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Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

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presença do Partido Comunista na Região. Quer dizer, não se tratava de uma luta<br />

promovi<strong>da</strong> por “elementos alienígenas”, dotados de “ideologias exóticas” nem mesmo<br />

insufla<strong>da</strong> “irresponsável e demagogicamente” pela SUPRA ou pelo Governo João<br />

Goulart, como tentou fazer crer o discurso de sustentação ideológica do Governo<br />

Castelo Branco 318 .<br />

A presença de militantes de esquer<strong>da</strong> neste, como em outros movimentos<br />

populares de resistência contra a secular opressão e excludência, de que sempre foram<br />

vítimas os pobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e do campo, é muito mais conseqüência, do que causa, <strong>da</strong><br />

radicali<strong>da</strong>de assumi<strong>da</strong> por esses movimentos. Portanto, tais argumentos aparecem,<br />

claramente, como o pretexto para se mover novas formas de extermínio, de “cerco e<br />

destruição” . As causas sempre foram a excludência social dos pobres, o desrespeito aos<br />

seus direitos de proprie<strong>da</strong>de, a violência sistemática contra estes direitos e suas<br />

reivindicações, especialmente, sobre a posse <strong>da</strong>s terras de trabalho, aliás, legalmente<br />

assegura<strong>da</strong>.<br />

Enfim, as causas sempre se fun<strong>da</strong>ram no processo de apropriação privilegia<strong>da</strong> e<br />

de legitimação questionável, como se vem tentando demonstrar neste estudo, que<br />

remonta ao instituto de sesmarias. E, como será evidenciado objetivamente, esse<br />

processo assume novos e mais efetivos contornos no pós-1964, sendo este fato o ponto<br />

fun<strong>da</strong>mental, dentre outros, como é óbvio, <strong>da</strong> análise crítica que se está desenvolvendo<br />

<strong>da</strong> Política Fundiária dos Governos Militares, enquanto continui<strong>da</strong>de, sob novas formas<br />

do mesmo processo de apropriação privilegia<strong>da</strong> e legitimação, juridicamente<br />

questionável, que se vem aprimorando no Brasil desde 1854.<br />

Diversos sempre foram, portanto, os pretextos para se mobilizar as armas <strong>da</strong><br />

repressão violenta e do genocídio contra as populações pobres do meio rural brasileiro:<br />

“acusação de monarquistas”, contra os habitantes de Canudos; “infiltração comunista”,<br />

como nos casos do pobres de Porecatu, do Araguaia, de Trombas do Formoso, <strong>da</strong>s Ligas<br />

Camponesas, dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e tantos outros movimentos<br />

populares no pós-1964. Como se pode concluir pela pequena revisão feita acima,<br />

sempre foram argüidos os mesmos pretextos para justificar a mesma violência contra os<br />

pobres do campo. Apenas, a ca<strong>da</strong> circunstância e dependendo <strong>da</strong>s diferentes conjunturas<br />

ou objetivos políticos dos que o promoveram institucionalmente, mu<strong>da</strong>ndo-se os<br />

pretextos e as justificativas 319 .<br />

318 Ver a respeito a Mensagem n o 33, do General Castelo Branco ( Loc. cit.).<br />

319 Fugiria aos objetivos deste estudo a análise detalha<strong>da</strong> dos diversos movimentos de resistência popular no campo<br />

e <strong>da</strong>s formas de violência (oficial e priva<strong>da</strong>) usa<strong>da</strong>s para reprimí-los. A abor<strong>da</strong>gem, feita acerca do Caso do Oeste do<br />

Parará teve, apenas, o objetivo de exemplificar a historici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s lutas <strong>da</strong>s populações rurais em defesa de seu<br />

legítimo e legal direito à proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra onde residem e trabalham. Assim, a idéia é evitar que a abor<strong>da</strong>gem de<br />

casos específicos dêem a impressão de que surgiram naquela determina<strong>da</strong> conjuntura específica, quando na ver<strong>da</strong>de,<br />

a maioria dos focos de tensão social no campo, embora possam aparecer em determinado momento, são pontas de um<br />

“iceberg” que se vinha estruturando desde muito antes; certamente, desde os finais do século passado, como o caso<br />

estu<strong>da</strong>do acima deixou claro. A respeito, especificamente, desses movimentos sociais há uma vastíssima literatura.<br />

Sobre o tema remetemos o leitor, em especial, às seguintes: MARTINS, J.S. (1994; 1993; 1992; 1990; 1983; 1985);<br />

FOWERAKER (1982); IANNI (1979; 1979(a); 1981 e 1984); BASTOS, E. (1984); FACÓ (1980); ARRAES, M.<br />

(S.d.); CARVALHO M. (1980); CONCEIÇÃO, M. (1980); CONTAG (1981 (a); D’INCAO (1983); MEDEIROS,<br />

L.S. (1989); MARIGHELLA, et. alii. (1980); MARTINS, E. (1979); KOTSCHO (1982).<br />

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