19.03.2015 Views

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de transplantar, para as áreas ain<strong>da</strong> não ocupa<strong>da</strong>s, a mesma<br />

injusta distribuição <strong>da</strong> terra vigente nas regiões já ocupa<strong>da</strong>s’ 483 .”<br />

Esses trechos dos depoimentos de Luís Fernando Cirne Lima e de José<br />

Francisco <strong>da</strong> <strong>Silva</strong>, transcritos e enfatizados no Relatório Final <strong>da</strong> Comissão<br />

Parlamentar de Inquérito do Sistema Fundiário, colocam claramente o cerne <strong>da</strong><br />

contradição embuti<strong>da</strong> no discurso <strong>da</strong> Mensagem 33 e no texto do Estatuto <strong>da</strong> Terra, e<br />

que se refere ao reconhecimento “formal”, pelo Estado, de que a eleva<strong>da</strong> concentração<br />

<strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra e a dicotomia minifúndio-latifúndio são prejudiciais “ao<br />

desenvolvimento econômico e social <strong>da</strong> agricultura” mas que, na prática, age-se de<br />

forma inversa ao diagnóstico, ao promover a reprodução <strong>da</strong> mesma reconcentração em<br />

áreas ain<strong>da</strong> não efetivamente ocupa<strong>da</strong>s pela iniciativa priva<strong>da</strong>. Ou seja, em áreas onde<br />

há predominância de terras públicas e nas quais, se realmente fosse objetivo do Governo<br />

proceder a alguma espécie de reforma agrária, poderia o mesmo ter implementado o<br />

processo de acesso à terra, atendendo ao preceito constitucional referido na Mensagem<br />

33.<br />

Tudo isso significa, como ficou amplamente discutido na capítulo 4, que o<br />

Projeto de Desenvolvimento Rural e de “Reforma Agrária” propostos no âmbito do<br />

Estatuto <strong>da</strong> Terra, efetivamente, caminhavam no sentido <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção de “médias” e,<br />

sobretudo, “grandes” empresas agropecuárias, enquanto formas pretensamente<br />

adequa<strong>da</strong>s a superar a miséria no meio rural. Portanto, que não havia, naquele Projeto, o<br />

objetivo de facilitar o acesso à terra à população sem ou com pouca terra. Pior: sequer<br />

se pretendia assegurar os direitos reais de pequenos posseiros, direitos estes, aliás,<br />

garantidos por todos os diplomas legais e pelas Constituições Brasileiras anteriores a<br />

1967, como amplamente documentado nos diversos capítulos deste estudo.<br />

Antes de entrar na análise de alguns <strong>da</strong>dos sobre o processo de privatização <strong>da</strong>s<br />

terras novas por extratos de área nas diferentes regiões do País, convém fazer alguma<br />

referência a um trecho do Relatório Final <strong>da</strong> Comissão Parlamentar de Inquérito do<br />

Sistema Fundiário, que esclarece exatamente este aspecto <strong>da</strong> questão, referente ao tipo<br />

de proprie<strong>da</strong>de e de dimensões de áreas tais como definidos pelo INCRA:<br />

“(...) Além disso o INCRA prevê para 75/79 a instalação de 4 mil<br />

proprie<strong>da</strong>des-famílias (110 ha) e 1.200 médias empresas (até<br />

3.000 ha) e 120 grandes empresas (até 72 mil ha), perfazendo<br />

um total de mais de 10 milhões de hectares.” 484<br />

483 CÂMARA <strong>DO</strong>S DEPUTA<strong>DO</strong>S, op. cit. p. 10. Grifos nossos.<br />

484 Trecho do Depoimento de José Gomes <strong>da</strong> <strong>Silva</strong>, comentado no Relatório Final <strong>da</strong> CPI do Sistema Fundiário<br />

(CÂMARA <strong>DO</strong>S DEPUTA<strong>DO</strong>S op. cit. p. 5). Apenas para uma ilação sem maiores pretensões, esses <strong>da</strong>dos<br />

significam que o INCRA, pelo menos ao nível de “planejamento” imaginava a seguinte proporção na implementação<br />

destas metas: Proprie<strong>da</strong>des-Família = 440.000 ha; Médias Proprie<strong>da</strong>des = 3.600.000 ha; Grandes Empresas =<br />

12.680.000 ha. Essas metas, embora apenas ao nível <strong>da</strong> “imaginação” dos “Planejadores” dispensam maiores<br />

comentários; e dão uma idéia de como era “pretendi<strong>da</strong>” a ação fundiária na época. É a idéia de reforma agrária e<br />

desenvolvimento rural pretendidos.<br />

236

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!