19.03.2015 Views

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sentido específico, que o instituto de sesmarias, no Brasil, não possibilitava a<br />

constituição <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de absoluta <strong>da</strong> terra 30 , mas apenas a posse útil, sujeita a<br />

cláusulas resolutivas. Estas, no caso do Brasil Colonial, eram rigorosas: proibiam o<br />

arren<strong>da</strong>mento, exigiam a residência habitual do concessionário ou prepostos, a cultura<br />

permanente e a respectiva medição, como condições para sua Confirmação pela Coroa.<br />

Proibia, ain<strong>da</strong>, a concessão de mais de uma sesmaria ao mesmo concessionário,<br />

familiares ou herdeiros em linha direta. Tudo isso, além <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des burocráticas e<br />

de natureza geográfica e técnica, contribuía para dificultar o processo de legitimação<br />

<strong>da</strong>s sesmarias recebi<strong>da</strong>s, no período colonial.<br />

To<strong>da</strong>s estas medi<strong>da</strong>s administrativas e jurídicas não foram, outrossim,<br />

suficientes para impedir que as sesmarias, enquanto posses ilegítimas, pudessem ser<br />

amplia<strong>da</strong>s, como, de fato, sempre ocorreu durante todo o período colonial e, sobretudo,<br />

nos primeiros anos após a Independência Nacional. Apesar dessas restrições e<br />

dificul<strong>da</strong>des, como observara Costa Porto, é no instituto <strong>da</strong>s sesmarias "que se baseia<br />

to<strong>da</strong> a história de nossa evolução fundiária. 31 "<br />

Pela análise do texto <strong>da</strong> “Lei de Sesmarias”, a Carta Régia de 1375, que "obriga<br />

a prática de lavoura e o semeio <strong>da</strong> terra pelos proprietários, arren<strong>da</strong>tários, foreiros e<br />

outros, e dá outras providências"; e que, ao mesmo tempo, criava o instituto <strong>da</strong>s terras<br />

devolutas, passíveis de serem transferi<strong>da</strong>s a "quem as lavre, e semeie", verifica-se<br />

como o Estado, diante de uma situação de crise profun<strong>da</strong>, reintroduz formalmente, no<br />

Direito de Proprie<strong>da</strong>de, em Portugal, o instituto do confisco 32 e, implicitamente, vincula<br />

a manutenção e reconhecimento <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de territorial rural ao cumprimento de<br />

determina<strong>da</strong> “função social”, mas, sobretudo econômica, como fica evidente no<br />

seguinte trecho <strong>da</strong> Carta Régia de 1.375:<br />

"Se os senhores <strong>da</strong>s her<strong>da</strong>des não quiserem estar por aquele<br />

arbitramento, e por qualquer maneira o embargarem por seu<br />

poderio, devem perdê-las para o uso comum, a que serão<br />

aplica<strong>da</strong>s para sempre(...). 33 ”<br />

Foi dito: "reintroduz formalmente", no sentido de que, o sistema de sesmarias,<br />

que já se achava consoli<strong>da</strong>do nos costumes do Reino - her<strong>da</strong>do <strong>da</strong> tradição "romana,<br />

visigo<strong>da</strong>, e mesmo, talvez, sarracena, de repulsa ao solo inculto 34 ", - vir a ser<br />

consoli<strong>da</strong>do em Lei no Reinado de D. Fernando, diante de grave crise econômica e<br />

social, como registram, por exemplo, Costa Porto e Virgínia Rau 35 .<br />

Referindo a este problema <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção do direito português diante <strong>da</strong>s<br />

condições concretas do desenvolvimento conturbado do pequeno Reino, Faoro registra<br />

que<br />

30 Ver a respeito deste aspecto o excelente estudo de Roberto Smith. SMITH (1990).<br />

31 COSTA PORTO (S.d.: loc. cit.).<br />

32 NASCIMENTO (1985)<br />

33 In.: MEAF, op. cit. p.356.<br />

34 COSTA PORTO, s.d. p. 26.<br />

35 COSTA PORTO (op. cit.); RAO (1980).<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!