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Desporto&Esport edição 5

Revista digital Desporto&Esport (www.desportoeesport.com)Faça o Download desta revista em: https://www.magzter.com/PT/Desporto&Esport;/Desporto-&-Esport/Sports/201599 ou se preferir o Paypall https://www.presspadapp.com/digital-magazine/desporto-esport

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2 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


EDITORIAL<br />

Se o futebol é o desporto Rei, os árbitros são as rainhas de<br />

todas as conversas pós jogos, tanto nas tabernas com um<br />

copo de cerveja na mão, quer nos inúmeros programas<br />

televisivos nos vários canais por cabo. As arbitragens são<br />

sempre o assunto. E se na maioria dos países europeus existe<br />

uma cultura desportiva que relega este “debate” para segundo<br />

plano, Portugal e Brasil, aqui de facto “países irmãos”,<br />

não conseguem fugir à discussões do penalti mal marcado<br />

ou do fora-de-jogo/impedimento de mais de meio metro<br />

que o arbitro-assistente escandalosamente não marcou.<br />

Para muitos, a solução para ultrapassar esta fixação tão<br />

lusófona é uma aposta séria e total na tecnologia na arbitragem,<br />

independentemente dos custos tantos desportivos<br />

como económicos. No entanto, para a maioria, tecnologia<br />

é unicamente sinonimo de vídeo-arbitro – para os menos<br />

conhecedores, um árbitro fora do terreno de jogo que toma<br />

as decisões mais difíceis com acesso às imagens televisivas.<br />

No entanto, não devemos cometer o erro de fixar unicamente<br />

o debate no vídeo-arbitro e deixar de lado outros meios e<br />

outras ferramentas que podem inclusive ser imensamente<br />

mais vantajosas. Nesta quinta <strong>edição</strong> da Desporto&<strong>Esport</strong><br />

trazemos para capa este debate e apontamos algumas<br />

daquelas que podem ser verdadeiras possibilidades de auxílios<br />

tecnológicos para os árbitros, sem nos esquecermos de<br />

apontar os principais vantagens e/ou entraves a adotar mais<br />

meios tecnológicos e às mudanças que inevitavelmente elas<br />

poderão criar numa partida de futebol.<br />

EDITOR<br />

Diogo Sampaio<br />

d_sampaio@desportoeesport.com<br />

C OLONISTAS<br />

Pedro M. Silva, Vitor E. Santos,<br />

Diogo Sampaio, Ricardo Reis, Tiago<br />

Dinis e Rodolfo Resende Pires.<br />

C ONVIDADOS<br />

Mónica M. Neves, Antonio Pedro<br />

Silva, Rui P. Gavião, Shara Lylian<br />

Lopes, Alexandre Pais, José Gouveia,<br />

Gina Ramos, Pedro Marra, Nilo Terra<br />

Contatos<br />

contato@desportoeesportcom<br />

Website<br />

www.desportoeesport.com<br />

Chamamos o ciclismo para matéria especial nesta quinta<br />

<strong>edição</strong>, o ciclismo e a ciência. E, temos ainda José Mourinho<br />

e da forma como o seu pensamento analítico é semelhante<br />

ao de um “ceo” de uma qualquer grande empresa. E, qual é<br />

o segredo dos Alemães – campeões do Mundo? Nós respondemos.<br />

E, entre o futebol e o futsal - qual dos dois é fisicamente<br />

mais exigente? E, qual a percentagem da sorte no<br />

futebol? Ou o futuro dos jornais desportivos em papel? E,<br />

ainda qual a alimentação mais adequada para os velocistas?<br />

Ou, ainda qual a importância do pensamento para a performance?<br />

Ou… Nós temos as respostas…<br />

Diogo Sampaio, Director<br />

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Desporto&<strong>Esport</strong><br />

ÍNDICE<br />

Edição 5 - 2015<br />

122<br />

Especiais<br />

O Bayern de Guardiola<br />

A análise técnico-tático da equipa da Baviera. Os modelos e a aparente<br />

anarquia imposta por Pep Guardiola.<br />

26<br />

80<br />

39<br />

06<br />

Velocistas & Nutrição<br />

As necessidades nutricionais das corridas das corridas de curta distância<br />

como os 100 ou 200m.<br />

Calculando a “Sorte”<br />

O futebol é também feito daqueles acasos chamados de sorte, mas qual é de<br />

facto o seu valor?<br />

Torcedor ganha jogos?<br />

Qual a importancia do adepto e de que forma ele interfere com o jogo?<br />

Som, arquibancadas e emoção!<br />

Arbitragens e meios<br />

tecnológicos<br />

Prós e contras! E, as tecnologias do futuro!<br />

18<br />

José Mourinho: Liderança. Gestão,<br />

Marketing e pensamento analítico<br />

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48<br />

CICLISMO E CIÊNCIA - COMO A<br />

TECNOLOGIA ESTÁ A REVOLUCIONAR<br />

ESTE DESPORTO<br />

46 Futebol: como bem defender?<br />

32 Messi vs. CR7 - quem toma<br />

melhores decisões<br />

42 Futebol&Futsal: níveis musculares<br />

nas várias posições. E, qual das<br />

suas é mais desgastante?<br />

17 Alexandre Pais escreve: 10 anos<br />

de queda da imprensa desportiva<br />

94 Dança: Arte, beleza e poesia -<br />

Um estar entre o céu e o chão<br />

58 Ténis: lesões alta competição<br />

64 A influência dos pensamentos<br />

na performance esportiva<br />

66 Rugby & Ciência<br />

86 O sono e a performance desportiva<br />

110 Livro: Tecnico de futebol:<br />

a arte de comandar<br />

106 Musculação & Dores<br />

114 Academias: o segredo da<br />

Alemanha campeã do Mundo<br />

100 Dança, Arte e Tecnologia<br />

14 FC PORTO:<br />

TÁTICA 2014/2015<br />

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ARBITRAGENS E<br />

MEIOS TECNOLÓGICOS<br />

OS PRÓS E OS CONTRAS! AS TECNOLOGIAS<br />

DO FUTURO!<br />

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Mais tecnologia é o caminho logico?<br />

Ou, as mudanças provocadas no jogo<br />

serão demasiadas?<br />

ARBITRAGENS E<br />

MEIOS TECNÓLOGICOS<br />

Diogo Sampaio, Director e colunista da Desporto&<strong>Esport</strong><br />

d_sampaio@desportoeesport.com<br />

No futebol atual existem duas verdades indesmentíveis: a primeira, é que<br />

a maior abundancia de meios técnicos de apoio às transmissões televisivas<br />

dos jogos de futebol, fizeram ao longo de pelo menos a última<br />

década, disparar a perceção geral dos adeptos do número de decisões<br />

erradas tomadas pelos árbitros por partida.<br />

Muitos desses erros com influência no desfecho de muitas das competições.<br />

A segunda verdade: com o avanço dessa ciência, muitos desses<br />

erros poderiam ser mitigados ou mesmo desaparecer caso as equipas de<br />

arbitragem optassem por meios tecnológicos adequados. Mas existe<br />

ainda uma terceira verdade, o tabu e em alguns casos mesmo a oposição<br />

a ferramentas tecnológicas por parte dos homens que dirigem o futebol.<br />

E, diga-se, alguns dos seus argumentos são legítimos. Outros, nem tanto.<br />

A utilização de meios eletrónicos e digitais levanta, como é natural,<br />

algumas dificuldades que não podem ser minimizadas. Antes pelo contrário,<br />

devem ser alvo de estudo e planeamento, e só devem ser implementados<br />

após diversos testes em competições menores.<br />

A utilização de imagens televisivas para a decisão em casos polémicos<br />

levanta ainda mais questões. Vai mexer nas regras. Vai alterar a<br />

dinâmica do jogo jogado. Muitos<br />

acham que isso não terá efeitos significativos. Outros acham, que o<br />

futebol mudará radicalmente e não se sabe bem para quê, e corre o risco<br />

de perder o estatuto de desporto Rei.<br />

No meio deste debate, está a verdade desportiva e uma certeza que a<br />

tecnologia ajudará a dar a vitória à equipa que mais fez por merecer<br />

em campo.<br />

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Tecnologia sim... porque já é permitida, mas qual<br />

deve ser o limite para a sua utilização?<br />

Que não mais uma equipa irá vencer porque foi marcado<br />

erradamente contra si um penalti que deu golo. Ou<br />

que uma equipa não irá perder porque não foi marcado<br />

aquele off-side escandaloso de metros.<br />

Assim, dizer tecnologia SIM não é difícil. O complicado<br />

é definir as barreiras. Tecnologias não intrusivas<br />

como a linha de golo. É neste tipo de tecnologia que<br />

devemos optar.<br />

Ou fazer logo all-in e permitir de uma vez por todas o<br />

uso de imagens televisivas.<br />

A tecnologia permitida pelas entidades desportivas<br />

Uma das razões que o debate do sim ou não à tecnologia<br />

na arbitragem do futebol é cada vez menos<br />

importante é o facto de a tecnologia já fazer parte do<br />

quotidiano dos árbitros em dias de jogos.<br />

O sistema de comunicação entre os 4 ou 6 elementos<br />

da equipa de arbitragem foram introduzidas nas competições<br />

europeias desde 2006. O sistema de comunicação<br />

entre os 4 ou 6 elementos da equipa de arbitragem<br />

foram introdu-zidas nas competições europeias desde<br />

2006.<br />

Talvez essa seja a altura ideal para o verdadeiro<br />

debate: até onde deve ir a tecnologia na arbitragem?<br />

E, onde os custos das ferramentas tecnológicas ultrapassam<br />

a sua mais-valia?<br />

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Alguns erros históricos:<br />

Final do Mundial de 1966 Inglaterra-Alemanha (4-2)<br />

Em Wembley, após prolongamento, os ingleses bateram os<br />

alemães com um histórico hat-trick de Geoff Hurst. No terceiro<br />

golo, depois de bater na barra, será que a bola ultrapassou<br />

a linha da baliza? A dúvida persiste e não há filmes ou fotos<br />

conclusivas.<br />

Mundial de 1986 (Quartos-de-final) Argentina-Inglaterra<br />

(2-1)Maradona saltou com Shilton e socou a bola para dentro<br />

da baliza. Perante a indignação dos ingleses, Maradona viria<br />

a proferir a célebre frase da “mão de Deus”. Mão que levou a<br />

Argentina à final da competição e à vitória do Campeonato do<br />

Mundo, no México.<br />

Taça dos Campeões Europeus 1990 Benfica-Marselha (1-0)<br />

Empatado sem golos, o Benfica precisava marcar pelo menos<br />

um para chegar à final do Prater de Viena. Aos 90 minutos, o<br />

punho de Vata marcou o único golo da noite e pôs em delírio<br />

120 mil espectadores.<br />

Saber definir os custos vs. Ganhos:<br />

A primeira liga de futebol da Alemanha (Bundesliga) vai<br />

adotar na próxima época, que arranca em julho de 2015,<br />

a tecnologia de linha de golo, com um investimento por<br />

clube entre os 150 e os 180 mil euros.<br />

Para um país que investiu 500 milhões em academias de<br />

formação o investimento nesta tecnologia é um ganho.<br />

As entidades federativas brasileiras, por outro lado, preferem<br />

apostar na área da formação e deixar de lado uma<br />

tecnologia que pelas próprias palavras só “de 40 anos” se<br />

mostra importante. Saber definir as prioridades é fundamental<br />

para as várias federações.<br />

Os investimentos em tecnologia podem ser altos e devem<br />

ser devidamente pensados em termos de custos vs ganhos<br />

e inclusive no desafogo financeiro dos clubes, que muitas<br />

vezes lutam para pagar os ordenados.<br />

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Uma questão de custos: Qaunto custa a tecnologia<br />

da linha de golo, sistemas de comunicação e spray?<br />

A tecnologia linha de golo batizada de GoalControl-4D usa 14<br />

câmeras de alta velocidade ao redor do campo de futebol, e a<br />

indicação da marcação ou não do golo é confirmada em menos<br />

de um segundo por meio de vibração e sinal visual enviados<br />

para o relógio de todos os oficiais de arbitragem da partida.<br />

Após a sua bem-sucedida utilização no campeonato do Mundo<br />

no Brasil no ano passado, é opinião geral, que esta é uma tecnologia<br />

traz vantagens e deve ser usada sempre que possível.<br />

Mas existe um fator pouco considerado o custo desta tecnologia.<br />

Vamos lá aos números: para a instalação do equipamento<br />

é necessário desembolsado o valor de US$ 260 mil, com a taxa<br />

de câmbio atual, um valor muito ligeiramente superior. Ou seja<br />

para equipar 18 equipas seria necessario um investimento de<br />

aproximadamente 5 milhões de euros. A isto soma-se US$ 3,9<br />

mil (4 mil euros) por jogo para a operacionalidade do equipamento.<br />

Em 14 jornadas, o numero de jogos em casa por equipa<br />

no campeonato português, estamos a falar de uma conta de 68<br />

mil euros por ano a cada clube. Isto sem contar com as obras<br />

e remodelações necessárias em muitos dos estádios para que a<br />

tecnologia possa funcionar em pleno.<br />

Devido aos altos preços desta tecnologia, ela está a ser fortemente<br />

rejeitada pelos responsáveis de várias das principais<br />

federações mundiais. Afinal, vale a pena este investimento por<br />

um tipo de erro que acontece tão raramente? Assim surge uma<br />

das principais questões: custo vs ganhos.<br />

Sistemas de comunicação entre os vários são uma realidade<br />

há vários anos. Pelos menos desde 2006 que estes aparelhos<br />

são usados na Liga dos campeões e no Mundial desse mesmo<br />

ano. Em Portugal demorou mais um ano e custo fixou-se num<br />

total de 150.000 euros. Hermínio Loureiro à altura presidente<br />

da Liga afirmou “representa o melhor equipamento do género<br />

que existe no mercado. Vai permitir decisões mais rápidas e<br />

reduzir a margem de erro das equipas de arbitragem” e continuou<br />

“não considero que este seja um custo para a Liga. É<br />

um sistema que não acabará com os erros, mais vai permitir<br />

aos árbitros decidir melhor.” Este sistema tecnológico é um<br />

sistema um exemplar de como a tecnologia pode auxiliar as<br />

equipas de arbitragem a diminuir o número de erros sem que a<br />

suas tarefas sejam modificadas ou a dinâmica de uma partida<br />

de futebol se altere. E isto a um custo totalmente aceitável.<br />

15 euros por lata e por jogo são usadas em média 3 latas, o<br />

que dá um total por partida de 45 euros. O suporte da lata,<br />

que os árbitros usam para transportar as latas à cintura, custa<br />

sensivelmente 20 euros.<br />

Um preço quase simbólico para os ganhos que este spray<br />

conseguiu. E, estas latas mostraram como nem sempre é<br />

necessário uma invenção de ponta para conseguir resultados<br />

positivos. Porque sim… o spray não é tecnologia.<br />

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JULEN<br />

LOPETEGUI<br />

“Queremos ser<br />

Protagonistas”<br />

14 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


A análise do modelo de jogo:<br />

FC PORTO:<br />

TÁTICA 2014/2015<br />

Tiago Dinis, colunista da<br />

Desporto&<strong>Esport</strong><br />

Contato@desportoeesport.com<br />

Segurança. posse de bola, dinamismo<br />

no passe e transições rápidas.<br />

Entenda como joga o FC Porto de<br />

Julen Lopetegiu 2014/2015.<br />

Afirmar que o FC Porto versão<br />

2014/2015 é fortemente baseado nos<br />

mesmos princípios que Guardiola<br />

aplicou ao seu Barcelona e emprega<br />

ao seu Bayern de Munich não é segredo<br />

para ninguém. Posse de bola,<br />

assente em passes curtos e muita mobilidade<br />

dos seus jogadores, somandose<br />

ainda uma forte pressão à equipa<br />

adversária em processo defensivo.<br />

Mas o FC Porto de Julen Lopetegui é<br />

muito mais que uma cópia da equipa<br />

da Catalunha ou da Baviera, tendo já<br />

conseguido construir um ADN muito<br />

próprio e em qualidade crescente na<br />

medida em que a época avança.<br />

Na primeira transição defesa/ataque<br />

a equipa nortenha opta pela solidez<br />

e organização, optando deliberadamente<br />

por não entrar numa vertigem<br />

ofensiva que aumenta as probabilidades<br />

de perca do esférico.<br />

A defesa, principalmente os defesas<br />

centrais (Maicon, Martins Indi ou<br />

Marcano), são fundamentais para este<br />

processo, fazendo rolar a bola pelo<br />

primeiro terço defensivo à procura de<br />

espaços no meio campo ou de um passe<br />

mais longo para os extremos, principalmente<br />

para espanhol Tello – aproveitando<br />

a sua alta velocidade e habilidade<br />

de desmarcação.<br />

Quando a equipa adversária taticamente<br />

opta por uma pressão alta, o guarda-redes<br />

Fabiano antes e o Helton agora funciona<br />

como libero, ajudando a circular a bola e<br />

chamando frequentemente os laterais ao<br />

jogo. Na segunda fase de construção de<br />

jogo, a equipa comandada por Lopetegui<br />

faz passar frequentemente a bola pelo<br />

seu medio defensivo - Casemiro, e alternadamente<br />

os médios centros, por norma<br />

Herrera pela direita e Oliver torres pela<br />

esquerda.<br />

Um dos pontos fundamentais para o crescimento<br />

do Porto na segunda metade da<br />

época é o melhoramento do passe curto<br />

e longo de Casemiro que faz com que<br />

exista uma menor necessidade da descida<br />

dos médios centro o que faz com o que<br />

a equipa portista ganhe mais homens em<br />

áreas mais avançadas do terreno e na zona<br />

de finalização.<br />

No último terço do terreno, o FC Porto procura<br />

frequentemente combinações entre os<br />

laterais e os extremos, e cruzamentos para a<br />

área são frequentes. Por norma, pelo menos<br />

um dos médios, normalmente Oliver, fica<br />

posicionado na meia-lua da grande-área,<br />

possibilitando uma linha de passe, que por<br />

sua vez permite variar o flanco de jogo<br />

ou um passe de rutura. Jackson é fundamental<br />

para o jogo entrelinhas da forma<br />

como recua e distribui jogo e é o principal<br />

homem golo e ainda o principal rematador<br />

da equipa como mostram os números. E,<br />

Brahimi é o desequilibrado, facilmente<br />

driblando vários adversários, deambulando<br />

tanto pela esquerda ou pelo centro, sendo<br />

igualmente muito forte no chamado “último<br />

passe”.<br />

Por último, o Porto 2014/2015 é fortíssimo<br />

na transição defensiva e na pressão aos<br />

jogadores com o esférico.<br />

O 4-3-3 é novamente o esquema tático do<br />

FC Porto, como aliás é habitual na equipa<br />

portista, tanto que é quase do seu ADN<br />

jogar assim. Três homens no centro do<br />

terreno, com um medio defensivo bem<br />

vincado e com preocupações essencialmente<br />

defensivas. Como vem acontecendo<br />

nas últimas três épocas, grande parte da<br />

sua força atacante, surge das alas, com<br />

Danilo e Alex Sandro, sempre no apoio aos<br />

extremos e disponíveis para ir até à linha<br />

e cruzar. Danilo é hoje um dos melhores<br />

laterais do Mundo e por isso pretendido por<br />

Barcelona e Real Madrid.<br />

Análise ao eterno 4-3-3 da equipa portista<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 15


Julen Lopetegui<br />

Como jogador – Guarda-redes Lopetegui teve uma carreira<br />

pouco gloriosa, sendo que onde mais se destacou<br />

foi com as camisas de Logronés e Rayo Vallecano.<br />

Ainda jogou pelo Real Madrid (1 jogo) e Barcelona (5<br />

jogos), sendo companheiro de Vitor Baia – lenda do FC<br />

Porto. Pendurou as luvas em 2002, depois da descida de<br />

divisão do Rayo Vallecano. Vestiu apenas uma unica<br />

vez a camisola da seleção espanhola.<br />

Iniciou a sua carreira como técnico principal em Rayo<br />

em 2003, função que exerceu durante um ano. Passando<br />

após essa primeira experiencia por um interregno de 3<br />

anos onde foi comentador e analista desportivo. Voltou<br />

ao futebol como técnico em 2006 como comandante<br />

da Castilla ou Real Madrid B onde este até 2010, onde<br />

passa a treinar alternadamente as seleções de Sub-19<br />

e Sub-20 da Espanha.Chega ao FC Porto no início de<br />

maio de 2014, onde lhe é incumbida a difícil tarefa de<br />

alterar em grande<br />

medida o paradigma<br />

do clube do<br />

norte. Fundamental<br />

para contratar um<br />

conjunto de jogadores<br />

jovens espanhóis,<br />

com quem<br />

trabalhou nas camadas<br />

jovens. Com<br />

alguns erros no<br />

início do campeonato<br />

- excesso de<br />

rotatividade, sendo<br />

que muitos desses<br />

erros são naturais,<br />

de algum modo<br />

“erros de crescimento”<br />

de uma equipa<br />

jovem e sem<br />

rotinas, chegou às<br />

boas exibições a<br />

partir de dezembro<br />

do ano passado,<br />

e tem até agora a melhor participação do FC Porto na<br />

Champions em uma mão cheia de anos.<br />

Brahimi e Jackson: Duas peça<br />

tático do FC Porto 2014/2015<br />

16 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


s mestres no Xadrez<br />

Brahimi na esquerda, tanto tem a capacidade ara subir e ir<br />

cruzar à linha, como infletir mais para o centro. Este segundo<br />

ponto, torna-se crucial para uma maior aprofundamento no<br />

jogo interior do FC Porto, quer para ganhar nos jogos mais<br />

difíceis ou de maior luta ao centro mais um homem no meiocampo.<br />

Tanto Quaresma como Tello que ocupam alternadamente<br />

o lado direito apostam mais na verticalidade, sendo que o<br />

espanhol opta muitas vezes por fletir mais diretamente para<br />

a grande área, seja pelo drible ou por passe de companheiros<br />

a aproveitar a sua velocidade.<br />

Jackson contínua, como nas duas épocas anteriores, a ser o<br />

homem golo, mas com uma excelente capacidade e “olho”<br />

tático para descer no terreno e funciona quase como um<br />

número 10. É difícil não pensar no colombiano como um dos<br />

10 melhores pontas de lança do mundo.<br />

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José Mourinho.<br />

Diogo Sampaio, Director e colunista da Desporto&<strong>Esport</strong><br />

d_sampaio@desportoeesport.com<br />

Implementar as filosofias mais modernas na relação<br />

humana das empresas no balneário do futebol.<br />

J<br />

osé Mourinho é indiscutivelmente um dos melhores treinadores do<br />

Mundo. Porventura até um dos melhores de sempre.<br />

Aliás, talvez apenas Pep Guardiola seja o único rival que possa<br />

concorrer com ele ao primeiro lugar. No entanto, após a eliminação da<br />

Liga dos Campeões frente ao PSG, que jogou o segundo jogo da eliminatória<br />

praticamente toda contra 10 elementos, pôs Mourinho na mó<br />

de baixo. Assim, está é sem dúvida a melhor altura para recapitular do<br />

porquê de José Mourinho ser o “special one”.<br />

José Mourinho é, como nenhum outro técnico, um CEO – Chief executive<br />

officer da forma como gera as equipas e clubes em que treina,<br />

e as metodilogias que usa. Organização máxima, detalhe a todos os<br />

pormenores, visão a curto e a médio prazo e a gestão dos recursos<br />

humanos a top e de acordo com as mais recentes prática empresariais,<br />

que privilegia a motivação dos seus colaboradores, e tudo isto, assente<br />

no seu carisma e na sua capacidade natural de liderança. E foco total<br />

nos resultados!<br />

A sua liderança, incontestável por onde quer que tenha passado, quando<br />

assim não foi ele próprio a procurou e conquistou, por vezes “à força”,<br />

é um dos seus pontos-chave para o seu sucesso enquanto técnico<br />

profissional de futebol. E, é dessa liderança, melhor, dessa liderança<br />

carismática, juntamente com a sua “inteligência emocional” no trabalho<br />

do dia-a-dia com os jogadores que faz com que os seus atletas deem<br />

tudo dentro das quatro linhas e o elogiem fora dele. Quem não se lembra<br />

das palavra de Zlatan Ibrahimovic, “ por Mourinho seria capaz de<br />

matar” ou das lagrimas de Materazzi quando mourinho abandonou o<br />

Internacional de Milão.<br />

Falemos então dos seus pontos principais da gestão de recursos humanos<br />

da filosofia de vitória de Mourinho e da sua liderança:<br />

18 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 19


José Mourinho lidera os seus grupo acente em<br />

quatro princípios base:<br />

Liderança Carismática. José Mourinho é um líder.<br />

E um homem carismático; um carisma, que em parte<br />

o próprio criou – afinal foi ele que disse que era o<br />

“Special one” na apresentação da sua primeira passagem<br />

pelo Chelsea. E o próprio Mourinho, em inúmeras<br />

ocasiões e entrevistas, explicou que se aponta como<br />

foco da imprensa como um potencial motivacional para<br />

os seus jogadores. Isto joga com uma das duas áreas da<br />

sua liderança: comportamentos não-tradicionais. Ou os<br />

“mind-games” pelos quais Mourinho é tao famoso e<br />

lhe têm causado tantas antipatias com colegas de profissão<br />

e comentadores desportivos. “Nada é por acaso,<br />

tudo é planeado” e com um propósito bem definido<br />

que na maioria dos casos é conseguido. A outra área<br />

é “sensibilidade para as diferentes necessidades dos<br />

jogadores”.<br />

Liderança emocional. “Eu não tenho problemas em<br />

beijar, chorar, ou “bater” nos meus jogadores. Tudo<br />

pertence à família. Eu aprendi isso com minha esposa<br />

e minha própria família. Na minha família, estamos<br />

abertos a ser criticado pelos meus filhos e o mesmo<br />

se aplica aos meus jogadores. Deve-se estar aberto a<br />

compartilhar emoções e ideias.“ Cada homem é um ser<br />

diferente e deve ter um tratamento diferenciado, principalmente<br />

no desporto de top atual onde as imposições e<br />

influências surgem de todos os lados. A sua filosofia de<br />

inteligência emocional assenta em 3 princípios básicos:<br />

lidar com a pressão, partilhar emoções e criar ligações<br />

duradouras. E a motivação? pelas próprias palavras de<br />

Mourinho: “Eu motivo os outros com a minha própria<br />

motivação. A nossa motivação deve ser o motor para<br />

que os jogadores devem, em seguida, seguir.” Os jogadores<br />

de Mourinho seguem-no então pelo exemplo,<br />

pela razão mas sobretudo pelo sentimento.<br />

Liderança Transformacional. O nome é estranho<br />

mas o conceito é simples. Mudar sistematicamente os<br />

objetivos de cada jogador de forma individualizada<br />

para que eles se aproximem da filosofia e necessidades<br />

do clube e da equipa. Este é talvez a tarefa mais dura<br />

dos treinadores modernos dos grandes clubes europeus.<br />

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Hoje os futebolistas top são PMEs – pequenas e médias<br />

empresas, inseridos em inúmeros negócios e com dezenas<br />

de pessoas a seu cargo. Assim nem sempre as suas<br />

energias estão focadas no clube – não raras vezes interesses<br />

comerciais e financeiros metem-se no caminho.<br />

Ai entra a necessidade de controlar o grupo como uno<br />

mas com um tratamento individualizado e instaurar no<br />

balneário uma filosofia comum com objetivos comuns,<br />

que na mente de cada jogador/homem passa a ser o seu<br />

objetivo principal.<br />

Liderança Integrada. Mourinho é um perfecionista e<br />

gosta de estar atento a todos os pormenores e detalhes<br />

dos clubes por onde passa, mas mesmo ele entende que<br />

ninguém pode controlar tudo a todo o tempo.<br />

José Mário dos Santos Mourinho Félix, ou<br />

simplesmente Mourinho ou “the special<br />

one”, nasceu em Setúbal a 26 de Janeiro de<br />

1963. Iniciou-se no desporto profissional<br />

na década de 90 como preparador físico<br />

e depois como técnico-adjunto, após uma<br />

curta e pouco gloriosa carreira coo jogador<br />

de futebol.<br />

Passou por uma fase como tradutor do lendário<br />

técnico inglês Bobby Robson, passando<br />

depois a ocupar o lugar de treinador-adjunto<br />

primeiro no Sporting, depois no FC Porto<br />

e por fim no Barcelona; onde permanece,<br />

mesmo após a saída de Sr. Robson e passa a<br />

trabalhar diretamente com Louis Van Gaal.<br />

Mourinho passa enfim para o lugar de<br />

técnico principal, primeiro no Benfica onde<br />

nem chega a aquecer o lugar e depois no U.<br />

Leiria, antes de se fixar no FC Porto, onde<br />

para além de dois títulos nacionais e uma<br />

Taça de Portugal, faz a dobradinha europeia,<br />

com a conquista da Taça Uefa (antiga<br />

Liga Europa) e da Liga dos Campões.<br />

Catapultado para o sucesso, Mourinho<br />

torna-se um deus no Chelsea onde se torna<br />

bicampeão nacional; uma passagem pelo<br />

Inter de Milão onde volta a vencer a Champions;<br />

e uma passagem pelo Real Madrid<br />

onde vence a liga contra o todo poderoso<br />

Barcelona de Guardiola. Agora de volta<br />

ao Chelsea, tende de novo levar o clube<br />

londrino às vitórias.<br />

Nem o deve fazer. Relegar “tarefas” e “liderança” é<br />

fundamental para o êxito e inclusive para o bem estar<br />

e valorização das competências de toda a equipa, incluindo<br />

jogadores e staff técnico. Nas empresas, chama-se a<br />

esses lideres: líderes operacionais. Em campo e durante<br />

o jogo, por exemplo, é fundamental que alguns futebolistas<br />

assumam essa posição de liderança, principalmente<br />

em momentos cruciais do jogo. Isso deve ser preparado<br />

antes, com antecedência e cuidado. Uma má escolha<br />

pode significar uma derrota e a derrocada de um projeto<br />

de uma época.<br />

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MOURINHO: TUDO É PENSADO E ANÁLISADO!<br />

