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227 problema da corrupção no Brasil possui um caráter estrutural e não conjuntural. Como combater, pois, uma moléstia, se percebemos apenas difusamente os seus sintomas? Parece óbvio que atacar os efeitos da corrupção, ignorando suas raízes mais profundas, seria o mesmo que abandonar os recursos da medicina preventiva para dedicar-se à abertura de nosocômios. Em breve, toda sociedade estará doente. 1 A não percepção social do avesso da realidade nacional, a hipocrisia generalizada e o desconhecimento da história e das próprias origens (a invenção e a colonização do Brasil), bem como a ausência de uma reflexão consciente do sujeito pensante, não permitem a compreensão do fenômeno da corrupção na sua integral composição. A corrupção nacional é decorrência da moral predatória caracteristicamente dominante no Estado patrimonial, que, conscientemente ou não, formatou um conjunto de padrões sociopolíticos de comportamento ético adverso às formas racionais mais modernas de trato da res pública. Tal comportamento, hábitos e costumes restaram cristalizados na mentalidade do homem português, orientada pelo pouco apego à lei, o uso pessoal do erário, a valorização da ineficiência, a aversão ao trabalho produtivo, o gosto pela ociosidade, a falta de regramento e disciplina, bem como a banalização da corrupção e da impunidade. Nesse contexto, cumpre reafirmar a importância de mobilizações sociais com a campanha “Ficha Limpa” e o projeto “O que você tem a ver com a corrupção?”, a partir do papel instrumental da educação na formação de uma nova consciência cidadã, voltada contra qualquer espécie de governo déspota, arbitrário e corrupto. Em resumo, o que se propõe no artigo – muito mais do que determinar teorias e fórmulas acabadas – é instigar o espírito crítico do leitor, tendo como ponto de partida a seguinte indagação: o que todos nós temos a ver com as eleições? 1 ZANCANARO, Antonio Frederico. A corrupção político-administrativa no brasil. São Paulo: Acadêmica, 1994. p.8.
228 2 A Corrupção Institucionalizada Não há como negar o fato de que o passado histórico de um povo ou uma nação, suas criações culturais, hábitos e costumes, enfim, seus acontecimentos experimentais, não se originam do vácuo inexistente, da criação divina ou do mero acaso. Cada acontecimento cultural tem sua existência determinada por outros acontecimentos culturais. Assim sendo, é a partir de valores já existentes que a humanidade recria a história, impondo novos padrões éticos e posturas morais. A ética é, pois, relacional, apresentando uma readequação social constante. Seu caráter instável e renovável possibilita a evolução ou o retrocesso do processo histórico. Representamos nossos exemplos e nossas vivências, construindo, através de ações, o resultado social prático que hoje se apresenta. A história do indivíduo só pode ser compreendida integralmente dentro do contexto social da experiência coletiva e histórica. Para Pinharanda Gomes, cultura é a “herança tradicional e multiforme, constantemente atualizada, mediante a opção por sucedâneos e por novas ou até aí ignoradas fórmulas de vida.” 2 Os valores morais e éticos, assim como a cultura, só podem ser realizados através da própria existência, ou seja, a partir das experiências atuais e históricas da humanidade. Nesse sentido, sendo o fenômeno da corrupção essencialmente cultural, há que se constar a herança de valores e antivalores que formataram o caráter, a índole e a identidade do brasileiro. Zancanaro, ao ressaltar a relevância da influência dos valores e antivalores da cultura política lusitana na formação da ética política nacional, afirma: A corrupção político-adminsitrativa desponta como um fenômeno detectado na cultura política de Portugal por expoentes do pensamento e da cultura lusitana do quilate de um Alexandre Herculano, Antero de Quental, Marcelo Caetano, Manoel Gonçalves Cerejeira, Lúcio de Azevedo, Diogo de Couto, Padre Antônio Vieira, Coelho da Rocha, só para citar 2 GOMES, Pinharanda. Fenomenologia da cultura portuguesa. Lisboa: Ultramar, 1970. p. 23.
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Não há como negar o fato <strong>de</strong> que o passado histórico <strong>de</strong> um povo<br />
ou uma nação, suas criações culturais, hábitos e costumes, enfim, seus<br />
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sua existência <strong>de</strong>terminada por outros acontecimentos culturais.<br />
Assim sendo, é a partir <strong>de</strong> valores já existentes que a humanida<strong>de</strong><br />
recria a história, impondo novos padrões éticos e posturas morais. A<br />
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Seu caráter instável e renovável possibilita a evolução ou o retrocesso<br />
do processo histórico. Representamos nossos ex<strong>em</strong>plos e nossas vivências,<br />
construindo, através <strong>de</strong> ações, o resultado social prático que hoje<br />
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A história do indivíduo só po<strong>de</strong> ser compreendida integralmente<br />
<strong>de</strong>ntro do contexto social da experiência coletiva e histórica. Para Pinharanda<br />
Gomes, cultura é a “herança tradicional e multiforme, constant<strong>em</strong>ente<br />
atualizada, mediante a opção por sucedâneos e por novas ou até aí ignoradas<br />
fórmulas <strong>de</strong> vida.” 2 Os valores morais e éticos, assim como a cultura, só<br />
pod<strong>em</strong> ser realizados através da própria existência, ou seja, a partir das<br />
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Nesse sentido, sendo o fenômeno da corrupção essencialmente<br />
cultural, há que se constar a herança <strong>de</strong> valores e antivalores que formataram<br />
o caráter, a índole e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do brasileiro. Zancanaro, ao<br />
ressaltar a relevância da influência dos valores e antivalores da cultura<br />
política lusitana na formação da ética política nacional, afirma:<br />
A corrupção político-adminsitrativa <strong>de</strong>sponta como<br />
um fenômeno <strong>de</strong>tectado na cultura política <strong>de</strong> Portugal<br />
por expoentes do pensamento e da cultura<br />
lusitana do quilate <strong>de</strong> um Alexandre Herculano,<br />
Antero <strong>de</strong> Quental, Marcelo Caetano, Manoel Gonçalves<br />
Cerejeira, Lúcio <strong>de</strong> Azevedo, Diogo <strong>de</strong> Couto,<br />
Padre Antônio Vieira, Coelho da Rocha, só para citar<br />
2 GOMES, Pinharanda. Fenomenologia da cultura portuguesa. Lisboa: Ultramar, 1970.<br />
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