Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina

Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina

22.04.2015 Views

51 a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas com Deficiências (1999/2001). O Sistema Africano, ainda em fase inicial, foi inserido a partir de 2002 no âmbito da União Africana (UA) 16 , cujos tratados gerais são a Carta Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos (1981/85) e o Protocolo à Carta Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos no estabelecimento da Corte Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos (1998/2004). Enquanto o sistema global tem ênfase na universalidade, e este justamente é um elemento de dificuldade, em especial diante da diversidade cultural, religiosa, política e econômica, os sistemas regionais têm mais flexibilidade e atendem aos valores locais, muitas vezes não alcançados pelo sistema global. O sistema regional atende às características e peculiaridades geográficas, históricas e culturais dos povos dos Estados envolvidos. Aliás, o caráter de universalidade consiste numa das principais diferenças do sistema global de direitos humanos com relação a anteriores proteções ou direitos, que abrangiam apenas classes ou grupos determinados de pessoas. Os argumentos contra o caráter ideal e universal dos direitos humanos podem ser localizados tanto no plano das ideias como no aspecto dos movimentos políticos. Ademais, pode-se perceber que ainda se está longe de uma efetividade universal quanto aos postulados de direitos humanos. A propósito, Perez Luño sintetiza os contrapontos à questão da universalidade dos direitos humanos nos âmbitos filosófico, político e jurídico. 17 No plano filosófico, Perez Luño menciona Jean-François Lyotard, que na obra “A condição pós-moderna” defende valores alternativos, em especial o particularismo e a diferença, numa revisão crítica aos valores da modernidade, como o da racionalidade, da universalidade e da igualdade. Numa outra obra, “A diferença”, Lyotard diz que o que 16 Site oficial: http://africa-union.org 17 Com referência às críticas ao universalismo aqui expostas, ver: PEREZ LUÑO. La tercera gerneración de derechos humanos. p. 209-215.

52 enaltece o ser humano é seu esforço em se diferenciar dos demais. Nesse sentido, Perez Luño cita outro autor francês, Bernard-Henri Lévy, o qual argumenta que a racionalidade e a dignidade do ser humano se manifesta com o esforço por se diferenciar do grupo, em não se parecer com os demais. Perez Luño menciona, ainda, o movimento comunitarista, também contrário à universalidade dos direitos humanos, pois se opõe a uma visão abstrata e ideal forjados na modernidade. Quanto ao plano político, o ataque à universalidade tem como fundo o relativismo cultural, em que cada povo e cultura, historicamente, forma seu próprio modo de vida e, assim, não há que se falar em hegemonia. Assim, as sociedades livres e pluralistas não devem impor suas instituições aos demais. A crítica pode se referir, também, ao problema da imposição de valores como eurocentrismo, neoimperialismo ou neocolonialismo. Por último, no que concerne ao plano jurídico, a crítica ao universalismo pode ser localizada na heterogeneidade dos textos constitucionais comparados, em que, dependendo do tipo de Estado (liberal ou social) pode existir tratamento privilegiado e, portanto, diferenciados entre liberdades individuais e direitos sociais. Tais críticas, no entanto, são rebatidas por Perez Luño 18 : no que concerne às expressões modernidade e pós-modernidade, há que se compreendê-las na acepção cronológica, e não axiológica. Não significa que as novas concepções filosóficas ou pós-modernas sejam melhores que as antigas concepções. Quanto ao comunitarismo, a moral individual não se mostra mais adequada que o ethos social para os problemas ético-jurídicos contemporâneos. Deve-se afastar, contudo, o ethos social comunitário como um retorno de identidades coletivas nacionalistas e tribais. Aliás, enfatiza que o nacionalismo radical constitui-se num absurdo lógico e ético. Ora, concordando com Perez Luño no que se refere ao relativismo cultural, indaga-se: como admitir, ainda, nessa quadra da história, a mutilação genital feminina em países africanos e asiáticos, o analfabetismo e a violência imposta a mulheres em países em geral islâmicos, e toda uma série de violações e tiranias que atentam contra a dignidade 18 Quanto às boas razões do universalismo ver: PEREZ LUÑO, Antonio Enrique. La tercera generación de derechos humanos. p. 215-224.

52<br />

enaltece o ser humano é seu esforço <strong>em</strong> se diferenciar dos d<strong>em</strong>ais. Nesse<br />

sentido, Perez Luño cita outro autor francês, Bernard-Henri Lévy, o qual<br />

argumenta que a racionalida<strong>de</strong> e a dignida<strong>de</strong> do ser humano se manifesta<br />

com o esforço por se diferenciar do grupo, <strong>em</strong> não se parecer com<br />

os d<strong>em</strong>ais. Perez Luño menciona, ainda, o movimento comunitarista,<br />

ta<strong>mb</strong>ém contrário à universalida<strong>de</strong> dos direitos humanos, pois se opõe<br />

a uma visão abstrata e i<strong>de</strong>al forjados na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

Quanto ao plano político, o ataque à universalida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> como<br />

fundo o relativismo cultural, <strong>em</strong> que cada povo e cultura, historicamente,<br />

forma seu próprio modo <strong>de</strong> vida e, assim, não há que se falar <strong>em</strong><br />

heg<strong>em</strong>onia. Assim, as socieda<strong>de</strong>s livres e pluralistas não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> impor<br />

suas instituições aos d<strong>em</strong>ais. A crítica po<strong>de</strong> se referir, ta<strong>mb</strong>ém, ao probl<strong>em</strong>a<br />

da imposição <strong>de</strong> valores como eurocentrismo, neoimperialismo<br />

ou neocolonialismo.<br />

Por último, no que concerne ao plano jurídico, a crítica ao universalismo<br />

po<strong>de</strong> ser localizada na heterogeneida<strong>de</strong> dos textos constitucionais<br />

comparados, <strong>em</strong> que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> Estado (liberal ou social)<br />

po<strong>de</strong> existir tratamento privilegiado e, portanto, diferenciados entre<br />

liberda<strong>de</strong>s individuais e direitos sociais.<br />

Tais críticas, no entanto, são rebatidas por Perez Luño 18 : no que<br />

concerne às expressões mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, há que se<br />

compreendê-las na acepção cronológica, e não axiológica. Não significa<br />

que as novas concepções filosóficas ou pós-mo<strong>de</strong>rnas sejam melhores<br />

que as antigas concepções. Quanto ao comunitarismo, a moral individual<br />

não se mostra mais a<strong>de</strong>quada que o ethos social para os probl<strong>em</strong>as<br />

ético-jurídicos cont<strong>em</strong>porâneos. Deve-se afastar, contudo, o ethos social<br />

comunitário como um retorno <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s coletivas nacionalistas<br />

e tribais. Aliás, enfatiza que o nacionalismo radical constitui-se num<br />

absurdo lógico e ético.<br />

Ora, concordando com Perez Luño no que se refere ao relativismo<br />

cultural, indaga-se: como admitir, ainda, nessa quadra da história, a<br />

mutilação genital f<strong>em</strong>inina <strong>em</strong> países africanos e asiáticos, o analfabetismo<br />

e a violência imposta a mulheres <strong>em</strong> países <strong>em</strong> geral islâmicos, e<br />

toda uma série <strong>de</strong> violações e tiranias que atentam contra a dignida<strong>de</strong><br />

18 Quanto às boas razões do universalismo ver: PEREZ LUÑO, Antonio Enrique. La<br />

tercera generación <strong>de</strong> <strong>de</strong>rechos humanos. p. 215-224.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!