Sobre Hazard - “Acho que ele está prese<br />

entre os três melhores jogadores do mun<br />

jogador fantástico e se conquistar a Liga<br />

terá uma época a todos os níveis fantásti<br />

Mourinho defendes os seus até ao Limite<br />

DEFINIR, DESENHAR E<br />

iagrama ao centro parece confuso e de difícil decifração. Mas,<br />

as dificuldades são apenas aparentes. A “Operacionalização da<br />

Complexidade”, por exemplo, é a junção de todas as áreas do<br />

departamento de futebol que é necessário trabalhar numa linha de<br />

trabalhos comuns.<br />

Neste seguimento, é absolutamente imprescindível uma modelização<br />

de tarefas, ou seja, delinear um plano de estratégia de forma<br />

a incorporar todas as diferentes áreas de uma forma clara e eficaz<br />

que potencialize cada uma das áreas com o objetivo da vitória.<br />

Como um carro que une várias e diferentes peças.<br />

Depois entra o jogo, a metodologia de treino e operacionalizar os<br />

jogadores dentro das táticas futebolísticas pretendidas. E, como<br />

o próprio Mourinho assume: “A coisa mais difícil é conseguir os<br />

exercícios certos.<br />

Pelo menos aqueles que o gestor pensa que podem auxiliar a<br />

equipa a tornar-se melhor”.<br />

E como chegar a esses exercícios. Mourinho recusa todos os livros,<br />

websites e “enciclopédias” de tácita futebolística e aponta o foco<br />

para os jogadores. São eles que devem “escolher”.<br />

Como o próprio Mourinho afirma “alguns jogadores são inteligentes<br />

e percebem imediatamente o que lhe é pedido para fazer.<br />

Outros jogadores não são tão inteligentes e estes jogadores atuam<br />

em pura intuição. Eles aprendem o que fazer, porque eles aprendem<br />

movimentos automáticos, sem pensar. “<br />

E, este é um dos mais fortes fatores porque o “special one” é<br />

considerado um treinador de jogadores e porque apresenta uma<br />

ligação tão forte com os seus atletas.<br />

Ele é um técnico que molda o seu jogo aos seus jogadores. E não<br />

o oposto, como tantas vezes acontece com tantos treinadores um<br />

pouco por todo o lado.<br />

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ntemente<br />

do. É um<br />

inglesa<br />

ca” -<br />

!<br />

Mourinho e o treino: a sistematização<br />

do jogo e dos seus atletas e o vídeo<br />

como arma tática e de motivação<br />

José Mourinho é bem conhecido pela qualidade do processo defensivo<br />

das equipas que treina. As suas equipas sofrem poucos golos e os seus<br />

jogadores cometem poucos ou quase nenhuns erros – diga-se daqueles<br />

“erros não forçados” pelas equipas adversárias. Segundo a filosofia<br />

de mourinho, a organização defensiva centra-se na sistematização<br />

de padrões e na disposição da equipa por blocos. Mourinho aponta a<br />

simplicidade como a melhor forma de fazer chegar a informação aos<br />

jogadores, pelas palavras do próprio “curto e objetivo”. Informação em<br />

demasiado é contraproducente e está em total desacordo com a “atenção<br />

disponibilizada” dos futebolistas de topo nos parâmetros atuais do futebol<br />

espetáculo e nos seus atletas como “movie stars”.<br />

O técnico português opta então na maioria das vezes por palestras com<br />

dois ou três pequenos vídeos e durante a semana dos jogos mais importantes,<br />

esses mesmos vídeos, estão em permanente “play” um pouco<br />

por todo o edifício do clube, desde aos balneários, à sala medica ou os<br />

refeitórios. Onde estiverem os jogadores, estão os vídeos.<br />

A avaliação da progressão de cada futebolista deve ser feita segundo<br />

três parâmetros: Ligação com a bola, Conexão com bola e adversário(s)<br />

e Conexão com bola e companheiro(s) de equipe . Mourinho faz esta<br />

avaliação recorrendo a um sistema simples de notas - de 1-5. Este<br />

sistema, ainda que simples, é fundamental para que ele possa entender<br />

a progressão dos seus jogadores e da equipa e da assimilação do<br />

treino. Percebendo quando deve avançar para novos treinos e novos<br />

mecanismos. Ou por outro lado, se deve recuar. Serve também para<br />

que mourinho ganhe confiança nos seus jogadores e no jogo das suas<br />

equipas.<br />

Por fim, tal como um gestor em qualquer empresa de alguma dimensão,<br />

Mourinho usa ferramentas digitais para a filtragem e tratamento dos<br />

inúmeros dados gerados pela sua equipa e pelas equipas que defronta<br />

nas várias competições. Também no futebol já se pode falar em Big<br />

Data – quantidades gigantescas de informação e a sua recolha, tratamento<br />

e interpretação desempenham um papel fundamental para a vitória e<br />

para as diferentes variações do jogo em campo a cada novo encontro e<br />

a cada novo adversário.<br />

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Marketing: Ninguém vende melhor a marca<br />

Mourinho - que o próprio Mourinho.<br />

M<br />

ourinho é muito mais que um técnico de futebol. É<br />

uma figura planetária e uma marca, que gera e faz<br />

gerar milhões à sua volta.<br />

De acordo com uma das mais recentes pesquisas<br />

levadas a cabo pela empresa, 82% das pessoas no Reino Unido<br />

sabem quem é o atual treinador do Chelsea. Ainda no território<br />

dos “bifes”, 8 em cada 10 pessoas o conhecem, consideram-no<br />

“um porta-voz influente de uma marca e que certamente tendência<br />

sua opinião”.<br />

Já no âmbito global, o técnico português é reconhecido por 59%<br />

das pessoas, com destaque para a Espanha (97%) e no emergente<br />

mercado asiático, o maior prestígio do ‘The Special One’ está na<br />

China (52%) – por sinal, o maior e mais populoso da Asia.<br />

Estes números não passam despercebidos às grandes marcas e<br />

Mourinho é o rosto de empresas como Yahoo, Hublot, Jaguar e BT<br />

<strong>Esport</strong>es, entre muitas outras marcas passadas.<br />

Mourinho conquistou, com vitórias, o respeito dentro do Mundo<br />

do futebol, e soube criar a sua própria imagem que lhe valem<br />

os números já enumerados. Sobretudo com golas altas e roupas<br />

Armani não eram moda à 10 anos. Hoje, todos os treinadores<br />

trocaram os fatos de treino por fatos com camisa e gravata. “Mind<br />

Games” acontecem agora em todas as conferências de imprensa.<br />

E todos querem ser apelidados de génio da tática. Ninguém vende<br />

Melhor a marca Mourinho que o próprio Mourinho e a prova disso<br />

mesmo é o facto dos seus pares o seguirem os seus comportamentos<br />

e em muitos casos até o copiarem.<br />

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MOURINHO:5 LIÇÕES<br />

DE GESTÃO<br />

5 “SIMPLES” REGRAS PARA O SUCESSO DESPORTIVO OU EMPRESARIAL<br />

1- POLARIZAR AS OPINIÕES E ASSUMIR O RISCO<br />

2 - ASSUMIR E ATÉ CRIAR O “NÓS CONTRA O MUNDO”<br />

3- PROTEJER OS NOSSOS A TODO O CUSTO<br />

4- O RESULTADO É TUDO<br />

5 - AS REGRAS SÃO APENAS SUGESTÕES<br />

Numa época do “politicamente correto”<br />

e onde as inovações não são mais<br />

que “o velho com uma nova roupa”,<br />

José Mourinho é constantemente uma<br />

“pedrada no charco”, polêmico e nunca<br />

com medo de polarizar as opiniões<br />

e chamar para si a atenção, mesmo<br />

quando é alvo de criticas negativas.<br />

Mourinho assume o risco e vive bem<br />

com isso: “para mim, pressão é a gripe<br />

das aves.. estou com mais medo disso<br />

do que de futebol.”<br />

Uma das melhores formas de criar um<br />

espirito de grupo forte e coeso é usar<br />

e por vezes criar uma cultura de “nós<br />

contra o Mundo”, muitas vezes também<br />

apelidado de “mentalidade de cerco”.<br />

Esta abordagem pode até parecer negativa,<br />

mas é a forma mais eficaz e rápida de<br />

unificar um grupo diversificado e plural<br />

num objetivo comum. Esta abordagem é<br />

igualmente fortíssima para criar e manter<br />

uma mentalidade vencedora.<br />

Um grupo unido protege os seus e<br />

goste-se ou não de Mourinho existe um<br />

facto que é inegável, o técnico português<br />

inspira um devoção feroz nos seus<br />

jogadores, mesmo naqueles que nos que<br />

não jogam. Todos nos lembramos de<br />

Marco Materazzi a chorar nos ombros<br />

de Mourinho quando este se despediu<br />

do Inter. E esse, é apenas um dos exemplos.<br />

E esta devoção em muito se deve à<br />

forma como Mourinho protege os seus,<br />

fazendo-se sempre o alvo dos média,<br />

principalmente quando as capas dos<br />

jornais estão cheios de críticas negativas.<br />

Em pouco mais de uma dezena de anos<br />

como técnico principal, Mourinho<br />

venceu duas Ligas dos Campeões, 1<br />

Liga Europa, 7 campeonatos nacionais<br />

(Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha)<br />

e 12 taças em várias competições.<br />

Mourinho vence e vence mais que a<br />

maioria e uma das razões é porque quer<br />

vencer sempre e o resultado é tudo.<br />

E a vitória esta nos detalhes e os detalhes<br />

encontram-se pelo trabalho, por um<br />

trabalho obsessivo, permanente e sem<br />

descanso.<br />

Quem conhece Mourinho, diz que ele<br />

vive e respira futebol 24 horas por dia.<br />

Esta vontade apenas aparece pela vontade<br />

de vencer: o êxito é tudo!<br />

Regras são sugestões. Não no sentido<br />

penal ou jurídico, mas pensar para além<br />

do óbvio é crucial ara inovar e para<br />

ultrapassar os problemas com dinamismo<br />

e determinação.<br />

E aproveitar ao máximo os regulamentos<br />

a seu favor é também uma imagem<br />

de marca do técnico português.<br />

Aplicar estas 5 regras de Mourinho é um<br />

bom caminho para o êxito em qualquer<br />

modalidade ou negócio empresarial.<br />

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AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DAS CORRI


DAS DE 100 M, 200 M, 400 M, 4 X 100 M E 4 X 400 M ESTAFETAS, 100 M E 400 M BARREIRAS<br />

PARTICULARIDADES DA ALIMENTAÇÃO<br />

DE CORREDORES DE CURTAS DISTÂNCIAS<br />

E DE VELOCIDADE<br />

Mónica Marreiros Neves, Membro da<br />

Ordem dos Nutricionistas, cédula 2138D<br />

monicanevesdietista@gmail.com<br />

o nível da competição olímpica, os eventos de corrida de curtas distâncias<br />

incluem 100 m, 200 m, 400 m, 4 x 100 m e 4 x 400 m estafetas,<br />

A100 m e 400 m barreiras.<br />

Nestes eventos é necessário atingir a velocidade máxima no menor<br />

período de tempo, pelo que a composição corporal dos atletas<br />

desempenha um papel fundamental. É importante maximizar a massa<br />

muscular e manter os níveis de massa gorda baixos de forma a garantir<br />

o rácio peso/potência, objetivo mais facilmente atingido pelo sexo masculino.<br />

O sexo feminino, por sua vez, tem que fazer um maior esforço<br />

para gerir a dieta no sentido de atingir os níveis de massa gorda ideais.<br />

Ainda que o potencial efeito das escolhas alimentares durante eventos<br />

competitivos de curta duração seja discutível, nos treinos pode fazer<br />

toda a diferença no desempenho do atleta e no desenvolvimento de<br />

adaptações ao treino. Para além disso, desempenha um papel fundamental<br />

na otimização da composição corporal.<br />

Construindo o músculo<br />

A estratégia mais eficaz para o aumento da força, potência e massa musculares<br />

consiste na prática de exercício de força muscular, garantindo<br />

simultaneamente o consumo adequado de hidratos de carbono, proteína<br />

e energia.<br />

A síntese de proteína muscular e o desenvolvimento de adaptações no<br />

músculo após exercícios de força é potenciada pela ingestão de 6 g de<br />

aminoácidos essenciais ou 20-25 g de proteína de elevada qualidade.<br />

A ingestão de doses superiores parece não apresentar benefícios adicionais.<br />

A qualidade nutricional das proteínas depende do seu teor em<br />

aminoácidos essenciais, da sua digestibilidade e da biodisponibilidade<br />

(determina a quantidade de nutriente que é absorvido e utilizado pelo<br />

organismo) dos seus aminoácidos. Os produtos de origem animal, como<br />

os produtos lácteos, o ovo, o peixe e a carne são fontes proteicas de alta<br />

qualidade, devido à presença, em diferentes quantidades, de todos os<br />

aminoácidos essenciais, conferindo-lhes um valor biológico elevado.<br />

A intensidade dos treinos pode diminuir o apetite e comprometer a<br />

ingestão alimentar após o exercício. Isto significa que fazer um lanche<br />

que forneça 20-25 g proteína imediatamente após um treino pode exigir<br />

alguma educação alimentar.<br />

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Os suplementos e os riscos de consumo de proteína<br />

em execesso: desfazendo mitos!<br />

A proteína e os aminoácidos devem ser provenientes de suplementos?<br />

Não necessariamente. Embora os suplementos sejam uma fonte<br />

prática de obtenção de aminoácidos essenciais e proteína, não<br />

existe evidência científica que sustente uma resposta anabólica<br />

inferior com o consumo de proteína proveniente de fontes alimentares.<br />

Contudo, é importante reforçar que a diminuição do<br />

apetite após um treino intenso limita o consumo de grandes<br />

volumes de alimentos, por vezes necessários para suprir as necessidades<br />

pós-treino e diárias, pelo que os suplementos podem ser<br />

uma boa alternativa.<br />

Os suplementos concentram nutrientes-chave em pouco volume,<br />

são fácies de transportar e preparar e toleráveis pela maioria dos<br />

atletas. Porém, uma vez que a comercialização destes produtos<br />

não é rigorosamente controlada, não existem garantias de que a<br />

informação nutricional presente no rótulo reflita o conteúdo da<br />

embalagem, pelo que deve procurar marcas de confiança, que<br />

privilegiem o controlo da qualidade, e a ajuda de um dietista ou<br />

nutricionista que oriente a escolha do melhor produto, de acordo<br />

com as suas necessidades nutricionais e objetivo.<br />

Existem riscos associados ao consumo de proteína em excesso?<br />

Muitos atletas consomem dietas com elevado teor proteico<br />

acreditando ser essencial para a reparação e crescimento musculares.<br />

É frequentemente observar-se em alguns grupos de atletas<br />

consumos de proteína superiores a 2,5 g.kg peso corporal-1.dia-1<br />

(as recomendações situam-se entre 1,2 e 1,8 g.kg peso corporal-1.<br />

dia-1).<br />

Enquanto uma dieta que não garante o aporte adequado e proteína<br />

impede/limita a hipertrofia muscular, consumos extremamente<br />

elevados (em excesso) de proteína não contribuem necessariamente<br />

para o aumento da síntese de proteína muscular, ou seja, a<br />

literatura científica não sustenta uma relação linear entre a quantidade<br />

de proteína consumida e a síntese de proteína muscular.<br />

O que acontece ao excedente de proteína? Bem, a proteína em<br />

excesso pode ser acumulada sob a forma de gordura ou oxidada<br />

para obtenção de energia. É claro que devemos olhar para esta<br />

declaração com algum viés, porque não está excluída a hipótese<br />

de os atletas desenvolverem adaptações que lhes permitam<br />

alterar/melhorar estas respostas.<br />

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Alimentos que fornecem aproximadamente<br />

20 g de proteína (de acordo<br />

com a Tabela da Composição dos<br />

Alimentos Portuguesa):<br />

• 4 ovos pequenos<br />

• 100 g de queijo fresco<br />

• 600 ml de leite de vaca<br />

magro<br />

• 500 ml de bebida de soja<br />

• 80 g de carne de frango,<br />

peru, vaca ou porco (preferir as<br />

partes magras)<br />

• 100 g de peixe grelhado<br />

• 4 iogurtes naturais magros<br />

• 200g de flocos de trigo<br />

integral<br />

• 260 g de pão de trigo integral<br />

ou de mistura<br />

• 600g de massa cozida<br />

• 800 g de arroz cozido<br />

• 220 g de lentilhas ou feijão<br />

frade cozido<br />

• 330 g de tofu<br />

• 60 g de frutos oleaginosos<br />

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Lesões renais e diminuição da densidade<br />

mineral óssea têm sido apontados como<br />

potenciais problemas de saúde associados<br />

ao consumo de elevadas quantidades<br />

de proteína. Atletas sem predisposição<br />

para problemas renais apresentam baixo<br />

risco de lesão renal resultante da ingestão<br />

de dietas hiperproteicas. Por sua vez,<br />

atletas com função renal comprometida<br />

não devem consumir grandes quantidades<br />

de proteína, sob pena de agravar esta<br />

condição.<br />

A consequência imediata resultante do<br />

consumo de grandes quantidades de proteína<br />

é a redução do aporte de hidratos de<br />

carbono, que pode afetar o desempenho<br />

do atleta.<br />

O consumo de hidratos de<br />

carbono<br />

O consumo de hidratos de carbono é importante para o desempenho<br />

de atividades de alta intensidade como é o caso das corridas<br />

de curta distância. A realização contínua de treinos com<br />

estas características a par com uma alimentação deficiente em<br />

hidratos de carbono resulta na depleção das reservas de glicogénio,<br />

consequente aumento do risco de lesão e doença. Contudo,<br />

os corredores de curtas distâncias apresentam necessidades de<br />

hidratos de carbono inferiores a corredores de longas distâncias.<br />

O consumo de hidratos de carbono juntamente com proteína<br />

após o treino promove um ambiente hormonal mais favorável ao<br />

anabolismo, estimulando a síntese de proteína muscular.<br />

Os corredores de curtas distâncias apresentam desafios únicos<br />

aos profissionais da área da nutrição por serem normalmente<br />

atletas bastante informados, suscetíveis ao consumo de suplementos,<br />

por apresentarem perceções da imagem corporal distorcidas<br />

associadas à exigência de baixos níveis de massa gorda<br />

e baixo peso corporal como forma de melhorar o desempenho,<br />

e ainda devido às lacunas existentes na investigação na área da<br />

nutrição deste grupo de atletas.<br />

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Alimentação em dias de competição:<br />

Os eventos competitivos de corrida de curtas distâncias podem apresentar várias horas de duração, ainda que a<br />

corrida em si seja apenas de segundos a breves minutos. Um dia típico de competição envolve eliminatórias e<br />

finais com tempos de espera variáveis.<br />

Durante estes momentos de espera os atletas devem manter-se hidratados, evitar ingerir líquidos em excesso, e<br />

devem ainda controlar a ingestão alimentar sob pena de experienciar distúrbios gastrointestinais, mas evitando<br />

sentir fome. A preparação para este dia faz-se durante os treinos: toda a rotina alimentar e de hidratação deve ter<br />

sido testada em contexto de treino para evitar surpresas!<br />

A constituição da refeição pré-competição depende do horário da primeira prova e das preferências e tolerâncias<br />

individuais, mas faz sentido iniciar o dia com uma refeição rica em hidratos de carbono. Alguns exemplos de<br />

refeições para 3-4 horas antes do exercício:<br />

• Pão com doce ou marmelada + batido de frutas (preferir o iogurte líquido em alternativa ao leite)<br />

• Papas de aveia com mel, frutos oleaginosos, fruta fresca e canela a gosto<br />

• Barras adequadas para desportistas (preferir as que fornecem maior teor de hidratos de carbono, pobres<br />

em gordura e fibra)<br />

• Iogurte natural magro com granola e mel + fruta fresca<br />

• Batata-doce recheada com requeijão + sumo de frutas natural<br />

• Massa/arroz cozido com uma fonte de proteína magra (ex. frango, coelho, peru, ovo, queijo fresco, requeijão),<br />

pode-se adicionar molho de tomate<br />

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MESSI VS. RONALDO<br />

MESSI VS. RONALDO<br />

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QUEM TOMA<br />

MELHORES DESISÕES?<br />

Messi vs. CR 7<br />

Diogo Sampaio, Director e colunista da Desporto&<strong>Esport</strong><br />

d_sampaio@desportoeesport.com<br />

Nos últimos 7 anos, no final de cada ano, a pergunta<br />

mantém-se sempre a mesma: Quem é melhor?<br />

Quem merece mais o prémio Fifa? Ronaldo ou Messi?<br />

Felizmente, os números e a ciência tem encontrado formas<br />

de os comparar que vão para além do senso comum<br />

ou da paixão dos fãs.<br />

O grupo GoodCall desenvolveu um algoritmo que calcula<br />

a qualidade e eficácia das decisões tomadas pelos<br />

jogadores de futebol. Para um atacante, por exemplo, a<br />

Eficiência Por Jogo (EPM) , basicamente centra-se no<br />

número de golos que ele é responsável por em uma partida<br />

– tendo em conta as suas decisões durante as jogadas<br />

ofensivas da sua equipa. Portanto, se um atacante é<br />

responsável por um golo a cada jogo, a sua Eficiência<br />

Por Jogo é de 100. Se ele é responsável por dois gols<br />

por jogo sua EPM é de 200.<br />

E assim por diante. Ao medir o seu número de remates,<br />

passes, possibilidade de golo criadas, passes de ruptura,<br />

etc – e, este algoritmo vai mais longe, e pode quantificar<br />

com precisão a qualidade das decisões tomadas por<br />

um jogador durante um jogo.<br />

Messi – De outro Planeta<br />

Quem afirma que Messi não é deste mundo, não está<br />

muito longe da verdade! Por jogo, as suas decisões são<br />

responsáveis em média por 2,38 golos (entre golos marcados,<br />

assistências, ou interferências decisivas nas jogadas).<br />

A qualidade média de suas decisões é de 0,63%<br />

– o EPM de um jogador médio de ataque é de 34 – ou<br />

seja, o atacante em média está envolvida em 0,34 gols<br />

por jogo, a sua qualidade média da decisão é de 0,12.<br />

Olhando para os números, a matemática é simples:<br />

Messi é 7 vezes mais eficiente do que a média dos atacantes<br />

média dos campeonatos na Premier League, La<br />

Liga, Bundesliga, Serie A e Ligue 1. De forma ainda<br />

mais clara, Messi é responsável por mais 2 golos que a<br />

média dos atacantes do Big 5.<br />

C. Ronaldo – Um jogador fantástico, mas…<br />

… não é tão excepcional quanto o astro argentino. O<br />

EPM de Ronaldo é de 118, o que significa que ele é<br />

responsável por cerca de 1,18 golos por jogo, praticamente<br />

metade do valor de Messi. Aliás, está bem mais<br />

próximo de Robben do Bayern de Munich, que tem um<br />

EPM de 115. A qualidade das decisões de Ronaldo é<br />

avaliado em 0,43%, bem abaixo dos 0,63% de Messi, e<br />

inclusive dos 0,52% de Robben. Mas, Ronaldo é ainda<br />

assim, melhor 3 vezes que os atacantes dos principais<br />

campeonatos europeus.<br />

E, comparando o EPM de Messi de passe e de posse<br />

de bola, a diferença em comparação com os dois<br />

craques é mais acentuada: Messi tem uma pontuação<br />

de 87, Ronaldo apenas 23. Ou, usando a percentagem,<br />

Messi tem uma qualidade de passe e de posse de bola<br />

de 0,57%, enquanto Ronaldo não passa dos 0,30%.<br />

Valores que seriam esperados dado ao estilo de jogo<br />

que Messi jogou e foi habituado a jogar desde bem<br />

cedo, com jogadores como Xavi ou Iniesta.<br />

MESSI VS. RONALDO MESSI VS. RONALDO MESSI VS.<br />

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REAL MADRID<br />

VS.<br />

BARCELONA<br />

Onde está a melhor “tripla” . BBC Vs. MNS?<br />

2014<br />

O BBC – Cristiano Ronaldo, Gareth Bale e Karim Benzema em<br />

2014 era imparável, fluido, rápido e eficaz, ganhava e goleava;<br />

nem Bayern de Munich ou Barcelona pararam a equipa da capital<br />

de Espanha. Olhemos alguns números: durante 2,014 o Real<br />

Madrid teve 18,2 remates por jogo e 46% destes foram no alvo,<br />

ou seja dentro dos postes. Cristiano Ronaldo foi o rematador<br />

mais prolífico – 5,5 remates por jogo, com 59% destes mesmos<br />

remates enquadrados com a baliza. Gareth Bale foi o segundo<br />

mais “pro-activo” com 3,2 remates por jogo e 56% à baliza.<br />

Karim Benzema, aparece em terceiro nesta estatística, com 3<br />

remates por jogo, mas apenas 39% delas no alvo.<br />

Bale e Ronaldo foram também mais criativos e decisivos: em<br />

oportunidades de golo, Bale teve 6,7 por jogo, Ronaldo 6,3.<br />

Benzema 4 oportunidades de golo. Ronaldo foi o homem o<br />

principal marcador com uma percentagem de 1,3 golos por<br />

jogo, um valor assombroso, só superado na história recente do<br />

futebol, por de Messi em 2012.<br />

Enquanto isso, em Barcelona o começo da temporada foi difícil<br />

para o MNS – Leo Messi, Neymar e Luis Suarez, com a troca<br />

de Treinador, a entrada de novos jogadores e uma nova filosofia<br />

de jogo, fora o castigo a Suarez. E, a derrota frente ao Real foi<br />

um forte revés. Mas vamos aos números: a equipa de Barcelona<br />

rematou mais em média do que o Real Madrid – 18,6 remates<br />

por jogo -, mas eram bem menos precisos, apenas 40% desses<br />

remates saíram à baliza. Neymar foi o mais rematador, com 4,4<br />

tiros por jogo mas apenas 42% no alvo: Messi rematou menos<br />

4,1 por jogo, mas com maior precisão do que a do brasileiro,<br />

com 57%. Messi também criou mais oportunidades de golo 8,4<br />

por jogo do que Neymar, 6,6 por jogo.<br />

Luis Suarez aparece por último, somente 2,9 remates por jogo<br />

e apenas 32% deles no alvo. Ele tentou criar oportunidades<br />

de golo 6.5 por jogo, mas a maioria perdeu-se sem resultados<br />

práticos<br />

O Real foi mais forte e espectacular em 2014, e a média de 3,7<br />

golos por jogo é uma prova disso mesmo; o Barcelona marcou<br />

apenas 2,6 golos por jogo – um número de golos que muitas<br />

equipas “matavam” para ter, mas abaixo do conseguido pelo<br />

Real Madrid.<br />

2015<br />

E, depois 2015, um novo ano e tudo mudou.<br />

O Barcelona disparou os seus números de eficácia. Mesmo<br />

reduzindo o número de remates, passaram para 15,6 por jogo, 0.<br />

47% deles foram bem dirigidos com Messi a assumir o comando,<br />

com 3.8 remates por jogo, em 54% ao alvo e criou quase<br />

40% das oportunidades de golos da tripla MSN. Suarez entrou<br />

no ritmo e começou a rematar 3,8 vezes por jogo com uma<br />

precisão de 59%. Neymar não alterou muito a sua qualidade de<br />

jogo, preferindo no entanto rematar menos, apenas 3 vezes por<br />

partida, sendo que a sua precisão fica abaixo dos 40%.<br />

O Barcelona marca 3,5 golos por jogo em 2015. Uma subida de<br />

quase um golo por jogo para 2014.<br />

Enquanto isso, na capital da Espanhola, temos um Real Madrid<br />

em muito menor rotação quando comparada com o Barcelona.<br />

O Real Madrid remata menos – 17,4 vezes por jogo. A precisão<br />

terrível, Bale então com com uma precisão de apenas 29% e<br />

remata também bem menos, apenas 2,9 por jogo, com apenas<br />

0.1 golos por jogo. Ronaldo diminui a sua precisão em 2015,<br />

apenas 35% dos seus remates seguem a direcção da baliza. O<br />

principal resultado: menos golos e menos hipoteses de golo<br />

criadas, a excepção acaba por ser os 5 golos ao Granada,<br />

O Real Madrid marca apenas 1,8 golos por jogo (retirando o<br />

jogo com o granada). Quase menos 2 golos que o Barcelona.<br />

VS. MNS BBC VS. MNS BBC VS. MNS BBC VS.<br />

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OS 10 ANOS DE QUEDA DA<br />

