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Samoieda,

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Estante<br />

O vinho, entre o sonho<br />

e a realidade<br />

Dos primórdios até os dias de hoje. Quando memórias constroem a história<br />

Da união das penas, como se dizia antigamente,<br />

e da sensibilidade de dois profundos conhecedores do<br />

vinho – Rinaldo Dal Pizzol e Sérgio Inglez de Souza –<br />

vem à lume, pela AGE Editora, o belíssimo Memórias do<br />

Vinho Gaúcho, em três volumes. Trata-se de uma obra<br />

decorrente de profunda pesquisa, buscando desde os<br />

primórdios da vitivinicultura gaúcha – que remonta<br />

para a presença dos Jesuítas pelos idos de 1600.<br />

Revisitar a história é sempre um exercício interessante<br />

e revelador. No caso do vinho, descobre-se que<br />

bem antes da chegada do italianos, já havia uvas e vinhos<br />

no RS – não apenas por conta dos Jesuítas, mas<br />

também os açorianos e os alemães. Outro detalhe que<br />

mostra o cuidado na pesquisa para elaboração da obra:<br />

descobriram em textos perdidos no tempo que as mudas/bacelos<br />

que os primeiros italianos trouxeram ou<br />

morreram/secaram durante a longa travessia ou não<br />

germinaram em terras brasileiras por conta da diferença<br />

climática e de solo. Assim, foi graças aos alemães, de<br />

quem os italianos receberam mudas, que eles puderam<br />

começar a plantação de videiras.<br />

É realmente uma obra de consulta obrigatória<br />

para quem quer conhecer toda essa longa jornada até<br />

chegarmos aos dias de hoje. Percebe-se, pela leitura,<br />

que o trabalho foi cuidadosamente elaborado – tendo<br />

como suporte, além do conhecimento e das pesquisas,<br />

extenso e rico material iconográfico que possibilita a visualização<br />

do desafio enfrentado pelos pioneiros.<br />

Além desse aspecto, ao autores se preocuparam<br />

com o resgate da parte legal do vinho gaúcho,<br />

tanto assim que revelam ter sido o Decreto 3.016, de<br />

25 de agosto de 1922, assinado pelo então presidente<br />

do Estado do RS, Borges de Medeiros, a primeira<br />

legislação brasileira a tratar especificamente da proteção<br />

da qualidade do vinho feito na Serra Gaúcha.<br />

E a razão era simples: comerciantes do Rio e de São<br />

Paulo adulteravam o vinho – misturando com água e<br />

usando corantes para manter a cor natural.<br />

O meticuloso trabalho desenvolvido resgata<br />

aspectos perdidos, na medida em que nós somos,<br />

nos dias atuais, invadidos por uma enxurrada de<br />

informação como se a cada momento estivesse<br />

começando a história. Na atualidade, os fatos<br />

são entregues de modo isolado, cuidadosamente<br />

apresentados como se nada tivesse acontecido<br />

antes deles, dando a eles um caráter de importância<br />

que na realidade não possuem. E o livro consegue<br />

mostrar, numa linha do tempo, como foi difícil<br />

cada passo, como foi árdua cada conquista e o<br />

quanto de sofrimento e desencanto foi vivido por<br />

cada um dos construtores anônimos dessa verdadeira<br />

epopeia do vinho.<br />

Para quem gosta de vinho. Para quem gosta de<br />

história. Para quem gosta de uma boa leitura e de<br />

presentear co elegância, fica uma indicação que certamente<br />

agradará ao leitor mais exigente.<br />

24 Leitura de Bordo | Março 2015 | www.leituradebordo.com.br

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