26.04.2015 Views

António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT

António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT

António Fonseca Ferreira POR Lisboa mais ... - CCDR-LVT

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

10<br />

AGOSTO | SETEMBRO | 2009<br />

entrevista<br />

António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />

reportagem<br />

<strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />

<strong>mais</strong> competitiva<br />

reportagem<br />

Política de cidades<br />

Parcerias para a Regeneração Urbana


P r o p r i e d a d e<br />

<strong>CCDR</strong>‐<strong>LVT</strong><br />

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional<br />

de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo<br />

Rua Artilharia 1, nº 33 – 1269‐145 <strong>Lisboa</strong><br />

Tel.: 21 383 71 00 | Fax: 21 383 12 92<br />

www.ccdr‐lvt.pt<br />

D i r e c ç ã o<br />

Presidência da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong><br />

D i r e c ç ã o e x e c u t i v a<br />

Carla Gomes<br />

P r o j e c t o e d i t o r i a l , d e s i g n e p r o d u ç ã o<br />

Fo t o g ra f i a s : C â m a ra a r d e n t e ,<br />

p r o d u ç õ e s fo t o g rá f i c a s [ c a p a e c o n t ra c a p a ]<br />

DDLX [www.ddlx.pt]<br />

José Teófilo Duarte [Direcção]<br />

Eva Monteiro [Design]<br />

Susana Pereira [Contacto]<br />

C o l a b o r a d o r e s<br />

Ana Sousa Dias<br />

Carla Amaro<br />

Fernanda Câncio<br />

Luís de Carvalho<br />

Virgílio Gomes<br />

R e v i s ã o d e Te x t o s<br />

Passar Revista<br />

F o t o g r a f i a<br />

Guto <strong>Ferreira</strong><br />

Câmaraardente, produções fotográficas<br />

I m p r e s s ã o e a c a b a m e n t o<br />

Corlito – Artes Gráficas<br />

T i r a g e m 2500 exemplares<br />

I S S N 1646‐1835<br />

D e p ó s t i o L e g a l 224633/05<br />

L V T # 1 0 – A g o s t o / S e t e m b r o | 2 0 0 9 | Q u a d r i m e s t r a l


índice<br />

Editorial<br />

<strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo<br />

O desafio europeu.................................................................. 2<br />

António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />

Notícias breves..........................................................................4<br />

Opinião<br />

Recentrar a discussão..........................................................10<br />

Fernanda Câncio<br />

Entrevista<br />

António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong>................................................... 16<br />

Ana Sousa Dias<br />

Reportagem<br />

<strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> <strong>mais</strong> competitiva ........................................ 26<br />

Carla Amaro<br />

Reportagem<br />

Política de cidades<br />

Parcerias para a Regeneração Urbana........................34<br />

Luís de Carvalho<br />

Cultura<br />

Portugal e o Mundo nos Séculos XVI e XVII............. 46<br />

Paulo Henriques<br />

Acontecimento<br />

Open Days 2009<br />

<strong>Lisboa</strong> leva «Inovação Social» a Bruxelas................. 48<br />

Destaque<br />

Museu da Presidência da República<br />

5º aniversário........................................................................ 50<br />

Roteiro<br />

Sardinha, rica sardinha......................................................54<br />

Virgílio Gomes<br />

Agenda cultural.....................................................................58


Editorial | António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />

<strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo<br />

O desafio europeu<br />

Desde 1998, período em que presidi à Comissão de Coordenação da Região<br />

de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo, tive o privilégio de participar numa profunda<br />

mudança estrutural deste território, impulsionando a gestão estratégica<br />

que orientou a aplicação dos fundos comunitários na região. Hoje, <strong>Lisboa</strong><br />

é referência nacional e internacional, na transição entre estádios<br />

de desenvolvimento e na perspectiva da coesão europeia.


Em 1998, preparava-se a entrada da região no regime<br />

de «phasing out», com redução de fundos estruturais<br />

e concentrados no reforço da competitividade da<br />

região, visando abrir caminho à sua «maioridade»<br />

europeia e afirmando-a como uma região relevante<br />

e competitiva no contexto comunitário e internacional.<br />

da Gestão Estratégica da Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo, uma<br />

abordagem inovadora a nível regional, introduzindo rigor na execução<br />

dos Quadros Comunitários. Com dificuldades em algumas<br />

áreas, o certo é que a R<strong>LVT</strong> cumpriu todas as regras comunitárias,<br />

nunca tendo perdido fundos por falta de execução e alcançou<br />

o grau <strong>mais</strong> elevado na Avaliação do QCAIII.<br />

O terceiro Quadro-Comunitário de Apoio (QCA III) foi, ainda assim,<br />

um período de forte investimento na infra-estruturação do país.<br />

Na Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo teve elevada eficácia ao dar<br />

avanços decisivos nos sistemas de abastecimento de água e saneamento,<br />

na construção de equipamentos educativos, culturais<br />

e desportivos, na rede viária e nos transportes públicos.<br />

Passamos, agora, por novas mudanças. Com a entrada em vigor<br />

do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), para o período<br />

2007-2013, a região sofreu reajustamentos geográficos.<br />

Ultrapassado o rendimento médio per capita da União Europeia,<br />

a Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> passou a ser a área de intervenção<br />

da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> no que respeita à gestão dos fundos europeus.<br />

A nível da qualificação ambiental, o período ente 2000 e 2008 foi<br />

determinante, também, para o país e a <strong>LVT</strong> se aproximarem dos<br />

patamares da União Europeia, particularmente no que se refere<br />

à gestão de resíduos e à requalificação dos centros urbanos e da<br />

faixa litoral. Em 2003, por fusão entre as CCR e as Direcções Regionais<br />

de Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT) foram<br />

criadas as <strong>CCDR</strong> – Comissões de Coordenação e Desenvolvimento<br />

Regional – assumindo um leque diverso de responsabilidades<br />

no ambiente (qualidade do ar, resíduos, avaliações ambientais),<br />

no ordenamento do território e no desenvolvimento regional.<br />

Uma estratégia bem definida e focada em objectivos prioritários<br />

permitiu que em <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo fossem feitos, com grande<br />

eficácia, investimentos em áreas fundamentais como a cultura,<br />

a inclusão social e a qualificação do espaço público, através de programas<br />

integrados envolvendo a generalidade dos municípios.<br />

Recuperaram-se antigos teatros e cineteatros em 22 municípios,<br />

mas não ficámos por aí. Criou-se uma estrutura permanente<br />

(ARTEMREDE) de programação, envolvendo 14 municípios, permitindo<br />

alcançar economias de custos ao mesmo tempo que promove<br />

crescentes dinamismos culturais, aumentando, simultaneamente,<br />

as oportunidades para os artistas e os agentes locais.<br />

O PROQUAL, por seu turno, concretizou uma das prioridades<br />

estratégicas para a AML, a inclusão social. Com uma forte aposta<br />

na requalificação das periferias urbanas e a melhoria da qualidade<br />

de vida dos seus moradores, sem esquecer a necessária qualificação<br />

e formação das pessoas, com vista à sua integração no mundo<br />

do trabalho, e, por conseguinte, a sua inclusão na sociedade.<br />

É uma área em que certamente ainda há muito a fazer, mas em<br />

que o PROQUAL deixou marcas positivas nos sete bairros envolvidos,<br />

desde a Belavista, em Setúbal, à Brandoa, na Amadora.<br />

A par destas intervenções, outros territórios beneficiaram, também,<br />

de uma abordagem integrada, como foi o caso do Vale do Tejo,<br />

através da Acção Integrada de Base Territorial Valtejo, que apostou<br />

na valorização das margens ribeirinhas do Tejo e dos seus centros<br />

urbanos, envolvendo a vertente da formação e qualificação<br />

de recursos humanos, de forma a promover este território como<br />

espaço de turismo, cultura e lazer por excelência.<br />

O Plano Estratégico da Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo tem sido ao<br />

longo dos anos, o quadro orientador da gestão dos fundos estruturais.<br />

A par da aprovação das candidaturas e da execução dos projectos,<br />

a <strong>CCDR</strong> promoveu a monitorização dos resultados, através<br />

A gestão dos Fundos Estruturais é, agora, suportada pela Estratégia<br />

Regional, <strong>Lisboa</strong> 2020. Trata-se de aplicar a esta Região os<br />

princípios basilares da Estratégia de <strong>Lisboa</strong>, que passam, essencialmente,<br />

por uma forte aposta no reforço da competitividade,<br />

da inovação e da qualificação. Hoje é claro o desafio que se coloca<br />

a esta Região «charneira»: afirmar-se como região Euro-Atlântica<br />

competitiva e relevante no contexto europeu e internacional.<br />

As grandes prioridades do Programa Operacional Regional de<br />

<strong>Lisboa</strong> (<strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong>/QREN) são efectivamente a competitividade<br />

e a inovação, constituindo o primeiro Eixo do Programa que concentra<br />

<strong>mais</strong> de 50% dos fundos disponíveis para <strong>Lisboa</strong> – montantes<br />

muito reduzidos relativamente ao passado e por isso exigindo<br />

uma aplicação ainda <strong>mais</strong> cirúrgica.<br />

A par desta prioridade evidenciam-se na estratégia regional,<br />

a qualificação ambiental – com destaque para a energia e a mobilidade<br />

– e a inclusão social, área em que há ainda muito a fazer,<br />

combatendo a pobreza, repensando a vida nas periferias urbanas<br />

e melhorando a integração dos imigrantes.<br />

O QREN introduziu uma nova lógica de funcionamento que passa<br />

pela concorrência aberta entre candidaturas e pela valorização<br />

das parcerias e acções integradas, o que tem exigido uma adaptação<br />

dos métodos de trabalho dos beneficiários, <strong>mais</strong> rigor e inovação<br />

das propostas. Se, no início, houve algumas dificuldades<br />

e as candidaturas nem sempre estiveram ao nível das expectativas<br />

– em áreas como as redes urbanas para a competitividade<br />

ou a regeneração dos bairros críticos – progressivamente, elas<br />

têm vindo a melhorar em qualidade e quantidade.<br />

Decorridos menos de dois anos sobre a abertura dos primeiros<br />

concursos, é notável a evolução que se verifica. Um sinal muito<br />

positivo para o futuro da Região e para todos os que nela vivem<br />

e trabalham. Mais de metade dos fundos disponíveis já estão<br />

investidos em projectos e planos de acção, em diversas áreas:<br />

investigação e desenvolvimento, incentivos empresariais qualificação<br />

ambiental e coesão sócio-territorial.<br />

Não obstante as dificuldades que a crise global nos coloca,<br />

.a Região de <strong>Lisboa</strong>, a comunidade de parceiros – municípios,<br />

empresas, organizações – prossegue o seu caminho de consolidação<br />

no sentido de alcançar patamares elevados de desenvolvimento,<br />

de se tornar numa das regiões <strong>mais</strong> atractivas e competitivas<br />

da Europa. Um desígnio estratégico que está a ser<br />

alcançado. ■<br />

|


notícias breves<br />

<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> no Portugal Tecnológico 2009<br />

De 7 a 10 de Outubro decorrerá na Feira<br />

Internacional de <strong>Lisboa</strong> (FIL) <strong>mais</strong> uma<br />

edição da Mostra «Portugal Tecnológico»,<br />

que contará este ano com espaços especialmente<br />

dedicado às Regiões.<br />

Tal como nas edições anteriores, o Portugal<br />

Tecnológico apresentará as melhores<br />

soluções em áreas tão distintas como as<br />

Comunicações, os Transportes, a Mobilidade,<br />

a Educação, entre outras, e serão também<br />

apresentadas as empresas e entidades que<br />

contribuem para os avanços tecnológicos<br />

do país. Pretende-se que a mostra divulgue<br />

junto da sociedade a aplicação dos melhores<br />

produtos e serviços de cariz tecnológico<br />

nas diversas áreas do meio empresarial.<br />

O Portugal Tecnológico será ainda palco<br />

da divulgação das melhores práticas que<br />

têm vindo a ser desenvolvidas tanto pela<br />

Administração Pública portuguesa como<br />

pelos Pólos de Competitividade do País,<br />

através da apresentação dos <strong>mais</strong> importantes<br />

projectos, ao mesmo tempo que<br />

toma contacto com outras soluções que<br />

existam no mercado e que poderão vir<br />

a ser adoptadas em novos projectos.<br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> convida as entidades do<br />

Sistema Científico e Tecnológico Nacional<br />

e as empresas da Região ligadas à área<br />

tecnológica e à investigação científica<br />

a associarem-se a este evento, estando<br />

presentes no espaço de cerca de 500m 2<br />

inteiramente dedicado à Inovação,<br />

Tecnologia e Criatividade da Região de<br />

<strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo. Pretende-se que essa<br />

participação se baseie na exposição<br />

de um produto ou protótipo com impacto<br />

visual e de preferência com potencial<br />

de interactividade com o público.<br />

As empresas e entidades interessadas<br />

deverão enviar as suas ideias e sugestões<br />

até ao dia 1 de Setembro para o endereço<br />

dicc@ccdr-lvt.pt. Poderá igualmente<br />

contactar os serviços da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>.<br />

(DICC – Divisão de Inovação, Competitividade<br />

e Cooperação, tel.: 21 383 71 00).<br />

Para <strong>mais</strong> informações relativas à edição<br />

do ano passado poderá consultar o site<br />

http://www.portugaltecnologico.fil.pt/<br />

index2.html ■<br />

Luísa Vale é<br />

nova presidente<br />

da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong><br />

Luísa Maria Leitão do Vale é a nova presidente<br />

da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, nomeada pela<br />

Presidência do Conselho de Ministros e<br />

pelo Ministério do Ambiente,<br />

Ordenamento do Território e<br />

Desenvolvimento Regional (MAOTDR).<br />

A nova presidente, que foi nomeada em<br />

regime de substituição, é licenciada em<br />

Economia e tem acompanhado a execução<br />

do Programa Operacional Regional de<br />

<strong>Lisboa</strong> (no âmbito do QREN 2007-2013)<br />

como membro da sua Comissão Directiva.<br />

Exerceu funções na área orçamental e de<br />

investimento público em diversos ministérios,<br />

designadamente o Ministério das<br />

Finanças e o Ministério das Obras Públicas,<br />

Transportes e Comunicações. Aquando da<br />

sua nomeação, exercia funções na Direcção<br />

Geral do Orçamento. ■<br />

OESTE<br />

LEZÍRIA<br />

DO TEJO<br />

MÉDIO<br />

TEJO<br />

Foi publicado a 6 de Agosto em Diário<br />

da República o Plano Regional de<br />

Ordenamento do Território para a Região<br />

do Oeste e Vale do Tejo (PROT-OVT), que<br />

entrará em vigor a 1 de Novembro deste<br />

ano. O plano, coordenado pela <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,<br />

define as grandes opções estratégicas<br />

de base territorial para o desenvolvimento<br />

regional, o modelo organizativo espacial<br />

e as orientações estratégicas para o Oeste<br />

e Vale do Tejo (Médio Tejo e Lezíria do Tejo).<br />

PROT-OVT<br />

em vigor a<br />

1 de Novembro<br />

competitividade e internacionalização,<br />

a sustentabilidade ambiental, a visão<br />

policêntrica e a valorização da qualidade<br />

de vida urbana, a dinamização do turismo<br />

e lazer alternativos, a qualificação dos<br />

recursos humanos e o reforço da competitividade<br />

das fileiras da produção agrícola,<br />

florestal e agro-florestal.<br />

Consulte diploma do Diário da República<br />

em www.ccdr-lvt.pt. ■<br />

As opções estratégicas de desenvolvimento<br />

consagradas neste PROT são a inovação,<br />

|


<strong>Lisboa</strong> lança Rede de Cidades Criativas<br />

Barcelona, Amesterdão e Helsínquia, assim<br />

como Berlim e <strong>Lisboa</strong>, poderão vir a fazer<br />

parte da Rede Internacional de Cidades<br />

Criativas, uma iniciativa proposta pela<br />

cidade norte-americana de Austin (Texas)<br />

que veio ser lançada a <strong>Lisboa</strong> por William<br />

Wynn, o seu mayor até recentemente.<br />

Wynn deslocou-se a <strong>Lisboa</strong> a 7 de Julho<br />

para participar na conferência de<br />

.lançamento desta ideia organizada pela<br />

<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, programa UT Austin-Portugal<br />

e Câmara Municipal de <strong>Lisboa</strong>.<br />

O evento decorreu no Pavilhão de Portugal,<br />

no Parque das Nações, e contou com<br />

a presença do secretário de Estado da<br />

Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,<br />

Manuel Heitor, assim como de alguns<br />

municípios que poderão integrar a futura<br />

Rede Nacional de Cidades Criativas,<br />

Paredes, Guimarães, Cascais e Óbidos.<br />

Foram igualmente convidadas a debater<br />

esta iniciativa a Plataforma das Indústrias<br />

Criativas da AML e a Parque Expo, assim<br />

como as Universidades de Aveiro (Concurso<br />

de Escolas «Cidades Criativas»), Técnica de<br />

<strong>Lisboa</strong> e Nova de <strong>Lisboa</strong>, organizado pela<br />

Universidade de Aveiro.<br />

Estas redes deverão ser formalizadas no<br />

início de 2010, mediante convites directos a<br />

um conjunto de cidades ou vilas, a nível<br />

nacional e internacional. O objectivo será<br />

partilhar experiências e criar sinergias<br />

que ajudem estas cidades a aumentar<br />

a sua capacidade de atracção da «classe<br />

criativa» e dessa forma o seu desenvolvimento<br />

económico.<br />

A iniciativa contou com o apoio do <strong>POR</strong><br />

<strong>Lisboa</strong> /QREN, Parque Expo, Caixa Geral<br />

de Depósitos, Zon Multimédia, Fundação<br />

Luso-Americana para o Desenvolvimento,<br />

Fundação Calouste Gulbenkian e Sapo<br />

(media partner).<br />

Comunicações disponíveis em www.ccdr-lvt.pt.<br />

Website do evento:.<br />

http://creativecitieslisbon.org ■<br />

Observatório vai monitorizar Estratégia de <strong>Lisboa</strong><br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> pretende lançar um<br />

Observatório Inter-regional da Estratégia<br />

de <strong>Lisboa</strong>, ideia debatida no Centro<br />

Cultural de Belém, no dia 25 de Maio, numa<br />

sessão pública que contou com a participação<br />

de altos representantes das regiões<br />

de Helsínquia (Finlândia), Merseyside,<br />

Gloucestershire (Reino Unido), Bilbau<br />

e Ranstaad (Holanda).<br />

O Observatório possibilitará a comparação<br />

das dinâmicas regionais da inovação<br />

na União Europeia, a partilha de ideias<br />

e experiências sobre o papel das regiões<br />

no crescimento económico, no estímulo<br />

à competitividade e à criação de emprego.<br />

Terá entre as suas missões o estreitamento<br />

de relações entre as universidades,<br />

.os governos e o sector privado, assim como<br />

a monitorização das políticas públicas<br />

de incentivo à inovação.<br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> apresentou este projecto<br />

na Assembleia-Geral da Lisbon Regions<br />

Network (LRN), que se realizou em<br />

Amesterdão no dia 3 de Julho, encontro<br />

onde diversas regiões manifestaram<br />

interesse em aderir a este projecto.<br />

A LRN integra 15 regiões, todas elas<br />

.do Objectivo «Competitividade e Emprego».<br />

Nesta reunião foi ainda discutida<br />

.a estratégia a seguir no novo ciclo político<br />

europeu, face à recessão económica<br />

e ao problema do desemprego, assim como<br />

o papel das regiões europeias no incentivo<br />

à inovação. ■<br />

|


<strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong><br />

assina contratos<br />

Foram assinados a 11 de Agosto, com<br />

municípios, entidades da administração<br />

central e associações, contratos no valor<br />

de cerca de 23 milhões de euros, no âmbito<br />

do Programa Operacional Regional de<br />

<strong>Lisboa</strong>/QREN. Os contratos resultam da<br />

aprovação de candidaturas a fundos comunitários,<br />

em três concursos do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

A cerimónia realizou-se na <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,<br />

pelas 15h00, e contou com a presença<br />

do secretário de Estado do Ordenamento<br />

do Território e Cidades, João Ferrão.<br />

Foram assinados contratos para a construção<br />

ou beneficiação de 10 escolas em 8 municípios<br />

da AML (3.º concurso para Requalificação<br />

da Rede Escolar do 1.º Ciclo do Ensino<br />

Básico e da Educação Pré-Escolar), no valor<br />

de cerca de 6 milhões de euros, assim como<br />

para Acções de Valorização e Qualificação<br />

Ambiental, com destaque para projectos<br />

relacionados com a protecção do Estuário<br />

do Tejo e a melhoria da qualidade do ar<br />

na Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> (sete<br />

contratos), no valor de 1,4 milhões de euros.<br />

No âmbito das Parcerias para<br />

.a Regeneração Urbana – Centros Históricos,<br />

cinco promotores que viram recentemente<br />

aprovados os seus programas de acção<br />

celebraram protocolos de financiamento,<br />

num total de co-financiamento FEDER<br />

de 15,4 milhões de euros.<br />

Na Região de <strong>Lisboa</strong> (18 municípios da Área<br />

Metropolitana) foram já atribuídos cerca<br />

de 159 milhões de euros de FEDER, <strong>mais</strong> de<br />

metade (cerca de 51%) do total disponível<br />

no âmbito do QREN até 2013, para a Região<br />

de <strong>Lisboa</strong>. O <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> abriu até agora<br />

52 concursos e aprovou 340 candidaturas<br />

(6 de Agosto). ■<br />

Lançado Arco<br />

Ribeirinho Sul<br />

O projecto Arco Ribeirinho Sul – uma<br />

intervenção integrada nos municípios<br />

da margem Sul do Tejo, envolvendo<br />

.a reconversão de áreas industriais<br />

.desactivadas – foi oficialmente lançado<br />

a 31 de Julho na Quimiparque, no Barreiro,<br />

com a presença do Primeiro-ministro.<br />

José Sócrates sublinhou «a dimensão<br />

nacional» do projecto, que vem assim<br />

dar corpo ao conceito da «Cidade das<br />

duas margens» já debatido há alguns<br />

anos e consagrado no Plano Regional<br />

de Ordenamento da Área Metropolitana<br />

de <strong>Lisboa</strong> (PROT-AML) desde 2002.<br />

A intervenção em causa vai abranger cerca<br />

de 900 hectares nos municípios de Almada<br />

(Margueira), Seixal (Siderurgia Nacional)<br />

e Barreiro (Quimiparque) e será levada<br />

a cabo através de uma empresa pública,<br />

cuja criação acaba de ser aprovada em<br />

Conselho de Ministros, assim como o Plano<br />

Estratégico do Arco Ribeirinho Sul. O investimento<br />

ultrapassa os 500 milhões de euros.<br />

O presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e coordenador<br />

do grupo de trabalho responsável pelo<br />

Plano Estratégico, sublinhou a oportunidade<br />

que trazem para os municípios do<br />

Arco Ribeirinho as infra-estruturas previstas<br />

para a Margem Sul, como o novo<br />

aeroporto internacional, a nova travessia<br />

do Tejo, a Alta Velocidade e a Plataforma<br />

Logística do Poceirão.<br />

Entre os projectos estruturantes previstos<br />

no âmbito do Arco Ribeirinho Sul estão<br />

o desenvolvimento de indústrias criativas,<br />

da náutica de recreio, a relocalização<br />

de terminais fluviais, a ponte Chelas-Barreiro<br />

e o prolongamento do Metro Sul do Tejo.<br />

O projecto terá impactos em toda a faixa<br />

designada como Arco Ribeirinho Sul,<br />

desde a Fonte da Telha (Almada) a Alcochete,<br />

uma área que abrange seis municípios<br />

e que se prevê que venha a ter cerca<br />

de meio milhão de habitantes em 2021.<br />

A iniciativa contou ainda com a presença<br />

do Ministro do Ambiente, Ordenamento<br />

do Território e Desenvolvimento Regional,<br />

Francisco Nunes Correia, dos secretários<br />

de Estado do Tesouro e das Finanças,<br />

Ordenamento do Território e Cidades,<br />

Adjunto e da Administração Local e da<br />

Segurança Social, da Governadora Civil<br />

de Setúbal, Eurídice Pereira, dos presidentes<br />

de Câmara dos municípios envolvidos<br />

e de Rolando Borges Martins, presidente<br />

da Parque Expo, empresa que tem dado<br />

apoio técnico ao projecto, assim como<br />

das administrações das áreas industriais<br />

abrangidas.<br />

Leia intervenção de António <strong>Fonseca</strong><br />

<strong>Ferreira</strong> em www.ccdr-lvt.pt ■<br />

|


Costa Polis<br />

Praias da Costa requalificadas<br />

O presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e da Costa Polis,<br />