IMPRENSA DESPORTIVA<br />

Alexandre Pais, Jornalista com larga experiencia<br />

na direção de jornais em papel, nomeadamente<br />

jornais desportivos<br />

contato@desportoeesport.com<br />

www.alexandrepais.pt<br />

“Temo que estejamos a viver os dias<br />

do fim – em especial para os dois títulos<br />

deficitários, assustadoramente<br />

deficitários, e para os seus profissionais.”<br />

Todos os meses, os sites portugueses especializados em desporto<br />

somam largas dezenas de milhões de pageviews, muito acima do<br />

que obtêm os sites generalistas, portal Sapo incluído. Esse crescimento<br />

exponencial, em particular o da última década, tem sido<br />

conseguido muito à conta do suporte em papel, cuja quebra de vendas<br />

em banca regista percentagens aterradoras – cerca de 60%.<br />

A passagem a diário dos títulos “desportivos”, no final do século passado,<br />

proporcionou os melhores resultados de sempre, com os três jornais<br />

de circulação nacional a venderem, por dia, perto de 250 mil exemplares.<br />

Esse período de ouro prolongou-se até 2004, ano em que a média<br />

ainda rondou os 230 mil. De então para cá, a queda acentuou-se e em<br />

2014 as vendas em banca não chegaram a 100 mil exemplares diários,<br />

ou seja, começa a haver mercado apenas para um título, até porque as<br />

receitas de publicidade também baixaram para menos de metade.<br />

Os motivos para a diminuição das vendas são vários e vão desde o<br />

desinvestimento no número de páginas – das 56 ou 64 de outrora<br />

imprimem-se agora apenas 40 ou 48 – no redimensionamento das redações,<br />

hoje com menos dezenas de jornalistas, ou na drástica redução dos<br />

serviços de reportagem no exterior, até à incapacidade – ou impossibilidade<br />

resultante da falta de meios – de direções e chefias para refrescar<br />

os conteúdos, adequar os grafismos e aprofundar a especialização que<br />

traz a diferenciação e o rigor.<br />

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Qual é o futuro dos jornais desportivos?<br />

Pelo meio, encontramos muitos outros factores: a aposta suicida<br />

nos sites gratuitos, a multiplicidade de redes sociais e blogs que<br />

permitem a replicação da informação não paga, a “incursão” dos jornais<br />

generalistas pela área do desporto, muitas vezes com páginas de<br />

abertura – como fazem os telejornais, de manhã, à tarde e à noite – o<br />

aumento das transmissões diretas da TV, que chegaram a treinos,<br />

sorteios e conferências de imprensa, a multiplicidade de painéis de<br />

especialistas ou supostos especialistas em análise, em quase todos<br />

os canais, e por aí fora.<br />

Como se não bastasse, a partir de 2009 caiu em cima do papel de<br />

jornal a crise do País e das famílias, com a sobrecarga de impostos,<br />

o desemprego e a incerteza quanto ao futuro a destruírem o apelo à<br />

compra de algo que já não é indispensável à vida de todos os dias.<br />

São muitos contratempos para uma imprensa encurralada, incapaz<br />

de se renovar ou pior ainda: sem conhecer os dados que vão ser<br />

lançados na próxima rodada e, igualmente por isso, ineficaz na<br />

definição do rumo que deveria tomar para sobreviver.<br />

Temo que estejamos a viver os dias do fim – em especial para os<br />

dois títulos deficitários, assustadoramente deficitários, e para os<br />

seus profissionais.<br />

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TORCIDA GANHA JOGO?<br />

SONORIDADES DE<br />

PARTIDAS DE FUTEBOL,<br />

PRODUÇÃO DA TORCIDA<br />

E DESEMPENHO DE<br />

ATLETAS EM CAMPO.<br />

Pedro Silva Marra,<br />

Pesquisador e doutorando em<br />

Comunicação pela Universidade<br />

Federal Fluminense.<br />

pedromarra@gmail.com<br />

Arquibancadas, som e paixão<br />

Se há uma forte sinergia entre os jogadores em campo e<br />

a torcida na arquibancada, no desenrolar de uma partida<br />

de futebol, o som constitui-se como um dos principais<br />

mediadores desta relação. Episódios da Copa do Mundo de<br />

1950, disputada no Brasil, corroboram a constatação. Na<br />

ocasião, o estádio do Maracanã lotado cantou em uníssono<br />

a marchinha “Touradas em Madri”, quando a equipe local<br />

vencia a seleção espanhola pelo placar de 4 a 1, estabelecendo<br />

condições para a ampliação do placar para 6 a 1 em<br />

favor dos brasileiros. O resultado criou um clima de confiança<br />

extrema no país sede, que via como certa a conquista<br />

do campeonato, alguns dias mais tarde, contra o Uruguai.<br />

Contudo, quando a seleção platina empatou o jogo na<br />

metade do 2o tempo, os eufóricos torcedores calaram-se,<br />

ainda que o empate favorecesse o selecionado local, prevendo<br />

o 2o gol adversário. A apatia das arquibancadas<br />

contagia o time brasileiro em campo, que sofre o tento fatal<br />

13 minutos depois, em evento que ficou conhecido entre<br />

os uruguaios como Maracanazo: o dia em que sagraram-se<br />

bicampeões do mundo.<br />

As propriedades acústicas do som apontam um caminho<br />

para compreendermos suas características quase mágicas<br />

de afetação e compartilhamento de estados de ânimo. Um<br />

som define-se como vibração de um corpo que encontra<br />

ressonância em outro, um sinal de movimento que se<br />

comunica em um meio.<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 39


Constitui-se portanto em forma bastante íntima de<br />

conectar sujeitos, a partir da qual dinâmicas de sincronização,<br />

harmonização, amplificação ou silenciamento<br />

acontecem, de acordo com os níveis de energia (intensidade)<br />

carregados pelo som, o número de oscilações<br />

em um determinado espaço de tempo (vibração), ou<br />

as suas interações com ou espaço que determinam sua<br />

área de abrangência, reverberação,<br />

ou absorção pelas superfícies.<br />

Além disso, se faz necessário considerar que nenhuma<br />

sonoridade se realiza sozinha: vibrações se sucedem<br />

e interconectam, produzindo ritmos que embalam e<br />

imprimem uma guia temporal às práticas que ocorrem<br />

no mesmo ambiente. Tais atividades produzem também<br />

sons, já que baseiam-se no movimento de corpos no<br />

espaço, contribuindo ativamente para as construções<br />

rítmicas aqui destacadas.<br />

Produto auditivo de toda atividade humana, as sonoridades<br />

constituem-se, portanto, como tecnologias que<br />

os sujeitos manipulam a fim de realizar certas tarefas.<br />

No caso dos esportes, percebemos esta manipulação do<br />

som como ferramenta quando o juiz apita intensamente<br />

a fim de parar a partida; quando os jogadores gritam<br />

entre si, articulando uma jogada; ou quando a torcida<br />

executa suas canções na arquibancada, imprimindo um<br />

ritmo às ações de sua equipe do coração. Estádios diferentes,<br />

com suas características arquitetônicas próprias<br />

também participam destas dinâmicas sonoras, na<br />

medida em que aproximam ou afastam grupos torcedores<br />

distintos na platéia; os dispõem mais próximo ou<br />

longe do campo de jogo; ou facilitam fenômenos como<br />

a reverberação sonora; contribuindo para que uma torcida<br />

soe mais intensa ou coesa.<br />

Ainda que as redes de televisão transmissoras de jogos<br />

de futebol venham descobrindo o poder das sonoridades<br />

na constituição da partida, o estádio se mantém<br />

como espaço privilegiado para o estudo das dinâmicas<br />

sonoras no espetáculo esportivo. É neste lugar que gritos<br />

e canções das torcidas são gestados e apresentados<br />

em sua diversidade, é aí que interagem com os acontecimentos<br />

da partida, mediando dinâmicas de (des)<br />

articulação dos presentes na arquibancada. As transmissões<br />

televisivas, para captar toda esta diversidade,<br />

posicionam vários microfones ao redor do campo,<br />

alguns captam o público, outros o campo, outros ainda<br />

o banco de reservas, de onde treinadores orientam seus<br />

comandados. Pela televisão, escutamos uma mixagem<br />

destes sons, quase sempre com predominância das<br />

canções entoadas pelas torcidas organizadas, ao fundo<br />

da narração. Quando algum som indesejado entra no<br />

campo auditivo dos microfones, ele é cirurgicamente<br />

limado por processos de <strong>edição</strong> e mixagem.<br />

Foi o que aconteceu em partida disputada no Estádio<br />

Independência, em Belo Horizonte, no dia 21 de<br />

outubro de 2012, entre Clube Atlético Mineiro e<br />

Fluminense Football Club, do Rio de Janeiro, válida<br />

pelo Campeonato Brasileiro do mesmo ano.<br />

Na ocasião, as duas equipes disputavam a liderança do<br />

certame. Ao longo do campeonato, a equipe carioca<br />

havia vencido ou empatado uma série de jogos em<br />

lances duvidosos a seu favor.<br />

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A torcida atleticana então organizou um protesto contra<br />

a Confederação Brasileira de Futebol, CBF, na qual<br />

montou um mosaico, no momento da entrada das<br />

equipes em campo, onde se lia a sigla da instituição de<br />

cabeça para baixo, ao fundo as cores da equipe carioca.<br />

Simultaneamente, o estádio cantava: “O CBF, vá se f...!<br />

o nosso galo não precisa de você!” A rede Globo de<br />

Televisão, que realizava a transmissão em canal aberto,<br />

não mostrou o mosaico, nem a canção, ao iniciá-la<br />

após o incidente.<br />

Desde 2008, realizamos pesquisa sobre a sonoridade<br />

de jogos de futebol em partidas do Clube Atlético<br />

Mineiro, de Belo Horizonte, Brasil, disputados nesta<br />

cidade. Buscamos compreender as formas como os<br />

sons são utilizados pelos torcedores nas arquibancadas<br />

como tecnologias afetivas para a realização do<br />

trabalho de (des)articulação de grupos torcedores no<br />

estádio, o que viabiliza o (des)estímulo dos jogadores<br />

em campo. Apesar de compartilhar a paixão por um<br />

mesmo time, o que vemos e ouvimos na arquibancada<br />

é uma miríade de formas de torcer que por vezes organizam-se<br />

em um uníssono, em outras desintegramse<br />

em balbúrdia. Os sons mediam estas dinâmicas,<br />

catalizando a boa ou má performance dos jogadores<br />

em campo.<br />

“Se há uma forte sinergia entre<br />

os jogadores em campo e a torcida<br />

na arquibancada, no desenrolar<br />

de uma partida de futebol,<br />

o som constitui-se como um dos<br />

principais mediadores desta relação.”.<br />

Em partida válida pelo Campeonato<br />

Brasileiro de 2013, entre Atlético e<br />

Vitória, registramos a cobrança de<br />

uma falta que resultou em gol de<br />

Ronaldinho Gaúcho para a equipe<br />

mineira. O apito do juiz incendiou<br />

a torcida que cantou alto. Em<br />

seguida uma marcação rítmica com<br />

palmas, que se acelerava ao longo<br />

do tempo, iniciou-se num setor da<br />

arquibancada e alastrou-se por todo<br />

o estádio, criando ao mesmo tempo<br />

um ambiente de suspense quanto ao<br />

desfecho do lance e uma base temporal<br />

ao qual o corpo do jogador<br />

poderia se agarrar e tranquilizar<br />

para a realização de seus movimentos.<br />

Contudo, nem sempre estas<br />

tecnologias funcionam da maneira<br />

esperada. Na decisão da Recopa<br />

Sulamericana de 2014, disputada<br />

entre Atlético e a equipe argentina<br />

do Lanús, os minutos finais foram<br />

marcados por intensas vaias que<br />

tomaram todo o estádio, visando<br />

desestabilizar os adversários que<br />

tomavam conta das ações da partida.<br />

O placar marcava empate em<br />

dois gols, o que era favorável aos<br />

brasileiros. Apesar de toda a pressão<br />

contrária, os argentinos marcaram<br />

o gol que levaria o jogo à prorrogação<br />

aos 45 minutos do segundo<br />

tempo, quando os torcedores<br />

atleticanos cantavam o samba “Vou<br />

Festejar”, entoado quando a partida<br />

já está decidida. Na prorrogação,<br />

o Atlético sagrou-se campeão, ao<br />

vencer o período por 2 a 0. Mas o<br />

evento mostra que torcida, embora<br />

possa mostrar-se decisiva, não<br />

ganha qualquer partida.<br />

O que se percebe é que torcida e<br />

jogo de futebol constroem mutuamente<br />

o espetáculo futebolístico.<br />

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FUTEBOL & FUTSAL:<br />

OS NÍVEIS DE POTÊN<br />

MUSCULAR NAS VÁR<br />

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CIA<br />

IAS POSIÇÕES<br />

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FUTEBOL & FUTSAL:<br />

DOIS DESPORTOS IRMÃOS<br />

José Gouveia, Especialista em desporto<br />

contato@desportoeesport.com<br />

O Futebol e Futsal são a uma primeira interpretação dois<br />

desportos irmãos. Partilham muitas das mesmas regras e<br />

em grande medida são jogados da mesma forma. E, acarretam<br />

consigo o mesmo objetivo: marcar mais golos que a<br />

equipa adversária. A isto soma-se ainda, a constante “transferência”<br />

de atletas de uma para a outra modalidade. Um<br />

bom exemplo, é Ronaldinho Gaúcho: começou no Futsal e<br />

a acabou sendo por mais que um ano o melhor jogador de<br />

futebol do Mundo. Casos de jogadores que se iniciaram no<br />

futebol e terminaram no Futsal são ainda mais conhecidos<br />

e em maior número.<br />

Mas com tantas semelhanças e até “transferências” entre<br />

as duas modalidades, quais as diferencias morfológicas e<br />

musculares os entre atletas profissionais e de topo de futebol<br />

e do futsal?<br />

A realidade é que tanto o futebol como o futsal são “modalidades<br />

intermitentes de elevada intensidade caracterizadas<br />

por períodos curtos de recuperação e em que ações rápidas<br />

e intensas assumem particular importância durante o jogo”.<br />

Rápidos sprints de apenas alguns segundos, entre os 2 e os<br />

4 segundos, alternam com períodos de pouco ou nenhuma<br />

deslocação ou simplesmente curtas caminhadas em ritmo<br />

lento para reganhar posição. E neste seguimento, ambas se<br />

apoiam fortemente no treino continuado, na tática, no lado<br />

humano e psicológico dos atletas e no físico, tudo isto de<br />

forma integrada e interligada.<br />

Com relação à condição física, estudos recentes têm<br />

destacado os componentes aeróbicos (potência e capacidade)<br />

e anaeróbios como principais aspetos associados à<br />

performance de atletas de futebol. Assim, embora o futebol<br />

e o futsal apresentem predominância aeróbia, a aptidão<br />

anaeróbia demonstrada em ações de potência muscular,<br />

está relacionada com atividades decisivas das partidas<br />

como sprints, saltos, chutes ou cortes, entre outros.<br />

Mas, existem diferenças entre si, e nas próximas paginas<br />

vamos focar-nos em algumas dessas disparidades, inclusive<br />

em relação aos posições em campo.<br />

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CMJ - Counter Movement Jump: Método e medida utilizada para obter os<br />

valores das pernas dos atletas de diferentes modalidades.<br />

O Desgaste<br />

Num jogo de futebol de 90 minutos, os futebolistas fazem um sprint<br />

em média a cada 90s com durações entre 2 a 4 segundos. Sendo,<br />

que os sprints constituem 1 a 11% da distância total percorrida na<br />

partida, correspondendo de 0.5 a 3% do tempo do jogo.<br />

O futsal tem sido verificado que 13.7% dos deslocamentos são realizados<br />

em alta intensidade (18.1−25.0 km/h) e 8.9% na forma de<br />

sprints (acima de 25 km/h).<br />

Recentes estudos também verificaram que atletas profissionais de<br />

futsal obtiveram desempenho inferior no counter movement jump<br />

(CMJ) e nos tempos de sprints de 5 e 15 m quando comparados a<br />

futebolistas. Embora as razões para estas diferenças sejam ainda<br />

desconhecidas, supõem-se que as exigências físicas durante jogos<br />

(número de sprints, distância dos sprints, distância percorrida total e<br />

número de saltos), possam ser a melhor explicação<br />

Outros estudos têm demonstrado associação entre ações anaeróbias<br />

e níveis de potência muscular em atletas de futebol profissionais.<br />

Reportando uma “correlação significativa entre sprints de 10 e 30 m<br />

e o squat jump – SJ (r = .72, r = .60, p < .01, respetivamente). Além<br />

disso, sprints em distâncias de 5 m têm sido associados à potência<br />

mensurada no SJ (r = −.64, p < .01) indicando que distâncias curtas<br />

requerem elevada capacidade de recrutamento neural.”<br />

Pontos relacionados com o desenvolvimento da aceleração em<br />

curtos espaços, absolutamente necessário para os desequilíbrios<br />

ofensivos tanto no futebol como no futsal.<br />

Potência muscular em atletas de futebol e futsal<br />

Os atletas profissionais de futebol apresentaram valores médios de<br />

CMJ de 44.2 ± 3.5 cme os atletas de futsal de 43.8 ± 6.8 cm, não<br />

sendo então observados diferenças significativas entre os atletas<br />

das duas modalidades.<br />

Com relação à análise das posições dos atletas, pode-se verificar que<br />

os valores médios apresentados pelos jogadores de futebol foram:<br />

médios − 41.4 ± 2.5 cm; laterais − 41.7 ± 2.4cm; avançados − 4 2.1<br />

± 3.7 cm; volantes − 43.4 ± 3.4 cm; guarda-redes − 44.8 ± 2.0 cm e<br />

centrais − 45.8 ± 4.3 cm.<br />

Por sua vez, os atletas de futsal reportam em média os seguintes<br />

valores do CMJ: pivôs − 41.5 ± 4.8 cm; alas − 42.5 ± 3.8 cm; centrais<br />

− 45.1 ± 5.7 cm e guarda-redes − 46.6 ± 7.9 cm. verifica-se que<br />

não existe diferença significativa (p = .69) entre os atletas de futsal<br />

das diferentes posições.<br />

Quanto à análise por escalão, os futebolistas apresentaram valores<br />

médios do CMJ de<br />

42.0 ± 2.7 cm para a categoria sub17, 42.8 ± 3.7 cm para a sub20<br />

e 44.2 ± 3.6 cm para a profissional. Os atletas de futsal reportaram<br />

valores médios de 43.7 ± 4.1 cm para a categoria sub20 e 43.8 ± 6.8<br />

cm para os profissionais.<br />

Mostra-se assim, que não existem diferenças significativas entre os<br />

atletas de Futebol e Futsal em termos de musculatura; assim como<br />

entre as diversas posições destas duas modalidades!<br />

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FUTEBOL & FUTSAL:<br />

PARA BEM DEFENDER -<br />

COORDENAÇÃO MOTOR-OCULAR!<br />

José Gouveia, Especialista em desporto<br />

contato@desportoeesport.com<br />

Diz o ditado popular, e com razão, que em terra de cegos<br />

quem tem um olho é rei. Parece que no futebol e futsal também<br />

assim o é. Pelo menos para quem tem boa coordenação<br />

entre os olhos e as pernas – para este artigo e à falta de<br />

melhor expressão chamamos de coordenação motor-ocular.<br />

Mas vamos por partes. Um cientista alemão, o Dr. Roland<br />

Loy, após ter examinado duas décadas da Bundesliga –<br />

campeonato da primeira divisão da Alemanha, descobriu<br />

que o erro desempenha um papel fundamental no jogo e<br />

no resultado final no futebol. Até aqui nada de muito novo.<br />

De surpreendente, é o facto de 50% dos golos conseguidos<br />

serem resultados de erros perfeitamente evitáveis, como<br />

saltos da bola no relvado, falhas em passes simples, falhas<br />

de concentração, “frangos” ou falhas clamorosas dos<br />

guarda-redes, entre outros fatores similares a estes. Ou<br />

seja, erros não forçados, como se diz no ténis.<br />

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E o estudo de Loy vai ainda mais longe, e aponta o<br />

Borussia Dortmund da época 2011/2012 como exemplo.<br />

A equipa alemã efetuou um total de 3200 ataques durante<br />

toda a época referida, marcando 67 golos. Na prática, apenas<br />

2% dos ataques resultaram em golo. E 36 desses golos<br />

foram em resultado direto de erros não forcados da equipa<br />

adversária.<br />

De forma bem prática, temos que no futebol, contando que<br />

os valores da Bundesliga não se distanciam em demasia<br />

do resto dos campeonatos de topo, que 50% dos golos são<br />

conseguidos por erros não forcados, e temos ainda que<br />

30% dos golos são provenientes de lances de bola parada.<br />

Sendo assim, apenas 20% dos golos nascem de bola corrida<br />

e por mérito da equipa atacante.<br />

Isto acontece em grande medida, devido ao aumento progressivo<br />

e vertiginoso com que o futebol vem sendo jogado<br />

nas última duas décadas, e a maioria dos erros, os não<br />

forçados, acontecem devido à falta de capacidade de uma<br />

boa coordenação entre os olhos do atleta e as suas pernas<br />

e braços, no caso dos guarda-redes. Ou seja, a capacidade<br />

de uma melhor coordenação entre a perceção e ação. – a<br />

teoria de OCO (Optimal Coordination Order). Grande<br />

coordenação está relacionada ao músculo-memória, que<br />

por sua vez está ligada as conexões neurológicas de uma<br />

pessoa. A melhor as conexões, o nível mais elevado de<br />

coordenação é, permite que os jogadores aumentem o seu<br />

nível de reação.<br />

A boa notícia é que isto pode ser treinado, preferencialmente<br />

em idades precoces. E que os clubes para melhorarem<br />

as suas defesas e o número de erros não forçados<br />

devem optar por atletas<br />

(defesas e médios)<br />

com um maior índice<br />

de OCO. As melhores<br />

defesas são aquelas<br />

que têm maior índice<br />

de OCO.Coordenação<br />

motor-ocular parece<br />

ser então a solução<br />

para sofrer menos<br />

golos e ganhar mais<br />

jogos.<br />

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O perfil biologico dos sprínteres<br />

Vencedor do Tour vs. Homem comum<br />

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CICLISMO E<br />

CIÊNCIA<br />

A tecnologia e a ciência no ciclismo<br />

do século 21<br />

Quando pensamos em ciência e tecnologia no desporto logo nos<br />

lembramos da Formula 1 e dos seus monolugares supersónicos.<br />

Dificilmente a imagem do ciclismo nos invade a mente em primeiro<br />

lugar. Mas, para o bem e para o mal, o ciclismo é no século<br />

21 um dos desportos que mais aposta na ciência para aumentar a<br />

performance desportiva dos seus atletas.<br />

E, não sejamos hipócritas, o doping faz parte da ciência no ciclismo,<br />

mas talvez bem menos do que é imaginável. Como se poderá<br />

confirmar em um dos quatro artigos que fazem este especial do<br />

ciclismo e ciência. Talvez mais impacto tenha a temperatura,<br />

pressão atmosférica e humidade. Mas qual das três faz variar mais<br />

a velocidade dos ciclistas? E, o que diferencia um “vencedor de<br />

um tour” de um homem normal? Ou, por último, o que diferencia<br />

morfologicamente um sprinter – o homem mais rápido do pelotão<br />

de por exemplo de um trepador? Neste especial ciclismo e ciência,<br />

respondemos a todas estas perguntas e um pouquinho mais.<br />

Impacto na performance da Temperatura,<br />

Pressão atmosférica e Humidade<br />

Matemática, Doping e Performance<br />

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O PERFIL DOS SPRÍNTERES<br />

NO CICLISMO<br />

Análise do perfil físico dos ciclistas mais rápidos do pelotão e observação do que a<br />

ciência já descobriu! Fisiologia, aerodinâmica e tática.<br />

Diogo Sampaio,<br />

Diretor e colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

d_sampaio@desportoeesport.com<br />

No ciclismo, as etapas de montanha fazem<br />

disparar os índice nos ratings das televisões<br />

e milhares de pessoas, na volta à<br />

frança chegam a ser centenas de milhares,<br />

apoiam na estrada nos seus atletas preferidos,<br />

incentivando-os a pedalar com mais<br />

força, quando as forças já começam a faltar.<br />

O ciclismo, para a maioria dos adeptos<br />

do desporto, é montanha; é subidas com<br />

mais de 8% de inclinação; transpiração<br />

e superação bem lá no alto, onde parece<br />

impossível um homem lá conseguir chegar<br />

unicamente com a força das suas pernas. E,<br />

e para defesa, é nos homens da montanha<br />

que se encontram os camisolas amarela<br />

e o vencedores das grandes provas. Mas,<br />

o ciclismo é bem mais que montanha;<br />

e o seu segundo maior atrativo, são as<br />

chegadas em linha, em pelotão compacto,<br />

onde apenas os homens mais rápidos de<br />

todo o pelotão podem cortar a meta em<br />

primeiro lugar. Assim, se os trepadores são<br />

fundamentais para o desfecho final de uma<br />

grande prova, os sprínteres são essenciais<br />

para a espetacularidade do ciclismo.<br />

E, se o perfil fisiológico e biológico dos<br />

trepadores é amplamente debatido e deste<br />

modo conhecido pelo grande público, o<br />

mesmo não se passa com o perfil dos<br />

sprínteres; e a própria literatura e trabalhos<br />

científicos acompanham esta tendência de<br />

menor conhecimento. Felizmente o maior<br />

profissionalismo no desporto atual com<br />

forte incidência da ciência nos trabalhos<br />

diários de captação de novos talentos e no<br />

treino para competição, permitiu que nos<br />

últimos anos se reganha-se um conjunto<br />

de novos saberes e uma maior compreensão<br />

da fisiologia nos camisolas verdes<br />

do ciclismo.Percebendo-se assim, quais as<br />

características necessárias dos sprínteres e<br />

qual a fisiologia de uma atleta que consegue<br />

em cerca de 10 a 15 segundos alcançar<br />

velocidades acima de 70 km/h.<br />

Nas próximas paginas vamos entender o<br />

que une Cavendish, Marcel Kittel André<br />

Greipel, Mário Cipollini, Erik Zabel ou<br />

Robbie McEwen; e porque em determinadas<br />

alturas uns ganham mais que os<br />

outros.<br />

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Potência (watts) por Velocidade (Km/h)<br />

