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Janelas para a História: - Fundação Joaquim Nabuco

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1<br />

<strong>Janelas</strong> <strong>para</strong> a <strong>História</strong>:<br />

defendendo e preservando a memória arquitetônica<br />

da <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong><br />

Sônia Machado<br />

Recife, junho 2009


2<br />

AGRADECIMENTOS<br />

A Rita de Cássia de Araújo, pesquisadora e diretora da Diretoria de<br />

Documentação, pela confiança e leitura atenta e analítica dos originais.<br />

A Albertina Malta, Carlos Ramos e Marja de Serpa Brandão, pelas<br />

ilustrações fotográficas e iconográficas; a Letícia Bandeira, pela<br />

colaboração na pesquisa institucional e apoio arquivístico; a Severino<br />

Ribeiro, pelo trabalho fotográfico; a Luiz Carlos Costa, Lino Madureira,<br />

e a Artur Onyaiê pelo tratamento das imagens; a Alba Rejane Valério<br />

de Souza pela orientação bibliográfica.<br />

A Emanoel José dos Santos e Lúcia Gaspar — exemplares no<br />

atendimento bibliográfico e documental — e, em especial, a Virginia<br />

Barbosa da Silva pela revisão da referência bibliográfica.<br />

A Nara Maria Tenório, pela confecção do gráfico da evolução do<br />

patrimônio arquitetônico da Fundaj.<br />

A Paulo Gustavo, pela revisão dos textos.<br />

A Jefferson de Sousa, pelo apoio prestado no começo deste trabalho.<br />

A Affonso Cezar Baptista Ferreira Pereira e Jaílson Teodósio da Silva,<br />

pelo acesso à documentação jurídica dos imóveis.<br />

A Lúcia Regina Nóbrega Farias Paraíso e Joana Martins Vieira, pela<br />

pesquisa da documentação das resoluções do antigo Conselho Diretor.<br />

A Jorge Medeiros de Queiroz, por suas histórias de infância e<br />

juventude no bairro de Apipucos.<br />

A Antônio Geraldo da Silva, pela ajuda na retrospectiva arquitetônica.<br />

A Domingos Sávio Xavier de Brito, pela ajuda técnica no tratamento<br />

das imagens, e a João Presbítero, que colaborou com a digitalização<br />

das plantas baixas de arquitetura.


3<br />

APRESENTAÇÃO<br />

Rita de Cássia Barbosa de Araújo<br />

Historiadora e Diretora de Documentação<br />

“A forma de uma cidade muda mais depressa, lamentavelmente, que o<br />

coração de um mortal” 1 . A frase, escrita por Baudelaire, poderia ser repetida<br />

por muitos de nós ao nos referirmos à própria cidade em que habitamos, aos<br />

espaços e às paisagens com que nos habituamos a conviver e com os quais,<br />

involuntariamente, acabamos por estabelecer laços de identidade e de afeto.<br />

Para algumas cidades, em certos períodos ao longo de sua história, as<br />

mudanças a que se refere o poeta — cujo pensamento expressa a consciência<br />

infeliz da perda — aceleram-se, intensificam-se, dando às suas palavras a<br />

força de uma verdade dura e cruel. Dura e cruel especialmente <strong>para</strong> aqueles<br />

que aprenderam a amar uma paisagem, uma praça, uma rua, uma casa, um<br />

jardim: abrigo, projeção no espaço das relações sociais e econômicas de uma<br />

sociedade, lugar <strong>para</strong> a manifestação de comportamentos e atitudes coletivas e<br />

<strong>para</strong> expressar modos de vida, sentimentos, valores, desejos.<br />

Assim aconteceu ao Recife — capital, centro econômico, político,<br />

cultural e administrativo de Pernambuco —, que inaugurou o século XX sob o<br />

ruído das picaretas e envolta em espessas nuvens de poeira. A reforma<br />

urbanística implementada no bairro portuário do Recife, iniciada em 1910 pelo<br />

Governo do Estado e inspirada na grande reforma de Haussmann em Paris,<br />

teve por motivação promover o progresso e a modernização de Pernambuco<br />

bem como higienizar e embelezar a cidade do Recife, tornando-os mais<br />

competitivos em relação a outros estados do País. Junto àquela parte da<br />

cidade de herança colonial que se queria morta, esquecida, soterrada sob os<br />

escombros, ruíram não apenas igrejas, casas, ruas, árvores, becos e travessas<br />

— caminhos tantas vezes percorridos e de tantas e tortuosas histórias — mas<br />

“[...] um cenário de milhares de criaturas no seu presente e no seu passado”,<br />

como disse o ensaísta Mário Sette. 2<br />

Transcorrido um século desde então, podemos dizer que a cena a que<br />

se assistira em 1910 — insana aos olhos e dolorosa aos corações de muitos —<br />

prenunciava um dos traços que marcariam a história da cidade do Recife do<br />

século XX, prolongando-se pelo XXI: as “mortes arquitetônicas”, a destruição<br />

total ou parcial de paisagens urbanas inteiras ou de monumentos de grande<br />

significado simbólico ou valor arquitetônico. Fenômeno que, não sendo<br />

exclusividade do Recife, estando presente na maioria das cidades brasileiras,<br />

motivou o arquiteto Luiz Amorim a escrever o contundente Obituário<br />

arquitetônico: Pernambuco modernista 3 . Seu propósito: “registrar as mortes<br />

arquitetônicas e clamar por ações efetivas de salvaguarda do nosso<br />

patrimônio”; sensibilizar “gestores públicos, empreendedores imobiliários,<br />

empresários de todos os ramos, proprietários e profissionais da construção civil<br />

<strong>para</strong> a necessária preservação desse patrimônio.” 4<br />

1 Apud LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. São<br />

Paulo: <strong>Fundação</strong> Editora Unesp, 1988, p. 143.<br />

2 SETTE, Mário. Arruar: história pitoresca do Recife antigo. Recife: Governo do Estado de Pernambuco<br />

/ Secretaria de Educação e Cultura, 1978, p. 55.<br />

3 AMORIM, Luiz. Obituário arquitetônico: Pernambuco modernista. Recife, 2007.<br />

4 Ibid, p. 12-13.


4<br />

O trabalho <strong>Janelas</strong> <strong>para</strong> a <strong>História</strong>: defendendo e preservando a<br />

memória arquitetônica da Fundaj, da também arquiteta Sônia Machado, da<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, inscreve-se nessa linha de preocupação: discorrer<br />

sobre o patrimônio cultural material que se encontra sob responsabilidade<br />

direta da Instituição; recuperar a memória social registrada nesses sítios e<br />

edifícios e salientar o valor histórico e cultural inerente a cada exemplar<br />

arquitetônico.<br />

A autora considera o conjunto arquitetônico-paisagístico selecionado<br />

<strong>para</strong> estudo um bem cultural público não apenas por estar oficialmente sob<br />

domínio e posse de um órgão da administração pública federal 5 , mas também,<br />

alargando o conceito de patrimônio público, por serem esses edifícios fruto de<br />

uma história construída coletivamente e por constituírem uma das maneiras de<br />

materializar e de expressar o viver, o pensar e o sentir de uma sociedade<br />

particular em um determinado período de sua existência. Sônia Machado firma,<br />

assim, seu objetivo: sensibilizar gestores públicos, servidores e população em<br />

geral <strong>para</strong> a importância da preservação, das intervenções de restauro e da<br />

requalificação adequada desses espaços <strong>para</strong> os novos usos a que se<br />

destinam.<br />

Durante meses, dedicou-se à paciente tarefa de revolver os arquivos da<br />

própria <strong>Fundação</strong> como também recorreu a arquivos de terceiros, a exemplo do<br />

arquivo da Empresa de Urbanização da Cidade do Recife - URB, em busca de<br />

fontes de pesquisa primárias referentes ao tema de sua predileção: a memória<br />

arquitetônica da <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>. Não se limitando ao trabalho de<br />

reunir e sistematizar a documentação encontrada — o que já seria de grande<br />

contribuição <strong>para</strong> a preservação do patrimônio e <strong>para</strong> estimular o<br />

desenvolvimento de pesquisas científicas sobre a temática —, Sônia Machado<br />

enveredou por outros caminhos e traçou a história da formação desse<br />

patrimônio cultural material, que abrange o período de 1949 a 2008. Do<br />

conjunto, foram selecionados nove edifícios, pela autora considerados de mais<br />

significativo valor arquitetônico e paisagístico e por mais fortemente<br />

expressarem modos de viver e de morar no Recife e na Zona da Mata<br />

açucareira em tempos passados.<br />

O reconhecimento do valor histórico-cultural desse patrimônio, objeto de<br />

investigação da arquiteta Sônia Machado, pode ser visto também no Guia do<br />

Recife: arquitetura e paisagismo, livro em que aparecem descritos, dentre os<br />

bens selecionados por sua relevância arquitetônica bem como por serem<br />

especialmente representativos da expansão e das transformações urbanas<br />

vividas pelo Recife ao longo do tempo, três edifícios pertencentes à <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> 6 . São três edificações do século XIX, representativas da<br />

economia agroexportadora e do modo de vida da elite pernambucana,<br />

testemunho também do nascimento dos subúrbios recifenses 7 : o Solar<br />

Francisco Ribeiro Pinto Guimarães, de propriedade do comissário de açúcar<br />

5 A <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> - Fundaj, criada em 1949, quando então se denominava Instituto <strong>Joaquim</strong><br />

<strong>Nabuco</strong>, é vinculada ao Ministério da Educação. Sua sede fica no Recife, no bairro de Casa Forte,<br />

possuindo mais dois câmpus nesta cidade: em Apipucos e no Derby. Por regime de comodato, a Fundaj é<br />

responsável pelo Engenho Massangana, de propriedade do Governo do Estado de Pernambuco, situado no<br />

município do Cabo de Santo Agostinho, ao sul da capital.<br />

6 ROCHA, Edileusa (Org.). Guia do Recife: arquitetura e paisagismo. Recife: Ed. dos Autores, 2004, p.<br />

205; 216.<br />

7 Sobre o assunto: MELLO, Evaldo Cabral. Canoas do Recife: um estudo de micro-história urbana. In:<br />

SOUTO MAIOR, Mário; SILVA, Leonardo Dantas (Orgs.). O Recife e sua paisagem. Recife: Fundaj,<br />

Editora Massangana. Prefeitura da Cidade do Recife, Secretaria de Educação e Cultura, 1992, p. 193-225.


homônimo; a Villa Annunciada, que pertenceu ao grande empreendedor<br />

Delmiro Gouveia; e a casa que pertenceu a Jorge de Tasso Neto, corretor da<br />

Bolsa de Valores do Recife que adquiriu o imóvel já no século XX.<br />

Dentre os selecionados <strong>para</strong> estudo, constam ainda monumentos<br />

representativos dos padrões urbanísticos e arquitetônicos modernos, erguidos<br />

entre as décadas de 1930 e 1960, alguns concebidos originalmente como<br />

edificações públicas, como a Escola de Aprendizes Artífices, construída no<br />

início da década de 1930, que abriga atualmente a Diretoria de Cultura, no<br />

Derby; e o edifício do Museu do Açúcar, especialmente concebido <strong>para</strong><br />

acomodar um museu nos idos dos anos 1960, onde, hoje, funciona o Museu do<br />

Homem do Nordeste. No bairro de Apipucos, como modelo da arquitetura<br />

moderna, destaca-se o edifício do Centro de Estudos e Pesquisas<br />

Educacionais do Recife, inaugurado no início dos anos 1960, que<br />

presentemente abriga a Diretoria de Pesquisas Sociais.<br />

Exemplo de trabalho voltado <strong>para</strong> a recuperação, a preservação e a<br />

valorização da memória institucional — área temática de que só há pouco e<br />

muito timidamente vem se ocupando estudiosos, documentalistas, gestores e<br />

instituições de fomento à pesquisa científica, à memória e à cultura —, o<br />

estudo de Sônia Machado transpõe os muros da <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> e<br />

ganha as ruas. Acompanhar a narrativa sobre a trajetória histórica dos<br />

edifícios, sítios e jardins que atualmente formam o patrimônio cultural material<br />

da Instituição permite ao leitor vislumbrar, através de uma pequena mostra, o<br />

processo de crescimento e expansão do Recife a partir de meados do século<br />

XIX; identificar estilos arquitetônicos e materiais utilizados nas construções e<br />

ornatos dos edifícios que marcam determinados períodos históricos; a perceber<br />

os sinais de riqueza material e dos valores cultivados por certos segmentos da<br />

elite urbana.<br />

No caso dos bens contemplados neste trabalho, excepcionalmente, <strong>para</strong><br />

uma cidade que se acostumou a destruir inteiramente ou a modificar de forma<br />

inadequada seu patrimônio edificado, temos a fortuna de ainda podermos vêlos,<br />

tocá-los, percorrer-lhes os ambientes e imaginar as vidas que se passaram<br />

no seu interior, nos arredores, nos jardins. Fortuna que se converte em<br />

responsabilidade e dever: de preservar o pouco da memória arquitetônica que<br />

escapou à sanha demolidora que marcou o século XX e que segue mais<br />

silenciosa porém igualmente intensa, violenta e diária no século corrente.<br />

Preservá-los <strong>para</strong> conhecer parte da própria história, expressar e valorizar a<br />

singularidade histórica de uma sociedade e, através dos sítios e jardins,<br />

contribuir <strong>para</strong> o equilíbrio ambiental. Mas, principalmente, preservar <strong>para</strong> que,<br />

ao podermos contemplá-los ou deles fazer novos usos, restaurando-os e<br />

requalificando-os <strong>para</strong> os fins desejados, renovemos o sentimento de que<br />

nosso tempo histórico e nossas referências culturais não são absolutos ou<br />

derradeiros e que diferentes formas de viver foram, são e sempre serão<br />

possíveis e que, essas últimas, têm direito à memória e à cultura.<br />

5


6<br />

SUMÁRIO<br />

1 Introdução<br />

2 Cronologia da formação do patrimônio arquitetônico da Fundaj<br />

3 Os câmpus da Fundaj<br />

4 Edifícios preservados<br />

4.1 Francisco Ribeiro Pinto Guimarães (1956)<br />

4.2 Arthur Orlando (1975)<br />

4.3 Delmiro Gouveia (1975)<br />

4.4 Renato Carneiro Campos (1975)<br />

4.5 Gil Maranhão (1977)<br />

4.6 Dolores Salgado (1980)<br />

4.7 Ulysses Pernambucano (1983)<br />

4.8 Engenho Massangana (1984)<br />

4.9 Jorge Tasso Neto (1984)<br />

5 Jardins<br />

6 A denominação dos prédios e câmpus<br />

7 Plantas arquitetônicas dos imóveis preservados<br />

8 Bibliografia consultada


7<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> - Fundaj, ao longo de sua trajetória,<br />

adquiriu um grandioso e valioso patrimônio arquitetônico e cultural, que se<br />

encontrava com registro documental de forma dispersa. A Diretoria de<br />

Documentação - Didoc, preocupada em preservar e valorizar o conjunto<br />

desses bens, assim como em disponibilizar o registro dessa memória<br />

arquitetônica <strong>para</strong> o público interno e externo, incentivou-nos a elaborar<br />

este trabalho, cujo objetivo principal é contar a evolução desse patrimônio<br />

físico-cultural.<br />

Com essa finalidade, o projeto Memória Institucional Arquitetônica<br />

procurou mostrar resumidamente a cronologia da formação do patrimônio<br />

arquitetônico da Instituição, adquirido ao longo de sua existência de<br />

sessenta anos. Do total dos bens, foram selecionados, <strong>para</strong> descrição<br />

histórica e arquitetônica, nove edifícios, que são de domínio e posse<br />

dessa <strong>Fundação</strong> e se encontram caracterizados como exemplares<br />

isolados e/ou conjunto de arquitetura de significativa importância <strong>para</strong> a<br />

<strong>Fundação</strong> do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Pernambuco –<br />

Fundarpe, a exemplo do Engenho Massangana, e/ ou se denominam pela<br />

Prefeitura da Cidade do Recife – PCR, como Imóvel Especial de<br />

Preservação - IEP 8 , como os edifícios Francisco Ribeiro Pinto Guimarães<br />

e o Ulysses Pernambucano. As outras sete edificações, aqui identificadas<br />

e discriminadas, embora não sejam ainda protegidas por leis dos órgãos<br />

competentes, foram selecionadas por apresentarem também<br />

características arquitetônicas de épocas passadas de efetiva importância<br />

<strong>para</strong> o cenário arquitetônico urbano e cultural de nossa cidade e<br />

principalmente <strong>para</strong> a Fundaj, que dentre outras atividades, tem um<br />

compromisso de promover e preservar os valores histórico-culturais de<br />

nossa região.<br />

Para elaboração dos textos que compõem esta publicação, foram<br />

realizados, em primeiro lugar, levantamento e coleta de dados nos<br />

diversos arquivos das unidades da atual estrutura organizacional da<br />

Fundaj. Em seguida, foram realizadas entrevistas com servidores ativos e<br />

aposentados da Instituição, bem como pesquisas em outros órgãos<br />

públicos, como Empresa de Urbanização da Cidade do Recife – URB, no<br />

seu Departamento de Preservação dos Sítios Históricos – DPSH, e na<br />

Central de Atendimento ao Cidadão da 3ª Gerência Regional/Dircon da<br />

Prefeitura da Cidade do Recife - PCR (Casa Amarela), e ainda contatos<br />

com profissionais de diversas instâncias, que partici<strong>para</strong>m e/ou<br />

contribuíram de alguma maneira, na formação histórica do patrimônio<br />

arquitetônico desta <strong>Fundação</strong>.<br />

Em segundo lugar, após a coleta de dados, identificação e<br />

seleção de todo o patrimônio imobiliário, foi adotado o critério de<br />

relacionar a história dos edifícios preservados pelo ano de aquisição,<br />

seguido da ordem alfabética de sua denominação, com sua devida<br />

localização urbana e depois a descrição do projeto, de seu estilo<br />

8<br />

Imóvel Especial de Preservação – IEP, aquele isolado de arquitetura significativa <strong>para</strong> o patrimônio<br />

histórico, artístico e/ou cultural e que interessa à cidade preservar.


arquitetônico e o uso pelo qual o edifício passou, ao longo do tempo, na<br />

Instituição.<br />

Em terceiro lugar, foi dado um destaque especial às áreas dos<br />

jardins que estão no entorno das edificações, por considerá-las como<br />

parte integrante dessa memória.<br />

Adicionalmente, completando a leitura, foram apresentadas<br />

imagens de fotos, plantas arquitetônicas e mapas de localizações,<br />

situando as edificações nos câmpus que compõem a estrutura física e<br />

organizacional da <strong>Fundação</strong> no contexto local e nacional. Traz ainda uma<br />

pequena biografia de algumas personalidades que denominaram os<br />

prédios e os câmpus do patrimônio arquitetônico institucional.<br />

8


9<br />

2 CRONOLOGIA DA FORMAÇÃO<br />

DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA FUNDAJ<br />

1949: Criação do Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> – IJN.<br />

Em 21 de julho de 1949, atendendo a proposição do Congresso<br />

Nacional e por iniciativa do então deputado federal Gilberto Freyre, o<br />

presidente da República Eurico Gaspar Dutra sancionou a Lei nº 770<br />

criando o Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> – IJN. Inicialmente, instalou-se em<br />

