CecÃlia Meireles - Outorga.com.br
CecÃlia Meireles - Outorga.com.br
CecÃlia Meireles - Outorga.com.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
* 07/11/1901 – RJ + 09/11/1964 – RJ - (63 anos)<<strong>br</strong> />
Nome <strong>com</strong>pleto Cecília Benevides de Carvalho <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Nacionalidade <strong>br</strong>asileira<<strong>br</strong> />
Parentesco Carlos Alberto de Carvalho e <strong>Meireles</strong> e Matilde Benevides<<strong>br</strong> />
Cônjuge Fernando Correia Dias (1922-1935) e Heitor Grillo (1940-1972)<<strong>br</strong> />
Filhas: Maria Elvira <strong>Meireles</strong>, Maria Matilde <strong>Meireles</strong> e Maria Fernanda <strong>Meireles</strong> Correia Dias<<strong>br</strong> />
Ocupação Poetisa, jornalista, professora de Literatura<<strong>br</strong> />
Principais trabalhos Ou Isso ou Aquilo / Romanceiro da Inconfidência<<strong>br</strong> />
Escola/tradição Modernismo, Simbolismo - Movimento estético<<strong>br</strong> />
Cecília Benevides de Carvalho <strong>Meireles</strong> [1] Foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua<<strong>br</strong> />
portuguesa.<<strong>br</strong> />
Índice<<strong>br</strong> />
1 Biografia<<strong>br</strong> />
2 Homenagens<<strong>br</strong> />
3 O<strong>br</strong>as<<strong>br</strong> />
4 Outros textos<<strong>br</strong> />
5 Referências<<strong>br</strong> />
6 Bibliografia<<strong>br</strong> />
7 Ligações externas<<strong>br</strong> />
Biografia<<strong>br</strong> />
Órfã de pai e de mãe, Cecília foi criada por sua avó açoriana, D. Jacinta Garcia Benevides, natural<<strong>br</strong> />
da ilha de São Miguel. Aos nove anos, ela <strong>com</strong>eçou a escrever poesia.<<strong>br</strong> />
Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916 e estudou línguas,<<strong>br</strong> />
literatura, música, folclore e teoria educacional.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 1<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília <strong>Meireles</strong> publicou seu primeiro livro de poesias,<<strong>br</strong> />
Espectros, um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo,<<strong>br</strong> />
apresentava ainda, em sua o<strong>br</strong>a, heranças do Simbolismo e técnicas do Classicismo, Gongorismo,<<strong>br</strong> />
Romantismo, Parnasianismo, Realismo e Surrealismo, razão pela qual a sua poesia é considerada<<strong>br</strong> />
atemporal.<<strong>br</strong> />
No ano de 1922 casou <strong>com</strong> o artista plástico português Fernando Correia Dias, <strong>com</strong> quem teve<<strong>br</strong> />
três filhas. Seu marido, que sofria de depressão aguda, suicidou-se em 1935.<<strong>br</strong> />
Voltou a se casar, no ano de 1940, quando se uniu ao professor e engenheiro agrônomo Heitor<<strong>br</strong> />
Vinícius da Silveira Grilo, falecido em 1972. Dentre as três filhas que teve, a mais conhecida é<<strong>br</strong> />
Maria Fernanda que se tornou atriz de sucesso.<<strong>br</strong> />
Teve ainda importante atuação <strong>com</strong>o jornalista, <strong>com</strong> publicações diárias so<strong>br</strong>e problemas na<<strong>br</strong> />
educação, área à qual se manteve ligada, tendo fundado, em 1934, a primeira biblioteca infantil<<strong>br</strong> />
do Brasil.<<strong>br</strong> />
Observa-se ainda seu amplo reconhecimento na poesia infantil <strong>com</strong> textos <strong>com</strong>o Leilão de Jardim,<<strong>br</strong> />
O Cavalinho Branco, Colar de Carolina, O mosquito escreve, Sonhos da menina, O menino azul<<strong>br</strong> />
e A pombinha da mata, entre outros.<<strong>br</strong> />
Com eles traz para a poesia infantil a musicalidade característica de sua poesia, explorando versos<<strong>br</strong> />
regulares, a <strong>com</strong>binação de diferentes metros, o verso livre, a aliteração, a assonância e a rima. Os<<strong>br</strong> />
poemas infantis não ficam restritos à leitura infantil, permitindo diferentes níveis de leitura.<<strong>br</strong> />
Em 1923, publicou Nunca Mais… e Poema dos Poemas, e,<<strong>br</strong> />
Em 1925, Baladas Para El-Rei. Após longo período,<<strong>br</strong> />
Em 1939, publicou Viagem, livro <strong>com</strong> o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de<<strong>br</strong> />
Letras.Católica, escreveu textos em homenagem a santos, <strong>com</strong>o Pequeno Oratório de Santa Clara,<<strong>br</strong> />
de 1955; O Romance de Santa Cecília e outros.<<strong>br</strong> />
Em 1951 viajou pela Europa, Índia e Goa, e visitou pela primeira e única vez os Açores, onde na<<strong>br</strong> />
ilha de São Miguel contatou o poeta Armando César Côrtes-Rodrigues, amigo e correspondente<<strong>br</strong> />
desde a década de 1940. [2]<<strong>br</strong> />
Homenagens<<strong>br</strong> />
Prémio Machado de Assis (1965)<<strong>br</strong> />
Sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura<<strong>br</strong> />
Sócia honorária do Instituto Vasco da Gama (Goa)<<strong>br</strong> />
Doutora "honoris causa" pela Universidade de Delhi (Índia)<<strong>br</strong> />
Oficial da Ordem do Mérito (Chile)<<strong>br</strong> />
Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, [3] o nome de Cecília <strong>Meireles</strong> foi dado à escola<<strong>br</strong> />
básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, terra de sua avó-materna, Jacinta<<strong>br</strong> />
Garcia Benevides.<<strong>br</strong> />
Após sua morte, recebeu <strong>com</strong>o homenagem a impressão de uma cédula de cem cruzados novos.<<strong>br</strong> />
Esta cédula <strong>com</strong> a efígie de Cecília <strong>Meireles</strong>, lançada pelo Banco Central do Brasil, no Rio de<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 2<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Janeiro (RJ), em 1989, seria mudada para cem cruzeiros, quando da troca da moeda pelo governo de<<strong>br</strong> />
[4] [5]<<strong>br</strong> />
Fernando Collor.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>as<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> em Lisboa. Desenho de seu primeiro marido, Fernando Correia Dias.<<strong>br</strong> />
Espectros, 1919<<strong>br</strong> />
Criança, meu amor, 1923<<strong>br</strong> />
Nunca mais, 1923<<strong>br</strong> />
Poema dos Poemas, 1923<<strong>br</strong> />
Baladas para El-Rei, 1925<<strong>br</strong> />
Saudação à menina de Portugal, 1930<<strong>br</strong> />
Batuque, samba e Macumba, 1933<<strong>br</strong> />
O Espírito Vitorioso, 1935<<strong>br</strong> />
A Festa das Letras, 1937<<strong>br</strong> />
Viagem, 1939<<strong>br</strong> />
Vaga Música, 1942<<strong>br</strong> />