Um dos pontos mais interessantes dos<br />

mais recentes estudos, aponta que os<br />

sprínteres possuem fisiologicamente<br />

mais semelhanças com os sprínteres<br />

do atletismo, como os corredores<br />

dos 100 metros, do que semelhanças<br />

com os melhores trepadores, como<br />

Contador ou Froome. Em comparação:<br />

o peso médio dos melhores trepadores<br />

(como Contador, Froome) é de<br />

64,4 ± 4,1 kg; os melhores sprínteres<br />

do pelotão pesam 71,7 ± 1,1 kg – mais<br />

de 7 kg de diferença.<br />

Por outro lado, os sprínteres partilham<br />

muitas semelhanças com os<br />

ciclistas do BMX, onde o esforço por<br />

prova é mais curto mas mais duro e<br />

com maior desgaste energético em<br />

um menor período de tempo; à semelhança do que acontece com<br />

os sprínteres que têm que atingir grandes velocidades num curto<br />

espaço de tempo, com fortes perdas energéticas, como nos mostra<br />

o gráfico ao lado. A potência máxima nos sprints foi 1443W, e em a<br />

média é de 1.248 W. Isso corresponde a entre 17 e 18 W / kg. Para<br />

efeitos de comparação, Nibali vencedor do Tour no ano passado,<br />

fez um esforço energético, na última etapa de montanha que venceu<br />

a solo durante cerca de 30 a 40 min, na ordem de 5,9-6,2 W / kg.<br />

Marcel Kittel, vendedor de duas etapas ao sprint na volta à frança<br />

de 2014, produz os números de potencia energética mais elevado;<br />

com 82 kg e com 18W/kg ele tem uma potência energética máxima<br />

de 1476W. De destacar, que estes valores são produzidos após<br />

etapas de 150 a 200 km. Não representado com exatidão o pico de<br />

potência de cada atleta; sem fadiga e em condições ideais teríamos<br />

valor 10 a 15% superiores.<br />

“O peso médio dos melhores trepadores (como Contador, Froome) é de 64,4 ±<br />

4,1 kg; os melhores sprínteres do pelotão pesam 71,7 ± 1,1 kg – mais de 7 kg de<br />

diferença.”<br />

Mas, por muito importante que a potência<br />

desempenha, o vendedor não é sempre o<br />

homem que produz a mais alta potência<br />

energética, como tão bem o<br />

gráfico ao lado demonstra -<br />

a correlação entre vitória e<br />

potência energética não é de<br />

modo algum direta. Como<br />

podemos observar pelo<br />

gráfico, existem vitórias<br />

em que o pico de potência<br />

máximo não ultrapassaram<br />

os 1100W e segundos e terceiros<br />

lugares que ultrapassaram<br />

os 1600W, em muitos<br />

casos, com picos superiores<br />

aos vencedores na ordem<br />

dos 300 a 400W. Porque isto<br />

acontece? A realidade, é que<br />

o ciclismo, como na maioria das modalidades<br />

desportivas, a força energética não<br />

é suficiente para a vitória, e existem outros<br />

fatores fundamentais para o êxito, como<br />

a técnica do atleta, a tática adotada e no<br />

caso dos sprínteres a aerodinâmica.<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 51


As diferentes aerodinâmicas de cada ciclista<br />

permitem diferentes velocidades para uma<br />

mesma potência. Para comparação, pense-se na Formula 1, e como<br />

em muitos casos pequenas diferenças nos carros (aerodinâmicas)<br />

retiram no fim de cada volta centésimos de segundo – pequenas diferenças,<br />

mas que fazem a diferença para<br />

a vitória. O ciclismo é o mesmo, onde<br />

o ciclista, a bicicleta e o equipamento<br />

são um todo uno que influencia todo<br />

o movimento e como tal a velocidade<br />

para lá da potência energética emitida<br />

pelo corpo do ciclista.<br />

Um dos ciclistas que mais e melhor<br />

usa o aerodinamismo em cima de uma<br />

bicicleta é M. Cavendish. A posição de<br />

M, Cavendish em pelo sprint é<br />

ombros baixos e cabeça para<br />

baixo, como podemos observar<br />

nas imagens ao lado; sendo esta<br />

posição a ideal para o sprint.<br />

Em aerodinâmica, há um<br />

elemento que considera todos<br />

esses fatores, resumindo-os em<br />

um único número. É chamado<br />

de CdA (coeficiente de arrasto<br />

área) e, de forma simples,<br />

quanto menor o número melhor<br />

e mais eficiente será o ciclista. Por exemplo, uma redução na CdA (~<br />

10%) pode resultar em mais de três metros de vantagem num sprint<br />

de 14 segundo.<br />

“o ciclismo, como na maioria das modalidades desportivas, a força energética<br />

não é suficiente para a vitória, e existem outros fatores fundamentais para o<br />

êxito, como a técnica do atleta, a tática adotada (equipa e atleta) e no caso<br />

dos sprínteres a aerodinâmica. ”<br />

As variáveis táticas, que como é compreensível<br />

determinantes para o sucesso, são<br />

aquelas que são mais difíceis de mensurar,<br />

mas ainda assim existem já dados bem<br />

interessantes,<br />

Para o sucesso de um sprinter, verificouse,<br />

que este deve estar na 6ª (± 2) posição<br />

no pelotão à entrada do último quilometro<br />

ou no início<br />

do último minuto<br />

da etapa. Quando<br />

o sprinter entra no<br />

último quilómetro<br />

na 9ª posição (± 5)<br />

em sprints em que<br />

ele acabou no top 10<br />

(mas não top 5). Nos<br />

últimos 500 metros para a linha final,<br />

o sprinter deve estar na 3 (± 1) posição<br />

– essa é por norma, a posição dos vencedores.<br />

Por exemplo, quando o atleta está<br />

na 8 (± 5), ele não vence por norma. E<br />

nenhuma vitória é conseguida, dentro das<br />

melhores competições mundiais, quando o<br />

atleta está na nona posição, ou abaixo, nos<br />

últimos 500 metros.<br />

Em termos de acompanhamento de equipa,<br />

o ideal é dois companheiros de equipa<br />

fazerem a aproximação à meta, até sensivelmente<br />

aos últimos 30 segundos da<br />

meta e em alguns casos, até aos últimos 15<br />

segundos da meta, já em aceleração forte;<br />

abrindo despois caminho para o sprint<br />

final, que deve durar preferencialmente<br />

entre os 15 e os vinte segundos.<br />

Por fim, os dados utilizados neste artigo<br />

derivam de vários estudos de Paolo<br />

Menaspa, professor e investigador desportivo,<br />

principalmente na área do ciclismo.<br />

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VENDEDORES DO TOUR<br />

VS. HOMEM COMUM<br />

O que nos dizem os mais recentes<br />

estudos sobre a Fisionomia dos principais<br />

ciclistas de estrada quando<br />

comparados com o homem comum<br />

No final de uma grande volta por etapas percorrem-se muitas<br />

centenas de quilómetros. Numa volta a França, podemos<br />

falar em milhares de quilómetros, a maioria das vezes, no<br />

final dos 21 dias da volta rainha do ciclismo, a contagem<br />

final dos quilómetros ronda os 3.500 km. Percorrer toda esta<br />

distância, muita dela em alta montanha e sempre nos limites<br />

do corpo humano não é para qualquer um, daí que existam<br />

diferenças fisiológicas, entre estes atletas de resistência e pessoas<br />

comuns.<br />

Existem duas grandes diferenças fisiológicas: o coração e a<br />

competência de oxigenação dos músculos. Duas características<br />

adquiridas pelo treino.<br />

O coração do ciclista tente a ter maiores dimensões quando<br />

comparado com “o comum dos mortais” o que lhe permite<br />

bombear uma maior quantidade de sangue a cada batimento. O<br />

que por sua vez, possibilita reoxigenar pela corrente sanguínea<br />

os músculos de forma mais rápida e eficiente. O ventrículo<br />

esquerdo dos ciclistas na maioria dos casos tem perto do dobro<br />

de um coração normal. Neste ponto, o número de batimentos<br />

cardíacos por minutos na média da população é de 70 quando<br />

em repouso. Em condições de forma ideal, o valor necessário<br />

seria apenas de 40 batimentos por minuto. O ex-ciclista britânico<br />

Chris Boardman no seu auge de performance tinha uma<br />

frequência cardíaca de repouso de 38. O ciclista espanhol e<br />

vencedor de grandes voltas Miguel Indurain tinha uma frequência<br />

cardíaca de repouso de apenas 28 batimentos por minuto.<br />

O potencial de resistência de um atleta/pessoa pode ser medido<br />

através de uma leitura VO2 max, o que mostra a quantidade de<br />

oxigênio é utilizado por minuto para cada quilo de peso corporal.<br />

Um homem típico de trinta anos e em relativa forma teria<br />

aproximadamente um valor em VO2 max aproximado entre 35<br />

e 45. Wiggins, na foto, tem na mesma medida um valor acima<br />

de 70, possivelmente, até mesmo a 80. A diferença é imensa.<br />

Mais que o dobro.<br />

Tiago Dinis,<br />

colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

contato@desportoeesport.com<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 53


O MEIO E O IMPACTO NA<br />

PERFORMANCE:<br />

TEMPERATURA, PRESSÃO ATMOSFÉRICA E HUMIDADE!<br />

Rodolfo R. Pires,<br />

colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

contato@desportoeesport.com<br />

A<br />

temperatura, a pressão ou<br />

a humidade são fatores<br />

ambientais que afetam a<br />

densidade do ar, e por conseguinte,<br />

a relação entre a potência<br />

de um ciclista de estrada e a sua<br />

velocidade e/ou performance desportiva.<br />

Durante uma prova de três<br />

semanas, os fatores ambientais são<br />

altamente mutáveis, podendo inclusive<br />

coexistir diferentes condições<br />

atmosféricas numa mesma etapa.<br />

Algo, mais frequente em etapas de<br />

montanha de grande altitude. Um<br />

recente estudo de Dan B. Dwyer “<br />

The effect of environmental conditions<br />

on performance in temed<br />

cycling events”, encontra, através da<br />

matemática, uma correlação direta<br />

entre o meio e a performance<br />

do ciclista em relação à velocidade<br />

deste. Os resultados são bem interessantes.<br />

É fundamental compreender a complexidade<br />

da correlação entre estas<br />

três variáveis e o real impacto que<br />

possuem na velocidade dos ciclistas,<br />

sendo que genericamente, podesse<br />

afirmar que os efeito dos fatores<br />

ambientais podem significar uma<br />

diferença na ordem dos 1,5%, o que<br />

é significativo, dado que as margens<br />

entre desempenhos entre os<br />

primeiros classificados de grande<br />

prova, como por exemplo o Tour,<br />

são menores entre si.<br />

A magnitude do efeito das mudanças<br />

em cada fator ambiental na<br />

velocidade é diferente. Em geral,<br />

mudanças de temperatura têm o<br />

maior efeito sobre a velocidade,<br />

seguida de pressão e depois humidade.<br />

Além disso, a direção de estes<br />

efeitos não é o mesmo. A velocidade<br />

aumenta com o aumento da temperatura<br />

e humidade, mas a velocidade<br />

diminui inversamente com o<br />

aumento da pressão.<br />

Um outro ponto importante<br />

é juntando duas destas variáveis<br />

podemos ter efeitos opostos do<br />

que aconteceriam quando apenas<br />

se estudo o seu efeito individualmente.<br />

Como por exemplo, um<br />

pequeno aumento de temperatura<br />

e um grande aumento da pressão<br />

barométrica).<br />

As condições ambientais ótimas<br />

para o desempenho desportivo e no<br />

ciclismo são alcançadas quando se<br />

alcançam os seguintes valores: 20 °<br />

C, 760 mmHg (1013,25 hPa) e 50%<br />

de humidade relativa.<br />

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Ciclismo e tecnologia:<br />

App The Bike Fit<br />

Abaixo, podemos observar os gráficos do impacto das<br />

três vaiáveis em estudo (temperatura, pressão atmosférica<br />

e humidade) na velocidade dos ciclistas.<br />

Temperatura (C)<br />

Pressão atmosférica (hPa)<br />

Um recente aplicativo para<br />

iPhone promete auxiliar os<br />

ciclistas a ajustar a pedalada<br />

d«na bicicleta coma a postura<br />

ideal. Além disso, o app,<br />

batizado The Bike Fit, armazena<br />

todas as informações<br />

sobre a bicicleta e reúne todos<br />

os dados, que podem ser<br />

compartilhados com os amigos,<br />

nas redes sociais ou diretamente.<br />

uma maior competitividade<br />

entre os ciclistas;<br />

e as bebidas energéticas que<br />

ajudam a uma maior e mais<br />

rápida reposição dos nutrientes,<br />

mesmo em corrida.<br />

O aplicativo foi desenvolvido<br />

por Dag Rutter, britânico que<br />

atua na área da Saúde e é um<br />

entusiasta do ciclismo.<br />

Humidade relativa (%)<br />

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O<br />

AUMENTO NA PERFORMANCE NA DÉCADA DE 90<br />

FOI CRIADA UNICAMENTE PELO DOPING?<br />

Pedro M. Silva,<br />

colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

contato@desportoeesport.com<br />

L<br />

ance Armstrong, em 2003, terminou as 21 etapas<br />

da volta a França com uma média de 41,23<br />

hm/h. Um recorde na competição que acompanhou<br />

o aumento da velocidade dessa década não só na prova<br />

rainha do ciclismo mas em todas as outras grandes provas<br />

europeias, como o Giro a Vuelta e as clássicas da primavera.<br />

Sendo, que o percursos no geral à época era os mais duros<br />

de sempre – maior número de quilómetros de montanha e<br />

maiores percentagens de índice de inclinação. Na prática, a<br />

década de 90 e inicio dos anos 2000, deu-se a ultima grande<br />

revolução (positiva) na performance dos ciclistas profissionais.<br />

Mas vamos a alguns factos. Recentes estudos, apontam 4<br />

grandes períodos de expansão de velocidade no ciclimo.<br />

O primeiro ocorreu quando as corridas começaram a<br />

disputar-se de uma forma mais constante e regular, antes<br />

da I Guerra Mundial. O segundo foi entre as duas Guerras<br />

Mundiais, graças a melhorias nos treinos e ao desenvolvimento<br />

de novos materiais usados no fabrico das bicicletas.<br />

Quando terminou a II Guerra Mundial, as velocidades<br />

voltaram a subir, de forma progressiva, e estabilizaram até<br />

aos já mencionados, meados da década de 90, após um<br />

período de estagnação de quase trinta anos. Coincidente<br />

com o momento em que a EPO, um dos medicamentos<br />

com mais efeitos no desempenho desportivo, começou a ser<br />

usado como doping no ciclismo de elite.<br />

Os números não mentem. Em 10 das 11 maiores provas<br />

europeias, a performance melhorou em 6,38%. As distâncias<br />

entre os dez melhores e os restantes também diminuíram e<br />

os desempenhos tornaram-se mais similares.<br />

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MATEMÁTICA, DOPING E<br />

CICLISMO - OS NÚMEROS<br />

Diferentes estudos contradizem-se,<br />

apresentando números<br />

distintos, e o segredo do aumento da<br />

performance pode estar nos anos 80.<br />

Para El Helou, uma das principais referencias mundiais, a conclusão<br />

é clara: o aumento da performance no ciclismo é unicamente<br />

devido ao doping e à Epo – conclusões publicadas no artigo “Tour<br />

de France, Giro, Vuelta, and classic European races show a unique<br />

progression of road cycling speed in the last 20 years”. E, El Halou<br />

substância as suas conclusões em números bem concretos. Como<br />

referido, durante a década de 90 as melhorias na performance<br />

subiram 6,38% e o trabalho de Halou após estudos laboratoriais<br />

concluiu que a substancia epo concedeu uma vantagem fisiológica-<br />

aeróbica aos ciclistas na ordem dos 6,3-6,9%. Como facilmente<br />

é observável, os valores são muito próximos entre vantagem fisiológica<br />

e vantagem conseguida no terreno.<br />

Existe, no entanto, um estudo ainda mais recente que nega pelo<br />

menos em parte as conclusões de El Halou. O estudo foi conduzido<br />

por F. Hein e Bram Brouwer “Tour, Giro, Vuelta: Rapid Progress in<br />

Cycling Performance Starts in the 1980s”. Este estudo aprofunda um<br />

pouco mais as premissas e inclui nas suas analise um maior conjunto<br />

de fatores que influenciaram o aumento da performance dos<br />

ciclistas, como por exemplo, as melhores estradas, o maior tempo<br />

de descanso - devido à melhor e mais rápida rede de transportes<br />

entre etapas ou a maior gama de testes biológicos que possibilitam<br />

um treino mais adequado e personalizado a cada atleta. Assim<br />

verificou-se que a dureza das três principais voltas (França, Italia<br />

e Espanha) não apresentou acréscimos significativos – anos 90 em<br />

Ou<br />

comparação com as décadas de 60,70 ou 80.<br />

Por outro lado, colocando na equação todos estes novos dados,<br />

chegou-se à conclusão que a melhoria dos tempos era de apenas<br />

3,18%. Valores que não são assim tão distantes das melhorias que<br />

seriam esperavéis. Por fim, este mesmo estudo, que de facto relativiza<br />

o impacto na performance da epo no ciclismo profissional,<br />

aponta a década de 80, como o período chave para o aumento da<br />

velocidade dos ciclistas nas 3 principais voltas por etapas na europa.<br />

A década de 80 – o<br />

segredo do aumento da<br />

performance<br />

Nos anos 80 o ciclismo<br />

abriu-se deixando de ser um<br />

desporto fechado em meiadúzia<br />

de países, e ciclistas da<br />

Rússia, Colômbia, Estados<br />

Unidos ou Austrália passar<br />

a fazer parte do pelotão das<br />

grandes voltas. Nesta mesma<br />

altura, houve uma explosão<br />

comercial e uma procura<br />

pelas grandes marcas que investiram<br />

muito dinheiro, que<br />

para além de melhorarem<br />

salários elevaram a qualidade<br />

dos materiais e dos treinos e<br />

permitiram um maior nível<br />

de profissionalismo, mesmo<br />

em pequenas equipas o que<br />

fez disparar o número de potencial<br />

de atletas.<br />

Por fim, mais dois fatores<br />

ainda que marginais surtiram<br />

efeito. O início do<br />

Ranking da UCI que criou<br />

uma maior competitividade<br />

entre os ciclistas; e as bebidas<br />

energéticas que ajudam<br />

a uma maior e mais rápida<br />

reposição dos nutrientes,<br />

mesmo em corrida.<br />

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PREVALÊNCIA DE LESÕES<br />

58 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.comTÉN


NA ALTA COMPETIÇÃO<br />

ISDesporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 59


Antonio Pedro Silva, Fisioterapeuta desportivo<br />

contato@desportoeesport.com<br />

A prática do ténis ao mais alto nível envolve uma grande<br />

variedade e variação de movimentos, muitos deles repentinos<br />

e de grande altercação, que necessita de uma coordenação,<br />

agilidade e potência muscular acima da média e acima<br />

do que é exigido na grande maioria das modalidades. A<br />

isto junta-se ainda épocas longas, para os top 100 estamos<br />

a falar de pelo menos 10 meses de competição interrupta<br />

– entre treino e torneios, de janeiro a Outubro. As lesões<br />

são inevitáveis. Aliás, as lesões nos membros superiores,<br />

as que têm um maior grau de incidência, são na sua grande<br />

maioria resultado de sobrecarga de esforço. E, num desporto<br />

tão tecnicista como o ténis, muitas lesões aparecem<br />

também devido ao uso de uma técnica inadequada. Um<br />

bom exemplo, é Greg Rusedski, que tinha como principal<br />

arma o seu serviço supersónico que lhe valia a vitória em<br />

muito encontros, mas que ao longo dos anos lhe tinha<br />

deteriorado a sua condição física e fazia com que sofresse<br />

inúmeras dores nas costas. Felizmente ele soube adaptar-se<br />

e modificou a forma como executava o seu serviço sem que<br />

este perdesse qualidade. E, existem ainda alguns fatores, que enganosamente<br />

podem aparentar ser pouco relevantes, mas mostram-se decisivos,<br />

como são bons exemplos: o tipo de empunhadura na raquete, a tensão utilizada<br />

nas cordas (vibração), o desequilíbrio muscular e elevada força de<br />

preensão manual. O próprio piso influencia diretamente o tipo de lesões.<br />

Os pisos mais rápidos geralmente são de material sintético ou cimento.<br />

Para aqueles que jogam regularmente neste tipo de pisos, as lesões de<br />

membros inferiores são mais frequentes dos guarda-redes, entre outros<br />

fatores similares a estes. Ou seja, erros não forçados, como se diz no ténis.<br />

60 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 61


“O próprio piso influência diretamente no tipo de lesões dos tenistas, e em<br />

caso de descuido, podem inclusive potenciá-las. Os pisos mais rápidos geralmente<br />

são de material sintético ou cimento. Para<br />

aqueles que jogam regularmente neste tipo de<br />

pisos, as lesões de membros inferiores são mais<br />

frequentes.”<br />

Frequência do tipo de lesões em tenistas profissionais<br />

Recentes pesquisas,<br />

apesar<br />

de algumas<br />

diferenças,<br />

identificam que<br />

o local da lesão<br />

mais frequente<br />

entre os tenistas<br />

o cotovelo<br />

(20,5%), seguido<br />

do ombro<br />

(13,6%), joelho<br />

(11,4%), perna (9%), coxa (9%), punho (9%), coluna lombar<br />

(6,8%), tornozelo (6,8%), coluna cervical (4,54%), coluna<br />

torácica (4,54%), mão (2,27%), e pé (2,27%).<br />

Dentro desta pesquisa e dentro destas lesões, o tempo de<br />

afastamento variou entre 1 a 4 semanas em 30% dos casos;<br />

sendo que tempo médio de afastamento dos atletas com<br />

lesão foi de 9,9 semanas.<br />

Apesar de não aparecer na pesquisa, pelo menos não de<br />

forma direta, As lesões musculares também são muito frequentes<br />

e podem diminuir muito a capacidade dos tenistas.<br />

A incidência de lesão em tenistas é de cerca de 56% num<br />

período de dois anos. Em outras pesquisas, realizadas por<br />

Souza, Dantas e Silva Júnior, a prevalência de atletas lesionados<br />

foi de 59,09%. Ou seja, mais de metade dos tenistas,<br />

irá ter uma lesão significativa. As lesões têm ainda mesmo<br />

mais incidência em atletas jovens, entre os 14 e os 17 anos.<br />

62 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


O cotovelo, como vemos pelos dados acima<br />

mostrados, é a lesão mais frequente, e dentro<br />

das lesões no cotovelo, aquela que mais<br />

vezes se verifica é epicondilite lateral, também<br />

conhecida como cotovelo do tenista.<br />

Trata-se de uma inflamação nos tendões<br />

dos extensores de punho, que ocorre na<br />

maior parte das vezes em decorrência do<br />

movimento errado de backhand. Quando<br />

não é tratada corretamente, essa inflamação<br />

pode causar uma desestruturação nas<br />

fibras internas do tendão, o que pode levar<br />

a um processo degenerativo e consequentemente<br />

a fissuras das fibras desse tendão.<br />

Essas fissuras podem causar inicialmente<br />

dores leves, porém com o tempo, a falta de<br />

tratamento e a continuidade<br />

nos treinos e jogos,<br />

a degeneração aumenta<br />

e pode levar a rupturas<br />

tendinosas.<br />

O tratamento deste tipo<br />

de lesão vai desde o uso<br />

de anti-inflamatórios,<br />

fisioterapia até a cirurgia,<br />

caso a lesão seja muito<br />

crônica e o tendão esteja<br />

rompido.<br />

Hoje em dia também se<br />

discute muito o uso de PRP (Plasma Rico<br />

em Plaquetas) para tratar a epicondilite<br />

lateral. Tem- se observado, que em casos<br />

de ruptuta do tendão, a injeção do plasma<br />

rico em plaquetas pode fazer com que a<br />

ruptura seja cicatrizada, sem a necessidade<br />

de cirurgia.<br />

“As lesões são inevitáveis. Aliás, as lesões nos membros superiores, as que<br />

têm um maior grau de incidência, são na sua grande maioria resultado de<br />

sobrecarga de esforço. E, num desporto tão tecnicista como o ténis, muitas<br />

lesões aparecem também devido ao uso de uma técnica inadequada... outras<br />

fatores de lesão são: o tipo de empunhadura na raquete, a tensão utilizada<br />

nas cordas (vibração), o desequilíbrio muscular e elevada força de<br />

preensão manual.”<br />

Na mesma pesquisa acima mencionada,<br />

observa-se uma grande incidência de lesão<br />

em atletas jovens, menores de 17 anos,<br />

78,6% já tiveram algum tipo de lesão;<br />

alguns, inclusive, mencionaram mais que<br />

uma. Nessa faixa de idade, apenas 21,4%<br />

não foram lesionados em virtude da prática<br />

do tênis nos últimos 24 meses. Ao<br />

relacionar-se a incidência de lesão com<br />

o número de torneios disputados ao ano,<br />

observou-se uma relação de dependência<br />

com p = 0,035, o que evidenciou que os<br />

atletas que disputam de 6 a 10 torneios<br />

por ano são os que mais têm incidência<br />

de lesão. Ao verificar a relação da idade<br />

com o número de torneios disputados no<br />

ano, observou-se uma relação estatisticamente<br />

significativa, com p = 0,0003 para<br />

os atletas com idade inferior a 17 anos que<br />

disputam cerca de 6 a 10 torneios por ano.<br />

Esses são também os que mais se lesionam,<br />

seguidos pelos atletas com idade entre 21<br />

e 40 anos, que disputam mais que 10 torneios<br />

por ano.<br />

A fisioterapia aparece como a melhor<br />

das armas, já que atua não só no tratamento<br />

dessas lesões, mas também faz um<br />

trabalho muito importante de prevenção.<br />

É necessário que o atleta, seja ele profissional<br />

ou pré-profissional, faça um trabalho<br />

preventivo em paralelo ao treino para<br />

fortalecer a musculatura. Além disso, o<br />

atleta deve fazer alguns treinos para correção<br />

de técnica e treinos sensório motor.<br />

O fisioterapeuta deve igualmente saber<br />

auxiliar os tenistas por meio da prevenção<br />

e reabilitação das lesões, visando à<br />

melhoria e o desempenho do atleta, corrigindo<br />

desequilíbrios musculares e erros<br />

biomecânicos. E junto com o treinador<br />

corrigir erros de técnica que possam prejudicar<br />

o atleta.<br />

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A INFLUÊNCIA DOS PENSAMENTOS NA<br />