António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong>, e a presidente<br />

da Câmara de Almada, Maria Emília Sousa,<br />

realizaram no dia 28 de Julho uma visita<br />

à zona das Praias Urbanas. O passo que<br />

faltava para se poder terminar esta requalificação,<br />

orçada em cerca de 21 milhões<br />

de euros, era a demolição do antigo<br />

restaurante «O Barbas», que ficou concluída<br />

na semana passada.<br />

A Costa Polis aproveitou a ocasião da visita<br />

para divulgar os resultados de um estudo<br />

de opinião da Universidade Nova de <strong>Lisboa</strong><br />

- realizado na primeira semana de Julho,<br />

a residentes, veraneantes, visitantes<br />

ocasionais, concessionários, comerciantes<br />

e pescadores da Costa de Caparica –<br />

segundo o qual 93 por cento dos inquiridos<br />

estão satisfeitos com as infra-estruturas<br />

e equipamentos construídos no âmbito<br />

da empreitada das Praias Urbanas.<br />

O inquérito envolveu 480 frequentadores<br />

da zona, e as avaliações dos utilizadores<br />

incidiram sobre as intervenções finalizadas,<br />

nomeadamente na remodelação e acessos<br />

ao paredão e às praias (através de escadas<br />

e rampas), apoios de praia (com novos<br />

bares e restaurantes), serviços prestados<br />

aos banhistas (como casas de banho<br />

e chuveiros), estacionamentos de acesso,<br />

ciclovias, prolongamento da Avenida<br />

Humberto Delgado e apoios de pesca.<br />

As obras são consideradas muito positivas<br />

por 27 por cento dos inquiridos e positivas<br />

por 66 por cento. Apenas 1 por cento<br />

dos inquiridos faz uma avaliação negativa.<br />

Os aspectos <strong>mais</strong> apontados como tendo<br />

melhorado com as obras foram a qualidade<br />

das praias (28 por cento), a melhor<br />

qualidade da oferta turística (24 por cento),<br />

os acessos às praias (20 por cento),<br />

.a imagem/estética da Costa de Caparica<br />

(16 por cento) e a qualidade de vida em<br />

geral na Costa de Caparica (16 por cento).<br />

Quando inquiridos sobre o que piorou<br />

na Costa da Caparica, 82 por cento dos<br />

frequentadores referiu que nada em<br />

particular.<br />

Coincidindo com o final da intervenção<br />

das Praias Urbanas, a Costa de Caparica<br />

foi distinguida com <strong>mais</strong> duas Bandeiras<br />

Azuis – Praia do CDS e Praia do Tarquínio/<br />

Paraíso – o que garante a máxima qualidade,<br />

segurança e bem-estar aos utentes.<br />

O estacionamento disponibiliza<br />

.aos veraneantes cerca de 800 lugares<br />

reordenados, grande parte com sombreamento,<br />

localizados na zona urbana, junto<br />

às praias. Tendo em conta o papel<br />

fundamental dos concessionários no bom<br />

funcionamento das zonas balneares e sua<br />

envolvente, foram criados 22 apoios de<br />

praia, recuperando os <strong>mais</strong> emblemáticos<br />

bares, cafés e restaurantes da zona.<br />

O recém-construído Jardim Urbano<br />

revela‐se uma boa alternativa de lazer,<br />

com 14 hectares de parques infantis<br />

e juvenis, campo de ténis, recinto polidesportivo<br />

e parque de merendas. Também<br />

o paredão agora remodelado, que<br />

.se estende por 3 quilómetros entre São<br />

João e a Nova Praia, permite um passeio<br />

único sob o areal, a pé ou de bicicleta.<br />

Com um investimento de 199,5 milhões<br />

de Euros, a intervenção do Programa Polis<br />

nos 650 hectares de área da Costa de<br />

Caparica pretende valorizar e dinamizar<br />

as actividades turísticas, culturais<br />

.e desportivas da região, de modo a contribuir<br />

para o desenvolvimento económico,<br />

social, ambiental e urbano da zona. ■<br />

|


<strong>LVT</strong><br />

Na frente da<br />

Modernização<br />

Administrativa<br />

A gestão por objectivos e a monitorização<br />

do cumprimento das metas são princípios<br />

que a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem concretizado no<br />

quotidiano, nas suas múltiplas áreas<br />

de intervenção, e que fazem parte de uma<br />

estratégia integrada de modernização<br />

administrativa, apresentada a 15 de Abril<br />

no Centro Cultural de Belém.<br />

O Balanced Scorecard, cuja aplicação é alvo<br />

de um estudo do Instituto Nacional<br />

da Administração, foi uma das inovações<br />

apresentadas na iniciativa «Região de <strong>Lisboa</strong><br />

e Vale do Tejo: na Frente da Modernização<br />

Administrativa», em que marcaram presença<br />

os secretários de Estado do Desenvolvimento<br />

Regional, Rui Nuno Baleiras,<br />

e da Modernização Administrativa,<br />

Maria Manuel Leitão Marques.<br />

Um dos momentos altos do programa foi<br />

a mesa redonda, moderada pelo Presidente<br />

do INA, António Correia de Campos,<br />

em que se debateram entre outros assuntos<br />

a importância da formação de recursos<br />

humanos, o cidadão como destinatário<br />

das políticas de modernização e a necessidade<br />

de atrair novos talentos, com<br />

capacidade de liderança, para a administração<br />

pública.<br />

Anabela Pedroso, presidente da Agência<br />

para a Modernização Administrativa,<br />

João Bilhim, Presidente do Conselho<br />

Directivo do ISCSP (Instituto Superior<br />

de Ciências Sociais e Políticas) e Francisco<br />

Pinto, consultor do INA para o Balanced<br />

Scorecard, animaram o debate.<br />

Paula Cunha, vice-presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,<br />

e Francisco Bruno Soares, consultor,<br />

apresentaram respectivamente a estratégia<br />

de gestão e as medidas que têm vindo<br />

a ser tomadas para simplificar e clarificar<br />

procedimentos, como o Manual de Gestão<br />

ou a cartografia digital.<br />

Qualificação e responsabilização<br />

.são pontos fundamentais desta estratégia,<br />

que passa por um esforço numa correcta<br />

aplicação do SIADAP na avaliação de<br />

dirigentes e funcionários, tendo sido<br />

a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> um dos primeiros organismos<br />

da administração pública a avançar com<br />

o sistema.<br />

Os esforços de racionalização de recursos<br />

têm resultado numa redução progressiva<br />

de efectivos e na contenção das despesas<br />

de funcionamento. Outro dos processos<br />

em marcha é a desconcentração de serviços<br />

e de recursos humanos de <strong>Lisboa</strong> para<br />

as Delegações Sub-Regionais do Oeste,<br />

Península de Setúbal e Vale do Tejo,<br />

.facilitada pela informatização.<br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem investido em permanência<br />

em novas tecnologias de informação,<br />

área em que se destacam a criação<br />

.do Geoportal e o projecto SIG Wireless,<br />

que permitem aos fiscais ambientais<br />

enviar e receber informação directamente<br />

do terreno e em tempo real, identificando<br />

com precisão locais e eventuais irregularidades,<br />

como a existência de depósitos<br />

ilegais de sucata.<br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem igualmente vindo a desconcentrar<br />

os seus serviços, em particular<br />

nas áreas do ordenamento do território,<br />

fiscalização ambiental e apoio administrativo<br />

e financeiro às autarquias. Hoje,<br />

para uma multiplicidade de questões<br />

os municípios, organizações e particulares<br />

podem recorrer directamente às Delegações<br />

sub-regionais do Vale do Tejo, Oeste<br />

ou Setúbal, ou mesmo tratar dos processos<br />

via Internet. ■<br />

|


Campanha de medição da qualidade do ar na AML<br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> desencadeou, com a colaboração<br />

dos municípios e da Faculdade<br />

de Ciências e Tecnologia da Universidade<br />

Nova de <strong>Lisboa</strong> (FCT-UNL) uma vasta<br />

campanha de medição de poluentes<br />

atmosféricos na Área Metropolitana<br />

de <strong>Lisboa</strong>.<br />

Entre o final de Junho e o início de Julho<br />

múltiplos equipamentos de medição,<br />

«tubos de difusão», foram instalados<br />

em postes de iluminação, de electricidade<br />

ou telecomunicações a fim de medir,<br />

em simultâneo em cerca de 500 pontos<br />

em toda a AML, as concentrações de dióxido<br />

de azoto (NO2), dióxido de enxofre (SO2)<br />

e ozono (O3).<br />

Para a realização deste estudo vão ser<br />

realizadas duas campanhas de amostragem<br />

em dois períodos meteorológicos distintos<br />

(Verão e Inverno), utilizando o método<br />

de difusão passiva. Posteriormente será<br />

divulgado um relatório com os resultados.<br />

Estas campanhas têm como objectivo<br />

conhecer a distribuição espacial das<br />

concentrações dos poluentes NO2, SO2<br />

e O3 na Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>,<br />

identificar as áreas <strong>mais</strong> críticas em<br />

termos de poluição atmosférica e avaliar<br />

as zonas onde é maior a exposição<br />

.da população a estes poluentes,<br />

.em complemento dos resultados obtidos<br />

através da rede de estações de monitorização<br />

da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>.<br />

e apoiar a revisão da delimitação das<br />

unidades funcionais de gestão da qualidade<br />

do ar – aglomerações e zonas –<br />

da região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo (R<strong>LVT</strong>).<br />

A técnica por difusão passiva utilizada<br />

neste estudo é um meio simples, rápido<br />

e relativamente pouco oneroso que<br />

permite a avaliação simultânea, numa<br />

extensa área, das concentrações médias<br />

de poluentes gasosos. Este tipo de método,<br />

complementar à monitorização efectuada<br />

em estações fixas e cuja utilização está<br />

prevista pela legislação em vigor, permite<br />

criar mapas da distribuição espacial<br />

das concentrações dos poluentes medidos<br />

recorrendo a técnicas de interpolação<br />

geoestatística. ■<br />

Com este estudo pretende-se também<br />

avaliar a representatividade das medições<br />

efectuadas diariamente nas estações<br />

de monitorização da qualidade do ar<br />

|


10 |


Recentrar a discussão<br />

O discurso repetido há décadas sobre<br />

as cidades e a necessidade de lhes<br />

repovoar os centros reiterou a ideia<br />

desses mesmos centros como lugares<br />

desertos, inóspitos e degradados,<br />

abandonados por falta de oferta de<br />

habitações aprazíveis a preços<br />

suportáveis. Será surpresa, então, que<br />

tão pouca gente se mostre<br />

interessada em lá viver?<br />

Opinião | Fernanda Câncio<br />

Fotografia | ca, produções fotográficas<br />

Fotografias realizadas em <strong>Lisboa</strong>, na Baixa-Chiado (exteriores).<br />

e no atelier do CMDias Arquitectos (interiores).<br />

Quantas vezes, nos últimos anos, vimos o centro<br />

das cidades portuguesas retratado como um<br />

lugar agradável para habitar? Quantas vezes<br />

vimos, em reportagens televisivas ou de imprensa,<br />

o interior de casas antigas desses centros sem<br />

ser para mostrar derrocadas, rachas, buracos, bolores, infiltrações,<br />

inundações e outras maleitas? Quantas vezes ouvimos outra narrativa<br />

sobre os centros que não a lamúria fúnebre que os descreve<br />

como inabitados, a cair, inseguros, «sem condições», «sem vida»?<br />

Que outras justificações ouvimos para isso que não «a especulação<br />

imobiliária», a inexistência de fogos «decentes» para arrendar a preços<br />

acessíveis e o alto preço do metro quadrado dos disponíveis<br />

para venda?<br />

O que genericamente se sabe sobre os centros – ou seja, o que<br />

quem lá não vive e não os frequenta sabe sobre eles – é que aí as<br />

habitações ou estão degradadas ou são demasiado caras (e que<br />

por esses motivos «ninguém lá vive» a não ser idosos na miséria<br />

ou gente rica), que as ruas «não têm ninguém» e «falta animação».<br />

Chama-se a isto propaganda negativa. E o <strong>mais</strong> curioso é que<br />

muita dessa propaganda negativa é efectuada por quem <strong>mais</strong> diz<br />

lamentar aquilo que tão entusiasticamente propala e declara<br />

querer, com todas as forças, «inverter» a situação: autarcas, candidatos<br />

a autarcas, urbanistas, arquitectos, sociólogos, activistas<br />

sortidos. Veja-se por exemplo o diagnóstico implícito e explícito<br />

nos famosos planos que nos últimos anos têm sido apresentados<br />

para a reabilitação da Baixa pombalina: descrevem-na como um<br />

lugar desertificado (apesar dos largos milhares de pessoas que<br />

todos os dias lhe enchem as ruas e do facto de estas serem disputadas<br />

como espaço comercial) que perdeu a capacidade de atrair<br />

habitantes (embora seja notório um fluxo de novos residentes,<br />

facto de que o presidente da Junta de Freguesia de São Nicolau,<br />

a maior da Baixa, se faz eco e é exemplo, sendo ele próprio um<br />

morador recente) e onde a tipologia das casas não permite ter<br />

filhos (o plano diz mesmo que a zona só serve para pessoas «em<br />

princípio e em fim de vida», apesar de a generalidade dos fogos<br />

ter pelo menos 90 metros quadrados) e cuja reabilitação deveria<br />

ser, em consequência, sobretudo direccionada para residências<br />

| 11


de jovens e idosos e hotéis. O Plano Local de Habitação, coordenado<br />

por Helena Roseta, parece ir no mesmo caminho. Num<br />

debate organizado no início de 2009 no âmbito do dito, a maioria<br />

das intervenções apontava, <strong>mais</strong> uma vez, para a ideia de um centro<br />

envelhecido e desabitado pela acção conjugada (cúmplice?) dos<br />

tubarões da especulação e das más políticas de urbanismo e ordenamento<br />

(nas quais a catastrófica lei das rendas não foi, estranhamente,<br />

incluída), um centro onde o preço altíssimo das casas e a<br />

exiguidade da oferta teriam «expulsado» a população de <strong>Lisboa</strong><br />

para os arrabaldes, um centro de onde «os jovens» estariam excluídos<br />

por razões económicas e onde os prédios apodreceriam<br />

.à espera da derrocada e do lucro dos seus proprietários.<br />

A possibilidade de que esta repetição de estereótipos negativos<br />

sobre o centro tenha algum tipo de efeito na realidade, reforçando<br />

tudo aquilo que supostamente se visa combater, parece ja<strong>mais</strong><br />

ocorrer a quem nela insiste. Como não ocorre, pelos vistos, a hipótese<br />

de que as situações possam mudar não por decisões superestruturais,<br />

políticas e legais, de cima para baixo, mas por deliberação<br />

de indivíduos. Que o centro possa repovoar-se porque há quem<br />

procure aí casa, e que se tenha despovoado, na descrita saída para<br />

as periferias, também por escolha e não mero recurso. Preside<br />

a esta atitude, a esta incapacidade de ver, uma mistura de má<br />

informação, preguiça e preconceito.<br />

Má informação porque as alterações sensíveis no centro da cidade,<br />

tanto no que respeita a negócios como a residentes (e na própria<br />

atitude dos autarcas, de que é exemplo o já citado responsável por<br />

São Nicolau, que conseguiu negociar a cobertura wireless gratuita<br />

da sua zona), têm sido ignoradas quer pelos «especialistas» quer<br />

pelos decisores. Esta alteração, que corresponde a uma recomposição<br />

sociológica e demográfica, com um afluxo de jovens adultos<br />

diferenciados que procuram aí habitação não apenas pela localização<br />

privilegiada mas também pelas características do edificado<br />

«de época», procurando especificamente o que fez sair outros, ou<br />

seja, «casas velhas», passa completamente despercebida à maioria<br />

dos que falam sobre esta temática por um motivo simples:<br />

não se dão ao trabalho de saber até porque não lhes passa pela<br />

cabeça que tal seja possível e, na verdade, nem dá muito jeito: que<br />

fariam então aos discursos catastrofistas e salvíficos, do género<br />

«fizeram tudo mal mas eu tenho a solução»?<br />

E eis-nos na preguiça: é certamente muito <strong>mais</strong> fácil perorar<br />

sobre o assunto com base nas análises hiper-repetidas que decretaram<br />

a morte dos centros e culpar sempre os mesmos maus, que<br />

ainda por cima são bons de culpar, enquanto se anunciam intenções,<br />

planos, medidas e opções miríficas que terão o condão de<br />

corrigir as tais decisões e orientações anteriores que lidar com<br />

uma realidade bem <strong>mais</strong> complexa, que inclui a variável responsabilidade<br />

individual e não se limita a «linhas macro».<br />

É a vez do preconceito: perante periferias desqualificadas e a abarrotar<br />

em contraste com centros abandonados nunca ocorre a possibilidade<br />

de que haja quem saia dos centros por deliberação,<br />

por gosto, quando podia ter escolhido ficar, como há quem para<br />

eles se desloque porque assim bem entende.<br />

12 |


Feliz ou infelizmente, as decisões de escolha de habitação não<br />

serão assim tão unívocas como o vulgo das análises sobre fluxos<br />

cidade-periferia as prefiguram. Segundo estas análises, as pessoas<br />

teriam saído de <strong>Lisboa</strong> aos magotes por motivos de ausência de<br />

oferta imobiliária (para venda e arrendamento) dentro da cidade<br />

e/ou por razões económicas – a oferta existente estaria acima das<br />

suas possibilidades. Ou seja: havia poucas casas disponíveis e as<br />

disponíveis eram caras. Esta análise, que parece certeira para avaliar<br />

o que se passou por exemplo nos anos sessenta, setenta e talvez<br />

até oitenta, falha a partir daí. Quando os juros do crédito à habitação<br />

começam a descer, torna-se razoavelmente acessível comprar<br />

e mesmo, decorrentemente, alugar casa no centro de <strong>Lisboa</strong>.<br />

Casas velhas, antigas, bem entendido: sem elevador na sua maioria,<br />

sem garagem, sem jacuzzi nem aquecimento central e com necessidade<br />

de obras, grandes ou pequenas. Sucede, porém, e este é um<br />

dos factores que as análises sobre a «fuga» para a periferia sistematicamente<br />

elidem, que muita gente recusa, à partida, a ideia<br />

de «casas velhas». Não apenas por serem velhas ou precisarem<br />

de obras, mas pela ideia de usado, de gasto, de segunda mão,<br />

e mesmo porque a estética das casas velhas lhes desagrada. Chão<br />

de madeira, janelas de madeira, até tectos altos: há pessoas, muitas<br />

pessoas, que não querem nada disto. Custa a perceber a quem<br />

gosta e quer exactamente isso? Pois custa. Mas é capaz de haver<br />

poucas compras em que os factores estéticos e de história de vida<br />

(sociológicos, sentimentais, psicológicos) pesem tanto. Ao comprar<br />

uma casa, as pessoas projectam-se: querem algo que corresponda<br />

ao seu sonho, à sua opção de vida, muitas vezes àquilo que permite<br />

sentir que se avançou em relação à geração anterior. E para muita<br />

gente o sonho é «uma casa nova a estrear», uma espécie de começo<br />

do zero, de espaço virgem – frequentemente uma casa num sítio<br />

muito diferente daquele onde cresceram. E se cresceram no centro,<br />

num bairro popular, com casas pequenas e antigas com vista para<br />

a janela do vizinho, provavelmente arrendadas a um preço muito<br />

baixo e por isso mal conservadas, querem algo de muito diferente,<br />

mesmo que a quilómetros do emprego e das escolas, mesmo que<br />

longe de tudo e com horas de carro ou transportes pelo meio,<br />

mesmo com os encargos económicos adicionais que isso implica,<br />

mesmo que depois se arrependam e mesmo que essa opção<br />

multiplicada por milhões altere estruturalmente a paisagem e as<br />

vivências, com consequências muito negativas a nível quer<br />

ambiental quer económico, com altos dispêndios energéticos<br />

e de tempo que empobrecem o país.<br />

Um inquérito realizado em 2009 pela Câmara e pelo Instituto<br />

Superior Técnico, intitulado Viver <strong>Lisboa</strong> e cujas principais conclusões<br />

foram divulgadas em Agosto, confirma a importância<br />

das opções individuais e das ideias feitas na conformação das<br />

cidades. Só 13% dos inquiridos que habitam em <strong>Lisboa</strong> e admitiriam<br />

mudar para zona da cidade distinta daquela onde vivem<br />

escolheriam as «zonas históricas» e os restantes prefeririam,<br />

de acordo com uma notícia da Lusa que cita as conclusões do dito<br />

estudo (que por qualquer razão não se encontra disponível na<br />

net) «as da Coroa Norte (Ameixoeira, Lumiar, Charneca e Carnide),<br />

seguidas das da área central consolidada (Campo Grande, S. João<br />

de Brito, Nossa Senhora de Fátima e Alvalade).»<br />

| 13


Seria muito interessante saber o porquê destas opções e sobretudo<br />

a razão da exclusão das «zonas históricas» (e, já agora, o que<br />

entendem por tal). Com base em quê se recusa tão liminarmente<br />

uma área da cidade que à partida deveria ser considerada atractiva?<br />

A que ideias e imagens corresponde esse desgosto? É uma<br />

questão estética? Económica? É a tal ideia de que lá não vive ninguém<br />

e ninguém quer lá viver, que as casas são pequenas e velhas,<br />

que as que não são pequenas e velhas são incomportáveis? Qual<br />

o grau de conhecimento dessas zonas que quem as rejeita tem<br />

de facto? Por outro lado, o lugar onde os inquiridos vivem, onde<br />

trabalham ou estudam, desde logo, e o que valorizam numa habitação<br />

e num lugar, também são uma informações determinantes.<br />

E, já agora, quantos dos inquiridos que vivem nas zonas históricas<br />

coincidem no diagnóstico das ditas com os que lá não vivem –<br />

e quantos estão interessados em mudar.<br />

O que se sabe dos resultados do inquérito do estudo Viver <strong>Lisboa</strong><br />

traz <strong>mais</strong> uma informação interessante: a maioria dos habitantes<br />

da cidade, a mudar de habitação, quereria comprar e não arrendar.<br />

Só 23,7% põe a segunda hipótese. Também aqui seria obviamente<br />

interessante perceber porquê – é possível que tal esteja relacionado<br />

com o facto de a maioria já ser proprietária e portanto imaginar<br />

vender uma casa para comprar outra, ou que, <strong>mais</strong> uma vez, tal<br />

corresponda a um conjunto de noções sobre o mercado de arrendamento,<br />

nomeadamente a inexistência de casas acessíveis para<br />

arrendar, que poderá já não ter correspondência com a realidade<br />

mas que é sempre repetida de cada vez que se fala do assunto.<br />

Imaginemos que alguém, para vender um produto, lhe exalta<br />

e exagera os defeitos. Quem o comprará? Só quem, conhecendo-o<br />

já ou sendo seu consumidor satisfeito, não se deixa enganar pela<br />

má publicidade. Qualquer pessoa com noções básicas de marketing<br />

poderá confirmar que os centros das cidades têm aquilo a que<br />

se dá o nome de «problema de imagem». Só isso explica que malgrado<br />

tudo o que mudou – e muito mudou nos últimos anos – se<br />

continue a repetir sobre eles a mesma ladainha menorizante<br />

e contraproducente. Parece evidente que se os decisores e os estudiosos<br />

da cidade querem repovoar o centro e as tais «zonas históricas»<br />

têm de começar por alterar a propaganda. E, de caminho,<br />

informarem-se sobre o que se passa e largarem de vez o diagnóstico<br />

pronto-a-comer que consomem entusiasticamente há anos,<br />

quiçá atrevendo-se mesmo a ir ao terreno em vez de, de um qualquer<br />

gabinete no Campo Grande ou na Cidade Universitária,<br />

decretarem que o metro quadrado dos fogos à venda no centro<br />

de <strong>Lisboa</strong> é «incomportável para jovens», baseando-se nos preços<br />

de habitação nova e ignorando olimpicamente o mercado dos usados,<br />

ou afiançarem, como já se ouviu a um responsável da edilidade<br />

num debate público, que por exemplo a Baixa «não dá para crianças<br />

porque não tem espaços para elas brincarem» (como se houvesse<br />

disso no resto da cidade).<br />

Dá trabalho? Pois dá. Desfaz mitos? Arruína discursos e propostas<br />

políticas? Ah pois. Mas se se quiser fazer algo de correcto, eficaz<br />

e útil, tem mesmo de ser. ■<br />

14 |


| 15


António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />

Para cargos<br />

executivos desta<br />

natureza, seis a oito<br />

anos é o normal,<br />

<strong>mais</strong> do que dez<br />

é um exagero<br />

Entrevista | Ana Sousa Dias<br />

Fotografia | ca, produções fotográficas<br />

16 |


Ao fim de onze anos à frente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento<br />

