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Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

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posse mansa e pacífica de terras devolutas, que corresponderia à “legitimação <strong>da</strong>s<br />

posses”, seria através dos processos discriminatórios. Este assunto será discutido<br />

detalha<strong>da</strong>mente neste capítulo.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, foi através dessas alternativas que as grandes posses sempre se<br />

consoli<strong>da</strong>ram e legitimaram, em ver<strong>da</strong>deiros e sistemáticos processos de grilagem<br />

especializa<strong>da</strong> 306 <strong>da</strong>s terras públicas. É evidente que estas ações, também tiveram seus<br />

efeitos sobre uma infini<strong>da</strong>de de pequenas posses mansas e pacíficas de pequenos<br />

produtores familiares, que sempre se instalaram pelos sertões do Brasil, desde tempos<br />

imemoriais. Assim, o privilégio na apropriação e legitimação, por um lado, e a violência<br />

sistemática contra os pequenos posseiros, por outro, sempre foram os meios para a<br />

consoli<strong>da</strong>ção dos latifúndios em todos os rincões deste país e a causa original dos<br />

conflitos pela terra no Brasil.<br />

Em suma, a rápi<strong>da</strong> recapitulação, feita acima, <strong>da</strong>s formas de luta pela terra e de<br />

acesso à proprie<strong>da</strong>de rural, já estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s nos capítulos anteriores, teve apenas o objetivo<br />

de introduzir a assertiva de que, no Brasil, para os pequenos posseiros, a luta pela terra,<br />

sempre se constituiu em uma guerra constante, permanente, sistemática, sem fronteiras.<br />

Sobretudo, uma guerra sem quartel, sem regras jurídicas defini<strong>da</strong>s, sem ética. Sempre<br />

foi uma guerra trava<strong>da</strong> fora <strong>da</strong> Lei: uma “guerra suja” 307 .<br />

Afora os casos limites de lutas dos pobres rurais contra a opressão por meio de<br />

movimentos messiânicos, cangaços etc., que poderiam ser considerados como uma<br />

espécie de “proto-história” <strong>da</strong> resistência dos pobres do campo no Brasil, a sua luta pela<br />

terra e pelo trabalho começa a organizar-se, politicamente, na segun<strong>da</strong> metade deste<br />

século. Até porque, com o desenvolvimento econômico do país, especialmente após a<br />

Segun<strong>da</strong> Guerra, e sobretudo no período Kubitschek, em face <strong>da</strong> transferência <strong>da</strong><br />

Capital Federal para a região Centro-Oeste e do intensivo programa de rodovias<br />

implementado, passou-se, ca<strong>da</strong> vez mais, a apertar o cerco contra a massa de pequenos<br />

posseiros dos distantes sertões, sobretudo, na medi<strong>da</strong> em que vastas áreas do território<br />

brasileiro passaram a ser incorpora<strong>da</strong>s à economia nacional, senão produtivamente, pelo<br />

menos especulativamente, pela implementação de grandes projetos de obras públicas,<br />

especialmente, ferrovias, açudes e rodovias 308 .<br />

306 No capítulo 5 são feitas referências a respeito <strong>da</strong> grilagem no Brasil pós-1964.<br />

307 Ver a respeito dessas formas específicas de Grilagem e Violência, entre muitos outros, os trabalhos de ASSELIN,<br />

V (1982); MARTINS, E. (1979 e 1972 ); PUREZA (1982); KOTSCHO (1982); PEREIRA (1971) e MOVIMENTO<br />

<strong>DO</strong>S TRABALHA<strong>DO</strong>RES RURAIS SEM TERRA (1987).<br />

308 Neste sentido, vale a pena, mais uma vez, citar o Presidente do INCRA Paulo Yokota, ao proclamar<br />

elogiosamente que: “Nem todos os brasileiros possuem a clara consciência de que nestas três<br />

déca<strong>da</strong>s, o Brasil dobrou efetivamente de dimensão. Desde 1500 a 1960, portanto, em 460 anos,<br />

ocupou-se a metade litorânea, e alguns pontos isolados junto a alguns rios interiores (...) A partir dos anos<br />

70, a ocupação do Centro-Oeste e <strong>da</strong> Amazônia passou a ser sistemática e contínua. Aragarças,<br />

Jacareacanga, entre outros, eram pontos somente conhecidos pelos pioneiros <strong>da</strong> FAB, e ligados a alguns<br />

acontecimentos políticos. Hoje, a ocupação entre Brasília e Cuibá é sistemática (...) O Brasil dobrou de<br />

tamanho em três déca<strong>da</strong>s” (YOKOTA. Op. cit., pp.7 e 8. Grifos nossos).<br />

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