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Volume 29 No 3 - sbmet

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Boletim da<br />

Sociedade Brasileira<br />

de Meteorologia<br />

ISSN 1676-014X<br />

vol.<strong>29</strong>, n o .3, nov. 2005<br />

A Meteorologia<br />

e a Aeronáutica


O Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia (BSBMET) é uma publicação quadrimestral da SBMET<br />

(www.<strong>sbmet</strong>.org.br), com tiragem de 1.000 exemplares. O BSBMET aceita colaborações, na forma de artigos<br />

originais de divulgação de assuntos técnicos, científicos ou profissionais e reproduções de matérias de interesse<br />

do Corpo Social, desde que não protegidos por direitos autorais, ou mediante autorização expressa do detentor<br />

destes direitos.<br />

DIRETORIA EXECUTIVA PARA O BIÊNIO 2005/2006<br />

Presidente: Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva<br />

Vice-Presidente: Augusto José Pereira Filho<br />

Diretora Administrativa: Marley C. de Lima Moscati<br />

Vice-Diretor Administrativo: Nelson Jesus Ferreira<br />

Diretor Financeiro: Isimar de Azevedo Santos<br />

Vice-Diretora Financeira: Anne Moraes<br />

Diretora Científica: Teresinha de M. B.S. Xavier<br />

Vice-Diretor Científico: Manoel Alonso Gan<br />

Diretor Profissional: Alfredo Silveira da Silva<br />

Vice-Diretora Profissional: Ana Lúcia F. Macedo<br />

Efetivos<br />

Romísio Geraldo Bouhid André – Presidente<br />

Elza Correia Sucharov<br />

Francisca Maria Alves Pinheiro<br />

Francisco de Assis Diniz<br />

CONSELHO DELIBERATIVO<br />

Suplentes<br />

Gerhard Held José Carlos Figueiredo José Marques<br />

Halley Soares Pinheiro Junior<br />

José Antonio Marengo Orsini<br />

Luiz Augusto Toledo Machado<br />

Maria Luiza Poci Pinto<br />

Valdo da Silva Marques<br />

Conselho Fiscal<br />

Heloisa Moreira Torres Nunes – Presidente<br />

Vera Aldreida Malfa Pereira<br />

Editor Responsável<br />

Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />

INPE - Prédio da Meteorologia, Sala 26<br />

Av. dos Astronautas, 1758, Jd. da Granja<br />

12.201-970 – São José dos Campos, SP<br />

marley@cptec.inpe.br<br />

Editores Associados<br />

Augusto José Pereira Filho –IAG/USP (apereira@model.iag.usp.br)<br />

Luiz Augusto T. Machado - CPTEC/INPE (machado@cptec.inpe.br)<br />

Manoel Alonso Gan (alonso@cptec.inpe.br)<br />

Nelson de Jesus Ferreira (nelson@cptec.inpe.br)<br />

Teresinha de Maria B.S. Xavier – UFC (txavier@secrel.com.br)<br />

Grupos de Trabalho:<br />

Setor de <strong>No</strong>rmas e Legislação: Alfredo Silveira da Silva (alfredo@meteoro.ufrj.br)<br />

Setor de Divulgação e Marketing: Marley Cavalcante de Lima Moscati (marley@cptec.inpe.br)<br />

Colaboradores desse número: Rubens Junqueira Villela (rvillela@usp.br), Gerhard Held (gerhard@ipmet.unesp.br)<br />

e Paulo A. S. Escada (escada@cptec.inpe.br).<br />

Boletim da<br />

Sociedade Brasileira<br />

de Meteorologia<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

A Meteorologia<br />

e a Aeronáutica<br />

8<br />

Fotografias:<br />

EXPEDIENTE<br />

1. Marcelo Cavedon Presti<br />

Coordenação: Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />

2. Carlos Costa, cedida pela<br />

Revista Aeromagazine Projeto Gráfico e Prod. Gráfica: Graftipo Ltda e DigitalPress<br />