Regional de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo, António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong> deixa estas funções<br />

e prepara a candidatura à presidência da Câmara Municipal de Palmela<br />

nas próximas eleições autárquicas.<br />

O especialista em planeamento sai da <strong>CCDR</strong> com as grandes linhas estratégicas já<br />

consolidadas ou em vésperas de aprovação. É o que acontece com o Plano Regional<br />

de Ordenamento do Território (PROT) da Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>, cuja revisão<br />

foi precipitada pela alteração para Alcochete do local do novo aeroporto.<br />

Em cima da mesa ficam preocupações que vão da reformulação do mapa<br />

administrativo do País até mudanças radicais na governação, questões que <strong>Fonseca</strong><br />

<strong>Ferreira</strong> considera urgente repensar.<br />

Sai por vontade própria, dois anos antes de terminar o mandato, e diz que vai<br />

atrasado: «para cargos executivos desta natureza, seis a oito anos é o normal, <strong>mais</strong><br />

do que dez é um exagero». Manterá também a participação partidária que o levou<br />

à Direcção do Partido Socialista.<br />

Apesar de deixar agora a Assembleia Municipal de Trancoso, <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />

sabe que é para a terra onde nasceu, «onde está o verdadeiro sossego», que vai gozar<br />

a reforma. Ou a pós-reforma, claro.<br />

| 17


Neste momento podemos dizer que os resultados<br />

são visíveis, a região está completamente diferente.<br />

No Vale do Tejo e no Oeste, os centros urbanos foram<br />

praticamente todos requalificados. Os centros históricos<br />

– Óbidos, Alcobaça, Abrantes, Almeirim, Rio Maior –<br />

foram completamente renovados nos últimos dez anos.<br />

Os principais instrumentos de planeamento estratégico estão<br />

prontos. Foi por isso que escolheu sair neste momento, depois<br />

de onze anos na presidência da <strong>CCDR</strong>?<br />

Era minha intenção ter saído em Junho do ano passado, porque<br />

para cargos executivos desta natureza seis a oito anos é o normal,<br />

<strong>mais</strong> do que dez é um exagero. Fiquei por causa da revisão do<br />

Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT) da Área<br />

Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> (AML), em função da mudança do aeroporto<br />

para Alcochete.<br />

Fechou-se um ciclo quando ficou pronta a Estratégia <strong>Lisboa</strong> 2020,<br />

que corresponde a preparar o período do Quadro de Referência<br />

Estratégico Nacional (QREN).<br />

Vim para a Comissão em função da minha experiência de planeamento<br />

estratégico e penso que cumpri esse papel. A preparação<br />

do QREN foi uma das coisas que se fizeram bem para a região.<br />

A experiência estendeu-se depois às outras <strong>CCDR</strong>. Também coordenei<br />

o primeiro PROT para a AML, aprovado em 2002. Depois de uns<br />

anos de interrupção, fez-se o plano da zona envolvente da área<br />

metropolitana, Oeste e Vale do Tejo, que saiu em Agosto.<br />

A <strong>CCDR</strong> tem um papel importante nos PDM. Também foi depois<br />

de eu ter chegado que se concluiu a primeira geração de PDM da<br />

região, que já estava adiantada, e neste momento estão em revisão<br />

os PDM para articulá-los com os planos regionais de ordenamento<br />

do território. Concluiu-se, de facto, uma época em termos<br />

do planeamento regional.<br />

Acaba de ser anunciado o projecto Arco Ribeirinho Sul, também<br />

coordenado por si. É a concretização dos modelos que defende?<br />

É <strong>mais</strong> do que um planeamento, é um programa de requalificação<br />

de uma zona fundamental da AML. É um elemento para aquilo<br />

que eu espero que dentro de 20 anos seja uma nova metrópole,<br />

uma nova AML.<br />

Não é por acaso que arranca agora, tem a ver com a mudança do<br />

aeroporto para a Margem Sul. O novo aeroporto de <strong>Lisboa</strong>, a Plataforma<br />

Logística do Poceirão – a grande plataforma logística<br />

do país, os investimentos turísticos na Margem Sul, a Alta Velocidade,<br />

proporcionam uma nova geração de projectos de internacionalização<br />

da economia portuguesa e do País que têm potencial<br />

para transformar a Área Metropolitana, designadamente na<br />

relação das duas margens.<br />

Essa não era uma questão estratégica para si?<br />

Era. A península de Setúbal teve historicamente um papel subsidiário<br />

da AML. Era um dormitório com indústrias temporárias<br />

– a construção naval, a siderurgia, com ciclos de emprego e desemprego.<br />

Esta nova geração de projectos permite uma nova situação,<br />

em função dos investimentos já feitos, designadamente a ligação<br />

ferroviária na Ponte 25 de Abril, a Ponte Vasco da Gama, a requalificação<br />

ribeirinha, iniciada com o Polis da Caparica e também<br />

na baía do Seixal. Com o Arco Ribeirinho, que incide nas antigas áreas<br />

industriais, cria-se uma outra estrutura na área metropolitana.<br />

Deixo uma nota, contudo: podem não ser só coisas boas. Isto é excelente<br />

para o País, para a AML e particularmente para a península<br />

de Setúbal, mas tem os perigos do desordenamento e da degradação<br />

ambiental.<br />

São grandes investimentos, o que significa grandes pressões urbanísticas<br />

e imobiliárias, e num território muito sensível em termos<br />

ambientais.<br />

O estuário do Tejo?<br />

Os estuários do Tejo e do Sado, ligados por corredores ambientais,<br />

designadamente o aquífero subterrâneo. E também o montado<br />

de sobro, que ali é dominante.<br />

18 |


A margem sul tem uma qualidade ambiental e territorial que<br />

é preciso preservar. É bom que estes investimentos avancem,<br />

.porque significam produção de riqueza e emprego, mas têm de<br />

ser feitos dentro de uma matriz de ordenamento do território que<br />

não temos sabido aplicar. Ou seja, de forma ordenada.<br />

Está previsto que a urbanização na margem sul se faça de forma<br />

polarizada, com o crescimento de actividades económicas e de<br />

habitação, a um ritmo muito superior ao que tem acontecido.<br />

Vai abrir-se uma nova frente de urbanização no campo de tiro de<br />

Alcochete, estritamente para a plataforma aeroportuária. Palmela,<br />

Setúbal, Barreiro, Seixal e Almada, vão crescer, são zonas que têm<br />

terrenos com excelentes acessibilidades já em condições urbanas<br />

à espera de arrancar.<br />

E em termos ambientais, é necessário reforçar as áreas de protecção<br />

integral ou de protecção parcial da margem sul. Apesar de<br />

o montado de sobro já ser protegido, acho que deve ser ampliada<br />

a Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo.<br />

com apoio técnico. A Expo e o Parque das Nações foram um laboratório<br />

extraordinário, já aplicado nas operações Polis.<br />

Como é que o crescimento da urbanização se coordena com a<br />

necessidade de a cidade de <strong>Lisboa</strong> ter <strong>mais</strong> gente, ter uma vida<br />

<strong>mais</strong> intensa?<br />

O processo de urbanização vai continuar, até porque os nossos<br />

meios rurais têm pouca potencialidade agrícola. O país tem<br />

de pensar em criar centros urbanos fortes e centros de actividade,<br />

e acho que isso é fácil, no interior. Serão três, ou quatro, ou cinco.<br />

Por outro lado, esta região, e <strong>Lisboa</strong> em particular, têm uma localização<br />

estratégica em termos mundiais e na nova globalização.<br />

<strong>Lisboa</strong> vai continuar a ser atractiva e vai tender a qualificar-se<br />

com serviços <strong>mais</strong> avançados.<br />

Parece que sai tranquilo. Sem mágoas?<br />

De alguma maneira, a gestão de tudo isto depende<br />

da «nova geração de autarcas» de que fala num texto seu.<br />

E também da existência de muito <strong>mais</strong> especialistas<br />

em questões de ordenamento do território.<br />

A seguir ao 25 de Abril, ou mesmo há 15 ou 20 anos, não era possível<br />

fazer isto. Não tínhamos as pessoas nem os instrumentos<br />

de ordenamento.<br />

Apesar disso, haverá sempre uma enorme pressão em contrário.<br />

Mas isso é a vida, a vida tem sempre os dois lados. Depende muito<br />

das decisões políticas e do exercício da política.<br />

Hoje temos também <strong>mais</strong> experiência. Por exemplo, o Parque das<br />

Nações é uma boa experiência para o desenvolvimento do Arco<br />

Ribeirinho Sul. Aliás, está previsto que a Parque Expo participe<br />

Deixo com desgosto uma situação que espero que venha a ser<br />

corrigida: o futuro dos terrenos da Portela. Neste momento, está<br />

a projectar-se a estação de alta velocidade de <strong>Lisboa</strong> para a Gare<br />

do Oriente, onde claramente não cabe em boas condições. É uma<br />

solução à portuguesa, fazer coisas sobre coisas em vez de fazê-las<br />

de forma ordenada. Espero que não se dê cabo daquele ícone da<br />

arquitectura.<br />

É o arquitecto Santiago Calatrava que está a fazer esse projecto.<br />

Admito que por aí corra bem, mas as coisas ficam amontoadas.<br />

A Portela tem as condições ideais, mesmo em termos geográficos,<br />

para receber a alta velocidade que vem do norte. No Plano Director<br />

Municipal (PDM) de <strong>Lisboa</strong> está previsto que a estação fique<br />

no Vale de Chelas, e a linha a passar em túnel por baixo da Portela.<br />

A linha está projectada até à zona de Alenquer, segue em linha<br />

| 19


ecta e vem ter à Portela. A Portela tem cerca de 600 hectares, na<br />

minha opinião seria metade para parque urbano, de que <strong>Lisboa</strong><br />

precisa. E a outra metade devia ser aproveitada para um parque<br />

empresarial moderno, com as instalações que já lá existem,<br />

incluindo o check-in para a Alta Velocidade. Já discuti isso com<br />

pessoas da Refer, dizem-me que não se pode ligar o caminho‐de-<br />

‐ferro convencional. Mas com certeza que se pode ligar à linha<br />

de cintura. A estação seria enterrada, por causa das cotas. Espero<br />

que se reflicta melhor sobre isto.<br />

A outra questão que me deixa preocupado é a componente rodoviária<br />

na travessia Chelas-Barreiro. A minha opinião é que a ponte<br />

deve ficar preparada para no futuro vir a tê-la, mas de momento<br />

é claramente excessiva. No futuro, quando tivermos outra geração<br />

de carros <strong>mais</strong> amigos do ambiente, então sim.<br />

Esta componente rodoviária é <strong>mais</strong> uma facada no transporte<br />

público. Durante o III Quadro Comunitário de Apoio (QCA) adquiriram-se,<br />

com fundos comunitários, nove catamarans, um meio<br />

de transporte excelentíssimo e rápido que está a 40 por cento da<br />

capacidade. Ainda temos capacidade ferroviária na Ponte 25 de<br />

Abril. Temos a Ponte Vasco da Gama com capacidade rodoviária<br />

e está previsto alargá-la com <strong>mais</strong> uma faixa. E temos uma capacidade<br />

de travessia do Tejo excedentária.<br />

Em relação à Alta Velocidade, defende que o eixo Setúbal-<br />

La Coruña deve ser prioritário, e não o eixo <strong>Lisboa</strong>-Madrid.<br />

Mas não é essa a nossa ligação <strong>mais</strong> directa a Espanha<br />

e à Europa?<br />

Pode ser a ligação <strong>mais</strong> directa, mas há uma questão estratégica,<br />

como bem notou o general Loureiro dos Santos num artigo publicado<br />

recentemente. Madrid quer fazer uma estrela, ficar como<br />

centro da Ibéria. De qualquer modo, todos os estudos dizem que<br />

essa linha nunca será rentável. Bem sei que tem havido surpresas<br />

agradáveis – por exemplo a linha Madrid-Sevilha e a linha Madrid-<br />

‐Barcelona tiveram rapidamente muito <strong>mais</strong> passageiros do que<br />

o previsto. Mas <strong>Lisboa</strong>-Madrid não tem grandes centros intermédios<br />

e a distância de 600 quilómetros começa a ser concorrencial<br />

pelo avião. São três horas e de avião faz-se numa hora. Nos estudos<br />

convencionais, a concorrência do avião começa acima dos<br />

300 km.<br />

E o problema é diferente no litoral?<br />

A alta velocidade pode ter um papel virtuoso na faixa litoral<br />

Setúbal‐La Coruña, fortemente urbanizada, onde está previsto<br />

que ao fim de oito a dez anos o comboio seja rentável. Acima<br />

de tudo, isto tem a ver com o exemplo de Taiwan, onde a alta<br />

.velocidade é feita para ligar centros de competência, com novos<br />

serviços de investigação, de desenvolvimento tecnológico, como<br />

nós podemos ter: <strong>Lisboa</strong>, Leiria/Marinha Grande, Coimbra, Aveiro,<br />

Porto, Braga, Galiza. São centros que, cada vez <strong>mais</strong>, requerem<br />

quadros que ensinam numa universidade num pólo, investigam<br />

noutro, dão consultadoria noutro, e isso não é compatível<br />

nem com o caminho-de-ferro convencional, nem com o avião,<br />

nem com a estrada. Num artigo que escrevi, dei o exemplo de<br />

Taiwan, onde fizeram alta velocidade, e a ilha só tem 450 km<br />

de comprimento.<br />

Cita a propósito Richard Florida, que faz um balanço entre<br />

a população, as actividades económicas e também a investigação<br />

científica, os pólos universitários…<br />

Sim, exactamente isso, para fundamentar a minha opinião. Vejo<br />

a Portela como uma zona moderna de Berlim onde está a sede<br />

20 |


da Sony, é um exemplo das áreas de serviços avançados que tendem<br />

a situar-se nas grandes cidades. <strong>Lisboa</strong> pode ter isso; Leiria/<br />

Marinha Grande na área dos moldes, uma das indústrias internacionalizadas<br />

do país; Coimbra e Aveiro são duas universidades<br />

de referência, a saúde em Coimbra e as telecomunicações em Aveiro;<br />

depois o Porto e Braga. Richard Florida mostra que as cidades tendem<br />

a terciarizar-se e o suporte do desenvolvimento tem a ver<br />

com a Tecnologia, o Talento e a Tolerância.<br />

Os três T.<br />

Passou a receber menos dinheiro.<br />

A AML tem um décimo dos fundos que a região de <strong>Lisboa</strong> e Vale<br />

do Tejo tinha, porque evoluiu, em termos de riqueza e de produto.<br />

Os fundos actuais, quanto a mim, devem ser aplicados na melhoria,<br />

na salvaguarda, na qualificação dos aspectos ambientais.<br />

E, por outro lado, nos incentivos a projectos empresariais de elevado<br />

potencial de desenvolvimento em termos tecnológicos.<br />

É para aí que as coisas estão viradas, as indústrias limpas, as questões<br />

da eficiência energética.<br />

Exactamente, e eu acrescento-lhe um outro que é o Território.<br />

O desenvolvimento faz-se territorializado, é preciso contar com<br />

o território. O conceito deste eixo é um conceito territorial.<br />

Vamos voltar aos grandes planos estratégicos que estão<br />

preparados. Em que é que ficamos a ganhar com a aplicação<br />

destes instrumentos?<br />

Tive o privilégio de estar aqui nestes anos em que houve uma<br />

grande evolução da região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo. Não quero<br />

dizer que foi por mérito meu, de alguma maneira foi natural. Cheguei<br />

aqui em 98, quando se estava a concluir o II QCA, um tempo<br />

em que os dinheiros comunitários foram fundamentalmente<br />

aplicados em estruturas enterradas, em saneamento, água, estradas.<br />

Nós pudemos preparar o III QCA (2000-2006) para uma<br />

época um pouco diferente, com requalificações ribeirinhas e urbanas,<br />

e equipamentos, designadamente culturais. Recuperados os<br />

teatros e cineteatros, fez-se a Artemrede, uma rede de programação<br />

cultural. Hoje encontramos novas condições para o aprofundamento<br />

dessa modernização da região. Com isto, a região passou<br />

para o Objectivo I dos fundos comunitários.<br />

O trabalho de planeamento só dá resultados a médio<br />

ou a longo prazo. Isso não é frustrante?<br />

Neste momento podemos dizer que os resultados são visíveis,<br />

a região está completamente diferente. No Vale do Tejo e no Oeste,<br />

os centros urbanos foram praticamente todos requalificados.<br />

Os centros históricos – Óbidos, Alcobaça, Abrantes, Almeirim, Rio<br />

Maior – foram completamente renovados nos últimos dez anos.<br />

Em termos político-partidários, reforçou a voz activa no último<br />

Congresso do Partido Socialista, onde apresentou mesmo uma<br />

moção. Vai manter-se activo nesse campo?<br />

Como dizia nessa moção, considero que este Governo do PS, e particularmente<br />

o Primeiro-Ministro José Sócrates, tiveram o papel<br />

histórico de lançar uma agenda de reformas que o país requeria<br />

há décadas. Desde a minha juventude ouvia falar nas reformas<br />

estruturais, e acabámos por perceber quais eram as reformas<br />

de fundo de que o país precisava e que não avançaram até 2005.<br />

É evidente que é um processo pesado, não basta uma legislatura.<br />

Mas o processo ficou um pouco no início. Foi desencadeado,<br />

| 21


e bem, foi marcada uma agenda de reformas, foram feitas coisas<br />

muito positivas, designadamente na Administração Pública.<br />

Mudou-se o estatuto do funcionalismo público, houve um conjunto<br />

de medidas legislativas positivas, mas a reforma não foi tão<br />

fundo como devia ter ido.<br />

E podia?<br />

Essa é uma boa questão, é uma questão política, uma questão<br />

social. O processo é complicado, como se viu na educação e na<br />

saúde, mas apesar de tudo eu penso que poderia ter ido <strong>mais</strong><br />

fundo.<br />

Na administração pública, por exemplo, o PRACE não foi tão longe<br />

como devia ter ido. Extinguiram-se muitos organismos e lugares<br />

de chefias, mas a verdade é que se criaram outros organismos<br />

que não se devia ter criado.<br />

Reproduziu-se o sistema?<br />

Claro. Por exemplo, ao nível das regiões de turismo, hoje é uma<br />

confusão. Fez-se uma primeira reforma bem, porque proliferavam<br />

as regiões de turismo e passou-se para cinco. Mas depois foi-se<br />

cedendo, criaram-se pólos dentro dessas cinco, como o pólo do<br />

Oeste, no caso da <strong>LVT</strong>, e ainda se criaram umas agências regionais<br />

para a promoção dessas regiões no exterior. Num país tão pequenino,<br />

o Instituto de Turismo de Portugal está preparado, e tem de<br />

estar, para fazer o fundamental, a promoção. São coisas pouco<br />

racionais e pouco convenientes para o país.<br />

Outro exemplo é a criação das novas administrações regionais<br />

hidrográficas. Parte das competências estavam nas <strong>CCDR</strong>, e por<br />

isso mesmo fui muito claro durante todo o processo, não levantei<br />

problemas porque houve uma decisão política e tinha de se obedecer.<br />

Mas tenho dúvidas se se justifica, porque existe o Instituto<br />

Nacional da Água. Este país é pequeno e portanto carece de organismos<br />

a nível nacional que possam reunir competências e saber,<br />

e depois temos de ter estruturas descentralizadas. E em outros<br />

ministérios aconteceu o mesmo.<br />

A minha análise política é que a administração pública está bloqueada.<br />

Se calhar esta reforma não foi <strong>mais</strong> longe porque o actual<br />

xadrez não o permitiu. O problema da administração pública<br />

.portuguesa só se resolve com um processo de regionalização que<br />

dê um novo ciclo ao poder local, em que possa obter novas competências.<br />

E que crie as regiões político-administrativas que recebam<br />

competências da administração central, por um lado, e competências<br />

dos municípios noutras áreas que eles não têm dimensão<br />

para fazer. Isto deve ser acompanhado de toda uma reforma<br />

do mapa administrativo do país, é preciso pôr isso na agenda política.<br />

Nós hoje temos municípios que nem freguesias dão, há municípios<br />

com três mil habitantes…<br />

Isso não é mexer num ninho de vespas?<br />

Mas tem de ser mexido. É preciso ver que a nossa reforma administrativa<br />

foi em 1835, quase há dois séculos. Mudou o país, mudou<br />

a sociedade, mudou a cultura, mudou tudo, e nós continuamos<br />

com uma malha administrativa que hoje é um colete-de-forças.<br />

É irracional termos 35 concelhos com menos de 5 mil habitantes.<br />

E na escala dos 10 mil há dezenas e dezenas. É uma escala absolutamente<br />

irracional para se gerir qualquer coisa. Numa sociedade<br />

avançada, isto não pode ser gerido assim, são escalas paroquiais.<br />

<strong>Lisboa</strong> tem freguesias que não chegam a mil eleitores.<br />

A sociedade moderna ou pós-moderna, o que se queira, a sociedade<br />

dos serviços, a sociedade avançada do conhecimento, da<br />

informação, tem de ser gerida de uma forma muito descentralizada.<br />

Se não, é capturada pelos grandes tubarões, seja em termos<br />

empresariais, sejam os grandes lobbies. Com a globalização,<br />

reforça-se a necessidade da descentralização. Mas temos de ter<br />

uma malha que suporte essa descentralização efectiva. Esta<br />

é uma questão em que acho que há um bloqueio e a volta tem de<br />

ser dada através da regionalização, para fazer a descentralização.<br />

O que é que está a condicionar as grandes reformas?<br />

Tradicionalmente, assaca-se aos funcionários públicos a responsabilidade<br />

de o Estado funcionar mal. E há razões para isso, relacionadas<br />

com o acomodamento dos funcionários perante o seu<br />

vínculo. Mas normalmente não se fala do mau funcionamento da<br />

máquina do próprio Governo.<br />

Dou um exemplo. As <strong>CCDR</strong> foram criadas por um diploma de<br />

Maio de 2003 que previa a extinção das Comissões de Coordenação<br />

Regional (CCR) e das Direcções Regionais do Ambiente e Ordenamento<br />

do Território (DRAOT). Esse diploma previa que a nova lei<br />

orgânica seria publicada num prazo de três meses. Demorou quatro<br />

anos, só saiu nos últimos dias de Abril de 2007, com as dificuldades<br />

que isso levantava para gerir.<br />

Outro exemplo. O Governo decidiu a revisão do PROT da AML,<br />

em função do aeroporto, da nova travessia, etc, com carácter<br />

de urgência, num prazo de 9 meses. Eu tinha proposto um ano ou<br />

14 meses, nove meses era claramente excessivo, mas mostra uma<br />

determinação. Isso foi feito já em 2008 e a <strong>CCDR</strong> não tinha<br />

dotação orçamental para contratar os técnicos e os especialistas<br />

em várias áreas. Em fase de contracção orçamental, encontrámos<br />

rapidamente no orçamento da <strong>CCDR</strong> rubricas de onde eu podia<br />