Ponte d´Uchoa, na Av. Rui Barbosa, nº 1654, Recife – PE, em um chalé<br />

denominado de Vila Elvira, que pertenceu ao Barão de Casa Forte. Teve<br />

como primeiro diretor o historiador José Antônio Gonsalves de Mello<br />

Neto, que foi substituído logo em seguida pelo professor Paulo Frederico<br />

do Rego Maciel, que exerceu o cargo no período de 1951 a 1955.<br />

1953: A primeira sede própria.<br />

Nessa data, foi adquirido pelo IJN, o antigo casarão — denominado<br />

Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães — situado na Av. 17 de<br />

Agosto, 2187, em Casa Forte, na cidade do Recife. Na ocasião, o<br />

jornalista e poeta Mauro Mota presidia a Instituição, tendo permanecido<br />

no cargo até o ano de 1970.<br />

1963: A transformação do IJN em IJNPS<br />

Nesse ano, acatando ainda justificativas do sociólogo Gilberto Freyre, foi<br />

sancionada a Lei nº 4.209, de 09 de fevereiro de 1963, que alterou a<br />

denominação do Instituto, passando a ser chamado de Instituto <strong>Joaquim</strong><br />

<strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais – IJNPS.<br />

1970: Ergue-se o Edifício José Bonifácio.<br />

Vizinho ao edifício Francisco Ribeiro Pinto Guimarães, onde se situava<br />

o prédio nº. 2143, demolido, surge a nova edificação. Destinava-se ao<br />

funcionamento de uma biblioteca.<br />

1971: Assume a presidência da Fundaj o administrador e advogado Fernando<br />

Alfredo Guedes Pereira de Mello Freyre, que exerceu o cargo por quase<br />

32 anos consecutivos, de maio de 1971 a fevereiro de 2003.<br />

1975: O IJNPS ocupa prédios em Apipucos.<br />

Em decorrência da extinção do Centro Regional de Pesquisas<br />

Educacionais do Nordeste, o IJNPS ocupa os prédios de números 15 e<br />

92, situados na Rua Dois Irmãos, em Apipucos, no Recife,<br />

denominando-os respectivamente: Arthur Orlando e Delmiro Gouveia<br />

(este último tinha se chamado anteriormente de Villa Annunciada).<br />

Também nessa ocasião, em vista da enchente do ano de 1975 que<br />

provocou grandes estragos no patrimônio do Instituto, em Casa Forte, o<br />

IJNPS ampliou suas dependências, transferindo alguns setores do<br />

Instituto <strong>para</strong> o bairro de Apipucos. Surgiram assim o campus-sede em<br />

Casa Forte e Anísio Teixeira, naquele bairro. Foi incorporado também o<br />

edifício onde funcionava a escola experimental do Instituto Nacional de<br />

Estudos Pedagógicos – Inep, hoje edifício Renato Carneiro Campos.<br />

Esse edifício era constituído de dois blocos sendo um deles destinado à


10<br />

biblioteca da escola. Nesse bloco, foi reunido o acervo da escola com o<br />

acervo da Fundaj. Dessa fusão nasceu a atual Biblioteca Central<br />

Blanche Knopf transferida da sede devido aos danos causados pela<br />

inundação. Em decorrência da expansão das atividades institucionais,<br />

constrói-se ainda o edifício Antiógenes Chaves ao lado do casarão<br />

Delmiro Gouveia, destinado a um centro de informática.<br />

1977: O IJNPS incorpora o patrimônio arquitetônico do Museu do Açúcar.<br />

Através da lei nº 6456, de 1977, os bens móveis e imóveis do Museu do<br />

Açúcar, do extinto Instituto do Açúcar e do Álcool, passam <strong>para</strong> o<br />

Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais, que denomina o edifício<br />

de Gil Maranhão, o qual permaneceu fechado <strong>para</strong> reforma por dois<br />

anos. Nesta data também, de acordo com a Portaria nº. 022, de 28 de<br />

janeiro de 1977, considera-se implantado o Escritório de Representação<br />

do IJNPS em Sergipe, funcionando em sala cedida pelo Governo<br />

daquele estado, no moderno edifício da Biblioteca Pública Epitácio<br />

Dória.<br />

1979: É fundado o Museu do Homem do Nordeste.<br />

Originou-se da fusão de três outros: o Museu do Açúcar, o Museu de<br />

Arte Popular de Pernambuco e o Museu de Antropologia, sob orientação<br />

do sociólogo Gilberto Freyre.<br />

Ainda de acordo com a Portaria nº 079, de 30 de maio de 1979,<br />

considera-se implantado o Escritório de Representação do IJNPS no<br />

Estado do Maranhão, funcionando em imóvel alugado, à Rua do Giz nº<br />

46, na Praia Grande, zona antiga da cidade de São Luiz. Outra Portaria<br />

de nº 155, de 07 de dezembro de 1979, institui o Escritório Regional da<br />

Amazônia, com sede em Manaus, ocupando prédio cedido pela<br />

<strong>Fundação</strong> Dr. Thomas, vinculada à Prefeitura de Manaus, e que, mais<br />

tarde, tornar-se-á uma superintendência abarcando gerência, secretaria,<br />

quatro departamentos funcionais e o Museu do Homem do Norte.<br />

1980: Nasce a <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> – Fundaj.<br />

Por meio do Decreto nº 84561, de 15 de março de 1980, é instituída a<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> em substituição ao Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong><br />

de Pesquisas Sociais. Adquire-se a casa que pertenceu à senhora<br />

Dolores Salgado, situada na Rua Dois Irmãos, nº. 77, Apipucos, em<br />

frente ao câmpus Anísio Teixeira, destinado inicialmente ao<br />

Departamento de Patrimônio e Materiais, mas, logo depois, ocupada<br />

pelo Departamento de Antropologia do Instituto de Pesquisas Sociais -<br />

Inpso. A Portaria nº 051, de 30 de julho de 1980, dá continuidade às<br />

estruturas dos Escritórios Regionais após a transformação do IJNPS em<br />

Fundaj, permitindo a formalização do Escritório Regional de Brasília que<br />

era apenas uma representação desde 1971, funcionando em duas salas<br />

alugadas no edifício Venâncio 2000, nº 60 – bloco B- s/239, no Distrito<br />

Federal.<br />

1982: Construção do edifício Saturnino Gonçalves.<br />

Ergue-se o edifício no terreno onde se situaram os prédios de nºs 2223<br />

e 2255, na Av. 17 de Agosto, Casa Forte, Recife. Também é construída,<br />

no terreno da casa Dolores Salgado, o prédio da Associação dos


11<br />

Servidores do Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> – Assin. Com o advento da<br />

Resolução nº 082, de 16 de dezembro de 1982, implanta-se o Escritório<br />

Regional da Bahia.<br />

1983: Escola Técnica Federal de Pernambuco – ETFPE, cede prédio à Fundaj.<br />

Ocorre a desocupação do imóvel residencial alugado na Estrada do<br />

Encanamento (hoje, Edifício Camille Flamarion, nº 404) Casa Forte,<br />

onde funcionavam Recursos Humanos e Promoção Cultural da Fundaj<br />

que se deslocam <strong>para</strong> o prédio da antiga Escola Técnica Federal de<br />

Pernambuco, sito na Rua Henrique Dias, nº 609, Derby, Recife, sob o<br />

regime de comodato por tempo indeterminado.<br />

1984: O Engenho Massangana é cedido por comodato à Fundaj.<br />

Nesse ano, é construído o edifício Paulo Guerra <strong>para</strong> ser o edifício-sede,<br />

ampliando assim a área útil do câmpus Gilberto Freyre. Por meio do<br />

Governo de Pernambuco, o Parque da Abolição, situado no Engenho<br />

Massangana, no município do Cabo/PE, é cedido à Fundaj em regime<br />

de comodato por vinte anos. Ainda nesse ano, pela necessidade de<br />

espaço <strong>para</strong> desenvolver suas atividades de pesquisas sociais adquirese<br />

um casarão antigo, situado na Rua Jorge Tasso Neto, nº 126, em<br />

Apipucos, incorporando-se ao câmpus Anísio Teixeira, servindo <strong>para</strong><br />

instalação definitiva dos departamentos do antigo Instituto de Pesquisas<br />

Sociais, hoje Diretoria de Pesquisas Sociais – Dipes. Também nesse<br />

ano, a Fundaj celebra contrato de comodato com a Prefeitura de<br />

Manaus (AM) <strong>para</strong> usufruir o imóvel situado na Av. Sete de Setembro, nº<br />

1385, onde se instalam a Coordenadoria Regional da Amazônia. que<br />

engloba o Museu do Homem do Norte e o Núcleo de Pesquisas Sociais<br />

da Amazônia — futura Superintendência Regional da Amazônia<br />

1985: Incorporação do Edifício Odilon Ribeiro Coutinho.<br />

A casa de número 136, situada na avenida Dr. Seixas, em Casa Forte, é<br />

adquirida. Posteriormente, é totalmente reformada <strong>para</strong> instalação do<br />

Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauro de Documentos e<br />

Obras de Artes – Laborarte, denominando-se Edifício Odilon Ribeiro<br />

Coutinho, e passando a integrar o câmpus Gilberto Freyre.<br />

1987: Fundaj e Suframa.<br />

É firmado contrato de cessão de uso gratuito de um lote de terreno de nº<br />

254, da rodovia BR-319, visando à futura construção de um prédio<br />

destinado à Superintendência da Amazonas e do Museu do Homem do<br />

Norte.<br />

1988: Inclusão do imóvel da Rua Itatiaia nº 63.<br />

Atendendo aos anseios de crescimento físico e funcional, a Fundaj<br />

adquire o imóvel situado na Rua Itatiaia, nº 63, em Apipucos,<br />

incorporando-o ao câmpus Anísio Teixeira e designado a abrigar a<br />

extinta Unidade Central da Superintendência de Informática .<br />

1990: Extinguem-se as Diretorias Regionais do Maranhão, da Bahia e de<br />

Sergipe, através da Portaria nº 140, de 27 de junho de 1990. Concluída<br />

a obra de reforma do bloco da Biblioteca Central Blanche Knopf, que


12<br />

eram dois pavimentos, <strong>para</strong> dar lugar a um edifício de seis andares,<br />

passando a se chamar Edifício Dirceu Pessoa e a abrigar também o<br />

Centro de Documentação e de Estudos da <strong>História</strong> Brasileira - Cehibra.<br />

1996: Fica rescindido o Termo de Cessão de Uso Gratuito firmado entre a<br />

Suframa e a Fundaj e consequentemente extinto o projeto de construção<br />

do prédio destinado à Superintendência da Amazonas e do Museu do<br />

Homem do Norte.<br />

2001: Em homenagem ao criador e fundador da Instituição, no centenário de<br />

seu nascimento, o câmpus–sede passa a ser chamado de Gilberto<br />

Freyre.<br />

2003: O ex-ministro da Justiça Fernando Soares de Lyra assume a presidência<br />

da Fundaj. Extinguem-se o Instituto de Estudos da Amazônia – Iesam, e<br />

o Instituto de Tropicologia.<br />

2004: No final do ano, a Fundaj assina contrato de reforma do Cineteatro José<br />

Carlos Cavalcanti Borges no Edifício Ulysses Pernambucano, no bairro<br />

do Derby.<br />

2005: Os edifícios Dirceu Pessoa, Gil Maranhão, onde funciona o Museu do<br />

Homem do Nordeste, e o pavimento superior do Renato Carneiro<br />

Campos são fechados <strong>para</strong> reformas. Nesse período, os acervos do<br />

Cehibra e da Biblioteca Central Blanche Knopf foram transladados <strong>para</strong><br />

os edifícios Arthur Orlando, Dolores Salgado e Antiógenes Chaves<br />

.<br />

2006: O acervo do Museu do Homem do Norte é cedido, em regime de<br />

comodato por três anos, passíveis de renovação, à Secretaria de Cultura<br />

da Prefeitura de Manaus. É inaugurado, no segundo semestre, o<br />

conjunto audiovisual e o foyer/café no Edifício Ulysses Pernambucano.<br />

2007: Fundaj cede prédio Arthur Orlando ao Estado de Pernambuco.<br />

Cessão aprovada pelo Conselho Deliberativo da Fundaj, em 12 de<br />

novembro de 2007, <strong>para</strong> instalação exclusiva pelo Governo do Estado,<br />

através da Secretaria de Defesa Social, de um Batalhão da Polícia<br />

Militar, considerando a Exposição de Motivos nº 10, Fundaj/Presi.<br />

2008: Governo do Estado renova contrato de comodato com a Fundaj e<br />

autoriza a cessão do direito de uso do imóvel rural denominado Engenho<br />

Massangana, por vinte anos, retroagindo os seus efeitos a 13 de maio<br />

de 2004. O Museu do Homem do Nordeste reabre suas portas à<br />

visitação pública. Os edifícios Dirceu Pessoa e Renato C. Campos<br />

aguardam o retorno das obras de reformas. O câmpus Gilberto Freyre<br />

conclui obras de agenciamento <strong>para</strong> ampliação do pátio de<br />

estacionamento interno. A casa da Rua Itatiaia encontra-se desocupada<br />

<strong>para</strong> reforma e instalação de um Centro Integrado de Estudos<br />

Georreferenciados em Pesquisa Social – Cieg. Em elaboração, a<br />

aprovação do projeto de acessibilidade no Solar Francisco Ribeiro Pinto<br />

Guimarães, com o novo espaço expositivo vinculado à Diretoria de<br />

Documentação. Em fase de planejamento, o projeto de estacionamento


dos carros oficiais e dos servidores no terreno da casa Jorge Tasso, no<br />

câmpus Anísio Teixeira. Os demais edifícios se mantêm conservados e<br />

preservados, todavia com algumas transformações e perdas decorrentes<br />

das mudanças administrativas ocorridas na Instituição.<br />

13


14<br />

QUADRO RESUMO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA FUNDAJ<br />

EVOLUÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA FUNDAJ<br />

ANO EDIFÍCIO QUANTIDADE FORMA DE AQUISIÇÃO<br />

1949 Vila Elvira 1 aluguel<br />

1952 Francisco Ribeiro P. Guimarães 2 compra<br />

1961 José Bonifácio 3 compra<br />

1975 Arthur Orlando/Delmiro Gouveia/Renato C. Campos 6 doação<br />

1977 Gil Maranhão 7 doação<br />

1980 Dolores Salgado 8 compra<br />

1982 Saturnino Gonçalves 9 compra<br />

1983 Ulysses Pernambucano 10 comodato<br />

1984 Eng. Massangana/Jorge T. Neto/Museu do Homem do Norte/Paulo Guerra 14 comodato/construção<br />

1985 Odilon Ribeiro Coutinho 15 compra<br />

1986 Dirceu Pessoa 16 construção<br />

1988 Casa da Rua Itatiaia 17 compra<br />

Evolução do Patrimônio Arquitetônico da Fundaj<br />

1949 Vila Elvira<br />

1952 Francisco Ribeiro P. Guimarães<br />

18<br />

16<br />

14<br />

14 15<br />

16<br />

17<br />

1961 José Bonifácio<br />

1975 Arthur Orlando/Delmiro Gouveia/<br />

Renato C. Campos<br />

1977 Gil Maranhão<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

1980 Dolores Salgado<br />

1982 Saturnino Gonçalves<br />

1983 Ulysses Pernambucano<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

1<br />

2<br />

3<br />

Quantidade<br />

1984 Eng. Massangana/Jorge T.<br />

Neto/Museu H. Norte/Paulo Guerra<br />

1985 Odilon Ribeiro Coutinho<br />

1986 Dirceu Pessoa<br />

1988 Casa da Rua Itatiaia


15<br />

3 OS CÂMPUS DA FUNDAJ<br />

O patrimônio arquitetônico da Instituição, grandioso e bastante<br />

diversificado, encontra-se distribuído em bairros antigos da cidade do Recife e<br />

distantes um dos outros. Dois dos câmpus da Fundaj estão situados na<br />

extremidade oeste da cidade do Recife e a uma distância de aproximadamente<br />

15 km do centro. São formados por sítios que compreendem os bairros de<br />

Apipucos e Casa Forte. Esses sítios são cobertos por arborização de médio<br />

porte e comportam uma área conjunta de abrangência total de<br />

aproximadamente 3,28 hectares, de acordo com o Plano Diretor de<br />

Planejamento Físico da Fundaj, Ano: 82-84, elaborado pela Divisão de<br />

Planejamento Físico da Superintendência de Planejamento na gestão<br />

Fernando Freyre.<br />

O de Apipucos foi denominado câmpus Anísio Teixeira. Encontra-se<br />

situado a dois quilômetros do câmpus Gilberto Freyre, em Casa Forte. Abriga a<br />

Diretoria de Documentação – Didoc, e a Diretoria de Pesquisas Sociais - Dipes,<br />

além da Coordenadoria Geral de Informática e Tecnologia vinculada à Diretoria<br />

de Planejamento e Administração – Diplad. É formado pelo conjunto dos<br />

edifícios:<br />

Antiógenes Chaves<br />

Arthur Orlando<br />

Casa da Rua Itatiaia, número 63<br />

Delmiro Gouveia<br />

Dirceu Pessoa<br />

Dolores Salgado<br />

Jorge Tasso Neto<br />

Renato Carneiro Campos<br />

Sala Roquette Pinto


16<br />

Em Casa Forte, quando o câmpus foi criado, denominou-se de câmpussede.<br />

No ano de 2001, passou a ser chamado de câmpus Gilberto Freyre.<br />

Abriga dentre outras unidades da Fundaj a Diretoria de Planejamento e<br />

Administração – Diplad; a Presidência; o Museu do Homem do Nordeste; o<br />

Laborarte e a Editora Massangana, distribuídas no conjunto formado pelos<br />

edifícios:<br />

Francisco Ribeiro Pinto Guimarães<br />

Gil Maranhão<br />

José Bonifácio<br />

Odilon Ribeiro Coutinho<br />

Paulo Guerra<br />

Saturnino Gonçalves dos Santos<br />

Na Rua Henrique Dias, nº 609, Derby, bairro próximo ao centro da<br />

cidade, encontra-se situado o câmpus Derby. É constituído de um único<br />

edifício, o Ulysses Pernambucano, com área total de construção em torno de<br />

3.651,57 metros quadrados. Foi adquirido <strong>para</strong> instalação do Instituto de<br />

Recursos Humanos e Promoção Cultural, hoje Diretoria de Cultura – DIC, que<br />

também é responsável pela administração do Engenho Massangana, situado<br />

no município do Cabo (PE), distando 40 km da cidade do Recife.


