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“o espelho”: teoria machadiana da alma humana - Revista Mundo ...

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<strong>Revista</strong> <strong>Mundo</strong> & Letras 143<br />

“O ESPELHO”: TEORIA MACHADIANA DA ALMA HUMANA<br />

BEGNOZZI, Marcela Cristina Cunha 1<br />

CORREA, Antônio Henrique 2<br />

RESUMO: A proposta deste trabalho é a de analisar a estrutura formal e conteudística<br />

de “O Espelho”, de Machado de Assis, para demonstrar como a atemporali<strong>da</strong>de está<br />

presente em seu conto. De acordo com Alfredo Bosi, “O Espelho” pertence a um grupo<br />

de contos classificados como conto-<strong>teoria</strong>, pois neles é desenvolvi<strong>da</strong> alguma reflexão<br />

sobre o comportamento humano, principalmente a relação entre aparência e essência.<br />

Assim, procuramos analisar de que modo Machado imortalizou essas reflexões. Entre<br />

outras coisas, confirmaremos a hipótese de Gledson (1998) de que, por meio de<br />

histórias aparentemente simples, construí<strong>da</strong>s a partir de situações cotidianas,<br />

comezinhas, Machado promove grandes reflexões sobre a existência <strong>humana</strong>. E tais<br />

reflexões são imortaliza<strong>da</strong>s pelo seu conteúdo e pela forma engenhosa com que o autor<br />

conduza a narrativa.<br />

Estu<strong>da</strong>r Machado de Assis é sempre importante porque, além de ser um grande<br />

representante <strong>da</strong> literatura, suas obras são fascinantes e atuais, mesmo tendo sido<br />

escritas no século XIX. Como afirma John Gledson (1998), apesar do enredo de suas<br />

histórias tratarem de assuntos comezinhos, nelas é possível perceber a profundi<strong>da</strong>de de<br />

reflexões propostas pelo autor brasileiro, fazendo com que simples ações do cotidiano<br />

tornem-se assuntos universais.<br />

Esses assuntos universais, construídos por meio de diversas formas, despertam o<br />

interesse de leitores em qualquer época. A análise do conto “O Espelho” permitirá<br />

conhecer e especificar esses procedimentos de Machado de Assis e, além disso, nos<br />

possibilitará desven<strong>da</strong>r a mensagem que ele deixa nas entrelinhas <strong>da</strong> narrativa. Em<br />

contos, como o que analisaremos, verifica-se que o autor trata de assuntos <strong>da</strong> existência<br />

<strong>humana</strong>: assuntos políticos e históricos, com a intenção de fazer críticas sociais. Seus<br />

personagens têm perfis psicológicos que representam características do homem que são<br />

atemporais, isto é, que provocam a reflexão contínua de nossa existência e tal reflexão<br />

privilegia a busca pela essência <strong>humana</strong>.<br />

Em relação às in<strong>da</strong>gações existenciais que perturbam a mente do ser humano, as<br />

incertezas continuam as mesmas <strong>da</strong> época em que Machado escreveu, apesar de to<strong>da</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça no mundo externo. O comportamento humano e a duali<strong>da</strong>de entre o “ser” e o<br />

“parecer” fazem seus “contos-<strong>teoria</strong>” (conceito desenvolvido por Alfredo Bosi sobre os<br />

contos machadianos que apresentam uma reflexão sobre a reali<strong>da</strong>de) permanecerem<br />

vivos no tempo. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo demonstrar, por meio<br />

<strong>da</strong> análise do conto, quais elementos fazem com que o texto de Machado de Assis seja<br />

atemporal.<br />

1 Facul<strong>da</strong>de de José Bonifácio (FJB). Graduação em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa e<br />

Inglesa e Respectivas Literaturas. mcbegnozzi@yahoo.com.br.<br />

2 Facul<strong>da</strong>de de José Bonifácio (FJB). Docente do curso de Letras. E-mail: correaah_letras@yahoo.com.br<br />

<strong>Mundo</strong> & Letras, José Bonifácio/SP, v. 2, Julho/2011


<strong>Revista</strong> <strong>Mundo</strong> & Letras 144<br />

Machado e o Conto-Teoria<br />

Machado de Assis é considerado um dos maiores escritores brasileiros e<br />

escreveu em diversos gêneros literários, entre eles o conto. Neste trabalho,<br />

pesquisaremos a atemporali<strong>da</strong>de de um de seus contos. Para isso, realizaremos a análise<br />

