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Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

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à “expontânea” - era fun<strong>da</strong>mental que as terras não apenas fossem incultas, mas estatais<br />

e passíveis de privatização por via onerosa. Quer dizer, era necessário que as terras<br />

livres passassem ao domínio do Estado, permanecendo passíveis de privatização. A<br />

explicação de Wakefield para a esta proposição - de resto estranha ao ideário liberal, por<br />

pressupor a intervenção do Estado - era a de que, na ocorrência de homens e terras<br />

livres, seria impossível a combinação 160 do trabalho: ou seja, a acumulação de capital.<br />

Esse raciocínio fica claro em duas situações descritas por Wakefield 161 :<br />

- Uma, refere-se a história de um tal senhor Peel que, mesmo tendo tomado<br />

to<strong>da</strong>s as precauções para assegurar seu empreendimento, tendo levando consigo para<br />

Swan River, Austrália, víveres, meios de produção no valor de 50.000 libras esterlinas,<br />

3.000 trabalhadores, etc., foi surpreendido pelo abandono completo, por parte dos<br />

trabalhadores, ficando o senhor “Peel sem um criado para fazer a sua cama ou<br />

trazer-lhe água do rio 162 .” Comentando essa história, Marx, afirma ironicamente:<br />

“Infeliz Peel, que previu tudo, menos trazer as relações de<br />

produção <strong>da</strong> Inglaterra para Swan River!” 163 .<br />

- A outra situação refere-se às críticas de alguns investidores que estiveram com<br />

o próprio Wakefield no Canadá e no Estado de Nova Iorque, as quais são assim<br />

resumi<strong>da</strong>s:<br />

“Nosso capital estava pronto para muitas operações que exigem<br />

prazo muito longo para sua execução; mas poderíamos começar<br />

essas operações com trabalhadores que, sabíamos, logo nos<br />

<strong>da</strong>riam as costas? Se tivéramos, então, a certeza de contar com o<br />

trabalho continuado desses imigrantes, imediatamente e com<br />

satisfação os teríamos contratado e a alto preço. Aliás, para<br />

contratá-los não era impecilho a certeza de perdê-los;<br />

bastava-nos saber que contávamos com novo suprimento de<br />

trabalhadores, segundo nossas necessi<strong>da</strong>des.” 164<br />

Nesta segun<strong>da</strong> situação narra<strong>da</strong> por Wakefield, ficam ain<strong>da</strong> mais claros, do que<br />

na anterior, os objetivos perseguidos pela colonização sistemática. O risco de perder<br />

alguns trabalhadores que, eventualmente, pudessem se estabelecer como produtores<br />

independentes, não era o maior problema a ser enfrentado pelos investidores<br />

capitalistas; desde que lhes fosse assegurado um fluxo permanente e continuado de<br />

trabalhadores. Isso poderia ser assegurado, segundo Wakefield, usando de uma dupla<br />

estratégia: por um lado, através <strong>da</strong> intervenção do Estado, assegurando a possibili<strong>da</strong>de<br />

de acesso à proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra, sem o que não haveria motivação para atração de<br />

migrantes; por outro, garantindo este acesso, apenas mediante a via onerosa, basea<strong>da</strong> no<br />

160 quer dizer, subordinação por compulsão econômica, como traduz Marx, esse “eufemismo” do economista político<br />

Wakefield.<br />

161 WAKEFIELD, op. cit.<br />

162 Id., Ibidem., p.33.<br />

163 MARX, (op. cit., p. 885). Grifos nossos.<br />

164 Wakefield, England and America. Citado por Marx (op. cit., p. 891)<br />

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