17<br />

4 EDIFÍCIOS PRESERVADOS<br />

No âmbito total do patrimônio arquitetônico da Instituição, foram<br />

considerados edifícios preservados, como já foi referido anteriormente, aqueles<br />

oficialmente designados pelas leis dos órgãos competentes como a Prefeitura<br />

do Recife – PCR, e a <strong>Fundação</strong> do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado<br />

de Pernambuco - Fundarpe, bem como outros imóveis que se destacam por<br />

serem considerados de relevante importância <strong>para</strong> o cenário arquitetônico<br />

nacional, pois representam exemplares de épocas distintas da arquitetura<br />

brasileira. Os outros prédios, portanto, foram excluídos deste trabalho, por se<br />

classificarem como de arquitetura contemporânea, fugindo do foco desejado<br />

que é o de mostrar o patrimônio arquitetônico representativo de épocas<br />

passadas que a Fundaj detém e preserva no presente <strong>para</strong> proporcionar às<br />

atuais e futuras gerações, a visão do que foi a arquitetura brasileira nas<br />

décadas e nos séculos que nos antecederam.<br />

Ed. Francisco Ribeiro Pinto Ed. Delmiro Gouveia Ed. Jorge Tasso Neto<br />

Guimarães<br />

Ed. Gil Maranhão Ed. Arthur Orlando Ed. Ulysses Pernambucano<br />

Ed. Renato Carneiro Campos Engenho Massangana Ed. Dolores Salgado


18<br />

4.1 SOLAR FRANCISCO RIBEIRO PINTO GUIMARÃES 9<br />

Câmpus Gilberto Freyre – Av. 17 de Agosto nº 2187 – Casa Forte, Recife, PE<br />

Ed. Francisco R. P. Guimarães - Fachada principal, 2009<br />

Solar oitocentista onde se encontra gravado, na frontaria do seu bloco<br />

principal, os anos de início (1874) e término (1877) da obra. Pertenceu a<br />

Francisco Ribeiro Pinto Guimarães, um dos muitos aristocratas do açúcar que<br />

o Recife conheceu. Teve sua concepção composta por quatro edificações<br />

distintas e desviada dos padrões das edificações suburbanas recifenses da<br />

época, que até então eram basicamente constituídas por um casarão centrado<br />

no terreno com pequenos anexos onde funcionavam as dependências de<br />

serviços. O Solar do Caldereiro, como ficou conhecido, se instalou nos limites<br />

do lote, conformando um grande pátio em forma de “U” voltado <strong>para</strong> a Estrada<br />

do Monteiro, hoje Avenida 17 de Agosto, rodeado de plantas tropicais.<br />

Observando o estilo construtivo do conjunto arquitetônico, que utilizou<br />

elementos da arquitetura greco-romana, pode-se afirmar que a arquitetura<br />

classicista está presente, se destacando principalmente no corpo central com<br />

as colunas gêmeas, sendo toscana no pavimento térreo e compósita no andar<br />

superior. Procurando imprimir a condição social dos antigos proprietários, a<br />

fachada do conjunto e notadamente do bloco principal recebeu tratamento<br />

requintado: paredes revestidas com azulejos portugueses; mármore de carrara;<br />

cristal veneziano nas esquadrias de madeira de lei; estatuária; pináculos e<br />

vidros coloridos que foram, em sua maioria, saqueados. Embora a sua<br />

composição seja de influências neoclássicas, alguns de seus ornamentos,<br />

como o arco ogival da porta do balcão, já mostrava a nova estética que estava<br />

por vir, o ecletismo.<br />

A edificação que mais se distingue é a do bloco principal. Possui dois<br />

pavimentos e um porão alto, hoje transformado em galeria de arte. Uma grande<br />

escadaria dá acesso ao terraço descoberto do pavimento térreo do palacete,<br />

que serve de acesso a um vestíbulo central com dois salões laterais, repetindo<br />

9 Texto baseado nos seguintes documentos: Empresa de Urbanização do Recife (URB). Diretoria de<br />

Projetos Urbanos. Departamento de Preservação dos Sítios Históricos. Imóvel Especial de Preservação<br />

(IEP), ficha 395. [Recife,19---]; CANTARELLI, Rodrigo. Edifício Francisco Ribeiro Pinto Guimarães.<br />

Recife, 2007. Texto elaborado em 12 de setembro de 2007. Arquiteto da Fundaj; ROCHA, Edileusa<br />

(Org.) Guia do Recife: arquitetura e paisagismo. Recife: Ed. dos Autores, 2004, p. 205.


19<br />

tal configuração no pavimento superior. Os dois salões laterais do térreo<br />

possuem no piso um elaborado desenho de “parquet” com madeiras<br />

encomendadas do Pará e um forro bastante delicado e ricamente ornamentado<br />

por estucadores franceses. Quanto ao pavimento superior, cujo acesso é por<br />

meio de magnífica escada de ferro com corrimão iniciado por dois castiçais<br />

modelo século XVII, os salões apresentam ornamentação mais simples, porém<br />

não menos rica. No vestíbulo desse pavimento, pode-se observar ainda uma<br />

clarabóia fechada com vidros venezianos.<br />

O terreno em frente ao conjunto arquitetônico abrigava um jardim de<br />

plantas exóticas, sendo possível, ainda hoje, encontrar um pavilhão destacado,<br />

à direita do corpo do casarão, que serviu de banheiro residencial.<br />

Antigo banheiro – Vista principal, 2009<br />

O edifício, que dentre outras funcionalidades já abrigou uma clínica<br />

veterinária e o Hospital Magitot, deu lugar à sede do Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong><br />

de Pesquisas Sociais – IJNPS, em 1953, quando sofreu processo de<br />

restauração pela Secretaria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,<br />

conservando sua originalidade.<br />

Em 1965, instalou-se, no seu bloco principal, o Museu Antropológico do<br />

IJNPS, cujo acervo se encontra atualmente no Museu do Homem do Nordeste.<br />

Somente em 1974, os salões do bloco principal foram ocupados pelo Museu<br />

<strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, atualmente Memorial <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>.<br />

O edifício, por tais características, é registrado pela Lei nº 15.199/89, de<br />

24 de janeiro de 1996, da Prefeitura da Cidade do Recife, que o define como<br />

Imóvel Especial de Preservação (IEP) sob o nº 395, conferindo-lhe condição de<br />

preservação que não permite demolição, descaracterização e alteração da<br />

volumetria.


20<br />

4.2 EDIFÍCIO ARTHUR ORLANDO<br />

Câmpus Anísio Teixeira - Rua Dois Irmãos nº 15 – Apipucos- Recife, PE<br />

Ed. Arthur Orlando - Fachada principal, 2009 Fachada em azulejo, 2009<br />

Edifício construído no ano de 1966, cujo projeto arquitetônico foi de<br />

autoria do arquiteto <strong>para</strong>ibano, radicado em Pernambuco, Gildo Azevedo<br />

Montenegro, e os projetos complementares, tais como: estrutural, de autoria do<br />

engenheiro Manuel Artur de Sá Pereira da Costa, e o elétrico e hidráulico, de<br />

Antônio Geraldo de Siqueira Campelo. Todos integrantes da Comissão<br />

Executiva de Programas Especiais de Educação de Pernambuco. 10<br />

Era destinado ao funcionamento de um Centro de Treinamento<br />

Educacional que tinha como objetivo a formação de professores e de<br />

pesquisadores sociais <strong>para</strong> a Região Nordeste do Brasil. Também considerada<br />

como um anexo da Escola Experimental do Centro de Pesquisas Educacionais<br />

de Pernambuco.<br />

É ainda um remanescente do “estilo funcional”, expressão local do<br />

movimento de Arquitetura Moderna Brasileira, que procurava, entre outros<br />

elementos construtivos, sistematizar o uso do combogó como elemento<br />

primordial de iluminação e de ventilação, garantindo assim a segurança e a<br />

funcionalidade, bem como, através do uso da tecnologia, converter a natureza<br />

em uma grande aliada nos projetos de arquitetura.<br />

Especialmente <strong>para</strong> os pernambucanos, esta é uma das edificações que<br />

significa motivo de orgulho e de admiração, pois o cobogó ou combogó como é<br />

popularmente chamado, nasceu no Recife no inicio dos anos 30, e a palavra<br />

vem da combinação da primeira sílaba dos sobrenomes de um mestre-deobras<br />

português, um ferreiro alemão e um engenheiro brasileiro que viria a ser<br />

prefeito da cidade do Recife, São eles; Amadeu Oliveira Coimbra (co), Ernest<br />

Boeckman (bo) e Antônio de Góis (go), que juntos começaram a fabricar, com<br />

cimento e areia, os elementos vazados de formas variadas que se tornaram um<br />

dos ícones da arquitetura moderna em nosso País, notadamente no Nordeste.<br />

Hoje, já existem também peças em cerâmica e em porcelana, algumas até<br />

pintadas. É também um elemento construtivo decorativo e utilitário, pois limita<br />

os ambientes sem impedir a entrada de ar, bem como, filtra a iluminação solar<br />

10 Dados fornecido por Gildo Azevedo Montenegro, professor arquiteto da Universidade Federal de<br />

Pernambuco.


21<br />

proporcionando uma relevante beleza plástica e um relativo conforto térmico<br />

ambiental. 11<br />

Além do combogó, que foi corretamente utilizado na fachada poente<br />

dessa edificação e que representa sua grande característica arquitetônica, se<br />

identificam também outros detalhes construtivos da modernidade que entraram<br />

na concepção desse partido arquitetônico, como sejam: a implantação do<br />

edifício no terreno obedecendo à distribuição em blocos funcionais; a<br />

orientação solar e sua relação com esquadrias e paredes; o uso da modulação<br />

em planta e fachadas; o emprego de pilares em concreto armado; lajes planas;<br />

grandes esquadrias fixas em vidro e ferro; cobertura em beirais; azulejo<br />

decorativo empregado na fachada como painel, compondo com espelho d’água<br />

e revestimento externo nobre em pastilhas, completando assim toda essa<br />

influência da identidade da arquitetura moderna pernambucana e suas<br />

especificidades.<br />

Em 1975, o criador do Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais –<br />

IJNPS, hoje <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, no intuito de ampliar o espaço físico<br />

do Instituto que se encontrava iniciando sua ascensão funcional e institucional,<br />

consegue, com a extinção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos –<br />

Inep, incorporar prédio daquela entidade ao patrimônio imobiliário do IJNPS.<br />

A edificação que tinha sido projetada anteriormente <strong>para</strong> uma escola,<br />

com uma área total de aproximadamente 1.260 metros quadrados, apresentava<br />

salas bastante amplas, em dois pavimentos, logo condizentes <strong>para</strong> serem<br />

utilizadas com os novos usos a que se destinava: os da instalação da gráfica<br />

do IJNPS, que, anos depois, com a transformação do Instituto em <strong>Fundação</strong>,<br />

passou a ser denominada de Editora Massangana; o Almoxarifado Central e<br />

garagem <strong>para</strong> os carros oficiais. Nesse período, instalou-se também com ações<br />

do IJNPS, no pavimento térreo, um posto de serviço dos Correios, que<br />

funcionou até o final da década de 1980 e uma agência bancária do Banco<br />

Real. Por se tratar de uma entidade bancária privada, anos depois foi<br />

substituída por uma agência da Caixa Econômica Federal - CEF, que funcionou<br />

até o final da década de 1990. Com a saída dos Correios e da agência<br />

bancária da CEF, as salas foram ocupadas pela Cooperativa Século XXI, da<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, que se extinguiu pouco tempo depois.<br />

Ao implantar os novos usos, a Fundaj executou pequenas reformas<br />

internas de adaptação, mas não alterou o partido arquitetônico do edifício.<br />

Procurou respeitar e conservar suas linhas originais, como forma de<br />

contribuição e de legado ao patrimônio cultural e arquitetônico da Região<br />

Nordeste.<br />

Em 1996, o prédio foi contemplado pela Lei de Uso e Ocupação do Solo<br />

– LOUS nº 16.176/96, como Zona Especial de Preservação - ZEP 12 , na parte<br />

que compreende o trecho ZePH2 ( Zona Especial de Preservação Histórica 2),<br />

e também no Setor de Preservação Ambiental – SPA, do Plano Diretor de<br />

Desenvolvimento da Cidade do Recife, que restringe o uso e a ocupação do<br />

imóvel naquela localidade.<br />

11 Cobogó. Disponível em < http://salu.cesar.org.br/arqbr/servlet/newstom.noticia.apresentação.<br />

SevletDENoticia?c>..<br />

Acesso em 16 de setembro de 2008. Disponível em <<br />

http://www2.uol.com.br/JC/_1998/1904/cd1904.htm. Acesso em 17 de setembro de 2008.<br />

12 Uma ZEP compreende áreas formadas por conjuntos antigos, sítios, ruínas e edifícios isolados cujas<br />

expressões arquitetônicas ou históricas requerem regulamentação especial de parâmetros construtivos,<br />

cuja manutenção seja necessária à preservação do patrimônio histórico-cultural do município.


22<br />

Em 2003, quando a Instituição passa por uma mudança de gestão, a<br />

equipe do presidente Fernando Lyra, visando o redirecionamento das ações<br />

institucionais e os ajustes na sua estrutura física e funcional, resolve, em curto<br />

prazo, transferir a Editora Massangana e o Almoxarifado Central daquele<br />

prédio <strong>para</strong> novas instalações no câmpus Gilberto Freyre. Nessa ocasião, o<br />

prédio passa a abrigar provisoriamente setores da Diretoria de Documentação.<br />

Em 2007, uma resolução do Conselho Deliberativo da Fundaj, aprova a<br />

cessão do edifício, sob o regime de comodato por vinte anos, ao Governo do<br />

Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Defesa Social, <strong>para</strong><br />

instalação de um Batalhão da Polícia Militar.<br />

4.3 EDIFÍCIO DELMIRO GOUVEIA 13<br />

Câmpus Anísio Teixeira - Rua Dois Irmãos nº 92 – Apipucos – Recife, PE<br />

Fachada principal do Ed. Delmiro Gouveia, 2008<br />

Construído no último decênio do século XIX, pertenceu a Delmiro<br />

Gouveia, figura histórica e de personalidade marcante na região nordestina.<br />

Comerciante do ramo de couros e peles, tornou-se rico empresário devido às<br />

amplas relações comerciais internacionais. Adquiriu, no largo de Apipucos,<br />

uma chácara, com um belíssimo casarão, circundado por vegetação<br />

diversificada, denominando-o de Villa Annunciada em homenagem à esposa,<br />

cujo nome encontra-se ainda hoje, gravado em singelas letras de bronze sobre<br />

o arco de ferro, logo acima do portão de entrada do imóvel.<br />

A arquitetura marcante dessa residência se encontra no térreo, com o<br />

terraço anteposto às fachadas, proporcionando uma agradável área<br />

sombreada, que passa a ser também o traço classicista dessa edificação. A<br />

cobertura desse terraço, do tipo telhado em meia-água, apoiada em finos tubos<br />

de ferros, denota ainda a influência dos ingleses na arquitetura doméstica<br />

recifense e torna a edificação mais adequada ao nosso clima.<br />

13 Texto baseado em: ROCHA, Edileuza (Org.). Guia do Recife: arquitetura e paisagismo. Recife. Ed. dos<br />

Autores, 2004, p. 216.


23<br />

O telhado da casa em duas águas com cumeeira <strong>para</strong>lela à fachada<br />

principal, sendo a água que cai em direção a esta muito menor do que a outra,<br />

torna suas empenas fortemente assimétricas e proporciona uma volumetria<br />

especial.<br />

Ed. Delmiro Gouveia - Fachada lateral, 2009<br />

Destacam-se, na fachada: o friso ornamentado sob a cornija superior da<br />

elevação frontal; as janelas do primeiro andar com folhas de venezianas<br />

abrindo <strong>para</strong> fora e as elaboradas vergas dos vãos do térreo decoradas com<br />

relevos.<br />

Há registros de que, no século XVIII, existia um hotel em Apipucos,<br />

localizado exatamente no casarão que veio a pertencer posteriormente a<br />

Delmiro Gouveia – a Villa Annunciada. Ao passar dos anos, a Vila Annunciada,<br />

como era conhecida, pertenceu a outros proprietários entre eles, à família de<br />

um Cônsul da Suíça, o Sr.Edmond Chenker; a de um ex-governador de<br />

Alagoas, Euclides Malta; a Souza Salgado e ao Centro Regional de Pesquisas<br />

Educacionais do Nordeste.<br />

Em 1975, o Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais – IJNPS,<br />

hoje, <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, recebeu a Vila Annunciada do Centro<br />

Regional de Pesquisas Educacionais do Nordeste. O bem arquitetônico era<br />

enorme. Limitava-se pela direita com a casa Jorge Tasso Neto, à esquerda<br />

com o imóvel nº 60, que foi posteriormente adquirido pela <strong>Fundação</strong> <strong>para</strong> dar<br />

lugar ao edifício Antiógenes Chaves e na parte posterior, onde se encontravam<br />

a escola e a biblioteca do Inep, atual edifício Renato Carneiro Campos e<br />

edifício Dirceu Pessoa, com o Colégio Marista. Tratou-se então de se restaurar<br />

suas linhas originais conservando o sítio com toda a exuberante vegetação que<br />

o cercava. Nessa ocasião, o sobrado, que havia pertencido anos atrás ao<br />

ilustre empreendedor nordestino Delmiro Gouveia, recebeu o seu nome, <strong>para</strong><br />

ser destinado ao então Instituto de Documentação da Fundaj.<br />

Em 1996, o edifício Delmiro Gouveia, por se encontrar localizado em um<br />

sítio arborizado e próximo ao Açude de Apipucos, também foi contemplado<br />

pela Lei de Uso e Ocupação do Solo - Lous nº 16.176/96 na Zona Especial de<br />

Preservação, na parte que compreende o trecho ZePh2 e SPA do Plano<br />

Diretor de Desenvolvimento da Cidade do Recife, que restringe o uso e a<br />

ocupação do imóvel naquela localidade.<br />

A casa abriga, atualmente, a Diretoria de Documentação – Didoc, da<br />

Fundaj, responsável pelo acervo museológico e documental da Instituição.