PERFORMANCE ESPORTIVA<br />

Samira Saint Martin<br />

Psicóloga esportiva. Especialista<br />

em Terapia Cognitiva.<br />

samira.psicologia@gmail.com<br />

Ainfluência dos aspectos psicológicos<br />

no desempenho de atletas começou a<br />

ser discutido no início do século XX.<br />

Desde essa época já falava-se sobre<br />

a importância e o diferencial da preparação psicológica<br />

e não apenas a preparação física. Segundo Weinberg &<br />

Gould (2008), a Psicologia do esporte estuda o comportamento<br />

de indivíduos no contexto de esporte e atividade<br />

física. Além disso, busca entender os efeitos de fatores<br />

psicológicos sobre o desempenho físico; e entender os<br />

efeitos da participação em atividades físicas sobre o<br />

desenvolvimento psicológico, bem estar e saúde dos indivíduos.<br />

O ambiente esportivo é rico em situações em<br />

que é preciso ajudar o atleta a entender seus pensamentos<br />

automáticos e suas crenças, pois eles podem influenciar<br />

diretamente na sua performance. Ajudando-o a avaliar<br />

essas questões e a modificar as distorções cognitivas,<br />

há uma mudança no humor e na emoção que envolve<br />

uma determinada situação, podendo então melhorar sua<br />

performance ou pelo menos, evitar uma queda de rendimento.<br />

É de fundamental importância que o psicólogo<br />

conheça o esporte no qual está atuando, pois as exigências<br />

variam de esporte para esporte. Além disso, quando<br />

seu trabalho é constante, o psicólogo já tem conhecimento<br />

sobre as exigências psicológicas específicas do esporte em<br />

que atua, tem conhecimento sobre carga de treinamento, o<br />

calendário de competições e a necessidade e importância<br />

de se trabalhar em uma equipe multidisciplinar. A terapia<br />

Cognitiva é uma abordagem da Psicologia criada por Aaron<br />

Beck, norte-americano, professor na Universidade da Pensilvânia,<br />

na década de 60. O modelo cognitivo propõe a ideia<br />

de que as emoções e os comportamentos das pessoas são<br />

influenciados pela percepção que elas tem dos eventos em<br />

suas vidas. Não é a situação em si que determina o que as<br />

pessoas sentem, ou a forma como se comportam, mas sim a<br />

interpretação que fazem da situação. Um atleta, por exemplo,<br />

pode ficar muito ansioso ao participar de sua primeira<br />

competição internacional, mesmo tendo muita experiência<br />

em competições nacionais e competindo contra os mesmos<br />

adversários. O modelo cognitivo leva em consideração a<br />

tríade pensamento-emoção-comportamento e trabalha com<br />

a ideia de que o pensamento disfuncional ou seja, aquele que<br />

influencia negativamente o humor e o comportamento seja<br />

modificado, produzindo uma melhora em ambos.<br />

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Desde a infância, as pessoas desenvolvem determinadas crenças<br />

sobre si mesmas, sobre as pessoas ao seu redor e sobre o mundo.<br />

Elas tentam colocar um sentido no ambiente em que estão inseridas<br />

desde os primeiros anos de vida e assim, vão organizando sua<br />

experiência de uma forma que para elas se torna coerente para<br />

funcionar de um jeito mais adaptativo. Consequentemente, suas<br />

interações com o mundo e com as outras pessoas conduzem a<br />

determinados entendimentos e aprendizagens, gerando assim suas<br />

crenças. O trabalho do psicólogo cognitivista é ensinar o atleta a<br />

identificar seus pensamentos automáticos disfuncionais, avaliar<br />

e modificá-los, tendo como objetivo, um alívio dos sintomas,<br />

pois sabe-se que esses pensamentos influenciam diretamente nas<br />

suas emoçoes. A Terapia Cognitivo-Comportamental utiliza uma<br />

variedade de técnicas cognitivas e comportamentais para ajudar o<br />

atleta na mudança de pensamento, humor e comportamento. Por<br />

isso essa abordagem terapêutica está sendo cada vez mais utilizada<br />

no meio esportivo.<br />

O papel da cognição é central porque determina como o atleta<br />

reage emocionalmente à um estímulo percebido.<br />

Há um processo cognitivo que determina a relevância de um<br />

evento, ou objeto, que resulta em uma resposta emocional e<br />

assim, comportamental. Segundo Jones (2003), o papel da Terapia<br />

Cognitiva é fazer com que o atleta, faça uma reinterpretação de um<br />

dado evento, para que a partir daí ele consiga modificar alguma<br />

emoção disfuncional diante de tal evento, afim de evitar uma<br />

queda no seu desempenho.<br />

Muitos teóricos como Vallerand e Blanchard, consideram a<br />

emoção como uma função de adaptação que pode mediar e energizar<br />

comportamentos subsequentes, garantindo uma mudança nos<br />

recursos físico e mental de uma pessoa diante de uma tarefa. As<br />

emoções geradas por pensamentos podem levar o atleta a buscar<br />

seus objetivos ou se afastar dele.<br />

“O ambiente esportivo é rico em<br />

situações em que é preciso ajudar o<br />

atleta a entender seus pensamentos<br />

automáticos e suas crenças, pois eles<br />

podem influenciar diretamente na sua<br />

performance. Ajudando-o a avaliar essas<br />

questões e a modificar as distorções<br />

cognitivas, há uma mudança no humor e<br />

na emoção que envolve uma<br />

determinada situação, podendo então<br />

melhorar sua performance ou pelo menos,<br />

evitar uma queda de rendimento.”<br />

Certas emoções podem afetar positiva ou<br />

negativamente, dependendo do atleta e da<br />

situação. Ele pode se sentir culpado por<br />

seus erros frequentes durante uma partida<br />

de futebol, e por isso, evita receber a bola<br />

para não cometer mais erros e atrapalhar<br />

a equipe. Por outro lado, um atleta que<br />

passa pela mesma situação, pode querer<br />

ter maior posse de bola para tentar melhorar<br />

seu rendimento e reconquistar a<br />

confiança da equipe. Muitos jogadores<br />

dizem gostar de jogar com um nível mais<br />

alto de ansiedade, pois esse nível mais alto<br />

de excitação facilita a performance.<br />

Isso confirma a ideia de que cada atleta<br />

faz uma interpretação diferente da situação<br />

de competição e como se sente diante<br />

dela, pois mesmo a ansiedade pode ser<br />

vista como facilitadora para alguns deles,<br />

dependendo da modalidade esportiva.<br />

Quando os atletas se encontram em um<br />

estado particular de humor, eles filtram as<br />

informações mantendo esse estado emocional,<br />

interpretando-as de forma a confirmar<br />

suas crenças. A recordação está<br />

afetada pelo estado de humor atual da<br />

pessoa, relacionado ao valor afetivo da<br />

memória recuperada. Sentimentos como<br />

raiva e alegria são significados que atribuímos<br />

a conjuntos de sensações subjetivas<br />

associadas a reações físicas que se manifestam<br />

diante de um evento. Essas e outras<br />

emoções refletem a capacidade de atribuir<br />

valor às situações que, por fim, influenciam<br />

o comportamento apresentado.<br />

O psicólogo atuante no esporte, precisa<br />

orientar seus atletas a identificar seus<br />

pensamentos automáticos e questionar a<br />

sua validade.<br />

A partir desses achados, o psicólogo<br />

desenvolve um plano de ação para o trabalho<br />

com o atleta e a equipe, a fim de<br />

reavaliar seus pensamentos disfuncionais,<br />

modificando suas emoções em relação a<br />

tal situação e consequentemente, seu comportamento.<br />

Atualmente a preparação psicológica é<br />

o diferencial entre atletas de alto nível.<br />

Centésimos de segundos separam o primeiro<br />

do último colocado em provas olímpicas<br />

importantes.<br />

Sendo assim, a reestruturação cognitiva e a<br />

importância de lidar com os sentimentos,<br />

podem levar um atleta à sua glória.<br />

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RUGBY & CIÊNCIA<br />

O DESGASTE FISICO<br />

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E PSICOLOGICO<br />

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Como a ciência está a demonstrar na perfeição<br />

o desgaste motor e mental dos atletas de Rugby<br />

profissional!<br />

A<br />

utilização de diversas tecnologias no Rugby profissional, como aparelhos de GPS e sensores<br />

de movimentos e de embate, tem permitido em diversas modalidades perceber de<br />

forma mais exata qual o desgaste físico dos atletas e por conseguinte quais as “perdas” psicológicas<br />

de um jogo. Informações sobre distâncias percorridas, velocidades de execução,<br />

frequências cardíacas, necessidades respiratórias, intensidades dos impactos e energias gastas são<br />

recolhidas e analisadas por software e existem conclusões muito interessantes relativamente a estes<br />

desportos:<br />

Um defesa durante uma única partida sofre em média 120 impactos – tackle, ruck/maul ou quedas<br />

no solo; os atacantes/pontas, os jogadores mais ofensivos, mais que dobram esses valores, e sofrem<br />

em média 300 impactos por jogo – sendo que pelo menos 70 desses impactos tem uma força de 8g<br />

(G-force); os impactos ocorrem com uma maior incidência na segunda metade 65%, contra os 35%<br />

da primeira metade do jogo.<br />

Os defesas percorrem uma distância média de 7 a 7,5 km; os atacantes, um pouco menos, entre os 5<br />

e os 7 km, dependendo da posição mais especifica em campo. Destes valores, cerca de 70% é feita<br />

andando ou em corrida lenta, 25% é gasto em corrida moderada e 5% em sprint. A distância media de<br />

cada sprint é de 20 metros e acontece 30 vezes por jogo para cada jogador; ocorrem, entre caminhar,<br />

corrida e sprint, cerca de 750 mudanças de velocidade, ou seja uma alteração de rapidez de movimentos<br />

em cada 3 a 4 segundos.<br />

Rui P. Gavião, especialista em desporto<br />

contato@desportoeesport.com<br />

Os atacantes passam mais tempo em exercícios de alta intensidade e passam por maiores períodos<br />

de maior esforço, como é aliais natural em qualquer desporto. Os atacantes queimam cerca de 2000<br />

quilocalorias; em comparação, os defesas gastam apenas 1700 quilocalorias em média. Estes valores<br />

são 25% maiores do que os que são medidos em jogadores de futebol profissional.<br />

A carga e o desgaste psicológico, como pelos valores apresentados é facilmente adivinhável, é mais<br />

sentida na segunda parte, onde existem mais acelerações e onde existem quase o dobro dos impactos.<br />

Para não falar da maior pressão do resultado final a fazer-se sentir mais forte a cada novo minuto.<br />

Não é, então, surpreendente que muitas das goleadas se começam a desenhar nos últimos trinta minutos<br />

do jogo, onde a fisiologia, e as suas diferenças, se começam a notar com mais violência, e com<br />

isso uma menor frescura na tomada de decisão.<br />

Ciência e Desporto<br />

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“Um defesa durante uma única partida sofre<br />

em média 120 impactos – tackle, ruck/<br />

maul ou quedas no solo; os atacantes/pontas,<br />

os jogadores mais ofensivos, mais que<br />

dobram esses valores, e sofrem em média 300<br />

impactos por jogo – sendo que pelo menos<br />

70 desses impactos tem uma força de 8g (Gforce);<br />

os impactos ocorrem com uma maior<br />

incidência na segunda metade 65%, contra os<br />

35% da primeira metade do jogo.”<br />

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RUGBY BRASIL -<br />

EM CLARO CRESCIMENTO,<br />

ESTÁ A TORNAR-SE UM NEGÓCIO E GANHA<br />

NOVOS ADEPTOS TODOS OS DIAS<br />

ORugby no Brasil tem quase século e meio. Segundo<br />

o historiador Paulo Varzea o primeiro clube em terras<br />

brasileiras com praticas desta modalidade data de<br />

1875. Ainda assim, a expressão do Rugby no Brasil<br />

é bastante diminuta, mas a situação está a alterar-se. E tudo<br />

graças ao impulso dado por vários ex-atletas, liderado por Sami<br />

Arap.<br />

Arap, um advogado de 50 anos, jogador nos tempos de faculdade<br />

e capitão da seleção brasileira, apesar do talento nunca<br />

chegou a profissional. Após um afastamento de quase duas<br />

décadas do Rugby, decidiu voltar, e agora como dirigente e<br />

tem mudado a face deste desporto, como era seu objetivo. Tudo<br />

começou em 2010, há apenas 4 anos, quando ajudou a profissionalizar<br />

a confederação brasileira, e os frutos já são palpáveis.<br />

O orçamento saltou de 30 000, em 2010, para 12 milhões de<br />

reais, em 2013. Em 2014 17 milhões de reais — o mesmo do<br />

handebol, que levou três décadas para atingir esse patamar – e<br />

com resultados internacionais assinaláveis, com a vitória feminina<br />

no ultimo campeonato do Mundo.<br />

Em grande medida, este impulso também advém da inclusão do<br />

Rugby de 7 nas Olimpíadas de 2016, exatamente no Brasil, e no<br />

impulso levado a cabo pelas autoridades desenvolvimento desporto<br />

brasileiro. Mas, o Rugby não vive dos dinheiros públicos,<br />

e a lista de patrocinadores privados é de mais de 17 empresas<br />

distintas, entre elas, o banco Bradesco e a fabricante de bens de<br />

consumo Unilever, que vai montar o primeiro centro de formação<br />

de atletas da modalidade, para até 100 jovens de 15 a 19<br />

anos. Para além de outras marcas já associadas a este desporto,<br />

com a Heineken e a Alpargatas.<br />

Com o aumento de orçamento, as equipas registadas dispararam<br />

das anteriores 70 para as atuais 2011, assim como, a qualidade<br />

do jogo praticado – em 2011 a seleção Brasileira venceu pela<br />

primeira vez a Argentina, uma das potências do Rugby, num<br />

torneio regional, por 7 a 0. E estes bons resultados têm chamado<br />

a atenção dos mídea e dos adeptos, com transmissão televisivas<br />

e com audiências estimadas em 1 milhão de espectadores.<br />

A formação de novos atletas tem sido uma das principais prioridades<br />

das entidades brasileiras e espera-se que surjam os frutos<br />

já nos próximos anos e olha-se com atenção, para não dizer que<br />

se segue o mesmo modelo, para a Confederação Brasileira de<br />

Vólei (CBV) e a sua caminhada desde os anos 70, que tornou o<br />

voleibol brasileiro uma potência mundial.<br />

O próximo passo é a profissionalização dos jogadores com<br />

ordenados que superem a atual pedia de 3 350 reais por mês,<br />

pouco mais que 1000 euros.<br />

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Arbitragens e meios


OFFSIDE:<br />

AS POSSÍVEIS TECNOLOGIAS<br />

NUM FUTURO PRÓXIMO.<br />

GpSorts: Um sistema utilizado no<br />

rugby que está a ser desenvolvido<br />

para o futebol! O que é? Como funciona?<br />

E quais as suas vantagens?<br />

O vídeo-árbitro, que analisamos em mais pormenor mais à<br />

frente, pode de facto ser uma imensa mais valia para a arbitragem.<br />

Mas, tem desde logo conta não ser 100% fiável e depender<br />

da análise e interpretação humana, nomeadamente de um novo<br />

árbitro ou equipa de arbitragem. Tem ainda a dificuldade de<br />

“mexer” com a dinâmica do jogo, obrigando no mínimo a novas<br />

paragens, sendo o que vulgarmente se apelida de uma tecnologia<br />

intrusiva. Assim, talvez a revolução tecnológica deva<br />

começar com ferramentas que não alterem a dinâmica do jogo<br />

tal como a tecnologia da linha de golo, por modelos tecnológicos<br />

que primeiro eliminem a subjetividade na análise e sejam<br />

não intrusivos, ou seja, não obriguem à criação de novas regras.<br />

Uma boa opção aparece pelas mãos da empresa pela GPSports<br />

e pretende utilizar a tecnologia de GPS (Global Positioning<br />

System) para o off side: lei do fora-de-jogo em Portugal ou<br />

no Brasil a lei do impedimento. No futebol, a tecnologia de<br />

posição por satélite não é sequer uma novidade, e há muito que<br />

é utilizada pelos clubes e equipas técnicas para recolher dados e<br />

informações sobre os seus atletas. Nem é de espantar que assim<br />

seja. A tecnologia GPS mostra-se uma solução portátil, não<br />

invasiva, de m<strong>edição</strong> continua, de acesso livre e fácil a satélites<br />

e de fácil armazenamento para posterior análise.<br />

tecnológicos<br />

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O sistema de fora-de-jogo que a GPSports esta atualmente a<br />

desenvolver: funciona como um sistema de alerta que envia<br />

um sinal sonoro por fone ao ouvido do árbitro que o alerta<br />

– um quarto de segundo depois, quando acontece um passe<br />

para lá das regras dos legais. O espaço de erro deste sistema<br />

é de 1cm, bem acima da margem de erro humano.<br />

O porta-voz GPSports Sistema Damien Hawes afirma: “Eu<br />

posso confirmar que vamos ter um sistema<br />

de posicionamento para o futebol que<br />

vai descer a um centímetro ade precisão e<br />

confiabilidade de onde a bola se move no<br />

campo.”<br />

O Rugby, ao contrário do futebol, tem<br />

uma ligação mais estreita e pacifica com<br />

a tecnologia na arbitragem, e o vídeoárbitro<br />

faz já parte desta modalidade há<br />

vários anos. E tem sido utilizado para retirar diversas dúvidas<br />

durante o jogo como as faltas ou o jogo sujo, falhando no<br />

entanto, na observação para os casos onde a bola é passada<br />

para a frente. Para os menos acostumados com esta modalidade,<br />

os passes tem de ser sempre efetuados para trás. Um<br />

sistema semelhante ao fora-de-jogo para o futebol, desenvolvido<br />

igualmente pela GPSports, esta a ser desenvolvido e<br />

pode entrar no jogo em muito breve tempo.<br />

O sistema funciona de forma muito simples, um microship<br />

e bateria do tamanho da uma unha do dedo mindinho está<br />

incluído na estratificação das bolas de Rugby. Os sinais são<br />

enviados e tratados via satélite e computador – vídeo-árbitro,<br />

e quando se dá alguma irregularidade no passe, um sinal<br />

sonoro dispara no ouvido do árbitro, à semelhança do sistema<br />

homónimo no futebol. Hawes relativamente ao Rugby<br />

disse: “Vai dizer (as equipas de arbitragem) exatamente o que<br />

ângulo em que a bola deixa as mãos de um jogador dentro de<br />

um quarto de segundo”<br />

A tecnologia tem muito a oferecer às equipas técnicas e à<br />

verdade desportiva do jogo, quer no Rugby, mas principalmente<br />

no futebol, onde a sua implementação está bem mais<br />

atrasada. Escolher corretamente que tecnologias apostar é<br />

crucial para que estas novas soluções possam fazer o seu<br />

caminho de forma natural e que não mexa com as leis do<br />

jogo e as suas dinâmicas. Fundamental para a vitória e<br />

para as diferentes variações do jogo em campo a cada novo<br />

encontro e a cada novo adversário.<br />

As possibilidades do<br />

Google Glass...<br />

Novamente neste ponto o campeonato Alemão de<br />

futebol está um pouco à frente de todos os outros e<br />

está a pensar seriamente<br />

usar a tecnologia do<br />

Google Glass possibilitando<br />

os árbitros ver<br />

repetições dos golos,<br />

eliminando assim a<br />

possibilidade de golos<br />

fantasma. O chefe da<br />

arbitragem alemã, Andreas<br />

Retting, acredita<br />

fortemente na tecnologia e está desposto a apostar<br />

em ferramentas imergentes. E, muito técnicos,<br />

apontam a validade desta tecnologia da Google<br />

para maiores horizontes e afirmam que esta ferramenta<br />

que na realidade é um computador portátil<br />

com um display óptico pode ser usado, depois de<br />

desenvolvido o software adequado para auxiliar os<br />

árbitros nos fora-de-jogo. Falta aqui ainda muita<br />

pesquisa e testes mas deve ser encarado como uma<br />

forte possibilidade. E uma possibilidade de baixo<br />

custo.<br />

... e dos drones<br />

Talvez ainda mais fácil será utilizar um drone,<br />

pairando sobre o terreno do jogo a várias dezenas<br />

de metros para tirar o off-side de forma correta e<br />

automática. Equipando com uma câmera de alta<br />

resolução e um software adequado pode através<br />

da realidade virtual facilmente verificar e avisar o<br />

arbitro principal quando um jogador está adiantado.<br />

Ao contrário do que é esperado esta ferramenta não<br />

comporta consigo investimentos muito elevados;<br />

hoje a maioria dos grandes jogos já são filmados<br />

usando também câmeras drone. Tal como o Google<br />

Glass precisa de mais tempo e de verdadeiros testes<br />

para garantir a sua eficácia.<br />

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RFID NO FUTEBOL<br />

RFID - IDENTIFICAÇÃO POR RÁDIO FREQUÊNCIA UMA TECNOLOGIA QUE<br />

PERMITE SABER COM EXATIDÃO A POSIÇÃO DOS JOGADORES E DA BOLA.<br />

Originado da língua inglesa a sigla RFID tem o significado<br />

de “Radio-Frenquency IDentification” traduzindo<br />

para o português Identificação por Rádio<br />

Freqüência, o “RFID é uma tecnologia bastante flexível<br />

e de bastante utilidade” e com muitas potencialidades.<br />

O conceito de RFID de “é muito parecido com ao do<br />

código de barra; onde no código de barra se utilizam<br />

leitores e etiquetas contendo os códigos com informações<br />

dos produtos como valor, nome, entre outros.<br />

O RFID também utiliza leitores e dispositivos que são<br />

unidos aos itens, a transferência de dados do código de<br />

barra se dá através de um sinal ótico para transferir as<br />

informações das etiquetas para o leitor, o RFID utiliza<br />

sinais de rádio para realizar a transferência das informações<br />

de um dispositivo RFID para o leitor. A contribuição<br />

do RFID dentro do futebol se dará através<br />

de informações passadas diretamente para os árbitros<br />

onde um chip se encontrará na bola que trocará informações<br />

com um relógio e pulso em poder do árbitro.”<br />

As grandes vantagens desta tecnologia, se bem implementada,<br />

é saber com exatidão a posição da bola e dos<br />

jogadores em todos os momentos de uma partida de<br />

futebol.<br />

Com uma unica tecnologia seria assim possivel descortinar<br />

a lei do off-side e se a bola passou ou não a linha<br />

final e a linha de golo. Eliminando a necessidade de<br />

outras tecnologias.<br />

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TECNOLOGIA:<br />

O SEGREDO NA PREPARAÇÃO DE BENZEMA, BOLT, RONALDO OU NADAL<br />

Rui P. Gavião,<br />

especialista em desporto<br />

contato@desportoeesport.com<br />

A<br />

tecnologia no desporto<br />

veio para ficar!<br />

A ciência é cada vez<br />

mais a principal arma diferenciadora<br />

entre atletas de topo e de<br />

valia semelhante. Apoiar o treino<br />

numa nova ferramenta que mais<br />

ninguém tem ou sequer conhece é<br />

uma vantagem significativamente<br />

grande que no fim pode valer uma<br />

Taça de campeão.<br />

A nova e entusiasmante tecnologia<br />

do momento é o colete eletroestimulante,<br />

que ganhou grande<br />

visibilidade após o avançado do<br />

Real Madrid Benzema, colocar<br />

no seu facebook uma foto com<br />

ele posto (foto acima). Mas não<br />

é só Benzema que retira vantagens<br />

desta tecnologia, também<br />

Cristiano Ronaldo o usa, bem<br />

como Nadal e toda a equipa Alemã<br />

campeã do Mundo.<br />

Como é imaginável, funciona<br />

através de pequenos choques elétricos,<br />

que apesar de não serem<br />

dolorosos podem ser desconfortáveis,<br />

que acelera a comunicação<br />

entre músculos e cérebro já é um<br />

processo de geração de energia.<br />

Entretanto, em uma atividade de<br />

uma hora e meia a duas horas,<br />

mesmo de um atleta de ponta, consegue-se<br />

utilizar no máximo 50%<br />

da capacidade das fibras musculares.<br />

A utilização deste colete faz<br />

com que a eletricidade penetre no<br />

restante e faça com que uma capacidade<br />

de até 90% seja alcançada.<br />

Embora não pareça um exercício<br />

tão forte, o estímulo enviado ao<br />

cérebro é de uma prática muito<br />

mais potencializada, que traz<br />

resultados maiores. e rapidos A<br />

rapidez é alias outro atrativo para c<br />

atletas, que possuem pouco tempo<br />

de intervalo entre competições<br />

ou jogos, como jogadores como<br />

Benzema, que possuem agenda<br />

apertada.<br />

E pode e deve ser usado por atletas<br />

desde o MMA até os de golfe; e<br />

em contraciclo com atividade que<br />

m trabalha muito as pernas diariamente<br />

recebe uma maior atenção<br />

nos membros superiores - braços<br />

ou peito.<br />

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Calcutando o<br />

FACTOR<br />

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Calcutando a “sorte”<br />

Diogo Sampaio, Director e colunista da Desporto&<strong>Esport</strong><br />

d_sampaio@desportoeesport.com<br />

Futebol: Um desporto aleatório? Ou<br />

o êxito resulta da táctica? – Uma<br />

abordagem cientifica e baseada em<br />

números<br />

Para aqueles que leram com atenção “Futebol<br />

& Futsal: para bem defender – coordenação<br />

ocular-motor” no topo da revista talvez já<br />

consiga adivinhar o “número” do fator sorte.<br />

Até porque os resultados advêm do mesmo<br />

estudo do Dr. Rolando Loy - no seu estudo<br />

futebol e a “aleatóriedade” e como ela influencia<br />

o resultado final. O resultado do estudo é<br />

surpreendente e aponta o fator aleatório, que<br />

os adeptos apelidam de sorte, como absolutamente<br />

determinante para o resultado final.<br />

E a “sorte” e o “aleatório” têm aumentando<br />

a sua influência nas última década – algo é<br />

de antemão totalmente contraditório com o<br />

aumento da importância da tática e da ciência<br />

no futebol que (promete) não deixar nada ao<br />

acaso.<br />

“O fator “sorte” no futebol, segundo<br />

o estudo de Roy, varia<br />

entre os 40% e os 46% no total de<br />

golos marcados nos campeonatos<br />

europeus. Nos campeonatos sulamericanos,<br />

asiáticos e africanos<br />

os números são previsivelmente<br />

superiores.”.<br />

Akinfeev (Rússia) poucos momentos após ter<br />

protagonizado o primeiro “frango” do Mundial<br />

de 2014.<br />

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Definindo aleatório ou sorte, pelo menos no contexto em<br />

que o usamos neste texto, é um conjunto de erros não<br />

forçados, um pouco à imagem do ténis, em que os jogadores<br />

cometem falhas à margem do jogo e que surgem sem<br />

pressão da equipa adversária. Tais falhas podem ser: passes<br />

errados, frangos do Guarda-redes, falhas no relvado que<br />

fazem variar a direcção da bola, etc.<br />

Vamos aos números<br />

Comecemos por analisar o trabalho de Loy. Ele estudou<br />

1.200 jogos da Bundesliga – linha Alemã da primeira<br />

divisão por mais de 3 anos, e chegou à conclusão de que 60%<br />

dos golos são marcados de facto como resultado de uma<br />

capacidade atlética e/ou técnico das equipas e do seu processo<br />

ofensivo. No enquanto 40% resultam como resultado<br />

de puro acaso. Isto significa que 40% de todos os golos são<br />

resultado de erros não forçado – aleatórios e imprevisíveis.<br />

O estudou olhou ainda para outras linhas europeias como<br />

a Lida de Espanha, Inglaterra, Holanda, Suíça, Bélgica e<br />

Portugal. Os números aqui ainda sobem mais, para os 46%.<br />

Existe ainda mais um dado que nos faz entender quão aleatório<br />

pode ser uma partida de um jogo de futebol. Loy na<br />

sua pesquisa focada desta vez na Liga dos Campeões percebeu<br />

que 35% dos toques dos jogadores na bola era pura<br />

coincidência – compensações dos defesas, maus passes,<br />

recessão da bola após alivio, bola vinda de cortes, etc.<br />

Ganhar é eliminar erros<br />

Eliminar os erros não forçados é o caminho para a vitória e<br />

quem o fizer mais eficientemente tem garantido o caminho<br />

para títulos. Um excelente caso disso mesmo, é o Borussia<br />

de Dortmund. O clube alemão pode não estar a passar<br />

um bom momento, mas na última vez que foi campeão<br />

em 2011/2012 eliminou grande parte dos seus erros.<br />

Especializada no contra-ataque e em transições defensivas<br />

rápidas, perdeu apenas 12 vezes a bola em zonas recuadas e<br />

de perigo em 3400 das suas jogadas de ataque.<br />

As soluções?<br />

Grande capacidade de coordenação aliadas a uma técnica<br />

irrepreensível e a uma disposição física que diminua os<br />

efeitos do desgaste. Existem jogadores que possuem estas<br />

três características, alguns bons exemplos são Cristiano<br />

Ronaldo, Yaya Toure, Zlatan Ibrahimovix, Mario Gotze ou<br />

Andres Iniesta.<br />

Um outro ponto, que parece, pelos estudos feitos, ser determinante<br />

é a idade em que os jogadores começam a jogar à<br />

bola de forma mais serio e recebem uma formação condizente<br />

com as necessidades do futebol atual.<br />

A culpa é da velocidade...<br />

Os números são claros: hoje no futebol correse<br />

mais e mais rápido.<br />

Por exemplo, de 2002 para 2006 o número de<br />

sprints – corridas a alta velocidade aumentou<br />

uns estonteantes 50%. E na última década,<br />

os médios centros passaram de distancia por<br />

jogo na ordem dos 12 km para os 16 km. Ou<br />

seja, e repetindo a ideia – mais corrida e mais<br />

rápido. E a previsão, é que nos próximos 5<br />

anos, o futebol aumente ainda mais 15% a sua<br />

velocidade.<br />

Isto demonstra uma evolução clara no futebol<br />

a nível físico que a maioria dos jogadores<br />

actuais não foram preparados e treinados<br />

para lidar na sua formação. Sendo-lhes difícil<br />

lidar com o maior desgaste de cada partida<br />

em temporadas cada vez mais longas. Assim,<br />

não é de estranhar que más decisões e um<br />

maior número de erros sejam mais frequentes,<br />

principalmente nos últimos 25 minutos das<br />

partidas.<br />

...que causa desgaste<br />

Um das principais questões no desgaste dos<br />

jogadores de futebol é o sprint – corrida<br />

rápida (máxima) e a sua recuperação. Por<br />

exemplo, um futebolista em média faz 100<br />

sprints por jogo, cada um com uma duração<br />

de algo entre 2 e 5 segundos. O tempo de<br />

recuperação é mínimo – uma proporção de 1:<br />

2 – Trabalho-Descanso. O que significa que o<br />

requisito mais importante é preparar os jogadores<br />

para a recuperação de sprints repetidos.<br />

A velocidade, a aceleração e capacidade<br />

de mudar de direção – todos prejudicados<br />

quando um jogador está “cansado” – são a<br />

diferença entre bons e grandes jogadores, e a<br />

diferença entre o êxito ou o fracasso.<br />

O esforço acumulado de sprints repetidos tem<br />

uma diminuição na capacidade do desempenho,<br />

um efeito mais devastador conforme<br />

se vai avançando na partida. Na prática, e<br />

continuando a fixar-nos na distância de 30<br />

metros, no fim do jogo, o atleta é 8% mais<br />

lento, o que significa uma distância concreta<br />

de 2 metros de diferença.<br />

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Estatisticamente quem são os melhores<br />