3. Carlos Costa, cedida pela Capa: DigitalPress<br />

Revista Aeromagazine Impressão: Graftipo Ltda<br />

4. Cedida pelo COMAER<br />

Revisão Editorial: Marley Cavalcante de Lima Moscati.<br />

5. Divulgação DASSOULT<br />

6. Cedida pelo COMAER Distribuição ISSN 1676-014X. dirigida e gratuita<br />

7. Marcelo Cavedon Presti<br />

8. Bc. de Imagens (photos.com)<br />

Distribuição dirigida e gratuita


EDITORIAL<br />

com grande satisfação que lançamos este terceiro e último número do Boletim da SBMET publicado nesse ano.<br />

É O tema “A Meteorologia e a Aeronáutica” nos remete a uma ciência fascinante, como bem destaca a matéria do<br />

Dr. Ozires Silva, um expertise em ciência aeronáutica e grande usuário da informação meteorológica. Entretanto,<br />

apesar dos avanços tecnológicos e investimentos, a área é carente de trabalhos científicos, como destaca em sua<br />

matéria Cristina Foggaccia, meteorologista da INFRAERO, onde abre o leque de tópicos de pesquisa de interesse<br />

para a área operacional.<br />

<strong>No</strong> Brasil, a atividade de Meteorologia Aeronáutica é de competência do Sistema de Controle do Espaço<br />

Aéreo (SISCEAB), sob a responsabilidade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). A matéria<br />

de Carlos R. Henriques e Martim R. Matschinske descreve a estrutura, atribuições e competência dos órgãos<br />

mencionados, destacando suas importâncias no contexto nacional e internacional, enquanto Mauro Lehn detalha<br />

o trabalho dos meteorologistas que atuam no CMA-1, órgão operacional do SISCEAB. A matéria de Rosa F. C.<br />

Marques e Gilberto F. Fisch descreve e destaca a importância da pesquisa meteorológica para apoio das atividades<br />

da Divisão de Ciências Atmosféricas (ACA) do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), Centro responsável pelo<br />

projeto, desenvolvimento e lançamento de foguetes brasileiros. As contribuições do Sistema de Vigilância da<br />

Amazônia (SIVAM) e do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) para a navegação aérea na Amazônia legal<br />

brasileira são temas da matéria de Ricardo L. G. Dallarosa, Renato C. Senna e Jaci B. Saraiva.<br />

Vários sistemas e fenômenos meteorológicos têm sido apontados como os responsáveis pelos acidentes e<br />

incidentes aeronáuticos ocorridos no mundo. Essas questões são apresentadas numa matéria que traz estatísticas<br />

de acidentes aéreos associados com condições atmosféricas adversas e como o projeto dos sistemas das aeronaves<br />

evoluíram de forma a garantir a segurança dos vôos. Esse número também inclue artigos analisando casos de<br />

acidentes aéreos causados por condições meteorológicas adversas, tais como windshear, Cumulunimbus (Cbs)<br />

embutidos e ondas de montanhas. Há, ainda, informações sobre o novo produto de satélite de caráter operacional<br />

desenvolvido pelo INPE/DSA relacionado ao monitoramento de descargas elétricas atmosféricas e sua associação<br />

com a ocorrência de Sistemas Convectivos de Mesoescala, notícias sobre algumas atividades da SBMET realizadas<br />

nesse ano e sobre outras em andamento, a agenda de eventos, e muito mais. Confiram!<br />

Aproveitando, informo-os que as atividades realizadas nesse primeiro ano de gestão da DE serão discriminadas<br />

no Relatório Anual de Atividades (RAA), a ser apresentado no próximo mês durante a Assembléia Geral Ordinária<br />

da SBMET e, posteriormente, divulgado no Portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.org.br), para conhecimento. Cientes<br />

de que todas essas realizações são frutos do trabalho conjunto da Diretoria Executiva da SBMET, do Conselho<br />

