Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina
Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina
Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
95<br />
eles mesclam-se, havendo o convívio dos antigos com os novos. É por<br />
isso que na Florença <strong>de</strong> Maquiavel e <strong>de</strong> Dante, Lourenço, o Magnífico,<br />
patrono das artes e amante da boa vida, atentou contra as liberda<strong>de</strong>s<br />
públicas; e Jerônimo Savonarola, um monge que <strong>de</strong>tém força política<br />
<strong>em</strong> fins do século XV, influenciará a queima <strong>de</strong> livros e <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte<br />
durante a quaresma <strong>de</strong> <strong>14</strong>97 50 . É, portanto, o período <strong>de</strong> agonia medieval,<br />
que ainda estertorava.<br />
I.4 A liberda<strong>de</strong> dos mo<strong>de</strong>rnos (o Iluminismo e a nova<br />
perspectivação do hom<strong>em</strong>).<br />
A ebulição <strong>de</strong> novas idéias ao longo da Renascença dá-se <strong>em</strong> momento<br />
<strong>de</strong> crise dos paradigmas da cultura medieval, quando, portanto,<br />
há uma espécie <strong>de</strong> exaustão <strong>de</strong> seus valores. Há nisso a preparação para<br />
o ingresso da Europa num novo estágio histórico-civilizacional, o da<br />
Ida<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna, quando o Estado surge <strong>em</strong> sua inteireza conceitual sob<br />
a forma <strong>de</strong> Estado-nação, isto é, tendo como referenciais i<strong>de</strong>ológico e<br />
político a estruturação dos objetivos <strong>de</strong>preendidos do próprio povo, e<br />
como propulsor disso o po<strong>de</strong>r político, que se transforma <strong>em</strong> soberania.<br />
O movimento cultural-político-econômico-jurídico <strong>de</strong> fins do<br />
século XVI, dominado pelos humanistas, será, <strong>de</strong>ssa forma, o arrimo<br />
para a circunstância 51 mo<strong>de</strong>rna, e já no século XVII, quando um Baruch<br />
Spinoza, bebendo nas fontes intelectuais do judaísmo, mas vivendo o<br />
cosmopolitismo dos Países Baixos, para on<strong>de</strong> muitos ju<strong>de</strong>us se refugia-<br />
50 Cf. CHEVALIER, Jean-Jacques. Las gran<strong>de</strong>s obras políticas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Maquiavelo hasta<br />
nuestros días. Tradução para o espanhol <strong>de</strong> Jorge Guerrero R. Bogotá: T<strong>em</strong>is, 1997,<br />
p. 7. Título original: Les gran<strong>de</strong>s œuvres politiques.<br />
51 O termo é aqui <strong>em</strong>pregue no sentido orteguiano – circum-stantia –, ou seja, tudo o<br />
que está “[...] <strong>em</strong> nosso próximo <strong>de</strong>rredor” e que, na visão global do hom<strong>em</strong> como<br />
ser histórico, será representado por círculos concêntricos. Ao interpretar a filosofia<br />
circunstancial <strong>de</strong> Ortega y Gasset, Kujawski refere que “A circunstância inclui-se<br />
sucessivamente, <strong>em</strong> outra circunstância maior, num jogo <strong>de</strong> círculos concêntricos,<br />
cuja circunferência ou periferia é o universo” (KUJAWSKI, Gilberto <strong>de</strong> Mello. Ortega<br />
y gasset: a aventura da razão. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1994, p. 15). E melhor aclarando<br />
seu pensamento, Ortega refere: “O hom<strong>em</strong> ren<strong>de</strong> o máximo <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong><br />
quando adquire plena consciência <strong>de</strong> suas circunstâncias. Por elas se comunica<br />
com o universo.” (Ortega y Gasset, José. Meditações <strong>de</strong> Quixote. Tradução <strong>de</strong><br />
Gilberto <strong>de</strong> Mello Kujakski. São Paulo: Livro Ibero-Americano, 1967, p. 47. Título<br />
original: Meditaciones <strong>de</strong>l Quijote).