tirar dinheiro para passar para aqui, e fiz uma proposta de alteração<br />

orçamental. Fi-la em Maio, o Governo decidiu em Junho<br />

essa revisão com carácter de urgência, e a alteração só foi aprovada<br />

em finais de Setembro. Demorou cinco meses! Uma alteração<br />

que devia ser a própria <strong>CCDR</strong> a fazer porque não aumentava<br />

.o orçamento. Passou por não sei quantos organismos, ministérios,<br />

e demorou cinco meses. É terrível, é uma burocracia pesadíssima.<br />

Há que fazer um Simplex para o próprio Governo.<br />

Essa complicação deve-se a um excesso de pessoas,<br />

é a tendência para o «complicómetro»?<br />

Se eu mandasse, reduzia os assessores nos gabinetes ministeriais.<br />

Há muita duplicação com as direcções-gerais. Um governo tem<br />

de ter confiança nos principais suportes técnicos, sem dúvida.<br />

Pode fazê-lo com as direcções-gerais, com organismos como<br />

as <strong>CCDR</strong> ou institutos, em parte. Não quer dizer que os ministros<br />

não tenham alguns assessores. Mas precisam de muito menos<br />

se funcionarem com os suportes técnicos que existem nesses<br />

organismos. Das duas uma: ou têm confiança nos respectivos<br />

directores‐gerais para fazerem isso, muito bem; ou não têm<br />

.e podem mudá-los, a lei permite-o. A tendência é para ter muitos<br />

assessores e adjuntos, normalmente bem escolhidos, gente com<br />

elevado potencial mas normalmente também muito inexperiente.<br />

Para além do excesso, muitas vezes criam problemas com<br />

as direcções-gerais. Um próximo governo deveria tratar disto.<br />

Outra complicação é que também se legisla demasiado. Os nossos<br />

quadros jurídicos são labirintos, em qualquer área, designadamente<br />

no planeamento do território. Há uma proliferação de<br />

22 |


legislação, uma sobrepõe-se à outra, depois está sempre a ser<br />

alterada, e nós precisamos de estabilizar.<br />

Como é que isso se pode alterar?<br />

São as mentalidades. É outra questão que funciona mal no<br />

Governo. No Partido Socialista, colocámos isto como uma das<br />

prioridades. Tem de se mudar a cultura e o modo de funcionamento<br />

dos governos. A tendência é: surge um problema qualquer,<br />

cria-se uma nova lei em vez de se resolver o problema. Se calhar,<br />

é preciso adaptar qualquer coisa na legislação existente, e fazer<br />

pequenas adaptações à legislação até chegar a um quadro <strong>mais</strong><br />

ou menos estabilizado, e depois um quadro simples. Não é por<br />

acaso que tradicionalmente havia os códigos, desde o tempo dos<br />

romanos. Eles sistematizavam. A legislação tem de ser reduzida<br />

e o processo legislativo tem de ser <strong>mais</strong> moderado.<br />

Sai da <strong>CCDR</strong> contente com o trabalho feito?<br />

Sim, muito contente, em termos pessoais e profissionais foi uma<br />

realização. Tive outros momentos, como no Fundo de Fomento da<br />

Habitação e na Câmara de <strong>Lisboa</strong>, mas aqui foi <strong>mais</strong> sustentado,<br />

aliava a parte do planear com o dispor dos recursos para poder<br />

fazer. Acho que as <strong>CCDR</strong> não estão suficientemente aproveitadas,<br />

por tudo o que já disse. Quando houver regionalização, as <strong>CCDR</strong><br />

devem ser transformadas, devem passar a ser serviços técnicos<br />

das regiões.<br />

Como é que aparece a sua candidatura à Câmara de Palmela?<br />

Não me passava pela cabeça há uns meses esta candidatura.<br />

Se alguma vez me passou pela cabeça uma candidatura era<br />

a Trancoso, na reforma para regressar às origens, e fui convidado<br />

a fazê-lo em anos anteriores. Mas isso não se coloca agora, por<br />

razões familiares.<br />

Nas grandes mudanças julgo que há sempre vários factores.<br />

Eu estava disponível para sair da administração central, e saio<br />

com o pensamento de que há um novo papel para a administração<br />

local, articulando isso com as futuras regiões. É aliciante.<br />

Tive a sorte de ser convidado pelos meus amigos do Partido Socialista<br />

de Palmela, e estou seguro de que este é um município<br />

.central para uma estratégia de desenvolvimento para a península<br />

de Setúbal.<br />

Porquê?<br />

É central, quase geograficamente. É o maior município da AML,<br />

tem 456 quilómetros quadrados de área. Aprendi nos meus tempos<br />

universitários com um antropólogo das questões do espaço<br />

que a melhor qualidade do espaço, em termos urbanísticos e territoriais,<br />

é a quantidade. E é um concelho muito diversificado,<br />

tem zonas rurais, zonas industriais, tem qualidades territoriais<br />

ímpares. E tem a questão simbólica, patrimonial, histórica: «Por<br />

que é que Deus criou Palmela? Para olhar para a área metropolitana<br />

de <strong>Lisboa</strong>…» Esta área foi terra de colonização de fenícios,<br />

romanos, era um posto avançado em termos estratégicos, de defesa<br />

e de avanço. E hoje pode retomar esse papel.<br />

Mas o que aconteceu para que o António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong><br />

técnico, especialista, homem dos bastidores, desse um passo<br />

para a política pura e dura?<br />

Ao nível das regiões<br />

de turismo, hoje é uma<br />

confusão. Fez-se uma<br />

primeira reforma bem,<br />

porque proliferavam<br />

as regiões de turismo<br />

e passou-se para cinco.<br />

Mas depois foi-se cedendo,<br />

criaram-se pólos dentro<br />

dessas cinco, (…) e ainda<br />

se criaram umas<br />

agências regionais (…)<br />

| 23


A administração pública<br />

está bloqueada. Se calhar<br />

esta reforma não foi<br />

<strong>mais</strong> longe porque<br />

o actual xadrez não<br />

o permitiu. O problema<br />

da administração<br />

pública portuguesa só se<br />

resolve com um processo<br />

de regionalização que dê<br />

um novo ciclo ao poder<br />

local, em que possa obter<br />

novas competências.<br />

Eu passei a vida fazendo política pelo lado cívico mas nunca tendo<br />

querido meter-me na política. Gostava muito da profissão, designadamente<br />

estas áreas do território, do urbanismo. Duas ou três<br />

vezes na vida colocou-se a hipótese de ser candidato a isto ou<br />

aquilo e recusei. Quando fui para a CML foi-me proposto ser vereador<br />

e não quis, fui como técnico. E tive outros episódios. Não fui,<br />

por razões profissionais.<br />

Neste momento, a satisfação profissional é grande. O último congresso<br />

do Partido Socialista também influenciou a minha decisão.<br />

Além de apresentarmos a moção, candidatámo-nos e tivemos 11<br />

por cento, o que num clima de «unanimismo» é importante.<br />

É muito importante para abrir o pluralismo dentro dos partidos,<br />

neste caso dentro do Partido Socialista, isso foi sempre uma<br />

obsessão minha. Houve sempre tendência para as direcções<br />

.se fecharem dentro de um certo «unanimismo», e eu acho que,<br />

particularmente nos dias de hoje, isso não é muito próprio da<br />

democracia.<br />

Temos 27 elementos na Comissão Nacional, sete na Comissão<br />

Política e isso traz algumas responsabilidades para podermos<br />

continuar a cimentar posições e lutar por aprofundar o pluralismo,<br />

que é aprofundar a democracia.<br />

Essa é uma das razões da minha decisão. Tenho uma educação<br />

judaico-cristã, também senti alguma necessidade de me submeter<br />

a votos.<br />

É a primeira vez que vai a votos?<br />

Faço parte da Assembleia Municipal de Trancoso, vou sair agora<br />

por causa da candidatura a Palmela, mas estou lá há 11 anos.<br />

Tenho pena porque aquilo é o verdadeiro sossego.<br />

Esta decisão significa que deixa de lado a investigação que tem<br />

mantido ao longo da carreira? Deixa de vez o planeamento<br />

regional e o ordenamento do território?<br />

24 |


Vou sair da administração central mas já me ofereci, ao próximo<br />

ministro ou secretário de Estado se tiver afinidades, ou a qualquer<br />

um em termos de participação técnica, para colaborar<br />

nas bases para um novo paradigma de sistema de instrumentos<br />

de planeamento e gestão do território.<br />

O actual está desadequado?<br />

Afinámos este sistema de instrumentos em 1998, com a Lei de Bases.<br />

É um sistema cuja matriz é funcionalista, da Carta de Atenas,<br />

dos anos 30 a 60 do século passado, muito rígido, muito próprio<br />

de uma sociedade que mudava lentamente, uma sociedade<br />

.de cidade/campo. Isso está ultrapassado. Nós precisamos de rever<br />

profundamente o sistema, para o adequar aos tempos modernos,<br />

para um sistema <strong>mais</strong> estratégico, <strong>mais</strong> flexível, sem deixar de ter<br />

os objectivos de ordenamento.<br />

Tenho iniciado um trabalho de aprofundamento, já publiquei<br />

alguns artigos sobre isso. Mas é preciso que seja operacionalizado<br />

em termos legislativos.<br />

Que outras recomendações tem para o próximo governo?<br />

Gostava que o próximo governo, fosse qual fosse, olhasse <strong>mais</strong><br />

pelas periferias. É aí que está a maior parte das pessoas. Acho que<br />

deve ser criado um grande programa, a exemplo do Polis, de qualificação<br />

das periferias. Temos tido medidas de qualificação,<br />

no quadro da regeneração urbana, da política de cidades. Mas<br />

a verdade é que não há um grande programa. Por exemplo, o Polis<br />

é um programa necessário, foi feito fundamentalmente para as<br />

qualificações ribeirinhas e dos centros urbanos onde vive muita<br />

gente. Mas é nas periferias mal cuidadas das áreas metropolitanas<br />

de <strong>Lisboa</strong> e do Porto que estão as pessoas, é aí que estão<br />

os problemas, é aí que temos de investir. Espero que o próximo<br />

governo, seja ele qual for, se dedique a este problema. ■<br />

| 25


<strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />

Mais Competitiva<br />

ca, produções fotográficas<br />

26 |


Desde o arranque do programa em 2007, 159 milhões de euros, de um total<br />

de 307 milhões, foram investidos em vários projectos de áreas tão diversas como<br />

investigação e desenvolvimento tecnológico, inovação, renovação do parque<br />

escolar, qualificação ambiental, reabilitação de centros históricos, entre outras.<br />

Projectos de áreas distintas, mas com um denominador comum: têm potencial<br />

para colocar a região na lista das <strong>mais</strong> competitivas da Europa. Estes fundos<br />

provêm do QREN através do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> – Programa Operacional Regional<br />

de <strong>Lisboa</strong>. Com uma aplicação muito abrangente, uma grande parte dos apoios<br />

(cerca de 37%) tem sido, no entanto, direccionada para a área de incentivos<br />

às pequenas e médias empresas, em especial as que se candidatam com<br />

projectos que lhes permitam, num futuro muito próximo, ser competitivas<br />

e geradoras de <strong>mais</strong> emprego. As empresas parecem estar satisfeitas.<br />

Reportagem | Carla Amaro<br />

Fotografia | Guto <strong>Ferreira</strong><br />

Cerca de 57% dos fundos de apoio do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />

– Programa Operacional Regional de <strong>Lisboa</strong> foram<br />

aplicados na área geográfica dos 18 municípios da<br />

Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>. O universo dos potenciais<br />

beneficiários é vasto e diversificado: administração<br />

pública (central e local), empresas (incluíndo municipais),<br />

associações empresariais, agentes de investigação e desenvolvimento<br />

tecnológico, agências de inovação, centros de investigação,<br />

centros de desenvolvimento de produto, instituições de ensino,<br />

IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), ONG (Organizações<br />

Não Governamentais) e instituições particulares de interesse<br />

público. Com o financiamento dos seus projectos, as entidades<br />

e empresas reforçam a sua posição no mercado e ao mesmo<br />

tempo contribuem para transformar <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo num<br />

pólo empreendedor com projecção nacional e internacional.<br />

Distribuídos através do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>, Programa Operacional Regional<br />

de <strong>Lisboa</strong> – os <strong>POR</strong> também existem para as regiões do Norte,<br />

Centro, Alentejo, Algarve e regiões autónomas da Madeira e Açores,<br />

co-financiados pelo FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento<br />

Regional) e estruturados territorialmente de acordo com as NUTS II<br />

(Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) –,<br />

sem eles as empresas de pequena e média dimensões não teriam<br />

ao dispor um conjunto de instrumentos financeiros para alanvancagem<br />

e partilha de risco dos seus projectos o que poderia<br />

comprometer a sua concretização. Sem prejuízo de outros objectivos,<br />

dotar as PME de instrumentos que as coloque, a breve prazo,<br />

numa posição <strong>mais</strong> competitiva e autónoma é uma das prioridades<br />

do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

Desde que ultrapassou a média comunitária do PIB per capita,<br />

a Grande Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong> passou de zona de Objectivo<br />

I – estatuto atribuído às regiões <strong>mais</strong> pobres, que têm a convergência<br />

como meta a atingir numa primeira fase –, a zona de<br />

Objectivo II, da competitividade e emprego, situação que se por<br />

um lado lhe traz novos desafios, por outro lado, coloca-a numa<br />

posição menos favorável quanto aos incentivos a receber. Por ser<br />

do Objectivo II, recebe agora menos ajudas financeiras, o que condiciona<br />

bastante a distribuição dos fundos comunitários. A maior<br />

fatia do bolo tem sido direccionada para a área de incentivo às<br />

empresas, em especial as que apresentam projectos que se enquadrem<br />

no primeiro dos quatro grandes eixos que sustentam o <strong>POR</strong><br />

<strong>Lisboa</strong>. No eixo 1 cabem todos os projectos que promovam a competitividade,<br />

a inovação e o conhecimento. Ou seja, «todas as<br />

| 27


Para Manuela Azevedo<br />

e Silva, a participação em<br />

massa dos projectos de<br />

I&DT é reveladora da<br />

riqueza da região de <strong>Lisboa</strong><br />

e Vale do Tejo em termos de<br />

know-how das empresas<br />

e de dinâmica científica<br />

e tecnológica.<br />

Manuela Azevedo e Silva, responsável técnica pelos incentivos do <strong>POR</strong> L às empresas<br />

intervenções que visam estimular a qualificação do tecido produtivo,<br />

por via da inovação, do desenvolvimento tecnológico e do<br />

estímulo do empreendedorismo, bem como da melhoria das<br />

diversas componentes da envolvente da actividade empresarial,<br />

com relevo para a redução dos custos públicos». E como principais<br />

vectores de intervenção, lê-se ainda no documento que substancia<br />

a aplicação do QREN para o período 2007-2013, «a agenda<br />

para os factores de competitividade compreende estímulos à produção<br />

do conhecimento e desenvolvimento tecnológico, incentivos<br />

à inovação e renovação do modelo empresarial e do padrão de<br />

especialização, instrumentos de engenharia financeira para financiamento<br />

e partilha de risco na inovação, intervenções integradas<br />

para a redução dos custos públicos de contexto, acções colectivas<br />

de desenvolvimento empresarial, estímulos ao desenvolvimento<br />

da sociedade de informação, redes e infra-estruturas de apoio à<br />

competitividade regional e acções integradas de valorização económica<br />

dos territórios menos competitivos». Quantos aos restantes<br />

eixos, o eixo 2 pretende a sustentabilidade e a valorização<br />

.territorial; o eixo 3 tem em vista a coesão social; e o eixo 4, a assistência<br />

técnica. Os incentivos são distribuídos conforme a prioridade<br />

estabelecida no <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>. Assim, dos 307 milhões de euros<br />

disponíveis para a região de <strong>Lisboa</strong>, 51% dessa verba foi programada<br />

para projectos do eixo 1 (o correspondente a 155.273.945<br />

euros), o eixo 2 ficou com 23% (cerca de 70.723.914 euros), o eixo 3<br />

também com 23%, para o eixo 4, apenas 3% dos incentivos<br />

(9.967.398 euros).<br />

I&DT tem <strong>mais</strong> procura que a Inovação<br />

A inovação constitui uma das principais componentes da estratégia<br />

de desenvolvimento da região, sendo um dos domínios de<br />

acção chave para o reforço da sua competitividade. Curiosamente,<br />

até ao momento, os projectos de inovação candidatos aos fundos<br />

não são muitos. Segundo Manuela Azevedo e Silva, da Comissão<br />

de Coordenação de Desenvolvimento Regional de <strong>Lisboa</strong> e Vale do<br />

Tejo e responsável técnica pelos incentivos do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> às<br />

empresas, da área da inovação «não temos recebido muitas candidaturas»,<br />

ao contrário da de investigação e desenvolvimento<br />

tecnológico (I&DT), que, aliás, lidera a natureza dos projectos<br />

a concurso. Para Manuela Azevedo e Silva, esta participação em<br />

massa dos projectos de I&DT é reveladora da riqueza da região<br />

de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo em termos de know‐how das empresas<br />

e de dinâmica científica e tecnológica. Uma das empresas que<br />

aposta em I&DT é a YDreams – Informática, SA, que actua no sector<br />

dos serviços, nas áreas de multimédia, computação gráfica, realidade<br />

virtual e sistemas de informação geográfica. Candidatou-se<br />

ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> com três projectos, todos eles aprovados: o projecto<br />

«YInvisible Pré-Industrialização, Estudo e Análise de Viabilidade<br />

da Industrialização da Tecnologia YInvisible», o projecto «Construction<br />

of Humane Autonomous Machines Embodied in Living<br />

Environments of Nature (Chameleon) e o projecto líder mundial<br />

de «Instalações Interactivas». O «YInvisible» tem como objectivo<br />

«o estudo de processos de industrialização viáveis para a produção<br />

de ecrãs electrocrómicos a partir de tecnologia previamente<br />

desenvolvida a nível laboratorial». A viabilidade da industrialização<br />

está a ser estudada tanto do ponto de vista científico-tecnológico<br />

como dos pontos de vista de propriedade intelectual e de<br />

mercado/produtos. A empresa pretende «obter células electrocrómicas<br />

funcionais produzidas por métodos industriais ou facilmente<br />

industrializáveis sobre substratos não convencionais»,<br />

nomeadamente papel, têxtil, vidro, cortiça, madeira, couro e materiais<br />

cerâmicos e plásticos vários. Os métodos de produção a testar<br />

28 |


Ivan Franco, director de investigação da YDreams<br />

incluem «a impressão por inkjet e a deposição por métodos<br />

industriais através de spin-coating e/ou dip-coating». Este projecto<br />

será realizado em parceria com a Faculdade de Ciências e Tecnologia<br />

da Universidade Nova de <strong>Lisboa</strong>, tendo‐lhe sido atribuído<br />

um incentivo do FEDER no valor de 1.219.765,70 euros.<br />

O «Chameleon» tem como objectivos «o estudo e a implementação<br />

de uma plataforma reutilizável, que permita apoiar o desenvolvimento<br />

de aplicações interactivas inteligentes, de interacção<br />

entre pessoas e computadores em diferentes domínios de aplicação.<br />

Deverá ser de utilização geral e será implementada sobre<br />

a plataforma proprietária, YVision». O YVision é em si mesmo<br />

uma plataforma multimédia de integração de tecnologias: visão<br />

computacional, simulação de física, renderização 3D, áudio e outros<br />

dispositivos HCI. O ponto de partida é a análise de resultados de<br />

vários ramos científicos da Inteligência Artificial, nomeadamente<br />

nas áreas da Computação Afectiva, Agentes Inteligentes, Aprendizagem<br />

Automática, Data Mining e Psicologia Cognitiva, cruzando-<br />

‐os com as Interfaces Multimodais (múltiplos sistemas sensoriais).<br />

«O resultado será uma plataforma computacional (framework)<br />

de suporte ao desenvolvimento de aplicações interactivas, onde<br />

estão contemplados e integrados os resultados das análises efectuadas<br />

nas diferentes áreas». O incentivo para este projecto ronda<br />

os 572 mil euros.<br />

O projecto de «Instalações Interactivas» visa a inovação no tecido<br />

nacional através de novos processos de produção, de logística,<br />

de distribuição. A certificação é outro dos objectivos subjacentes,<br />

para que a YDreams se mantenha na lista das <strong>mais</strong> qualificadas<br />

empresas de tecnologias de ponta, reforçando a sua posição no<br />

mercado internacional. Recebeu um incentivo de 544.733 euros.<br />

Para Ivan Franco, director de investigação da YDreams, «estes fundos<br />

são muito importantes para as empresas como a nossa, que<br />

assim têm <strong>mais</strong> margem de manobra para experimentarem<br />

ideias loucas. Correr riscos é um factor necessário a uma empresa<br />

que quer ser competitiva, mas sem o dinheiro que recebemos<br />

do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN certamente não arriscaríamos». Satisfeito<br />

com o modo como tem decorrido todo o processo que envolve a<br />

distribuição dos incentivos, Ivan Franco chama a atenção para o<br />

risco de projectos desta tipologia serem adiados. «Já pedimos<br />

dois adiamentos, porque quando se está a trabalhar em inovação<br />

radical é complicado cumprir rigorosamente os prazos».<br />

De outros prazos queixa-se o presidente da Alfama, Nuno Arantes<br />

de Oliveira. O responsável por esta empresa de investigação e desenvolvimento<br />

de produtos farmacêuticos considera os incentivos do<br />

QREN muito importantes para a solidificação financeira de uma<br />

empresa pequena como a Alfama, mas lamenta a morosidade<br />

na entrega do dinheiro aos beneficiários. «Quer dizer, no nosso<br />

caso o processo sofreu um ligeiro atraso, noutros casos não sei.<br />

Se calhar tivemos azar». Azar ou não, a verdade é que o coordenador<br />

do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN, António <strong>Fonseca</strong> <strong>Ferreira</strong>, já havia<br />

lamentado, em Agosto passado, numa cerimónia de assinaturas<br />

de contratos (para a aplicação de 23 milhões de euros em escolas,<br />

qualificação ambiental e reabilitação de centros históricos de<br />

cidades da região), o «desfasamento entre a execução física da<br />

obra/projecto e a certificação financeira». António <strong>Fonseca</strong><br />

<strong>Ferreira</strong> manifestou‐se preocupado com a situação e afirmou que<br />

«para bem de todos os intervenientes, o processo entre o início da<br />

obra e o pagamento da mesma deveria ser encurtado». A razão é<br />

económica e simples: «A injecção de dinheiro na economia real é<br />

vantajosa para produzir <strong>mais</strong> obra e gerar <strong>mais</strong> emprego». E nesse<br />

| 29


Nuno Arantes de Oliveira, presidente da Alfama<br />

sentido, admitiu, «os fundos estão a ser insuficientemente aproveitados».<br />

Ou, como ironiza o presidente da empresa Alfama,<br />

podem acabar por se tornar um «presente envenenado». Nuno<br />

Arantes de Oliveira explica: «Estes incentivos são óptimos se forem<br />

um extra; mas se a empresa for pequena e precisar deles a tempo<br />

e horas para desenvolver os seus projectos, poderá ter problemas<br />

de tesouraria graves». Isto, não obstante um dos requisitos para<br />

uma empresa se candidatar ser, justamente, ter arcaboiço para<br />

se autofinanciar. «Sim, esse é um dos requisitos e felizmente<br />

.a Alfama tem como se aguentar, mas não significa que não haja<br />

sufoco. Estaríamos <strong>mais</strong> desafogados se não tivesse havido atrasos<br />

no adiantamento, por exemplo. E se não tivéssemos que reter<br />

num banco uma percentagem significativa do incentivo – outra<br />

condição imposta para recebermos a totalidade da verba». Para<br />

uma jovem empresa farmacêutica criada em 2002, «ter que disponibilizar<br />

70% do adiantamento como garantia bancária é muito<br />

penoso, porque na prática o adiantamento não é 50% do valor<br />

total do incentivo, em termos líquidos é significativamente<br />

menos» [as empresas podem pedir um adiantamento do incentivo<br />

aprovado e na generalidade dos casos esse adiantamento<br />

é de 50%]. Contas feitas, do milhão de euros adiantados (o valor<br />

do incentivo aprovado é de pouco <strong>mais</strong> de dois milhões de euros;<br />

o projecto custa quatro milhões), a Alfama «foi obrigada a reter<br />

num banco 700 mil euros, e aí ficará o dinheiro sem que o possamos<br />

movimentar, pelo menos até apresentarmos facturas num<br />

valor igual ou superior». Esta regra, se por um lado abona a favor<br />

da transparência e do combate à fraude, por outro penaliza as<br />

PME como esta, porque «primeiro têm de investir e só depois<br />

é que recebem os apoios». O cenário piora quando a actividade<br />

de uma empresa a torna <strong>mais</strong> susceptível a colapsos financeiros.<br />

