Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina
Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina
Versao em Pdf (3,14 mb) - Ministério Público de Santa Catarina
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
100<br />
unidos pela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica e cultural, viam nas terras ocupadas um<br />
lar nacional e antes mesmo <strong>de</strong> as ter<strong>em</strong> <strong>de</strong>clarado como tal haviam dado<br />
passos importantes <strong>em</strong> direção à constituição política, como foi o caso<br />
do pacto <strong>de</strong> Mayflower, <strong>de</strong> 1620 60 ; os franceses, por sua vez, já haviam se<br />
organizado como Estado-nação, com po<strong>de</strong>r político central e estrutura<br />
burocrática, mas o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> governo absoluto havia chegado a um<br />
ponto <strong>de</strong> saturação que não mais se a<strong>de</strong>quava, por um lado, com as carências<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população e com os reclamos da bourgeoisie<br />
e, por outro lado, com o a<strong>mb</strong>iente cultural forjado ao longo do Siècle<br />
<strong>de</strong>s Lumières. Mas na Inglaterra os movimentos políticos ten<strong>de</strong>ntes à sua<br />
constituição <strong>de</strong>correram <strong>de</strong> forma diferente.<br />
É óbvio que não se quer aqui afirmar a inexistência <strong>de</strong> conflitos<br />
que, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, ocorreram ao t<strong>em</strong>po da Magna Charta Libertatum (1215),<br />
passando pela revolução que instalou a chamada República <strong>de</strong> Cromwell<br />
e, mais tar<strong>de</strong>, a restauração da monarquia (1660) e a revolução <strong>de</strong> 1688,<br />
que pôs fim à dinastia dos Stuarts, e o superveniente Bill of Rights. Mas<br />
é certo que o po<strong>de</strong>r político inglês se <strong>de</strong>senvolveu guiado pelo caráter<br />
institucionalizante daquele povo, que vê na multissecular monarquia<br />
um sí<strong>mb</strong>olo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional e que conhecia o gérmen <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a<br />
parlamentar <strong>de</strong> governo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fins do século XIII, sabendo-se que já <strong>em</strong><br />
1295 o Parlamento atuava com os três estados, clero, lor<strong>de</strong>s e comuns 61 .<br />
O povo inglês passou por um processo <strong>de</strong> progressiva consolidação <strong>de</strong><br />
suas instituições políticas que mais b<strong>em</strong> está relacionado com as experiências<br />
<strong>de</strong> efetiva ativida<strong>de</strong> política, que <strong>de</strong>nota seu pragmatismo, do que<br />
propriamente com o <strong>de</strong>calque <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los ou <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ários. René Pinon,<br />
ao tratar das liberda<strong>de</strong>s daquela parte da Europa insular, refere que “As<br />
instituições inglesas não <strong>de</strong>rivam do <strong>de</strong>senvolvimento dum princípio<br />
lógico e abstrato; elas são o produto dos fatos essencialmente <strong>em</strong>píricos,<br />
resultantes da dinâmica da história e da vida.” 62 De forma que po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os<br />
afirmar, com base na categoria <strong>de</strong>senvolvida por Hauriou 63 , que o<br />
60 Cf. REY CANTOR, Ernesto. Teorías políticas clásicas <strong>de</strong> la formación <strong>de</strong>l estado. 3.<br />
ed. Bogotá: T<strong>em</strong>is, 1996, p. 63-64.<br />
61 Cf. CAETANO, Marcello. Manual <strong>de</strong> ciência política e direito constitucional. Tomo<br />
I. 6. ed. rev. e ampl. por Miguel Galvão Teles. Coi<strong>mb</strong>ra: Almedina, 1996, p. 51.<br />
62 PINON, René. La conception britanique <strong>de</strong> la liberte. Revue Politique et Parlamentaire,<br />
t. CCXXVII, octobre-déc<strong>em</strong>bre, 1938, p. 395.<br />
63 Lamentavelmente André Hauriou não aplica a categoria diálogo entre autorida<strong>de</strong> e<br />
liberda<strong>de</strong> à experiência constitucional britânica, <strong>em</strong>bora ela caiba à perfeição.