Poetas Novos de Portugal, 1944<<strong>br</strong> />
Mar Absoluto, 1945<<strong>br</strong> />
Rute e Alberto, 1945<<strong>br</strong> />
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948<<strong>br</strong> />
Retrato Natural, 1949<<strong>br</strong> />
Problemas de Literatura Infantil, 1950<<strong>br</strong> />
Amor em Leonoreta, 1952<<strong>br</strong> />
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952<<strong>br</strong> />
Romanceiro da Inconfidência, 1953<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 3<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Poemas Escritos na Índia, 1953<<strong>br</strong> />
Batuque, 1953<<strong>br</strong> />
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955<<strong>br</strong> />
Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955<<strong>br</strong> />
Panorama Folclórico de Açores, 1955<<strong>br</strong> />
Canções, 1956<<strong>br</strong> />
Giroflê, Giroflá, 1956<<strong>br</strong> />
Romance de Santa Cecília, 1957<<strong>br</strong> />
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957<<strong>br</strong> />
A Rosa, 1957<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>a Poética,1958<<strong>br</strong> />
Metal Rosicler, 1960<<strong>br</strong> />
Poemas de Israel, 1963<<strong>br</strong> />
Antologia Poética, 1963<<strong>br</strong> />
Solom<strong>br</strong>a, 1963<<strong>br</strong> />
Ou Isto ou Aquilo, 1964<<strong>br</strong> />
Escolha o Seu Sonho, 1964<<strong>br</strong> />
Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965<<strong>br</strong> />
O Menino Atrasado, 1966<<strong>br</strong> />
Poésie (versão francesa), 1967<<strong>br</strong> />
Antologia Poética, 1968<<strong>br</strong> />
Poemas Italianos, 1968<<strong>br</strong> />
Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969<<strong>br</strong> />
Flor de Poemas, 1972<<strong>br</strong> />
Poesias Completas, 1973<<strong>br</strong> />
Elegias, 1974<<strong>br</strong> />
Flores e Canções, 1979<<strong>br</strong> />
Poesia Completa, 1994<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>a em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998<<strong>br</strong> />
Canção da Tarde no Campo, 2001<<strong>br</strong> />
Poesia Completa, edição do centenário, 2001, 2 vols. (Org.: Antonio Carlos Secchin. Rio de<<strong>br</strong> />
Janeiro: Nova Fronteira)<<strong>br</strong> />
Crônicas de educação, 2001, 5 vols. (Org.: Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro:<<strong>br</strong> />
Nova Fronteira)<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 4<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Episódio Humano, 2007<<strong>br</strong> />
Uma o<strong>br</strong>a bastante particular e pouco conhecida de Cecília <strong>Meireles</strong> é o infanto-juvenil<<strong>br</strong> />
Olhinhos de Gato. Baseado na vida de Cecília, conta sua infância depois que perdeu sua mãe<<strong>br</strong> />
Matilde Benevides <strong>Meireles</strong> e <strong>com</strong>o foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides<<strong>br</strong> />
(Boquinha de Doce, no livro)<<strong>br</strong> />
Cecília foi uma das maiores poetisas do Brasil, Raimundo Fagner gravou várias músicas tendo seus<<strong>br</strong> />
poemas <strong>com</strong>o base. A exemplo de "Canteiros", "Motivo", e tantos outros.<<strong>br</strong> />
Outros textos<<strong>br</strong> />
Referências<<strong>br</strong> />
1947 - Estreia "Auto do Menino Atrasado", direção de Olga O<strong>br</strong>y e Martim Gonçalves.<<strong>br</strong> />
música de Luís Cosme; marionetes, fantoches e som<strong>br</strong>as feitos pelos alunos do curso de<<strong>br</strong> />
teatro de bonecos.<<strong>br</strong> />
1956/1964 - Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São<<strong>br</strong> />
Paulo e pela autora (Rio de Janeiro - Brasil)<<strong>br</strong> />
1965 - Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York - USA).<<strong>br</strong> />
1972 - Lançamento do filme "Os inconfidentes", direção de Joaquim Pedro de Andrade,<<strong>br</strong> />
argumento baseado em trechos de "O Romanceiro da Inconfidência".<<strong>br</strong> />
1. ↑ Na ortografia vigente à época de seu nascimento, seu nome era grafado Cecilia Benevides<<strong>br</strong> />
de Carvalho Meirelles.<<strong>br</strong> />
2. ↑ GOUVEIA, 2001:187.<<strong>br</strong> />
3. ↑ GOUVEIA, 2001:187.<<strong>br</strong> />
4. ↑ http://www.releituras.<strong>com</strong>/cmeireles_bio.asp<<strong>br</strong> />
5. ↑http://www.bb.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>/portalbb/page3,8703,8715,1,0,1,6.bb?codigoMenu=4686&codigoN<<strong>br</strong> />
oticia=5549&codigoRet=4696&<strong>br</strong>ead=7<<strong>br</strong> />
Bibliografia<<strong>br</strong> />
GOUVEIA, Margarida Maia. "Cecília <strong>Meireles</strong>: um percurso de espiritualidade". in<<strong>br</strong> />
Atlântida, vol. XLVI, 2001, p. 187-194.<<strong>br</strong> />
Ligações externas<<strong>br</strong> />
O Wikiquote possui citações de ou so<strong>br</strong>e: Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Biografia e poemas de Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> in: Projeto Releitura<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> in: Secrel.net<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> in: Pegasos (em inglês)<<strong>br</strong> />
Poemas de Amor - Poemas de Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 5<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 6<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
CECILIA MEIRELES / GUILHERME DE ALMEIDA<<strong>br</strong> />
POESIAS - VOLUME 9<<strong>br</strong> />
GRAVADORA FESTA - LPP – 009 - 10 POLEGADAS<<strong>br</strong> />
LADO A -CECILIA MEIRELES<<strong>br</strong> />
1 – APRESENTAÇÃO<<strong>br</strong> />
02 - RETRATO<<strong>br</strong> />
03 - ELEGIA A UMA PEQUENA BORBOLETA<<strong>br</strong> />
04 - GUITARRA<<strong>br</strong> />
05 - CAVALO MORTO<<strong>br</strong> />
06 - BALADA DAS DEZ BAILARINAS DO CASSINO<<strong>br</strong> />
07 - ROMANCE DA BANDEIRA DA INCONFIDÊNCIA<<strong>br</strong> />
08- CONTINUAÇÃO<<strong>br</strong> />
LADO B GUILHERME DE ALMEIDA]<<strong>br</strong> />
01 - CARTA A MINHA NOIVA<<strong>br</strong> />
CAPA E DISCO EM BOM ESTADO<<strong>br</strong> />
Cecilia <strong>Meireles</strong> / Guilherme De Almeida - Poesias-10 Polegadas<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 7<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
01 Apresentação - (in 'Retrato Natural')<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> I<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> II<<strong>br</strong> />