Neste momento a Alfama está empenhada no projecto de I&DT<br />

com que se candidatou ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN, que visa o desenvolvimento<br />

de moléculas com a capacidade de libertar monóxido de<br />

carbono (CO) dentro do organismo, de uma forma controlada,<br />

alcançando os órgãos do corpo que estão doentes. Quando ouvimos<br />

falar em CO, o nosso pensamento imediato recai sobre os<br />

malefícios deste gás para a saúde e ambiente. Mas este gás tem<br />

muito que se lhe diga, pois, imagine-se, também tem benefícios<br />

se o soubermos aproveitar. É isso que a Alfama está a fazer, «a tirar<br />

partido do enorme potencial terapêutico que o CO tem vindo<br />

a revelar ao longo dos últimos anos». As moléculas chamam-se<br />

CORMs e foram, na sua maioria, na qualidade de agentes terapêuticos,<br />

«inventadas, patenteadas e produzidas pela própria<br />

empresa». Os estudos que esta farmacêutica está a desenvolver<br />

no âmbito do seu projecto irão consolidar e expandir o conhecimento<br />

sobre as CORMs, colocando um maior número destas moléculas<br />

em fases adiantadas de desenvolvimento pré-clínico e valorizando<br />

esta plataforma tecnológica. O potencial do monóxido<br />

de carbono é enorme, com repercussões a nível humano, social<br />

e económico, pois, como espera Nuno Arantes de Oliveira, «pode<br />

vir a ser usado para o tratamento de um conjunto de doenças que<br />

actualmente não têm cura, em especial doenças que tenham<br />

uma componente inflamatória ou apoptose (morte celular)».<br />

Centro de Estudos das dinâmicas Regionais de <strong>Lisboa</strong>, Oeste e Vale do Tejo<br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> tem desenvolvido o trabalho de monitorização estratégica da região através do projecto «Gestão Estratégica da R<strong>LVT</strong>». Mas com<br />

a elaboração, em 2007, de uma nova Estratégia Regional para o horizonte 2020, e com a execução do novo Programa Operacional Regional<br />

(2007-2013) no âmbito do QREN, tornou-se agora necessário repensar o trabalho realizado e analisar a informação sobre as principais dinâmicas<br />

que se processam no seu território. Foi então criado um Centro de Observação das Dinâmicas Regionais que articule e sistematize<br />

toda a informação e que crie uma plataforma de conhecimento capaz de monitorizar e analisar permanentemente as suas dinâmicas, contribuindo<br />

no apoio à decisão, nomeadamente as relativas aos investimentos públicos e comunitários. Numa primeira fase pretende-se criar<br />

uma estrutura tecnológica e humana para responder atempadamente às necessidades de informação quantitativa e qualitativa, actualizada<br />

e compreensível, sobre a região. Pretende-se também dispor de um sistema de indicadores estatísticos de realização, resultado, impacto<br />

e de contexto que permita identificar as tendências sociais, económicas e territoriais da Região de <strong>Lisboa</strong> (no fundo as suas dinâmicas),<br />

contribuindo para avaliar o contributo do instrumento financeiro – <strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong>/QREN – para a concretização das prioridades estratégicas conducentes<br />

ao desenvolvimento regional.<br />

30 |


PME a caminho da internacionalização<br />

As áreas de internacionalização e de qualificação de PME que<br />

querem crescer, através da prospecção de novos mercados, também<br />

têm tido uma «procura bastante razoável» nas candidaturas<br />

aos fundos dos <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN. A internacionalização é um<br />

objectivo estratégico para a região. Esse posicionamento tem por<br />

exemplo a Papo D’ Anjo, Confecções Têxteis Lda, fabricante de<br />

roupa de luxo para criança. Criada em 1995, produz artigos 100%<br />

nacionais, a começar pela mão-de-obra (ao seu serviço tem <strong>mais</strong><br />

de cem costureiras portuguesas, na área de <strong>Lisboa</strong> e do Norte do<br />

país), de um modo quase artesanal e só com tecidos de fibras<br />

naturais. À excepção da compra de tecidos, uma vez que alguns<br />

provêm de outros países europeus, todo o processo de fabrico,<br />

incluíndo a criação das colecções, é feito em Portugal. Presente no<br />

mercado nacional e espanhol, o vestuário da Papo D’ Anjo tem<br />

nos Estados Unidos a sua principal fonte de receitas, onde consegue<br />

o escoamento de 80% da sua produção. Com lojas em <strong>Lisboa</strong>,<br />

Porto e Madrid, a empresa ambiciona outros destinos. A<br />

internacionalização foi sempre o objectivo desta empresa, o que a<br />

levou a candidatar-se ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> com dois projectos. Um dos<br />

projectos, se as previsões de Frederico De Beck, director-geral da<br />

empresa, estiverem certas, «estará concluído ainda antes do final<br />

deste ano». Com ele a empresa pretende reforçar a presença nos<br />

EUA, entrar no Reino Unido e nos grandes armazéns de retalho, e<br />

conquistar os clientes brasileiros e ingleses. «Parte deste objectivo<br />

já o alcançámos, os nossos produtos já estão no Reino Unido.<br />

Quanto aos Estados Unidos, existe uma potencialidade ainda não<br />

totalmente explorada». A empresa pretende chegar aonde não<br />

chegou, não através de lojas mas sim de catálogos e da internet<br />

(aperfeiçoamento do site). Este projecto teve um incentivo de um<br />

milhão de euros.<br />

O segundo projecto, além da impressão e envio de catálogos para<br />

mercados internacionais, consiste na criação de um novo logotipo<br />

e de uma nova imagem de marca associada à cidade de <strong>Lisboa</strong><br />

– «Papo d’ Anjo Lisbon». Este projecto recebeu um incentivo de<br />

918.323,58 euros, para um investimento total de dois milhões<br />

de euros. Para Frederico De Beck, apoios como este às pequenas<br />

e médias empresas são muito importantes para as PME se expandirem<br />

nos mercados internacionais e serem competitivas. «Não<br />

iremos condicionar a nossa iniciativa às ajudas do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/<br />

QREN, mas se surgirem no futuro outros programas comunitários<br />

adequados à nossa linha de desenvolvimento, é claro que iremos<br />

candidatar-nos. Vale muito a pena».<br />

Bastante satisfeito com o sistema de incentivos às empresas<br />

do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong> está também Pedro Silva, responsável pela Secção<br />

de Tecnologias de Navegação por Satélite da Deimos. Com apenas<br />

sete anos de actividade, a Deimos especializou-se em estudos de<br />

engenharia e desenvolvimento de software para o sector aeroespacial<br />

e hoje é reconhecida a nível europeu nas seguintes áreas:<br />

Análise de Missão para missões planetárias e interplanetárias,<br />

incluindo missões de exploração, científicas e de demonstração<br />

de tecnologia em voo; suporte a estudos de sistema para missões<br />

científicas e de Observação da Terra; análise, desenho e controlo<br />

para missões mono e multi-satélite (voo em formação, constelações<br />

e rendezvous); Sistemas e técnicas avançadas de guiado,<br />

navegação e controlo para sondas espaciais planetárias e interplanetárias;<br />

análise de mecânica de voo para cenários de entrada<br />

atmosférica; sistemas de navegação por satélite, processamento<br />

Objectivos dos projectos<br />

candidatos ao <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong><br />

Projectos de eixo 1 – Competividade, inovação<br />

e conhecimento<br />

• Qualificar o sistema científico e tecnológico e potenciar<br />

o acesso de instituições e empresas a recursos/programas<br />

internacionais de I&D<br />

• Apoiar a instalação de start-ups de base tecnológica<br />

e indústrias criativas e o desenvolvimento de PME’s em<br />

sectores estratégicos para a competitividade regional,<br />

tendo em consideração o empreendedorismo feminino<br />

• Promover o processo de projecção competitiva da Região<br />

à escala internacional<br />

• Promover a atractividade turística da Região<br />

• Reforçar a Governance regional.<br />

Projectos de eixo 2 – Sustentabilidade territorial<br />

• Melhorar a sustentabilidade e as condições de mobilidade<br />

urbana e metropolitana de forma a garantir ganhos<br />

na produtividade total dos factores<br />

• Promover a eficiência e a sustentabilidade ambientais<br />

Projectos de eixo 3 – Coesão social<br />

• Promover parcerias para a regeneração urbana<br />

• Apoiar a criação e o desenvolvimento de serviços de proximidade<br />

dirigidos à população com necessidades especiais<br />

de apoio e promover a qualidade de vida e o bem-<br />

‐estar urbano potenciadores da conciliação entre a vida<br />

profissional, a vida pessoal e a vida familiar<br />

Projectos de eixo 4 – Assistência técnica<br />

• Implementar, dinamizar, gerir, monitorizar e avaliar de<br />

forma eficaz e eficiente o Programa Operacional e promover<br />

o desenvolvimento de estudos, acções e instrumentos<br />

visando um melhor conhecimento e gestão estratégica<br />

da Região.<br />

de dados GNSS e tecnologias de receptores; desenvolvimento de<br />

ferramentas de simulação específicas para engenharia e análise<br />

de missão; modelação detalhada da dinâmica de veículos espaciais<br />

(ambiente espacial, dinâmica e cinemática, fuel-sloshing,<br />

modos de vibração, etc.) e simulação precisa de sistemas embarcados<br />

(sensores e actuadores).<br />

Aos fundos do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>/QREN a Deimos candidatou-se com<br />

dois projectos de I&DT em sistemas de navegação por satélite:<br />

o «Inpos» e o «UltraNav». Com o primeiro, também designado<br />

«Posicionamento em Interiores Usando Técnicas de GNSS Auxiliadas»,<br />

a empresa propôs-se investigar e implementar em software<br />

algorítmos que permitam auxiliar um receptor de alta sensibilidade,<br />

combinando o GPS e o Galileo com sensores inerciais e sistemas<br />

de comunicação sem fios capazes de localizar pessoas e bens<br />

em ambientes interiores e urbanos. Este sistema, que se espera<br />

estar operacional em 2013, recebeu um incentivo de 245 mil euros.<br />

Com o «UltraNav», ou «Desenvolvimento de Tecnologia de Acoplamento<br />

Ultra-Justo para Navegação por Satélite», a Deimos pretende<br />

| 31


Frederico De Beck, director-geral da Papo d’ Anjo<br />

investigar e testar uma técnica avançada de integração de um<br />

receptor GNSS com sensores inerciais – o Acoplamento Ultra-<br />

Justo (AUJ) – que poderá elevar a precisão e exactidão do sistema<br />

híbrido a níveis francamente superiores aos possíveis com a operação<br />

independente de qualquer um deles (aumentando, ao<br />

mesmo tempo, a disponibilidade e fiabilidade da solução encontrada)<br />

e/ou reduzir drasticamente o seu custo. Será implementada<br />

uma plataforma de validação da tecnologia AUJ que servirá de base<br />

para a quantificação do desempenho e requisitos da técnica.<br />

Este projecto custa 242.505 e recebeu um incentivo de 169.753<br />

euros. Um valor sempre bem vindo numa empresa que está<br />

na vanguarda das tecnologias de ponta. «Correu tudo muito bem,<br />

de uma forma bastante suave, sem sobressaltos ou atrasos.<br />

Os incentivos são, sem dúvida, uma <strong>mais</strong>-valia». Esta é uma fase<br />

de implementação de ambos os projectos. 2010 é o ano em que<br />

estarão concluídos.<br />

Observatório do QREN<br />

O QREN, Quadro de Referência Estratégico Nacional, constitui<br />

o enquadramento para a aplicação, em Portugal, dos fundos<br />

da política de coesão da União Europeia para o período 2007-2013,<br />

assumindo para este efeito, cinco grandes prioridades estratégicas<br />

nacionais: qualificação dos cidadãos, dinamização do<br />

.crescimento sustentado, promoção da coesão social, qualificação<br />

dos territórios e das cidades e aumento da eficiência e qualidade<br />

dos serviços públicos. Para assegurar a aplicação eficaz e eficiente<br />

dos fundos foi criado um instrumento – o Observatório do QREN,<br />

que além de desenvolver um conjunto de actividades de coordenação<br />

e acompanhamento do modo como estão a prosseguir<br />

as prioridades estratégicas, tem também como funções analisar<br />

as questões económicas, sociais e territoriais associadas ao contexto<br />

de aplicação do dinheiro, elaborar a estratégia global<br />

.de comunicação do QREN e dos PO (Programas Operacionais),<br />

prestar apoio técnico e administrativo ao funcionamento<br />

.da Comissão de Avaliação das Estratégias de Eficiência Colectiva<br />

(previstas no QREN), contribuir para a elaboração dos relatórios<br />

anuais de monitorização do QREN, entre outras. Integrando não<br />

<strong>mais</strong> de 30 pessoas, desenvolve a sua acção em parceria com<br />

as autoridades dos PO, as autoridades de coordenação nacional<br />

e certificação dos fundos comunitários envolvidos – tais como<br />

o Instituto Financeiro para o Desenvolvimento Regional (IFDR),<br />

no que respeita ao FEDER e ao Fundo de Coesão, e o Instituto de<br />

Gestão do Fundo Social Europeu (IGFSE), no que respeita Fundo<br />

Social Europeu –, a Inspecção Geral de Finanças, os Gabinetes<br />

de Planeamento, Estudos e Relações Internacionais dos diversos<br />

ministérios, e os serviços competentes da Comissão Europeia.<br />

O site www.observatorio.pt tem informação detalhada sobre<br />

o Observatório, os números da implementação do QREN e dos<br />

respectivos programas operacionais (quer em termos financeiros<br />

quer de realizações e resultados), os indicadores de contexto<br />

socio-económicos nacionais e internacionais, a avaliação da utilização<br />

dos fundos comunitários em Portugal, a política de coesão<br />

da União Europeia (passado, presente e futuro) e muito <strong>mais</strong> em<br />

documentos de referência.<br />

32 |


Pedro Silva, responsável pela Secção de Tecnologias de Navegação por Satélite da Deimos<br />

No final de Agosto tinham sido aprovadas 344 candidaturas aos<br />

fundos comunitários destinados à área gerofráfica dos 18 municípios<br />

que integram a Área Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>, no âmbito do<br />

Programa Operacional Regional de <strong>Lisboa</strong> e estavam em avaliação<br />

projectos que somavam aproximadamente 53 milhões de euros<br />

FEDER. A este ritmo, a meio do período de programação não haverá<br />

<strong>mais</strong> incentivos para atribuir, pois <strong>mais</strong> de metade já estão<br />

aplicados. A bem da região. A bem das empresas. A bem da competitividade<br />

e do emprego.<br />

A informação sobre os procedimentos de candidaturas e o acesso<br />

a formulários estão disponíveis no site www.porlisboa.qren.pt/si.<br />

As candidaturas aos Sistemas de Incentivos do QREN são apresentadas<br />

em www.incentivos.qren.pt. Os concursos abrem ao<br />

longo do ano, de acordo com a calendarização estabelecida. ■<br />

No final de Agosto tinham sido aprovadas<br />

344 candidaturas aos fundos destinados à Área<br />

Metropolitana de <strong>Lisboa</strong>, num montante de 175 milhões<br />

de incentivo FEDER e estavam em avaliação projectos que<br />

somavam aproximadamente 53 milhões de incentivo<br />

FEDER. A este ritmo, a meio do período de programação<br />

não haverá <strong>mais</strong> incentivos para atribuir.<br />

| 33


34 |<br />

Arquivo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira


Política de Cidades<br />

Parcerias para a<br />

Regeneração Urbana<br />

Reportagem | Luís de Carvalho<br />

No âmbito do QREN 2007-2013,<br />

o Instrumento de Politica Parcerias<br />

para a Regeneração Urbana (PRU),<br />

inscrito nos Eixos 2 – Sustentabilidade<br />

Territorial e 3 – Coesão<br />

Social do Programa Operacional<br />

Regional de <strong>Lisboa</strong>, tem permitido<br />

ao poder autárquico promover um<br />

conjunto de intervenções que visam,<br />

sobretudo, desenvolver e concretizar<br />

prioridades estratégicas em três<br />

áreas contempladas – centros<br />

históricos, bairros críticos e frentes<br />

ribeirinhas e marítimas. Até à data,<br />

foram já aprovados 19 Programas<br />

de Acção, o que corresponde<br />

a um montante FEDER<br />

de 54 milhões de euros.<br />

As PRU têm por objectivo promover a requalificação<br />

do espaço urbano a partir de uma abordagem<br />

multidisciplinar e intersectorial que promova<br />

a inclusão social, reforçando a participação dos<br />

cidadãos, estimule e revitalize os espaços urbanos<br />

degradados, contemplando a sua vertente sócio-económica<br />

e cultural,sem esquecer a promoção de factores de igualdade<br />

entre homens e mulheres, numa perspectiva e prática inovadoras<br />

do desenvolvimento urbano. As Parcerias envolvem planos de acção<br />

concertados por diversas entidades , respeitando as orientações<br />

traçadas no Programa Nacional da Politica do Ordenamento do<br />

Território e nos PROT.<br />

As Parcerias definem as prioridades, exigem visão estratégica,<br />

programação das intervenções e sua consequente monitorização,<br />

plasmando assim um processo integrado de intervenção responsável<br />

e partilhado.<br />

Foram já aprovados os Programas de Acção para revitalização dos<br />

centros históricos de Setúbal, Palmela, Almada, Mafra, <strong>Lisboa</strong><br />

e Odivelas, enquanto os municípios de Vila Franca de Xira, Seixal,<br />

Sesimbra ou Moita, por exemplo, apostaram na valorização paisagística,<br />

turística e cultural das suas frentes ribeirinhas ou marítimas.<br />

Odivelas, Moita, <strong>Lisboa</strong>, Amadora, Almada, Barreiro e Setúbal<br />

viram aprovados os seus Programas de Acção para os bairros<br />

críticos. Os Programas de Acção são coordenados pelo Município<br />

em articulação com os diversos parceiros locais – empresas, associações<br />

empresariais, serviços da administração central, instituições<br />

de ensino, moradores e suas associações, etc. –, tendo sempre<br />

presente a inserção equilibrada da área em causa no restante<br />

conjunto da cidade.<br />

A selecção dos Programas de Acção é feita por uma equipa de<br />

peritos externos, após uma exaustiva avaliação do mérito das<br />

candidaturas. As avaliações são complementadas por visitas às<br />

áreas de intervenção e com a participação de técnicos responsáveis<br />

dos municípios candidatos. Os peritos guiam-se por uma<br />

rigorosa matriz de critérios previamente aprovados pela Comissão<br />

de Acompanhamento e pela Comissão Directiva do <strong>POR</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

Desta nova metodologia de selecção, nas palavras de José Miguel<br />

Noras, «importa sublinhar, tanto a correcta formulação dos critérios,<br />

como o escrupuloso e coerente uso que deles foi feito.»<br />

E, a continuação do seu depoimento à <strong>LVT</strong> (ver caixa), «muito bem<br />

andou a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> ao proporcionar visitas aos diferentes territórios<br />

submetidos a apreciação.»<br />

| 35


ca, produções fotográficas<br />

Centros históricos<br />

RESET – Setúbal<br />

tando necessariamente na evolução dos padrões da governação<br />

urbana com a adopção de novas lógicas e formatos de intervenção.<br />

Um dos eixos de intervenção previsto no PRU é o que dá atenção<br />

à recuperação dos centros históricos. Entre os municípios que<br />

viram aprovadas as suas candidaturas encontra-se Setúbal, com<br />

um vasto e ambicioso Programa de Acção para a revitalização do<br />

centro histórico, com um montante elegível de 9 milhões, 729 mil<br />

e 800 euros para o RESET.<br />

Da carteira de projectos no âmbito do RESET consta a ampliação<br />

e modernização do Fórum Municipal Luísa Todi, a renovação da<br />

Praça Miguel Bombarda, a instalação do Ninho de Novas Iniciativas<br />

Empresariais, a instalação da Casa da Cultura, a recuperação do<br />

Convento de Jesus, entre outras iniciativas marcantes neste programa<br />

integrado de regeneração urbana.<br />

O RESET integra diferentes perspectivas sectoriais e institucionais,<br />

numa óptica de médio prazo e constitui-se um instrumento<br />

.fundamental para fazer frente e inverter o definhamento sócio-<br />

‐demo.gráfico, económico e urbanístico que o centro histórico tem<br />

vindo a sofrer nos últimos anos.<br />

O Programa , que assenta numa estratégia mobilizadora dos diferentes<br />

intervenientes, quer devolver ao centro histórico uma centralidade<br />

com múltiplas capacidades e usos, na valorização do<br />

seu património material e simbólico – apostando firmemente na<br />

preservação e qualificação dos activos patrimoniais, na renovação<br />

dos factores de atractividade junto da população (residentes, consumidores,<br />

turistas, visitantes, etc.), estimulando o investimento<br />

da iniciativa privada nesta área, consubstanciando uma visão de<br />

futuro mobilizadora e regeneradora da vivência da cidade, apos-<br />

Uma das <strong>mais</strong> importantes é, sem dúvida, a intervenção no Convento<br />

de Jesus, cujo promotor é o IGESPAR, com um total de investimento<br />

de 3 610 000,00 de euros, uma das principais referências<br />

patrimoniais da cidade de Setúbal, Monumento Nacional desde<br />

1910. Este Convento, fundado em 1490, acolhe actualmente o Museu<br />

de Setúbal, mas o estado de degradação em que se encontra obriga<br />

a uma vasta e complexa intervenção que se reparte pelos dois pisos.<br />

As diversas colecções artísticas, arqueológicas, históricas e documentais<br />

passarão a conhecer melhores condições expositivas,<br />

capacitando o Museu com as melhores condições para o cumprimento<br />

da sua missão.<br />

Serão conduzidas operações de restauro da azulejaria, talha dourada,<br />

marcenaria, tectos, abóbadas e portas artísticas na zona do<br />

Coro Alto e Ante Coro, por exemplo, e serão instalados postos<br />

36 |


informatizados de consulta sobre a Biblioteca e os Arquivos, sobre<br />

a colecção do Museu e sobre a história da cidade e do Convento,<br />

no piso superior.<br />

Parte do piso térreo e do superior até à Sala do Capítulo e à Antiga<br />

Sacristia Conventual será ocupado com a apresentação do Retábulo<br />

da Capela-Mor da Igreja de Jesus em reconstituição conjectural;<br />

na Ala Norte do piso superior, por exemplo, prevê-se a instalação<br />

do núcleo expositivo Arte e Mentalidade, onde serão mostradas<br />

as colecções de pintura, escultura, ouriversaria sacra e artes decorativas<br />

dos séculos XVII ao XIX.<br />

Um outro projecto de recuperação a assinalar será o da Praça<br />

Miguel Bombarda, contígua ao Convento de Jesus, e que tem<br />

como objectivo a valorização do Convento com a renovação do<br />

mobiliário urbano, da iluminação, da arborização e substituição<br />

dos pavimentos, tornando aquele espaço numa praça aprazível<br />

e redimensionada em articulação com a envolvente.<br />

Todo este Programa de Acção, que tem como objectivo a superação<br />

das patologias existentes, irá restituir ao Centro Histórico<br />

a sua dimensão e estatuto de zona nobre.<br />

| 37


(…) importa sublinhar,<br />

tanto a correcta formulação<br />

dos critérios, como<br />

o escrupuloso e coerente<br />

uso que deles foi feito.<br />

Para «complementar»<br />

os referidos critérios,<br />

muito bem andou a <strong>CCDR</strong>-<br />

<strong>LVT</strong> ao proporcionar visitas<br />

aos diferentes territórios<br />

submetidos a apreciação.<br />

José Miguel Noras, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico<br />

e perito externo na avaliação de candidaturas<br />

Adoptou-se uma nova metodologia para a avaliação do mérito<br />

das candidaturas. Quais as vantagens deste novo processo?<br />

Quais os critérios relevantes?<br />

Os critérios são, todos eles, como os guarda-chuvas. Verdadeiramente,<br />

só se definem bem consoante o uso que deles fazemos.<br />

Todavia, neste caso concreto, importa sublinhar, tanto a correcta<br />

formulação dos critérios, como o escrupuloso e coerente uso que<br />

deles foi feito. Para «complementar» os referidos critérios, muito<br />

bem andou a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> ao proporcionar visitas aos diferentes<br />

