19.03.2015 Views

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

conjunturalmente, fazer valer seus pontos de vista na Constituição. Assim, através <strong>da</strong><br />

obstrução, no Legislativo, impedem a elaboração <strong>da</strong> necessária regulamentação infra<br />

constitucional e, com ela, a materialização do direito assegurado na Constituição. Esta é<br />

uma prática corrente no Brasil, como se sabe, e que torna ineficaz, por omissão do<br />

Legislativo, parte relevante dos preceitos constitucionais.<br />

Isso significa, por outro lado, que o Estatuto <strong>da</strong> Terra, ao regulamentar o<br />

preceito Constitucional citado, criava, juridicamente, a possibili<strong>da</strong>de para se poder<br />

viabilizá-lo. Ou seja, de por em prática, legalmente, o processo de alienação <strong>da</strong>s terras<br />

devoluta: de privatizá-las. O que não quer dizer que esta regulamentação por si só<br />

assegurasse que isto seria realizado. E, menos ain<strong>da</strong> que este processo de alienação de<br />

terras públicas seria realizado em benefício <strong>da</strong> pequena proprie<strong>da</strong>de ou dos pequenos<br />

posseiros e sem terras. Aliás, os fatos que se seguiram à sua promulgação mostraram<br />

exatamente o contrário. A simples leitura do modelo de desenvolvimento rural<br />

explicitamente insinuado na Mensagem 33 já era suficiente para se verificar que,<br />

naquele contexto, a integração <strong>da</strong> população marginaliza<strong>da</strong> do setor agrícola, não seria<br />

prioritariamente processa<strong>da</strong> mediante a alternativa a uma reforma distributivista de<br />

terras, mas pela alternativa à “modernização” <strong>da</strong> agricultura, pelo incentivo à empresas<br />

rurais, empresas estas, não necessariamente pequenas, ao contrário.<br />

A via escolhi<strong>da</strong>, portanto, era a <strong>da</strong> incorporação <strong>da</strong> população rural pelo<br />

emprego e, não necessariamente pela doação ou distribuição de terras. E pela<br />

dinamização paralela do processo de industrialização e urbanização. Neste contexto,<br />

pode-se concluir que a reforma agrária era, efetivamente, complementar à política de<br />

desenvolvimento rural, e não o contrário. Os fatos e to<strong>da</strong>s as criticas ulteriores à política<br />

fundiária do período militar comprovam essa afirmação. Entretanto esta proposta estava<br />

claramente formula<strong>da</strong> na Mensagem 33, de novembro de 1964.<br />

Com base na regulamentação conti<strong>da</strong> no Estatuto <strong>da</strong> Terra pôde, o Governo,<br />

promover, efetivamente, por um lado, um amplo processo de alienação de terras<br />

devolutas em todo o território nacional 325 e, por outro lado, implementar um amplo e<br />

eficiente conjunto de instrumentos de políticas agrícolas e de crédito rural que,<br />

inegavelmente, deram grande impulso à produção e a produtivi<strong>da</strong>de do setor agrícola<br />

brasileiro. A contraparti<strong>da</strong> <strong>da</strong> implementação deste modelo foi a reprodução, nas “áreas<br />

novas 326 ” incorpora<strong>da</strong>s à agricultura, <strong>da</strong> mesma concentração fundiária. Esta foi a<br />

“reforma agrária”, e, sobretudo agrícola, de fato, feita pelo regime militar. É neste<br />

sentido específico, que não procede a afirmação de que o Estatuto <strong>da</strong> Terra não foi<br />

executado.<br />

325 Esse fato será analisado no capítulo 5, ao ser estu<strong>da</strong>do o problema <strong>da</strong>s terras novas incorpora<strong>da</strong>s ao patrimônio<br />

privado no período 1964 a 1980.<br />

326 Este problema é objetivamente estu<strong>da</strong>do no capítulo 5, adiante.<br />

168

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!