<strong>da</strong> estrutura do conto e de seu conteúdo, e esta análise será sustenta<strong>da</strong> por autores como<br />

Alfredo Bosi (2000), que discute a mu<strong>da</strong>nça de estilo de Machado de Assis e reflete<br />

sobre alguns temas filosóficos universais que fazem parte dos contos machadianos.<br />

Segundo ele, o tema mais comum é a relação entre a aparência e a essência. Machado<br />

teria percebido que o engano é uma necessi<strong>da</strong>de e a essência é troca<strong>da</strong> pela aparência,<br />

assim a máscara (uma aparência falsa, que ocupa o lugar do que se é na ver<strong>da</strong>de,<br />

segundo o crítico, a máscara é tão necessária que se torna uma defesa do homem) tão<br />

comum na socie<strong>da</strong>de, acaba se tornando a única ver<strong>da</strong>de. Além disso, Bosi sugere a<br />

hipótese de que Machado de Assis, na segun<strong>da</strong> fase de sua obra, teria criado contos<strong>teoria</strong>.<br />

Nos seus contos-<strong>teoria</strong>, Machado expõe algumas reflexões sobre temas<br />

universais e os comprova por meio de experiências vivi<strong>da</strong>s por seus personagens em<br />

algumas situações corriqueiras.<br />

Machado de Assis, segundo alguns estudiosos de sua obra, na fase madura<br />

(textos escritos após Memórias Póstumas de Brás Cubas) escreve seus contos mais<br />

geniais, tratando de tipos psicológicos e comportamentos do ser humano. Essas<br />

relações, segundo nossos estudos, revelarão um procedimento comum em Machado<br />

para refletir sobre temas atemporais. Outro autor que comenta sobre esse aspecto é John<br />

Gledson (2006). Segundo o crítico inglês, na segun<strong>da</strong> fase dos contos, a partir de Papéis<br />

Avulsos,<br />

[...] o poder <strong>da</strong> prosa de Machado ganha uma intensi<strong>da</strong>de e uma confiança<br />

inéditas. É como se, de fato, tivesse dominado uma série de efeitos novos,<br />

uma música nova. Temos até a impressão de que esse poder se enquadra<br />

menos em limites de gênero, como foi o caso antes, ou seria depois. É como<br />

se ele tivesse que criar uma forma própria para ca<strong>da</strong> conto: diálogo, pastiche,<br />

sátira, contos longos, médios, curtos. A prosa também se torna<br />

multidimensional, em grande parte por conta do humor (GLEDSON, 2006, p.<br />

47).<br />

Parte desse trabalho consiste na análise estrutural do conto, para isso<br />

estu<strong>da</strong>remos a relação entre Edgar A. Poe e Machado de Assis, pois há uma<br />

proximi<strong>da</strong>de entre os dois escritores na estrutura formal dos contos. Entre outros autores<br />

que analisam essas relações, pode-se citar Aguiar (1986), que afirma que Machado em<br />

seus contos recupera a <strong>teoria</strong> do efeito único cria<strong>da</strong> por Poe, porém, invertendo-a e, com<br />

isso, criando a <strong>teoria</strong> do não efeito.<br />

Nos contos de Edgar A. Poe, as histórias são construí<strong>da</strong>s para gerar o terror e o<br />

estranhamento, isso acontece por meio dos seus personagens, que têm atitudes que<br />

surpreendem os leitores. Machado inverte a <strong>teoria</strong> de Poe, o não efeito é usado para<br />

gerar o efeito.<br />

Para Cunha (1998) há uma relação entre o escritor norte-americano e Machado.<br />

Seu trabalho destaca a forma como Machado “apropria-se” dos conceitos, elaborados<br />

por Poe, sobre a composição dos contos. Para isso, Flores recupera no início do seu<br />

trabalho a <strong>teoria</strong> de Poe sobre o conto:<br />

Edgar A. Poe praticamente elaborou um manual teórico sobre as formas<br />

curtas de composição literária. O efeito único, movido por uma intenção<br />

inicial poderosa e exclusiva, a intensi<strong>da</strong>de ou totali<strong>da</strong>de de expressão e a<br />

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extensão ou brevi<strong>da</strong>de do texto são três elementos que, segundo Poe,<br />

asseguram ao conto ser o que é (CUNHA, 1998, p. 18).<br />

Como foi dito acima, Poe criou a <strong>teoria</strong> do conto, com a qual Machado de Assis<br />

dialogou, porém o autor deu-lhe nova forma. A <strong>teoria</strong> do efeito único é inverti<strong>da</strong> em<br />