.territórios submetidos a apreciação.<br />

De futuro, seria prudente solicitar-se (a cada município candidato<br />

a qualquer programa) uma detalhada informação quanto às possibilidades<br />

orçamentais de concretização dos projectos apresentados.<br />

Tudo isto para evitar possíveis arrependimentos futuros<br />

e impedir que, no final, o balanço se traduza na existência de verbas<br />

por utilizar, devido à incapacidade financeira desta ou daquela<br />

autarquia.<br />

Há, muitas vezes, uma tendência desmesurada para criar realidades<br />

artificiais a partir do nada, de inovar esquecendo o que e quem<br />

já existe, de optar pela utopia das miragens em detrimento da<br />

«poética das raízes». Só a título de exemplo: em <strong>Lisboa</strong>, a casa<br />

onde viveu Almeida Garrett foi demolida. Nenhuma pedra da calçada<br />

se levantou. É o delirante triunfo do «novo» em relação ao<br />

«antigo», sem se saber conciliar o «antigo» relativamente ao<br />

«novo».<br />

Quais os parceiros locais intervenientes nas acções previstas?<br />

Os parceiros dos projectos consistiram, com poucas mas importantes<br />

excepções, nas associações empresariais de cada município.<br />

Os moradores ficaram, quase sempre, de fora. Curiosa e antiteticamente,<br />

o melhor processo de requalificação deve ter a vida<br />

e as pessoas como componentes primaciais da sua concepção<br />

e do seu desenvolvimento.<br />

38 |


Arquivo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira<br />

Frentes ribeirinhas<br />

Vila Franca de Xira<br />

prevendo diversas oficinas, assim como a participação activa das<br />

comunidades de moradores.<br />

O Programa de Acção para a Requalificação Ribeirinha da Cidade<br />

de Vila Franca de Xira está enquadrado numa vasta intervenção<br />

que abrange toda a frente ribeirinha direita deste município<br />

à beira Tejo. A candidatura aprovada em Agosto de 2008 abrange<br />

um território fortemente marcado pelas actividades tradicionais<br />

ligadas à agricultura e ao rio.<br />

Assumindo a água como “factor de competitividade e diferenciação”,<br />

este programa de acção procura “desenvolver a relação perdida<br />

entre o homem e o rio”, respeitando os desígnios da sustentabilidade<br />

ambiental e da descarbonização das actividades económicas.<br />

O programa divide-se em cinco áreas: Qualificação do Espaço<br />

Público e do Ambiente Urbano; Desenvolvimento Económico;<br />

Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Cultural e Animação<br />

da Parceria/Dinamização.<br />

A criação de uma praça pública em lugar da antiga Fábrica de Descasque<br />

de Arroz será um dos projectos <strong>mais</strong> emblemáticos, assim<br />

como a requalificação do Cais de Vila Franca de Xira, a Requalificação<br />

Ambiental do Esteiro do Nogueira, a criação de um Centro<br />

de Artes do Rio ou de uma “Jangada Cultural”, entre outros. A preocupação<br />

em preservar as tradições, mantendo-as activas no presente,<br />

reflecte-se na remodelação do Barco Varino “Liberdade” (construído<br />

em 1945), outros dos projectos integrados no programa.<br />

Na vertente social, o programa abrange operações como a requalificação<br />

do bairro dos Avieiros e não esquece a vertente da formação,<br />

A área da antiga Fábrica de Descasque de Arroz, actualmente em<br />

avançado estado de degradação e mesmo obstáculo físico à relação<br />

da cidade com o rio, dará lugar a uma vasta praça pública, que<br />

fará a ligação com o rio e permitirá ainda o prolongamento da<br />

ciclovia que se inicia em Alhandra. Quanto ao Cais de Vila Franca<br />

de Xira, fundamental na história do município de Vila Franca, está<br />

prevista a requalificação e melhoria das condições de recreio e lazer<br />

de toda a área.<br />

A par das intervenções físicas e de cariz social, o programa prevê<br />

todo um conjunto de actividades culturais e de animação, que<br />

incluirá teatro de rua, passeios no rio, feiras do livro e concertos,<br />

assim como festas populares. A grande novidade na área da cultura<br />

será a criação de uma “Jangada Cultural”, um equipamento<br />

recuperado a partir de um antigo batelão, que terá diversas zonas<br />

de acostagem ao longo da frente ribeirinha e funcionará como<br />

um palco móvel, onde será possível apresentar espectáculos<br />

diversos. Associada às viagens da jangada haverá programação<br />

cultural para os períodos do Inverno e do Verão. O objectivo é chegar<br />

ao máximo número de pessoas no concelho.<br />

O investimento total elegível deste projecto é de 10 milhões<br />

de euros, sendo comparticipado pelo FEDER em 3,5 milhões de euros<br />

e envolve parceiros como a REFER, a SMAS de Vila Franca e a<br />

OBRIVERCA, SA.<br />

| 39


Bairros críticos<br />

Amadora – Zambujal Melhora<br />

O Programa de Acção para o bairro do Zambujal, na freguesia<br />

da Buraca, Amadora, envolve uma vasta operação que inclui<br />

23 componentes, num total de 34 acções, com grande incidência<br />

em três eixos fundamentais – habitação, ambiente e espaço<br />

público e desenvolvimento social e económico.<br />

Na área da habitação, está prevista a recuperação e melhoramentos<br />

dos edificados em cerca de 1100 habitações, 1000 das quais<br />

geridas pelo IHRU e os restantes com responsabilidade da CMA.<br />

Neste eixo estão também previstas acções de intervenção na recuperação<br />

de espaços verdes, ligações pedonais e viárias, arruamentos<br />

e mobiliário urbano.<br />

A limpeza das margens da Ribeira de Algés, a criação de uma horta<br />

comunitária, a reconversão de dois campos polidesportivos são<br />

outras das acções previstas para a recuperação e qualificação<br />

do ambiente urbano desta comunidade, promovendo padrões<br />

de habitabilidade, comodidade e urbanidade que, em profunda<br />

articulação com o terceiro eixo de intervenção – desenvolvimento<br />

social e económico –, promove a integração dos cidadãos na<br />

cadeia económica e profissional. Este programa, integrado no<br />

programa municipal de empreendedorismo social AMADORA<br />

EMPREENDE, tem como objectivo a identificação de ideias de<br />

negócio viáveis, facilitando não só a sua concretização através<br />

da criação de empresas, cooperativas ou projectos de carácter<br />

produtivo no âmbito associativo, como a promoção da capacidade<br />

concretizadora da camada <strong>mais</strong> jovem de recém licenciados<br />

e finalistas do ensino profissional. Também estão pensadas acções<br />

de empreendedorismo para os beneficiários de apoios sociais<br />

e para residentes em bolsas de pobreza.<br />

Todas estas acções promovem 3 princípios orientadores: igualdade<br />

de género, igualdade de oportunidades e sutentabilidade.<br />

O programa privilegia um «modelo de cooperação estratégica<br />

público-privado capaz de tirar partido dos investimentos e politicas<br />

públicas, do saber universitário, do saber fazer e competitividade<br />

do sector empresarial e da experiência e sentido de missão do<br />

sector das solidadriedades, unidos pela cooperação de indivíduos<br />

empreendedores, gerando sinergias e capitalizando os seus efeitos»,<br />

assim vem no documento oficial de apresentação de Amadora<br />

Empreende.<br />

A complexidade das operações, componentes e acções, assim como<br />

a estratégia de implementação de parcerias e monitorização dos<br />

programas suscitou o interesse da <strong>LVT</strong> em escutar um dos responsáveis<br />

municipais, Jorge Miranda, que explicita na entrevista que<br />

aqui publicamos os passos fundamentais do Programa de Acção<br />

para o Bairro do Zambujal.<br />

40 |


O resultado final que se<br />

pretende, a visão que<br />

estamos a construir<br />

com os residentes e que<br />

queremos alcançar, é a<br />

correcção destas disfunções.<br />

Queremos FAZER CIDADE ali!<br />

Jorge Miranda, Coordenador do Projecto Zambujal Melhora<br />

O Programa de Acção envolve parcerias com actores locais<br />

relevantes para a sua realização.Que parceiros constituem<br />

a Parceria Local? E qual o grau de envolvimento das populações?<br />

Na componente de desenvolvimento social e económico, em que<br />

as intervenções preconizadas são essencialmente imateriais<br />

e portanto não financiáveis na sua maioria pelo PRU, o Programa<br />

«Zambujal Melhora!» é implementado através de uma parceria<br />

de desenvolvimento integradora das organizações locais ou com<br />

destacada actividade no bairro e consequente envolvimento<br />

comunitário, cujo quadro de desenvolvimento se encontra definido<br />

no Plano de Acção, prevendo-se que serão objecto de candidaturas<br />

ao FSE e definição específica em função das respectivas<br />

oportunidades e regras de financiamento.<br />

A parceria está organizada a três níveis:<br />

1. Unidade de Direcção com representantes da CMA e IHRU, competindo-lhe<br />

a coordenação global do programa;<br />

2. Estrutura de Apoio Técnico, composta por técnicos da CMA e IHRU;<br />

3. Comissão de Parceiros, constituída por um representante de cada<br />

uma das seguintes instituições:<br />

ISS.IP, Junta de Freguesia da Buraca, EIPDA – Escola Intercultural das<br />

Profissões e do Desporto, Santa Casa da Misericórdia da Amadora,<br />

Fundação AFID Diferença, CESIS, COOPERACTVA, Associação de Moradores<br />

a Partilha, Pastoral dos Ciganos, ACARPS, Recomeço e UPAJE<br />

4. Conselho de Parceiros que apoia a reflexão sobre a monitorização<br />

e avaliação do programa, contribuindo para a sua correcção<br />

prevendo-se que o mesmo venha a reunir-se pelo menos duas<br />

vezes por ano. O Conselho de Parceiros é composto por todas as<br />

entidades anteriores, acrescidas das seguintes a convidar no primeiro<br />

ano de implantação do projecto no terreno:<br />

SEF, Conselho Local de Acção Social, Comissão Social da Freguesia<br />

da Buraca, Conselho Local de Educação, Comissão para a Igualdade<br />

no Trabalho e no Emprego, CIG, Comissão para a Igualdade<br />

e contra a Discriminação Racial, Plataforma Nacional sobre Políticas<br />

de Acolhimento e Integração de Imigrantes, Fundação<br />

.Gulbenkian.<br />

Que ordem de dificuldades têm encontrado na implementação<br />

do Programa de Acção?<br />

A complexidade da intervenção, imposta pelo grau de integração<br />

institucional e das acções previstas, constitui uma dificuldade<br />

natural e a construção de uma visão comum entre os poderes<br />

públicos, as instituições parceiras e os residentes é o maior desafio<br />

do projecto. É neste momento o seu maior investimento, agora<br />

que foi realizado pelo IHRU e pela CMA (proprietários dos fogos)<br />

um diagnóstico exaustivo da situação socio-económica dos residentes.<br />

Do mesmo modo, também é alta a fasquia do objectivo<br />

de proceder à concepção do espaço público com recurso a metodologias<br />

participativas, além de contribuir para a apropriação<br />

do espaço público urbano e melhor conservação do mesmo, contribui<br />

de forma importante para a coesão social e para o reforço<br />

da segurança no bairro, corrigindo disfunções por via da resolução<br />

«cirúrgica» de pontos críticos de segurança ou segregação espacial<br />

(cultural, étnica).<br />

A gestão do processo participativo de forma a informar mas sobretudo<br />

a «ouvir direccionadamente» e integrar as resultantes nos<br />

projectos técnicos de concepção do espaço público, é neste<br />

momento a maior aposta do projecto e obriga a grande dispêndio<br />

de energia para decorrer em tempo útil e com resultados produtivos.<br />

| 41


Agora estamos a proceder<br />

a sessões de esclarecimento<br />

sistemáticas com todos os<br />

residentes, num total de <strong>mais</strong><br />

de 1000 fogos. Estas sessões,<br />

além de informativas,<br />

dada a expectativa dos<br />

residentes, são ainda<br />

de trabalho sobre problemas<br />

e soluções para o bairro (…)<br />

Num primeiro momento, de «ouvir as organizações» foram realizadas<br />

reuniões de parceria e sectoriais para a concepção e implementação<br />

do plano de acção.<br />

Num segundo momento, realização do workshop «Zambujal<br />

Melhora – Dos problemas às soluções» com estas organizações<br />

e com cerca de 60 residentes convidados e seleccionados em conjunto.<br />

Foi importantíssimo para a finalização do Plano de Acção<br />

e ajustamento do diagnóstico e, sobretudo, construção partilhada<br />

de uma visão.<br />

Agora estamos a proceder a sessões de esclarecimento sistemáticas<br />

com todos os residentes (1 participantes por fogo em média),<br />

num total de <strong>mais</strong> de 1000 fogos. Estas sessões, além de informativas,<br />

naturalmente dada a expectativa dos residentes, são ainda<br />

de trabalho sobre problemas e soluções para o bairro, identificação<br />

de pontos críticos e potenciais, recolha de ideias e sugestões<br />

de acção e, naturalmente informação específica sobre o prédio<br />

em que cada um habita. Identificam-se ainda situações de carácter<br />

social e saúde iniciando-se, in-loco, o respectivo encaminhamento.<br />

Estas reuniões decorrerão, até final de 2009 e nelas participam,<br />

além dos residentes, dirigentes e técnicos da Câmara Municipal<br />

da Amadora e do IHRU, das diversas áreas envolvidas nas diferentes<br />

operações do projecto, desde o social às equipas projectistas<br />

de arquitectura e engenharia. Participam ainda a Junta de Freguesia<br />

da Buraca e a Associação de Moradores «A partilha».<br />

Quais os resultados esperados tendo em conta a tipologia<br />

dos projectos aprovados do Programa de Acção ?<br />

O bairro tem estado fechado sobre si próprio, na periferia dos centros<br />

urbanos e de decisão, longe de todos os poderes públicos. Em consequência<br />

disso, aprendeu a viver sozinho e, ao longo de décadas,<br />

foi estabelecendo equilíbrios entre os residentes e com o exterior,<br />

acomodando pessoas de diferentes culturas e raízes étnicas e favorecendo<br />

algum grau de segregação espacial, agravada pelo facto<br />

de se tratar de uma zona quase exclusivamente residencial a que<br />

faltam as funções para fazer as pessoas interagir. O espaço público<br />

degradou-se e o privado também, sendo frequentes as ocupações<br />

e transacções infor<strong>mais</strong> de chaves. Socialmente, além da família<br />

e de bolsas de relação e vizinhança, é difuso o sentido de comunidade<br />

e, praticamente ausente a sua vivência.<br />

O resultado final que se pretende, a visão que estamos a construir<br />

com os residentes e que queremos alcançar, é a correcção destas<br />

disfunções. Queremos FAZER CIDADE ali! Construir laços sociais<br />

ancorados no território urbano, entre as pessoas e entre estas<br />

o espaço onde vivem. Aumentar a intensidade da identificação<br />

com os outros e com o território. Tornar habitável e vivido por<br />

todos o espaço público e melhorar as casas dos residentes é um<br />

bom cumprimento do plano de acção, fazer cidade será verdadeiramente<br />

o resultado do projecto!<br />

42 |


Guto <strong>Ferreira</strong><br />

Eco-Bairros<br />

Decorreu até ao passado dia 31 de Agosto, no âmbito<br />

das Parcerias para a Regeneração Urbana, um concurso<br />

para projectos de Eco-Bairros, com um financiamento<br />

de 12 milhões de euros de Feder. Os projectos a gozar deste<br />

apoio terão de cumprir objectivos de eficiência energética,<br />

com base nos princípios do desenvolvimento sustentável,<br />

e devem adoptar boas práticas que permitam rentabilizar<br />

a gestão e utilização dos diversos recursos, nomeadamente<br />

energia, água, resíduos, transportes, mobilidade e espaço<br />

público, tendo em vista a melhoria do desempenho ambiental<br />

do bairro.<br />

A transversalidade do programa de acção revê-se na tipologia<br />

de acções que devem contemplar, nomeadamente: a qualificação<br />

do espaço público e do ambiente urbano; o desenvolvimento<br />

económico, através da dinamização das actividades económicas<br />

associadas às tecnologias ambientais e desenvolvimento de<br />

novas oportunidades de qualificação; desenvolvimento social,<br />

com a promoção de comportamentos adequados, a qualificação<br />

e modernização dos serviços de interesse colectivo, entre outros;<br />

e o desenvolvimento cultural, entre outros objectivos.<br />

O concurso esteve aberto às autarquias locais em parcerias com<br />

associações locais, serviços da administração central, empresas<br />

públicas, instituições de ensino e formação profissional, centros<br />

de I&D, Ong e fundações e associações sem fins lucrativos.<br />

| 43


Luísa <strong>Ferreira</strong><br />

João Ferrão<br />

Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades<br />

A visão estratégica que foi desenhada para a Política de Cidades<br />

tem produzido alterações significativas no planeamento<br />

prospectivo do território? Quais?<br />

Em Agosto de 2009, isto é, cerca de dois anos após o lançamento<br />

dos vários instrumentos da Política de Cidades POLIS XXI, constatamos<br />

um forte envolvimento dos municípios na preparação de<br />

operações integradas de desenvolvimento urbano. No conjunto<br />

das regiões do continente, há cerca de sete dezenas de centros<br />

urbanos com Programas de Acção aprovados no âmbito das «Parcerias<br />

para a Regeneração Urbana» e cerca de quatro dezenas<br />

.participando nas oito «Redes Urbanas para a Competitividade<br />

e a Inovação» com Programas Estratégicos aprovados até ao<br />

momento. Os valores para a Região de <strong>Lisboa</strong> e Vale do Tejo são,<br />

respectivamente, duas dezenas e uma dezena.<br />

Todas essas candidaturas pressupõem a apresentação de estratégias<br />

e planos de acção preparados de forma concertada por<br />

diversas entidades e em consonância com as orientações consagradas<br />

no Programa Nacional da Política de Ordenamento do<br />

.Território e, sempre que possível, nos respectivos Planos Regionais<br />

de Ordenamento do Território.<br />

Podemos, pois, afirmar que aqueles dois instrumentos da Política<br />

de Cidades constituem um estímulo muito significativo à valorização<br />

do exercício de planeamento prospectivo de base territorial<br />

e à sua concretização através de projectos adequados às estratégias<br />

desenhadas.<br />

É, aliás, minha firme convicção que o planeamento prospectivo<br />

de base territorial está hoje, para um número cada vez <strong>mais</strong> relevante<br />

de actores públicos e privados, a deixar de ser um mero<br />

exercício de acomodação a requisitos obrigatórios de acesso<br />

a financiamentos públicos para se afirmar proactivamente como<br />

uma prática natural e inevitável de quem compreende que a «visão<br />

de obra» deve dar lugar a uma «visão de território».<br />

Na verdade, num mundo em permanente mutação e fortemente<br />

interactivo, a visão prospectiva de território constitui uma fonte<br />

virtuosa de inteligência colectiva, ao permitir integrar actores<br />

responsáveis por recursos de diferente natureza (ambientais, económicos,<br />

sociais, culturais, etc.) e escala (local, regional, nacional,<br />

global) em contextos de decisão tornados <strong>mais</strong> resilientes pela<br />

partilha de um horizonte estratégico e de uma linha de rumo<br />

comuns.<br />

44 |


Na verdade, num mundo em permanente mutação<br />

e fortemente interactivo, a visão prospectiva de território<br />

constitui uma fonte virtuosa de inteligência colectiva,<br />

ao permitir integrar actores responsáveis por recursos<br />

de diferente natureza (ambientais, económicos, sociais,<br />

culturais, etc.) e escala (local, regional, nacional, global)<br />

em contextos de decisão tornados <strong>mais</strong> resilientes pela<br />

partilha de um horizonte estratégico e de uma linha<br />

de rumo comuns.<br />

Que balanço faz desta primeira experiência das Parcerias<br />

para a Regeneração Urbana, tendo em conta o envolvimento<br />

intersectorial de ministérios, autarquias e parceiros sociais?<br />

Num país, como Portugal, marcado por uma administração<br />

demasiado centralizada e sectorializada, por uma cultura de relativa<br />

desconfiança entre a administração central e as autarquias<br />

e por uma sociedade civil pouco organizada, é imperioso abrir<br />

espaços estruturados de comunicação, intercâmbio e trabalho<br />

conjunto que se transformem em verdadeiros contextos de oportunidade<br />

para todos os envolvidos.<br />

É por isso que a aplicação do princípio da parceria, nomeadamente<br />

em iniciativas que envolvem o acesso a financiamento<br />

público através de procedimentos concursais, é tão importante:<br />

introduz maior racionalidade nas decisões, garante <strong>mais</strong> justiça<br />

relativa, viabiliza economias de escala, propicia mecanismos de<br />

circulação de informação e conhecimento, favorece processos<br />

colectivos de aprendizagem, criatividade e inovação. Ora todos<br />

estes aspectos são particularmente decisivos para intervir adequadamente<br />

na qualificação, modernização e dinamização de realidades<br />

tão complexas como são as cidades.<br />

A constituição de parcerias confronta-se, no entanto, com problemas<br />

há muito identificados, desde o recurso oportunista aos chamados<br />

«parceiros de conforto» à designada «fadiga institucional»<br />

inerente a processos que se tornam, não raro, demasiado<br />

complexos e absorventes para as capacidades das entidades<br />

envolvidas e para os resultados visados.<br />

Para ser eficiente, o princípio da parceria – que se pode resumir,<br />

como alguém disse, numa equação muito simples: 1+1 = 3 – exige<br />

visão estratégica, definição de prioridades, programação da acção,<br />

monitorização. É esta a filosofia do instrumento «Parcerias para<br />

a Regeneração Urbana». E é este o desafio com que se confrontam<br />

todos aqueles que a ele recorrem ou desejam recorrer.<br />

A experiência no terreno associada ao instrumento «Parcerias<br />

para a Regeneração Urbana» é ainda demasiado recente para<br />

.permitir um balanço consistente. Mas os primeiros resultados<br />

parecem promissores: entidades de cidades de todo o país aceitaram<br />

sentar-se à volta de uma mesma mesa para partilharem projectos<br />

e recursos, comprometendo-se com um programa de acção<br />

comum, dando, assim, sentido a intervenções integradas em meio<br />

urbano, centros históricos nalguns casos, frentes ribeirinhas noutros,<br />

bairros suburbanos noutros ainda.<br />

Esta é, afinal, a missão fundadora do ordenamento do território:<br />

proporcionar, para territórios concretos, a adequada ponderação<br />

de valores e interesses diferentes e até contraditórios. E esta é,<br />

ainda, uma das formas <strong>mais</strong> nobres de reconhecermos a centralidade<br />

da «boa cidade» para o desenvolvimento das sociedades<br />

contemporâneas: encará-la como objecto federador e racionalizador<br />

de decisões e acções indispensáveis à prossecução do interesse<br />

comum e à qualidade da vida colectiva.<br />

| 45


46 |<br />

José Pessoa | Divisão de Documentação Fotográfica - INSTITUTO DOS MUSEUS E DA CONSERVAÇÃO, I.P.