24<br />

4.4 EDIFÍCIO RENATO CARNEIRO CAMPOS 14<br />

Câmpus Anísio Teixeira - Rua Dois Irmãos nº 92 – Apipucos - Recife, PE<br />

Ed. Renato C. Campos – Fachada pav. superior,<br />

2008<br />

Construído no início da década de sessenta do século XX, é resultado<br />

de um projeto cujos autores, naturais da cidade do Rio de Janeiro, são o<br />

arquiteto Luiz de Lima Acioli e o engenheiro Antônio Alves de Noronha, este<br />

último considerado na época, um dos melhores calculistas do Brasil. Foi<br />

construído a princípio <strong>para</strong> o Centro Regional de Pesquisas Educacionais,<br />

destinado ao funcionamento de uma monumental Escola de Demonstração,<br />

considerada naquele período, como a mais moderna no gênero do País.<br />

Pereira da Costa e Murilo Paraíso foram os responsáveis pela execução<br />

da obra original, a qual, durante os trabalhos de construção, teve também a<br />

participação especial do escritor e sociólogo Gilberto Freyre, à época diretor da<br />

Escola, cujas sugestões <strong>para</strong> o melhor aproveitamento dos espaços físicos<br />

funcionais foram incorporadas pelo autor do projeto.<br />

Para elaboração do partido arquitetônico, que atenderia ao programa de uma<br />

escola pública, constando de: salas de aulas, biblioteca e auditório, os<br />

projetistas se inspiram na diferença de nível do terreno onde foi encravado o<br />

auditório, com teto jardim, atual Sala Roquette Pinto, e na tecnologia do<br />

concreto armado, cujo desenvolvimento foi muito difundido e empregado na<br />

construção civil do Brasil no século XX.<br />

Ed. Renato Campos em construção, Ca. 1960.<br />

14 Texto baseado em documentação interna administrativa constante do arquivo da Fundaj.


25<br />

A planta baixa em dois blocos, um retangular destinado às salas de<br />

aulas e outro em formato de um quadrado <strong>para</strong> a biblioteca, ambos modulados<br />

em dois pavimentos, abrigaram o funcionalismo e a modernidade em uma<br />

arquitetura arrojada <strong>para</strong> a época.<br />

A laje de piso do primeiro pavimento, sacada em grande balanço com<br />

2,35 metros de comprimento ao longo das fachadas leste/oeste, e 4,50 metros<br />

de comprimento na fachada sul, forçou o calculista a adotar um partido<br />

estrutural ousado, se considerarmos que, naquele período, o aço disponível<br />

<strong>para</strong> composição do concreto armado era o CA-24, com resistência (Fck=2400<br />

Kg /cm2), diferentemente do que ocorre atualmente, quando se dispõe de aço<br />

com resistência de até 6000Kgf/cm2, além das novas técnicas do concreto<br />

protendido.<br />

Ed. Renato C. Campos – Fachada principal – térreo, 2009.<br />

Em decorrência do balanço do pavimento superior, resultou, no térreo,<br />

uma agradável área sombreada que servia anteriormente de circulação e de<br />

acesso às salas de aula, e hoje, às salas de pesquisa. Dispõe também, no<br />

térreo, de um refeitório <strong>para</strong> funcionários, onde se vê um painel do artista<br />

plástico Marcos Cordeiro. Articula-se com o prédio anexo, que anteriormente só<br />

possuía dois pavimentos e abrigava a Biblioteca Central Blanche Knopf,<br />

através de uma área pergolada. Hoje, este bloco foi reestruturado <strong>para</strong> um<br />

prédio de seis pavimentos destinado a abrigar as dependências do Cehibra e<br />

da Biblioteca Central, sendo denominado de Edifício Dirceu Pessoa.<br />

Sua arquitetura é marcada pelos brises verticais pré-moldados em<br />

concreto, <strong>para</strong> proteção solar, e pelas grandes esquadrias corrediças em ferro<br />

e vidro, que, se alternando repetidamente numa composição harmoniosa,<br />

ofereceram mais movimento e verticalidade à volumetria do prédio. Assim,<br />

pode-se considerar esse edifício como um dos que marcaram a difusão e a<br />

importância da arquitetura moderna recifense.<br />

Em 1975, com a extinção do Inep, a edificação passou a incorporar o<br />

patrimônio imobiliário da Fundaj, quando a Instituição começou a executar<br />

reformas e adaptações <strong>para</strong> ampliação das salas de trabalho. Transformou-se,<br />

então, a circulação do andar térreo da fachada oeste em mais salas de<br />

atividades, eliminando-se assim, as varandas da fachada leste do primeiro<br />

pavimento. Instalaram-se também janelas de alumínio anodizado em<br />

substituição das originais que eram de ferro, nas salas do primeiro pavimento<br />

voltadas <strong>para</strong> fachada Leste. Contudo, manteve-se preservada grande parte de<br />

suas características originais.<br />

Em 1977, em decorrência do falecimento do diretor do extinto<br />

Departamento de Sociologia do antigo Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas<br />

Sociais - IJNPS, o edifício passa a ser denominado de Renato Carneiro<br />

Campos.


26<br />

Sala Roquette Pinto – Fachada principal, 2009<br />

Na década de 1990, foi executada uma reforma <strong>para</strong> revitalização da<br />

Sala Roquette Pinto. Naquela ocasião a sua fachada perdeu a originalidade. O<br />

revestimento externo, que era em cerâmica monocromática na cor creme, foi<br />

substituído por cerâmicas Brennand formando um painel colorido.<br />

Em 2004, esse edifício foi inserido no plano de melhorias das<br />

edificações, do câmpus Anísio Teixeira, com a execução de obras de reforma<br />

interna no pavimento térreo. Contudo, procurou-se respeitar a originalidade e<br />

integridade da arquitetura, até então preservada, existente no local.<br />

Atualmente, as instalações do edifício comportam as Coordenadorias<br />

Gerais da Diretoria de Pesquisas Sociais – Dipes, da <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong><br />

<strong>Nabuco</strong>, responsáveis pelas atividades-fins dessa diretoria.<br />

4.5 EDIFÍCIO GIL MARANHÃO 15<br />

Câmpus Gilberto Freyre- Av. 17 de Agosto nº 2223– Casa Forte, Recife, PE.<br />

Ed. Gil Maranhão - Fachada principal, 2009<br />

15 Texto baseado nos seguintes documentos:<br />

http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1<br />

6&pageCode=309&textCode=2992<br />

JUCÁ, Joselice. <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>: uma instituição de pesquisa e cultura na perspectiva do futuro. Recife: Fundaj,<br />

Ed. Massangana, 1991. Documentação interna administrativa constante do arquivo da Fundaj.


27<br />

Edifício-sede do Museu do Homem do Nordeste – Muhne, resulta<br />

inicialmente de um projeto do arquiteto Carlos Antônio Falcão Corrêa Lima, na<br />

década de 1960, destinado à instalação do Museu do Açúcar, pertencente ao<br />

extinto Instituto do Açúcar e do Álcool, considerado naquela época, como<br />

o único no gênero no Brasil.<br />

Olhando <strong>para</strong> o edifício, pode-se dizer que o projeto arquitetônico se<br />

baseou na mudança do conceito de museu ocorrida no século XX, que já<br />

tendia <strong>para</strong> construções modernas, em um local distante do centro da cidade<br />

onde se pudesse proteger o acervo museológico das condições atmosféricas<br />

adversas e do ruído urbano. Assim, sua localização no bairro de Casa Forte foi<br />

determinante <strong>para</strong> atingir esse objetivo, pois oferecia, então, condições<br />

apropriadas <strong>para</strong> o desenvolvimento de um projeto cultural dessa natureza.<br />

A planta-baixa foi concebida em blocos retangulares lineares, em dois<br />

pavimentos, com espaços destinados a abrigar no pavimento térreo as<br />

exposições permanentes e temporárias, um auditório, e uma livraria, e no<br />

pavimento superior se instalariam à biblioteca, à iconografia e à parte<br />

administrativa do Museu. A disposição dos blocos no terreno obedecia à<br />

orientação do circuito dos salões de exposições que, juntamente com os<br />

demais espaços funcionais, representaram a forma plástica de um quadrado<br />

irregular, circundado por aproximadamente 2.700 metros quadrados de jardins,<br />

cuja função principal seria, além de proteção do acervo, oferecer uma área de<br />

lazer aos visitantes.<br />

A firma Josué & Cavalcanti Ltda. foi a responsável pela execução do<br />

projeto, que seguiu a linguagem racionalista modernista da época, utilizando-se<br />

de elementos construtivos e estruturais característicos desse estilo, traduzindose<br />

pela estrutura da edificação que se baseou na planta livre, com lajes planas<br />

de piso e teto e vigas independentes dos elementos de vedação e das paredes.<br />

A cobertura do edifício também seguiu a mesma tendência, com beirais e<br />

platibanda escondendo o telhado convencional. Nas fachadas e pisos,<br />

materiais de revestimento nobres e essencialmente modernistas como:<br />

pastilhas, cerâmica colorida, pedras de mármore, e um painel do famoso artista<br />

plástico Francisco Brennand completavam a difusão dessa identidade<br />

arquitetônica.<br />

Jardim interno do Museu do Homem do Nordeste, 2009<br />

A execução dos jardins teve a orientação do agrônomo Dárdano de<br />

Andrade Lima, que, tirando partido da destinação do edifício, plantou na sua<br />

área interna, algumas variedades de cana-de-açúcar e complementou a<br />

ambientação, colocando um monumento idealizado por Aloísio Magalhães,<br />

composto por uma pedra-mó vertical, proveniente do Engenho Vila da Rainha,<br />

no Rio de Janeiro, que remonta ao século XV, e uma outra horizontal, originária


28<br />

do Engenho Camaragibe em Pernambuco. Para adornar os jardins da fachada<br />

principal, foi colocada uma locomotiva, oriunda da usina Santa Terezinha, no<br />

município de Água Preta (PE), doada por José Adolfo Pessoa de Queiroz, a<br />

conhecida “Maria Fumaça”, que antigamente puxava vagões carregados de<br />

cana-de-açúcar. Podem ser vistos ainda: um bonde antigo de madeira<br />

policromada, modelo aberto com 36 lugares; um locomóvel, espécie de<br />

transporte híbrido entre o automóvel, e a locomotiva, muito utilizado nos<br />

engenhos da região, e uma jangada também em madeira policromada, que foi<br />

doada pelo Museu Histórico Nacional ao Museu do Homem do Nordeste, em<br />

fevereiro de 1984. Na ocasião, havia na popa da embarcação a inscrição: José<br />

Lima Verde – Fortaleza – Ceará.<br />

Em 26 de outubro de 1977, através da Lei nº 6.456, os bens móveis e<br />

imóveis do Museu do Açúcar, do extinto Instituto do Açúcar e do Álcool,<br />

passaram <strong>para</strong> o Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais quando ficou<br />

fechado <strong>para</strong> reformas físicas e funcionais, recebendo também a denominação<br />

de Edifício Gil Maranhão, em homenagem ao idealizador e fundador do Museu<br />

do Açúcar. Pouco tempo depois, o Museu passou por uma completa<br />

reformulação, com a incorporação dos acervos do Museu de Antropologia e do<br />

Museu de Arte Popular ao do Museu do Açúcar que, juntos, sob a orientação<br />

do antropólogo e sociólogo Gilberto Freyre, vieram a formar o Museu do<br />

Homem do Nordeste, vinculado à Diretoria de Documentação da <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>.<br />

A REFORMA DO MUHNE 2003-2008<br />

O Museu do Homem do Nordeste – Muhne, passou por diversas<br />

reformas desde a sua criação, em 1979, até os dias de hoje. Dentre elas,<br />

merece destaque a ocorrida entre 2003 e 2008.<br />

O Museu do Homem do Nordeste, um dos mais importantes e<br />

representativos museus brasileiros, necessitava de reformas profundas em<br />

suas estruturas. O período de tempo relativamente longo que atravessou sem<br />

execução de serviços de engenharia de grande porte provocou sérios danos na<br />

edificação, principalmente na sua cobertura que necessitava urgentemente de<br />

uma reformulação total em sua estrutura. Além desse, outros serviços<br />

essenciais foram executados como a troca do piso do circuito expositivo; a<br />

reforma do auditório Benício Dias; a criação da loja e do café e a revitalização<br />

da exposição de longa duração.<br />

A partir de 2003, iniciaram-se as reformas estruturais do Museu, visando<br />

à requalificação dos espaços de atendimento ao público e a renovação<br />

conceitual e museográfica de sua exposição de longa duração. Em outubro<br />

desse mesmo ano, um terço do circuito expositivo — mais precisamente o 1º<br />

andar do edifício Gil Maranhão — precisou ser desmontado <strong>para</strong> dar<br />

andamento às obras de reforma física; e, em janeiro de 2004, foi desmontada a<br />

parte da exposição de longa duração, que funcionava no térreo. Algumas<br />

etapas isoladas das obras foram logo concluídas, como a reestruturação da<br />

coberta e a reforma do Auditório Benício Dias, mas a revitalização total do<br />

espaço físico <strong>para</strong> receber a nova exposição de longa duração precisou de um<br />

tempo maior.


29<br />

Para atingir o objetivo desejado, além de investir recursos próprios, a<br />

Fundaj captou recursos junto à Finep, utilizados <strong>para</strong> a melhoria da<br />

infraestrutura dos espaços de guarda e exposição de acervos, a exemplo da<br />

troca dos sistemas de refrigeração, elétrico e luminotécnico do circuito<br />

expositivo; como também contou com o patrocínio da Petrobras, através do<br />

incentivo da Lei Rouanet. Vale destacar a parceria firmada com o escritório da<br />

arquiteta Janete Costa, responsável pelo projeto museográfico.<br />

Em 2008, o Museu reabriu suas portas à visitação pública, totalmente<br />

refeito e modernizado. A exposição Nordeste: territórios plurais, culturais e<br />

direitos coletivos apresenta novo conceito museológico, mobiliário igualmente<br />

novo, instalação de sistemas luminotécnico, de sonorização e utilização de<br />

recursos audiovisuais.<br />

Aspectos da exposição Nordeste: territórios plurais, culturais e<br />

direitos coletivos, 2009<br />

Aspectos da exposição Nordeste: territórios plurais, culturais e<br />

direitos coletivos, 2009


30<br />

4.6 EDIFÍCIO DOLORES SALGADO<br />

Câmpus Anísio Teixeira - Rua Dois Irmãos, 77 - Apipucos – Recife, PE.<br />

Ed. Dolores Salgado – Fachada principal, 2009.<br />

Edifício originalmente residencial, localizado próximo ao Largo de<br />

Apipucos, em frente ao câmpus Anísio Teixeira. Pertenceu, durante muitos<br />

anos, à família Salgado de Souza, considerada como uma das mais<br />

tradicionais famílias daquele bairro, conhecida por promover eventos sociais e<br />

culturais os mais diversos. Sua arquitetura atual não é a primitiva. Segundo<br />

Jorge Medeiros, servidor da Fundaj, sobrinho-neto e afilhado de Dolores<br />

Salgado, antiga proprietária do imóvel, a casa existente no local resulta de uma<br />

reforma executada na década de 1940.<br />

Corroborando com a informação de Jorge, encontramos uma planta de<br />

reforma aprovada pela Diretoria de Obras Públicas do Município do Recife,<br />

datada de 27.08.1947. Alde de Castro Salgado, engenheiro civil e também<br />

sobrinho de D. Dolores, foi o responsável técnico pelo projeto e pela<br />

construção.<br />

Trata-se, então, da reforma de uma edificação em dois pavimentos,<br />

situada na parte frontal e central de um terreno em declividade, com área de<br />

quase um hectare de extensão. Sua arquitetura resultante é bem simples.<br />

Seguiu o padrão das ricas e modernas residências suburbanas existentes no<br />

Recife, naquela década.<br />

Observando as alterações encontradas na planta aprovada no ano de<br />

1947, verificamos que se referem às pequenas demolições internas,<br />

principalmente em relação às aberturas de vãos no terraço do pavimento<br />

superior. Sua forma plástica, representada por um retângulo irregular com uma<br />

pequena rotunda no pavimento térreo da fachada lateral oeste, confere certo<br />

movimento à volumetria da casa. Internamente, apresenta as divisões<br />

tradicionais de uma residência-padrão da época, com exceção da presença do<br />

puxado <strong>para</strong> dependências de serviço e garagem que, posteriormente, a<br />

Fundaj reformou, transformando-a em duas excelentes salas em sua parte<br />

superior.<br />

Destaca-se de sua simplicidade: o reboco das paredes das fachadas<br />

que foram enriquecidas pelo tratamento discreto de rusticidade; os beirais com<br />

acabamento em massa formando cornijas e cimalhas; aberturas em arcos;<br />

esquadrias de madeira em veneziana abrindo <strong>para</strong> fora.


31<br />

A ausência de tantos outros ornamentos que caracterizavam os estilos<br />

arquitetônicos classicista e a volumetria baseada em sólidos geométricos puros<br />

com paredes com elementos vazados, utilizados em sua composição, deram à<br />

casa o ar de modernidade que se vislumbrava na arquitetura residencial do<br />

século passado<br />

Fachada Ed. Dolores Salgado. Ca 1980<br />

Em 1980, o imóvel foi adquirido pela <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> que<br />

procurou preservar a casa juntamente com a área de jardins, que já não se<br />

apresentavam no seu formato original.<br />

Em homenagem à sua antiga proprietária, a Fundaj denominou a casa<br />

de Edifício Dolores Salgado. Naquela ocasião, estava destinada ao<br />

funcionamento do Departamento de Antropologia do Instituto de Pesquisas<br />

Sociais – Inpso. Em seguida, foi ocupada pela Divisão Médica e de Assistência<br />

Social da Diretoria de Planejamento e Administração - Diplad. Para<br />

implantação e funcionamento desses usos diversificados, foram executadas<br />

pequenas reformas internas que não descaracterizaram suas linhas originais.<br />

Sede da Associação dos Servidores da Fundaj, 2009<br />

Em 1982, o terreno da casa foi desmembrado, <strong>para</strong> dar origem ao<br />

terreno onde foi edificado o prédio da Associação dos Servidores da Fundaj –<br />

Assin, que ali permanece até os dias de hoje.


32<br />

Em 1996, a edificação foi contemplada pela Lei de Uso e Ocupação do<br />

Solo – Lous nº 16.176/96, como Zona Especial de Preservação, na parte que<br />

compreende o trecho Zeph2 e SPA, do Plano Diretor da Cidade do Recife, que<br />

protege os imóveis antigos.<br />

No final de 2003, em razão da nova estrutura organizacional da gestão<br />

Fernando Lyra, é transferida a Divisão Médica e de Assistência Social desse<br />

prédio <strong>para</strong> novas instalações no câmpus Gilberto Freyre. O espaço físico,<br />

então, foi aproveitado <strong>para</strong> acomodação de alguns setores da Biblioteca<br />

Central Blanche Knopf, cujo prédio, o Dirceu Pessoa, encontrava-se<br />

desocupado <strong>para</strong> reforma.<br />

4.7 EDIFÍCIO ULYSSES PERNAMBUCANO<br />

Câmpus Derby – Rua Henrique Dias nº 609 – Derby – Recife, PE<br />

Fachada Ed. Ulysses Pernambucano, 2009<br />

Edificação construída na década de 1930 é remanescente da arquitetura<br />

protorracionalista, antecessora do movimento moderno. Essa tendência<br />

estilística caracteriza-se principalmente pela redução ou até mesmo ausência<br />

de ornamentos, pela difusão do concreto armado; a racionalização da<br />

construção; a limpeza das formas e elementos construtivos, que já não fazem<br />

parte do vocabulário contemporâneo como: o ladrilho cerâmico; vitrais <strong>para</strong><br />

iluminação de escadas e corredores; o revestimento (reboco) executado com<br />

pó de pedra e mica e a utilização do azulejo como proteção das paredes até a<br />

altura de 1,50m; o rodapé em ladrilho hidráulico, apresentando detalhe em altorelevo;<br />

e o friso em argamassa, utilizado como arremate entre a transição de<br />

diferentes materiais.