Deliberativo, do Conselho Fiscal e da parceria com vários colaboradores institucionais e de empresas públicas<br />

e privadas, encerramos o ano agradecendo a colaboração de todos e desejando um 2006 repleto de realizações e<br />

muito sucesso. Boa Leitura!<br />

Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />

Editora Responsável


SUMÁRIO<br />

Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia<br />

A METEOROLOGIA E A AERONÁUTICA<br />

vol. <strong>29</strong>, nº 3, novembro 2005<br />

Editorial ................................................................................................................ 1<br />

Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />

Mensagem da Presidente da SBMET .............................................................................. 4<br />

Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva<br />

Um aviador e sua Meteorologia .............................................................................................................. 7<br />

Ozires Silva<br />

Meteorologia Aeronáutica do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro ......................13<br />

Carlos Roberto Henriques e Martim Roberto Matschinske<br />

CMA-1: importante braço operacional da Meteorologia Aeronáutica ....................................19<br />

Mauro Neutzling Lehn<br />

As atividades de Meteorologia Aeroespacial no Centro Técnico Aeroespacial (CTA) ..................... 21<br />

Rosa de Fátima Cruz Marques, Gilberto Fernando Fisch<br />

O Projeto SIVAM, o SIPAM e a sua contribuição para a segurança da navegação aérea na<br />

Amazônia Legal .....................................................................................................27<br />

Ricardo Luiz Godinho Dallarosa, Renato Cruz Senna, Jaci Bilhalva Saraiva<br />

Acidentes aéreos associados à condições meteorológicas adversas e melhoria contínua dos<br />

sistemas das aeronaves .......................................................................................... 31<br />

Ney Ricardo Moscati<br />

Os perigos do vento para a aviação ...................................................................................................... 45<br />

Maurici A. Monteiro, Daniel S. Calearo, Marcelo Martins, Anderson Monteiro<br />

Análise de dois acidentes aeronáuticos associados à atividade convectiva:<br />

Kano (1956) e Congonhas (2000) ......................................................................................................52<br />

Rubens Junqueira Villela<br />

Ondas de montanha e a segurança nas operações aéreas na Antártica .................................. 59<br />

Marcelo Romão, Alberto Setzer, Francisco Eliseu Aquino<br />

Meteorologia Aeronáutica: serviço apaixonante e ciência com vasto campo para a pesquisa .... 64<br />

Cristina Fogaccia<br />

Monitoramento e evolução de descargas elétricas atmosféricas associadas<br />

a sistemas convectivos de mesoescala ........................................................................... 67<br />

Suzana Rodrigues Macedo, Wagner Flauber Araújo Lima, Luiz Augusto Toledo Machado, Osmar Pinto Junior


Boletim SBMET novembro/05<br />

Monitoramento de queimadas recebe prêmio internacional no Japão ................................... 72<br />

Relatório de Atividades do Workshop sobre o fenômeno Catarina ......................................... 73<br />

Manoel Alonso Gan<br />

Participação da SBMET na 57ª Reunião Anual da SBPC ...................................................... 74<br />

Participação da SBMET na Reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas<br />

“Diálogo Sobre Mudanças Climáticas” .................................................................................................... 75<br />

Andamento dos preparativos para o XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia (XIV CBMET) .... 75<br />

Grade da Programação Científi ca do Simpósio Internacional de Climatologia (SIC):<br />

a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas ............................... 76<br />

Avisos Gerais da SBMET ............................................................................................... 79<br />

Em discussão a nova Resolução que trata das atribuições profi ssionais da<br />

Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografi a e Meteorologia ................................................. 80<br />

Alfredo Silveira da Silva<br />

A participação feminina na área Tecnológica ...................................................................... 81<br />

Convenção mundial de Engenheiros e demais profi ssionais do Sistema CONFEA/CREA ................. 82<br />

Marcos Túlio de Melo é eleito Presidente do CONFEA ........................................................... 82<br />