Portugal e o Mundo<br />

nos Séculos XVI e XVII<br />

A cultura é a obra do tempo: o que pensamos, fazemos e desejamos,<br />

matéria primeira para o conhecimento do homem como criador<br />

de realidade e vida, através de expressões infinitas que renovam<br />

o pensamento e, deste modo, as sociedades.<br />

Cultura | Paulo Henriques [Director do Museu Nacional de Arte Antiga]<br />

Oolhar retrospectivo sobre o património cultural<br />

permite conhecer este objecto da memória, hoje<br />

muito legado à ignorância, fixados que estamos<br />

no efémero e esquecidos das estruturas civilizacionais<br />

que é imperativo legar ao futuro. Esta<br />

responsabilidade não configura a rejeição da contemporaneidade,<br />

antes é o lastro da transmissão evolutiva dos saberes, essencial<br />

ao desenvolvimento do cidadão.<br />

Sobre isto nos permite reflectir a exposição Encompassing the<br />

Globe. Portugal e o Mundo nos Séculos xvi e xvii: verificação e elogio<br />

justo à capacidade de Portugal para gerar civilização através<br />

das suas viagens de expansão iniciadas no século xv, propiciadoras<br />

de novas conexões humanas, económicas, sociais, politicas e culturais,<br />

fundadoras do ciclo moderno da História da Europa e do<br />

Mundo, nucleares para a compreensão da contemporaneidade.<br />

A exposição permite-nos também a verificação do paradigma que<br />

caracteriza o País, o da dispersão dos patrimónios próprios, geradores<br />

de identidade nacional, prestígio e riqueza, em favor de uma<br />

vivência imediata e individualista, algo esquecida do que é necessário<br />

perpetuar e construir, com utopia de futuro.<br />

<strong>Lisboa</strong> é aqui mostrada como a grande porta para o Mundo, lugar<br />

de chegada das <strong>mais</strong> exóticas mercadorias, conhecimentos e gentes<br />

que, circulando pela Europa, alteraram os hábitos do quotidiano e<br />

do pensamento, científico e filosófico. Sinal desta disseminação<br />

foi a presença de grandes intelectuais portugueses nos principais<br />

centros da Europa, assim como a constatação, que as obras expostas<br />

sublinham, da quantidade e variedade de produtos que,<br />

em trânsito por <strong>Lisboa</strong>, foram desejados, por gosto e curiosidade<br />

científica, pelas <strong>mais</strong> sofisticadas sociedades europeias.<br />

O olhar dos responsáveis científicos da exposição, Jay Levenson,<br />

Jean Michel Massing, Julian Raby, Regina Khral e James Ulak, em<br />

articulação com Nuno Vassalo e Silva, traz uma leitura não-portuguesa<br />

deste ciclo da História de Portugal, actualizada no quadro<br />

contemporâneo da globalização.<br />

Em tempo de crise, a exposição fala ainda da força e do génio dos<br />

portugueses em vencer obstáculos e inventar Mundos. A própria<br />

exposição é disso prova, trabalho perseverante da equipa do Museu<br />

Nacional de Arte Antiga que, em conjugação com a do Instituto<br />

dos Museus e da Conservação, soube erguer esta produção da<br />

Smithsonian Institution.<br />

A versão de <strong>Lisboa</strong> não é réplica das que foram vistas na Freer and<br />

Sackler Gallery, Washington D. C., e no Palais des Beaux Arts, Bruxelas,<br />

em 2007. Respeitando o conceito original, integra agora tesouros<br />

nacionais, desejados desde sempre pelos comissários científicos<br />

mas que, por imperativos técnicos, não puderam ser cedidos.<br />

Algumas das jóias do nosso Património, oriundo de várias instituições<br />

de Portugal, brilham a par das obras raras cedidas<br />

por grandes colecções do Mundo.<br />

Um profundo agradecimento é devido ao Presidente da<br />

Smithsonian Institution, Wayne Clough; aos Comissários científicos,<br />

Jay Levenson, Julian Raby e Nuno Vassalo e Silva; ao Presidente<br />

da Fundação Calouste Gulbenkian, Emílio Rui Vilar, e ao Director<br />

do Instituto dos Museus e da Conservação, Manuel Bairrão Oleiro,<br />

cujo empenho neste projecto gerou força para vencer tormentas,<br />

afinal outro dos talentos do ser português. ■<br />

Museu Nacional de Arte Antiga<br />

Rua das Janelas Verdes | 1249-027 <strong>Lisboa</strong>.<br />

Tel: 21 391 2800 | Fax 21 397 3703 .<br />

mnarteantiga@ipmuseus.pt.<br />

mnaa.imc-ip.pt<br />

Como chegar autocarros: 60, 713, 727 Rua das Janelas Verdes; .<br />

28, 714, 732 – Avenida 24 de Julho; eléctricos: 15E, 18E – Avenida<br />

24 de Julho; 25 – Largo de Santos<br />

Horário terça a domingo: 10:00h às 18:00h.<br />

quinta-feira: das 10:00h às 23:00h.<br />

Encerrado: todas as segundas-feiras<br />

| 47


48 |


<strong>Lisboa</strong> leva «Inovação Social» a Bruxelas<br />

No Ano Europeu da Criatividade<br />

e da Inovação, e pelo terceiro ano<br />

consecutivo, a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> lidera uma<br />

parceria dedicada ao tema da<br />

inovação social no âmbito dos Open<br />

Days, evento organizado pela<br />

Comissão Europeia e Comité das<br />

Regiões, que se realiza em Bruxelas<br />

entre 5 e 8 de Outubro.<br />

Nesta edição, a parceria regional intitulada «Rede<br />

para o Crescimento Económico Criativo e Inclusivo»<br />

(Creative and Inclusive Economic Growth<br />

Network), é a <strong>mais</strong> alargada de sempre, integra<br />

parceiros de 8 regiões europeias de 7 Estados<br />

Membros: Reino Unido (Merseyside, Gloucestershire), Irlanda<br />

(NASC Ireland West Partnership), Holanda (Província da Zelândia),<br />

Itália (Abruzzo), Espanha (País Basco), Malta e Portugal (Açores).<br />

A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e os restantes parceiros pretendem discutir o fortalecimento<br />

de pontes entre a inovação social e o crescimento económico<br />

e partilhar soluções inovadoras para promover a inclusão<br />

social. Tendo em conta que é fundamental investir numa sociedade<br />

do conhecimento baseada no capital humano e no potencial<br />

dos cidadãos, é imprescindível articular a dimensão social com<br />

a dimensão tecnológica da inovação e da criatividade.<br />

Neste evento em Bruxelas, a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> vai promover o seminário<br />

«Inovação Social: Partilhando Ideias Criativas para um Crescimento<br />

Sustentável», no dia 8 de Outubro, nas instalações da REPER<br />

Portuguesa. O seminário apresenta um modelo de debate público<br />

composto por um key-speaker e um moderador participante que<br />

dinamizarão os convidados e a audiência, onde estarão responsáveis<br />

pelas políticas públicas, coordenadores de projectos e beneficiários<br />

das políticas sociais. A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> irá destacar neste evento<br />

o projecto «Orquestras Juvenis Geração» e o trabalho do «Chapitô».<br />

A convite da DGRegio (Direcção-Geral de Política Regional da<br />

Comissão Europeia), a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> vai levar este ano a Bruxelas a<br />

«Orquestra Juvenil Geração» do Bairro Casal da Boba na Amadora,<br />

composta por cerca de 30 crianças, para actuar no dia 7 num<br />

espaço nobre deste evento. Esta Orquestra é o embrião de um dos<br />

projectos <strong>mais</strong> importantes da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> na área da inclusão<br />

social, tendo o <strong>POR</strong><strong>Lisboa</strong> financiado recentemente <strong>mais</strong> 6 novas<br />

orquestras com crianças e jovens provenientes de bairros críticos<br />

em diferentes municípios da AML e cujo objectivo é criar <strong>mais</strong><br />

tarde uma orquestra metropolitana.<br />

As inscrições nos seminários dos Open Days 2009 estão abertas<br />

em: http://ec.europa.eu/regional_policy/conferences/od2009. ■<br />

| 49


Museu da<br />

Presidência da<br />

República<br />

5º aniversário<br />

Fotografia | IL/MPR<br />

50 |


Inaugurado a 5 de Outubro de 2004, o Museu da Presidência da República<br />

comemora, este ano, o seu quinto aniversário. Este Museu representa<br />

hoje um dos <strong>mais</strong> importantes veículos de conhecimento e divulgação<br />

da instituição presidencial, sendo, por inerência, um espaço privilegiado<br />

de relação com a história portuguesa dos últimos 100 anos.<br />

Resgatando um património histórico anteriormente<br />

ameaçado pela dispersão e pelo esquecimento,<br />

o MPR reúne, actualmente, na sua colecção, milhares<br />

de peças, entre presentes de Estado, objectos<br />

pessoais e condecorações. O acervo documental<br />

do Museu agrega cerca de um milhão de documentos – correspondência<br />

oficial e privada, manuscritos e imagens, testemunhos<br />

da vida pública e familiar dos Chefes de Estado. Através do projecto<br />

«arquivo digital» (candidato, com sucesso, ao Programa Operacional<br />

da Sociedade do Conhecimento) este acervo encontra-se em<br />

processo de tratamento e digitalização e acessível on line.<br />

Procurando contribuir de forma activa para a construção da cidadania<br />

e para a aproximação da instituição presidencial à sociedade<br />

civil, o MPR investe numa forte componente pedagógica e cultural:<br />

oficinas pedagógicas, encontros temáticos, visitas orientadas, colóquios,<br />

acções de formação, exposições temporárias e itinerantes.<br />

Na exposição permanente, apoiada por tecnologias inovadoras<br />

e interactivas, o visitante é convidado a percorrer as diferentes fases<br />

da República portuguesa, aqui se dando a conhecer o papel e evolução<br />

da instituição presidencial e a vida e acção política dos seus<br />

protagonistas. Combinando a exposição tradicional de peças com<br />

conteúdos informativos em suporte audiovisual e touch screens,<br />

a Exposição explora, ainda, temas do património material e imaterial<br />

associados à República e ao exercício da magistratura presidencial:<br />

símbolos nacionais, presentes de Estado, Ordens Honoríficas<br />

e Palácio de Belém.<br />

| 51


Tratando-se de uma instituição de dimensão nacional, pela sua<br />

missão e objectivos, o Museu da Presidência da República alargou<br />

o seu projecto cultural ao conjunto do território. Através da promoção<br />

de exposições temporárias e itinerantes, encontros, seminários<br />

e actividades de formação, o Museu assinalou a sua presença em<br />

todos os distritos do país, incluindo regiões autónomas. Para<br />

a concretização deste projecto o MPR conta com a colaboração<br />

de vários parceiros, públicos e privados. Destacam‐se, a este nível,<br />

as parcerias efectuadas com várias Câmaras Municipais. São disso<br />

exemplo, as exposições promovidas em diversas autarquias<br />

do país, por ocasião das celebrações oficiais do Dia de Portugal,<br />

de Camões e das Comunidades Portuguesas.<br />

As iniciativas culturais do Museu constituem tanto o corolário,<br />

como o motor, de uma intensa actividade de investigação. A promoção<br />

do conhecimento, de forma sustentada, tem-se materializado<br />

numa série de publicações (cerca de 40 títulos), cobrindo<br />

temas de História, Arte, Património, Política e Cidadania.<br />

O reconhecimento público da actividade do Museu traduziu-se<br />

nalguns prestigiados prémios, como o Prémio Europa Nostra,<br />

da Federação Pan-Europeia para o Património Cultural da União<br />

Europeia, e o Prémio José de Figueiredo, da Academia Nacional<br />

de Belas-Artes.<br />

Até 2010, ano em que se celebra o primeiro centenário da República<br />

Portuguesa, o Museu da Presidência da República prevê<br />

a apresentação do projecto de ampliação do Museu, onde se inclui<br />

a criação de um Centro de Estudos. Dar-se-á continuidade à actividade<br />

editorial, com a publicação de obras relacionadas com os<br />

Presidentes e a História da República portuguesa. Paralelamente,<br />

serão lançados os alicerces para a criação de uma rede de museus<br />

associados ao Museu da Presidência da República que, a par das<br />

exposições itinerantes e temporárias promovidas em todo o país,<br />

contribuirá para o seu programa de descentralização cultural. ■<br />

Palácio Nacional de Belém<br />

Praça Afonso de Albuquerque 1349-022 <strong>Lisboa</strong>.<br />

(+351) 21 361 46 60.<br />

museu@presidencia.pt<br />

www.museu.presidencia.pt<br />

Serviço de Educação e Animação Cultural.<br />

(+351) 21 361 46 60.<br />

museu@presidencia.pt.<br />

Museu: Terça a Domingo, 10h – 18h<br />

Visitas ao Palácio e Jardins: Sábados, 10h – 16h30<br />

(disponibilidade das visitas condicionada.<br />

pela agenda presidencial).<br />

Línguas de atendimento:.<br />

Português, Inglês,Espanhol e Francês<br />

52 |


| 53


Sardinha,<br />

Rica Sardinha<br />

A sardinha faz parte do grupo<br />

de peixes teleósteos abdominai<br />

e adquire o nome científico<br />

de «Sardina pilchardus».<br />

Não pensem que vou continuar com<br />

esta linguagem ou com as<br />

definições técnicas deste<br />

maravilhoso peixe que nos<br />

identifica no Mundo. A sardinha<br />

sempre foi associada a alimentação<br />

popular e recentemente assistimos<br />

à sua utilização por grandes chefes e<br />

para grandes mesas, que dizer, alta<br />

gastronomia ou cozinha de autor.<br />

Roteiro | Virgilio Gomes<br />

Fotografia | ca, produções fotográficas<br />

Ninguém como os portugueses para se deliciarem<br />

com sardinhas assadas colocadas sobre fatia<br />

de pão de mistura. Claro que instintivamente<br />

a tradição de comer sardinhas está associada<br />

à época em que o seu sabor é melhor. Por isso<br />

a sardinha transforma-se em emblema culinário das festas populares<br />

de Junho. E lá diz o ditado: «No S. João a sardinha pinga<br />

no pão». Claro que a sardinha é também o elemento culinário do<br />

Santo António. É de facto neste tempo que a sardinha está gorda,<br />

a sua pele liberta-se com facilidade e a sua gordura embebe o pão<br />

de forma gulosa.<br />

Domingos Rodrigues (1680), autor do primeiro livro de receitas<br />

em portugal sugere os meses de Novembro e Dezembro, apesar<br />

de não dar nenhuma receita. Lucas Rigaud (1780) nem sequer<br />

menciona as sardinhas. Já João da Mata (1876) lhe concede honras<br />

de três receitas: Sardinhas à Mata, Sardinhas em Pastelinhos<br />

à Portuguesa, e Sardinhas em Espiches.<br />

Olleboma (1936), autor de Culinária Portuguesa recomendava<br />

que a sardinha fosse consumida de Junho a Outubro pois eram os<br />

meses de melhor sabor e menciona que «a sardinha é o peixe<br />

<strong>mais</strong> abundante em toda a costa de Portugal… consome-se fresca,<br />

salgada e em conserva de azeite». Como modos de confecção<br />

apresenta várias receitas de fritas, grelhadas ou assadas na brasa,<br />

recheadas e fritas com molho de tomate à moda de Setúbal.<br />

Não vou continuar a relatar a presença da sardinha nos clássicos<br />

de receituários de culinária portuguesa. Devo, no entanto, referir<br />

a importância que a indústria conserveira teve durante o século xx.<br />

O sistema de conserva dos alimentos após cozedura e isolamento<br />

do ar foi descoberto por um cozinheiro francês de nome Appert<br />

e já em 1804. Mas é em Inglaterra que se estabelece em 1810 a<br />

primeira indústria de conservas em folha-de-flandres, mas o produto<br />

final era muito caro pelo seu manuseamento.<br />

Curioso é encontrar já uma receita de sardinhas no famoso livro,<br />

que eu traduzo directamente do francês para «As delícias da<br />

mesa e os melhores tipos de comida», de Ibn Razin Tujibi, escrito<br />

entre 1238 e 1266, e publicado no tempo da dinastias Almohade<br />

.e Mérinide, no domínio de Al Andalus e do Maghreb. Isto porque<br />

a sardinha era considerada um peixe popular, ou menor.<br />

www.virgiliogomes.com<br />

Fotografias realizadas em Setúbal - restaurante A Nau -, e em <strong>Lisboa</strong>, no Bairro Alto.<br />

Será fácil admitir que a sardinha já constava dos peixes que os<br />

romanos consumiam e que seria um dos elementos que entrava<br />

| 55


56 |


no famoso garum. Este seria uma pasta de peixe imaginada como<br />

sistema de conservação do peixe após a chegada dos barcos, e de<br />

cujo fabrico temos informações de Setúbal e Monte Gordo, condizentemente<br />

os locais onde se estabeleceram as primeiras indústrias<br />

de conserva.<br />

Durante a Idade Média haveria até 240 dias de jejum de carne<br />

pelo que os frutos pesqueiros seriam a base da alimentação.<br />

A sardinha era primordial. Consta mesmo que no primeiro<br />

«restaurante» instalado na Praça da Ribeira, o Mal Cozinhado, se<br />

prestaria a fritar o peixe e servi-lo sobre fatias de pão.<br />

A sardinha transformou-se num produto popular pelo seu preço,<br />

e vulgarizou-se, como a melhor forma de a saborear, assada na brasa.<br />

A sardinha durante o século xx teve picos de glória e de abandono,<br />

deixando de ser prato de mesas finas ou abastadas. Para o interior<br />

vinham em barricas com sal pois para as grandes tarefas<br />

agrícolas era necessário contratar galegos que não abdicavam<br />

de comer peixe. Outras formas, de conservação, levaram à criação<br />

de outro receituário como as empadas ou bolas de sardinha.<br />

A importância popular da sardinha foi, e é, tão grande que a linguagem<br />

proverbial a adoptou em vários sentidos:<br />

«Da garganta para baixo, tanto sabe a galinha como a sardinha».<br />

«Na tua casa não tens sardinha e na alheia pedes galinha».<br />

«Nem sempre galinha, nem sempre sardinha».<br />

«A mulher e a sardinha querem-se pequenina».<br />

«A mulher e a sardinha quanto maior <strong>mais</strong> danadinha».<br />

«Não há comida abaixo da sardinha, nem burro abaixo de jumento».<br />

«Se tens sardinha… não andes à cata de peru».<br />

«Estar apertado como sardinha em lata».<br />

«Comer sardinha e arrotar pescada».<br />

«Tirar a sardinha com a mão do gato»<br />

Para todas as ocasiões e para todos os sentidos.<br />

A sardinha assada é, para mim, um elemento diferenciador da alimentação<br />

portuguesa. Os países <strong>mais</strong> próximos que consomem<br />

sardinha, como a Espanha, França ou Itália não o fazem como nós.<br />

E muito menos com o acto convivial de comer sardinhas assadas<br />

na brasa, em conjunto à volta do assador. E com a simplicidade<br />

de o fazer à mão e sobre uma fatia de pão. Claro que estará sempre<br />

por perto uma boa salada com pimentos e bom vinho.<br />

Não resisto a lembrar o único sítio que comi sardinhas assadas<br />

e me fez lembrar, ou poder pensar que estava em Portugal. Em<br />

Essaouira, Marrocos e antiga praça portuguesa de Mogador, junto<br />

à lota há uma espécie de restaurantes que se limitam a ser umas<br />

mesas corridas e apenas temos que escolher o peixe. Está incluído<br />

o pão, salada de tomate e refrigerantes (país muçulmano e com<br />

uma mesquita na proximidade). Escolhi três variedades de peixe<br />

e, a medo, apenas duas sardinhas. Chegado o peixe comecei pelas<br />

sardinhas e de imediato pedi <strong>mais</strong> seis. Voltei lá <strong>mais</strong> vezes só para<br />

comer sardinhas. ■<br />

| 57


artemrede<br />

Evelina Lindqvist<br />

Na sequência do investimento realizado em conjunto<br />

com as autarquias na construção, recuperação, modificação<br />

de cine‐teatros e outros equipamentos culturais<br />

congéneres destinados à apresentação de espectáculos,<br />

maioritariamente financiado através dos fundos estruturais<br />

europeus, decidiu a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> – Comissão de Coordenação<br />

e Desenvolvimento Regional de <strong>Lisboa</strong> e Vale<br />

do Tejo promover a realização de um estudo que identificasse<br />

os meios e instrumentos <strong>mais</strong> adequados à dinamização,<br />

qualificação e criação de condições de sustentabilidade<br />

desses equipamentos.<br />

A realização do referido estudo incluiu um trabalho de<br />

inventariação dos teatros e Cineteatros e de análise das<br />

dinâmicas culturais da Região, bem como uma ampla<br />

discussão e troca de ideias com as autarquias, ao nível,<br />

quer dos seus responsáveis políticos, quer de responsáveis<br />

dos departamentos culturais ou dos próprios teatros.<br />

Este processo culminou com a proposta de criação de uma<br />

rede formal que integrasse os teatros e equipamentos<br />

culturais congéneres da região, entendida como a melhor<br />

solução para dar resposta às necessidades de qualificação,<br />

assistência técnica e desenvolvimento que as autarquias<br />

sentem neste domínio. A criação da Rede foi consubstanciada<br />

através da constituição de uma associação cultural<br />

privada sem fins lucrativos «Artemrede – Teatros Associados»,<br />

integrando, presentemente, o projecto 16 autarquias:<br />

Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Almeirim,<br />

Barreiro, Caldas da Rainha, Cartaxo, Entroncamento,<br />

MÚSICA<br />

STOCKHOLM LISBOA PROJECT<br />

Música do Mundo | Tradicional [Portugal | Suécia]<br />

Sexta, 25 Setembro | 21h30<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />

Sábado, 26 Setembro | 21h30<br />

Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />

Sábado, 10 Outubro | 21h30<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Sexta, 11 Dezembro | 21h30<br />

Abrantes | Cineteatro S. Pedro<br />

Sexta, 18 Dezembro | 22h00<br />

Externato Cooperativo da Benedita | Centro Cultural Gonçalves Sapinho<br />

Duração: 90 min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/3 anos<br />

Músicos portugueses e suecos juntaram-se neste projecto para explorar pontos de<br />

encontro entre as suas tradições musicais. Distantes no espaço mas unidos pela<br />

linguagem universal que é a música, encontraram novas texturas e pontes Norte-Sul,<br />

entre uma tradição e a outra.<br />

Simon Stålspets, Sérgio Crisóstomo, Liana e Filip Jers são a face deste projecto que traz<br />

a palco tradições das suas raízes culturais.<br />

O seu repertório abrange Música tradicional Portuguesa e Escandinava, desde Fado a<br />

Polskas, levadas até aos ouvintes pelas cores sonoras do violino, mandolim, mandola<br />

nórdica e voz.<br />

O último álbum «Diagonal» ganhou o prémio «Award of the German critics/<br />

journalists – third quarter 2009».<br />

Moita, Montijo, Palmela, Santarém, Sesimbra, Sobral<br />

de Monte Agraço e Torres Vedras, e o Externato Cooperativo<br />

da Benedita.<br />

58 |


Dominique Shi/Homardpayette<br />

«Fractal», é o homem dividido entre dois universos: o do enclausuramento quotidiano<br />

e medíocre e o do sonho, do entusiasmo que, a todo o momento, o torna livre e<br />

brilhante sob os projectores.<br />

É graças às luzes de cena que esta metamorfose é produzida. Mas assim que as luzes<br />

da ribalta se apagam, o que é que fica?<br />

Metáfora do artista, mas também esquizofrenia quotidiana: Fractal, sem outros meios<br />

que não o corpo do dançarino e uma chuva luminosa, interroga as contradições e as<br />

nossas angústias de uma forma muito lúdica.<br />

Strategy in Action<br />

DANÇA<br />

FRACTAL<br />

Compagnie Fractal<br />

Hip Hop Contemporâneo [França]<br />

Quarta, 16 Setembro | 21h30<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Sexta, 18 Setembro | 21h30<br />

Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras<br />

Sábado, 19 Setembro | 21h30<br />

Alcanena | Cineteatro São Pedro<br />

Domingo, 20 Setembro | 21h30<br />

Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />

Terça, 22 Setembro | 16h00<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />

Quinta, 24 Setembro | 10h10<br />

Externato Cooperativo da Benedita | Centro Cultural Gonçalves Sapinho<br />

Sexta, 25 Setembro | 22h00<br />

Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo<br />

Sábado, 26 Setembro | 21h30<br />

Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />

Duração Espectáculo: 40min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/6 anos<br />

Um homem que acorda num asilo psiquiátrico. Fechado. Porquê? Sem dúvida que<br />

existe uma razão, mas ele já a esqueceu.<br />

TEATRO<br />

DO DESASSOSSEGO<br />

Comuna – Teatro De Pesquisa<br />

Drama [Portugal]<br />

Sábado, 05 Setembro | 21h30<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Quarta, 07 Outubro | 21h30<br />

Almada | Teatro Municipal de Almada<br />

Sexta, 06 Novembro | 21h30<br />

Palmela | Cineteatro São João<br />

Quinta, 12 Novembro | 14h00<br />

Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />

Segunda, 07 Dezembro | 21h30<br />

Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras<br />

Duração: 65 min. [s/ int.] | Público Alvo: Adulto | Faixa Etária: m/12 anos<br />

