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Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina

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91<br />

matarás – n<strong>em</strong> a outro n<strong>em</strong> a ti próprio matarás pois qu<strong>em</strong> a si próprio<br />

se mata, mata um hom<strong>em</strong>.” 39<br />

O <strong>de</strong>terminismo teológico-filosófico do período medieval, consi<strong>de</strong>ra<br />

– como pensava, aliá, S. Agostinho, qu<strong>em</strong> não nega a legitimida<strong>de</strong><br />

do rei autocrata, capaz <strong>de</strong> impor o mais severo dos regimes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

isso implique na ascensão do hom<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong> terrena (a Civitas diaboli)<br />

para a cida<strong>de</strong> divina (a Civitate Dei) – que o hom<strong>em</strong> terá como missão<br />

a procura da re<strong>de</strong>nção, situação que apenas começa a sofrer alguma<br />

mudança com S. Tomás <strong>de</strong> Aquino. Ao tratar da teologia medieval,<br />

Maritain escreve que o hom<strong>em</strong><br />

[...] carrega a herança do pecado original, nasce <strong>de</strong>spojado<br />

dos dons da graça, e, se b<strong>em</strong> que não s<strong>em</strong> dúvida substancialmente<br />

corrompido, é ferido <strong>em</strong> sua natureza. Doutro<br />

lado, é ferido para um fim sobrenatural: ver a Deus como<br />

Deus se vê; é feito para atingir à vida mesma <strong>de</strong> Deus; é<br />

atravessado pelas solicitações da graça atual, e se não opõe a<br />

Deus seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> recusa, é portador, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a terra, da vida<br />

propriamente divina da graça santificante e <strong>de</strong> seus dons. 40<br />

O tomista francês vai mais longe <strong>em</strong> suas observações quando refere<br />

que o pensamento filosófico-teológico da Ida<strong>de</strong> Média era dominado<br />

por S. Agostinho e que aquele período era “puramente e simplesmente”<br />

católico cristão, estabelecendo-se, pois, como paradigma cultural:<br />

Quando afirmava ao mesmo t<strong>em</strong>po a plena gratuida<strong>de</strong>, a<br />

soberana liberda<strong>de</strong>, a eficácia da graça divina, - e a realida<strong>de</strong><br />

do livre arbítrio humano; quando professava que Deus t<strong>em</strong><br />

a primeira iniciativa <strong>de</strong> todo b<strong>em</strong>, que ele dá o querer e o<br />

fazer, que <strong>em</strong> coroando nossos méritos ele coroa seus próprios<br />

dons, que o hom<strong>em</strong> não po<strong>de</strong> salvar-se sozinho, n<strong>em</strong><br />

começar sozinho a obra <strong>de</strong> sua salvação, n<strong>em</strong> preparar-se<br />

para ela sozinho, e que por isso mesmo ele só po<strong>de</strong> o mal<br />

e o erro; - e que entretanto é livre quando age sob a graça<br />

divina; e que, interiormente vivificado por ela, é capaz <strong>de</strong><br />

atos bons e meritórios; e que é o único responsável do mal<br />

39 Ibid<strong>em</strong>, p. 158. Ao referir-se sobre o suicida, S. Agostinho escreve: “Antes se reconhece<br />

neste caso uma alma débil que não é capaz <strong>de</strong> suportar a dura servidão do corpo<br />

n<strong>em</strong> a estulta opinião do vulgo.” (op. cit., p. 163).<br />

40 MARITAIN, Jacques. Humanismo integral: uma visão nova da ord<strong>em</strong> cristã. 5. ed.<br />

Tradução <strong>de</strong> Afrânio Coutinho. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965, p.<br />

10. Título original: Humanisme intégral.

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