<strong>teoria</strong> do não efeito.<br />

Também foram utiliza<strong>da</strong>s para a análise estrutural do trabalho as reflexões de<br />

Piglia, utiliza<strong>da</strong>s por Cunha (1998), a qual afirma que, segundo o ensaísta argentino, o<br />

conto deve narrar duas histórias e que essas histórias devem se ligar no final,<br />

colaborando com o efeito que a leitura deve provocar no leitor. Segundo Cunha (1998),<br />

Machado desenvolve seus contos seguindo essa premissa, porém, o encontro <strong>da</strong>s duas<br />

histórias, na maioria de seus contos, deixa de ter um final decisivo, ficando as duas<br />

histórias com enredos aparentemente não resolvidos. Desse modo, o efeito do conto será<br />

alcançado na forma como o leitor fizer sua leitura.<br />

Olhando para “O Espelho”<br />

O conto “O <strong>espelho”</strong> se inicia com uma conversa entre quatro ou cinco<br />

cavalheiros que discutiam assuntos transcendentais. Jacobina, que permanecia calado,<br />

era um homem com a mesma i<strong>da</strong>de dos demais, entre quarenta e cinqüenta anos. Em<br />

certo momento <strong>da</strong> conversa, discutiu-se sobre a natureza <strong>da</strong> <strong>alma</strong>. A opinião de Jacobina<br />

foi solicita<strong>da</strong> e ele se dispôs a contar um caso passado em sua vi<strong>da</strong>. Iniciou<br />

apresentando a tese de que todo ser humano possui duas <strong>alma</strong>s. Segundo ele, uma é a<br />

<strong>alma</strong> externa que pode ser um objeto, como um botão de camisa, além disso, ela<br />

também pode ser troca<strong>da</strong> várias vezes durante a vi<strong>da</strong>, porém a per<strong>da</strong> dessa <strong>alma</strong> pode<br />

ameaçar a existência de um homem. Em segui<strong>da</strong>, apresentou um fato de sua vi<strong>da</strong> que<br />

comprovava sua tese. Tudo começou quando ele tinha aproxima<strong>da</strong>mente vinte e cinco<br />

anos; era um rapaz pobre e fora nomeado alferes, título que lhe rendeu muitos elogios e<br />

até inveja. Todos que viviam a sua volta o chamavam apenas por alferes. Sua tia<br />

Marcolina convidou-o para passar alguns dias em seu sítio. Lá não era reconhecido pelo<br />

nome, mas apenas pela patente. A adoração pelo posto do rapaz era tanta que a tia<br />

colocou em seu quarto um espelho, peça mais rica e bela <strong>da</strong> casa.<br />

Segundo Jacobina, naquele momento o ser humano deu lugar ao alferes. Alguns<br />

dias depois, vendo-se sozinho no sítio, após a saí<strong>da</strong> de todos, ficou melancólico, pois<br />

Jacobina sente-se “inteiro” apenas quando algo ou alguém o lembra do posto que ele<br />

ocupava, desse modo, sua existência dependia <strong>da</strong> far<strong>da</strong> e <strong>da</strong> opinião dos outros.<br />

Jacobina, num momento de angústia, se olha no espelho e vê sua imagem esfumaça<strong>da</strong>,<br />

então se lembra de vestir a far<strong>da</strong>, ao se olhar no espelho pode ver sua imagem refleti<strong>da</strong><br />

integralmente: sua <strong>alma</strong> exterior estava de volta. E assim, ao longo de uma semana,<br />

vestia a far<strong>da</strong> e ficava diante do espelho nos momentos de crise, até a chega<strong>da</strong> de sua<br />

tia. Após tais relatos, quando os outros cavalheiros perceberam, Jacobina já descia as<br />

esca<strong>da</strong> <strong>da</strong> casa, deixando seus ouvintes perplexos.<br />

Após essa síntese do enredo, será apresenta<strong>da</strong> uma análise do conto, procurando<br />

refletir sua atemporali<strong>da</strong>de a partir de sua estrutura formal e de seu conteúdo.<br />

Primeiramente, percebe-se que o conto possui duas histórias. Primeiro tem-se a história<br />

em que quatro ou cinco cavaleiros conversam sobre assuntos metafísicos; essa história<br />

funciona como um pano de fundo para a outra. A segun<strong>da</strong> história é composta pela<br />