Agenda de Eventos ....................................................................................................... 84<br />

Morre o Prof. Dr. Joseph Smagorinsky, um pioneiro na Previsão Numérica de Tempo ................... 89<br />

Lista de Anunciantes ..................................................................................................... 90<br />

Política Editorial do Boletim da SBMET ............................................................................. 91<br />

3


MENSAGEM<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

Prezados sócios e amigos da SBMET,<br />

É com grande satisfação que estamos distribuindo mais esse número do Boletim da Sociedade Brasileira<br />

de Meteorologia.<br />

O trabalho sério da atual Diretoria Executiva (DE) permite que contabilizemos neste final de 2005 os<br />

principais sucessos nesta administração, os quais são relacionados a seguir:<br />

• Comemoração do Dia Meteorológico Mundial, com eventos significativos ocorrendo em vários estados<br />

brasileiros, sendo amplamente divulgados pela SBMET;<br />

• O Portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.org.br) tem sido uma ferramenta dinâmica de contato com os sócios e<br />

tem-se mostrado útil na obtenção de informações de interesse da comunidade de Meteorologia, tanto na<br />

área acadêmica como profissional. O cadastro da SBMET está on-line, o que facilita e incentiva os sócios<br />

na atualização de seus dados. Foi também introduzida uma nova sistemática no Informativo que aparece<br />

no Portal da SBMET, enriquecendo substancialmente a quantidade e a qualidade da informação através de<br />

links com conteúdos adicionais;<br />

• Além das formas tradicionais de comunicação, foram implementados ao longo de 2005 os Informes da<br />

SBMET, distribuídos por e-mail, com a disseminação de notícias de forma rápida e eficiente;<br />

• O número de sócios novos e de sócios que atualizaram suas anuidades este ano é expressivo.<br />

• Realização de dois eventos significativos, o Workshop do Fenômeno Catarina e o I Simpósio Internacional<br />

de Climatologia (SIC): a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas. Durante<br />

a realização da 57ª Reunião Anual da SBPC, realizada em Fortaleza, CE, a SBMET esteve presente<br />

oferecendo um mini-curso, e promovendo palestra e simpósio.<br />

• A Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET) e o Boletim da SBMET, que tiveram três números<br />

elaborados e distribuídos neste ano de 2005, mantendo assim sua regularidade.<br />

• Durante o ano de 2005, a DE procurou estimular a criação e, em alguns casos, a reativação de várias<br />

Diretorias Regionais de Meteorologia. Terminamos este ano com as Diretorias do Rio de Janeiro, Minas<br />

Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina em funcionamento.<br />

• A SBMET está participando efetivamente das atividades promovidas pelo Fórum Brasileiro de Mudanças<br />

Climáticas. Também, foi convidada a participar de eventos interdisciplinares como o Seminário sobre<br />

Protocolo de Kyoto, promovido pela comunidade de Engenharia no CREA-MG, a II Conferência Regional<br />

sobre Mudanças Globais: América do Sul, realizada em São Paulo e o IV Workshop de Micrometeorologia,<br />

realizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul.<br />

• A DE da SBMET tem procurado manter a interação com outras entidades científicas, participando esse ano<br />

do Congresso da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, do Congresso Argentino de Meteorologia,<br />

do Congresso Mexicano de Meteorologia e da Federação Latino e Íbero-americana de Meteorologia.<br />

4


Boletim SBMET novembro/05<br />

• Tem sido também preocupação da atual DE a participação em discussões políticas relevantes, como os<br />

debates sobre a Reforma Universitária e sobre as atribuições profissionais do Sistema CONFEA/CREAs,<br />

além do encaminhamento de soluções para o PMTCRH, através de projetos regionais do Ministério da<br />

Ciência e Tecnologia (MCT). De grande importância também foram as sugestões levadas pela SBMET<br />

ao MCT e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), muitas das quais foram<br />

incorporadas à proposta de regulamentação da CONAME.<br />

<strong>No</strong>ssas perspectivas para 2006 incluem a continuação das iniciativas deste ano, com destaque para a<br />

participação da SBMET na 8ª. Conferência Internacional de Meteorologia e Oceanografi a do Hemisfério<br />