Aqui está minha vida — esta areia tão clara<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> desenhos de andar dedicados ao vento.<<strong>br</strong> />
Aqui está minha voz — esta concha vazia,<<strong>br</strong> />
som<strong>br</strong>a de som curtindo o seu próprio<<strong>br</strong> />
lamento.<<strong>br</strong> />
surviving its pathetic moment.<<strong>br</strong> />
Here is my heritage - this lonely sea,<<strong>br</strong> />
that on one side was love and the other,<<strong>br</strong> />
forgetting.<<strong>br</strong> />
Cecilia <strong>Meireles</strong>, in 'Natural Portrait'<<strong>br</strong> />
Aqui está minha dor — este coral que<strong>br</strong>ado,<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>evivendo ao seu patético momento.<<strong>br</strong> />
Aqui está minha herança — este mar solitário,<<strong>br</strong> />
que de um lado era amor e, do outro,<<strong>br</strong> />
esquecimento.<<strong>br</strong> />
Translation in English: Presentation<<strong>br</strong> />
Here is my life - this sand so clear<<strong>br</strong> />
with drawings of floor dedicated to the wind.<<strong>br</strong> />
Here is my voice - this empty shell,<<strong>br</strong> />
Sound enjoying the shade of your own regret.<<strong>br</strong> />
Here is my pain - this coral <strong>br</strong>oken<<strong>br</strong> />
Traduction en Français: "Présentation"<<strong>br</strong> />
présentation<<strong>br</strong> />
Voici ma vie - ce sable si clair<<strong>br</strong> />
avec des dessins de sol dédié au vent.<<strong>br</strong> />
Voici ma voix - cette coquille vide,<<strong>br</strong> />
Son profite de l'om<strong>br</strong>e de votre grand regret.<<strong>br</strong> />
Voici ma douleur - ce corail <strong>br</strong>isé<<strong>br</strong> />
survivant son moment pathétique.<<strong>br</strong> />
Voici mon patrimoine - cette mer solitaire,<<strong>br</strong> />
que d'un côté l'amour et l'autre, l'oubli.<<strong>br</strong> />
Cecilia <strong>Meireles</strong>, dans «Portrait naturel»<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 8<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
02 Retrato<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> I Cecília <strong>Meireles</strong> II Paulo Autran I Paulo Autran II<<strong>br</strong> />
"Eu não tinha este rosto de hoje,<<strong>br</strong> />
assim calmo, assim triste, assim magro,<<strong>br</strong> />
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.<<strong>br</strong> />
Eu não tinha estas mãos sem força,<<strong>br</strong> />
tão paradas e frias e mortas;<<strong>br</strong> />
eu não tinha este coração que nem se mostra.<<strong>br</strong> />
Eu não dei por esta mudança,<<strong>br</strong> />
tão simples, tão certa, tão fácil:<<strong>br</strong> />
Em que espelho ficou perdida a minha face?"<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 9<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
03 - Elegia a uma pequena borboleta - ( In Retrato natural )<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> I Cecília <strong>Meireles</strong> II Cecília <strong>Meireles</strong> III<<strong>br</strong> />
Como chegavas do casulo,<<strong>br</strong> />
— inacabada seda viva —<<strong>br</strong> />
tuas antenas — fios soltos<<strong>br</strong> />
da trama de que eras tecida,<<strong>br</strong> />
e teus olhos, dois grãos da noite<<strong>br</strong> />
de onde o teu mistério surgia,<<strong>br</strong> />
Choro a tua forma violada,<<strong>br</strong> />
miraculosa, alva, divina,<<strong>br</strong> />
criatura de pólen, de aragem,<<strong>br</strong> />
diáfana pétala da vida!<<strong>br</strong> />
Choro ter pesado em teu corpo<<strong>br</strong> />
que no estame não pesaria.<<strong>br</strong> />
Como caíste so<strong>br</strong>e o mundo<<strong>br</strong> />
inábil, na manhã tão clara,<<strong>br</strong> />
sem mãe, sem guia, sem conselho,<<strong>br</strong> />
e rolavas por uma escada<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o papel, penugem, poeira,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> mais sonho e silêncio que asas,<<strong>br</strong> />
Choro esta humana insuficiência:<<strong>br</strong> />
— a confusão dos nossos olhos<<strong>br</strong> />
— o selvagem peso do gesto,<<strong>br</strong> />
— cegueira — ignorância — remotos<<strong>br</strong> />
instintos súbitos — violências<<strong>br</strong> />
que o sonho e a graça prostram mortos<<strong>br</strong> />
minha mão tosca te agarrou<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> uma dura, inocente culpa,<<strong>br</strong> />
e é cinza de lua teu corpo,<<strong>br</strong> />
meus dedos, sua sepultura.<<strong>br</strong> />
Já desfeita e ainda palpitante,<<strong>br</strong> />
expiras sem noção nenhuma.<<strong>br</strong> />
Pudesse a etéreos paraísos<<strong>br</strong> />
ascender teu leve fantasma,<<strong>br</strong> />
e meu coração penitente<<strong>br</strong> />
ser a rosa desa<strong>br</strong>ochada<<strong>br</strong> />
para servir-te mel e aroma,<<strong>br</strong> />
por toda a eternidade escrava!<<strong>br</strong> />
Ó bordado do véu do dia,<<strong>br</strong> />
transparente anêmona aérea!<<strong>br</strong> />
não leves meu rosto contigo:<<strong>br</strong> />
leva o pranto que te cele<strong>br</strong>a,<<strong>br</strong> />
no olho precário em que te acabas,<<strong>br</strong> />
meu remorso ajoelhado leva!<<strong>br</strong> />
E as lágrimas que por ti choro<<strong>br</strong> />
fossem o orvalho desses campos,<<strong>br</strong> />
— os espelhos que refletissem<<strong>br</strong> />
— vôo e silêncio — os teus encantos,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> a ternura humilde e o remorso<<strong>br</strong> />
dos meus desacertos humanos!<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 10<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
04 – Guitarra (Punhal de Prata)<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Guitarra barroca<<strong>br</strong> />
Guitarra<<strong>br</strong> />
Punhal de prata já eras,<<strong>br</strong> />
punhal de prata!<<strong>br</strong> />
Nem foste tu que fizeste a minha mão insensata.<<strong>br</strong> />
Vi-te <strong>br</strong>ilhar entre as pedras,<<strong>br</strong> />
punhal de prata!<<strong>br</strong> />
No cabo flores abertas,<<strong>br</strong> />
no gume, a medida exata,<<strong>br</strong> />
exata,<<strong>br</strong> />
a medida certa,<<strong>br</strong> />
punhal de prata,<<strong>br</strong> />
para atravessar-me o peito<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> uma letra e uma data.<<strong>br</strong> />
A maior pena que eu tenho,<<strong>br</strong> />
punhal de prata, não é de me ver morrendo,<<strong>br</strong> />