33<br />

Piso em ladrilho cerâmico, 2009.<br />

O edifício foi projetado inicialmente, <strong>para</strong> ser uma Escola de Aprendizes<br />

Artífices, no estado de Pernambuco, a cargo do Governo da União. Essas<br />

escolas foram criadas no ano de 1909, em obediência a um decreto federal do<br />

Presidente da República Nilo Peçanha, que obrigava cada uma das capitais<br />

dos estados do Brasil a construir uma escola dessa natureza, destinada a<br />

ministrar o ensino profissional e gratuito.<br />

A Escola de Pernambuco funcionou em três locais: entre 1910 e 1923<br />

teve como sede o antigo Mercado Delmiro Gouveia, hoje quartel da Polícia<br />

Militar de Pernambuco, no Derby; a segunda sede foi a parte posterior do<br />

antigo Ginásio Pernambucano, na Rua da Aurora; no bairro da Boa Vista. A<br />

partir do início do ano de 1933, passa a funcionar na Rua Henrique Dias, 609 –<br />

Derby, sendo a sede oficialmente inaugurada em 18 de maio de 1934.<br />

O projeto era composto por um conjunto arquitetônico imponente,<br />

formado pelo Edifício Central e, atrás, os pavilhões destinados às oficinas,<br />

integrados por um pátio interno ajardinado. Todavia, esse tipo de escola-oficina<br />

não atingiu o objetivo desejado, passando por diversas reformulações de<br />

ordem administrativa e de ensino educacional até se tornar a Escola Técnica<br />

Federal de Pernambuco – ETFPE.<br />

Pátio interno – Edf. Ulysses Pernambucano, 2009


34<br />

O arquiteto Edison Rodrigues Lima, um dos ex-diretores da ETFPE,<br />

conta que o prédio foi projetado inicialmente em um só pavimento. Depois, com<br />

a necessidade de reformulação do objetivo técnico-educacional, sofreu<br />

modificações com o acréscimo de um pavimento destinado à ampliação das<br />

salas de aulas. Em seguida, no bloco central, foi construído o segundo<br />

pavimento destinado à casa do chefe da portaria, que era uma característica do<br />

programa funcional daquele tipo de instituição. O porteiro deveria residir no<br />

mesmo prédio da escola. Percebe-se, na edificação, que existe, no segundo<br />

pavimento, um tratamento estético e construtivo diferente dos outros dois<br />

pavimentos, notadamente no que se refere aos elementos decorativos das<br />

paredes e pisos internos dos ambientes.<br />

Outro detalhe marcante da arquitetura do prédio pode ser visto nos<br />

vitrais e tudo indica que foram executados pelo vitralista alemão Heinrich<br />

Moser, um grande artista que viveu na primeira metade do século XX e deixou<br />

obras marcantes na cidade do Recife. Em função da destinação do uso<br />

primitivo deste edifício, os vitrais das janelas do corredor e escada do primeiro<br />

pavimento do edifício evocam o mundo das artes e dos ofícios.<br />

Vitrais de Heinrich Moser, 2009<br />

No final do ano de 1982 e começo de 1983, a ETFPE cedeu em comodato<br />

parte de suas instalações à <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> por tempo<br />

indeterminado. Inicialmente, foi destinado à instalação do Instituto de Recursos<br />

Humanos e Promoção Cultural - Inrec da Fundaj. Nos anos seguintes, o Inrec<br />

se transformou no Instituto de Assuntos Culturais – Inac; depois, no Instiuto de<br />

Desenvolvimento Científico e Cultural – Indec, e mais adiante na Escola de<br />

Governo e Políticas Públicas e no Instituto de Cultura, que permaneceram até<br />

quase o final da gestão administrativa de Fernando Freyre.<br />

Com tantas transformações institucionais, o edifício necessitou também<br />

passar por diversas reformas internas de adaptação aos usos, ocasionando,<br />

entre outras, algumas perdas arquitetônicas significativas, notadamente no<br />

pavimento térreo, onde não mais se veem: os rodapés hidráulicos em<br />

determinados trechos de paredes; o revestimento em azulejo nas paredes dos


35<br />

corredores centrais, bem como o friso do acabamento e a descaracterização<br />

dos pisos em ladrilho hidráulico das salas de trabalho.<br />

Em 1996, o exemplar, por suas características arquitetônicas, foi<br />

tombado pela Lei 16.284/97, da Prefeitura da Cidade do Recife, que o definiu<br />

como Imóvel Especial de Preservação (IEP), sob o nº 111, e estabeleceu<br />

condições de preservação que não permitem demolição, descaracterização e<br />

alteração da volumetria.<br />

Em 2003, com a mudança de gestão administrativa, passa o edifício a<br />

ser ocupado pela Diretoria de Formação – Difor e pela Diretoria de Cultura –<br />

DIC.<br />

Em 2005, atendendo à recomendação da equipe técnica de arquitetura e<br />

engenharia da Coordenação Geral de Recursos Logísticos – CGRL, da<br />

Diretoria de Planejamento e Administração, foi mantido o revestimento em<br />

azulejo branco das paredes do primeiro pavimento e da escada, conservandose<br />

assim as características do revestimento original. Esse caso constitui<br />

exemplo de que o antigo não desvaloriza a edificação, ao contrário, enobrece o<br />

patrimônio tombado; conceito que conseguimos repassar aos demais colegas<br />

direta ou indiretamente envolvidos na recuperação do prédio.<br />

A execução dos trabalhos de restauração foi coordenada pela equipe<br />

contratada pelo Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de<br />

Documentos e Obras de Arte – Laborarte, vinculado à Diretoria de<br />

Documentação.<br />

Durante o processo de restauração, foi descoberta uma faixa decorativa<br />

pintada, logo acima dos azulejos, que foi totalmente recuperada e revitalizada,<br />

resgatando assim a composição estética original das paredes da escada e do<br />

primeiro pavimento. Diante da repercussão positiva do resultado,<br />

imediatamente a pintura da faixa decorativa foi estendida às paredes do<br />

pavimento térreo da edificação.<br />

Corredor do primeiro pavimento Detalhe da faixa decorativa, 2009


36<br />

Ed. Ulysses Pernambucano – Fachada principal, 2009<br />

Em 2008, em atendimento ao Decreto-Lei nº 5296 de 02 de dezembro<br />

de 2004, que entre outras coisas determinam através da NBR 9050 da<br />

Associação Brasileira de Normas Técnicas, que toda edificação de uso público<br />

garanta a acessibilidade às pessoas portadora de deficiência ou com<br />

mobilidade reduzida, o prédio, já considerado um IEP, sofre mais uma vez uma<br />

nova descaracterização em sua fachada principal, através da ocultação dos<br />

degraus em mármore do acesso principal ao interior do edifício, por uma rampa<br />

superposta em madeira com revestimento antiderrapante emborrachado.<br />

Apesar das perdas de certas características arquitetônicas de época<br />

ocorridas no edifício, devido a sucessivas reformas e adaptações, ainda<br />

quando o prédio não era tombado, bem como a ocorrida recentemente, a<br />

edificação mantém boa integridade de sua composição arquitetônica original.<br />

Atualmente é ocupado pela Diretoria de Cultura, responsável por discutir<br />

e promover a produção cultural contemporânea e artística, com destaque <strong>para</strong><br />

o conhecido “Cinema da <strong>Fundação</strong>”; além da Biblioteca Setorial Nilo Pereira,<br />

vinculada à Diretoria de Documentação; parte da Diretoria de Pesquisa Sociais<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento de cursos e atividades educacionais, assim como<br />

atividades de Educação a Distância, sob responsabilidade da Diretoria de<br />

Planejamento e Administração - Diplad.<br />

4.8 ENGENHO MASSANGANA<br />

Km 10 - PE- 60- Cabo de Santo Agostinho<br />

Engenho Massangana, 1990


37<br />

Localizado no Cabo de Santo Agostinho, município da Zona da Mata Sul<br />

do estado de Pernambuco, distando 60 km da cidade do Recife, é um bem<br />

cultural que remonta ao ciclo do açúcar do século XIX. É também denominado<br />

de Parque Nacional da Abolição por estar associado à figura do grande<br />

abolicionista pernambucano <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, que ali viveu até os oito anos de<br />

idade. É um engenho banguê sem o a<strong>para</strong>to colonial das ricas propriedades da<br />

época.<br />

A parte do antigo engenho denominada de Parque Nacional da Abolição,<br />

com 10 hectares de terra, era composta pelo conjunto edificado casa-grande,<br />

capela, senzala, casa do mestre-escola de <strong>Nabuco</strong> e a moita. Com o passar<br />

dos tempos, o Engenho Massangana passou por várias transformações<br />

funcionais, restando atualmente: a casa-grande, a capela de São Matheus, as<br />

ruínas da moita e o arruado, situado a uns cem metros em frente à casagrande,<br />

hoje, totalmente reformado e adaptado às funções de um alojamento.<br />

A casa-grande não mantém sua originalidade, foi reconstruída em 1870.<br />

Uma placa de mármore, acima da porta de entrada, confirma essa informação.<br />

Ergue-se sobre uma plataforma elevada, cujo acesso principal é por uma<br />

escadaria de mármore.<br />

Sua arquitetura é simples. Típica dos engenhos de açúcar daquele<br />

século. Apresenta uma varanda descoberta (a qual através de fotografias,<br />

observa-se ter sido antes coberta), que dá acesso a um vestíbulo com piso<br />

especial em mármore cinza e paredes revestidas com azulejo de época, onde<br />

se pode ver uma placa de bronze encravada, datada de 13 de setembro de<br />

1938, com a seguinte inscrição: “Aqui nasceu a inspiração abolicionista de<br />

<strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>. Homenagem do Governo do Estado e do Instituto Histórico<br />

de Pernambuco”.<br />

Detalhe da parede do vestíbulo, 2009 Detalhe do piso da sala, 2009<br />

À esquerda, tem-se uma grande sala principal com piso em mosaico,<br />

talvez adquirido no período da reforma. Por essa sala, tem-se acesso aos dois<br />

quartos da casa. À direita, têm-se duas salas <strong>para</strong>lelas, uma das quais dá<br />

acesso ao sótão e a outra, ao pátio central, arborizado, ladeado de colunas e<br />

piso em pedra. Ao lado desse pátio encontram-se a cozinha com forno de<br />

lenha e demais dependências, onde anteriormente deviam ficar os escravos e<br />

que foram posteriormente transformados em despensa e banheiros. Uma<br />

escada, também não original, serve de acesso ao sótão. Com exceção do<br />

vestíbulo e da sala principal, o piso da casa, segundo referências, era de “tijolo<br />

liso”. As janelas das fachadas apresentam detalhe em arco abatido com<br />

cercadura.<br />

Na cota mais alta do terreno próxima à casa-grande, está edificada em<br />

dois pavimentos sobre um platô de pedra, a Capelinha São Matheus, onde


38<br />

<strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> foi batizado, em 08 de dezembro de 1849. Diz-se ser a única<br />

construção autêntica do conjunto. O acesso a esse plano se faz através de<br />

uma escadaria também em pedra, localizada na parte central do terreno.<br />

Internamente, possui uma pequena nave, capela-mor, sacristia, corredor<br />

lateral térreo, corredor lateral superior e coro. O acesso à capela-mor um<br />

degrau acima da nave, se dá pelo arco-cruzeiro. Se<strong>para</strong>ndo os dois ambientes,<br />

existe uma pequena grade de ferro. O altar-mor localizado dois degraus acima<br />

é de uma composição simples e popular, com a mesa projetando-se <strong>para</strong> frente<br />

dos três nichos <strong>para</strong> imagens.<br />

Capela de São Matheus, 2009<br />

Uma passagem na lateral esquerda do altar-mor leva à sacristia, onde<br />

se encontram encravados na parede lateral direita os jazigos de <strong>Joaquim</strong><br />

Custódio Duarte de Azevedo e de D. Anna Rosa Falcão de Carvalho,<br />

proprietária do engenho e madrinha de <strong>Nabuco</strong>.<br />

Na fachada da capela, percebe-se a singeleza dessa casa de oração do<br />

engenho, cujo marco principal é o volume da nave, com seu frontão triangular e<br />

o clássico triângulo formado pelas aberturas da porta principal e das janelas do<br />

coro, todas em arco abatido. Do seu lado direito, ainda no mesmo plano, existe<br />

o volume do corredor lateral, tendo no térreo uma porta central com arco ogival<br />

e no pavimento superior duas janelas sineiras. Com exceção do piso do coro,<br />

em madeira, os demais pisos existentes em todos os ambientes do térreo é o<br />

cimentado. Na nave, encontram-se ainda duas pias de mármore, nas laterais<br />

da porta principal, e um nicho.<br />

Há indícios de que, após a <strong>para</strong>lisação de suas atividades açucareira, o<br />

Engenho Massangana foi desapropriado pelo Instituto Nacional de Reforma<br />

Agrária – Incra, que o restaurou e criou o Museu Massangana. Em seguida, foi<br />

integrado à área do Complexo Industrial Portuário de Suape, sendo, alguns<br />

anos após, doado ao Estado de Pernambuco.<br />

Em 22 de dezembro de 1983, o Engenho Massangana foi tombado pela<br />

<strong>Fundação</strong> do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe),<br />

sendo consagrado Monumento Histórico do Estado de Pernambuco, através da<br />

Lei de Proteção dos Bens Culturais nº 7.970, de 18 de setembro de 1979.<br />

Também é protegido pela legislação municipal do Cabo de Santo Agostinho,<br />

através da Lei de Uso e Ocupação do Solo atualmente em vigor, de nº<br />

2179/2004, de 12 de abril de 2004, que inseriu a área do Massangana na Zona<br />

de Interesse Histórico XIV.


39<br />

Alojamento do engenho – Fachada principal, 2009<br />

Em 1984, o Governo de Pernambuco assina um acordo de cessão do<br />

Engenho, em regime de comodato, por vinte anos, à Fundaj, que elaborou,<br />

juntamente com a Fundarpe, projeto executivo de reforma e restauração no<br />

conjunto arquitetônico, <strong>para</strong> a utilização desse bem com um uso sociocultural<br />

ou, mais precisamente, <strong>para</strong> implantação de um Centro de Produção<br />

Cientifica e Cultural do Nordeste, ou ainda, como a ele se referia Fernando<br />

Freyre, uma “hospedaria cultural”.<br />

A Fundaj, como comodatária, vem ao longo do tempo desenvolvendo<br />

esforços de diversas naturezas <strong>para</strong> manutenção e conservação desse<br />

patrimônio histórico e cultural. As intervenções físicas necessárias realizadas<br />

até o momento, no conjunto arquitetônico, sempre objetivaram o<br />

reconhecimento dos seus valores artísticos e históricos, com o intuito de<br />

preservar ao máximo sua existência. Os trabalhos de reforma, manutenção e<br />

conservação sempre foram realizados por profissionais da Casa ou por firmas<br />

especializadas em restauração de monumentos arquitetônicos, a fim de<br />

garantir a integridade dos seus bens.<br />

Em 2008, a Lei nº 13.496, de 02 de julho de 2008, determina o Estado<br />

de Pernambuco a renovar o contrato de comodato com a Fundaj e autoriza a<br />

cessão do direito do imóvel rural denominado Engenho Massangana por mais<br />

20 anos, retroagindo os seus efeitos a 13 de maio de 2004. Nesse mesmo<br />

ano, tem início o projeto de reconceituação do uso do espaço do Engenho<br />

Massangana, bem como começam as obras de reforma da capela de São<br />

Matheus e da casa-grande.


40<br />

4.9 EDIFÍCIO JORGE TASSO NETO<br />

Campus Anísio Teixeira - Rua Dois Irmãos nº 126 – Apipucos – Recife, PE<br />

Fachada da Casa Jorge Tasso Neto, 2009<br />

Situado em um pomar de aproximadamente 9 mil metros quadrados,<br />

esse chalé primoroso é mais um interessante exemplo do classicismo imperial<br />

recifense. Foi concebido e edificado com um dos lados colados na divisa do<br />

terreno e exibe a entrada principal e a parte social voltadas <strong>para</strong> o jardim que o<br />

rodeia e não <strong>para</strong> a rua. Térreo, exibe três das suas fachadas sombreadas por<br />

um terraço coberto, que esconde suas janelas. As empenas definidas por seu<br />

telhado de duas águas destacam-se na composição externa. A fachada voltada<br />

<strong>para</strong> rua apresenta um frontão triangular, decorado no ápice, com um ornato e,<br />

no tímpano, com um disco imitando um óculo. Na fachada principal, sobressai<br />

a decoração acima do telhado do terraço, especialmente o segmento de<br />

parede que coroa o centro da platibanda, formando uma espécie de frontão.<br />

Além dessas características construtivas do passado, destacam-se as grades<br />

europeias e o piso em assoalho. Há quem diga que o ano de 1885, gravado na<br />

fachada principal, é o marco provavelmente uma reforma efetuada, quando o<br />

chalé adquiriu suas características classicistas.<br />

Com o passar dos anos, o chalé da família Tasso pertenceu ainda à<br />

família do comerciante português Amadeu Barbosa, permanecendo<br />

abandonada por cerca de dez anos, <strong>para</strong> em seguida passar ao domínio e<br />

posse da Fundaj.<br />

Em 1984, o imóvel foi adquirido pela Fundaj. Encontrava-se em ruínas.<br />

Os arquitetos da casa Arnaldo Gendanken e Miriam Melo Machado, juntamente<br />

com o engenheiro Civil Antônio Geraldo da Silva, executaram os projetos de<br />

reforma e restauração, devolvendo-lhe as linhas originais. Nesse momento,<br />

aproveitando a exagerada altura da cumeeira e objetivando aumentar o número<br />

de salas de trabalho, foi projetado um mezanino. A reforma contemplou<br />

também a restauração e conservação do sítio existente. Destinava-se, naquele<br />

momento, à instalação do núcleo central e de mais dois departamentos do<br />

então Instituto de Pesquisas Sociais.<br />

O imóvel, por sua característica peculiar, encontra-se atualmente<br />

inserido na Zona Especial de Preservação – Zeph 2 e SPA, de acordo com o


Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade do Recife, através da Lei de Uso<br />

e Ocupação do Solo – Lous nº 16.176/96.<br />

Ocupa o prédio atualmente, a unidade central da Diretoria de Pesquisas<br />

Sociais – Dipes, que se volta, entre outras atividades, <strong>para</strong> a realização de<br />

pesquisas sociais nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.<br />

41


42<br />

5 OS JARDINS DA FUNDAJ<br />

Jardim do Câmpus Anísio Teixeira, 2009<br />

O patrimônio paisagístico e histórico da Fundaj é composto pelos:<br />

câmpus Gilberto Freyre, no bairro de Casa Forte, o Anísio Teixeira, em<br />

Apipucos e o Engenho Massangana, no município do Cabo. Os dois primeiros<br />

se destacam por terem suas origens ligadas às grandes chácaras suburbanas,<br />

situadas em bairros de clima ameno, principalmente o de Apipucos, que, no<br />

século XIX, era considerado como balneário recifense. Apresenta ainda uma<br />

relevante vegetação de clima tropical característica da Região Nordeste, que<br />

deve ser conservada por ser representativa de uma determinada época e<br />

costume local. Já o Engenho Massangana, é importante preservá-lo por ser um<br />

sítio histórico que retrata o modo de viver das grandes casas de engenho dos<br />

séculos que nos antecederam. Todo esse patrimônio verde é detentor de uma<br />

reconhecida importância museológica e, principalmente, ecológica,<br />

reconhecida por órgãos competentes como o Instituto Brasileiro do Meio<br />

Ambiente – Ibama, e a Secretaria de Planejamento Participativo, Obras e<br />

Desenvolvimento Urbano e Ambiental da Prefeitura do Recife, pois representa<br />

áreas de terreno com espécies vegetais de grande relevância <strong>para</strong> o cenário<br />

paisagístico-urbano de nossa cidade e da Região Nordeste.<br />

Na verdade, esses jardins traduzem não só uma beleza paisagística e<br />

museológica, mas fazem parte da trajetória da Fundaj, merecendo um<br />

destaque especial no resgate de sua memória institucional.<br />

Vale registrar que no resgate dessa memória, não existiu a pretensão de<br />

se elaborar um trabalho técnico e sistemático das diversas espécies botânicas<br />

existentes nas áreas verdes que foram consideradas como patrimônio<br />

paisagístico da Fundaj, e sim resgatar seu valor histórico e funcional.


