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Volume 29 No 3 - sbmet

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Boletim SBMET novembro/05<br />

10<br />

pelas instalações de uma engarrafadora da Coca-Cola,<br />

ao sul da cidade. Suas dimensões eram visivelmente<br />

insuficientes para uma aterrissagem segura, mas não<br />

tinha jeito, o tempo se escoava e uma decisão teria que<br />

ser tomada. Em poucos minutos o planador estaria no<br />

solo. A ironia era que eu estava a apenas um quilômetro,<br />

em linha reta, da pista. Enfim, para reclamar não era<br />

mais a hora.<br />

Procurei circular e aproximar-me o mais baixo<br />

possível por sobre a copa das árvores e alguns segundos<br />

depois a roda central do Grunau, sob a fuselagem,<br />

sobressaindo alguns centímetros do esqui, tocou no solo<br />

duro. Comecei a frear com cuidado e, meu Deus, um<br />

susto! Havia vacas pastando exatamente na direção que<br />

desejava seguir e reduzindo o espaço que necessitava<br />

para amortecer a velocidade. Fui me aproximando delas<br />

com rapidez. Os tranqüilos animais nada sabiam do que<br />

estava acontecendo e continuavam quietos e ruminando.<br />

<strong>No</strong> último instante não tive outra coisa a fazer se não<br />

comandar um cavalo-de-pau, isto é, uma guinada brusca<br />

para a esquerda, fazendo com que o planador parasse<br />

abruptamente, no meio da poeira, quebrando algo na<br />

parte posterior da fuselagem.<br />

Passou tempo antes que as pernas retornassem à<br />

condição de sustentar meu corpo. O pessoal do aeroclube,<br />

meus companheiros, em breve chegaram no Fordinho,<br />

dirigido pelo próprio Kurt, visivelmente agastado.<br />

“Sua burra”, disse-me ele, no seu consistente sotaque<br />

alemão, no qual não valia a concordância gramatical.<br />

“Agorra focê tem que carregar este p... de folta”, e foise,<br />

deixando-nos com o problema de arrastar o planador<br />

pela estrada até o Aeroclube. De algum modo o Kurt me<br />

perdoou, pois ganhei o sonhado brevê C. Agora poderia<br />

voar livre e procurar ampliar minha experiência. A<br />

limitação era arranjar dinheiro para o custo do aviãorebocador,<br />

mas esta é outra história.<br />

Mais tarde, em 1948, percorrendo os caminhos para<br />

crescer na aviação, acabei por optar e prestar o concurso<br />

de admissão para ingressar na FAB. Aprovado, passei a<br />

fazer parte de uma turma de cem Cadetes. Visualizando<br />

a carreira de piloto militar no futuro os nossos contatos<br />

com a meteorologia se acentuaram. Como uma das<br />

matérias, entre as obrigatórias, fomos aprendendo<br />

como funcionavam os mecanismos que a atmosfera usa<br />

para manter, movimentar e reciclar a contínua capa de<br />

ar que envolve o planeta. Foi um grande e importante<br />

aprendizado. Falávamos de pressões, temperatura,<br />

densidade, umidade, deslocamentos do ar e formações<br />

decorrentes de tudo isto. Pudemos sentir o esforço<br />

dos instrutores para nos passar informações que nos<br />

ajudassem a vencer no espaço e preparar pessoas<br />

que jamais tinham voado antes e que não tinham a<br />

mesma “cultura” inata dos pássaros. Paralelamente, as<br />

experiências vividas durante os períodos de instrução<br />

em vôo mostravam que as conversas nas aulas eram<br />

sérias. Muitos colegas foram vivendo episódios, alguns<br />

dramáticos, enfrentando formações pesadas, chuvas<br />

intensas, obstruções à visibilidade e mesmo formação<br />

de gelo. Este, realmente era um grande problema nos<br />

velhos aviões pouco equipados que voávamos. Alguns<br />

dos que usávamos na instrução proporcionavam<br />

vazamentos para dentro das cabines, com falhas na<br />

fixação dos parabrisas, gratificando-nos com pingos de<br />

água gelada no colo. Nada agradáveis!<br />

Hoje, isto é mais raro, para não dizer inexistente,<br />

nos modernos aviões pressurizados que voam em<br />

altitudes elevadas aonde menos freqüentemente se<br />

encontra turbulências pesadas ou formações que<br />

reduzam significativamente a visibilidade horizontal.<br />

Mas, no início da década dos 1950, era bem diferente.

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