mas de saber quem me mata.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 11<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
05 Cavalo Morto<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
O cavalo morto<<strong>br</strong> />
Vi a névoa da madrugada<<strong>br</strong> />
deslizar seus gestos de prata,<<strong>br</strong> />
mover densidades de opala<<strong>br</strong> />
naquele pórtico de sono.<<strong>br</strong> />
Na fronteira havia um cavalo morto.<<strong>br</strong> />
Grãos de cristal rolavam pelo<<strong>br</strong> />
seu flanco nítido; e algum vento<<strong>br</strong> />
torcia-lhes as crinas, pequeno,<<strong>br</strong> />
leve arabesco, triste adorno,<<strong>br</strong> />
- e movia a cauda ao cavalo morto.<<strong>br</strong> />
As estrelas ainda viviam<<strong>br</strong> />
e ainda não eram nascidas<<strong>br</strong> />
ah ! as flores daquele dia ...<<strong>br</strong> />
- mas era um canteiro o seu corpo:<<strong>br</strong> />
Um jardim de lírios, o cavalo morto.<<strong>br</strong> />
Muitos viajantes contemplaram<<strong>br</strong> />
a fluida música, a orvalhada<<strong>br</strong> />
das grandes moscas de esmeralda<<strong>br</strong> />
chegando em rumoroso jorro.<<strong>br</strong> />
Adernava triste, o cavalo morto.<<strong>br</strong> />
E viam-se uns cavalos vivos,<<strong>br</strong> />
altos <strong>com</strong>o esbeltos navios,<<strong>br</strong> />
galopando nos ares finos,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> felizes perfis de sonho.<<strong>br</strong> />
Branco e verde via-se o cavalo morto,<<strong>br</strong> />
no campo enorme e sem recurso,<<strong>br</strong> />
- e devagar girava o mundo<<strong>br</strong> />
entre as suas pestanas, turvo<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o em luas de espelho roxo.<<strong>br</strong> />
Dava sol nos dentes do cavalo morto.<<strong>br</strong> />
Mas todos tinham muita pressa,<<strong>br</strong> />
e não sentiram <strong>com</strong>o a terra<<strong>br</strong> />
procurava, de légua em légua,<<strong>br</strong> />
o ágil, o imenso, o etéreo sopro<<strong>br</strong> />
que faltava àquele arcabouço.<<strong>br</strong> />
Tão pesado, o peito do cavalo morto !<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 12<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong> é um pouco <strong>com</strong>o Guimarães Rosa, uma grande artista <strong>br</strong>asileira que precisa ser<<strong>br</strong> />
resgatada de um equívoco crítico que vai se repetindo em um eco meio irrefletido e acaba tornando<<strong>br</strong> />
algo aparente e claro em um mistério que ninguém vê.<<strong>br</strong> />
O poema Cavalo Morto é exemplo de que Cecília não é essa passadista meio morna que os manuais<<strong>br</strong> />
escolares de literatura querem projetar.<<strong>br</strong> />
O cavalo desse contundente poema faz <strong>com</strong>panhia na minha imaginação ao cavalo morto de um<<strong>br</strong> />
romance de Faulkner [As I Lay Dying], aos cavalos mortos do filme de Buñuel & Dalí [Le chien<<strong>br</strong> />
andalou] e ao terrível genocídio eqüino de Grande Sertão: Veredas.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 13<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
06 Balada das dez bailarinas do Cassino<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Balada das Dez Bailarinas do Cassino<<strong>br</strong> />
Dez bailarinas deslizam<<strong>br</strong> />
por um chão de espelho.<<strong>br</strong> />
Têm corpos egípcios <strong>com</strong> placas douradas,<<strong>br</strong> />
pálpe<strong>br</strong>as azuis e dedos vermelhos.<<strong>br</strong> />
Levantam véus <strong>br</strong>ancos, de ingênuos aromas,<<strong>br</strong> />
e do<strong>br</strong>am amarelos joelhos.<<strong>br</strong> />
Andam as dez bailarinas<<strong>br</strong> />
sem voz, em redor das mesas.<<strong>br</strong> />
Há mãos so<strong>br</strong>e facas, dentes so<strong>br</strong>e flores<<strong>br</strong> />
e <strong>com</strong> os charutos toldam as luzes acesas.<<strong>br</strong> />
Entre a música e a dança escorre<<strong>br</strong> />
uma sedosa escada de vileza.<<strong>br</strong> />
As dez bailarinas avançam<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o gafanhotos perdidos.<<strong>br</strong> />
Avançam, recuam, na sala <strong>com</strong>pacta,<<strong>br</strong> />
empurrando olhares e arranhando o ruído.<<strong>br</strong> />
Tão nuas se sentem que já vão cobertas<<strong>br</strong> />
de imaginários, chorosos vestidos.<<strong>br</strong> />
A dez bailarinas escondem<<strong>br</strong> />
nos cílios verdes as pupilas.<<strong>br</strong> />
Em seus quadris fosforescentes,<<strong>br</strong> />
passa uma faixa de morte tranqüila.<<strong>br</strong> />
Como quem leva para a terra um filho morto,<<strong>br</strong> />
levam seu próprio corpo, que baila e cintila.<<strong>br</strong> />
Os homens gordos olham <strong>com</strong> um tédio<<strong>br</strong> />
enorme<<strong>br</strong> />
as dez bailarinas tão frias.<<strong>br</strong> />
Po<strong>br</strong>es serpentes sem luxúria,<<strong>br</strong> />
que são crianças, durante o dia.<<strong>br</strong> />
Dez anjos anêmicos, de axilas profundas,<<strong>br</strong> />
embalsamados de melancolia.<<strong>br</strong> />
Vão perpassando <strong>com</strong>o dez múmias,<<strong>br</strong> />
as bailarinas fatigadas.<<strong>br</strong> />
Ramo de nardos inclinando flores<<strong>br</strong> />
azuis, <strong>br</strong>ancas, verdes, douradas.<<strong>br</strong> />
Dez mães chorariam, se vissem<<strong>br</strong> />
as bailarinas de mãos dadas.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 14<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
07 – Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Através de grossas portas,<<strong>br</strong> />
sentem-se luzes acesas,<<strong>br</strong> />
— e há indagações minuciosas<<strong>br</strong> />
dentro das casas fronteiras:<<strong>br</strong> />
olhos colados aos vidros,<<strong>br</strong> />
mulheres e homens à espreita,<<strong>br</strong> />
caras disformes de insônia,<<strong>br</strong> />
vigiando as ações alheias.<<strong>br</strong> />
Pelas gretas das janelas,<<strong>br</strong> />
pelas frestas das esteiras,<<strong>br</strong> />
agudas setas atiram<<strong>br</strong> />
a inveja e a maledicência.<<strong>br</strong> />
Palavras conjeturadas<<strong>br</strong> />
oscilam no ar de surpresas,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o peludas aranhas<<strong>br</strong> />
na gosma das teias densas,<<strong>br</strong> />
rápidas e envenenadas,<<strong>br</strong> />
engenhosas, sorrateiras.<<strong>br</strong> />
Atrás de portas fechadas,<<strong>br</strong> />
