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Economia<br />
O Político e o Técnico<br />
A gestão pública tem que procurar equilibrar<br />
os aspectos políticos e técnicos e isto, às vezes,<br />
não é fácil. O governo central nos demonstra hoje<br />
o que acontece quando os dois estão desalinhados<br />
com o agravante de nenhum dos dois lados<br />
funcionar bem. A reação nestas situações: conversas<br />
e acordos no aspecto político e muito trabalho<br />
no aspecto técnico.<br />
Aí confessamos nossa decepção durante o<br />
período de carnaval. Esperamos uma reunião convocada<br />
para discutir questões técnicas como pacote<br />
fiscal, contenção de gastos e investimentos<br />
para enfrentar as dificuldades econômicas e até<br />
algumas visitas e encontros entre PT e PMDB para<br />
aparar as arestas. Pois bem, os principais mandatários<br />
do país optaram por descansar. Uma decisão<br />
equivocada e uma péssima sinalização para o país.<br />
Não se pode afastar durante um período de<br />
festas e aguardar que os problemas vão se resolver.<br />
Eles estão aí e são conhecidos: escândalo da<br />
Petrobrás, crise fiscal, perda de controle da Câmara<br />
dos Deputados, crise hídrica e elétrica, um péssimo<br />
relacionamento com grande parte do PMDB<br />
(que deveria ser o principal aliado do PT). E fiquemos<br />
apenas nestes problemas.<br />
Como enfrentar isto? Tem que trabalhar, tem<br />
que conversar, tem que fazer acordos. Descansar<br />
no carnaval, não.<br />
A presidente da República deveria ter uma<br />
conversa demorada (se é que já não teve) com três<br />
personagens: com seu antecessor, para pedir conselhos<br />
e solicitar que passe a ser um dos principais,<br />
se não o principal, articulador com os partidos da<br />
base aliada. Com seu vice-presidente, começando<br />
por reconhecer que errou e traçando um caminho<br />
para recuperá-lo como seu articulador junto<br />
ao PMDB, hoje função claramente perdida. E com<br />
o novo presidente da Câmara dos Deputados para<br />
traçar uma metodologia de trabalho em conjunto e<br />
estabelecimento de uma pauta mínima para votação<br />
naquela casa. Não serão conversas fáceis.<br />
Com relação ao escândalo da Petrobras, algumas<br />
pautas: assumir o prejuízo inevitável e recuperar<br />
a principal empresa do país. Assumir o prejuízo<br />
traz os aspectos técnico e político. Técnico é apurar<br />
e divulgar o real efeito financeiro sobre a empresa<br />
dos desvios já confirmados. Político é falar à nação,<br />
reconhecendo erros e assumindo compromissos.<br />
Para recuperar a Petrobrás não tem jeito: o governo<br />
central vai inevitavelmente ter que aportar recursos.<br />
Ou tirando de seu orçamento ou autorizando o aumento<br />
dos combustíveis. O caminho é deixar bem<br />
claro porque a Petrobrás precisa ser salva.<br />
Já a crise hídrica e elétrica, que demonstra claramente<br />
uma total falta de planejamento desses<br />
dois setores, politicamente tem um terreno pantanoso,<br />
uma vez que não há nenhuma vertente política<br />
do nosso país que possa dizer que fez o seu<br />
dever de casa. Tecnicamente, há muito trabalho a<br />
ser anunciado e feito. O bom desta crise é que a<br />
população está disposta a ajudar. O lado ruim é que<br />
ela não se esquece de falta de água ou de energia.<br />
Para enfrentar a crise fiscal, não tem outro caminho,<br />
tem que trabalhar e muito. Os novos gestores<br />
escolhidos são competentes, têm boa aceitação<br />
no mercado, têm disposição e estão comprometidos.<br />
Mas não resolverão nada se os principais mandatários<br />
do país ainda preferirem descansar durante<br />
o carnaval. Tirar o país da crise fiscal não é tarefa<br />
somente da equipe econômica do governo central,<br />
sequer é apenas do governo central ou do Executivo.<br />
Passa pelos governos estaduais e municipais e<br />
também muito pelo Legislativo. Aqui, novamente,<br />
o político e o técnico se esbarram e se enfrentam.<br />
Aumentar ou não um tributo? Conceder ou não<br />
um benefício? Realizar ou não um investimento?<br />
Aumentar ou retirar direitos? São situações que<br />
vão se repetir e que dependerão de muita análise e<br />
conversa. Mas tem que trabalhar.<br />
Nosso país não passa por um bom momento.<br />
Sob alguns aspectos até nos envergonha. Mas é<br />
nosso país. Vale a pena trabalhar por ele. Este momento<br />
ruim irá passar.<br />
www.leituradebordo.com.br | Março 2015 | Leitura de Bordo 25