<strong>teoria</strong> desenvolvi<strong>da</strong> por Jacobina sobre a existência de duas <strong>alma</strong>s (interior e exterior)<br />

em ca<strong>da</strong> ser humano e pela experiência por ele vivi<strong>da</strong> aos vinte e cinco anos que serviu<br />

de base para que elaborasse sua tese. Desse modo, o conto se encaixa na reflexão de<br />

Ricardo Piglia, como aponta Cunha (1998), de que um bom conto deve narrar duas<br />

histórias e que essas devem se ligar no final, colaborando com o efeito que a leitura do<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>Mundo</strong> & Letras 146<br />

conto deve provocar no leitor. Segundo a autora, Machado desenvolve seus contos<br />

seguindo essa premissa, porém, o encontro <strong>da</strong>s duas histórias, na maioria de seus<br />

contos, deixa de ter um final decisivo, ficando as duas histórias com enredos<br />

aparentemente não resolvidos. Desse modo, o efeito do conto será alcançado na forma<br />

como o leitor fizer sua leitura.<br />

Conforme vimos em nossos pressupostos teóricos, o conto, segundo Edgar A.<br />

Poe, é formado por três elementos: o efeito único, a intensi<strong>da</strong>de e a brevi<strong>da</strong>de.<br />

Machado de Assis dialoga com essa <strong>teoria</strong> de Poe como mostra Cunha:<br />

Portanto pode-se afirmar certamente que, com respeito à escritura dos contos,<br />

uma contribuição relevante a Machado foram os contos e, por extensão, os<br />

pressupostos conceptuais de Edgar A. Poe sobre o assunto. Essa confluência<br />

se faz sobretudo de forma estrutural e temática, mas como qualquer outra em<br />

Machado – pois existem várias – permite intrinsecamente uma leitura às<br />

avessas dos mesmos (CUNHA, p.66, 1998).<br />

Pode-se ver o uso do recurso <strong>da</strong> brevi<strong>da</strong>de no conto “O Espelho” a partir do<br />

subtítulo “Esboço de uma nova <strong>teoria</strong> <strong>da</strong> <strong>alma</strong> <strong>humana</strong>”, onde o autor nos adianta que o<br />

conto se preocupará em anunciar uma nova <strong>teoria</strong>. Machado, então, já se antecipa em<br />

dizer que é um esboço de uma <strong>teoria</strong> para ganhar tempo. Para Onei Boracini (2000), o<br />

vocábulo “esboço” indica a preferência do autor pela forma aberta que trata seu tema,<br />

esse subtítulo já diz qual o formato do texto. A primeira história, que tem função apenas<br />

de servir de contexto para a segun<strong>da</strong>, é conta<strong>da</strong> de forma concisa nas descrições do<br />

ambiente onde se encontram os homens e na descrição de Jacobina, isto é, foca apenas<br />

no que é mais importante para a ideia geral do conto.<br />

No início <strong>da</strong> narrativa, o narrador descreve a cena em que quatro ou cinco<br />

cavalheiros conversavam, com elementos que levam o leitor a imaginar a situação, mas<br />

a descrição é breve, curta, tentando passar uma ideia geral do momento.<br />

A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumia<strong>da</strong> a velas,<br />

cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a<br />

ci<strong>da</strong>de, com suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas<br />

pestanejavam, através de uma atmosfera límpi<strong>da</strong> e sossega<strong>da</strong>, estavam nossos<br />

quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo<br />

amigavelmente os mais árduos problemas do universo (ASSIS, 1998, p.<br />

401) 3 .<br />

O mesmo acontece com a descrição de Jacobina “entre quarenta e cinqüenta<br />

anos” e “astuto e cáustico” (ASSIS, 1998, p. 401). Como dissemos, a primeira história é<br />

apenas uma contextualização para a segun<strong>da</strong>. Também é possível perceber o recurso <strong>da</strong><br />

brevi<strong>da</strong>de na forma com que Jacobina conta sua história. Nota-se que ele apresenta<br />

apenas um episódio de sua vi<strong>da</strong>.<br />

― Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome chama-se Legião...<br />

E assim outros muitos casos. Eu mesmo tenho experimentado dessas trocas.<br />

Não as relato, porque iria longe; restrinjo-me ao episódio de que lhes falei.<br />

Um episódio dos meus vinte e cinco anos... (ASSIS, 1998, p. 403).<br />

3 John Gledson, em Contos: uma antologia (1998), reuniu 75 contos publicados, entre 1858 e 1907, por<br />

Machado de Assis, apresentando os textos em sua forma original, isto é, do modo como foram<br />

publicados nos periódicos <strong>da</strong> época. Em virtude desse trabalho minucioso realizado por Gledson, que<br />

escolhemos sua edição para citar trechos do conto “O Espelho”.<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>Mundo</strong> & Letras 147<br />

