CecÃlia Meireles - Outorga.com.br
CecÃlia Meireles - Outorga.com.br
CecÃlia Meireles - Outorga.com.br
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Que bandeira se desdo<strong>br</strong>a?<<strong>br</strong> />
Com que figura ou legenda?<<strong>br</strong> />
Coisas da Maçonaria,<<strong>br</strong> />
do Paganismo ou da Igreja?<<strong>br</strong> />
A Santíssima Trindade?<<strong>br</strong> />
Um gênio a que<strong>br</strong>ar algemas?<<strong>br</strong> />
Atrás de portas fechadas,<<strong>br</strong> />
à luz de velas acesas,<<strong>br</strong> />
entre sigilo e espionagem,<<strong>br</strong> />
acontece a Inconfidência.<<strong>br</strong> />
E diz o Vigário ao Poeta:<<strong>br</strong> />
"Escreva-me aquela letra<<strong>br</strong> />
do versinho de Vergílio..."<<strong>br</strong> />
E dá-lhe o papel e a pena.<<strong>br</strong> />
E diz o Poeta ao Vigário,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> dramática prudência:<<strong>br</strong> />
"Tenha meus dedos cortados<<strong>br</strong> />
antes que tal verso escrevam..."<<strong>br</strong> />
LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,<<strong>br</strong> />
ouve-se em redor da mesa.<<strong>br</strong> />
E a bandeira já está viva,<<strong>br</strong> />
e sobe, na noite imensa.<<strong>br</strong> />
E os seus tristes inventores<<strong>br</strong> />
já são réus — pois se atreveram<<strong>br</strong> />
a falar em Liberdade<<strong>br</strong> />
(que ninguém sabe o que seja).<<strong>br</strong> />
Através de grossas portas,<<strong>br</strong> />
sentem-se luzes acesas,<<strong>br</strong> />
— e há indagações minuciosas<<strong>br</strong> />
dentro das casas fronteiras.<<strong>br</strong> />
"Que estão fazendo, tão tarde?<<strong>br</strong> />
Que escrevem, conversam, pensam?<<strong>br</strong> />
Mostram livros proibidos?<<strong>br</strong> />
Lêem notícias nas Gazetas?<<strong>br</strong> />
Terão recebido cartas<<strong>br</strong> />
de potências estrangeiras?"<<strong>br</strong> />
(Antiguidades de Nimes<<strong>br</strong> />
em Vila Rica suspensas!<<strong>br</strong> />
Cavalo de La Fayette<<strong>br</strong> />
saltando vastas fronteiras!<<strong>br</strong> />
Ó vitórias, festas, flores<<strong>br</strong> />
das lutas da Independência!<<strong>br</strong> />
Liberdade - essa palavra,<<strong>br</strong> />
que o sonho humano alimenta:<<strong>br</strong> />
que não há ninguém que explique,<<strong>br</strong> />
e ninguém que não entenda!)<<strong>br</strong> />
E a vizinhança não dorme:<<strong>br</strong> />
murmura, imagina, inventa.<<strong>br</strong> />
Não fica bandeira escrita,<<strong>br</strong> />
mas fica escrita a sentença.<<strong>br</strong> />
Com este lindo texto extraído do livro "Romanceiro da Inconfidência", Editora Letras e Artes - Rio de<<strong>br</strong> />
Janeiro, 1965, pág. 70, homenageamos a autora que, no dia 07-11-2001, estaria <strong>com</strong>pletando 100 anos de<<strong>br</strong> />
idade.<<strong>br</strong> />
O poema mostra muito bem vários detalhes do que deveria ser a vida em Vila Rica, atual Ouro Preto,<<strong>br</strong> />
naquele tempo: peças de vestuário, detalhes dos móveis, atitudes da vizinhança. A técnica de construção<<strong>br</strong> />
usada naquele tempo não era tão boa quanto a de hoje em dia, e as casas eram próximas umas das ouras. Por<<strong>br</strong> />
isso, o hábito de ouvir a conversa alheia pelas portas existia, e a crença de que ―as paredes têm ouvidos‖ era<<strong>br</strong> />
muito real.<<strong>br</strong> />
Cecília mostra muito bem <strong>com</strong>o os sussurros dos inconfidentes eram vigiados por vizinhos, às vezes<<strong>br</strong> />
maldosos. Naquela situação, apenas pensar em liberdade era um crime gravíssimo, mas os inconfidentes<<strong>br</strong> />
enfrentaram esse perigo.Dentre muitos momentos bonitos do poema, um é para guardar para sempre,a linda<<strong>br</strong> />
definição de liberdade dada por Cecília: ―Liberdade: essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há<<strong>br</strong> />
ninguém que explique, e ninguém que não entenda‖.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 16<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>