19.03.2015 Views

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

fossem ou não defini<strong>da</strong>s como empresas ou latifúndios pelo INCRA, como pode-se<br />

visualizar com clareza na figura 2.<br />

Portanto, persistiam, sob novas formas, os mesmos processos de alienação,<br />

apropriação e legitimação privilegia<strong>da</strong>s, que sempre caracterizaram to<strong>da</strong>s as Políticas de<br />

Terra e respectivas iniciativas de reorganização <strong>da</strong> estrutura fundiária brasileira postas<br />

em prática desde o fracassado Regulamento de 1854. Este fenômeno ficou<br />

objetivamente esclarecido pelos <strong>da</strong>dos do Quadro 1.B .<br />

Aliás, esse procedimento era facilitado, ao nível <strong>da</strong> formulação legislativa, no<br />

âmbito do Estatuto <strong>da</strong> Terra, pelo construto de “empresa rural” que fora habilmente<br />

formulado como oposto (ain<strong>da</strong> que apenas formalmente) ao de “latifúndio” (“por<br />

dimensão” ou “por exploração”), por um lado, e ao de minifúndio, por outro. Este<br />

procedimento permitia transformar, como num toque de mágica, “latifúndios por<br />

dimensão” em “empresas” e minifúndios em “latifúndios por exploração”. Essa<br />

tipologia, cria<strong>da</strong> no Estatuto Terra e aparentemente coerente enquanto uma formulação<br />

de critérios “técnicos”, na ver<strong>da</strong>de, permitia tornar iguais cousas e, sobretudo,<br />

reali<strong>da</strong>des, profun<strong>da</strong>mente diferentes, como o latifúndio e o minifúndio. Além de<br />

permitir, o que é ain<strong>da</strong> mais relevante e grave, na medi<strong>da</strong> em que se definia como<br />

“causa” fun<strong>da</strong>mental dos problemas rurais a persistência <strong>da</strong> dicotomia “latifúndiominifúndio”,<br />

a colocação de grandes proprie<strong>da</strong>des especulativas e geralmente ilegítimas<br />

e de pequenas explorações de subsistência, na mesma situação de “nocivi<strong>da</strong>de” em<br />

relação ao desenvolvimento <strong>da</strong> agricultura brasileira. Inviabilizava-se, desta forma,<br />

qualquer possibili<strong>da</strong>de de ação jurídica ou administrativa coerente neste âmbito.<br />

E, ain<strong>da</strong> mais relevante, colocava o minifúndio apenas como parte do problema,<br />

enquanto os latifúndios, se eficientemente incentivados, poderiam vir a se constituir em<br />

empresas rurais eficientes e, desta forma, transformarem-se num dos suportes<br />

fun<strong>da</strong>mentais do processo de desenvolvimento rural. Este diagnóstico, tal como<br />

realizado pelo Governo, por outro lado, oferecia aos defensores do latifúndio, a<br />

possibili<strong>da</strong>de de justificarem política e economicamente, a sua existência, ain<strong>da</strong> que<br />

calca<strong>da</strong> na ineficiência.<br />

A necessi<strong>da</strong>de de sua existência, neste sentido, seria justifica<strong>da</strong> na medi<strong>da</strong> em<br />

que, por suposto, eles reuniam as condições potenciais, em termos de área, que, se<br />

adequa<strong>da</strong>mente apoia<strong>da</strong>s pelo Estado, poderiam sustentar o crescimento <strong>da</strong> produção<br />

agropecuária e contribuir para o desenvolvimento nacional mediante a oferta de<br />

produtos, tanto para o consumo interno quanto para a exportação, auxiliando, neste<br />

sentido, a amenizar os problemas <strong>da</strong> “balança de pagamentos”, etc. Ou seja, tinham,<br />

potencialmente, a possibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r respostas rápi<strong>da</strong>s aos incentivos econômicos e as<br />

oportuni<strong>da</strong>des do mercado. Quanto à sua secular ineficiência, esta seria “explica<strong>da</strong><br />

técnica e cientificamente”, como resultado de determina<strong>da</strong>s conjunturas econômicas e<br />

até mesmo e<strong>da</strong>fo-climáticas, etc. Entretanto, sempre e sobretudo como resultado <strong>da</strong> falta<br />

de incentivos por parte do Governo, sobretudo no que se referia à ausência de políticas<br />

adequa<strong>da</strong>s. Especialmente no que se referia à oferta de créditos, preços, subsídios, etc.<br />

251

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!