Sul, juntamente com a American Meteorological Society, e a realização do XIV Congresso Brasileiro de<br />

Meteorologia (XIV CBMET), cujas atividades já estão em andamento.<br />

Assim, em vista dessas e de outras conquistas, consideramos que a SBMET inicia o ano de 2006 como uma<br />

entidade mais respeitada e valorizada.<br />

Na oportunidade, desejamos à todos os sócios e colaboradores um 2006 cheio de realizações.<br />

Presidente da SBMET<br />

5


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Boletim SBMET novembro/05<br />

UM AVIADOR E SUA METEOROLOGIA<br />

Ozires Silva<br />

E-mail: ozires@uol.com.br<br />

Recebi com curiosidade e atenção o convite para<br />

participar desta edição do Boletim da SBMET. Confesso<br />

que o convite veio como surpresa. A razão, imagino,<br />

tem origem na minha ligação com a aviação desde a<br />

juventude, inicialmente como piloto de planador, mais<br />

tarde piloto militar da Força Aérea Brasileira (FAB) e<br />

finalmente como Engenheiro Aeronáutico trabalhando<br />

para a fabricação de aviões no Brasil, como Presidente<br />

da EMBRAER por mais de duas décadas. Ao longo<br />

dessas experiências a meteorologia esteve presente na<br />

minha vida, sempre marcando momentos importantes,<br />

tanto no ar como em terra.<br />

Acredito e gosto de catalogar a ciência do tempo<br />

como fascinante. Os milagres da natureza, criando o ar<br />

que respiramos dentro de condições físico-químicas que<br />

asseguram a vida no planeta, determinando as estações<br />

do ano, formatando cada fenômeno meteorológico que<br />

nos atinge no dia-a-dia, tudo isto nos faz pequenos diante<br />

da grandeza do meio que nos circunda. Sem dúvida,<br />

desde os primeiros tempos aprendi, por experiência<br />

própria, que, compreendendo a atmosfera seria possível<br />

conduzir com mais segurança meus vôos. E, como ser<br />

humano, desfrutar melhor a maravilhosa natureza que<br />

nos circunda.<br />

Meus contatos com a meteorologia começaram cedo.<br />

Em Bauru, minha terra natal do interior do Estado de São<br />

Paulo, meu instrutor de planador, um simpático suíço,<br />

Heinrich Kurt, que falava o português com um pesado<br />

sotaque do seu alemão, sempre me dizia que era possível<br />

conseguir longos vôos, numa aeronave sem motor.<br />

Como, perguntava a mim mesmo? Progressivamente fui<br />

aprendendo sobre as formações na atmosfera, ganhando<br />

algumas noções de como as nuvens se formavam e como<br />

poderíamos aproveitar o fenômeno do seu nascimento e<br />

desenvolvimento para nos mantermos mais tempo no ar<br />

com os planadores. Em geral, os pilotos dos aviões, com<br />

seu contínuo espírito crítico, dizem que o planador já<br />

decola em pane (sem motor)!<br />

Aprendi sobre as térmicas, as gigantescas massas de<br />

ar quente que resultam do aquecimento do solo por ação<br />

direta dos raios solares. Entendi como e porque elas<br />

sobem, conseqüência direta da redução da densidade<br />

do ar na medida do aumento da temperatura. Fenômeno<br />

simples, bonito e bem concebido. Mergulhados nessas<br />

térmicas o piloto de planador sobe com elas, conseguindo<br />

resultados expressivos. Era estimulante olhar para o céu<br />

e ver os urubus circulando dentro das térmicas e, sem<br />

bater asas, ganhar rapidamente altitude. O problema<br />

para nós era não confundir um depósito de lixo, que<br />

também atraem os urubus, com as térmicas e de repente<br />

se ver em dificuldades, podendo ter de pousar fora das<br />

pistas.<br />

