coreografia hipnótica de Mottram,<br />
de forma a criar uma forte atmosfera teatral, que persegue os espectadores mesmo<br />
depois do espectáculo ter terminado.<br />
IN SUSPENSION baseia-se na observação precisa dos detalhes do movimento humano.<br />
Elegante na sua simplicidade, joga com as nossas percepções do quotidiano, como a<br />
gravidade e o equilíbrio. Pouco a pouco, o espectador é atraído para um engraçado e<br />
poético mundo alternativo onde as regras parece terem sido alteradas.<br />
Em IN SUSPENSION a música foi especialmente composta por Glyn Perrin, Simon<br />
Waters e Pete McPhail. Todas as peças ouvidas no espectáculo são o resultado de uma<br />
pormenorizada colaboração entre os compositores e Stephen Mottram. O principal<br />
objectivo desta colaboração foi o de assegurar que a relação entre o som e a imagem<br />
seria completamente perceptível durante o espectáculo. A música conduz o público<br />
até diversos eventos visuais e coreográficos, através dos momentos musicais.<br />
O trabalho de Glyn Perrin vai desde peças electro-acústicas até trabalhos com<br />
orquestras e música de câmara, gravados, na rádio e ao vivo.<br />
Simon Waters produziu música para diversas companhias de dança, incluindo a<br />
Rambert Dance. Actualmente director do estúdio electro-acústico da University of East<br />
Anglia, os seus primeiros trabalhos tiveram origem na reunião de técnicas de Musique<br />
Concrete. Pete McPhail tem relações estreitas com diversas companhias de teatro<br />
europeias. É um reconhecido saxofonista de jazz e actua regularmente na London Jazz<br />
Composer’s Orchestra.<br />
| 63
Susana Paiva<br />
PEQUENA FÁBRICA DE PINGUINS<br />
Kalpa<br />
Teatro de Marionetas [Portugal | França]<br />
Sábado, 03 Outubro | 10h30<br />
Abrantes | Cineteatro S. Pedro<br />
Sexta, 16 Outubro | 10h00<br />
Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />
Segunda, 02 Novembro | 10h30 e 15h00<br />
Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota<br />
Domingo, 29 Novembro | 11h00<br />
Palmela | Centro Cultural do Poceirão<br />
Terça, 01 Dezembro | 16h00<br />
Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida [data a definir]<br />
Golegã | Cineteatro Gil Vicente [data a definir]<br />
Duração Espectáculo: 50min. [s/ int.] | Lotação Máxima: 80 espectadores | Público Alvo:<br />
Geral | Faixa Etária: m/6 anos<br />
Estamos na Turakia, um país distante e mágico, impossível de identificar nos mapas…<br />
Dois seres muito velhos, meio Homem, meio Anjo, trabalham no seu laboratório, na<br />
primeira incubadora do ovo do sentimento pinguim. Para tratar destes ovos mágicos é<br />
preciso muito cuidado, dedicação e o trabalho de muitas mãos.<br />
À medida que avançamos, novas personagens, pequenos operários desta fábrica vão<br />
surgindo, felizes e carrancudos, activos e misteriosos, descortinando o seu dia a dia, o<br />
seu ofício, os seus encontros e desencontros, as brigas, até que uma grande<br />
tempestade traz a bonança e é chegado o grande momento…O nascimento do<br />
pinguim.<br />
É um teatro visual que faz uso de objectos e marionetas.<br />
Neste espectáculo o cenário é muito simples – o laboratório clandestino [incubadora<br />
do ovo do sentimento pinguim] é constituído de três escrivaninhas antigas e um<br />
biombo ao fundo, a iluminação faz parte desta estrutura.<br />
As marionetas parecem corresponder perfeitamente àquele cenário, as cores<br />
partilhadas – desde os objectos, marionetas até os próprios ovos distribuídos pelo<br />
espaço.<br />
Não é fácil definir uma época, mas cheira a algo antigo e as actividades realizadas<br />
parecem fazer parte de uma rotina científica [por isso chamam de documentário –<br />
vamos assistir, entrar na intimidade deste laboratório], repetida minuciosamente a<br />
cada dia, naturalmente com alguns percalços.<br />
O trabalho das actrizes é feito literalmente a seis mãos, já que muitas vezes é mesmo<br />
assim que fazem viver as personagens [duas marionetas manipuladas ao mesmo<br />
tempo por três pessoas]. O corpo todo é utilizado de forma surpreendente, joga como<br />
objecto, cenário, multiplica-se. Há uma interacção constante, as actrizes não se<br />
escondem atrás das marionetas e objectos, pelo contrário, afirmam a sua presença<br />
física e dialogam entre si e com todos os elementos em cena – marionetas, objectos,<br />
cenário e música do espectáculo.<br />
O maior triunfo do espectáculo é propor este outro mundo, um universo inventado,<br />
criador de uma poética e um tempo próprios e conseguir transportar o público até ele.<br />
64 |
POLEGARZINHO<br />
Teatro de Marionetas do Porto<br />
Teatro de Marionetas [Portugal]<br />
Domingo, 20 Setembro | 16h00<br />
Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />
Segunda, 05 Outubro | 16h00<br />
Sobral de Monte Agraço<br />
Cine-Teatro de Sobral de Monte Agraço<br />
Quinta, 08 Outubro | 10h30<br />
Abrantes | Cine-Teatro S. Pedro<br />
Terça, 13 Outubro | 14h30<br />
Alcobaça | Cine-Teatro de Alcobaça<br />
Quinta, 15 Outubro | 14h30<br />
Alcanena | Cine-Teatro São Pedro<br />
Domingo, 18 Outubro | 16h00<br />
Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />
Duração Espectáculo: 50min. [s/ int.] | Público Alvo:<br />
Infantil e Familiar | Faixa Etária: m/4 anos<br />
Três vezes<br />
Crescerá e minguará<br />
A lua<br />
E depois uma criança nascerá<br />
A força do gigante<br />
E a bravura do leão<br />
Ela terá<br />
E ainda que não seja<br />
Maior do que o polegar<br />
Dela se falará<br />
Até ao fim dos tempos<br />
Henrique Delgado e Susana Neves