Poe ain<strong>da</strong> refere-se à brevi<strong>da</strong>de como uma forma de intensificar o que é narrado<br />

no conto. Aguiar (1986) assinala em seu artigo que Machado de Assis transforma a<br />

<strong>teoria</strong> do efeito de Poe em <strong>teoria</strong> do não efeito. Poe em seus contos queria causar nos<br />

leitores o terror, Machado, no entanto, concebe nova forma a <strong>teoria</strong> do conto cria<strong>da</strong> por<br />

Poe.<br />

O efeito de seu conto está no evento fantástico <strong>da</strong> história, em que Jacobina cria<br />

uma <strong>teoria</strong> a partir de uma experiência vivi<strong>da</strong> por ele e comprova-a contando o fato<br />

ocorrido com ele. Desse modo, o narrador associa a <strong>teoria</strong> e a prática; [...] “posso<br />

contar-lhes um caso de minha vi<strong>da</strong>, em que ressalta a mais cara demonstração acerca <strong>da</strong><br />

matéria de que se trata” (ASSIS, 1998, p.402).<br />

O final <strong>da</strong> história mostra o não efeito na forma do conto, pois este não é<br />

fechado, isto é, não há um diálogo entre Jacobina e seus ouvintes que possa explicar<br />

melhor ou narrar com mais riqueza de detalhes o que realmente se passou com Jacobina,<br />

principalmente, no que se refere ao evento fantástico ocorrido com o alferes, ao ver-se<br />

fragmentado no espelho. “Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto<br />

do universo; não me estampou a figura níti<strong>da</strong> e inteira, mas vaga, esfuma<strong>da</strong>, difusa,<br />

sombra de sombra” (ASSIS, 1998, p. 409). Jacobina conta sua história e vai embora de<br />

repente, quando os outros percebem ele já se foi, a sensação dos ouvintes é mesma que<br />

o leitor sente ao terminar o conto, isto é, como se ele não tivesse um final. Entre outras,<br />

fica a in<strong>da</strong>gação de qual a intenção do autor com esta atitude. Machado, quando<br />

escreve, propõe um diálogo com seu leitor e, ao mesmo tempo, usa de enigmas para<br />

envolvê-lo e conduzi-lo ao efeito desejado, desse modo, um leitor um pouco desatento<br />

não percebe suas armadilhas e chega ao fim <strong>da</strong> história sem perceber o que aconteceu.<br />

Deixar de ler as entrelinhas pode levar o leitor a se assustar com o final que não<br />

encontra no conto. Como propõe Cunha:<br />

“O “efeito” do conto machadiano não é apenas fruto <strong>da</strong> técnica ou <strong>da</strong><br />

habili<strong>da</strong>de do escritor em li<strong>da</strong>r com os elementos expressivos <strong>da</strong> linguagem<br />

que utiliza e cria, mas decorre principalmente do “susto” que dá no leitor,<br />

quando descobre o “Outro” que emerge surpreendentemente <strong>da</strong> “iluminação”<br />

profana desse conto” (CUNHA, P. 107, 1998).<br />

Machado conduz seu leitor de modo a envolvê-lo, escondendo-se nos seus<br />

relatos aparentemente simples de situações corriqueiras e dizendo sutilmente nas<br />

entrelinhas aquilo que deseja. Quando o leitor percebe, aconteceu o esperado pelo autor:<br />

ele foi enganado.<br />

Termina<strong>da</strong> a análise <strong>da</strong> estrutura formal do conto, iniciará a análise conteudística<br />

a partir de nossa leitura sustenta<strong>da</strong> pelos autores já mencionados nos pressupostos<br />

teóricos.<br />

Foram contados, na conversa, “quatro ou cinco cavalheiros”, a presença de<br />

Jacobina não é defini<strong>da</strong>, o que para John Gledson (1998) deixa a dúvi<strong>da</strong> se ele faz parte<br />

ou não <strong>da</strong> conversa. Jacobina, como já foi dito, é descrito como um homem maduro:<br />

“Esse homem tinha a mesma i<strong>da</strong>de dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos,<br />

era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e<br />

cáustico” (ASSIS, 1998, p. 401). Essa era sua posição quando conta sua experiência<br />

vivi<strong>da</strong> aos vinte e cinco anos em que era um rapaz pobre e que foi nomeado alferes <strong>da</strong><br />

guar<strong>da</strong> nacional. Para Bosi (2000), existe uma diferença entre a primeira condição e a<br />

