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Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

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iniciativa. Por outro lado os grandes proprietários de terras<br />

estavam bem representados em todos os níveis<br />

governamentais, <strong>da</strong>í resultando o aumento do número dos<br />

inimigos ativos do presidente sem que conseguisse realizar<br />

qualquer reforma.” 299<br />

É nesse contexto, que a resistência dos pequenos agricultores sem terra ou com<br />

pouca terra, dos trabalhadores rurais e, sobretudo, dos posseiros, começa, no pós-guerra,<br />

a assumir novas formas de organização e de luta. A politização destas lutas sociais no<br />

campo começa a assustar, ca<strong>da</strong> vez mais, as oligarquias agrárias e as elites políticas<br />

conservadoras, em particular, os militares. Sobretudo, na medi<strong>da</strong> em que passava a<br />

articular os movimentos e reivindicações rurais com as lutas urbanas, especialmente no<br />

âmbito sindical, oferecendo, desta forma, maior organici<strong>da</strong>de às reivindicações de<br />

acesso às terras, em particular, as devolutas. Por outro lado, ganha certa expressão as<br />

reivindicações de direitos trabalhistas e a extensão destes ao campo 300 , particularmente<br />

no Nordeste.<br />

Mais uma vez, e desta vez de forma sistemática e organiza<strong>da</strong>, os pequenos<br />

posseiros e trabalhadores rurais procuram garantir o seu direito de permanência ou<br />

acesso à terra e aos frutos do seu trabalho, em franca oposição ao livre acesso, que<br />

sempre tiveram à terra e à subordinação do trabalho, os latifundiários, os “grandes<br />

posseiros” privilegiados. Nesse sentido, tem razão José de Souza Martins ao afirmar<br />

que:<br />

“Depois de déca<strong>da</strong>s de imobilismo, quebrado eventualmente<br />

pelos movimentos messiânicos e por anárquicas manifestações<br />

de banditismo rural no Nordeste, mas também em São Paulo e<br />

Santa Catarina, os trabalhadores rurais de várias regiões, durante<br />

os anos cinqüenta, começaram a manifestarem-se de modo<br />

propriamente político.” 301<br />

O que se quer realçar, com as referências acima, é o fato de que a luta pela terra,<br />

em particular, e os movimentos de resistência dos pobres do campo, de modo geral,<br />

sempre estiveram presentes no Brasil. Portanto, tratavam-se de questões e de problemas<br />

que não eram, em nenhum sentido, uma novi<strong>da</strong>de no contexto <strong>da</strong> conspiração de 1964,<br />

nem, menos ain<strong>da</strong>, produtos de ações ou de omissões delibera<strong>da</strong>s do Governo João<br />

Goulart.<br />

A novi<strong>da</strong>de, em relação ao problema, residia no fato de que as reivindicações<br />

dos pequenos posseiros, pequenos proprietários e trabalhadores rurais passaram a<br />

assumir formas reivindicatórias organiza<strong>da</strong>s e públicas, fugindo, assim, ao estrito<br />

arbítrio <strong>da</strong> patronagem. Até então, a luta efetiva pela proprie<strong>da</strong>de territorial e pela<br />

299 SKIDMORE, T. (1988/1994, pp. 26 e 27). Grifos nossos.<br />

300 Que, como se viu na citação acima, havia sido levanta<strong>da</strong> na gestão Vargas, em 1954, <strong>da</strong>ndo origem à que<strong>da</strong> do<br />

Ministro do Trabalho, João Goulart.<br />

301 MARTINS, J. S. (1994, p. 60). Grifos nossos.<br />

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