defesas do Mundo? David Luiz<br />

foi bem e mal vendido pelo Chelsea? E<br />

Marcelo – é um bom defesa?<br />

Pensando nos erros não forçados é impossível não individualizar<br />

jogadores e a realidade mostra que existem futebolistas<br />

mais propensos para o erro que outros. E existem zonas<br />

do terreno onde esses erros são mais determinantes que<br />

outros. Relativamente à época 2013/2014 pode observar em<br />

detalhe aqui as estatísticas em gráfico dos principais defesas<br />

(centrais e laterais), no website infogr.am. Ao lado, pode ver<br />

o gráfico dos melhores laterais da Europa.<br />

% dos erros dos laterais<br />

de topo na Europa<br />

Um caso exemplerar é o de David Luiz – bem ou mal vendido<br />

pelo Chelsea? Agora, após a sua exibição nos oitavos<br />

pelo PSG na Liga dos campeões que resultou na eliminação<br />

do Chelsea, todos dirão que foi um tremendo erro vendelo.<br />

Olhando para os seus números talvez nem tanto. Ora<br />

vejamos, 20,7% de suas acções defensivas foram erros não<br />

forçados e 2,3% foram erros críticos. Apenas 9 defesas em<br />

equipas de topo da Europa cometeram mais erros do que<br />

ele.Ele pode até marcar golos importantes. Ser um factor<br />

decisivo de motivação e carisma da equipa, ser até um dos<br />

dois defesas da FIFA mas a longo prazo, os seus erros contam<br />

mais. Um caso semelhante é o do brasileiro Marcelo do<br />

Real Madrid. Ele pode ser importantíssima para o ataque<br />

mas na defesa, 21,1% das suas acções defensivas foram erros<br />

e 1,4% de suas acções foram erros críticos que colocaram<br />

dificuldade acrescida à sua equipa e muitas delas resultaram<br />

em golo. Ele é um dos defesas menos confiaveis na Europa.<br />

A Juventus, por outro lado, tem a linha de defesas que cometeram<br />

o menor número de erros. Essa é a melhor maneira<br />

de garantir a vitória. A equipa francesa Ajaccio está no<br />

oposto da “vecchia signora” e com ambos dos seus defesas<br />

centrais com uma percentagem de erros não forçados de<br />

20%. Facilmente se advinha o que lhe aconteceu: desceu de<br />

divisão.<br />

David Alaba é excepcional. Marcel Schmelzer do Borussia<br />

Dortmund, frequentemente acusado de imprudente, é um dos<br />

melhores defesas da Europa. Ele quase não erros. Assim como<br />

Sagna, sempre sentado no banco de suplentes do Man City.<br />

Estes dados dizem-nos duas coisas: primeiro, a nossa impressão de qualidade de um jogador pode muito bem estar errada<br />

e em segundo apostar na intuição em razão dos números pode significar a derrota. Claro que os números não são tudo<br />

mas são bastante e nega-los pode ter consequências desastrosas.<br />

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CORRIDA E JOGGING:<br />

PODE LITERALMENTE<br />

REJUVENESCER O<br />

CORPO HUMANO?<br />

A capacidade física do Homem conhece uma significativa desaceleração,<br />

para usar uma expressão simpática, com o passar dos anos.<br />

As pessoas mais velhas vão ganhando uma maior incidência de obesidade,<br />

artrite, doenças cardíacas e diabetes; e com maiores impactos<br />

negativos nos casos de sedentarismo. Muitos de nós, assim como<br />

a própria comunidade medica e científica, acreditam que esta é a lei<br />

da vida e as menores e a diminuição das capacidades físicas com o<br />

passar dos anos é inevitável. Mas pesquisadores da Universidade<br />

do Colorado, em Boulder e Humboldt State University, em Arcata,<br />

Califórnia., têm uma opinião ligeiramente diferente e questiona<br />

se a lenta decadência da facilidade física das pessoas mais velhas é<br />

realmente inexorável ou se ele pode ser retardado ou revertido por<br />

outros tipos de exercício e, em particular, através da execução da<br />

corrida ou jogging.<br />

Após pesquisa, a conclusão é surpreendente, sendo no entanto altamente<br />

motivadora: a corrida mitiga os efeitos do envelhecimento,<br />

assim como rejuvenescer, literalmente, o corpo. Note-se que estes<br />

resultados não são os mesmos quando se refere à simples caminhada.<br />

Os pesquisadores especulam que esta diferença reside no fundo<br />

de células musculares. Exercício aeróbico intenso ou prolongado,<br />

como correr, é conhecido por aumentar o número de mitocôndrias<br />

nas células musculares, disse Justus Ortega, agora um professor<br />

associado de cinesiologia na Universidade de Humboldt, que<br />

liderou o estudo. As mitocôndrias ajudam a fornecer energia para<br />

estas células. Então, mais mitocôndrias permite que as pessoas a se<br />

mover por longos períodos de tempo com menos esforço, disse ele.<br />

Os corredores também podem ter uma melhor coordenação entre<br />

os músculos do que os caminhantes fazer, Dr. Ortega disse, o que<br />

significa melhores resultando em termos energéticos.<br />

Publique conosco<br />

As páginas das nossas revistas e da nossa<br />

plataforma on-line estão abertas para publicação<br />

de artigos e matérias por parte dos nossos<br />

leitores.<br />

Neste momento aceitamos artigos de opinião,<br />

matérias informativas, cartoons, contos<br />

literários, Banda desenhada (ficção) e artigos<br />

científicos.<br />

www.desportoeesport.com/publique-conosco<br />

Termos e Condições<br />

1 – É permitido submeter um artigo para publicação<br />

por parte de qualquer pessoa maior<br />

de idade e de qualquer nacionalidade. Todos<br />

os textos deverão ser originais e nunca antes<br />

publicados em qualquer plataforma. A única<br />

exceção são os artigos científicos pela qual o<br />

autor deverá ter os direitos de republicação.<br />

2 – Todos os textos têm de estar em Português.<br />

Os diferentes “sotaques” não são<br />

problema.<br />

3 – No topo do texto deve ser indicada a<br />

preferência no meio de publicação. Ex:<br />

Exclusivamente na revista digital. Exclusivamente<br />

na plataforma Web. Ambas. Preferencialmente<br />

na revista digital. Todos os<br />

textos com mais de 430 palavras e devem vir<br />

acompanhados de um pequeno resumo ou<br />

Abstract.<br />

...<br />

Mas seja qual for a razão, a corrida definitivamente mitigou o<br />

declínio do envelhecimento e com resultado que tem implicações<br />

para além do laboratório de fisiologia. Num mundo onde o envelhecimento<br />

é uma doença, rejuvenescer naturalmente e pelo exercício,<br />

parece ser um excelente método e também o mais saudável.<br />

Pedro M. Silva,<br />

colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

contato@desportoeesport.com<br />

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A INFLUÊNCIA DO SONO NA<br />

PERFORMANCE ESPORTIVA<br />

AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS<br />

NA PERFORMANCE PELA FALTA DE SONO.<br />

Gina Costa Ramos<br />

Fisioterapeuta clinica<br />

gianaramos@yahoo.com.br<br />

www.caespsaude.com.br<br />

Quando não dormimos bem o corpo fica quebrado<br />

como se tivesse passado um caminhão por cima, Os<br />

músculos ficam mais lentos, ocorre queixas de dores<br />

de cabeça, não conseguimos comer bem, enfim abre-se<br />

uma cascata de problemas que não cessam até a hora<br />

de, finalmente dormir. Imagine se nesse dia houvesse<br />

uma prova das olímpiadas do Rio 2016? Pior que com<br />

toda a ansiedade certamente os atletas perdem noites de<br />

sono durante o período olímpico, pensando nisso vou<br />

escrever sobre os prejuízos que não pregar os olhos a<br />

noite inteira pode trazer para a performance esportiva.<br />

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O que é o sono?<br />

Os estudos sobre sono são antigos, mas a cada em nova<br />

pesquisa são encontrados dados interessantes que muitas<br />

vezes contesta a informação anterior. Fui atrás do<br />

Instituto do sono aqui de São Paulo para entender melhor<br />

como funciona esse período que estamos de olhos<br />

fechados. Descobri que o sono utiliza-se do sistema<br />

nervoso central quase que inteiro, ao contrário do que se<br />

imaginava, pensavam que durante o sono o cérebro descansava,<br />

mas não, ele fica ativo. Existem dois momentos:<br />

sono mais lento (não REM) e o sono com atividades<br />

cerebrais mais rápidas (sono REM), esses dois estágios<br />

vão se alternando durante o tempo em que permanecemos<br />

na cama. A hipótese mais difundida é que o sono<br />

serve para a recuperação do organismo e do gasto energético<br />

durante o período de vigília, mas não é descartada<br />

as teorias que afirmam que o sono excreta substancias<br />

químicas no cérebro responsáveis por consolidar a<br />

memória, regular a temperatura corporal e recupera as<br />

células danificadas durante o dia, fazendo uma parábola<br />

é como se fechasse a loja para balanço.


O atleta e o sono!<br />

Todo aleta sonha em melhorar sua performance, diminuir<br />

o tempo, fazer mais pontos, enfim, se superar. Para<br />

isso o sono é indispensável, pois garante o bom funcionamento<br />

hormonal, fisiológico, e psicológico do corpo.<br />

Uma pesquisa realizada no laboratório do sono em<br />

Stanford testou jogadores de futebol da própria universidade,<br />

a pergunta era: Um tempo maior de descanso melhora<br />

o desempenho em campo? Os participantes foram<br />

orientados a manter os padrões de sono nas primeiras<br />

duas semanas da temporada, a maioria dormia menos<br />

que oito horas por noite; na segunda etapa da temporada<br />

com duração de oito semanas os jogadores foram orientados<br />

a dormir o máximo possível, algo em torno de 10<br />

horas por dia. Além do desempenho foram analisadas<br />

as estatísticas das partidas que os atletas disputaram,<br />

mudanças de humor e níveis de sonolência. Os resultados<br />

da segunda etapa foram ótimos, os participantes<br />

corriam mais rápido, ficaram mais ágeis, os níveis de<br />

fadiga e sonolência caíram além de estarem mais felizes.<br />

Os pesquisadores ficaram tão entusiasmados que repetiram<br />

o estudo na equipe de nadadores e tenistas também<br />

com excelentes resultados.<br />

Desempenho esportivo e noites mal dormidas!<br />

Os atletas estão condicionados ao treinamento exaustivo,<br />

a dietas específicas, exercícios dos mais diversos,<br />

porém em muitos casos não se preocupam com as horas<br />

de sono. Dormir pouco desencadeia problemas de obesidade,<br />

pois o sono traz saciedade, diminui a fabricação<br />

de insulina podendo facilitar o aparecimento da diabetes<br />

mellitus. Os estudos mostram que oito horas de sono é<br />

o suficiente para a recuperação das fibras musculares, o<br />

estudo de Stanford concluiu que quanto mais horas de<br />

sono melhor será para a performance esportiva, além de<br />

aumentar a expectativa e vida e manter o bom funcionamento<br />

do corpo.<br />

A boa notícia é que apenas após 30 horas de restrição<br />

ao sono o desempenho físico de atletas é alterado, então<br />

mesmo sofrendo com a ansiedade pré- competição é<br />

possível manter os rendimentos. Foram avaliados também<br />

as noites com restrição parcial de sono, o atleta<br />

só podia dormir 2,5 horas e também não apresentou<br />

nenhuma alternância nos resultados aeróbicos e de força<br />

muscular, os cochilos para atletas que sofreram privação<br />

de sono é uma ótima saída.<br />

Como dormir bem?<br />

Para ter uma ótima noite de<br />

sono existem alguns conselhos<br />

que podemos seguir:<br />

1. Alimentação leve<br />

pelo menos 3 horas antes de<br />

dormir.<br />

2. O quarto deve estar<br />

fresco.<br />

3. Dormir no escuro é<br />

sempre melhor, pois o escuro<br />

estimula a produção de melatonina,<br />

hormônio responsável<br />

pela regulação da temperatura<br />

corporal, pressão arterial e<br />

níveis de glicose.<br />

4. Crie uma rotina de<br />

sono, esse hábito traz cadência<br />

para o corpo.<br />

5. Não ingerir cafeína de<br />

4 a 5 horas antes de dormir.<br />

6. Não beba muitos líquidos<br />

a noite.<br />

7. Dormir de lado é sempre<br />

melhor.<br />

8. Use um travesseiro<br />

que complete o espaço entre<br />

o colchão e orelha, para não<br />

acordar com dor cervical.<br />

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OK... VAMOS FALAR<br />

DO VÍDEO-ARBITRO<br />

Os prós e os contra da utilização das<br />

imagens televisivas para a decisão<br />

dos principais lances num jogo de<br />

futebol.<br />

Quando se fala em tecnologia no futebol fala-se na<br />

grande maioria das vezes na utilização de imagens televisivas<br />

e na figura do vídeo-arbitro. Assumimos para<br />

que não existam duvidas, a mesma premissa/definição<br />

de vídeo-arbitro e como deve coexistir no âmbito do<br />

futebol com a definição presente na “petição pela verdade<br />

desportiva” que tem como principal figura de<br />

apoio o jornalista Rui santos:<br />

Segundo a petição da verdade desportiva Defende-se a<br />

introdução da figura do ‘vídeo-árbitro’ nas seguintes situações:<br />

1. NAS IMEDIAÇÕES DAS GRANDE-ÁREAS OU<br />

DENTRO DELAS<br />

a) Lances de grande penalidade;<br />

b) Lances de fora-de-jogo em que a bola entra na baliza;<br />

c) Lances de mão na bola em que a bola entra na baliza;<br />

d) Lances de natureza disciplinar<br />

2. FORA DAS GRANDE-ÁREAS<br />

a) Lances de fora-de-jogo em que a bola entra na baliza;<br />

b) Lances de natureza disciplinar<br />

Admite-se que os treinadores das duas equipas, independentemente<br />

do que for a intervenção por iniciativa da equipa<br />

de arbitragem (incluindo o ‘vídeo-árbitro’), possa solicitar<br />

esclarecimentos em relação a 2 (duas) jogadas duvidosas por<br />

partida (o chamado ‘challenge’).<br />

Analisemos alguns dos prós e contra da utilização das<br />

imagens televisivas para o julgamento dos lances mais<br />

polémicos numa partida de futebol:<br />

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Uma abordagem positiva ao vídeo-arbitro<br />

Justiça e verdade desportiva. Numa atividade de milhões,<br />

em que os erros dos árbitros custam caro, a<br />

introdução do vídeo-arbitro, pode ajudar a reduzir a<br />

margem de erro dos árbitros, protegendo-os, e “não<br />

tem necessariamente de mudar a essência do jogo: os<br />

seus ritmos, a beleza dos movimentos, a genialidade dos<br />

protagonistas”. E, acima de tudo, o desporto e o futebol<br />

em particular devem saber projetar valores como o desportivismo,<br />

a equidade, a justiça e a verdade.<br />

Depois acabar com esse ruído constante, às vezes fautor<br />

de violências e zangas entre dirigentes e adeptos “há<br />

que aproveitar as ferramentas à disposição para apoiar<br />

os árbitros nas suas decisões e conferir ao jogo maior<br />

verdade.”<br />

E, importantíssimo, depois de vários escândalos e suspeitas<br />

de décadas sobre os árbitros e a sua seriedade, o<br />

vídeo-arbitro pode ajudar a pacificar e a democratizar a<br />

noção de fiar-play e cultura desportiva.<br />

Argumentos contra o vídeo-arbitro<br />

Vale a pena a mudança? Sim,<br />

porque o futebol mudará, sem<br />

que seja certo ainda bem para<br />

o quê. Os próprios critérios na<br />

arbitragem têm de mudar. A<br />

intensidade, por exemplo de<br />

um puxão na camisola, deixará<br />

de ser um critério, será sempre<br />

falta – e relembre-se que o futebol<br />

é um desporto de contacto.<br />

O número de falta por jogo<br />

explodirá. Os cartões também.<br />

Os jogos de futebol serão decididos<br />

por quem tem o maior<br />

número de penaltis ou em<br />

alternativa o menor número de<br />

explosões. O tempo de futebol<br />

jogado atingirá valores<br />

históricos.A maioria dos campos<br />

não tem as mesmas condições<br />

de operacionalidade para as<br />

infraestruturas necessárias para<br />

uma captação de imagens igualitárias<br />

para todos os clubes. Das<br />

duas uma: ou os clubes, afogados<br />

em dividas, investiam nos<br />

seus campos, ou a desigualdade<br />

não terminaria – quem teria<br />

um maior prejuízo é por agora<br />

indeterminável.<br />

E, falta uma verdadeira cultura<br />

desportiva para lidar com o erro<br />

- agravada pelo vídeo-arbitro.<br />

Um sério problema: a falta de cultura desportiva!<br />

A unanimidade no julgamento de um qualquer lance de futebol é impossível. A discussão e sempre<br />

certa e no fundo ninguém tem a verdade absoluta, apenas a sua visão, tão valida como a do “seu<br />

companheiro de discussão”. O tribunal do JOGO – tribuna onde ex-árbitros analisam os lances<br />

polémicos da jornada, é disso exemplo. Raramente os três ex-árbitros estão de acordo, podemos<br />

então prever que a discussão e a polémica não terminaria com o vídeo-arbitro, e perder-se-ia o alibi<br />

do erro humano para o adepto – na sua mente o arbitro depois de ver as imagens só erra porque<br />

quer. Em muito breve trecho o ambiente futebolístico poderia ser irrespirável. E os dirigentes não<br />

ajudariam à festa. Para o vídeo-arbitro é necessário cultura desportiva. Muito mais do que sem<br />

vídeo-arbitro…<br />

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ASPECTOS PSICOMOTORES<br />

RELACIONADOS AO<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO E A<br />

APRENDIZAGEM DESPORTIVA<br />

Atualmente a Psicomotricidade é vista como uma ciência<br />

que possui uma importância cada vez maior no desenvolvimento<br />

global do indivíduo, em todas as suas fases, principalmente<br />

por estar articulada com outros campos científicos<br />

como a Neurologia, a Educação Física, a Fonoaudiologia, a<br />

Fisioterapia, a Psicologia e a Pedagogia. Isso acontece porque<br />

a Psicomotricidade, se preocupando com a relação entre o<br />

homem e o seu corpo, considera não só aspectos psicomotores,<br />

mas os aspectos cognitivos e sócio-afetivos que constituem<br />

o sujeito.<br />

Desde o nascimento, o que salta aos olhos no desenvolvimento<br />

infantil é o corpo e seus movimentos que, inicialmente,<br />

não apresentam significados ainda inscritos. Aos poucos, este<br />

corpo em movimento transforma-se em expressão de desejo<br />

e, posteriormente, em linguagem. A partir daí, a criança é<br />

capaz de reproduzir situações reais, fazendo imitações que se<br />

transformam em faz-de-conta.<br />

Assim, a criança consegue separar o objeto de seu significado,<br />

falar daquilo que está ausente e representar corporalmente.<br />

Este processo nada mais é do que a vivência dos elementos<br />

psicomotores dentro de contextos histórico-culturais e<br />

afetivos significativos. E isso é que garantirá a aprendizagem<br />

de conceitos formais aliados à aprendizagem de conceitos<br />

do cotidiano: construir textos, contar uma história, dar um<br />

recado, fazer compras, varrer a casa, utilizar as operações<br />

matemáticas para contar quantas pessoas vieram, quantas<br />

faltaram, etc.<br />

Muitos autores são enfáticos ao afirmar que a psicomotricidade<br />

ou motricidade humana, além de ser a<br />

consciência precoce, reúne em si duas componentes<br />

ontogenéticas fundamentais, a diferenciação estrutural<br />

do Sistema Nervoso Central e a aquisição progressiva de<br />

padrões comportamentais, justificadoras da hierarquia<br />

da experiência humana. É a própria motricidade que<br />

leva ao desenvolvimento do cérebro, sendo inclusive<br />

necessária a ótima mielinização dos axônios, pré requisito<br />

para as conexões sinápticas.<br />

Prof. Nilo Terra Arêas Neto,<br />

professor no Institutos Superiores de Ensino do<br />

CENSA/ISECENSA<br />

contato@desportoeesport.com<br />

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Assim, o desenvolvimento maximizado<br />

da motricidade humana coloca em jogo<br />

várias estruturas de construção, a saber,<br />

as sinergias inatas edificadas (a partir da<br />

filogênese) e as sinergias automatizadas<br />

e complexas (a partir da ontogênese), a<br />

partir da aprendizagem.<br />

Também é através da motricidade humana<br />

e da totalidade expressiva que a caracteriza<br />

intrinsecamente, que esta se torna o meio<br />

pelo qual a consciência ou o ego, como<br />

queria Freud, se edifica e se manifesta.<br />

Foucault (1980) nos lembra também que o<br />

controle social não se opera simplesmente<br />

pela consciência ou pela ideologia, mas<br />

começa no corpo, com o corpo e pelo<br />

cerceamento do movimento corpóreo.<br />

Segundo ele o corpo é vítima de mecanismos<br />

de controle que o modela, manipula<br />

e o adapta às exigências da sociedade, de<br />

modo a torná-lo útil. São regulamentos<br />

militares, escolares, hospitalares que controlam<br />

e corrigem o corpo, permitindo<br />

o controle minucioso de seus movimentos,<br />

realizando sua sujeição constante<br />

e impondo uma relação de docilidade<br />

denominada de “controle disciplinar”.<br />

O contexto social e cultural modela o<br />

corpo em suas diversas maneiras de falar,<br />

andar, pular, saltar, dançar, sentar, rir, ficar<br />

de pé, dormir, tocar, ver, viver e morrer,<br />

ou seja, o indivíduo modela seu corpo no<br />

diálogo com a sociedade.<br />

Pensando em termos de aprendizagem<br />

motora, a teoria piagetiana da equilibração<br />

diz que a criança, ao se confrontar<br />

com conflitos oriundos de uma nova aprendizagem,<br />

para resolvê-los, cria estratégias<br />

a partir de esquemas que já dispõe. Se<br />

assim o é, ao se defrontar com os obstáculos<br />

da aprendizagem formal, a criança terá<br />

que recorrer ás experiências anteriores,<br />

que são esmagadoramente psicomotoras.<br />

Se no lugar destas experiências houver um<br />

buraco, não haverá aprendizagem.<br />

Assim, o desenvolvimento adequado<br />

da motricidade constitui a via para um<br />

desenvolvimento intelectual ajustado<br />

(otimizado). Distúrbios no desenvolvimento<br />

psicomotor comprometem sempre<br />

o desenvolvimento da linguagem e da<br />

cognitividade.<br />

No que tange a urgência das aprendizagens<br />

cognitivas, por vezes, no ambiente<br />

escolar, é desconsiderado ou ignorado<br />

o fato de que a primeira via das aprendizagens<br />

é sinestésica. É corpórea. Uma<br />

criança que não consegue organizar seu<br />

corpo no tempo e no espaço, não conseguirá<br />

sentar-se numa cadeira, concentrar-se,<br />

segurar num lápis com firmeza e<br />

reproduzir num papel o que elaborou em<br />

pensamento.<br />

Diversos autores são enfáticos em afirmar<br />

que o primeiro dicionário é escrito no<br />

corpo.<br />

As habilidades motoras básicas são consideradas à base da competência<br />

motora, a qual pode ser explicada como a capacidade do<br />

indivíduo em resolver problemas, enfrentar as situações, se organizar,<br />

planejar, transformar o meio, sentindo-se competente, ao ter<br />

conhecimento dos processos e atitudes e, adaptando-os a situação<br />

presente.<br />

Magill (2000) define habilidades motoras como sendo os domínios<br />

motores que exigem movimento voluntário do corpo e/ou dos<br />

membros para atingir suas metas. As habilidades motoras básicas<br />

são pré-requisitos para a aquisição de habilidades mais complexas<br />

e não seria incorreto dizer que elas são auxiliares na conquista da<br />

independência da criança, visto que, a percepção progressiva do ato<br />

motriz implica um funcionamento global dos mecanismos reguladores<br />

do equilíbrio e da atitude e, que os movimentos corporais<br />

desempenham um importante papel na melhora dos comandos<br />

nervosos e no afinamento das sensações e percepções (TAGLIARI<br />

et al, 2008).<br />

Para Zakharov (2003), é necessário que se estimule o jovem aprendiz<br />

à prática das habilidades motoras básicas oportunizando a<br />

maior gama de vivências motrizes. Isto assegurará, posteriormente,<br />

a maximização da aprendizagem específica do desporto praticado.<br />

Os elementos básicos da motricidade são: a motricidade fina, a<br />

motricidade global, o equilíbrio, o esquema corporal, a organização<br />

espacial, a organização temporal e a lateralidade, além da emoção,<br />

é claro.<br />

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Um bom controle desses elementos, ou seja, um bom controle motor permitirá a criança explorar o mundo exterior, aportando-lhe as<br />

experiências concretas sobre as quais se constroem as noções básicas para o seu desenvolvimento intelectual e motor. Correr, saltar, rolar,<br />

trepar e arremessar são habilidades físicas de base e estão presentes em quase todas as modalidades esportivas. Como ações motoras<br />

naturais, as habilidades básicas significam uma função da natureza humana, bastando apenas à estimulação, para que a efetivação do<br />

aprendizado dessas habilidades seja conquistada pelas crianças e jovens (MEURER et al, 2008).<br />

Portanto, o trabalho com as habilidades motoras básicas, deveria ser o principal objetivo do professor de educação física escolar que, é<br />

comprometido com a efetividade da aprendizagem motora, e não com o aprendizado desportivo precoce. Voser e Giusti (2002) reforçam<br />

esta linha de pensamento ao afirmar que a atividade esportiva praticada na escola pode ter o intuito voltado para a iniciação e a<br />

orientação esportiva, mas jamais deve enfocar a especialização e o treinamento.<br />

A princípio, as tarefas motoras devem ter caráter simples, com ações simples, que não necessitem de ajustamentos complexos e que<br />

possam ser aprendidas na sua forma total, sem divisão de fases. As tarefas simples envolvem diretamente apenas uma parte do corpo,<br />

as demais partes atuam como estabilizadoras da ação motora. Pode-se considerar como fundamentos simples o controle do corpo, o<br />

manejo de bola, o drible e os passes, no basquete. Os saltos, a corrida e os lançamentos ou arremessos, no atletismo.<br />