última, que é a mu<strong>da</strong>nça de classe, pois, por meio dela, ele incorporou a <strong>alma</strong> externa, a<br />

aparência. Segundo o crítico, a narrativa tenta passar que a aceitação <strong>da</strong> <strong>alma</strong> externa é<br />

uma questão de sobrevivência, como se não fosse possível sobreviver sem estar dentro<br />

<strong>da</strong>s condições impostas, <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> máscara.<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>Mundo</strong> & Letras 148<br />

Depois de um tempo em silêncio, Jacobina resolve contar uma experiência<br />

vivi<strong>da</strong> por ele, exige silêncio <strong>da</strong>queles que o ouvem, não queria interrupções. “Mas, se<br />

querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vi<strong>da</strong>, em que ressalta a<br />

mais cara demonstração acerca <strong>da</strong> matéria de que se trata” (ASSIS, 1998, p. 402). Ele<br />

cria sua <strong>teoria</strong>, provando-a com sua experiência, e não aceita ouvir opiniões nem <strong>da</strong>r<br />

explicações sobre o fato. Segundo Gledson (1998, p.30), “Machado não afirma nem<br />

nega, simplesmente se abstém ― graceja, redefine, conta histórias”.<br />

No início de sua <strong>teoria</strong>, Jacobina afirma que “não há uma só <strong>alma</strong>, há duas...”, o<br />

que poderia ser, segundo Gledson (1998), uma sátira social. No conto, o personagem<br />

relata que essa <strong>alma</strong> externa pode mu<strong>da</strong>r em algumas pessoas: “― Essa senhora é<br />

parenta do diabo, e tem o mesmo nome chama-se Legião... E assim outros muitos<br />

casos” (ASSIS, 1998, p. 403). O que pode confirmar isso, segundo ele, é a senhora no<br />

qual Jacobina se refere que troca de <strong>alma</strong> várias vezes ao ano, em um momento, sua<br />

<strong>alma</strong> se resumia a um concerto depois a um baile. A <strong>alma</strong> exterior que “não é sempre a<br />

mesma” é apresenta<strong>da</strong> por máscaras que irão se atualizar conforme a necessi<strong>da</strong>de e a<br />

situação pedem. A aparência reforça o que o personagem quer ou precisa ser diante <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de, sua inserção social dependerá <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong>de de se mol<strong>da</strong>r às exigências<br />

dos demais. Jacobina nos diz: “Há casos, por exemplo, em que um simples botão de<br />

camisa é a <strong>alma</strong> exterior de uma pessoa; ― e assim também a polca, o voltarete, um<br />

livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc” (ASSIS, 1998, p.<br />

402).<br />

Como se vê, a <strong>alma</strong> exterior é representa<strong>da</strong> por algo exterior ao corpo, como<br />

objetos e modo de se vestir, assim, ela está liga<strong>da</strong> ao campo <strong>da</strong>s aparências, mas,<br />

segundo Jacobina, ela é tão importante quanto a <strong>alma</strong> interna, pois sua per<strong>da</strong> pode<br />

ameaçar a existência de um homem.<br />

Jacobina, a partir de uma experiência vivi<strong>da</strong> por ele, cria a <strong>teoria</strong>. Desse modo,<br />

se aproveita de apenas um acontecimento para formar uma <strong>teoria</strong> universal. Segundo<br />

Alfredo Bosi (2000), esse procedimento constrói um “conto-<strong>teoria</strong>”, isto é, uma<br />

narrativa que procura dialogar com um tema universal, nesse caso, a relação entre a<br />

aparência e a essência.<br />

Jacobina era um rapaz pobre, uma pessoa comum que, com a nomeação de<br />

alferes, começa a sentir as mu<strong>da</strong>nças que o título lhe causava, a far<strong>da</strong> lhe trouxe até<br />

algumas inimizades, mas os elogios se destacaram mais. O rapaz começa a ser<br />

substituído pelo alferes, sendo que é possível notar este fato na fala <strong>da</strong> própria mãe<br />

quando o chama por “seu alferes”.<br />

Ao passar uma tempora<strong>da</strong> no sítio de sua tia Marcolina, Jacobina alferes passa a<br />

ser admirado por ela e por seus empregados: seu nome foi trocado pelo título. Sua <strong>alma</strong><br />

externa estava cria<strong>da</strong> e sua máscara forma<strong>da</strong>. Essa máscara seria sua ver<strong>da</strong>deira<br />

aparência, sendo mais importante do que sua essência. Como afirma Bosi (2000), as<br />

máscaras são tão comuns na socie<strong>da</strong>de que elas acabam se tornando a única ver<strong>da</strong>de.<br />