à luz de velas acesas,<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>ilham fardas e casacas,<<strong>br</strong> />
junto <strong>com</strong> batinas pretas.<<strong>br</strong> />
E há finas mãos pensativas,<<strong>br</strong> />
entre galões, sedas, rendas,<<strong>br</strong> />
e há grossas mãos vigorosas,<<strong>br</strong> />
de unhas fortes, duras veias,<<strong>br</strong> />
e há mãos de púlpito e altares,<<strong>br</strong> />
de Evangelhos, cruzes, bênçãos.<<strong>br</strong> />
Uns são reinóis, uns, mazombos;<<strong>br</strong> />
e pensam de mil maneiras;<<strong>br</strong> />
mas citam Vergílio e Horácio,<<strong>br</strong> />
e refletem, e argumentam,<<strong>br</strong> />
falam de minas e impostos,<<strong>br</strong> />
de lavras e de fazendas,<<strong>br</strong> />
de ministros e rainhas<<strong>br</strong> />
e das colônias inglesas.<<strong>br</strong> />
Atrás de portas fechadas,<<strong>br</strong> />
à luz de velas acesas,<<strong>br</strong> />
uns sugerem, uns recusam,<<strong>br</strong> />
uns ouvem, uns aconselham.<<strong>br</strong> />
Se a derrama for lançada,<<strong>br</strong> />
há levante, <strong>com</strong> certeza.<<strong>br</strong> />
Corre-se por essas ruas?<<strong>br</strong> />
Corta-se alguma cabeça?<<strong>br</strong> />
Do cimo de alguma escada,<<strong>br</strong> />
profere-se alguma arenga?<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 15<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Que bandeira se desdo<strong>br</strong>a?<<strong>br</strong> />
Com que figura ou legenda?<<strong>br</strong> />
Coisas da Maçonaria,<<strong>br</strong> />
do Paganismo ou da Igreja?<<strong>br</strong> />
A Santíssima Trindade?<<strong>br</strong> />
Um gênio a que<strong>br</strong>ar algemas?<<strong>br</strong> />
Atrás de portas fechadas,<<strong>br</strong> />
à luz de velas acesas,<<strong>br</strong> />
entre sigilo e espionagem,<<strong>br</strong> />
acontece a Inconfidência.<<strong>br</strong> />
E diz o Vigário ao Poeta:<<strong>br</strong> />
"Escreva-me aquela letra<<strong>br</strong> />
do versinho de Vergílio..."<<strong>br</strong> />
E dá-lhe o papel e a pena.<<strong>br</strong> />
E diz o Poeta ao Vigário,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> dramática prudência:<<strong>br</strong> />
"Tenha meus dedos cortados<<strong>br</strong> />
antes que tal verso escrevam..."<<strong>br</strong> />
LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,<<strong>br</strong> />
ouve-se em redor da mesa.<<strong>br</strong> />
E a bandeira já está viva,<<strong>br</strong> />
e sobe, na noite imensa.<<strong>br</strong> />
E os seus tristes inventores<<strong>br</strong> />
já são réus — pois se atreveram<<strong>br</strong> />
a falar em Liberdade<<strong>br</strong> />
(que ninguém sabe o que seja).<<strong>br</strong> />
Através de grossas portas,<<strong>br</strong> />
sentem-se luzes acesas,<<strong>br</strong> />
— e há indagações minuciosas<<strong>br</strong> />
dentro das casas fronteiras.<<strong>br</strong> />
"Que estão fazendo, tão tarde?<<strong>br</strong> />
Que escrevem, conversam, pensam?<<strong>br</strong> />
Mostram livros proibidos?<<strong>br</strong> />
Lêem notícias nas Gazetas?<<strong>br</strong> />
Terão recebido cartas<<strong>br</strong> />
de potências estrangeiras?"<<strong>br</strong> />
(Antiguidades de Nimes<<strong>br</strong> />
em Vila Rica suspensas!<<strong>br</strong> />
Cavalo de La Fayette<<strong>br</strong> />
saltando vastas fronteiras!<<strong>br</strong> />
Ó vitórias, festas, flores<<strong>br</strong> />
das lutas da Independência!<<strong>br</strong> />
Liberdade - essa palavra,<<strong>br</strong> />
que o sonho humano alimenta:<<strong>br</strong> />
que não há ninguém que explique,<<strong>br</strong> />
e ninguém que não entenda!)<<strong>br</strong> />
E a vizinhança não dorme:<<strong>br</strong> />
murmura, imagina, inventa.<<strong>br</strong> />
Não fica bandeira escrita,<<strong>br</strong> />
mas fica escrita a sentença.<<strong>br</strong> />
Com este lindo texto extraído do livro "Romanceiro da Inconfidência", Editora Letras e Artes - Rio de<<strong>br</strong> />
Janeiro, 1965, pág. 70, homenageamos a autora que, no dia 07-11-2001, estaria <strong>com</strong>pletando 100 anos de<<strong>br</strong> />
idade.<<strong>br</strong> />
O poema mostra muito bem vários detalhes do que deveria ser a vida em Vila Rica, atual Ouro Preto,<<strong>br</strong> />
naquele tempo: peças de vestuário, detalhes dos móveis, atitudes da vizinhança. A técnica de construção<<strong>br</strong> />
usada naquele tempo não era tão boa quanto a de hoje em dia, e as casas eram próximas umas das ouras. Por<<strong>br</strong> />
isso, o hábito de ouvir a conversa alheia pelas portas existia, e a crença de que ―as paredes têm ouvidos‖ era<<strong>br</strong> />
muito real.<<strong>br</strong> />
Cecília mostra muito bem <strong>com</strong>o os sussurros dos inconfidentes eram vigiados por vizinhos, às vezes<<strong>br</strong> />
maldosos. Naquela situação, apenas pensar em liberdade era um crime gravíssimo, mas os inconfidentes<<strong>br</strong> />
enfrentaram esse perigo.Dentre muitos momentos bonitos do poema, um é para guardar para sempre,a linda<<strong>br</strong> />
definição de liberdade dada por Cecília: ―Liberdade: essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há<<strong>br</strong> />
ninguém que explique, e ninguém que não entenda‖.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 16<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
08 – Continuação<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
"Aprendi <strong>com</strong> as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre<<strong>br</strong> />
inteira."<<strong>br</strong> />
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que<<strong>br</strong> />
explique e ninguém que não entenda."<<strong>br</strong> />
"Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas<<strong>br</strong> />
que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente<<strong>br</strong> />
aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre."<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 17<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Canteiros<<strong>br</strong> />
Letra: Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Música e Interpretação: Fagner<<strong>br</strong> />
Quando penso em você<<strong>br</strong> />
Fecho os olhos de saudade<<strong>br</strong> />
Tenho tido muita coisa<<strong>br</strong> />
Menos a felicidade<<strong>br</strong> />
Correm os meus dedos longos<<strong>br</strong> />
Em versos tristes que invento<<strong>br</strong> />
Nem aquilo a que me entrego<<strong>br</strong> />
Já me dá contentamento<<strong>br</strong> />
