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Edição nº 498 - Março/2011 - Ucg

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Goiânia, 2ª quinzena de março de <strong>2011</strong> Folha PUC <strong>498</strong> - 10<br />

EXCELÊNCIA PUC NO ENSINO<br />

HISTÓRIAS DE VIDA<br />

Vento vivo<br />

por Carla Lacerda<br />

Conheça um pouco da história de vida de José Carlos Purificação<br />

de Alecrim, 24 anos, estudante do segundo semestre do curso de Educação<br />

Física da PUC Goiás e atleta paraolímpico.<br />

Afafafafafafafafafafafafaf…<br />

Rum rumrumrumrumrumrumrum...<br />

Afafafafafafafafafafafafaf…<br />

Rum rumrumrumrumrumrumrum...<br />

“Vamboooora, Zezinho, se não você vai chegar atrasado!”<br />

Das janelas do ônibus, os colegas de escola de Zezinho, José Carlos<br />

Purificação de Alecrim na certidão de nascimento, observavam o<br />

jovem baiano cruzar as ruas da capital de Goiás. Quarenta minutos<br />

correndo. Com mochila nas costas. E com muito gosto, frise-se.<br />

- Achava uma felicidade cortar Goiânia, não via dificuldade, não.<br />

E ele atravessava a cidade, do Setor Vera Cruz, onde morava com<br />

a família, para estudar no Sesi de Campinas, onde fazia o terceiro ano.<br />

Engana-se quem pensa que Zezinho trocava o assento de um coletivo<br />

– vá lá que nunca foi confortável mesmo andar de ônibus em Goiânia<br />

– pela sola do seu sapato simplesmente porque queria economizar<br />

dinheiro. Ele até revertia esta quantia guardada em lanches na escola,<br />

mas este não era seu principal objetivo. Zezinho gostava de correr.<br />

- Eu via pela televisão e achava bonitas as corridas. Sempre tive<br />

esse sonho.<br />

Mas por que correr com mochila nas costas, então, Zezinho? A<br />

caminho da escola? Não é melhor, mais fácil, correr numa pista, treinando<br />

mesmo?<br />

As perguntas que talvez você faça agora têm uma resposta bem<br />

pragmática. Correr, assim de maneira despretensiosa, era a única forma<br />

de Zezinho ...C-O-R-R-E-R. Parece estranho? Então, para não te<br />

confundir ainda mais, melhor fazermos uso de um recurso bastante<br />

utilizado nos cinemas. Segue flashback!<br />

De volta à infância<br />

Imagine uma criança que não corre. Depois dos quatro anos de<br />

idade, esta foi a realidade de Zezinho. Ele não podia correr. Não podia<br />

jogar futebol. Não podia um monte de coisas. E tudo por causa de<br />

um erro médico.<br />

- Estava brincando e caí em cima do meu braço direito. Fraturei o<br />

cotovelo e o ombro. O problema foi que o médico engessou de forma<br />

errada, o que desencadeou processos inflamatórios. Tive que tomar<br />

muito antibiótico; meus ossos ficaram fragilizados com isso, quebravam<br />

por qualquer coisa.<br />

Após o episódio - que ocorreu na cidade de Canabrava, no Mato<br />

Grosso, para onde Zezinho, os irmãos mais velhos e os pais haviam<br />

se mudado depois de deixar a Bahia -, o movimento no braço direito<br />

do jovem ficou limitado. Uma frase, então, passou a reverberar por<br />

longos anos em sua cabeça:<br />

- Você não pode correr. Você não pode correr. Você não pode correr.<br />

Em uma oportunidade, o mantra quase foi quebrado. Quase:<br />

- Lembro que uma vez meus pais até deixaram eu jogar futebol,<br />

mas com um aviso. Se me machucasse, eu saía. É não é que caí durante<br />

um jogo e quebrei o braço esquerdo!<br />

E assim se passou a infância e adolescência do baiano de Correntina.<br />

O tempo, este sim, corria. Por sorte, rápido. Na linha de chegada,<br />

ao invés da certeza do fim do percurso, a expectativa de uma nova<br />

rota. Que se abriu com a mudança de Zezinho e dos irmãos para a<br />

capital goiana, em 2000.<br />

Em Goiânia<br />

Afafafafafafafafafafafafaf…<br />

Rum rumrumrumrumrumrumrum...<br />

Afafafafafafafafafafafafaf…<br />

Rum rumrumrumrumrumrumrum...<br />

“Vamboooora, Zezinho, se não você vai chegar atrasado!”<br />

Depois que começou a correr para ir à escola, Zezinho não parou<br />

mais. Tomou gosto pelo que já gostava. E, agora, não era mais um<br />

simples telespectador dos eventos esportivos. Ele dava as primeiras<br />

passadas. AO VIVO E A CORES. Imagine o Galvão Bueno narrando<br />

o início desta trajetória:<br />

José Carlos da Purificação de Alecrim<br />

- Zezinnnnnnnnnnnho corre do Setor Vera Cruz a Campinas,<br />

em Goiânia!<br />

- A rrrrrrrrrrevelação juvenil já encara agora um percurso de 20<br />

quilômetros, saindo da capital até Trindade.<br />

- Aos 17 anos, Zezinnnnnnnnnnnnnho começa a participar das<br />

corridas de ruas! Ele quer ganhar um carro como premiação!<br />

Com o microfone - ops, a palavra -, o atleta:<br />

- Quanto mais eu corria, melhor.<br />

- Correr era um sonho de criança. Isso mudou todo o meu psicológico;<br />

foi superação mesmo. Cheguei a ser depressivo.<br />

- Quando encontrei o atletismo, foi ótimo porque não tinha como<br />

eu cair, como acontecia no futebol. Eu podia competir.<br />

E, aos 17 anos, conforme anunciado por “nosso Galvão”, Zezinho<br />

começou a participar das corridas de rua em Goiânia. A primeira foi<br />

em agosto de 2004, uma prova de 10 quilômetros.<br />

- Falei prá todo mundo, amigos e parentes, que ia chegar em primeiro<br />

lugar e levar o prêmio prá casa, que era um carro. A competição<br />

tinha cerca de dois mil atletas.<br />

E como foi a prova, Zezinho?<br />

- Quando completei dois quilômetros, já estava esgotado. Deu<br />

um desespero ver um monte de mulher me ultrapassando. Primeira<br />

corrida não é fácil, não!<br />

E o resultado?<br />

- Só ganhei mesmo um diploma de participação. E todo mundo<br />

pegou no meu pé perguntando “cadê o carro?” – diz, entre risos.<br />

Zezinho não levou o carro, mas em sua segunda corrida...<br />

- Apareci na capa do jornal “O Popular”. Eu era uma das “cabecinhas”<br />

de atletas fotografadas na competição – comenta, também com<br />

jeito matreiro.<br />

Pode até ter sido coisa do acaso, mas depois da discreta aparição<br />

no jornal, a fama começou a correr atrás de Zezinho. Em 2007, ele<br />

protagonizou uma matéria no ‘Globo Esporte’ local.<br />

“A música perde um tecladista, mas o esporte ganha um atleta”.<br />

Tecladista? Como assim? Zezinho não era só um rapaz latino-americano,<br />

que antes de correr, vendia jornais aos domingos pelas ruas de<br />

Goiânia? Sim, leitor, você está certo: esta última informação também<br />

é nova, eu ainda não a tinha revelado. Ah, tá, mas eu parei na história<br />

de Zezinho tecladista...

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