A tia estava tão entusiasma<strong>da</strong> com o alferes, que colocou em seu quarto um<br />

“grande <strong>espelho”</strong> diferente de to<strong>da</strong> a mobília <strong>da</strong> casa:<br />

Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta her<strong>da</strong>ra <strong>da</strong> mãe, que o<br />

comprara a uma <strong>da</strong>s fi<strong>da</strong>lgas vin<strong>da</strong>s em 1808 com a corte de D. João VI. Não<br />

sei o que havia nisso de ver<strong>da</strong>de; era tradição. O espelho estava naturalmente<br />

muito velho, uns delfins esculpidos nos ângulos superiores <strong>da</strong> moldura, uns<br />

enfeites de madrepérola e outros caprichos do artista. Tudo velho, mas bom...<br />

(ASSIS, 1998, p. 405).<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>Mundo</strong> & Letras 149<br />

O homem, isto é, o ser humano, deu lugar ao alferes, sua <strong>alma</strong> agora era a far<strong>da</strong>.<br />

“O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se;<br />

mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de<br />

humani<strong>da</strong>de” (ASSIS, 1998, p. 405).<br />

Passado algum tempo, Jacobina ficou no sítio sozinho, mas estando só não havia<br />

admiração e elogios para <strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> ao alferes. Sua <strong>alma</strong> externa que fora imposta pelos<br />

outros não tinha público para alimentá-la.<br />

“Achei-me só, sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro<br />

deserto e <strong>da</strong> roça abandona<strong>da</strong>. Nenhum fôlego humano. [...] Nenhum ente humano.<br />

Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? era pior” (ASSIS, 1998, p. 407).<br />

Jacobina precisava de pessoas em sua volta e de convívio social. Como afirma Alfredo<br />

Bosi (2000), “O Espelho” é a prova <strong>da</strong> certeza <strong>machadiana</strong> de que a <strong>alma</strong> precisa do<br />

convívio social e de público, sem eles ela é vazia. Para o autor, o conto “O Espelho” é<br />

considerado o mais celebre dos contos-<strong>teoria</strong> de Machado de Assis, pois nele é possível<br />

perceber que, além <strong>da</strong> <strong>alma</strong> de Jacobina ser a far<strong>da</strong>, vesti-la apenas não é suficiente, ele<br />

precisa ser visto e reconhecido.<br />

Quando Jacobina se olha no espelho, vê apenas uma imagem esfumaça<strong>da</strong>, para<br />

Bosi (2000), essa imagem deixa claro que a máscara proporciona segurança, pois<br />

substituiu o homem, já que a imagem que aparece vagamente no vidro é a dúvi<strong>da</strong>.<br />

“O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me estampou a<br />

figura níti<strong>da</strong> e inteira, mas vaga, esfuma<strong>da</strong>, difusa, sombra de sombra” (ASSIS, 1998, p.<br />

409). Finalmente, no fim <strong>da</strong> história, ele teve a idéia de vestir a far<strong>da</strong> e se olhar no<br />

espelho, para resolver a situação em que se encontrava, isto é, não conseguir ver sua<br />

própria imagem.<br />

Lembrou-me vestir a far<strong>da</strong> de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como<br />

estava defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhe digo na<strong>da</strong>; o vidro<br />

reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum<br />

contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a <strong>alma</strong><br />

exterior. Essa <strong>alma</strong> ausente com a dona do sítio, dispersa e fugi<strong>da</strong> com os<br />

escravos, ei-la recolhi<strong>da</strong> no espelho (ASSIS, 1998, p. 410).<br />

Jacobina, ao vestir sua far<strong>da</strong>, pôde se ver por inteiro no espelho. Quando tirava a<br />

far<strong>da</strong>, sua existência não fazia sentido, sua <strong>alma</strong> externa naquele momento era a far<strong>da</strong> de<br />

alferes.<br />

Ele criou sua <strong>teoria</strong> e apresentou uma solução engenhosa para o fato:<br />

Lembrou-me vestir a far<strong>da</strong> de alferes [...] Daí em diante, fui outro. Ca<strong>da</strong> dia,<br />

a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo,<br />

olhando, meditando; no fim de duas, três horas, despia-me outra vez. Com<br />

este regime pude atravessar mais seis dias de solidão, sem os sentir... (ASSIS,<br />

