Edição nº 498 - Março/2011 - Ucg
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Goiânia, 2ª quinzena de março de <strong>2011</strong> Folha PUC <strong>498</strong> - 11<br />
Pois então: dois anos depois de chegarem a Goiânia, o irmão mais<br />
velho de Zezinho, Leandro, formou uma dupla sertaneja com um colega.<br />
Mesmo já com nome de cantor, Leandro preferiu investir em<br />
outra identidade artística: Fernando. Nascia, então, a dupla Lucas e<br />
Fernando, que tocou nos bares da capital e de Aparecida de Goiânia<br />
a partir de 2002. Mas os jovens perceberam que precisavam de um<br />
tecladista nas apresentações...<br />
- Pois é, eu ficava no teclado, mesmo sem saber tocar nada, para<br />
poder ajudar eles. Colocava o disquete no teclado e ficava lá – confessa<br />
Zezinho, que também vendia CD’s da dupla.<br />
Quer saber como o ‘Globo Esporte’ descobriu este episódio, veiculado<br />
em setembro de 2007? Simples: em agosto do mesmo ano, Zezinho<br />
participou dos Jogos Parapanamericamos do Rio de Janeiro – já,<br />
já conto esta história. E, de lá, voltou com uma medalha de bronze<br />
na prova dos 1.500 metros. Os sonhos de Zezinho começavam a se<br />
materializar.<br />
EXCELÊNCIA PUC NO ENSINO<br />
Na elite do esporte<br />
Mais um miniflashback antes de entrarmos no Parapan do Rio.<br />
Depois que desembestou a correr – para a escola no Sesi, nas corridas<br />
de ruas de Goiânia, para Trindade -, Zezinho ouviu um conselho de<br />
um amigo:<br />
- Por que você não corre na pista de atletismo da Católica? – Wanderley<br />
Sidney, mais conhecido como “Cowboy”, se referia à universidade<br />
da qual era aluno.<br />
E Zezinho foi. E virou cobaia do cowboy, que cursava Educação<br />
Física e começou a treinar o jovem.<br />
- Correr com orientação técnica é outra coisa. Aprendi com o Wanderley<br />
a concentrar mente e corpo. Fiz vários testes e ele percebeu que<br />
eu tinha resistência e mantinha velocidade. Meu perfil é para corridas<br />
que a gente chama de meio-fundo – 800 metros e 1.500 metros.<br />
Zezinho começou a aplicar os ensinamentos e a direcionar seus<br />
esforços para o esporte, quando no final de 2005, outro conselho, de<br />
outro amigo, o colocou em competições nacionais.<br />
- Como eu tenho a limitação no braço direito, por causa das sequelas<br />
da queda na infância, o Tito Sena – atleta paraolímpico goiano,<br />
cuja conquista mais recente foi a medalha de prata no Mundial de<br />
Atletismo da Nova Zelândia, em janeiro de <strong>2011</strong> - falou pra mim da<br />
categoria T-46 no atletismo. São as provas de corrida em que os atletas<br />
com alguma deficiência no membro superior participam.<br />
Em 2006, então, aos 20 anos, Zezinho participou do Campeonato<br />
Paraolímpico Nacional, em Belém. No fim do mesmo ano, num circuito<br />
em Brasília, conseguiu o índice para o Parapan do Rio. Correu os<br />
800 e os 1.500 metros.<br />
- Dos dez atletas que participaram dos 800 metros, no Rio, meu<br />
tempo era o pior. Fiquei entre os últimos na prova.<br />
O jovem não se abalou. Quatro dias depois, competiu nos 1.500<br />
metros.<br />
Afafafafafafafafafafafafaf…<br />
(Agora não tinha mais o ‘rum rumrum’ dos ônibus e carros das<br />
avenidas de Goiânia).<br />
Afafafafafafafafafafafafaf…<br />
“Meu Deus, será que eu vou ganhar?!”<br />
A 300 metros da linha de chegada, Zezinho estava na frente.<br />
Pisadas mais fortes.<br />
