19.03.2015 Views

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

necessariamente pela “distribuição” de pequenas parcelas 441 de terras, que o processo de<br />

privatização <strong>da</strong>s terras públicas é colocado.<br />

Destarte, apenas tendo em consideração estas características do modelo é que se<br />

poderá compreender as diferentes formas de alienação de terras públicas ou de<br />

legitimação de terras devolutas em poder de particulares, conforme os instrumentos<br />

jurídicos e administrativos legalmente estabelecidos para este mister pelos Governos<br />

Militares.<br />

3.2.3.1. Legitimação de Posses<br />

O processo de legitimação de posses, legalmente assegurado desde o longínquo<br />

instituto de sesmaria e, sobretudo, consagrado na Lei 601 de 1850 442 , sofreu, com a<br />

instituição <strong>da</strong>s normas e regulamentos que se seguiram à promulgação <strong>da</strong> Lei 4.504, de<br />

novembro de 1964, um profundo e imenso recuo. Foram estabeleci<strong>da</strong>s as regras<br />

fun<strong>da</strong>mentais que iriam possibilitar um amplo e sistemático processo ilegítimo (mas,<br />

aparentemente, “legal”) de expulsão dos pequenos posseiros de suas terras de trabalho.<br />

Pelas novas regras e regulamentos estabelecidos a partir de 1964, a legitimacão<br />

de posses <strong>da</strong>r-se-á para áreas de até 100 hectares e consiste, não no fornecimento, pelo<br />

Estado, do título de proprie<strong>da</strong>de, mas em uma Licença de Ocupação (ou Concessão de<br />

Direito Real de Uso, assegurado, em princípio, Constituição Federal de 1967, no seu<br />

Art. 171) 443 , com prazo mínimo de quatro anos, aos posseiros que preenchessem as<br />

exigências de mora<strong>da</strong> habitual e cultura efetiva, diretamente efetua<strong>da</strong>s pelo mesmo e<br />

sua família, desde que não fossem proprietários rurais. Ao final deste prazo, teria ain<strong>da</strong><br />

o posseiro (pequeno posseiro, bem entendido) que comprovar a sua “capaci<strong>da</strong>de para<br />

desenvolver a área”. Ain<strong>da</strong> assim, ele teria apenas a preferência para adquirir o lote,<br />

pagando pelo mesmo o “valor histórico <strong>da</strong> terra nua”, constante na tabela do INCRA,<br />

sujeitando-se além destas, as seguintes condições:<br />

“Art. 29 O ocupante de terras públicas, que as tenha tornado<br />

produtivas com o seu trabalho e o de sua família, fará jus à<br />

legitimação <strong>da</strong> posse <strong>da</strong> área contínua até 100 (cem) hectares,<br />

desde que preencha os seguintes requisitos:<br />

I. não seja proprietário de imóvel rural;<br />

II. comprove mora<strong>da</strong> permanente e cultura efetiva, pelo prazo<br />

mínimo de 1 (um) ano.<br />

1 o A legitimação <strong>da</strong> posse de que trata o presente artigo<br />

consistirá no fornecimento de uma licença de ocupação, pelo<br />

prazo mínimo de 4 (quatro) anos, findo o qual, o ocupante terá a<br />

441 Ou, como dizia o Senhor Roberto Campos, “pela distribuição de um bolo insuficiente”: Ver, o capítulo 5<br />

adiante, onde estes argumentos de Roberto Campo são discutidos. Também, SIMONSEN & CAMPOS (1976),<br />

especialmente o Capítulo X.<br />

442 Ver capítulos 1 e 2 deste estudo.<br />

443 Esta mesma condição é, inclusive, manti<strong>da</strong> na Constituição Federal de 1988, no seu Art. 183, parágrafo 1 o .<br />

218

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!