Pode ser até manhã<<strong>br</strong> />
Sendo claro, feito o dia<<strong>br</strong> />
Mas nada do que me dizem me faz sentir<<strong>br</strong> />
alegria<<strong>br</strong> />
(Refrão 2X)<<strong>br</strong> />
Eu só queria ter do mato<<strong>br</strong> />
Um gosto de framboesa<<strong>br</strong> />
Pra correr entre os canteiros<<strong>br</strong> />
E esconder minha tristeza<<strong>br</strong> />
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza...<<strong>br</strong> />
E deixemos de coisa, cuidemos da vida<<strong>br</strong> />
Pois se não chega a morte<<strong>br</strong> />
Ou coisa parecida<<strong>br</strong> />
E nos arrasta moço<<strong>br</strong> />
Sem ter visto a vida<<strong>br</strong> />
É pau, é pedra, é o fim do caminho<<strong>br</strong> />
É um resto de toco, é um pouco sozinho<<strong>br</strong> />
É um caco de vidro, é a vida, é o sol<<strong>br</strong> />
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol<<strong>br</strong> />
São as águas de março fechando o verão<<strong>br</strong> />
É promessa de vida em nosso coração.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 18<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Poemas de Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Nem tudo é fácil<<strong>br</strong> />
É difícil fazer alguém feliz, assim <strong>com</strong>o é<<strong>br</strong> />
fácil fazer triste.<<strong>br</strong> />
É difícil dizer eu te amo, assim <strong>com</strong>o é fácil<<strong>br</strong> />
não dizer nada<<strong>br</strong> />
É difícil valorizar um amor, assim <strong>com</strong>o é<<strong>br</strong> />
fácil perdê-lo para sempre.<<strong>br</strong> />
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o é fácil viver mais um dia.<<strong>br</strong> />
É difícil enxergar o que a vida traz de bom,<<strong>br</strong> />
assim <strong>com</strong>o é fácil fechar os olhos e<<strong>br</strong> />
atravessar a rua.<<strong>br</strong> />
É difícil se convencer de que se é feliz, assim<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o é fácil achar que sempre falta algo.<<strong>br</strong> />
É difícil fazer alguém sorrir, assim <strong>com</strong>o é<<strong>br</strong> />
fácil fazer chorar.<<strong>br</strong> />
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o é fácil olhar para o próprio umbigo.<<strong>br</strong> />
Se você errou, peça desculpas...<<strong>br</strong> />
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é<<strong>br</strong> />
fácil ser perdoado?<<strong>br</strong> />
Se alguém errou <strong>com</strong> você, perdoa-o...<<strong>br</strong> />
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil<<strong>br</strong> />
se arrepender?<<strong>br</strong> />
Se você sente algo, diga...<<strong>br</strong> />
É difícil se a<strong>br</strong>ir? Mas quem disse que é fácil<<strong>br</strong> />
encontrar<<strong>br</strong> />
alguém que queira escutar?<<strong>br</strong> />
Se alguém reclama de você, ouça...<<strong>br</strong> />
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse<<strong>br</strong> />
que é fácil ouvir você?<<strong>br</strong> />
Se alguém te ama, ame-o...<<strong>br</strong> />
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é<<strong>br</strong> />
fácil ser feliz?<<strong>br</strong> />
Nem tudo é fácil na vida...Mas, <strong>com</strong> certeza,<<strong>br</strong> />
nada é impossível<<strong>br</strong> />
Precisamos acreditar, ter fé e lutar<<strong>br</strong> />
para que não apenas sonhemos, Mas também<<strong>br</strong> />
tornemos todos esses desejos,<<strong>br</strong> />
realidade!!!<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 19<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
O Amor...<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
É difícil para os indecisos.<<strong>br</strong> />
É assustador para os medrosos.<<strong>br</strong> />
Avassalador para os apaixonados!<<strong>br</strong> />
Mas, os vencedores no amor são os fortes.<<strong>br</strong> />
Os que sabem o que querem e querem o que têm!<<strong>br</strong> />
Sonhar um sonho a dois,<<strong>br</strong> />
e nunca desistir da busca de ser feliz,<<strong>br</strong> />
é para poucos!!"<<strong>br</strong> />
eu sou uma desses "poucos"<<strong>br</strong> />
amo avassaladoramente<<strong>br</strong> />
O AMOR DAS MINHAS VIDAS...<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Basta-me um pequeno gesto,<<strong>br</strong> />
feito de longe e de leve,<<strong>br</strong> />
para que venhas <strong>com</strong>igo<<strong>br</strong> />
e eu para sempre te leve...<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 20<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
LUA ADVERSA<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Tenho fases, <strong>com</strong>o a lua<<strong>br</strong> />
Fases de andar escondida,<<strong>br</strong> />
fases de vir para a rua...<<strong>br</strong> />
Perdição da minha vida!<<strong>br</strong> />
Perdição da vida minha!<<strong>br</strong> />
não é dia de eu ser sua...<<strong>br</strong> />
E, quando chega esse dia,<<strong>br</strong> />
o outro desapareceu...<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Despedida<<strong>br</strong> />
Tenho fases de ser tua,<<strong>br</strong> />
tenho outras de ser sozinha.<<strong>br</strong> />
Por mim, e por vós, e por mais aquilo<<strong>br</strong> />
que está onde as outras coisas nunca estão,<<strong>br</strong> />
Fases que vão e vêm,<<strong>br</strong> />
no secreto calendário<<strong>br</strong> />
deixo o mar <strong>br</strong>avo e o céu tranqüilo:<<strong>br</strong> />
quero solidão.<<strong>br</strong> />
que um astrólogo arbitrário<<strong>br</strong> />
inventou para meu uso.<<strong>br</strong> />
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.<<strong>br</strong> />
E <strong>com</strong>o o conheces? - me perguntarão.<<strong>br</strong> />
E roda a melancolia<<strong>br</strong> />
seu interminável fuso!<<strong>br</strong> />
- Por não ter palavras, por não ter imagens.<<strong>br</strong> />
Nenhum inimigo e nenhum irmão.<<strong>br</strong> />
Não me encontro <strong>com</strong> ninguém<<strong>br</strong> />
(tenho fases <strong>com</strong>o a lua...)<<strong>br</strong> />
No dia de alguém ser meu<<strong>br</strong> />
Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.<<strong>br</strong> />
Viajo sozinha <strong>com</strong> o meu coração.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 21<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Não ando perdida, mas desencontrada.<<strong>br</strong> />
Levo o meu rumo na minha mão.<<strong>br</strong> />
Memória, amor e o resto onde estarão?<<strong>br</strong> />
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.<<strong>br</strong> />