É bem verdade que nosso instrutor Kurt ajudava muito<br />

graças aos seus sólidos conhecimentos aeronáuticos.<br />

Ele era nossa fonte contínua de aprendizado. Dirigindo<br />

a Escola de Planadores, que oferecia o ensino e o<br />

treinamento para formar pilotos, Kurt era um misto de<br />

mestre e de pai para todos nós. Kurt comandava tudo.<br />

7


Boletim SBMET novembro/05<br />

Organizava aulas teóricas que eram proporcionadas em<br />

ocasiões variadas e o vôo, possível através do uso de um<br />

guincho que puxava os planadores para lançá-los ao ar.<br />

Era uma real operação, com um ritual mais ou menos<br />

igual, mas sempre muito trabalhoso. Todas as tardes,<br />

o esquema era o de retirar dos hangares os planadores,<br />

alinhá-los na pista e enganchar o cabo do guincho.<br />

Este era na realidade uma camioneta Ford, do famoso<br />

Modelo T de Henry Ford, conhecido como Fordinho.<br />

O guincho, conectado com a caixa de transmissão e<br />

acionado pelo tradicional motor de quatro cilindros<br />

que fez do velho automóvel um grande sucesso, girava<br />

uma bobina enrolada com um cabo de aço. Acelerando<br />

o motor, o cabo era puxado rapidamente, permitindo<br />

ao planador atingir as velocidades convenientes para<br />

assegurar o vôo.<br />

Naquele ambiente, como sempre, existiam “pessoas”<br />

importantes. E uma delas era a mascote do Kurt, um<br />

cachorro pequeno, autêntico vira-lata, nós o chamávamos<br />

Gasolina! Um cão pequeno que, um dia atropelado,<br />

exibia uma das patas dianteiras mal recuperada. Quando<br />

a pressão atmosférica caía ou começava a soprar<br />

um vento mais frio, provavelmente alguma dor ele<br />

sentia na articulação e simplesmente recolhia a pata,<br />

evitando pousá-la no solo. Kurt via aquilo e gritava<br />

no seu conhecido sotaque forte: “Famos recolherr os<br />

planadorres! Fai choverr!”. Não havia ninguém que o<br />

dissuadisse. O remédio era parar tudo e esperar a chuva<br />

ou a ventania que poderiam não vir.<br />

Daí veio minha primeira aventura que poderíamos<br />

chamar de “meteorológica”. <strong>No</strong>s meus 17 anos,<br />

iniciando meu treinamento, precisava de um vôo<br />

mais longo para conseguir meu brevê. <strong>No</strong> curso de<br />

piloto, como regra, sempre existe a hierarquia das<br />

qualificações e a competição entre os participantes. Ela<br />

8<br />

vinha basicamente do grau de suficiência que cada um<br />

conquistava na escala crescente de habilidade como<br />

pilotos de planadores. Eram os ambicionados “brevês”.<br />

O primeiro grau era o brevê A, após o B e em seguida o<br />

C. <strong>No</strong> nível C, crescendo na direção da distinção havia<br />

o “C de Prata” seguido pelo de Ouro e, finalmente,<br />

Diamante. Estes últimos, poucos os conquistavam.<br />

Como todos, comecei com o brevê A. Para aqueles<br />

que iniciavam o curso, o brevê A requeria que, utilizandose<br />

dos guinchos, o aluno deveria demonstrar habilidade<br />

de equilibrar o planador numa corrida no solo e chegar<br />

a efetuar um vôo controlado, em linha reta, sobre a<br />

pista. O brevê B precisava da execução de manobras<br />

que caracterizassem um “oito” sobre a pista. Consegui<br />

conquistá-lo após meses de treinamento, já que a escala<br />

de vôo era apertada e nem sempre se conseguia voar<br />

todos os dias ou semanas.<br />

Todavia, a minha conquista do brevê C, que previa<br />

um vôo com ganho de altitude e sustentado por um certo<br />

período, não foi tão tranqüila. Ocorreu após o Aeroclube<br />