43<br />

RECORDANDO O JARDIM DO CÂMPUS GILBERTO FREYRE<br />

Jardim do Câmpus Gilberto Freyre, 2009<br />

Na década de 1950, quando a Fundaj adquiriu o antigo casarão do<br />

século XIX, destinado à sua sede própria, tornou-se proprietária de um amplo<br />

terreno constando de casa e dependências circundadas por um jardim, que, à<br />

época em que foi construído, se enquadrava entre os mais belos jardinsmonumentos<br />

residenciais suburbanos da cidade do Recife. O velho Guimarães,<br />

homem fidalgo de descendência portuguesa, construiu o casarão nos tempos<br />

áureos do açúcar e assim pôde enriquecê-lo com peças de origem européia e<br />

de outras regiões do Brasil.<br />

Segundo narrativas, a velha casa do Caldeireiro esteve sempre envolta<br />

em lendas, dentre elas a de que o excêntrico dono do Solar dos Guimarães,<br />

após entrar em decadência econômica, começou a perder a sanidade e<br />

enclausurou-se no pavimento superior da casa, recusando-se a receber visitas<br />

e passando a ser alimentado por um empregado, através de um cesto com<br />

bananas, recebendo daí a alcunha de “Chico Macaco”, ficando lá até a sua<br />

morte.<br />

Quando o conjunto arquitetônico e paisagístico do lendário “Chico<br />

Macaco” passou <strong>para</strong> o domínio do então Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> - IJN,<br />

necessitava de obras de restauração. Uma equipe de técnicos do antigo<br />

Departamento de Bem-Estar Público da Prefeitura do Recife (DBEP), dirigido<br />

pelo Professor Gonçalves Fernandes, juntamente com o agrônomo Chaves<br />

Batista e o sociólogo Gilberto Freyre estudaram exaustivamente as<br />

características arquitetônicas e botânicas do lugar, buscando recuperar ao<br />

máximo possível o aspecto original daquela paisagem arquitetônica, construída<br />

entre os anos de 1874 e 1877, conforme atesta a inscrição na fachada do bloco<br />

principal, hoje, Memorial <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>.<br />

Esse jardim original de difícil reconstituição devido ao estado de<br />

abandono em que se encontrava — que o tornou alvo fácil <strong>para</strong> a depredação<br />

e os saques —, foi substituído então por um novo jardim, que Gilberto Freyre<br />

chamou de Jardim Ecológico, por ser construído obedecendo às características<br />

dos jardins das casas de sitio do Recife antigo.


44<br />

Reconstituição do jardim do Ed. Francisco Ribeiro, Ca. 1954<br />

Os trabalhos de reconstituição desse sítio-jardim tiveram muita<br />

repercussão na sociedade recifense. Os jornais de circulação local publicaram<br />

diversas matérias sobre a reconstituição do jardim dos Guimarães pelo IJN.<br />

Sua inauguração oficial, em setembro de 1954, foi um grande acontecimento<br />

social que contou naquela ocasião até com a presença do Dr. Djair Brindeiro,<br />

prefeito da cidade do Recife.<br />

Daí por que a tão comentada reforma ficou conhecida como o “jardim<br />

ecológico” de Gilberto Freyre; nome que o caracteriza até os dias de hoje.<br />

Surgiu do aproveitamento do traçado original remanescente do jardim<br />

abandonado. Nele se preservou no gradil do muro frontal um dos dois<br />

caramanchões, pois o outro existente foi adaptado como guarita. E também a<br />

forma dos canteiros que continuaram em formato irregular sem simetria, se<br />

estendendo pelos muros da frente, partes central, laterais e fundos do terreno,<br />

exibindo uma variada e abundante vegetação contendo árvores, ervas<br />

tropicais, arbustos, plantas exóticas e outras de valor apenas simbólico e<br />

sentimental <strong>para</strong> as tradicionais famílias suburbanas do Recife antigo. Dentre<br />

eles, foram plantados: dendezeiros, palmeiras imperiais, palmeiras-leques,<br />

paus-brasil, flamboyant, acácias, fícus Benjamin, paus-d’arco, além de árvores<br />

frutíferas como: jaqueiras, mangueiras, sapotizeiros, jambeiros, cajueiros e<br />

abacateiros entre outras.<br />

Os melhoramentos executados no jardim não tiveram apenas a<br />

preocupação com as mudas e o transplante das espécies, mas também com a<br />

colocação dos adornos. Tentando criar uma ligação entre o cenário do jardim<br />

anterior, do século XIX, e esse novo jardim que estava <strong>para</strong> acontecer no<br />

século XX, Gilberto Freyre, de forma gradual e juntamente com sua equipe de<br />

museólogos, liderados por Aécio de Oliveira, se encarregaram de pesquisar e<br />

adquirir junto a antiquários e outros segmentos afins, os elementos <strong>para</strong> a nova<br />

composição paisagística desse cenário arquitetônico.<br />

E, assim sendo, foram instalados no jardim da sede do IJNPS, hoje<br />

Câmpus Gilberto Freyre, os postes de iluminação em ferro com pequenos<br />

lampiões distribuídos entre os diversos canteiros existentes no local e, aos pés<br />

das árvores, oito bancos de jardim em alvenaria com revestimento em azulejo<br />

português e assento de mármore, obtidos da demolição do Solar dos Seixas na<br />

Av. 17 de Agosto, em frente ao então Instituto.<br />

Complementando a restauração desse espaço verde, foram também reincorporadas<br />

ao palacete do Caldeireiro, as esculturas em louça, os bustos de


45<br />

Camões e do Marquês de Pombal, bem como os lampiões coloniais externos<br />

da casa, que haviam sido saqueados no período da Revolução de 1930, e<br />

foram então resgatados, nessa ocasião, <strong>para</strong> o terraço do expressivo Solar do<br />

Memorial <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, conforme relato de Aécio de Oliveira, contido no<br />

livro <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>: uma instituição de pesquisa e cultura na perspectiva do<br />

tempo, de Joselice Jucá.<br />

Câmpus Gilberto Freyre, 2009<br />

Lampião do Ed. Francisco R. P. Guimarães,<br />

2009<br />

Conta-se ainda que, depois da inauguração, Freyre continuou<br />

acompanhando pessoal e diariamente a manutenção e conservação desse<br />

jardim. Os pés de mangustão, árvore originária da Ásia, que ainda hoje se<br />

encontram no jardim, foram plantados com mudas que Gilberto Freyre trouxe<br />

de uma de suas viagens ao exterior.<br />

Continuando o passeio pelo tempo, descobrimos também que durante a<br />

gestão Mauro Mota, que compreende o período de 1956 a 1970, o “jardim<br />

ecológico” exercia uma função social. Era ponto de encontro entre os<br />

nabuquianos. Conta Joselice em seu livro acima citado: “... o próprio Mauro<br />

Mota, Renato Carneiro Campos, Sílvio Rabelo e até mesmo Gilberto Freyre, ali<br />

se reuniam discutindo desde a pesquisa em andamento, até as últimas fofocas,<br />

passando pela divisão dos problemas pessoais que comumente resultava na<br />

solidariedade do grupo”.<br />

Jardim do Ed. José Bonifácio, 2009


46<br />

Com base no comentário feito pela autora, podemos afirmar que a<br />

composição paisagística desse jardim que compreende a vegetação com todos<br />

os elementos decorativos colocados no local, tornava e ainda torna o jardim<br />

não só acolhedor, mas utilitário, dando-lhe um movimento que se harmoniza<br />

com a imponência do conjunto arquitetônico.<br />

A área do jardim expandiu-se proporcionalmente ao crescimento da<br />

Instituição, ou seja, à medida que a Fundaj ampliava suas atividades no bairro<br />

de Casa Forte, crescia também seu patrimônio arquitetônico e<br />

consequentemente sua área verde. Desta forma, foi agregado aos jardins do<br />

Edifício Francisco Ribeiro Pinto Guimarães o terreno do imóvel de nº 2143, da<br />

Avenida 17 de Agosto, onde se encontra edificado o Edifício José Bonifácio e<br />

os jardins dos imóveis de nºs 2223 e 2225 da mesma avenida, que abriga o<br />

Museu do Homem do Nordeste - Muhne, além do terreno da casa nº 136 da<br />

Avenida Dr. Seixas, no mesmo bairro.<br />

Em 1977, quando a Instituição incorpora o jardim do extinto Museu do<br />

Açúcar do Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA, derruba-se o muro que<br />

se<strong>para</strong>va as duas edificações, e a área verde daquele câmpus se estende, se<br />

dividindo em dois jardins: o do Munhe e o do entorno do Memorial <strong>Joaquim</strong><br />

<strong>Nabuco</strong>.<br />

Jardins do Museu do Homem do Nordeste, 2009<br />

A área de jardim do Muhne veio complementar e enriquecer a paisagem<br />

do jardim do câmpus-sede. Idealizado por Aloísio Magalhães, quando pertencia<br />

ao extinto Museu do Açúcar, do IAA, foi concebido e inspirado com plantações<br />

e ornamentos que remontam ao ciclo e ao cenário da zona canavieira do<br />

Nordeste brasileiro. Nele, podem ser admiradas não só as plantas típicas do<br />

clima tropical, como também peças museológicas, já descritas anteriormente.<br />

Existia também um lago sinuoso com algumas espécies de peixes<br />

ornamentais, que foi desativado.<br />

A manutenção da área verde do jardim do Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de<br />

Pesquisas Sociais – IJNPS, foi exercida inicialmente pelos servidores Ubiraci<br />

Gonçalves dos Santos, o Bira, e Amarino Martins de Oliveira, da extinta Divisão<br />

de Serviços Gerais – Serge, que se dedicavam aos cuidados necessários à<br />

conservação da beleza dos jardins, possibilitando assim uma completa<br />

integração entre a Instituição e seu espaço paisagístico. Chegou-se até a ser<br />

providenciado a abertura de dois poços artesianos destinados à manutenção<br />

dos jardins.<br />

Chegando aos anos 1980, percebe-se que a imensa área verde da<br />

<strong>Fundação</strong> começa a se modificar. Algumas árvores existentes nos pátios dos<br />

terrenos do Edifício Gil Maranhão (Muhne) e do Francisco Ribeiro Pinto


47<br />

Guimarães tiveram que ser derrubadas ou ainda sacrificadas, <strong>para</strong> dar lugar<br />

aos edifícios Saturnino Gonçalves dos Santos e Paulo Guerra.<br />

Nesse período, os jardins passam aos cuidados dos servidores José<br />

Santana de Oliveira, mais conhecido como Duda, que se incumbe de cuidar da<br />

área em frente ao Munhe; e José Mário Lima de Sousa, escalado par cuidar do<br />

jardim do entorno do Edifício Francisco Ribeiro Pinto Guimarães. Ouvindo<br />

Duda falar com certo orgulho e admiração de seu trabalho como jardineiro na<br />

Instituição, ficamos convencidos de que tudo era zelado com muito carinho e<br />

atenção. Ele conta que existia no jardim frontal do Munhe, um canteiro de<br />

paquevira, ou pacavira, e panamá, espécies de plantas ornamentais oriundas<br />

das matas sombrias e úmidas, que chamavam a atenção dos que ali passavam<br />

pela beleza e colorido de suas flores. Ousamos afirmar, baseados na conversa<br />

com esse servidor, que o período nobre dessa imensa área verde foi até o final<br />

da década de 1980, quando já havia ocorrido a transformação do IJNPS em<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>.<br />

Com o passar dos anos, percebe-se que o jardim foi perdendo<br />

gradativamente sua exuberante beleza paisagística, devido, entre outros<br />

fatores, à falta de mão de obra especializada à sua conservação e<br />

manutenção. Permanecendo com poucas planta exóticas daquele<br />

planejamento ecológico e museológico idealizado por Gilberto Freyre.<br />

Jardim e jaqueira do Câmpus Gilberto Freyre, 2009<br />

Muitos dos que trabalham e visitam a Fundaj, passando diariamente por<br />

esse jardim de sessenta anos de existência, têm a nítida impressão de que<br />

guarda muitas histórias que vão além da simples visão e contemplação. Na<br />

verdade, essa paisagem presenciou e foi palco de muitos acontecimentos na<br />

vida da instituição. Uns alegres e outros tristes.<br />

Nesse jardim em baixo de uma jaqueira, onde se reuniam os motoristas<br />

da <strong>Fundação</strong>, nasceu, em 1984, por ideia do presidente da Fundaj, Fernando<br />

Freyre, e do servidor Manoel Cavalcanti, a Troça Carnavalesca Turma da<br />

Jaqueira Segurando o Talo, formado por servidores da Casa que cultuam a<br />

festa do carnaval. Todo ano, um sábado antes do sábado de Zé Pereira, como<br />

é conhecido o dia que se iniciam os festejos do carnaval em nosso Estado, é<br />

feita uma concentração no jardim da sede da Fundaj <strong>para</strong> a saída da Troça,<br />

que arrasta multidão pelas ruas dos bairros de Casa Forte e Apipucos,<br />

brincando e dançando ao som de orquestra de frevo e do maracatu.


48<br />

Atualmente, a troça já faz parte do calendário carnavalesco e turístico da<br />

cidade do Recife.<br />

Mas a memória nos prega peças e, nessas lembranças, aparece<br />

também o testemunho de tristeza. Sentados nos bancos do jardim ou andando<br />

por entre suas calçadas, muitos se despediram em cerimônia solene de velório,<br />

no salão nobre do Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães, que abriga o<br />

Memorial <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, de personalidades e celebridades que marcaram a<br />

história da Fundaj. Entre outros, destacamos: Gilberto Freyre, Mauro Mota,<br />

Dirceu Pessoa, Joselice Jucá, Mário Souto Maior, Eduardo Cabral de Melo.<br />

Jardim do Memorial <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, 2009<br />

Contudo, num jardim tudo passa... Tudo se move, se renova, e a vida<br />

continua. A Fundaj também prosseguiu sua trajetória, cuidando e zelando<br />

desse expressivo patrimônio paisagístico.<br />

Jardim do Câmpus Gilberto Freyre, 2009<br />

O agenciamento paisagístico, que se vê hoje, não é mais o original.<br />

Anteriormente a pavimentação era em piso cimentado. As calçadas do passeio<br />

público em pedra portuguesa e o piso do pátio, <strong>para</strong> estacionamento de<br />

veículos, em <strong>para</strong>lelepípedos formando desenhos geométricos sinuosos,<br />

resultaram de uma reforma realizada na década de 1990, pelos técnicos em<br />

engenharia e arquitetura da Casa, que notadamente não corresponde às<br />

características primitivas do piso anterior. Lembramo-nos de que juntamente<br />

com o engenheiro Antônio Geraldo escolhemos os referidos materiais <strong>para</strong><br />

restauração desse piso, numa tentativa de se reportar aos materiais nobres e


49<br />

ao tipo de calçamento que se usavam no Recife antigo, compatíveis com a<br />

nobreza do casarão.<br />

Em 2001, por iniciativa de Fernando Freyre, à época, presidente da<br />

Fundaj, o câmpus-sede passa oficialmente a ser chamado de Câmpus Gilberto<br />

Freyre. Na ocasião, foi colocado nesse jardim, um busto em pedra, doado pelo<br />

escultor Abelardo da Hora, que retrata o sociólogo Gilberto Freyre, onde se lê:<br />

Homenagem de todos os que fazem a <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> ao seu<br />

criador e idealizador no centenário de seu nascimento. Recife, 25.1.2001.<br />

Em 2008, em decorrência de uma reforma no Edifício Gil Maranhão, o<br />

tradicional jardim do Muhne foi quase que totalmente reformado principalmente<br />

em sua parte posterior devido à ampliação do pátio de estacionamento de<br />

veículos. Na execução dos serviços, foram utilizados materiais de construção<br />

bem modernos, contrastando com a área de jardins remanescentes. Foi<br />

construído também um quiosque destinado às atividades de conveniência do<br />

Muhne na parte próxima ao hall de recepção do edifício, reduzindo e<br />

descaracterizando sensivelmente o antigo jardim de Aloísio Magalhães.<br />

Loja e café do Museu do Homem do Nordeste, 2009<br />

Hoje, a conservação e manutenção vêm sendo realizadas por uma firma<br />

terceirizada sob a supervisão da Coordenação de Serviços Gerais. Todavia,<br />

percebe-se que o jardim não é mais o mesmo.<br />

Jardim do Câmpus Gilberto Freyre, 2009<br />

A quantidade de árvores de grande porte foi bastante reduzida. Em<br />

alguns trechos dos jardins, os canteiros apresentam-se com solo arenoso, sem<br />

ou com pouca planta selecionada. Não existe mais o canteiro especial com


50<br />

plantas medicinais. No âmbito das reformas por que passa o Muhne, está<br />

prevista a elaboração de novo projeto paisagístico <strong>para</strong> a área.<br />

No entanto, o jardim do Câmpus Gilberto Freyre continua apresentando<br />

suas características funcionais peculiares, distinguindo a Fundaj dos demais<br />

órgãos públicos do Recife. Os eventos socioculturais, intelectuais e<br />

educacionais, promovidos pela <strong>Fundação</strong>, fazem uso desse tradicional jardim<br />

<strong>para</strong> as mais diversas atividades, que vão desde a simples contemplação e do<br />

contato com a natureza, antes durante e depois das solenidades, até a<br />

realização de eventos científicos e culturais, como a comemoração da Semana<br />

do Meio Ambiente e o Festival das Culturas Populares. Na verdade, a<br />

participação e interação dos públicos interno e externo com esse espaço físico<br />

institucional é uma prática cotidiana que vem sendo preservada desde a sua<br />

criação. Nele continua existindo a conversa formal e informal entre servidores e<br />

amigos, culminando no mês de dezembro com as comemorações das festas de<br />

final de ano.<br />

RELAÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS DO JARDIM DO CÂMPUS<br />

GILBERTO FREYRE<br />

1. Arvores frutíferas de grande, médio e pequeno portes, segundo<br />

denominação local:<br />

1.1 Abacateiro<br />

1.2 Acerola<br />

1.3 Azeitona<br />

1.4 Cacaueiro<br />

1.5 Cajueiro<br />

1.6 Cerejeira<br />

1.7 Coqueiro<br />

1.8 Dendezeiro<br />

1.9 Fruta-pão<br />

1.10 Graviola<br />

1.11 Jambeiro<br />

1.12 Jaqueira<br />

1.13 Jenipapeiro<br />

1.14 Laranjeira<br />

1.15 Mangueira<br />

1.16 Mangustão<br />

1.17 Oitizeiro<br />

1.18 Pitangueira<br />

1.19 Pitombeira<br />

2. Árvores ornamentais de grande, médio e pequeno portes:<br />

2.1 Acácia Imperial<br />

2.2 Aroeira<br />

2.3 Bananeira-de-jardim<br />

2.4 Canela<br />

2.5 Carolina


51<br />

2.6 Cuia-de-pobre<br />

2.7 Espatodea<br />

2.8 Flamboyant<br />

2.9 Imbiriba<br />

2.10 Jucá<br />

2.11 Palmeira Imperial<br />

2.12 Palmeira indiana<br />

2.13 Palmeira-leque<br />

2.14 Palmeira-molambo<br />

3. Outros tipos de vegetação característica da Mata Atlântica, do Agreste e<br />

do Sertão nordestino:<br />

3.1 Abacaxi-de-enfeite<br />

3.2 Alamanda<br />

3.3 Avenca<br />

3.4 Cacto<br />

3.5 Cafezinho<br />

3.6 Cana-de-açúcar<br />

3.7 Colônia<br />

3.8 Comigo-ninguém-pode<br />

3.9 Coqueirinho<br />

3.10 Costela-de-adão<br />

3.11 Crótons diversos<br />

3.12 Espada-de-São Jorge<br />

3.13 Fícus<br />

3.14 Filodendros<br />

3.15 Gravatá<br />

3.16 Gravatá-de-sala<br />

3.17 Helicônia<br />

3.18 Iquisoria<br />

3.19 Jasmim alfinete<br />

3.20 Jiboia<br />

3.21 Orquídea terrestre<br />

3.22 Papoulas<br />

3.23 Paquevira


52<br />

INVENTÁRIO DO ACERVO MUSEOLÓGICO LIGADO AO JARDIM<br />

Busto de Gilberto Freyre - moldagem em<br />

concreto, sobre pedestal de granito. Doado a<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> em 2001 pelo<br />

artista plástico Abelardo da Hora na<br />

comemoração do centenário do nascimento<br />

de Gilberto Freyre.<br />

Casa de banho com cacimba - Conjunto de<br />

arquitetura eclética que funcionava como<br />

dependência sanitária da solar pertencente ao<br />

rico comissário do açúcar Francisco Ribeiro<br />

Pinto Guimarães. Século XIX.