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!<<strong>br</strong> />
A memória voou da minha fronte.<<strong>br</strong> />
Voou meu amor, minha imaginação...<<strong>br</strong> />
Estandarte triste de uma estranha guerra...)<<strong>br</strong> />
Quero solidão.<<strong>br</strong> />
Talvez eu morra antes do horizonte.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 22<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Motivo<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Eu canto porque o instante existe<<strong>br</strong> />
e a minha vida está <strong>com</strong>pleta.<<strong>br</strong> />
Não sou alegre nem sou triste:<<strong>br</strong> />
sou poeta.<<strong>br</strong> />
Se desmorono ou se edifico,<<strong>br</strong> />
se permaneço ou me desfaço,<<strong>br</strong> />
— não sei, não sei. Não sei se fico<<strong>br</strong> />
ou passo.<<strong>br</strong> />
Irmão das coisas fugidias,<<strong>br</strong> />
não sinto gozo nem tormento.<<strong>br</strong> />
Atravesso noites e dias<<strong>br</strong> />
no vento.<<strong>br</strong> />
Sei que canto. E a canção é tudo.<<strong>br</strong> />
Tem sangue eterno a asa ritmada.<<strong>br</strong> />
E um dia sei que estarei mudo:<<strong>br</strong> />
— mais nada.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 23<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Serenata<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
"Permita que eu feche os meus olhos,<<strong>br</strong> />
pois é muito longe e tão tarde!<<strong>br</strong> />
Pensei que era apenas demora,<<strong>br</strong> />
e cantando pus-me a esperar-te.<<strong>br</strong> />
Permita que agora emudeça:<<strong>br</strong> />
que me conforme em ser sozinha.<<strong>br</strong> />
Há uma doce luz no silencio,e a dor é de origem divina.<<strong>br</strong> />
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,<<strong>br</strong> />
e aprenda a ser dócil no sonho <strong>com</strong>o as estrelas no seu rumo"<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
E minha alma, sem luz nem tenda,<<strong>br</strong> />
passa errante, na noite má,<<strong>br</strong> />
à procura de quem me entenda<<strong>br</strong> />
e de quem me consolará...<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
A arte de ser feliz<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 24<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Houve um tempo em que minha janela se a<strong>br</strong>ia<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e uma cidade que parecia ser feita de giz.<<strong>br</strong> />
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.<<strong>br</strong> />
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,<<strong>br</strong> />
e o jardim parecia morto.<<strong>br</strong> />
Mas todas as manhãs vinha um po<strong>br</strong>e <strong>com</strong> um balde,<<strong>br</strong> />
e, em silêncio, ia atirando <strong>com</strong> a mão umas gotas de água so<strong>br</strong>e as plantas.<<strong>br</strong> />
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.<<strong>br</strong> />
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e<<strong>br</strong> />
meu coração ficava <strong>com</strong>pletamente feliz.<<strong>br</strong> />
Às vezes a<strong>br</strong>o a janela e encontro o jasmineiro em flor.<<strong>br</strong> />
Outras vezes encontro nuvens espessas.<<strong>br</strong> />
Avisto crianças que vão para a escola.<<strong>br</strong> />
Pardais que pulam pelo muro.<<strong>br</strong> />
Gatos que a<strong>br</strong>em e fecham os olhos, sonhando <strong>com</strong> pardais.<<strong>br</strong> />
Borboletas <strong>br</strong>ancas, duas a duas, <strong>com</strong>o refletidas no espelho do ar.<<strong>br</strong> />
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.<<strong>br</strong> />
Ás vezes, um galo canta.<<strong>br</strong> />
Às vezes, um avião passa.<<strong>br</strong> />
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.<<strong>br</strong> />
E eu me sinto <strong>com</strong>pletamente feliz.<<strong>br</strong> />
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,<<strong>br</strong> />
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,<<strong>br</strong> />
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,<<strong>br</strong> />
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 25<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
SONETO ANTIGO<<strong>br</strong> />
Responder a perguntas não respondo.<<strong>br</strong> />
Perguntas impossíveis não pergunto.<<strong>br</strong> />
Só do que sei de mim aos outros conto:<<strong>br</strong> />
de mim, atravessada pelo mundo.<<strong>br</strong> />
Sempre outro. Mas sempre alto.<<strong>br</strong> />
Sempre longe.<<strong>br</strong> />
E dentro de tudo.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Tu tens um medo:<<strong>br</strong> />
Toda a minha experiência, o meu estudo,<<strong>br</strong> />
sou eu mesma que, em solidão paciente,<<strong>br</strong> />
recolho do que em mim observo e escuto<<strong>br</strong> />
muda lição, que ninguém mais entende.<<strong>br</strong> />
Acabar.<<strong>br</strong> />
Não vês que acabas todo o dia.<<strong>br</strong> />
Que morres no amor.<<strong>br</strong> />
Na tristeza.<<strong>br</strong> />
Na dúvida.<<strong>br</strong> />
O que sou vale mais do que o meu canto.<<strong>br</strong> />
Apenas em linguagem vou dizendo<<strong>br</strong> />
caminhos invisíveis por onde ando.<<strong>br</strong> />
No desejo.<<strong>br</strong> />
Que te renovas todo o dia.<<strong>br</strong> />
No amor.<<strong>br</strong> />
Na tristeza.<<strong>br</strong> />
Tudo é secreto e de remoto exemplo.<<strong>br</strong> />
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.<<strong>br</strong> />
E todos somos pura flor de vento.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Renova-te.<<strong>br</strong> />
Renasce em ti mesmo.<<strong>br</strong> />
Multiplica os teus olhos, para verem mais.<<strong>br</strong> />
Multiplica-se os teus <strong>br</strong>aços para semeares<<strong>br</strong> />
tudo.<<strong>br</strong> />
Destrói os olhos que tiverem visto.<<strong>br</strong> />
Cria outros, para as visões novas.<<strong>br</strong> />
Destrói os <strong>br</strong>aços que tiverem semeado,<<strong>br</strong> />
Para se esquecerem de colher.<<strong>br</strong> />
Sê sempre o mesmo.<<strong>br</strong> />
Na dúvida.<<strong>br</strong> />
No desejo.<<strong>br</strong> />
Que és sempre outro.<<strong>br</strong> />
Que és sempre o mesmo.<<strong>br</strong> />
Que morrerás por idades imensas.<<strong>br</strong> />
Até não teres medo de morrer.<<strong>br</strong> />