de Bauru ter recebido, como doação do Departamento<br />

de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica um<br />

rebocador, um avião biplano Stinson – equipado com<br />

gancho de reboque de planadores. O Stinson era antigo<br />

e fabricado nos Estados Unidos. Dotado de um motor<br />

a pistão radial e hélice metálica de passo fixo era<br />

basicamente aprovado para acrobacias e foi um produto<br />

de muito sucesso no mundo, devido suas características<br />

seguras de vôo, além da facilidade de pilotagem. Sua<br />

margem de potência não era alta e as razões de subida<br />

permitida bastante modesta.<br />

Com a chegada do novo avião, o gancho de reboque<br />

foi instalado e, a partir de então era possível fazer vôos<br />

com altitudes de partida para os planadores muito


Boletim SBMET novembro/05<br />

maiores do que aquelas permitidas pelo velho guincho,<br />

instalado no Fordinho. O problema era o custo – a hora<br />

de vôo era cara e o dinheiro, curto. Toda a gasolina<br />

queimada pelos aviões, especialmente fabricada para a<br />

aviação, era importada, naquele início daquela década<br />

dos 1940.<br />

<strong>No</strong> dia previsto para disputar o brevê C, decolei<br />

puxado pelo Stinson numa tarde particularmente<br />

favorável. Carregada de nuvens “cumulus” de<br />

desenvolvimento vertical (o famoso CB), e prometedoras<br />

de muitas térmicas. Muitos urubus circulando. Rebocado<br />

pelo Stinson pude subir até 600 metros que era a altura<br />

prevista para largar o avião-rebocador e prosseguir no<br />

vôo livre. Realmente as nuvens estavam cumprindo<br />

o prometido, a sustentação era boa e consegui ganhar<br />

altura, subindo a mais de 3.000 metros sobre o campo.<br />

A marca do ganho de altitude estava superada – por<br />

aquele requisito já tinha o brevê C no bolso; estava feliz<br />

mesmo. Faltava voar pelo menos mais uma hora.<br />

O dia estava realmente magnífico. As nuvens,<br />

formando seus contornos variados, apresentavam<br />

diferentes tonalidades refletindo a luz forte do sol.<br />

Meu planador, um Grunau Baby, era relativamente<br />

lento, e o silêncio envolvia-me, somente quebrado pelo<br />

chiado suave do ar no parabrisas. Embaixo via a terra,<br />

ora vermelha, ora verde – com a vegetação já escura<br />

do final do outono. Sentia a tranqüilidade como uma<br />

dádiva e olhava tudo a minha volta, sentindo-me como<br />

pertencente àquele meio. O ar era meu e ali eu deveria<br />

viver.<br />

Após quase três horas no ar, eufórico por ter<br />

conquistado o desejado brevê C, tinha atingido uma<br />

marca muito maior do que o tempo requerido – estava<br />

realmente cansado. Começava a sentir uma acentuada<br />

dor nas costas, comprimido que estava ao incômodo<br />

pára-quedas. Era tempo de descer, mesmo porque a<br />

atividade das térmicas já estava bem mais reduzida,<br />

em função da queda do sol no horizonte; já não era tão<br />

fácil manter altura. A descida lenta foi agradável. À<br />

medida que descia, era possível ouvir o som das buzinas<br />

dos automóveis e o latido dos cães. O dia continuava<br />

lindo e os raios do sol tornavam-se alaranjados, com<br />

a aproximação do final do dia. A visibilidade ia de<br />

horizonte a horizonte. A sensação de tranqüilidade não<br />

me abandonava. Valia a pena voar, quase com o mesmo<br />

silêncio dos pássaros. Sensacional a natureza, pensava!<br />

<strong>No</strong> entanto, exagerei o otimismo; com tantas<br />