53<br />

Comércio<br />

Inverno<br />

Sem nome<br />

Minerva<br />

Quatro estatuetas em louça branca,<br />

representando o Inverno, Comércio,<br />

Minerva e uma sem denominação.<br />

Nelas está escrito: Porto. José P.<br />

Valente; Fª Santo Antonio e Devezas.<br />

Enfeitam a balaustrada frontal do<br />

terraço do edifício Francisco R. P.<br />

Guimarães.<br />

Pinhas em cerâmica esmaltadas policromadas onde se<br />

lê: Fª Devezas. José P. Valente. Porto. Enfeitam uma<br />

das laterais da balaustrada do edifício Francisco R. P.<br />

Guimarães. Século XIX


54<br />

Busto de Luís de Camões em cerâmica branca<br />

esmaltada escrita Eª d. Sto Antônio Porto. Século XIX.<br />

Enfeita a balaustrada do edifício Francisco R. P.<br />

Guimarães. Século XIX.<br />

Braço de Lampião de estrutura em ferro,<br />

pintado e decorado com motivos em folhas.<br />

Partes do abajur em vidro. Século XIX.<br />

Locomotiva “Maria Fumaça” - máquina toda em ferro<br />

pintada, doada ao Museu do Açúcar, posteriormente<br />

incorporada ao acervo do Museu do Homem do Nordeste.<br />

Foi utilizada por muitos anos <strong>para</strong> transportar cana-deaçúcar<br />

na Usina Santa Teresinha, no início do século XX.<br />

Locomóvel - pequeno veículo em ferro que<br />

funcionava sobre trilhos e servia como meio de<br />

transporte movido a vapor <strong>para</strong> carregar pequenas<br />

cargas nos engenhos de cana-de-açúcar. Século XX.


55<br />

Bondinho - peça toda em madeira pintada em<br />

amarelo e verde. Foi utilizada como meio de<br />

transporte coletivo no Recife até a década de<br />

1950. Seu último itinerário foi a linha do bairro do<br />

Prado.<br />

Jangada - embarcação de madeira, do tipo balsa,<br />

enfrentou uma grande jornada na década de 1960,<br />

servindo de transporte <strong>para</strong> o pescador José de Lima<br />

Verde, que navegou do Ceará ao Rio de Janeiro pela<br />

costa brasileira. Depois da viagem, o pescador doou a<br />

peça <strong>para</strong> o Museu Histórico Nacional, que<br />

posteriormente a cedeu <strong>para</strong> o Museu do Homem do<br />

Nordeste.


56<br />

OS JARDINS DO CÂMPUS ANÍSIO TEIXEIRA<br />

Jardim do Câmpus Anísio Teixeira<br />

Os jardins do Câmpus Anísio Teixeira encontram-se situados na Avenida<br />

Dois Irmãos nºs 92 e 77; Rua Jorge Tasso Neto nº 126 e Rua Itatiaia nº 63, no<br />

bairro de Apipucos, distando 2 km do jardim do Câmpus Gilberto Freyre, em<br />

Casa Forte. Incorporaram-se ao patrimônio paisagístico da Fundaj em fases<br />

distintas que acompanharam o crescimento físico institucional.<br />

Trata-se de uma imensa área verde, na sua maioria, proveniente dos<br />

recuos das localizações das antigas construções residenciais, hoje prédios<br />

públicos da Fundaj, com sítios arborizados, que caracterizavam, no século XIX,<br />

o aprazível arrabalde, agora bairro de Apipucos, na cidade do Recife. Pode-se<br />

considerar essa área de jardins como o maior patrimônio cultural paisagístico<br />

urbano que a Fundaj detem e vem preservando, a fim de conservar sua<br />

memória <strong>para</strong> os cidadãos do presente e do futuro.<br />

Os jardins dos nºs 15 e 92, da Rua Dois Irmãos, surgiram em 1975,<br />

quando ocorreu a ocupação pelo Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas<br />

Sociais – IJNPS, dos prédios do extinto Centro Regional de Pesquisas<br />

Educacionais do Nordeste. Como os imóveis situavam-se em lados opostos, o<br />

jardim do câmpus ficou dividido em dois: de um lado o jardim da Casa Villa<br />

Annunciada e, do outro lado, o jardim do Centro de Treinamento Educacional,<br />

hoje conhecido como Edifício Arthur Orlando.<br />

O jardim da Villa Annunciada apresenta-se como um grande tapete<br />

verde cortado por caminhos <strong>para</strong> pedestre e veículos, com pavimentação com<br />

trecho em solo natural e grande parte em pedra granilítica rústica, formando<br />

diversos canteiros que se espalham pelo gradil dos muros frontais e laterais.


57<br />

Jardim da Vila Annunciada<br />

Estende-se também pela parte elevada do terreno, a que se tem acesso<br />

por uma rampa lateral, atingindo-se assim outro patamar arborizado, que<br />

compreende os fundos do terreno.<br />

Exibe uma vegetação abundante e diversificada, com plantas<br />

decorativas e árvores frutíferas. Foi inicialmente, na década de 1975, o grande<br />

destaque do patrimônio paisagístico da Fundaj, em Apipucos, que<br />

simultaneamente com o jardim ecológico de Gilberto Freyre, em Casa Forte,<br />

constituiu a fase áurea dos jardins da <strong>Fundação</strong>.<br />

A nobreza desse jardim está ligada à história do bairro de Apipucos, que<br />

no século passado era considerado como reduto dos ingleses e berço da<br />

aristocracia recifense. Suas casas residenciais eram sempre edificadas em<br />

terrenos com grandes sítios arborizados, apresentando jardins românticos e<br />

grandiosos, compondo, com a arquitetura típica da época, e quem sabe,<br />

assinalando a presença de moradores amantes da natureza. Sentimento, hoje,<br />

no século XXI, quase que inexistente nas edificações populares e<br />

principalmente nos prédios públicos de nossa cidade. É a especulação<br />

imobiliária, dentre outras causas, deixando um rastro de devastação na<br />

paisagem urbana das grandes cidades, como o Recife.<br />

É de se imaginar que, ao longo do tempo, a forma original desse jardim<br />

da Villa Anunciada foi se redefinindo e se redesenhando, devido às ações de<br />

seus antigos proprietários.<br />

A documentação escassa não permite maiores esclarecimentos.<br />

Todavia, existe ainda no terreno dessa casa, hoje denominada de Edifício<br />

Delmiro Gouveia, um cenário arquitetônico de época, bastante acolhedor <strong>para</strong><br />

quem visita a Diretoria de Documentação e notadamente <strong>para</strong> os servidores<br />

que trabalham no Câmpus Anísio Teixeira, que podem usufruir o que restou<br />

dessa memória percorrendo o jardim diariamente.<br />

Já o traçado do jardim do lado oposto da Rua Dois Irmãos, o de nº 15, é<br />

bem simples, mas, não menos importante. Sua origem é decorrente dos recuos<br />

da localização de um prédio público, construído na década de 1960. Nele se<br />

encontram plantadas também as mesmas variedades de vegetação nativa, de<br />

árvores frutíferas e ornamentais.


58<br />

Jardim do Ed. Arthur Orlando<br />

Em 1980, foi incorporado ao patrimônio da <strong>Fundação</strong> o imóvel que havia<br />

pertencido a Dolores Salgado. Era conhecida como a “casa encantada”,<br />

escondida num bosque. A sociedade recifense se referia a ele como “jardins do<br />

Éden”. Havia sido projetado pelo arquiteto Burle Marx, nome que se<br />

transformou no século XX, em referência do paisagismo brasileiro por toda<br />

parte do mundo. Nele se misturavam as folhagens belíssimas do tipo licônias,<br />

crótons, samambaias, choronas, dracenas, entre outras espécies, se<br />

estendendo do portão de entrada da casa até as margens do Rio Capibaribe.<br />

Quem conheceu esse belo jardim de Burle Marx, constituído de plantas<br />

exóticas e nativas tropicais, diz que ele foi depredado logo após a morte de D.<br />

Dolores, a dama antiga de Apipucos.<br />

Jardim da Casa Dolores Salgado<br />

Quando a Fundaj adquiriu a casa, procurou preservá-la com o que<br />

restou dos “jardins do Éden”. Na sua festa de inauguração oficial, em julho de<br />

1981, mereceu uma matéria de destaque no Caderno C, do Jornal do<br />

Commercio, que dizia: “os jardins do éden escapam afinal à fúria dos<br />

loteamentos desordenados no grande Recife”.


59<br />

Jardim da Casa Dolores Salgado<br />

Jardim da Assin<br />

Em 1982, essa área verde foi dividida em duas, sendo uma delas<br />

destinada Associação dos Servidores da <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> – Assin.<br />

Campo de Futebol da Assin<br />

A área verde do terreno da Associação dos Servidores foi transformada<br />

em área de lazer, com campo de futebol, quadra polivalente, vestiário e um<br />

pequeno agenciamento central quase sem vegetação. Da flora tropical restam<br />

as árvores de grande porte e poucas espécies nativas.<br />

Jardim da Casa Jorge Tasso Neto, 2009<br />

Em 1984, a Fundaj adquire a casa Jorge Tasso Neto, vizinha ao edifício<br />

Delmiro Gouveia, expandindo-se assim a área verde do Campus Anísio<br />

Teixeira. Esta casa tipo chalé classicista situava-se num pomar de<br />

aproximadamente 9.mil metros quadrados, repletos de árvores frutíferas tais<br />

como: jaqueiras, mangueiras, coqueiros, jambeiros, cajueiros, sapotizeiros,


60<br />

bananeiras, etc., como também de plantas decorativas entre as quais<br />

destacamos os imbés e as palmeirinhas.<br />

A casa foi destinada ao Instituto de Pesquisas Sociais - Inpso, hoje<br />

Diretoria de Pesquisas Sociais – Dipes, que na época sofreu certo desconforto<br />

por parte de alguns servidores que se queixavam, dentre outros problemas, de<br />

constantes reações alérgicas provocadas por mofo e mordidas de inseto,<br />

provenientes da localização do imóvel em um sítio de grandes proporções.<br />

Todavia essa fase foi passageira. A questão foi solucionada em curto prazo de<br />

tempo, através de novas técnicas construtivas e materiais isolantes<br />

apropriados, que se supõem desconhecidos ou não utilizados no momento da<br />

construção primitiva dessa casa.<br />

No transcorrer do tempo, essa área verde vem sendo utilizada pelos<br />

servidores da casa como área de recreação, amenização e de circulação entre<br />

os imóveis desse câmpus, comprovando assim a necessidade do ser humano<br />

em manter-se ligado á natureza.<br />

A Fundaj construiu uma pequena praça, hoje totalmente<br />

descaracterizada, denominada de “Gleide Guimarães”, em homenagem a uma<br />

colega pesquisadora falecida na década de 1990.<br />

Praça Gleide Guimarães<br />

No final de 2008, foi elaborado projeto <strong>para</strong> instalação, no sítio da casa<br />

Jorge Tasso Neto, de uma garagem <strong>para</strong> guarda e manutenção dos veículos<br />

oficiais e de um estacionamento <strong>para</strong> autopasseio dos servidores. São funções<br />

novas que deverão conviver com a de permanecer um jardim histórico: local de<br />

memória e reflexão. Usos de naturezas diferentes e certamente incompatíveis<br />

de conviverem num mesmo ambiente.<br />

Jardim da Casa Jorge Tasso Neto, 2009


61<br />

Encontram-se ainda, no universo desses jardins, alguns bancos de<br />

alvenaria com revestimento em azulejo português e duas cabeças de leão, em<br />

estrutura de cimento e ferro apoiados nos pilares que ladeiam a escada que dá<br />

acesso ao interior da casa Jorge Tasso Neto. Essas peças foram doadas à<br />

Fundaj, na década de 1980, pela pesquisadora Miriam Brindeiro.<br />

Complementa ainda a área verde do Câmpus Anísio Teixeira o jardim da<br />

casa da Rua Itatiaia. Sua dimensão é bastante reduzida. Abrange apenas os<br />

recuos normais de uma residência construída no século XX. Atualmente<br />

encontra-se desativado, com pouca vegetação e desconhecido do público<br />

frequentador do ambiente.<br />

Muita sombra, flores, frutos, passarinhos e até sagüis, convivem neste<br />

sítio e jardins circunvizinhos, cuja manutenção atualmente, vem sendo<br />

executada por firmas terceirizadas.<br />

RELAÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS DO JARDIM DO CÂMPUS ANÍSIO<br />

TEIXEIRA<br />

1. Árvores frutíferas de grande, médio e pequeno portes, segundo<br />

denominação popular local:<br />

1.1 Abacateiro<br />

1.2 Abieiro<br />

1.3 Acerola<br />

1.4 Aroeira<br />

1.5 Baobá em crescimento<br />

1.6 Cacaueiro<br />

1.7 Cacaueiro<br />

1.8 Cajazeira<br />

1.9 Cajueiro<br />

1.10 Fruta-pão<br />

1.11 Goiabeira<br />

1.12 Jambeiro<br />

1.13 Jaqueira<br />

1.14 Laranjeira<br />

1.15 Mangueira<br />

1.16 Oliveira<br />

1.17 Pinheira<br />

1.18 Pitangueira<br />

1.19 Pitombeira<br />

1.20 Ubaia<br />

2. Árvores ornamentais de grande, médio e pequeno portes.<br />

2.1 Acácia Imperial<br />

2.2 Aroeira<br />

2.3 Balãozinho<br />

2.4 Barriguda<br />

2.5 Café-de-salão<br />

2.6 Canela


62<br />

2.7 Flamboyant<br />

2.8 Gameleira<br />

2.9 Jasmim vapor<br />

2.10 MAGNÓLIA<br />

2.11 Mussaenda<br />

2.12 Pau-brasil<br />

2.13 Umbaúba (árvore da preguiça)<br />

3. Palmeiras<br />

3.1 Palmeira-coquinho<br />

3.2 Palmeira-da-Índia<br />

3.3 Palmeira imperial<br />

3.4 Palmeira-leque<br />

3.5 Palmeira vermelha<br />

4. Outros tipos de vegetação característica da Mata Atlântica, do Agreste e do<br />

Sertão Nordestinos.<br />

4.1 Avenca (diversas)<br />

4.2 Bananeira-de-jardim<br />

4.3 Crótons diversos<br />

4.4 Dracena<br />

4.5 Espada-de-São-Jorge<br />

4.6 Gravatá<br />

4.7 Helicônia<br />

4.8 Jasmim alfinete<br />

4.9 Jibóia<br />

4.10 Panamá<br />

4.11 Papoulas<br />

4.12 Pau-d’água<br />

4.13 Pingo-de-ouro<br />

4.14 Sombreiro de rosa amarela<br />

4.15 Sombreiro de rosa vermelha<br />

Conhecendo todo esse patrimônio verde, apreciando essa belíssima e<br />

diversificada vegetação existente nesse câmpus e tendo a consciência da<br />

necessidade de preservar a natureza e o meio ambiente, somos instados a nos<br />

perguntarmos: como será o aspecto paisagístico, histórico e cultural desse<br />

câmpus futuramente, se não garantirmos a sua preservação no presente?<br />

Todos sabem que essa área de jardim, apesar dos portões que lhe<br />

garantem certa privacidade, é um patrimônio público e, como tal, é de todos.<br />

Mas cabe a nós, como servidores públicos, o dever de preservar, cuidar,<br />

estudar e divulgar a memória desse espaço.


63<br />

O SÍTIO HISTÓRICO DO ENGENHO MASSANGANA<br />

Casa-Grande do Engenho Massangana, 2009<br />

O conjunto arquitetônico do Engenho Massangana está implantado em<br />

um sítio caracterizado por elevações de alturas diferentes, marcando um<br />

horizonte sinuoso e profundo. Sua história é semelhante à de vários outros<br />

engenhos da Zona da Mata Sul pernambucana. Inicialmente, era a floresta<br />

tropical habitada pelos indígenas, rica em árvores frutíferas e madeiras nobres,<br />

que serviram, na época, <strong>para</strong> alimentar as caldeiras dos muitos engenhos de<br />

açúcar que os portugueses montaram naquela região, e em seguida a<br />

conquista portuguesa, o desmatamento e a implantação do engenho de canade-açúcar.<br />

Terras do Engenho Massangana, 2009<br />

O Engenho Massangana, com 10 hectares de terra desmembrada da<br />

Mata Atlântica, representa o mais importante acervo histórico-ambiental desta<br />

<strong>Fundação</strong>. Destaca-se pelo valor arquitetônico de suas edificações do século<br />

XIX, por estar vinculado à figura do abolicionista <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> e pela beleza<br />

de sua paisagem que é de certa forma excepcional e até inesquecível,<br />

dependendo do valor sentimental e da capacidade de olhar além do que é<br />

material e assim poder conseguir entender e sentir como era a vida daqueles<br />

que ali viveram, ver como eles viam e sentir como eles sentiram.<br />

<strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> retratou muito bem essas impressões em um dos seus<br />

principais livros, Minha formação, em que relata: “a terra era uma das mais<br />

vastas e pitorescas da zona do Cabo”... “Nunca se me retira da vista esse pano<br />

de fundo que representa os últimos longes de minha vida.”