Este espectáculo será uma reflexão sobre um século que teve em Fernando Pessoa um<br />

dos seus maiores expoentes, pela clareza, a inteligência e a frieza com que soube<br />

interrogar e interrogar-nos. O desassossego português através da palavra do maior<br />

poeta da língua portuguesa do século que findou.<br />

Fernando Pessoa, ele próprio, será o músico, que sem palavras, mas recorrendo aos<br />

<strong>mais</strong> variados instrumentos, executará temas originais, preencherá silêncios,<br />

anunciará mudanças e marcará ritmos – maestro por excelência dos seus<br />

heterónimos.<br />

Resta-lhe apenas a imaginação para fugir desta condição insuportável.<br />

Está sozinho em cima do seu banco, as suas mãos perturbam-no como se de um corpo<br />

estranho se tratasse. Mexem-se sozinhas, agridem-no. Mas cedo irão tornar-se suas<br />

aliadas. Submetem-se à sua vontade e criam pequenos universos nascidos da sua<br />

imaginação, que se constroem em espirais como uma curva fractal até que, raspando<br />

o chão, faz surgir um génio, ou antes, é ele que se transforma num génio. Sob as luzes<br />

da ribalta, ofuscando de virtuosidade e de liberdade. Torna-se noutro homem,<br />

mas o efeito mágico não perdura e cansa-se em esforços cómicos e simultaneamente<br />

desesperantes para voltar a encontrar esse estado de graça.<br />

| 59


DRÁKULA<br />

Companhia do Chapitô<br />

Comédia [Portugal]<br />

Sexta, 18 Setembro | 21h00<br />

Golegã | Cineteatro Gil Vicente<br />

Sábado, 17 Outubro | 21h30<br />

Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />

Sexta, 27 Novembro | 21h30<br />

Abrantes | Cineteatro S. Pedro<br />

Sábado, 28 Novembro | 21h30<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim D’almeida<br />

Domingo, 29 Novembro | 16h00<br />

Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />

Duração: 90 min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/12 anos<br />

Dr. Jonathan Harker, um célebre dentista inglês é chamado de urgência à Transilvânia.<br />

Ao chegar ao castelo do seu cliente depara-se com um vasto espólio de doenças e<br />

estranhos hábitos de dieta e higiene oral: queda de dentes, gengivite, mau hálito e<br />

uma acentuada ausência de vitamina D. No regresso a Londres, sucedem-se incidentes<br />

ainda <strong>mais</strong> perturbantes: o conde não consegue abandonar os seus hábitos perversos,<br />

nem a sua particular preferência por certos grupos de sangue. Nada parece detê-lo.<br />

Sem alternativa Dr. Harker pede auxilio ao seu colega e amigo Prof. Van Helsing –<br />

o grande «Vampirologista». Entre A positivo e RH negativo, o romance, o suspense<br />

e o drama nas ruas sombrias de Londres. O renascimento do afamado Conde Drácula,<br />

para recuperar uma dentição que não resistiu à passagem dos séculos. O mito no seu<br />

sentido <strong>mais</strong> vampiresco.<br />

CRIANÇAS E JOVENS<br />

A CAÇA<br />

Teatro O Bando<br />

Teatro [Portugal]<br />

Sábado, 03 Outubro | 11h00<br />

Torres Vedras | Cineteatro de Torres Vedras<br />

Sábado, 10 Outubro | 16h30<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />

Sábado, 31 Outubro | 18h00<br />

Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />

Domingo, 06 Dezembro | 17h00<br />

Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota<br />

Domingo, 13 Dezembro | 16h00<br />

Almada | Fórum Municipal Romeu Correia<br />

Duração: 1h15 [c/ int. 5min. sem saída do Público] | Lotação Máxima: 60 espectadores |<br />

Público Alvo: Escolar e Familiar | Faixa Etária: m/ 6 anos<br />

Com encenação de Rogério de Carvalho [galardoado com o Prémio da Crítica por duas<br />

vezes e ainda com o Prémio Garrett e o Prémio Almada], A CAÇA é também o nome da<br />

curta-metragem homónima de Manoel de Oliveira, estreada em 1964. Cruzando as<br />

linguagens do Teatro e do Cinema, colocamo-nos assim entre o palco e a tela, entre os<br />

actores e a projecção, de modo a podermos acompanhar os passeios de dois amigos,<br />

dois caçadores sem espingarda que atravessam lameiros e observam a violência quotidiana<br />

dos homens, a agressividade da Natureza.<br />

A CAÇA encerra uma trilogia teatral iniciada em 2006. Depois de GRÃO DE BICO, ponto<br />

de partida que explorou a Voz e o Gesto, e de LINHA DA VIAGEM, a qual percorreu a<br />

Pintura de Nadir Afonso e nos hipnotizou com a vertigem da Dança, chegamos agora<br />

ao plano da estação com A CAÇA, onde se exploram as sensações surpreendentes<br />

desencadeadas pelo Cinema.<br />

60 |


OFICINAS<br />

Gémeo Luís<br />

SAM<br />

A VER NAVIOS<br />

No Reinado de D. João VI e Carlota Joaquina<br />

S.A. Marionetas<br />

Teatro | Marionetas [Portugal]<br />

Sexta, 23 Outubro | 14h00<br />

Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />

Sábado, 24 Outubro | 16h00<br />

Almada | Solar dos Zagalos<br />

Sábado, 14 Novembro | 11h00<br />

Torres Vedras | Cineteatro de Torres Vedras<br />

Domingo, 15 Novembro | 16h00<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Domingo, 22 Novembro | 16h00<br />

Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />

O PRAZER DO POEMA<br />

Susana Menezes<br />

Oficina associada ao espectáculo<br />

Do Desassossego, Teatro da Comuna<br />

Poesia | Escrita [Portugal]<br />

Sábado, 12 Setembro | 16h00<br />

Sobral de Monte Agraço<br />

Biblioteca Municipal de Sobral de Monte Agraço<br />

Sábado, 31 Outubro | 18h00<br />

Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />

Quarta, 11 Novembro<br />

Santarém | Universidade da Terceira Idade [hora a definir]<br />

Almada [local e data a definir]<br />

Duração: 1h30 | Lotação Máxima: 15 participantes | Público Alvo: m/18 anos | Monitor:<br />

Paulo Campos dos Reis<br />

O poema [um qualquer] é a matiz. Lesse e relesse de diversos modos. A cabeça<br />

entende-o. As vozes dão-lhe cores. Fazem-se exercícios de análise e de expressão<br />

dramática. Vêm-se imagens das coisas que os poemas contêm. Compõem-se os versos<br />

dos poemas com essas imagens. Compõem-se as imagens do poema com versos.<br />

No final cada participante terá o princípio do mundo numa folha de papel:<br />

O seu poema.<br />

Golegã | Cineteatro Gil Vicente [data a definir]<br />

Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Lotação Máxima: 200 espectadores | Público Alvo:<br />

Familiar e Escolar [2º e 3º Ciclos] | Faixa Etária: m/6 anos<br />

1807, Novembro. quase às portas de <strong>Lisboa</strong> as tropas de Napoleão ameaçam fazer<br />

capitular o Rei, como já aconteceu por toda a Europa e mesmo com a vizinha Espanha<br />

com quem tinha anteriormente feito uma coligação.<br />

No gabinete D. João VI reúne com os seus conselheiros. Tem que decidir se entra no<br />

Bloqueio Continental decretado por Napoleão contra os Ingleses, ou se parte numa<br />

viagem ja<strong>mais</strong> feita por um monarca europeu contando com o apoio dos «sempre<br />

presentes e velhos aliados» Ingleses.<br />

Em <strong>Lisboa</strong>, capital do reino corre-se desenfreadamente. Finalmente foi tomada a<br />

decisão há muito pensada e por todos adiada. A corte vai partir numa viagem inédita.<br />

Transfere-se a Rainha, o Príncipe Regente, a Princesa sua mulher, os príncipes e as<br />

princesas, ministros, conselheiros, tesoureiros, secretários, esmoleres, alcaides, escrivães,<br />

criados, pratas, livros, ouros, quadros, porcelanas… para o outro lado do oceano.<br />

Assim tem início o espectáculo que conta a grande aventura de D. João VI e toda a sua<br />

corte no Brasil. Conta-se como foi e porque foi.<br />

O elenco conta com cerca de 20 marionetas de fios que representam o D. João, D.<br />

Carlota, D. Maria, os filhos D. Pedro e D. Miguel, os Conselheiros D. Rodrigo de Sousa<br />

Coutinho, António Araújo e Azevedo, William Beresford, Lord Strangford, entre outros<br />

e como não podia deixar de ser Napoleão Bonaparte.<br />

Inicia-se a narrativa com a partida da corte para o Brasil e o impacto da mesma<br />

na vida da colónia, regressando por momentos a Portugal e às Guerras Peninsulares,<br />

para de novo voltar às peripécias da vida quotidiana do Reino Unido de Portugal,<br />

Brasil e Algarve do outro lado do Oceano. No final teremos D. Pedro que fica<br />

e Napoleão que confessa ter sido enganado.<br />

Destaca-se ainda o grande rigor na confecção dos figurinos das marionetas bem como<br />

de cenários e estruturas cénicas que se baseiam em originais da época.<br />

AS PESSOAS DO PESSOA<br />

Susana Menezes<br />

Oficina associada ao espectáculo<br />

Do Desassossego, Teatro da Comuna<br />

Escrita | Expressão Dramática<br />

[Portugal]<br />

Alcobaça [local e data a definir]<br />

Externato Cooperativo da Benedita<br />

Centro Cultural Gonçalves Sapinho<br />

[data a definir]<br />

Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 1 turma<br />

Público Alvo: alunos do ensino secundário<br />

Monitor: Catarina Requeijo<br />

Conhecer um pouco melhor Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis<br />

e a relação que cada um deles estabeleceu com os diferentes lugares ou cidades.<br />

A ideia de heterónimo como espaço de liberdade para a existência de um outro<br />

eu num outro pequeno mundo.<br />

De quantas pessoas é feita uma pessoa? quantos temos dentro de nós?<br />

Seremos diferentes em diferentes cidades? E casas? E lugares?<br />

Através da escrita e da expressão dramática vamos fazer uma viagem ao interior<br />

de um escritor/jornalista/publicitário/empreendedor e amante.<br />

Como é que tantas pessoas cabem dentro de uma só?<br />

Gémeo Luís<br />

| 61


Sábado, 10 Outubro | 10h30<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />

Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras [data a definir]<br />

Gémeo Luís<br />

Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota [data a definir]<br />

Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 12 [ao fim-de-semana] 1 turma [durante a<br />

semana] | Faixa Etária: m/8 anos | Monitor: Catarina Requeijo, Inês Barahona<br />

OFICINA DE DJING<br />

Susana Menezes<br />

Oficina associada ao espectáculo Fractal, Cie. Impact [França]<br />

Música [Portugal]<br />

Terça, 22 Setembro | 13h30<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />

Sexta, 25 Setembro | 18h00<br />

Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />

Sábado, 26 Setembro | 14h30<br />

Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />

Sexta, 02 Outubro | 21h30<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Domingo, 04 Outubro | 17h00<br />

Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />

Sábado, 07 e 14 Novembro | 16h00<br />

Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />

Abrantes [local e data a definir]<br />

Partindo das ideias chave do espectáculo – caça e censura – criámos uma Oficina em<br />

que as crianças podem fazer uma viagem a um tempo em que, felizmente, não<br />

viveram. Terão contacto com notícias, desenhos, caricaturas e outros materiais que<br />

foram censurados e poderão experimentar exprimir-se com uma liberdade de<br />

expressão relativa.<br />

A Oficina está estruturada em dois momentos: num primeiro momento, que passa<br />

sobretudo pela escrita, as crianças serão «caçadores» de notícias censuradas que têm<br />

de reconstruir, a partir de fragmentos de texto e de imagens que foram enterrados na<br />

areia. Num segundo momento terão a possibilidade de dramatizar as notícias escritas,<br />

apresentando-as em diversos formatos: debate televisivo, programa de rádio,<br />

conferência de imprensa…É sobretudo neste segundo momento que serão<br />

confrontadas com as limitações à sua liberdade de expressão, através de armadilhas<br />

preparadas pelos monitores.<br />

Oficina criada no contexto da Programação do Centro de Pedagogia e Animação do<br />

Centro Cultural de Belém.<br />

OFICINA DE HIP HOP<br />

Susana Menezes<br />

Oficina associada ao espectáculo<br />

Fractal, Cie. Impact [França]<br />

Dança [Portugal]<br />

Alcobaça [local e data a definir]<br />

Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras [data a definir]<br />

Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 15 participantes | Público Alvo: m/16 anos |<br />

Monitor: DJ Ride<br />

Observações: A Oficina só se realiza com o mínimo de 6 participantes<br />

Pequena introdução ao djing/turntablism/scratch. O que é um setup standart,<br />

diferença entre os diferentes materiais. Elucidação das funções <strong>mais</strong> básicas da mesa<br />

de mistura/gira-discos. quais as principais marcas de mesas/gira-discos, diferenças<br />

entre elas, qualidade/preço, etc.. Diferenças entre os diversos estilos musicais, Hip Hop,<br />

Funk, Soul, BreakBeat, House, Drum ‘n Bass. Primeiras noções básicas de mistura, BPM’s,<br />

etc.. Diferenças entre misturar com vinil, com CD ou com software. Diferença entre<br />

vinil/cd. Vantagens e desvantagens do uso do vinil/cd ou software. Utilização dos<br />

auscultadores, munição, cue. O que é o «Scratch». Diferentes técnicas e potencialidades<br />

do Scratch. Diferença entre DJ, Turntablist e Scratch Producer/musician. Noções de<br />

beat jugling/pass pass e como incorporar estas técnicas num dj Setembro. Exemplos/<br />

showcase das técnicas <strong>mais</strong> básicas. Noções básicas sobre softwae de mistura<br />

[traktor], final scratch/rane Serato e gravação/produção: ableton live, adobe audition.<br />

As diferenças entre pôr som VS tocar VS live act/performance. Parte prática.<br />

OFICINA DE ESCRITA E TEATRO<br />

Susana Menezes<br />

Oficina associada ao espectáculo A Caça, Teatro O Bando<br />

Escrita | Teatro [Portugal]<br />

Gémeo Luís<br />

Segunda, 14 Setembro | 16h00<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Terça, 22 Setembro | 10h30<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />

Sábado, 26 Setembro | 15h00<br />

Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo<br />

Domingo, 27 Setembro | 17h00<br />

Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />

Quinta, 08 Outubro | 15h00<br />

Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />

Sexta, 09 Outubro | 18h00<br />

Santarém | Teatro Sá da Bandeira<br />

Sábado, 21 Novembro | 16h00<br />

Palmela | Centro Cultural do Poceirão<br />

Abrantes [local e data a definir]<br />

Alcanena | Cineteatro São Pedro [data a definir]<br />

Alcobaça [local e data a definir]<br />

Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras [data a definir]<br />

Duração Oficina: 2h | Lotação Máxima: 15 [ao fim-de-semana] 1 turma<br />

[durante a semana] | Público Alvo: m/12 anos | Monitor: Nelson Lucas<br />

Inclusão da Dança na biografia da Cultura Hip Hop.<br />

Base técnica para as 4 vertentes da Dança HH [Popping, Locking, Newschoo,<br />

e Breakdance].<br />

Gémeo Luís<br />

Aliar o estilo House e partilhar técnicas utilizadas no HH.<br />

Construção coreográfica baseada nas 4 vertentes da Dança HH.<br />

62 |


David Burns<br />

FESTA DA MARIONETA<br />

EGGBIRD E OUTRAS HISTÓRIAS DE MARIONETAS<br />

Stephen Mottram<br />

Marionetas [Inglaterra]<br />

Sexta, 16 Outubro | 14h30<br />

Alcobaça | Cineteatro de Alcobaça<br />

Domingo, 18 Outubro | 16h00<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro do Sobral de Monte Agraço<br />

Sábado, 24 Outubro | 16h00<br />

Moita | Fórum Cultural José Manuel Figueiredo<br />

Domingo, 25 Outubro | 11h00<br />

Palmela | Auditório Municipal do Pinhal Novo<br />

Domingo, 25 Outubro | 16h00<br />

Montijo | Cinema-teatro Joaquim d’Almeida<br />

Duração Espectáculo: 60min. [s/ int.] | Público Alvo: Familiar | Faixa Etária: m/4 anos<br />

Uma caixa de Pandora de surpresas mágicas, com bonitas marionetas, que tomam<br />

vida ao serem tocadas. Uma carinhosa mãe-pássaro com o seu ovo, uma mosca<br />

dançante, um misterioso circo e um comovente conto de fadas, completado com<br />

um príncipe e uma princesa.<br />

Uma hora bem passada, com uma história de drama e comédia, apresentada por<br />

um mestre da marioneta de fios.<br />

IN SUSPENSION<br />

Stephen Mottram<br />

Marionetas [Inglaterra]<br />

Sexta, 16 Outubro | 21h30<br />

Alcobaça | Cineteatro de Alcobaça<br />

Sábado, 17 Outubro | 21h30<br />

Alcanena | Cineteatro São Pedro<br />

Quinta, 22 Outubro | 11h00<br />

Torres Vedras | Teatro-Cine de Torres Vedras<br />

Sexta, 23 Outubro | 21h30<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida<br />

Duração Espectáculo: 67min. [s/ int.] | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/12 anos<br />

O incrível mundo de IN SUSPENSION está cheio de surpresas, desde os momentos <strong>mais</strong><br />

ternos até aos <strong>mais</strong> macabros. Elegante na sua simplicidade, joga com os nossos<br />

sentidos, transportando-nos para um engraçado e poético mundo alternativo, onde as<br />

regras parece terem sido alteradas. A música – de Glyn Perrin, Simon Waters e Pete<br />

McPhail – envolve a hipnótica coreografia de Stephen Mottram como um casulo e as<br />

marionetas tornam-se perturbadoramente independentes do artista que as<br />

manipula.<br />

Trabalhando à vista do público num pequeno palco aberto com marionetas de fio,<br />

Stephen Mottram capta o seu público numa mágica e inesperada experiência. A<br />

música especialmente é composta para envolver a coreografia hipnótica de Mottram,<br />

de forma a criar uma forte atmosfera teatral, que persegue os espectadores mesmo<br />

depois do espectáculo ter terminado.<br />

IN SUSPENSION baseia-se na observação precisa dos detalhes do movimento humano.<br />

Elegante na sua simplicidade, joga com as nossas percepções do quotidiano, como a<br />

gravidade e o equilíbrio. Pouco a pouco, o espectador é atraído para um engraçado e<br />

poético mundo alternativo onde as regras parece terem sido alteradas.<br />

Em IN SUSPENSION a música foi especialmente composta por Glyn Perrin, Simon<br />

Waters e Pete McPhail. Todas as peças ouvidas no espectáculo são o resultado de uma<br />

pormenorizada colaboração entre os compositores e Stephen Mottram. O principal<br />

objectivo desta colaboração foi o de assegurar que a relação entre o som e a imagem<br />

seria completamente perceptível durante o espectáculo. A música conduz o público<br />

até diversos eventos visuais e coreográficos, através dos momentos musicais.<br />

O trabalho de Glyn Perrin vai desde peças electro-acústicas até trabalhos com<br />

orquestras e música de câmara, gravados, na rádio e ao vivo.<br />

Simon Waters produziu música para diversas companhias de dança, incluindo a<br />

Rambert Dance. Actualmente director do estúdio electro-acústico da University of East<br />

Anglia, os seus primeiros trabalhos tiveram origem na reunião de técnicas de Musique<br />

Concrete. Pete McPhail tem relações estreitas com diversas companhias de teatro<br />

europeias. É um reconhecido saxofonista de jazz e actua regularmente na London Jazz<br />

Composer’s Orchestra.<br />

| 63


Susana Paiva<br />

PEQUENA FÁBRICA DE PINGUINS<br />

Kalpa<br />

Teatro de Marionetas [Portugal | França]<br />

Sábado, 03 Outubro | 10h30<br />

Abrantes | Cineteatro S. Pedro<br />

Sexta, 16 Outubro | 10h00<br />

Caldas da Rainha | Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha<br />

Segunda, 02 Novembro | 10h30 e 15h00<br />

Sesimbra | Cineteatro Municipal João Mota<br />

Domingo, 29 Novembro | 11h00<br />

Palmela | Centro Cultural do Poceirão<br />

Terça, 01 Dezembro | 16h00<br />

Sobral de Monte Agraço | Cineteatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Montijo | Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida [data a definir]<br />

Golegã | Cineteatro Gil Vicente [data a definir]<br />

Duração Espectáculo: 50min. [s/ int.] | Lotação Máxima: 80 espectadores | Público Alvo:<br />

Geral | Faixa Etária: m/6 anos<br />

Estamos na Turakia, um país distante e mágico, impossível de identificar nos mapas…<br />

Dois seres muito velhos, meio Homem, meio Anjo, trabalham no seu laboratório, na<br />

primeira incubadora do ovo do sentimento pinguim. Para tratar destes ovos mágicos é<br />

preciso muito cuidado, dedicação e o trabalho de muitas mãos.<br />

À medida que avançamos, novas personagens, pequenos operários desta fábrica vão<br />

surgindo, felizes e carrancudos, activos e misteriosos, descortinando o seu dia a dia, o<br />

seu ofício, os seus encontros e desencontros, as brigas, até que uma grande<br />

tempestade traz a bonança e é chegado o grande momento…O nascimento do<br />

pinguim.<br />

É um teatro visual que faz uso de objectos e marionetas.<br />

Neste espectáculo o cenário é muito simples – o laboratório clandestino [incubadora<br />

do ovo do sentimento pinguim] é constituído de três escrivaninhas antigas e um<br />

biombo ao fundo, a iluminação faz parte desta estrutura.<br />

As marionetas parecem corresponder perfeitamente àquele cenário, as cores<br />

partilhadas – desde os objectos, marionetas até os próprios ovos distribuídos pelo<br />

espaço.<br />

Não é fácil definir uma época, mas cheira a algo antigo e as actividades realizadas<br />

parecem fazer parte de uma rotina científica [por isso chamam de documentário –<br />

vamos assistir, entrar na intimidade deste laboratório], repetida minuciosamente a<br />

cada dia, naturalmente com alguns percalços.<br />

O trabalho das actrizes é feito literalmente a seis mãos, já que muitas vezes é mesmo<br />

assim que fazem viver as personagens [duas marionetas manipuladas ao mesmo<br />

tempo por três pessoas]. O corpo todo é utilizado de forma surpreendente, joga como<br />

objecto, cenário, multiplica-se. Há uma interacção constante, as actrizes não se<br />

escondem atrás das marionetas e objectos, pelo contrário, afirmam a sua presença<br />

física e dialogam entre si e com todos os elementos em cena – marionetas, objectos,<br />

cenário e música do espectáculo.<br />

O maior triunfo do espectáculo é propor este outro mundo, um universo inventado,<br />

criador de uma poética e um tempo próprios e conseguir transportar o público até ele.<br />

64 |


POLEGARZINHO<br />

Teatro de Marionetas do Porto<br />

Teatro de Marionetas [Portugal]<br />

Domingo, 20 Setembro | 16h00<br />

Cartaxo | Centro Cultural Município do Cartaxo<br />

Segunda, 05 Outubro | 16h00<br />

Sobral de Monte Agraço<br />

Cine-Teatro de Sobral de Monte Agraço<br />

Quinta, 08 Outubro | 10h30<br />

Abrantes | Cine-Teatro S. Pedro<br />

Terça, 13 Outubro | 14h30<br />

Alcobaça | Cine-Teatro de Alcobaça<br />

Quinta, 15 Outubro | 14h30<br />

Alcanena | Cine-Teatro São Pedro<br />

Domingo, 18 Outubro | 16h00<br />

Barreiro | Auditório Municipal Augusto Cabrita<br />

Duração Espectáculo: 50min. [s/ int.] | Público Alvo:<br />

Infantil e Familiar | Faixa Etária: m/4 anos<br />

Três vezes<br />

Crescerá e minguará<br />

A lua<br />

E depois uma criança nascerá<br />

A força do gigante<br />

E a bravura do leão<br />

Ela terá<br />

E ainda que não seja<br />

Maior do que o polegar<br />

Dela se falará<br />

Até ao fim dos tempos<br />

Henrique Delgado e Susana Neves

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!