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Alberto da Silva Jones O MITO DA LEGALIDADE DO LATIFÚNDIO ...

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não só de <strong>da</strong>r cobertura a um tal programa como de levá-lo às conseqüências<br />

mais objetivas.” 272<br />

Deste modo (como no Governo Vargas) a “política do possível” - na<br />

interpretação de Maria Vitória de Mesquita Benevides, no que é segui<strong>da</strong> por Aspásia<br />

Camargo - parece ter sido a de conseguir <strong>da</strong> facção ruralista uma posição de<br />

neutrali<strong>da</strong>de diante do Programa de Metas, em troca <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong>s<br />

relações sociais no campo.” 273 A tentativa de aplicação por medi<strong>da</strong> legislativa <strong>da</strong>s<br />

Leis trabalhistas ao campo, feita pelo PTB, é bloquea<strong>da</strong>, no governo Juscelino e só será<br />

aprova<strong>da</strong> no governo Jânio Quadros. A estratégia conciliadora do governo Kubitscheck,<br />

implicou significativo reforço do Departamento Nacional de Obras Contras as Secas<br />

(DNOCS), autarquia Federal, que esteve sempre sob o controle oligárquico 274 , e a<br />

criação <strong>da</strong> Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste, sob direção de Celso<br />

Furtado, declara<strong>da</strong>mente avesso à Reforma Agrária:<br />

“É certo que as concepções que norteiam a criação <strong>da</strong> SUDENE<br />

não implicam ataque frontal à má distribuição <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de do<br />

Nordeste. Enfatizando, porém, uma estratégia global de<br />

racionalização <strong>da</strong> produção agrícola (combina<strong>da</strong> à implantação<br />

industrial e à expansão <strong>da</strong>s fronteiras agrícolas) o objetivo é<br />

confinar a resolução dos conflitos sociais à tensa Zona <strong>da</strong> Mata,<br />

onde se pretende ao mesmo tempo estimular a elevação <strong>da</strong><br />

produtivi<strong>da</strong>de e liberar parte <strong>da</strong>s terras para o cultivo familiar<br />

de alimentos” (...) “a intenção é diluir medi<strong>da</strong>s mais<br />

redistributivas e conflituosas no bojo de um amplo programa<br />

em que muitos interesses serão beneficiados e poucos<br />

radicalmente descartados.” 275<br />

Não obstante, se aos interesses industriais contemplados no Programa de Metas<br />

contentava o mero controle <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s cambiais produzi<strong>da</strong>s por uma agricultura<br />

latifundiária volta<strong>da</strong> à exportação e já estruturalmente esgota<strong>da</strong>, os demais interesses e a<br />

Socie<strong>da</strong>de abriram, no apagar <strong>da</strong>s luzes do governo Juscelino, um amplo debate sobre a<br />

proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra e o conseqüente distino histórico <strong>da</strong>s massas excluí<strong>da</strong>s no campo.<br />

As organizações dos trabalhadores rurais expandem-se e no governo seguinte, de Jânio<br />

Quadros, o debate é retomado em um âmbito mais vasto e complexo, ao efetivar-se<br />

também fora dos quadros institucionais oficiais - Executivo e Congresso. Ao mesmo<br />

tempo, como avalia Aspásia Camargo, é possível deslocar do “governo Goulart para o<br />

governo Jânio o início <strong>da</strong> implementação de um programa oficial de reformas,<br />

que se frusta em virtude de sóli<strong>da</strong>s resistências que encontra no Congresso, na<br />

Socie<strong>da</strong>de Civil, e no âmbito do próprio Estado (Executivo).” Como diz Camargo,<br />

torna-se necessário “captar o impacto <strong>da</strong>s propostas de Reforma Agrária como<br />

272 Id. Ibidem.<br />

273 Idem, p. 155.<br />

274 Cf. Francisco de Oliveira. Elegia para uma re(li)gião. Sudene, nordeste, planejamento e conflito de classes. Rio<br />

de Janeiro: Paz e Terra, 1977.<br />

275 CAMARGO A.A., op. cit., p. 165. Grifos nossos.<br />

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