Pisadas mais fortes.<br />
Pisadas mais fortes.<br />
Mas eram dos adversários. Zezinho os sentia bem próximos.<br />
- Faltando 250 metros, o mexicano me passou, depois mais um<br />
atleta. Na reta dos 100 metros foi aquele sufoco; o quarto colocado<br />
vindo atrás. Fiquei em terceiro por frações de segundos - conta Zezinho,<br />
que conseguiu o bronze no Parapan.<br />
- Foi na raça mesmo, na pressão – complementa o jovem. Depois<br />
daquele resultado ruim nos 800 metros, eu não acreditava que pudesse<br />
ganhar.<br />
Pois trate de acreditar, Zezinho! Pode parecer clichê – e realmente<br />
é -, mas o sonho começava a virar realidade.<br />
Depois do resultado, novas conquistas importantes. Também em<br />
2007, Zezinho foi o terceiro colocado no Mundial de Taiwan.<br />
- Pensa num cabloco como eu, do Centro-Oeste, passar 20 dias<br />
numa ilha da China?<br />
Este era o começo das viagens internacionais. E também do contato<br />
com outras culturas.<br />
- Taiwan tem muitos eletrônicos. O trânsito é caótico: são muitas<br />
motos, bicicletas, carros. No fim de semana, tem tanta bicicleta que é<br />
como se uma das pistas fosse totalmente destinada a elas.<br />
E a gastronomia, Zezinho?<br />
- A comida é muito estranha, tempero ruim, carne de cachorro. A<br />
gente praticamente almoçava e jantava só pizza e McDonald’s – revela<br />
o jovem.<br />
E para a China ele foi, para a China ele voltou. Em 2007, esteve em<br />
uma das ilhas do País; em 2008, estava na capital Pequim, cidade que<br />
assusta pela quantidade de habitantes: quase 20 milhões.<br />
- 2008 foi o melhor ano da minha vida. Participar de uma Paraolimpíada,<br />
correr num estádio lotado com 90 mil pessoas, ouvir e<br />
ver turistas gritando o nome do Brasil... A emoção foi muito grande,<br />
principalmente na abertura e no encerramento do evento. E o Cubo<br />
D’água? (refere-se ao complexo aquático construído para receber as<br />
provas de natação, saltos ornamentais e nado sincronizado). Foi tudo<br />
impressionante. E olha que eu nem ganhei medalha.<br />
Mas ainda há tempo para as novas conquistas. Foram 17 anos sem<br />
poder correr e, em apenas sete, medalhas e índices alcançados para<br />
participar de competições internacionais. Em Pequim, o jovem, que<br />
usa no e-mail o codinome “Vento Vivo”, ficou em 7º lugar na prova<br />
dos 1.500 metros – ele correu a base de remédios, por causa de um<br />
problema no tendão.<br />
- Era uma dor que já me acompanhava há algum tempo. Por causa<br />
do treinamento, há um desgaste natural do tendão e do calcanhar.<br />
Mas, em agosto do ano passado, fiz uma cirurgia – conta.<br />
Renovado, o hoje estudante do segundo semestre do curso de<br />
Educação Física da Pontifícia Universidade Católica de Goiás corre<br />
atrás de uma bolsa de estudo e demais vitórias. <strong>2011</strong> é ano de Pan,<br />
2012, de Olimpíadas, 2016, de Olimpíadas no Rio...<br />
- É um momento de incentivo ao esporte. Quero correr até os 37<br />
anos e ter o estudo como garantia de sustento.<br />
E quem sabe, já em Guadalajara <strong>2011</strong>, Zezinho consegue o sonho<br />
de ter uma medalha dourada?<br />
- Em 2007, um mexicano ganhou o ouro no Rio. Lembro que quando<br />
fui receber o bronze, um integrante do comitê brasileiro cochichou<br />
no meu ouvido: “No Parapan do México, você dá o troco”.<br />
Nós estaremos aqui, Zezinho, torcendo para o Galvão Bueno narrar<br />
esta vitória.