E então serás eterno.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Se você errou<<strong>br</strong> />
Se você errou, peça desculpas...<<strong>br</strong> />
É difícil perdoar?<<strong>br</strong> />
Mas quem disse que é fácil se arrepender?<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 26<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Se você sente algo diga...<<strong>br</strong> />
É difícil se a<strong>br</strong>ir?<<strong>br</strong> />
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém<<strong>br</strong> />
que queira escutar?<<strong>br</strong> />
Se alguém reclama de você, ouça...<<strong>br</strong> />
É difícil ouvir certas coisas?<<strong>br</strong> />
Mas quem disse que é fácil ouvir você?<<strong>br</strong> />
Se alguém te ama, ame-o...<<strong>br</strong> />
É difícil entregar-se?<<strong>br</strong> />
Mas quem disse que é fácil ser feliz?<<strong>br</strong> />
Nem tudo é fácil na vida...<<strong>br</strong> />
Mas, <strong>com</strong> certeza, nada é impossível...<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Não digas onde acaba o dia.<<strong>br</strong> />
Onde <strong>com</strong>eça a noite.<<strong>br</strong> />
Não fales palavras vãs.<<strong>br</strong> />
As palavras do mundo.<<strong>br</strong> />
Não digas onde <strong>com</strong>eça a Terra,<<strong>br</strong> />
Onde termina o céu<<strong>br</strong> />
Não digas até onde és tu.<<strong>br</strong> />
Não digas desde onde és Deus.<<strong>br</strong> />
Não fales palavras vãs.<<strong>br</strong> />
Desfaze-te da vaidade triste de falar.<<strong>br</strong> />
Pensa,<strong>com</strong>pletamente silencioso,<<strong>br</strong> />
Até a glória de ficar silencioso,<<strong>br</strong> />
Sem pensar.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Canção do Sonho Acabado<<strong>br</strong> />
Já tive a rosa do amor<<strong>br</strong> />
- ru<strong>br</strong>a rosa, sem pudor.<<strong>br</strong> />
Cobicei, cheirei, colhi.<<strong>br</strong> />
Mas ela despetalou<<strong>br</strong> />
E outra igual, nunca mais vi.<<strong>br</strong> />
Já vivi mil aventuras,<<strong>br</strong> />
Me em<strong>br</strong>iaguei de alegria!<<strong>br</strong> />
Mas os risos da ventura,<<strong>br</strong> />
No limiar da loucura,<<strong>br</strong> />
Se tornaram fantasia...<<strong>br</strong> />
Já almejei felicidade,<<strong>br</strong> />
Mãos dadas, fraternidade,<<strong>br</strong> />
Um ideal sem fronteiras<<strong>br</strong> />
- utopia! Voou ligeira,<<strong>br</strong> />
Nas asas da liberdade.<<strong>br</strong> />
Desejei viver. Demais!<<strong>br</strong> />
Segurar a juventude,<<strong>br</strong> />
Prender o tempo na mão,<<strong>br</strong> />
Plantar o lírio da paz!<<strong>br</strong> />
Mas nem mesmo isto eu pude:<<strong>br</strong> />
Tentei, porém nada fiz...<<strong>br</strong> />
Muito, da vida, eu já quis.<<strong>br</strong> />
Já quis... mas não quero mais...<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 27<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Epigrama n. 2<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
És precária e veloz, Felicidade.<<strong>br</strong> />
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.<<strong>br</strong> />
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,<<strong>br</strong> />
e, para te medir, se inventaram as horas.<<strong>br</strong> />
Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:<<strong>br</strong> />
Fizeste para sempre a vida ficar triste:<<strong>br</strong> />
Porque um dia se vê que as horas todas passam,<<strong>br</strong> />
e um tempo despovoado e profundo, persiste.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Sou entre flor e nuvem,<<strong>br</strong> />
estrela e mar. Por que<<strong>br</strong> />
havemos de ser unicamente<<strong>br</strong> />
humanos, limitados em chorar?<<strong>br</strong> />
Não encontro caminhos fáceis<<strong>br</strong> />
de andar. Meu rosto vário<<strong>br</strong> />
desorienta as firmes pedras<<strong>br</strong> />
que não sabem de água e de ar.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
É preciso não esquecer nada:<<strong>br</strong> />
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,<<strong>br</strong> />
nem o sorriso para os infelizes<<strong>br</strong> />
nem a oração de cada instante.<<strong>br</strong> />
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta<<strong>br</strong> />
nem o céu de sempre.<<strong>br</strong> />
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 28<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.<<strong>br</strong> />
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,<<strong>br</strong> />
a idéia de re<strong>com</strong>pensa e de glória.<<strong>br</strong> />
O que é preciso é ser <strong>com</strong>o se já não fôssemos,<<strong>br</strong> />
vigiados pelos próprios olhos<<strong>br</strong> />
severos conosco, pois o resto não nos pertence.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Tenho fases, <strong>com</strong>o a lua<<strong>br</strong> />
Fases de andar escondida,<<strong>br</strong> />
fases de vir para a rua...<<strong>br</strong> />
Perdição da minha vida!<<strong>br</strong> />
Perdição da vida minha!<<strong>br</strong> />
Tenho fases de ser tua,<<strong>br</strong> />
tenho outras de ser sozinha.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
A bailarina<<strong>br</strong> />
Esta menina<<strong>br</strong> />
tão pequenina<<strong>br</strong> />
quer ser bailarina.<<strong>br</strong> />
Não conhece nem dó nem ré<<strong>br</strong> />
mas sabe ficar na ponta do pé.<<strong>br</strong> />
Não conhece nem mi nem fá<<strong>br</strong> />
Mas inclina o corpo para cá e para lá<<strong>br</strong> />
Não conhece nem lá nem si,<<strong>br</strong> />
mas fecha os olhos e sorri.<<strong>br</strong> />
Roda, roda, roda, <strong>com</strong> os <strong>br</strong>acinhos no ar<<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 29<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
e não fica tonta nem sai do lugar.<<strong>br</strong> />
Põe no cabelo uma estrela e um véu<<strong>br</strong> />
e diz que caiu do céu.<<strong>br</strong> />
Esta menina<<strong>br</strong> />
tão pequenina<<strong>br</strong> />
quer ser bailarina.<<strong>br</strong> />
Mas depois esquece todas as danças,<<strong>br</strong> />
e também quer dormir <strong>com</strong>o as outras crianças.<<strong>br</strong> />
Cecília <strong>Meireles</strong><<strong>br</strong> />
Pesquisa: Luiz Antonio Batista da Rocha – Academia Barretense de Cultura - ABC Página 30<<strong>br</strong> />
www.outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong> rocha@outorga.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>