19.03.2015 Views

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

perfil <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> territorial no Brasil. Por um lado, assegurando e<br />

promovendo a “prorie<strong>da</strong>de absoluta” de grandes extensões de terras para cama<strong>da</strong>s, de<br />

fato, privilegia<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> população; por outro, aprofun<strong>da</strong>ndo a excludência social e<br />

provocando a expulsão ilegal de uma imensa massa de pequenos produtores, posseiros e<br />

índios, elevando a um nível jamais conhecido na história agrária brasileira, o processo<br />

de apropriação, concessão e legitimação privilegia<strong>da</strong>s. Instituindo, definitivamente, a<br />

grilagem especializa<strong>da</strong> como meio, método e forma de aquisição e legitimação <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> <strong>da</strong> terra no Brasil.<br />

É neste sentido e contexto que, neste trabalho se defendeu e fun<strong>da</strong>mentou a<br />

hipótese de que o Estatuto <strong>da</strong> Terra jamais contemplou qualquer iniciativa efetiva no<br />

âmbito <strong>da</strong> promoção <strong>da</strong> reforma agrária. Muito pelo contrário. É assim, que a leitura<br />

feita neste estudo a respeito desta problemática diverge <strong>da</strong>quela que supõe que o<br />

Estatuto <strong>da</strong> Terra continha uma efetiva proposta de reforma agrária distributivista e que,<br />

foi subvertido, desvirtuado, tendo o Governo implementado um projeto diferente do<br />

original, desviando a proposta e a reduzindo às iniciativas <strong>da</strong> colonização.<br />

A tese aqui defendi<strong>da</strong> é que esta subversão ocorreu, como foi amplamente<br />

discutido no capítulo 2, no âmbito <strong>da</strong> aprovação <strong>da</strong> Lei 601 de 1850, quando o projeto<br />

de “colonização sistemática” que, efetivamente previa o controle do acesso a terra pelo<br />

Estado, e sua ven<strong>da</strong> a colonos, foi simplesmente reduzido à mera atração de colonos<br />

pobres para servirem nos latifúndios ou desbravarem regiões de fronteira ou de risco. O<br />

Estatuto <strong>da</strong> Terra, neste sentido, apenas foi uma espécie particular de consoli<strong>da</strong>ção<br />

formal e concreta desta proposta em novos termos.<br />

É neste sentido específico que se defendeu a hipótese de que o Estatuto <strong>da</strong><br />

Terra não se resumiu a um ato de “estética política” mas, ao contrário, que o Projeto de<br />

Política Fundiária e de Desenvolvimento Rural contido no mesmo foi efetivamente<br />

implementado pelo Governo, exatamente nos termos propostos. Assim, ao contrário <strong>da</strong><br />

leitura geralmente feita, especialmente no que se refere ao problema <strong>da</strong> reforma agrária<br />

tal como exposta na Mensagem 33 e no Estatuto <strong>da</strong> Terra, ficou demonstrado que a<br />

mesma era, de fato, concebi<strong>da</strong>, apenas, como uma possibili<strong>da</strong>de, entre outras, para a<br />

promoção do desenvolvimento econômico e integração nacional. Por isto pôde ser<br />

reduzi<strong>da</strong> aos procedimentos de colonização e assentamento. Na ver<strong>da</strong>de, a reforma<br />

agrária era concebi<strong>da</strong> apenas com o objetivo de aliviar tensões sociais. Mas era esta,<br />

exatamente, a “reforma agrária” conti<strong>da</strong>, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> e defendi<strong>da</strong> no âmbito do<br />

Estatuto <strong>da</strong> Terra. E neste sentido específico foi, efetivamente implementa<strong>da</strong>. Ou seja,<br />

ficou evidenciado, contrariamente ao que geralmente é colocado, que o Estatuto <strong>da</strong><br />

Terra em nenhum momento, em sua versão leva<strong>da</strong> à ratificação pelo Congresso<br />

Nacional, contemplou uma efetiva reforma agrária democrática e distributivista.<br />

É, enfim, neste contexto que, efetivamente, a proposta de “reforma agrária”,<br />

colonização e desenvolvimento rural, conti<strong>da</strong> no Estatuto <strong>da</strong> Terra foi efetiva e<br />

amplamente implementa<strong>da</strong> pelos Governos Militares. A crítica - de que os Militares não<br />

280

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!