02.03.2015 Views

Samoieda,

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Economia<br />

O Político e o Técnico<br />

A gestão pública tem que procurar equilibrar<br />

os aspectos políticos e técnicos e isto, às vezes,<br />

não é fácil. O governo central nos demonstra hoje<br />

o que acontece quando os dois estão desalinhados<br />

com o agravante de nenhum dos dois lados<br />

funcionar bem. A reação nestas situações: conversas<br />

e acordos no aspecto político e muito trabalho<br />

no aspecto técnico.<br />

Aí confessamos nossa decepção durante o<br />

período de carnaval. Esperamos uma reunião convocada<br />

para discutir questões técnicas como pacote<br />

fiscal, contenção de gastos e investimentos<br />

para enfrentar as dificuldades econômicas e até<br />

algumas visitas e encontros entre PT e PMDB para<br />

aparar as arestas. Pois bem, os principais mandatários<br />

do país optaram por descansar. Uma decisão<br />

equivocada e uma péssima sinalização para o país.<br />

Não se pode afastar durante um período de<br />

festas e aguardar que os problemas vão se resolver.<br />

Eles estão aí e são conhecidos: escândalo da<br />

Petrobrás, crise fiscal, perda de controle da Câmara<br />

dos Deputados, crise hídrica e elétrica, um péssimo<br />

relacionamento com grande parte do PMDB<br />

(que deveria ser o principal aliado do PT). E fiquemos<br />

apenas nestes problemas.<br />

Como enfrentar isto? Tem que trabalhar, tem<br />

que conversar, tem que fazer acordos. Descansar<br />

no carnaval, não.<br />

A presidente da República deveria ter uma<br />

conversa demorada (se é que já não teve) com três<br />

personagens: com seu antecessor, para pedir conselhos<br />

e solicitar que passe a ser um dos principais,<br />

se não o principal, articulador com os partidos da<br />

base aliada. Com seu vice-presidente, começando<br />

por reconhecer que errou e traçando um caminho<br />

para recuperá-lo como seu articulador junto<br />

ao PMDB, hoje função claramente perdida. E com<br />

o novo presidente da Câmara dos Deputados para<br />

traçar uma metodologia de trabalho em conjunto e<br />

estabelecimento de uma pauta mínima para votação<br />

naquela casa. Não serão conversas fáceis.<br />

Com relação ao escândalo da Petrobras, algumas<br />

pautas: assumir o prejuízo inevitável e recuperar<br />

a principal empresa do país. Assumir o prejuízo<br />

traz os aspectos técnico e político. Técnico é apurar<br />

e divulgar o real efeito financeiro sobre a empresa<br />

dos desvios já confirmados. Político é falar à nação,<br />

reconhecendo erros e assumindo compromissos.<br />

Para recuperar a Petrobrás não tem jeito: o governo<br />

central vai inevitavelmente ter que aportar recursos.<br />

Ou tirando de seu orçamento ou autorizando o aumento<br />

dos combustíveis. O caminho é deixar bem<br />

claro porque a Petrobrás precisa ser salva.<br />

Já a crise hídrica e elétrica, que demonstra claramente<br />

uma total falta de planejamento desses<br />

dois setores, politicamente tem um terreno pantanoso,<br />

uma vez que não há nenhuma vertente política<br />

do nosso país que possa dizer que fez o seu<br />

dever de casa. Tecnicamente, há muito trabalho a<br />

ser anunciado e feito. O bom desta crise é que a<br />

população está disposta a ajudar. O lado ruim é que<br />

ela não se esquece de falta de água ou de energia.<br />

Para enfrentar a crise fiscal, não tem outro caminho,<br />

tem que trabalhar e muito. Os novos gestores<br />

escolhidos são competentes, têm boa aceitação<br />

no mercado, têm disposição e estão comprometidos.<br />

Mas não resolverão nada se os principais mandatários<br />

do país ainda preferirem descansar durante<br />

o carnaval. Tirar o país da crise fiscal não é tarefa<br />

somente da equipe econômica do governo central,<br />

sequer é apenas do governo central ou do Executivo.<br />

Passa pelos governos estaduais e municipais e<br />

também muito pelo Legislativo. Aqui, novamente,<br />

o político e o técnico se esbarram e se enfrentam.<br />

Aumentar ou não um tributo? Conceder ou não<br />

um benefício? Realizar ou não um investimento?<br />

Aumentar ou retirar direitos? São situações que<br />

vão se repetir e que dependerão de muita análise e<br />

conversa. Mas tem que trabalhar.<br />

Nosso país não passa por um bom momento.<br />

Sob alguns aspectos até nos envergonha. Mas é<br />

nosso país. Vale a pena trabalhar por ele. Este momento<br />

ruim irá passar.<br />

www.leituradebordo.com.br | Março 2015 | Leitura de Bordo 25

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