64<br />

Esse engenho, de propriedade de Dona Anna Rosa Falcão de Carvalho,<br />

madrinha de <strong>Nabuco</strong>, tinha na cana-de-açúcar sua principal matéria-prima,<br />

produzindo o conhecido “ouro branco”. Depois, com a <strong>para</strong>lisação das<br />

atividades industriais, transformou-se em engenho de “fogo morto”, fornecedor<br />

da cana <strong>para</strong> a usina Santo Inácio, localizada no município do Cabo de Santo<br />

Agostinho. Em seguida, sua desapropriação, doação e tombamento pelos<br />

órgãos competentes do Governo do Estado já citados anteriormente, até a sua<br />

incorporação ao patrimônio arquitetônico da Fundaj.<br />

Nessa paisagem local, predominava a monocultura da cana-de-açúcar e<br />

uma vegetação arbustiva de grande porte, nas partes altas de algumas colinas,<br />

ao sul da sede do Engenho.<br />

Podemos ver ainda atravessando esses campos o Rio Massangana, que<br />

deu origem ao nome do engenho. Esse rio é formado pela confluência do Rio<br />

Tabatinga com o Riacho dos Algodoais, que desemboca ao sul do Cabo de<br />

Santo Agostinho, onde se localizava o antigo porto que transportava açúcar do<br />

Engenho Massangana <strong>para</strong> o Recife e que foi aterrado pelo progresso.<br />

Do passado verde dos extensos canaviais desse engenho, que<br />

antigamente fabricava açúcar mascavo e exportava-o <strong>para</strong> a Europa, quase<br />

que não se percebe mais a sua existência no cenário arquitetônico atual.<br />

Algumas moitas de cana-de-açúcar <strong>para</strong> consumo doméstico se podem ver ao<br />

longe como uma herança nostálgica da rica história pernambucana e brasileira<br />

a impressionar a mente dos que convive e ou visitam o Engenho Massangana.<br />

Estrada de acesso, 2009<br />

Uma estrada de barro batido, do tipo carroçável, como se chamava<br />

antigamente, serve, no presente, como acesso principal ao interior do engenho.<br />

No meio da planície de vegetação rasteira do tipo gramínea, existe um<br />

agenciamento com pavimentação em pedra granilítica rústica, cujo projeto<br />

resultou de uma parceria entre a <strong>Fundação</strong> do Patrimônio Histórico e Artístico<br />

de Pernambuco – Fundarpe, e a Fundaj, nos anos de 1990. Tinha como intuito<br />

proporcionar à comunidade local e ao público visitante aos servidores da<br />

Instituição, uma melhor circulação e integração entre os monumentos<br />

arquitetônicos ali existentes.


65<br />

Panorama do Engenho Massangana<br />

Ao redor dessas edificações históricas, encontra-se ainda uma vegetação<br />

típica da Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco, composta de árvores<br />

ornamentais e frutíferas de grande porte, tais como mangueira, oliveira,<br />

coqueiro, araçás, etc.<br />

Capela de São Matheus, 2009<br />

Das três palmeiras quase em linha reta, que desciam a pequena ladeira<br />

na frente da igreja, bem como um coqueiro, uma palmeira de ouricuri ou catolé<br />

e uma carnaubeira, somente esta última mais perto da capela subsiste.<br />

Existem também, ao longo do caminho da via principal, árvores seculares<br />

do tipo Baobá, árvore africana trazida <strong>para</strong> o Brasil provavelmente pelos<br />

escravos, e que se destaca das demais pela capacidade de armazenamento de<br />

água dentro do seu tronco chegando a alcançar até 120 mil litros.<br />

Fonte ;http://pt.wikipedia.org/wiki/Adansonia


66<br />

O jardim do pátio interno da casa-grande dá uma ambiência física<br />

aconchegante à circulação interna da casa. É atualmente a única área verde de<br />

composição ajardinada existente no cenário arquitetônico-paisagístico.<br />

Jardim interno da casa-grande do Engenho Massangana<br />

Um plantio desorganizado de bananeiras do tipo banana-anã se avista<br />

por trás dos alojamentos e na divisa das terras do engenho com o Complexo<br />

Industrial Portuário de Suape.<br />

Terras do Engenho Massangana, 2009<br />

Mais adiante, as áreas de difícil acesso, correspondente aos terrenos<br />

alagáveis cortados pelo percurso do rio que nos reporta novamente a <strong>Nabuco</strong>:<br />

”Era por essa água quase dormente sobre os seus largos bancos de areia que<br />

se embarcava o açúcar <strong>para</strong> o Recife; ela alimentava perto da casa um grande<br />

viveiro, rondado pelos jacarés...”<br />

A reconstituição do Engenho Massangana pela Fundaj em 1984 fez com<br />

que ele sobrevivesse até os dias de hoje. Sua utilização pública procura entre<br />

outras atividades, manter e preservar a história da memória de <strong>Joaquim</strong><br />

<strong>Nabuco</strong>, uma das figuras mais eminentes da história brasileira; assim como o<br />

despertar na sociedade a importância da consciência ambiental <strong>para</strong> o nosso<br />

País e o mundo.


67<br />

6 A DENOMINAÇÃO DOS PRÉDIOS E CÂMPUS<br />

Comenta-se, segundo pesquisa oral, realizada entre os servidores mais<br />

antigos da <strong>Fundação</strong>, que era característica de Gilberto Freyre, denominar os<br />

espaços físicos do IJNPS, com o nome de pessoas amigas e colaboradores,<br />

como forma de prestigiá-los pelo que foram ou fizeram pelo Instituto e/ou pelo<br />

que representavam nos cenários socioculturais regional e nacional. Essa<br />

particularidade do criador da Instituição foi também assimilada pelo seu filho,<br />

Fernando de Mello Freyre, que, enquanto foi presidente da Fundaj, manteve<br />

esse procedimento. Dessa forma, surgiram as tantas denominações pessoais<br />

que se encontram espalhadas por todos os ambientes do patrimônio físico<br />

institucional. Todas elas, determinadas em resolução pelo antigo Conselho<br />

Diretor, atual Conselho Deliberativo. Pode-se considerar que cada uma dessas<br />

personalidades contribuiu com sua história e/ ou característica particular com a<br />

história e/ou missão da <strong>Fundação</strong>.<br />

Dentre tantas personalidades significativas e credoras de inegáveis<br />

dimensões históricas, educacionais e culturais, denominando o patrimônio<br />

arquitetônico da Fundaj, destacamos aqueles que denominaram os câmpus e<br />

os edifícios aqui apresentados, <strong>para</strong> contarmos um pouco de sua vida e o que<br />

fizeram pela memória e identidade cultural brasileira.<br />

Anísio SpínolaTeixeira<br />

Nascido em Catité, no sertão da Bahia, no dia 12 de julho de 1900, filho<br />

de Deocleciano Pires Teixeira e de Anna Spínola Teixeira. Bacharelou-se em<br />

Direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Especializou-se em<br />

Educação estudando na França, Bélgica, Colômbia e Estados Unidos. No<br />

Brasil, destacou-se principalmente no campo educacional. Exerceu como<br />

gestor diversos cargos públicos no Governo Federal, destacando-se como<br />

secretário-geral da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de<br />

Nível Superior (Capes) e diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos<br />

(Inep). Escreveu: Educação progressiva: uma introdução à filosofia da<br />

educação; Educação <strong>para</strong> a democracia: introdução a administração escolar;<br />

A educação e a crise brasileira; Educação não é privilégio; Educação é um<br />

direito; Educação no Brasil e o mundo moderno. Morreu no Rio de Janeiro, em<br />

11 de março de 1971.<br />

Arthur Orlando da Silva


68<br />

Nascido no dia 29 de julho de 1858, no Recife (PE), filho do tenente<br />

José Caetano da Silva e Belarmina Augusta de Moraes de Mesquita Pimentel<br />

da Silva. Formou-se pela Faculdade de Direito do Recife, aos 23 anos de<br />

idade. Dedicou-se à advocacia e ao jornalismo. Foi discípulo e amigo de Tobias<br />

Barreto. Destacou-se em várias atividades, principalmente, no campo<br />

educacional, jornalístico, político e jurídico. Participou ativamente da vida<br />

cultural de Pernambuco e do País. Foi sócio-fundador da Academia<br />

Pernambucana de Letras, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e<br />

Geográfico Pernambucano e da Academia Brasileira de Letras, <strong>para</strong> a qual foi<br />

eleito em 1907, ocupando a Cadeira 25. Escreveu: Filocrítica; O meu álbum;<br />

Ensaios de critica; Propedêutica político-jurídica; Novos ensaios; Panamericanismo;<br />

Porto e cidade do Recife e Brasil, a terra do homem. Morreu no<br />

Recife, no dia 27 de março de 1916.<br />

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia<br />

Nascido no dia 5 de junho de 1863, na fazenda Boa Vista, município de<br />

Ipu (CE). Filho natural de Delmiro Porfírio de Farias e Leonilda Flora da Cruz<br />

Gouveia. De origem humilde, teve que começar a trabalhar cedo <strong>para</strong> se<br />

manter e ajudar a mãe. Destacou-se no comércio e na exportação de couro e<br />

peles, se tornando um rico empresário e ficando conhecido como o Rei das<br />

Peles na Região Nordeste. No Recife, adquiriu, em Apipucos, um palacete que


69<br />

o denominou de Vila Annunciada, em homenagem à sua primeira esposa. Foi<br />

responsável pela urbanização do bairro do Derby, onde construiu o mercado<br />

Coelho Cintra, atualmente quartel general da Policia Militar do Recife. Em<br />

Alagoas, construiu fábrica têxtil; uma pequena usina geradora de eletricidade e<br />

introduziu o automóvel no Sertão brasileiro. Morreu no dia 10 de outubro de<br />

1971, aos 54 anos de idade.<br />

Dolores Salgado de Sousa<br />

Nascida no Recife, em 25 de dezembro de 1889. Filha de Francisco<br />

Salgado Braz e de Carmem Lopes Salgado. Uma mulher culta, inteligente,<br />

descendente de família espanhola e bem à frente das mulheres de sua<br />

geração. Era conhecida como a “matriarca de Apipucos” e a dona do “imóvel<strong>para</strong>íso”.<br />

Casada com Mário Carlos de Souza, empresário do ramo de olarias.<br />

Destacou-se por patrocinar obras sociais e promover grandes eventos em sua<br />

casa da Apipucos. Dentre tantas personalidades aristocratas, militares,<br />

políticas e culturais que freqüentavam suas recepções, destacam-se: o<br />

General-de-exército do Comando da Zona norte sediado no Recife, Osvaldo<br />

Cordeiro de Farias, o sociólogo Gilberto Freyre e a presidente de uma das mais<br />

conceituadas editoras americanas, Blanche Knopf. Morreu no Recife em 1978.<br />

Francisco Ribeiro Pinto Guimarães<br />

Era um dos muitos aristocratas do açúcar que a cidade do Recife<br />

conheceu. Homem culto e descendente de família portuguesa vivia dividindo<br />

boa parte de sua existência entre temporadas nessa cidade e em Paris. Após<br />

sua última ida à capital francesa, em 1874, resolveu construir no Caldereiro,<br />

subúrbio recifense, um luxuoso palacete <strong>para</strong> viver definitivamente. O Solar do<br />

Caldereiro como ficou conhecido se instalou no limite do lote, voltado <strong>para</strong> a<br />

Estrada do Monteiro, hoje Avenida 17 de Agosto. Ao passar dos anos, com a<br />

decadência econômica, o excêntrico senhor de engenho teve que começar a<br />

vender seus pertences, culminando em 23 de abril de 1908, num grande leilão<br />

realizado no Solar dos Guimarães em que foram vendidos móveis, cristais,<br />

porcelanas e obras de arte. Pouco tempo depois, o velho aristocrata começou


70<br />

a perder a sanidade e enclausurou-se no pavimento superior da casa,<br />

recusando visitas e sendo alimentado por seus empregados através de um<br />

cesto com bananas, recebendo daí a alcunha de Chico Macaco, ficando lá até<br />

a sua morte.<br />

Gil de Methódio Maranhão<br />

Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (PE).<br />

Participava dos movimentos estudantis, tendo colaborado <strong>para</strong> fundação da<br />

revista Agitação. Como jornalista, foi um dos colaboradores da revista Cultura,<br />

no período de 1948 a 1954. Trabalhou no Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA,<br />

onde ofereceu sua valiosa colaboração, idealizando e criando o Museu do<br />

Açúcar. Como pesquisador e historiador, era um apaixonado pela história<br />

brasileira em geral e pela nordestina em particular. Quando ocorreu a<br />

transferência do Museu do Açúcar <strong>para</strong> o patrimônio do Instituto <strong>Joaquim</strong><br />

<strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais, o então Diretor do IJNPS, Dr. Fernando de Mello<br />

Freyre, através da portaria nº 038 de 22 de fevereiro de 1978, resolveu<br />

homenageá-lo no nome do prédio onde funcionava o Museu do Açúcar, hoje<br />

prédio do Museu do Homem do Nordeste, por reconhecê-lo não apenas como<br />

um dos que fundaram o Museu do Açúcar, mas um permanente e abnegado<br />

incentivador das suas atividades expressivamente culturais. Morreu em 1974.


71<br />

Gilberto Freyre<br />

Nascido no Recife, no dia 15 de março de 1900, filho do professor e juiz<br />

de direito Alfredo Freyre e de Francisca de Mello Freyre. Bacharelou-se em<br />

Artes Liberais, com especialização em Ciências Políticas e Sociais, na<br />

Universidade de Baylor e mestrado em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais,<br />

na Universidade de Columbia. É considerado um pioneiro da Sociologia no<br />

Brasil. Quando deputado Federal Constituinte, foi autor do projeto que criou o<br />

Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais, hoje <strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong><br />

<strong>Nabuco</strong>. Além de escritor, foi também pintor e jornalista. Foi membro do<br />

Conselho Federal de Cultura desde a sua criação. Recebeu vários prêmios<br />

literários e o título de Doutor Honoris Causa de diversas universidades<br />

brasileiras e estrangeiras. Da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra recebeu o titulo<br />

de Cavaleiro do Império Britânico. Escreveu entre outros; Casa-grande &<br />

senzala; Sobrados e mocambos; Nordeste; O mundo que o português criou;<br />

Ingleses no Brasil; Aventura e rotina; Ordem e progresso; Vida, forma e cor;<br />

homem, cultura e trópico; etc. Morreu no Recife, no dia 18 de julho de 1987<br />

Jorge Jácome Tasso Neto<br />

Nascido em Pernambuco em 25 de maio de 1896. Era o patriarca de<br />

uma das famílias consideradas aristocratas e tradicionais do bairro de Apipucos<br />

que a sociedade recifense conheceu. Sua profissão era o de corretor da Bolsa<br />

de Valores da cidade do Recife. Adquiriu em Apipucos na década de 1920, a<br />

casa de nº. 126 da antiga Ladeira dos Maristas, hoje, em sua homenagem,<br />

denominada de Rua Jorge Tasso Neto. Morreu no Recife, em 22 de agosto de<br />

1971.


72<br />

Renato Carneiro Campos<br />

Nascido em Jaboatão (PE) em 8 de março de 1930, bacharelou-se em<br />

Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Estudou<br />

Sociologia em Paris, com o professor Joffre Dumazedier. Trabalhou, durante<br />

muitos anos, no Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais, hoje<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong>, na qual dirigiu o Departamento de Sociologia. Foi<br />

colaborador de jornais recifenses, entre eles, o Diario de Pernambuco. Ensinou<br />

literatura, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal<br />

de Pernambuco (UFPE). Escreveu: Folhetos populares na zona dos engenhos<br />

de Pernambuco; Ideologia dos poetas populares do Nordeste; Arte, sociedade<br />

e região; Igreja, política e região; Carlos Pena Filho, o poeta da cor. Morreu no<br />

Recife, em 31 de janeiro de 1977.<br />

Ulysses Pernambucano de Mello Sobrinho<br />

Nascido no Recife em 6 de fevereiro de 1892, filho do advogado José<br />

Antônio Gonçalves de Mello e de D. Maria da Conceição de Mello. Era médico<br />

psiquiatra; professor catedrático de Lógica; Psicologia; <strong>História</strong> da Filosofia e<br />

Neuropsiquiatria. Foi pai do historiador José Antonio Gonsalves de Melo Neto,<br />

primeiro diretor do Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas. Foi muitas vezes


mal interpretado em sua visão de cientista social, chegando a ser considerado<br />

persona non grata, durante o Estado Novo. Apesar das amarguras vivenciadas,<br />

sempre encontrou forças <strong>para</strong> lutar por seus ideais. Escreveu: Bases<br />

fisiológicas da ambidestria; As médias de estatura dos escolares em<br />

Pernambuco; As doenças mentais entre os negros de Pernambuco. Morreu no<br />

Rio de Janeiro, no dia 5 de dezembro de 1943, com apenas 51 anos de idade.<br />

73


74<br />

7 PLANTAS ARQUITETÔNICAS DOS IMÓVEIS PRESERVADOS<br />

Ed. Francisco Ribeiro Pinto Guimarães - Bloco Principal


Ed. Delmiro Gouveia<br />

75


Ed. Renato Carneiro Campos<br />

76


Ed. Gil Maranhão - Museu do Homem do Nordeste<br />

77


78<br />

Ed. Dolores Salgado<br />

Pavimento Térreo<br />

Pavimento Superior


Ed. Ulysses Pernambucano<br />

79


80<br />

Casa-grande e Capela do Engenho Massangana<br />

Pavimento térreo


Ed. Jorge Tasso Neto<br />

81


Ed. Arthur Orlando<br />

82


83<br />

Mapa das Zonas de Preservação Ambiental e Histórica do bairro de Apipucos<br />

do Plano Diretor da Cidade do Recife<br />

Trecho onde se encontra situado o Câmpus Anísio Teixeira.


84<br />

8 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />

ASSEMBLÉIA Legislativa do Estado de Pernambuco. Renato Carneiro<br />

Campos. Disponível em: http://www.alepe.pe.gov.br/perfil/links/Renato Carneiro<br />

Campos.htlm.Acesso em 30 jul 2008.<br />

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Graduação II da Universidade Federal de Pernambuco: Centro de Artes e<br />

Comunicação, 1995.<br />

BOLETIM do IJNPS. Nº4. Recife, p.97.1955.<br />

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______. Arthur Orlando. Disponível em:<br />

http://www.fundaj.gov.br/pesquisaescolar. Acesso em 01 ago 2008.<br />

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http://www.fundaj.gov.br/pesquisaescolar. Acesso em 1º ago. 2008.<br />

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FREYRE, Gilberto. Guia prático, histórico e Sentimental da cidade do Recife.<br />

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(Coleção Documentos Brasileiros).<br />

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85<br />

JARDIM Etnográfico no Instituto <strong>Joaquim</strong> <strong>Nabuco</strong> de Pesquisas Sociais. Diario<br />

de Pernambuco, Recife, 08 maio 1955, p.9<br />

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não conhecemos. Rio de Janeiro: Editora da Casa do Estudante do Brasil [s.d],<br />

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Editora Bagaço, 1999.<br />

WEBER, Ângela Távora. Moser: Um artista alemão no Nordeste. Recife: Pool,<br />

1987.

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