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Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina

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86<br />

t<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> para ser feliz: uma vida virtuosa e sábia” 26 , imaginando,<br />

portanto, uma sofiocracia 27 , um governo <strong>de</strong> sábios. Por fim, não se po<strong>de</strong><br />

esquecer que os gregos adotavam o regime escravocrata e não tinham<br />

o apreço pela vida humana que as socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas conhecerão<br />

pela influência dos valores morais judaico-cristão, sendo que, conforme<br />

observa Amaral, n<strong>em</strong> mesmo o aristotelismo “[...] foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir<br />

o valor absoluto da pessoa humana: por isso, não se insurge contra a<br />

escravatura, ou contra a “exposição” dos recém-nascidos.” 28<br />

c) Há uma larga distância entre gregos e romanos no que concerne<br />

à concepção <strong>de</strong> mundo, a cosmovisão. Se os gregos almejavam a vida<br />

cont<strong>em</strong>plativa e voltada para a aquisição da sabedoria, que constituiria<br />

a virtu<strong>de</strong> máxima, os romanos mostrar-se-ão pragmáticos e é Cícero<br />

qu<strong>em</strong> refere no início do livro primeiro <strong>de</strong> Da república que “[...] não é<br />

bastante ter uma arte qualquer s<strong>em</strong> praticá-la. Uma arte qualquer, pelo<br />

menos, mesmo quando não se pratique, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como<br />

ciência; mas a virtu<strong>de</strong> afirma-se por completo na prática, e seu melhor<br />

uso consiste <strong>em</strong> governar a República e converter <strong>em</strong> obras as palavras<br />

que se ouv<strong>em</strong> nas escolas.” 29 E não será por outro motivo que os romanos<br />

<strong>de</strong>stacar-se-ão naquilo que os d<strong>em</strong>ais povos antigos ficaram para trás,<br />

na sist<strong>em</strong>atização <strong>de</strong> um corpus iuris e na prática forense que, conforme<br />

Hauriou, terá sido eficiente inclusive na proteção <strong>de</strong> certas liberda<strong>de</strong>s. 30<br />

É claro que os romanos ta<strong>mb</strong>ém estabeleceram sua socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

26 ibid<strong>em</strong>, p. 258.<br />

27 A expressão não é nossa, mas <strong>de</strong> Amaral, que refere: “Assim, Platão dá como assente,<br />

no início da evolução, a existência <strong>de</strong> sua Cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, a sofiocracia”. AMARAL,<br />

Diogo Freitas do. História das i<strong>de</strong>ias políticas. V. I. Coi<strong>mb</strong>ra: Almedina, 1998, p. 102.<br />

28 AMARAL, Diogo Freitas do. História das i<strong>de</strong>ias políticas, cit., p. 130.<br />

29 CÍCERO, Marco Túlio. Da república. 5. ed. Tradução <strong>de</strong> Amador Cisneiros. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Ediouro, s/d, p. 19-20. Título original: De republica. Não pod<strong>em</strong>os esquecer,<br />

contudo, que os romanos admiravam a filosofia grega e nela instruíam-se. É<br />

novamente Cícero qu<strong>em</strong> nos revela isto numa das cartas ao filho, <strong>em</strong> que escreve:<br />

“Ainda que tu, Marco, meu filho, te encontres <strong>em</strong> Atenas a estudar há já um ano<br />

sob a direcção <strong>de</strong> Cratipo, importa, no entanto, que sejas instruído com gran<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>penho nos preceitos e doutrinas da filosofia <strong>de</strong>vido ao elevado prestígio não só<br />

do mestre mas ta<strong>mb</strong>ém da cida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo aquele enriquecer-te com o seu saber<br />

enquanto esta, com seus ex<strong>em</strong>plos”. CÍCERO, Marco Túlio. Dos <strong>de</strong>veres. Tradução,<br />

introdução, notas, índice e glossário <strong>de</strong> Carlos Hu<strong>mb</strong>erto Gomes. Lisboa: Edições<br />

70, 2000, p. 15 (livro I). Título original: De officiis.<br />

30 Cf. HAURIOU, André. Droit constitutionnel et institutions politiques. Paris: Éditions<br />

Montchrestien, 1968, p. 38-40.

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