1998, p.410).<br />

Como afirma John Gledson (1998, p.28), “as soluções para os contos <strong>da</strong> sua<br />

maturi<strong>da</strong>de de Machado são tanto ou mais engenhosas [...]”. Jacobina então abandona a<br />

sala onde estava com os companheiros antes que eles pudessem perceber, o conto<br />

termina de maneira enigmática, assim como iniciou o assunto. Exigindo não ser<br />

interrompido, terminou.<br />

Considerações Finais<br />

“O Espelho” é um conto-<strong>teoria</strong> e, como já vimos, os contos-<strong>teoria</strong> de Machado<br />

de Assis dialogam com temas universais. Nesse caso, a personagem Jacobina cria a sua<br />

<strong>Mundo</strong> & Letras, José Bonifácio/SP, v. 2, Julho/2011


<strong>Revista</strong> <strong>Mundo</strong> & Letras 150<br />

<strong>teoria</strong> sobre a <strong>alma</strong>, que nas entrelinhas pode ser entendi<strong>da</strong> como a discussão sobre a<br />

aparência e a essência. A situação descrita no texto e os sentimentos do personagem,<br />

que se sente perdido sem sua imagem, metaforizam as atitudes de pessoas que<br />

confundem sua existência com suas posses, e como se pode observar, essas atitudes<br />

continuam vivas. O leitor se identifica com o personagem criado por Machado, pois o<br />

texto trata de um comportamento humano do século XIX, mas que continua<br />

acontecendo apesar de to<strong>da</strong>s as mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s no mundo e no homem.<br />

As questões menciona<strong>da</strong>s no conto se refletem até hoje na socie<strong>da</strong>de: máscara,<br />

aparência, o “eu” entre o social e o individual. Isto é, um dos motivos de sua obra<br />

resistir ao tempo, é o fato de trazer em sua essência algo que é atemporal, como os<br />

medos, os valores éticos e morais e a eterna dúvi<strong>da</strong> existencial que preocupa o homem<br />

de qualquer período histórico.<br />

Machado deixa o conto inacabado, porém, foi revelado durante todo o conto a<br />

duali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>alma</strong>. O final aberto permite ao leitor fazer suas próprias reflexões sobre o<br />

assunto do conto, pode-se fazer uma interpretação diferente em diferentes leituras,<br />

assim como pode ser lido de forma diferente em outro momento. Seu estilo de escrever<br />

nas entrelinhas a mensagem que deseja transmitir exige uma leitura reflexiva, não<br />

apenas superficial, assim, essas exigências pede leitores letrados e atentos. Talvez, em<br />

sua época, não fosse compreendido pela maioria, em virtude <strong>da</strong> falta de instrução. Como<br />

se sabe, grande parte <strong>da</strong> população do século XIX não era alfabetiza<strong>da</strong>, pertencendo a<br />

poucos o domínio <strong>da</strong> escrita e <strong>da</strong> leitura. O que pode significar que Machado escrevia<br />

para o futuro, <strong>da</strong>í um dos motivos de permanecer atual.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

AGUIAR, F. Poe e Machado de Assis: conto e catástrofe. In: Simpósio de Literatura<br />

Compara<strong>da</strong>, 2, 1986, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: UFMG, Facul<strong>da</strong>de de<br />

Letras, 1986.<br />

ASSIS, M. de. Contos: uma antologia. Seleção, introdução e notas de John Gledson.<br />

São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1998. v1.<br />

BORACINI, O. Papéis Avulsos: Uma Análise dos Textos e o seu Contexto. São José<br />

do Rio Preto, 2000. Dissertação – Universi<strong>da</strong>de Estadual paulista, Instituto de<br />

Biociências, Letras e Ciências Exata.<br />

BOSI, Alfredo. Machado de Assis: O enigma do olhar. São Paulo: Ática, 2000.<br />

CINTRA, I. Â. O nariz metafísico ou a retórica <strong>machadiana</strong>. In: MARIANO, A.S.;<br />

OLIVEIRA, M. R. D. Recortes Machadianos. São Paulo: EDUC, 2003.<br />

CUNHA, P. L. Machado de Assis: um escritor na capital dos trópicos. Porto Alegre:<br />

IEL: Editora Unisinos, 1998.<br />

GLEDSON, J. Por um novo Machado de Assis: ensaios. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s<br />

Letras, 2006.<br />

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