“Os elementos básicos da<br />

motricidade são: a motricidade<br />

fina, a motricidade global,<br />

o equilíbrio, o esquema<br />

corporal, a organização<br />

espacial, a organização temporal<br />

e a lateralidade, além<br />

da emoção.”<br />

Como tarefa motora complexa entendese<br />

que são aquelas que envolvem duas<br />

ou mais ações motoras, todas separadamente,<br />

dissimilares por natureza, embora<br />

encadeadas entre si. Por exemplo: a<br />

bandeja, no basquete e, a passagem do<br />

bastão, no revezamento do atletismo. Na<br />

fase da aprendizagem, independentemente<br />

do nível, deve haver uma preocupação<br />

com a assimilação do gesto motor<br />

em si. A fluência e a velocidade serão<br />

enfatizadas em fases posteriores, onde as<br />

correções e ajustes sejam feitos gradualmente,<br />

eliminando assim, os principais<br />

erros para que numa fase posterior se<br />

possa aprimorar o movimento, a partir de<br />

ajustes mais sofisticados. Um indivíduo<br />

aprende sobre o significado da unidade<br />

motora envolvida no movimento, depois<br />

de compreender os ajustes que deverá<br />

realizar para a ótima execução do mesmo.<br />

Quando o atleta iniciante é incentivado<br />

por meio de uma prática bioperacional<br />

a criar seus próprios caminhos na aprendizagem<br />

de uma habilidade motriz. A<br />

possível correção da habilidade sendo<br />

aprendida será facilitada, tendo em vista<br />

que, como ele mesmo criou os caminhos<br />

para a execução do movimento, sem a<br />

interferência de um instrutor, ele saberá<br />

com maior precisão sobre os mecanismos<br />

necessários para a correção do mesmo.<br />

(KIRSCH, KOCH e ORO, 1984; Da<br />

SILVA, 2002 e FERREIRA e DE ROSE,<br />

2003).<br />

A iniciação desportiva acontece quase<br />

sempre pela inserção das crianças em<br />

escolinhas desportivas específicas que se<br />

desenvolvem na própria escola ou em<br />

clubes e/ou projetos sócio-desportivoculturais.<br />

Como cada uma das modalidades<br />

desportivas tem características<br />

específicas de suas demandas e, o trabalho<br />

específico não contempla o trabalho<br />

global em motricidade (VIDAL FILHO<br />

et al, 2003).<br />

O resultado é um déficit motor que pode<br />

excluir o pretenso atleta do cenário da<br />

alta performance.<br />

Como o indivíduo não possui o engrama<br />

dos movimentos que servem de prérequisito<br />

a outros mais complexos, em<br />

algumas situações não consegue realizar<br />

a ação proposta com um mínimo<br />

de eficiência diante de tamanha especificidade<br />

desportiva (por exemplo, na<br />

execução de um salto com vara).<br />

Na verdade, com o aumento da complexidade,<br />

a resolução do problema é inviabilizada<br />

pelo não domínio dos movimentos<br />

básicos da motricidade e preponderantes<br />

ao aprendizado específico em desporto.<br />

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DANÇA, ARTE, BELE<br />

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ZA E POESIA<br />

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“Um estar entre<br />

o céu e o chão”<br />

Arte, beleza e... Drummond de Andrade<br />

Shara Lylian de Castro Lopes, Licenciada em<br />

Letras e amante e praticante de dança contemporânea;<br />

fotos: Jairo Galvão<br />

Éindiscutível a posição<br />

privilegiada da sensibilidade<br />

à estética e ao belo<br />

na constituição<br />

de ser humano. Não é à<br />

toa que a arte é manifestação<br />

humana desde a pré-história,<br />

encontrada inclusive através<br />

de desenhos rupestres que<br />

representavam ritos artísticos,<br />

sagrados ou de outra ordem,<br />

seguidos na história, por registros escritos<br />

acerca de tais manifestações desde a<br />

antiguidade.<br />

Assim, ao lado da música, teatro, literatura,<br />

cinema e outras formas de arte,<br />

encontramos a dança, tida por muitos<br />

estudiosos como uma das principais manifestações<br />

artísticas e culturais utilizadas<br />

pelo homem com inúmeras finalidades<br />

como: condicionar o corpo, no âmbito<br />

da educação física; libertar a alma, sensibilizar<br />

o espírito, interagir com os outros<br />

e representar a realidade de forma cênica,<br />

no âmbito cultural; desenvolver múltiplas<br />

habilidades mentais e corporais, no<br />

DANÇA:<br />

REALIDADE<br />

EM FORMA<br />

CÊNICA<br />

âmbito da saúde; comunicar-se com divindades,<br />

no âmbito religioso; sensualizar, e,<br />

até mesmo, entreter.<br />

Nesse percurso milenar da<br />

dança, várias transformações<br />

se deram, estilos ascenderam e<br />

decaíram dando lugar a outros,<br />

em virtude daquilo que as épocas<br />

e contextos sociais solicitavam<br />

para o momento e, desse<br />

modo, a sociedade presenciou<br />

estilos de dança clássicos, modernos, até<br />

chegarmos à dança contemporânea, todos<br />

quase sempre acompanhados de outras<br />

manifestações culturais como a literatura e<br />

a música, por exemplo.<br />

A quebra de paradigmas e posturas clássicas,<br />

no entanto, foram balizares para a<br />

evolução e estabelecimento da dança contemporânea<br />

por parte dos artistas, à época<br />

da revolução tecnológica e cultural que<br />

acontecia em todo o mundo dos séculos XX<br />

e XXI e que forneceriam a esse movimento<br />

artístico recursos mais interativos como iluminação,<br />

som e outros contribuintes para a<br />

execução e continuidade da dança.<br />

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“A dança? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança - não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir a forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.”<br />

Drummond de Andrade<br />

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“A dança é uma das principais manifestações artísticas utilizas<br />

para condicionar o corpo, no âmbito da educação física;<br />

libertar a alma, sensibilizar o espírito, interagir com os<br />

outros e representar a realidade de forma cênica”.<br />

A proposta era romper com os fundamentos do<br />

apreço pelo belo subjetivo e seguir rumo à possibilidade<br />

de inovar e significar o estado contemporâneo<br />

da própria sociedade.<br />

Há que se destacar dois pontos de esclarecimento:<br />

a dança contemporânea não remete, em hipótese<br />

alguma, à morte ou esquecimento da dança clássica,<br />

mas sim, a um melhoramento desta, através<br />

da utilização das bases clássicas com o intuito de<br />

aumentá-las, de expressá-las de forma mais liberal<br />

e com linguagem própria.<br />

Segundo, a dança contemporânea não significa<br />

dança sem métodos. As técnicas existem, no<br />

entanto, de forma somática e trabalham com o<br />

intuito de chegar-se à racionalização do corpo, da<br />

mente e do próprio movimento.<br />

Não obstante, a dança, nos seus mais diversos<br />

estilos, como instrumento da educação física, tem<br />

sido alternativa muito procurada nas atividades<br />

esportivas e no melhoramento de condições físicas,<br />

justamente, por envolver condicionamento<br />

corporal à atividade prazerosa, que corre mais<br />

naturalmente quando comprada a outras atividades<br />

físicas.<br />

De toda forma, o importante é reconhecer a beleza<br />

dessa arte e deliciar-se com as possibilidades<br />

de reflexão sobre o mundo e sobre nós mesmos,<br />

como bem descreveu certa feita nosso querido<br />

Drummond!<br />

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DANÇA, ARTE E<br />

TECNOLOGIA<br />

as•phyx•i•a junta dança e tecnologia de sensores de movimentos<br />

Vitor E. Santos,<br />

colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

contato@desportoeesport.com<br />

Milhares de linhas unidas<br />

por outros milhares de<br />

pontos desenhando o<br />

movimento do corpo<br />

feminino em dança, em um único objecto<br />

hipnótico e belo, que não teve medo de<br />

usar a tecnologia para descrever na precisão<br />

a expressividade da dança ao pormenor<br />

e sem constrangimentos.<br />

As imagens ao lado resultam do projecto<br />

as•phyx•i•a, do português Frederico<br />

Phillips e da japonesa Maria Takeuchi, que<br />

através de sensores pouco dispendiosos, a<br />

dupla conseguiu captar dados dos movimentos<br />

da bailarina durante 30 minutos,<br />

que foram depois trabalhados em cinco<br />

computadores com ferramentas de tecnologia<br />

3D que transformaram a coreografia<br />

interpretada por Shiho Tanaka em<br />

imagens computorizadas, que dançam ao<br />

som de uma banda sonora criada por<br />

Maria Takeuchi.<br />

A associação da tecnologia com a arte da<br />

dança levou a as•phyx•i•a, um filme de<br />

três minutos, onde a “performance está<br />

centrada numa coreografia eloquente que<br />

enfatiza o desejo de ser expressivo sem<br />

limites”.<br />

O filme, pequeno video, que pode ser<br />

visto na generalidade das redes socias de<br />

video, como o Vimeo ou o Yuotube, o no<br />

Website oficial do projecto www.asphyxiaproject.com.<br />

Frederico Phillips é um português de 25<br />

anos que aos 17 deixou Boliqueime, no<br />

Algarve, para ingressar num curso de<br />

Media Digital na Suécia. Parte do currículo<br />

do curso incluía seis meses de estágio<br />

obrigatório.<br />

Frederico decidiu tentar a sorte em Nova<br />

Iorque, Estados Unidos. Acabou por ficar<br />

e é aí que vive e trabalha desde 2009.<br />

Designer, usa tecnologia 3D como ferramenta<br />

principal para tentar encontrar um<br />

equilíbrio entre o técnico e artístico.<br />

Para este projeto uniu-se a Maria Takeuchi,<br />

29 anos, uma produtora de musica e bailarina.<br />

O feedback, sempre positivo, tem sido tremendo,<br />

e em entrevista ao jornal Publico,<br />

os dois afirmam: ““Foi muito surpreendentemente<br />

devido ao volume de visitas<br />

[ao site de as•phyx•i•a] e ainda estamos a<br />

tentar digerir todos os e-mails que recebemos.<br />

Faz, de facto, com que todo o trabalho<br />

e as horas em que trabalhámos neste<br />

projecto tenham valido a pena.”<br />

Para onde este projecto poderá ainda<br />

caminhar é ainda uma incognita, mas para<br />

já, o resultado conseguido é brilhante e<br />

uma vez mais e repetindo: hipnótico. Não<br />

perca a oportunidade de ver o video final.<br />

As imagnes resultam do<br />

projecto as•phyx•i•a,<br />

do português Frederico<br />

Phillips e da japonesa<br />

Maria Takeuchi, e da utilização<br />

de dois sensores,<br />

para captar o máximo de<br />

informação possível, para<br />

descrever na precisão a<br />

expressividade da dança<br />

ao pormenor e sem<br />

constrangimentos.Um<br />

projeto que está a fazer<br />

furor”.<br />

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LENINE CUNHA:<br />

O PORTUGUÊS MAIS<br />

MEDALHADO DE SE<br />

102 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


LENINE<br />

CUNHA<br />

Erradamente esquecido da<br />

Gala dos 100 anos da FPF<br />

é homenageado nas próximas<br />

páginas<br />

MPRE<br />

169. É impossível não começar<br />

este texto com este número:<br />

169 – o número de medalhas<br />

de Lenine cunha, que faz dele<br />

o português mais medalhado<br />

de sempre. 169 medalhas em<br />

campeonatos da Europa, do<br />

Mundo, Jogos Paralímpicos<br />

e Global Games (competição<br />

para atletas deficientes, em<br />

várias modalidades).<br />

Natural de Mafamude e atualmente<br />

residente no conselho<br />

do Porto é um fenómeno<br />

dentro do desporto português<br />

e mundial, e o seu objetivo é<br />

ainda mais alto, chegar ao fim<br />

dos Jogos Paralímpicos em<br />

Rio’2012, com 200 medalhas.<br />

Isto, porque atualmente<br />

com 31 anos, o recordista<br />

mundial do salto em comprimento<br />

(7,16m) e triplo salto<br />

(14,72m) reconhece que a<br />

vida como atleta de alta competição<br />

deve terminar após<br />

os Jogos Paralímpicos no Rio<br />

de Janeiro’2016.<br />

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“Ainda quero chegar às 200 medalhas”<br />

Lenine Cunha<br />

“Em 2014 conquistei 15 medalhas e se ganhar outras tantas<br />

em 2015 e 2016 ficarei muito perto das 200. Depois do<br />

Rio de Janeiro terei mais um ano para ultrapassar essa fasquia.<br />

É o meu objetivo”, frisa Lenine Cunha, que carrega<br />

o peso da medalha de bronze alcançada em Londres’2012<br />

no salto em comprimento. Ambição não lhe falta, mas<br />

uma ambição que lhe bem do talento. Para os próximos<br />

Jogos Paralímpicos, Lenine Cunha parte com um<br />

redobrado entusiasmo. “Os últimos quatro meses antes<br />

da partida para Inglaterra foram duros. Sentia-me<br />

muito pressionado, chegava a casa depois dos treinos e<br />

começava a chorar. Queria provar a mim mesmo que era<br />

possível fazer uma boa figura. Felizmente correu tudo<br />

bem e logo no primeiro ensaio vi que poderia obter<br />

uma medalha. Fiz 6,95m e sabia que iria ao pódio”,<br />

comentou o atleta que antes dos Jogos perdeu a sua<br />

irmã, na sequência de uma operação ao coração. “Ela<br />

acompanhou-me no salto e na cerimónia do pódio”,<br />

relembra Lenine.<br />

A dois anos do Rio de Janeiro, o recordista mundial<br />

acredita novamente na superação. “Sei que há outros<br />

atletas que querem ir ao pódio tanto como eu. Vai<br />

ser muito difícil, mas tenho de acreditar em mim, da<br />

mesma maneira que o fiz para Londres. Tenho é a<br />

noção que serão os meus últimos jogos a alto nível.<br />

Quando chegar ao Brasil terei 33 anos e será mais<br />

complicado, mas tenho muito fé que tudo irá correr<br />

bem.”<br />

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CASEÍNA contato@desportoeesport.com<br />

U<br />

ma boa percentagem<br />

dos praticantes<br />

de musculação<br />

e culturismo procura<br />

suplementos de proteína<br />

para auxiliar o treino e um<br />

crescimento mais rápido<br />

dos músculos. Uma boa<br />

parte das pessoas, devido<br />

à enorme variedade de<br />

opções, acaba por ficar<br />

indecisa sobre qual a melhor<br />

escolha. Nesta <strong>edição</strong>,<br />

falaremos da Caseína, e nas<br />

suas vantagens e o porquê<br />

de ser uma excelente e não<br />

a melhor solução para um<br />

impulso saudável no crescimento<br />

dos músculos.<br />

A Caseína e então um<br />

aglomerado de proteína que<br />

consiste em vários tipos de<br />

caseínas (α-s1, α-s2 , ß, e 6)<br />

e cada uma dessas proteínas<br />

tem uma composição<br />

única de aminoácidos.<br />

Um estudo conduzido pelo<br />

“International Journal of<br />

Obesity” concluiu que, a<br />

ingestão de uma quantidade<br />

elevada de cálcio ao<br />

longo de 24 horas, juntamente<br />

com uma dieta alimentar<br />

normal, aumenta<br />

a quantidade de gordura<br />

que é excretada pelas fezes,<br />

melhorando desse modo<br />

o crescimento dos músculos.<br />

O elevado conteúdo<br />

de fosfato da família<br />

das caseínas permite a sua<br />

associação com o cálcio e<br />

a formação de sais de fosfato<br />

de cálcio, melhorando<br />

imensamente deste modo e<br />

por consequência a eliminação<br />

de gordura no organismo.<br />

A isto junta-se ainda<br />

o facto da Caseína ser uma<br />

proteína de absorção lenta<br />

o que como é facilmente<br />

dedutível aumenta o tempo<br />

útil. Sendo que os dados<br />

científicos de que existem<br />

atualmente sugerem que a<br />

velocidade de digestão da<br />

proteína é um regulador<br />

importante no equilíbrio<br />

Pedro M. Silva,<br />

colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

da proteína corporal<br />

A Caseína é também perfeita<br />

para reduzir os efeitos<br />

de perda de massa muscular<br />

quando se segue de uma<br />

dieta de restrição calórica<br />

que visa a perda de peso.<br />

A Caseína proporciona<br />

um aumento dos níveis<br />

plasmáticos de aminoácidos.<br />

Os níveis a permanecem<br />

elevados durante<br />

mais de 300 minutos. Os<br />

investigadores sugerem<br />

que isso deve-se ao fato da<br />

caseína formar coágulos e<br />

permanecer no estômago<br />

durante mais tempo.<br />

É ideal para complementar<br />

com a proteina Whey - provoca<br />

um aumento rápido,<br />

embora pouco duradouro<br />

da síntese de proteína corporal<br />

e a caseína reduz o<br />

catabolismo protéico corporal.<br />

Vários estudos desmonstram<br />

que é perfeito<br />

uni-las, com resultados<br />

comprovados.<br />

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MUSCULAÇÃO<br />

& DORES<br />

POSITIVO? NEGATIVO? O QUE SIGNIFICAM AFINAL?<br />

Ricardo Reis,<br />

colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

contato@desportoeesport.com<br />

P<br />

oucas são as modalidades<br />

desportivas mais praticadas<br />

que a musculação e o culturismo,<br />

e são ainda menos<br />

aquelas em que existe mais desinformação<br />

e mais ideias feitas que não correspondem<br />

de todo à realidade.<br />

Uma das noções mais difundidas entre os<br />

praticantes de culturismo é a avaliação da<br />

qualidade e acima de tudo dos efeitos nos<br />

crescimentos dos músculos após um treino<br />

em função das dores sentidas nas 24 horas<br />

seguintes. A realidade apoiada na ciência,<br />

no entanto, mostra que essa ideia é errada<br />

e pode até ser perigosa.<br />

Em primeiro lugar, dores não significam<br />

em proporção direta um crescimento<br />

muscular. Dores são sobretudo um efeito<br />

“indesejado” de um esforço físico para<br />

lá do habitual e em muitas vezes para<br />

lá do saudável. Em muitos outros desportos,<br />

como desporto de resistência de<br />

longa duração como a corrida, aparecem<br />

dores musculares muito semelhantes com<br />

a musculação sem que exista por isso, um<br />

crescimento do músculo.<br />

As dores musculares são então “um processo<br />

inflamatório causado por microrroturas<br />

consequentes do esforço realizado<br />

durante determinada tarefa numa estrutura<br />

não preparada para o efeito.”<br />

Outra noção errada é o efeito positivo dos<br />

alongamentos; os estudos mostram que<br />

nada pode ser mais errado. Inclusive, os<br />

alongamentos têm um efeito contrário<br />

nos músculos agravando e aumentando<br />

o tempo de recuperação. E isto porque,<br />

alongar em demasia os músculos aumenta<br />

consideravelmente as microrroturas;<br />

assim não se aconselham alongamentos,<br />

estiramentos, exercícios de flexibilidade<br />

entre outros movimentos/exercícios<br />

semelhantes. E as dores, como já deve ter<br />

entendido não é coisa de iniciantes, mas<br />

sim de alteração de rotina e de um esforço<br />

para lá do habitual. Os iniciantes sentem<br />

mais dores porque a adaptação ao exercício<br />

e a fortes esforços é ainda superior.<br />

Para além do mal-estar, treinos em demasia<br />

pode levar a lesões, e algumas bem<br />

graves que afetam em muitos casos a vida<br />

futura do praticante. E, este é um mal bem<br />

mais recorrente do que é imaginável e<br />

que merece atenção de todos os atletas e<br />

praticantes.<br />

Por fim, um treino demasiado forte hoje<br />

irá prejudicar o treino futuro e assim o<br />

diminuindo o efeito do plano de treino o<br />

que por sua vez prejudica o crescimento<br />

dos músculos.<br />

“As dores musculares<br />

são então “um processo<br />

inflamatório causado<br />

por microrroturas consequentes<br />

do esforço<br />

realizado durante determinada<br />

tarefa numa<br />

estrutura não preparada<br />

para o efeito... Outra<br />

noção errada é o efeito<br />

positivo dos alongamentos;<br />

os estudos<br />

mostram que nada pode<br />

ser mais errado.<br />

Inclusive, os alongamentos<br />

têm um efeito<br />

contrário”<br />

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RUSH:<br />

DUELO DE RIVAIS<br />

UM FILME SOBRE HUNT E LAUDA, E A RIVALIDADE ENTRE OS DOIS,<br />

DENTRO E FORA DE PISTAS DURANTE O CAMPEONATO DE 76.<br />

108 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


“Quanto mais perto da morte, mais vivos nos sentimos. É uma<br />

maneira maravilhosa de viver. É a única maneira de pilotar”.<br />

James Hunt<br />

“A felicidade é o maior inimigo. Ela enfraquece. Coloca dúvidas<br />

na mente. De repente, temos algo a perder.”<br />

Niki Lauda<br />

Mayweather ou Pacquiao? Ronaldo ou<br />

Messi? Djokovic ou Federer? Hamilton<br />

ou Vettel? Os grandes duelos individuais<br />

entre os maiores atletas, mesmos em desportos coletivos,<br />

incendeiam as grandes competições, fazem<br />

manchetes nos jornais e a delícia dos fãs. E fazemno<br />

hoje, como o fizeram sempre. É isso que é o<br />

desporto: saber quem é o melhor; saber quem é o<br />

melhor de Nós.<br />

Poucos foram os duelos mais intenso que aquele<br />

que opôs James Hunt a Niki Lauda na temporada de<br />

Formula 1 de 1976. Hunt e Lauda eram o oposto. O<br />

primeiro era um “bon vivant”, mulherengo e casado<br />

com uma estrela de Hollywood. Vivia nos limites e<br />

a sua filosofia de condução era pé a fundo no acelerador<br />

sem medos e sem olhar para quem seguia<br />

atrás de si. Lauda era diferente. Bem diferente.<br />

Cauteloso, obsessivo no detalhe, estratega exímio<br />

que planava ao detalhe cada futuro passo. Inabalável<br />

nas suas convicções, nem um terrível acidente que<br />

lhe queimou metade da rosto o afastou das pistas.<br />

Mas sabia quando olhar para trás, quando um ponto<br />

era melhor que nenhum ponto, e quando o risco era<br />

demasiado alto para o aceitar.<br />

Rush, dirigido por Ron Howard, retrata na perfeição<br />

no grande ecrã estes dois grandes atletas, de personalidades<br />

tão diferentes, mas que se alimentavam um<br />

no outro, para se tornarem melhores e ganharem<br />

combustível extra para cortarem a meta na primeira<br />

posição.<br />

Um filme imperdível para quem gosta de desporto,<br />

e para quem é acima de tudo amente dos desportos<br />

motorizados, já que vimos aqui algumas das melhores<br />

cenas de pista filmadas para o cinema.<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 109


110 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


TÉCNICO DE<br />

FUTEBOL – A ARTE DE<br />

COMANDAR<br />

COMANDAR E LIDERAR DENTRO DO BALNEÁRIO<br />

Fabio Cunha,<br />

Técnico de Futebol, Professor<br />

e Palestrante colunista Desporto&<strong>Esport</strong><br />

contato@desportoeesport.com<br />

www.fcunha.com.br/livro_tecnicofutebol.htm<br />

H<br />

erói ou vilão, gênio ou<br />

burro, amigo ou carrasco,<br />

moderno ou retrógrado,<br />

estudioso ou arcaico, dedicado<br />

ou preguiçoso, inovador ou inventor.<br />

O técnico de futebol vive em cima de uma<br />

corda bamba, uma linha tênue entre a glória<br />

e o fracasso. Uma simples partida, uma má<br />

atuação de sua equipe, uma única derrota<br />

podem colocar todo o seu prestígio, todo<br />

o seu conhecimento e até seu caráter em<br />

dúvida.<br />

Em todas as profissões existentes, os profissionais<br />

precisam provar sua capacidade<br />

e seu conhecimento, mas no caso do técnico<br />

de futebol isso atinge níveis extremos.<br />

O técnico precisa provar sua capacidade e<br />

competência todas as semanas, às vezes<br />

a cada três ou quatro dias, quando não<br />

diariamente. Uma equipe pode vencer dez<br />

partidas seguidas, depois perder duas ou<br />

três e já se coloca em dúvida o trabalho<br />

do comandante; pode ganhar títulos e<br />

quando perder o próximo torneio será<br />

contestado. O técnico nunca deve se iludir<br />

ou se empolgar demais com o sucesso de<br />

sua equipe. O título conquistado hoje, não<br />

tem valia nenhuma amanhã. O sucesso no<br />

futebol é efêmero.<br />

Como o futebol é o maior esporte do<br />

mundo, com milhões de aficionados, é<br />

natural que esses milhões de pessoas se<br />

julguem capacitadas para entender do<br />

esporte. Uma coisa é entender o jogo,<br />

a sua dinâmica, outra coisa é entender<br />

como funciona essa dinâmica e como<br />

fazê-la ser eficiente.<br />

O dia a dia dos profissionais do futebol<br />

não é fácil como muitos imaginam, a<br />

maioria dos clubes não oferece condições<br />

satisfatórias de trabalho. A função de técnico<br />

de futebol é uma das mais complexas,<br />

pois ele precisa possuir uma gama muito<br />

grande de conhecimentos, conhecimentos<br />

esses técnicos, táticos, físicos, fisiológicos,<br />

médicos, psicológicos, nutricionais,<br />

pedagógicos, sociais, comportamentais,<br />

políticos, econômicos e outros, além de<br />

exercer uma liderança eficiente e conseguir<br />

motivar seus atletas a todo momento.<br />

Não é concebível que no século XXI, com<br />

avanços tecnológicos incríveis, ainda tenhamos<br />

técnicos e preparadores físicos que<br />

trabalhem com nenhum ou pouquíssimo<br />

embasamento teórico e atuem somente<br />

com o empirismo. A experiência prática<br />

é de fundamental importância, mas essa<br />

experiência sem a teoria fica incompleta<br />

ou, no mínimo, defasada.<br />

Os técnicos de futebol devem possuir<br />

uma formação teórica bem embasada,<br />

seja com cursos de educação física ou com<br />

algum curso de habilitação, além dos cursos<br />

periódicos de atualização profissional.<br />

O que não pode mais ocorrer é observarmos<br />

treinamentos sem o mínimo de<br />

fundamentação teórica, que acabam por<br />

prejudicar os atletas em vez de auxiliá-los<br />

no desenvolvimento futuro de suas carreiras<br />

ou de sua formação como cidadãos.<br />

“O futebol de hoje não<br />

pode ser entendido sem<br />

a figura do técnico. Esse<br />

indivíduo é fundamental e<br />

indispensável no esporte,<br />

na condução e planejamento<br />

de um trabalho<br />

profissional sério É uma<br />

das profissões mais apaixonantes<br />

e gratificantes,<br />

mas sem “sangue, suor e<br />

lágrimas” não se atinge o<br />

sucesso e a felicidade pessoal<br />

e profissional. Ser técnico<br />

de futebol é acima de<br />

tudo ser um lutador, ser<br />

dedicado, ser um batalhador.”<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 111


“Ser técnico de futebol não é simplesmente pegar um apito, entrar<br />

em campo e, pronto! Ser técnico de futebol é um ato de coragem, determinação,<br />

ousadia, vocação, paixão e, principalmente, muito suor e<br />

trabalho duro. É preciso muito estudo, abdicar de muitas coisas, sacrificar<br />

momentos de lazer e convívio familiar, passar por dificuldades<br />

financeiras.“,<br />

Não é aceitável também encontrar profissionais<br />

sem o mínimo de tato para lidar<br />

com outros seres humanos, sem o mínimo<br />

de respeito e educação. Esse é um preceito<br />

básico da convivência humana.<br />

No futebol moderno, o técnico assumiu<br />

um papel de destaque. O futebol é um<br />

esporte que exige diferentes profissionais<br />

nas mais variadas áreas atuando em prol<br />

de um resultado único, que é a vitória.<br />

Essa reunião de valores e especialidades<br />

necessita ser chefiada por uma pessoa,<br />

precisa de um líder eficaz e carismático,<br />

ou seja, necessita de um comandante que<br />

tenha capacitação e que saiba extrair o<br />

melhor desempenho de sua equipe de<br />

trabalho e atletas. Não se pode dissociar o<br />

resultado final da incidência que o técnico<br />

tem sobre seu grupo. O comandante que se<br />

prepara, se capacita, estuda os conceitos de<br />

liderança moderna tem maiores condições<br />

de levar sua equipe ao sucesso esportivo<br />

comparado aos técnicos que utilizam um<br />

estilo de liderança voltado para pressão e<br />

cobrança excessiva.<br />

O futebol de hoje não pode ser entendido<br />

sem a figura do técnico. Esse indivíduo é<br />

fundamental e indispensável no esporte,<br />

na condução e planejamento de um trabalho<br />

profissional sério. Mas acima de tudo<br />

ele deve saber trabalhar em equipe, sozinho<br />

ou assumindo uma postura ditatorial<br />

ele não conseguirá coordenar e conduzir<br />

uma equipe ao sucesso.<br />

Ser técnico de futebol não é simplesmente<br />

pegar um apito, entrar em campo e,<br />

pronto! Ser técnico de futebol é um ato de<br />

coragem, determinação, ousadia, vocação,<br />

paixão e, principalmente, muito suor e trabalho<br />

duro. É preciso muito estudo, abdicar<br />

de muitas coisas, sacrificar momentos<br />

de lazer e convívio familiar, passar por<br />

dificuldades financeiras.<br />

É uma das profissões mais apaixonantes<br />

e gratificantes, mas sem “sangue, suor e<br />

lágrimas” não se atinge o sucesso e a felicidade<br />

pessoal e profissional. Ser técnico de<br />

futebol é acima de tudo ser um lutador, ser<br />

dedicado, ser um batalhador.<br />

É recomendado a todos que desejam<br />

ingressar nessa profissão, que se preparem,<br />

se capacitem ao máximo, seja cursando<br />

uma faculdade, fazendo cursos diversos,<br />

lendo livros e artigos, conversando com<br />

profissionais mais experientes, enfim, o<br />

indivíduo que pretende se tornar um técnico<br />

de futebol diferenciado deve evoluir<br />

no aspecto técnico e também no lado pessoal,<br />

nunca achando que sabe o suficiente.<br />

O aprendizado deve ocorrer a vida toda.<br />

112 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


FOOTBALL<br />

SCORES LIVE:<br />

NOTÍCIAS E RESULTADOS DE FUTEBOL!<br />

E<br />

sta aplicação faz exatamente o que o<br />

nome indica, resultados de futebol<br />

em tempo real. Para se saber um resultado,<br />

ver uma tabela classificativa, verificar o<br />

agendamento dos jogos ou procurar dados<br />

estatísticos sobre as equipas em campo, é<br />

uma App que funciona sem problemas.<br />

Tem ainda um sistema de actualização em<br />

runtime que permite ao utilizador estar<br />

actualizado face aos resultados dos jogos<br />

que pretende acompanhar. Permite ainda<br />

parametrizar os clubes e ligas preferidas<br />

para que o utilizador tenha acesso imediato<br />

aos seus favoritos<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 113


O SEGREDO<br />

ALEMANHA<br />

ACADEMIA<br />

CAMPEÃ D<br />

114 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


S -<br />

DA<br />

O MUNDO<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 115


Diogo Sampaio, Director e colunista da<br />

Desporto&<strong>Esport</strong><br />

Em pouco mais de 10 anos foram investidos mais<br />

de 500 milhões de euros nas academias. O resultado:<br />

um campeonato do Mundo!<br />

Durante os últimos largos meses tem-se discutido, um<br />

pouco por todo o mundo futebolístico, quais as razões<br />

do sucesso no Mundial do Brasil de 2014. Mas em pleno<br />

2015, a resposta a esta pergunta parece estar em 2011, e<br />

num relatório de 48 páginas emitido pelas autoridades<br />

federativas alemãs denominado por “10 Years of Academies<br />

– Talent pools of top-level German football” – em tradução<br />

livre, 10 anos de academias – germinar talento de top no<br />

futebol alemão. Após a derrocada da Alemanha no euro<br />

2000, as autoridades sentiram que era necessário Mudar. E a<br />

mudança ou segredo não foi então mais que criar academias<br />

de treino e de alto rendimento e formar jovens talentos<br />

num largo plano nacional com a envolvência das entidades<br />

governativas, federativas e dos clubes de futebol; e paralelamente<br />

formar e dar competências académicas aos seus<br />

treinadores. Com um investimento financeiro, nos últimos<br />

10 anos, de mais 520 milhões de euros, como podemos ver<br />

no gráfico ao lado.<br />

Os ganhos desta nova política são imensos, na última década<br />

o número de jovens nas equipas alemãs dobrou, a proporção de<br />

116 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com<br />

jogadores alemães aumentou e a idade media diminui. E, ainda se<br />

soma serem campeões do Mundo.


