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Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

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uma espécie particular de “proprie<strong>da</strong>de” estatal, pública. Isso significava, igualmente,<br />

que a partir deste ato formal de toma<strong>da</strong> de posse - um ato não apenas jurídico e político,<br />

mas, sobretudo econômico - deixou de existir, no Brasil, terra adéspota, sem dono.<br />

To<strong>da</strong>s as terras passam, desde então, formalmente, à condição de domínio <strong>da</strong> Coroa<br />

Portuguesa.<br />

Segun<strong>da</strong>, que esta sujeição - jurídica, política e econômica - significava,<br />

objetivamente, que o acesso e a exploração (produtiva ou não) <strong>da</strong>s terras coloniais,<br />

passava, necessariamente, a ser mediados pelo consentimento do Governo de Portugal.<br />

Tratava-se, portanto, de um processo de privatização, de transferência de direitos,<br />

fossem do uso ou, em alguns casos, do próprio domínio, sobre as terras coloniais.<br />

Porque, Portugal, ao deter, juridicamente, a proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Colônia, detinha, “ipso<br />

facto”, o direito de autorizar ou impedir o acesso ou a exploração <strong>da</strong>s terras coloniais,<br />

que eram do seu domínio.<br />

Entretanto, para explorá-las e torná-las produtivas, e desta forma poder auferir<br />

concretamente os frutos desta proprie<strong>da</strong>de colonial, necessariamente, a Coroa<br />

Portuguesa teria que submeter-se às condições objetivas <strong>da</strong>s conjunturas políticas e<br />

econômicas, tanto internas ao Reino quanto, sobretudo internacionais. Estas condições<br />

situavam-se para além <strong>da</strong> vontade do Estado Português e não dependiam, <strong>da</strong> sua<br />

condição de “proprietário formal” <strong>da</strong> Colônia. É nesta conjuntura objetiva que o Estado<br />

Colonial Português se verá obrigado a implementar um determinado e específico<br />

processo de ocupação e exploração <strong>da</strong> Colônia, ao integrá-la ao seu patrimônio.<br />

Portanto, a colonização do Brasil e as formas jurídicas e administrativas concretas,<br />

implementa<strong>da</strong>s pelo Estado Português, para assegurar o seu domínio e a exploração<br />

sobre o espaço colonial, exigirão de Portugal um determinado e específico processo de<br />

colonização. Este processo é fun<strong>da</strong>do no consentimento, ain<strong>da</strong> que oneroso,<br />

possibilitando à determina<strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população portuguesa empreender, em<br />

socie<strong>da</strong>des ou individualmente, o povoamento e a exploração <strong>da</strong> Colônia.<br />

Este consentimento, nas condições objetivas <strong>da</strong> época, implicaram a necessi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> concessão de determinados privilégios, em troca <strong>da</strong> garantia do domínio colonial<br />

português. Disto derivam, os amplos poderes consentidos pelo Estado Português aos<br />

primeiros colonizadores, na ver<strong>da</strong>de, autênticos delegados políticos do Rei. Por outro<br />

lado, estes concessionários, ao receberem, em certo sentido, a transferência do direito de<br />

exploração <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de, estavam, <strong>da</strong> mesma forma, sujeitos às condições objetivas,<br />

impostas pela situação <strong>da</strong> Colônia. Isto significa que, para poderem exercer este direito<br />

de exploração - de proprie<strong>da</strong>de -, necessariamente teriam que promover os meios, antes<br />

de tudo, econômicos, capazes de assegurá-lo. Isto significava que deveriam estes<br />

concessionários, reproduzir o mesmo modelo de realização <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de recebi<strong>da</strong>,<br />

promovendo a concessão de sesmarias para pessoas que pudessem diretamente explorar<br />

a terra e promover a defesa e ocupação <strong>da</strong> Colônia. Desta forma era assegura<strong>da</strong> a<br />

reprodução <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de do sistema.<br />

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