Desde o ano<br />

de 2001, que<br />

as academias<br />

alemãs têm<br />

vindo a eliminar,<br />

e entretanto<br />

ultrapassar, o<br />

hiato que existia<br />

em comparação<br />

com as suas homónimas na França e Holanda, que eram tidas<br />

como o modelo padrão. Alicerçado no programa “promoção<br />

de talento”, a introdução de academias para talento jovem foi<br />

obrigatória para todos os clubes profissionais. “Sem o trabalho<br />

e apoio da Liga dos sucessos da seleção alemã seria inconcebível.<br />

Fundamentalmente, graças as academias, há hoje mais e melhor<br />

jogadores e mais educados do que nunca. A Liga Alemã de Futebol<br />

está batendo este poço de talento. A equipa nacional, portanto, tem<br />

uma chance real de vencer títulos novamente “, afirma C. Seifert,<br />

diretor executivo da DFL, e principal mentor e impulsionador do<br />

plano das academias. O número de jovens jogadores nos vários<br />

segmentos etários é fenomenal, com mais de 5.445 atletas jovens<br />

dividos por mais de 282 clubes, um pouco por toda a Alemanha.<br />

O modelo acima, assente em 8 pontos bases, designado por<br />

Double PASS avalia as academias de formação juventude,<br />

com pontos de ponderadas categoria, totalizando uma<br />

pontuação máxima de 5.000 pontos. A Federação Alemã<br />

certifica academias com base nesses resultados, dando a<br />

cada clube uma classificação por estrelas entre um e três.<br />

Os Clubes ganham benefícios, entre eles fortes benefícios<br />

financeiros com base em quantas estrelas têm as suas<br />

academias. E os ganhos por estrela podem ser elevados e<br />

aliciantes - três estrelas equivale a um prémio de 300.000<br />

euros.E embora, este processo de avaliação tenha sido<br />

recebido com polêmica, os resultados tem sido bastante<br />

positivo, com melhoras de 60% das academias após uma<br />

segunda avaliação quando comparadas com a primeira<br />

avaliação. E hoje é aceite a sua influência positiva, e tal<br />

como afirma diz Andreas Nagel, Chefe de Operações dos<br />

jogos de DFL, “ o processo de avaliação introduzido desde<br />

o seu inicio assumiu uma preponderância para que se fosse<br />

desse mais intensidade ao detalhe nas academias em todas<br />

as suas áreas”.<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 117


Número de técnicos alemães em atividade nas várias faixas etárias e a sua formação.<br />

“Sem o trabalho e apoio da Liga, os sucessos da seleção alemã seria<br />

inconcebível. Fundamentalmente, graças as academias, há hoje mais<br />

e melhor jogadores e mais educados do que nunca. A Liga Alemã de<br />

Futebol está a aproveitar este poço de talento. A equipa nacional, portanto,<br />

tem uma chance real de vencer títulos novamente“, C. Seifert,<br />

diretor executivo da DFL, e principal mentor e impulsionador do<br />

plano das academias na Alemanha em 2011.<br />

Outro ponto fundamental, e em certa medida<br />

tão importante quanto as academias, foi a<br />

formação dos técnicos de futebol, vulgos, treinadores<br />

principais, treinadores adjuntos e treinadores<br />

de guarda-redes/goleiros. O futebol<br />

alemão tem mais treinadores com uma Licença<br />

A ou Pro Diploma em atividade, número<br />

muito superior à média europeia e Mundial. A<br />

formação e formação superior é fundamental<br />

para qualquer profissão e no futebol não é e<br />

não deve ser exceção. Dar as ferramentas aos<br />

treinadores para lidarem com todos os desafios<br />

para um futebol altamente profissional em<br />

todas as faixas etárias como é hoje em dia é<br />

crucial para o sucesso. E os custos de formação<br />

para os “alunos” têm sofrido sucessivos descontos,<br />

o ultimo na ordem dos 33%. O Diretor técnico<br />

de futebol Cris Ola explicou o raciocínio<br />

por trás da<br />

decisão de<br />

“sentar no<br />

banco da escola”<br />

os técnicos<br />

de futebol:<br />

“numa<br />

altura em<br />

que estamos<br />

empurrando<br />

a acreditação<br />

do treinador obrigatória e melhoria da educação,<br />

este deve ser um alívio bem-vindo para<br />

aqueles que desejam participar.”<br />

Os resultados desta aproximação ao conhecimento<br />

académico tem os seus frutos bem<br />

visíveis, e basta ligar a TV em qualquer jogo<br />

da Bundesliga, e o espetáculo que proporciona,<br />

assente numa imensa competitividade,<br />

olhemos para o Bayern de Munich como um<br />

caso à parte, onde só encontra comparação na<br />

Premier Legue. E tudo isto com da vez mais<br />

jogadores alemães, como nos mostra o gráfico<br />

acima. A alemanha é assim um exemplo a<br />

seguir. E a ser analisado com atenção pelas<br />

entidade federativas Portuguesas e Brasileiras.<br />

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A ATUAÇÃO ÉTICO-PROFISSIONAL DO<br />

PSICÓLOGO NO ESPORTE<br />

Samira Saint Martin<br />

Psicóloga esportiva. Especialista<br />

em Terapia Cognitiva.<br />

samira.psicologia@gmail.com<br />

O<br />

prazer em apreciar um<br />

evento esportivo cresceu<br />

no mundo inteiro. A Copa<br />

do Mundo e as Olímpiadas<br />

são exemplos dos mega eventos esportivos<br />

da atualidade que corroboram essa<br />

afirmação. A espetacularização do esporte<br />

moderno e a super valorização dos resultados<br />

alcançados pelos atletas e equipes<br />

tem sugerido o protagonista do espetáculo<br />

esportivo, o atleta, como figura espetacular<br />

do herói.<br />

O esporte de alto rendimento ou competitivo,<br />

apresenta atletas que são considerados<br />

ídolos nacionais e até mesmo<br />

mundiais, que são também “exemplos” de<br />

ser humano por vencerem adversários,<br />

obstáculos, superarem limites e fazer-nos<br />

sentir orgulho da nação.<br />

Não são poucas as pessoas que se aventuram<br />

a tornarem-se um destes, independente<br />

da modalidade esportiva, como<br />

também é grande o número de profissionais<br />

que gostariam de trabalhar nesse<br />

meio. Porém fazer parte de uma comissão<br />

técnica de uma equipe esportiva não é<br />

um trabalho fácil, principalmente pelas<br />

exigências de rendimento por parte dos<br />

atletas, clubes, mídia e patrocinadores.<br />

A preparação física não é mais um diferencial<br />

entre os atletas profissionais. Seus<br />

rendimentos se assemelham, sendo suas<br />

habilidades psicológicas a chave mestra.<br />

Pode-se citar alguns atletas ou equipes<br />

que perderam grandes chances de medalhas,<br />

como por exemplo o ginasta Diego<br />

Hipólito, favorito ao ouro nas Olímpiadas<br />

de 2008 em Pequim e nem mesmo subiu<br />

ao pódio. Todos esses episódios são abordados<br />

pela mídia como falta de preparação<br />

psicológica: “o atleta não estava preparado<br />

psicologicamente”. Porém a discussão<br />

se limita a esse tipo de comentário.<br />

A atuação de um psicólogo é desconhecida<br />

para muitas pessoas e por isso ele é<br />

vítima de preconceitos como o de atender<br />

pessoas “loucas” ou “problemáticas”. Um<br />

psicólogo no contexto esportivo tem sua<br />

atuação mais desconhecida ainda.<br />

A forma como esse profissional pode atuar<br />

é ampla, seja ela no esporte individual ou<br />

coletivo, desde as categorias de base às<br />

equipes profissionais, ajudando desde os<br />

atletas à instituição esportiva.<br />

As intervenções tem caráter terapêutico e<br />

educativo, através de sessões individuais<br />

e dinâmicas de grupo, que beneficiam os<br />

atletas e a equipe como um todo, sendo<br />

o psicólogo o mediador das relações e<br />

facilitador para que as discussões ajudem<br />

o grupo a evoluir.<br />

Na Psicologia os princípios de ética trazem<br />

desafios importantes para a prática cotidiana,<br />

sendo comum a curiosidade das pessoas<br />

a respeito de algum caso específico.<br />

Observa-se, hoje, uma gama enorme<br />

desses profissionais trabalhando em instituições,<br />

o que antes era mais comum sua<br />

presença apenas em consultórios.<br />

Muitas vezes esse trabalho subjetivo, precisa<br />

apresentar resultados palpáveis para<br />

as organizações.<br />

Atualmente a Terapia Cognitiva vem surpreendendo<br />

por apresentar resultados em<br />

poucas sessões, sendo estes visíveis tanto<br />

para o atleta quanto para o treinador.<br />

“Um atleta ou equipe confia<br />

ao psicólogo questões<br />

que não relataria à outra<br />

pessoa. O psicólogo deve<br />

ajudá-lo nessas situações<br />

e manter o sigilo, mesmo<br />

havendo uma certa curiosidade<br />

por parte da<br />

comissão técnica em saber<br />

sobre elas... A ética do<br />

psicólogo antes de tudo,<br />

não é uma ética como uma<br />

verdade a ser transmitida,<br />

mas uma construção conjunta<br />

de sentidos, lembrando<br />

que antes de se<br />

trabalhar o atleta, ele tem<br />

diante de si um ser<br />

humano.”<br />

120 • Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com


“A atuação de um psicólogo é desconhecida para muitas pessoas e por isso<br />

ele é vítima de preconceitos como o de atender pessoas “loucas” ou “problemáticas”.<br />

Um psicólogo no contexto esportivo tem sua atuação mais desconhecida<br />

ainda. A forma como esse profissional pode atuar é ampla, seja ela no<br />

esporte individual ou coletivo, desde as categorias de base às equipes profissionais,<br />

ajudando desde os atletas à instituição esportiva. As intervenções<br />

tem caráter terapêutico e educativo, através de sessões individuais e dinâmicas<br />

de grupo, que beneficiam os atletas e a equipe como um todo, sendo o<br />

psicólogo o mediador das relações e facilitador para que as discussões ajudem<br />

o grupo a evoluir. “<br />

A ética é um tema da Filosofia da Moral,<br />

portanto, um pensamento reflexivo sobre<br />

os valores e as normas que regem a conduta<br />

humana. É costume identificar a ética<br />

referindo-se a um conjunto de princípios<br />

e normas que um grupo estabelece para<br />

seu exercício profissional, por exemplo, os<br />

códigos de ética dos médicos, dos advogados<br />

e dos psicólogos. No esporte, vários<br />

problemas podem ser observados, sejam<br />

eles no nível macro, ou seja, a instituição<br />

esportiva, ou micro, o próprio atleta ou<br />

grupo. A mediação atleta – clube, o feedback<br />

aos gestores e a contratação de um<br />

psicólogo permanente em uma equipe e<br />

as “palestras motivacionais”, são algumas<br />

questões éticas que podemos discutir aqui.<br />

É comum surgir demandas que não estejam<br />

ligadas diretamente ao contexto de<br />

treinos e competições, mas que de alguma<br />

forma interferem no rendimento de<br />

um atleta. Essas questões podem ser de<br />

ordem pessoal, familiar ou social e nesse<br />

momento o psicólogo se pergunta, se ao<br />

trabalhar essas questões ele está saindo de<br />

sua especialidade do esporte e entrando<br />

no âmbito clínico. Não é possível falar de<br />

uma Psicologia <strong>Esport</strong>iva recortando-a e<br />

distanciando-a dos compromissos éticos<br />

postos para a profissão do psicólogo. É de<br />

extrema importância uma escuta clínica<br />

no esporte, pois a concepção da clínica que<br />

se tem, precisa ser ampliada para todos os<br />

espaços onde o psicólogo está inserido,<br />

exatamente porque a clínica não é um<br />

lugar, mas sim uma postura ética do profissional<br />

na escuta que faz das demandas<br />

de seus clientes.<br />

Um atleta ou equipe confia ao psicólogo<br />

questões que não relataria à outra pessoa.<br />

O psicólogo deve ajudá-lo nessas situações<br />

e manter o sigilo, mesmo havendo uma<br />

certa curiosidade por parte da comissão<br />

técnica em saber sobre elas. Por algumas<br />

vezes, o treinador ou outro membro da<br />

comissão técnica tem seu nome levantado<br />

em reuniões com a Psicologia. Para<br />

resolver a demanda que surgiu, não fará<br />

diferença e é desnecessário citar nomes,<br />

mesmo havendo uma pressão por parte<br />

da comissão em identificar os atletas.<br />

Comissão e equipe devem tentar entender<br />

por que aquela situação está acontecendo<br />

e o que cada um se compromete a fazer<br />

para mudá-la.<br />

Existem algumas pessoas atuando no<br />

esporte que se autodenominam “motivadores”.<br />

Apesar de isso não ser Psicologia<br />

em si, a equipe contratante deve saber<br />

que a motivação assim abordada, pode ser<br />

realizada pelo próprio treinador ou por<br />

outro profissional que não o psicólogo.<br />

Além de superficiais, essas “sessões de<br />

motivação” não são equivalentes ao trabalho<br />

do psicólogo, pois não ajuda a equipe a<br />

refletir sobre suas necessidades e a ampliar<br />

seu repertório de comportamento.<br />

A necessidade da vitória a qualquer custo,<br />

da adequação às mudanças de regras e<br />

calendários e os interesses comerciais<br />

de clubes e patrocinadores chegam ao<br />

psicólogo do esporte como uma imposição<br />

para sua função e permanência no clube.<br />

Isso porque a lógica da sociedade contemporânea<br />

é a de produtividade, de performance<br />

e do sucesso. Por ser um trabalho<br />

reflexivo e subjetivo, ele requer tempo e<br />

planejamento.<br />

A ética do psicólogo antes de tudo, não é<br />

uma ética como uma verdade a ser transmitida,<br />

mas uma construção conjunta de<br />

sentidos, lembrando que antes de se trabalhar<br />

o atleta, ele tem diante de si um ser<br />

humano.<br />

Desporto&<strong>Esport</strong> • www.desportoeesport.com • 121


Para melhor Atacar – Defender ainda<br />

melhor!<br />

Ancelotti afirmou durante esta presente temporada que<br />

“defender é uma missão de sacrifício em que com uma<br />

pressão uniforme tem-se o prémio da recuperação da bola”.<br />

Talvez possa parecer estranho começarmos este artigo com<br />

uma frase do treinador do Real Madrid, mas foi este mesmo<br />

técnico que ensinou uma lição a Guardiola na época passada<br />

na Liga dos Campeões, quando derrotou a equipa da<br />

Baviera por uns esclarecedores 4-o, apostando numa defesa .<br />

Guardiola perdeu este duelo, porque a sua equipa não soube<br />

entender os momentos em que tinha de recuar. Pressionar<br />

100% do jogo é impossível. Tenta-lo é um tremendo erro!<br />

Como o treinador espanhol bem entendeu, é preferível apostar<br />

na inteligência e táctica dos jogadores do que na força, que<br />

inevitavelmente se esgota com o decorrer do jogo.<br />

Guardiola entendeu isso, e desde logo, da final da época anterior<br />

começou a mudar o sistema táctico da equipa do 4-2-3-1<br />

ou 4-1-4-1 colocou em campo um 3-6-1, com Martinez a<br />

trinco, Rafinha e Lahm de alas, Kroos e Højbjerg no meio,<br />

Ribery/Götze e Robben nas alas e Müller de falso nove como<br />

homem mais avançado. Muitas dessas ideias passaram para<br />

esta presente época, com significativos ganhos em golos<br />

sofrido e na posse de bola.<br />

Os números ao lado, na tabela 1, são interessantíssimos, uma<br />

vez que demonstram de forma clara a mentalidade mais<br />

defensiva de ainda maior posse de bola da equipa alemã, Ao<br />

todo, e no mesmo período, são menos 12 golos sofridos, consentindo<br />

apenas 11 golos na liga alemã. E subindo em média<br />

mais 10% no índice de posse de bola, cifrando-se agora nos<br />

71%. Elevando para um outro patamar a ideia que as “equipas<br />

de Guardiola jogam e não deixam jogar, porque o adversário<br />

nunca tem a bola“.<br />

ENTEN<br />

DE GU<br />

A anarquia<br />

a maior difi<br />

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DENDO O BAYERN<br />

ARDIOLA 2014/2015<br />

tática da equipa de Guardiola é a sua principal arma e<br />

culdade para as equipas adversárias.<br />

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Bayern 2013/2014 vs. 2014/2015: dados até ao mês de Março unicamente da Liga Alemã<br />

Para melhor Atacar – Defender ainda melhor!<br />

Como podemos facilmente identificar, cada elemento<br />

do onze da equipa alemã, tem um conjunto de<br />

movimentos bem definidos e que tem duas grande<br />

virtudes: proteger o meio e eliminar ao máximo as<br />

linhas de passe da equipa adversária. Os extremos são<br />

fundamentais neste processo, recuando sempre que a<br />

equipa perde a bola, principalmente quando a equipa<br />

joga com 3 defesas; uma das principais características<br />

da forma de trabalhar de Guardiola é convencer os<br />

seus jogadores de que o importante é o colectivo e<br />

só as dinâmicas de grupo interessam, deixando para<br />

segundo plano as necessidade e ambições pessoas<br />

de cada futebolista – já assim tinha acontecido em<br />

Barcelona.<br />

A anarquia táctica e os desdobramentos do 4-2-3-1, 3-3-3-1 ao 3-4-3 e o 4-3-3<br />

Mas, como raios joga o Bayern?<br />

A única resposta possível, para quem observa de fora, é a anarquia. Uma anarquia controlada.<br />

Varia de jogo para jogo e dentro do próprio jogo. Muito se tem dito, principalmente nos últimos anos, que mais importante que a formação<br />

e táctica de base, são as dinâmicas da equipa e dos jogadores entre si. Logicamente a dinâmica é crucial, mas não menos importante<br />

é o local de onde os jogadores começam a correr.<br />

E, neste ponto, o Bayern de Guardiola é único, e podemos descurtinar quatro modelos de jogo usados pelo técnico espanhol durante esta<br />

presente época: 4-2-3-1, 3-3-3-1, 3-4-3 e o 4-3-3. Nas imagens abaixo, podemos ver os dois mais usados: 4-2-3-1 e o 4-3-3.<br />

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Bayern o 4-3-2-1<br />

4-2-3-1, 3-3-3-1 ao 3-4-3 e o 4-3-3<br />

Em vários jogos recentes, principalmente após a lesão de<br />

Robben, Pep Guardiola tem mostrado uma preferencia<br />

para jogar em 4-3-3 desdobrando-se em 3-4-3 (figura 2).<br />

Com o retorno de ambos Holger Badstuber para a defesa e<br />

Philipp Lahm no meio-campo, deu o Bayern de Munique<br />

um dilema interessante no centro do meio-campo e uma<br />

exigência de que eles abordam onde David Alaba vai jogar?<br />

Contando ainda com Thiago Alcantara após paragem<br />

prolongada por lesão já regressou aos treinos e com Javi<br />

Martinez sempre à espreita. Mas talvez, estes dilemas não<br />

sejam assim tão relevantes:<br />

O Bayern de Munique funciona com um meio-campo com<br />

Schweinstegier, Lahm, e Alonso acrescentando Thiago<br />

para a profundidade e rotação. Adicionar David Alaba à<br />

mistura quando Juan Bernat joga e Bayern de Munique têm<br />

os seus dois extremos com um menor fulgor ou lesionados.<br />

Bayern o 4-3-3<br />

Junta-se a isso, o fato de que Mario Götze, que tem funcionado<br />

durante toda esta época como um extremo esquerdo,<br />

Lewandowski no meio e Müller no lado direito. Obviamente,<br />

Ribery e Robben nas alas quando em condições físicas.<br />

O TiKi Taka e a Verticalidade<br />

As equipas de Guadiola têm sempre uma enorme capacidade<br />

de reter a bola, passando entre os vários jogadores o<br />

esférico, escondendo-a, conseguindo com isso progredir no<br />

terreno e criar situações de golo, ou adormecer o adversário<br />

e apostar na verticalidade. No vídeo abaixo podemos o<br />

Tiki-taka versão Bayern e como os jogadores se vão movimentando<br />

de forma a dar linhas de passe:<br />

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A Verticalidade tenta unir na perfeição dois polos distintos:<br />

a posse de bola e o jogo direto. A Verticalidade<br />

mistura elementos de jogo direto e posse, tornando-o<br />

mais atacante e mais agressivo que o vulgo “tiki-taka”<br />

sem que para isso se perca a capacidade de reter a bola<br />

e se coloque a equipa em apuros de uma forma fácil.<br />

A Lateralização do jogo – bola jogada para os lados,<br />

para desequilibrar a posição dos defesas e encontrar<br />

espaço; quando isso não acontece, a bola deve ser<br />

jogada para a frente em um passe longo para rapidamente<br />

encontrar os avançados, e num espaço de<br />

segundo ultrapassar todo o miolo do terreno, normalmente<br />

sobrepovoado no futebol moderno.<br />

O Bayern é uma das equipas que melhor aplica esta<br />

nova forma de jogar, graças a Xavi Alonso e aos seus<br />

passes longo e certeiros, sempre imprevisíveis para as<br />

equipas adversárias:<br />

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O factor Neuer – Um guarda-Redes de excepção<br />

No Mundial do Brasil do ano passado, Neuer marcou um era para a posição de guarda-redes, como antes<br />

tinha acontecido com nomes como: Higuita, Jorge Campos, Chillavert, Buffon e Yashin. Mas ao contrário<br />

destes guarda-redes, Neuer pensa muito além da sua posição, joga como libero, coloca a bola onde quer com<br />

as mãos – passes de 50 metros, e dentro dos postes é uma muralha. É o melhor do Mundo e a estatística<br />

não engana.<br />

Neuer tem 1,93 m e ainda assim no Mundail do Brasil percorreu média superior a cinco quilómetros por<br />

jogo. e chegou a atingir mais de 30 km/h de velocidade máxima em “sprint” ao sair na cobertura da defesa.<br />

Ainda na Copa teve 25 intervenções decisivas e apenas sofreu 4 golos. Acabou por se tornar num dos melhores<br />

jogadores do ano e em terceiro lugar no prémio da FIFA.<br />

Este ano, a sua performance não se alterou.<br />

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NASCAR E O<br />

PATROCÍNIO MILIONÁRIO DE<br />

US$ 1 BILHÃO<br />

De acordo coma a publicação Sports Business Journal,<br />

a Nascar tem levado ao mercado a proposta bilionária,<br />

de um aumento de 33% no patrocínio da<br />

competição, atualmente na casa dos US$ 75 milhões<br />

ao ano. Se for fechado, será o maior contrato de patrocínio do<br />

desporte nos EUA. Estes valores apenas seriam validos a partir de<br />

2016, quando se encerram os 13 anos de contrato da Sprint, atual<br />

detentora do patrocínio principal.<br />

Muitos especialistas do mercado americano parecem ter dúvidas<br />

relativamente à possibilidade deste acordo e dizem que a Nascar<br />

deverá ter dificuldades para achar um patrocinador nos mesmos<br />

moldes da Nextel/Sprint. A saída seria encontrar uma empresa que<br />

não é líder de mercado e que esteja disposta a pagar esse montante<br />

para ganhar mercado a partir da associação com a Nascar.<br />

“As marcas relevantes e autênticas estão dentro dos setores de<br />

tecnologia, seguros e vendas on-line. São marcas que poderiam<br />

alavancar sua propriedade por meio da Nascar como um divisor<br />

de águas”, afirmou Brian Corcoran, ex-executivo da Nascar que foi<br />

responsável pelo acordo firmado com a Nextel em 2004.<br />

De acordo com o Sport Business Journal, a proposta da Nascar é<br />

de que metade do valor investido seja usado para ações de ativação<br />

desse patrocínio. Isso significaria cerca de US$ 50 milhões ao ano<br />

para as ativações.<br />

O modelo é similar ao que ocorre em outras ligas esportivas dos<br />

EUA. Com ele, o patrocinador é obrigado a ajudar a promover a<br />

categoria e, da mesma forma, consegue mostrar associação com o<br />

seu patrocinado.<br />

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