térmicas favoráveis não cuidei corretamente do tempo,<br />

da altitude e, sobretudo, da distância que estava da pista.<br />

Olhei para o sol, já bem baixo no horizonte; as nuvens<br />

tinham perdido os seus contornos vivos e começavam a<br />

se achatar. A sustentação caía com rapidez e subitamente<br />

me surpreendi, quando constatei que estava longe<br />

demais e certamente sem altura suficiente para chegar<br />

ao aeródromo. Procurei à minha volta uma nuvem que<br />

pudesse me ajudar, sem resultados. Com crescente<br />

preocupação voava para o campo de pouso, numa real<br />

torcida para conseguir atingi-lo. <strong>No</strong> entanto, ele parecia<br />

ficar mais e mais inacessível. A sensação era invertida;<br />

ao invés de o planador descer, parecia que a pista subia.<br />

Cedo percebi que não chegaria. A expressão que me<br />

veio à cabeça foi a mais simples: “Que merda”!<br />

Circulei os olhos em volta, buscando uma alternativa.<br />

Estava sobre a cidade e tinha o vento vindo do sul, frio e<br />

contra o meu sentido de vôo, complicava mais a situação.<br />

Não vi outra saída. Teria de procurar e achar uma área<br />

livre que encontrei no meu desesperado caminho para<br />

a pista, agora absolutamente fora do meu alcance. Um<br />

local de pouso possível estava na frente e limitado<br />

9


Boletim SBMET novembro/05<br />

10<br />

pelas instalações de uma engarrafadora da Coca-Cola,<br />

ao sul da cidade. Suas dimensões eram visivelmente<br />

insuficientes para uma aterrissagem segura, mas não<br />

tinha jeito, o tempo se escoava e uma decisão teria que<br />

ser tomada. Em poucos minutos o planador estaria no<br />

solo. A ironia era que eu estava a apenas um quilômetro,<br />

em linha reta, da pista. Enfim, para reclamar não era<br />

mais a hora.<br />

Procurei circular e aproximar-me o mais baixo<br />

possível por sobre a copa das árvores e alguns segundos<br />

depois a roda central do Grunau, sob a fuselagem,<br />

sobressaindo alguns centímetros do esqui, tocou no solo<br />

duro. Comecei a frear com cuidado e, meu Deus, um<br />

susto! Havia vacas pastando exatamente na direção que<br />

desejava seguir e reduzindo o espaço que necessitava<br />

para amortecer a velocidade. Fui me aproximando delas<br />

com rapidez. Os tranqüilos animais nada sabiam do que<br />

estava acontecendo e continuavam quietos e ruminando.<br />

<strong>No</strong> último instante não tive outra coisa a fazer se não<br />

comandar um cavalo-de-pau, isto é, uma guinada brusca<br />

para a esquerda, fazendo com que o planador parasse<br />

abruptamente, no meio da poeira, quebrando algo na<br />

parte posterior da fuselagem.<br />

Passou tempo antes que as pernas retornassem à<br />

condição de sustentar meu corpo. O pessoal do aeroclube,<br />

meus companheiros, em breve chegaram no Fordinho,<br />

dirigido pelo próprio Kurt, visivelmente agastado.<br />

“Sua burra”, disse-me ele, no seu consistente sotaque<br />

alemão, no qual não valia a concordância gramatical.<br />

“Agorra focê tem que carregar este p... de folta”, e foise,<br />

deixando-nos com o problema de arrastar o planador<br />

pela estrada até o Aeroclube. De algum modo o Kurt me<br />

perdoou, pois ganhei o sonhado brevê C. Agora poderia<br />

voar livre e procurar ampliar minha experiência. A<br />

limitação era arranjar dinheiro para o custo do aviãorebocador,<br />

mas esta é outra história.<br />

Mais tarde, em 1948, percorrendo os caminhos para<br />

crescer na aviação, acabei por optar e prestar o concurso<br />

de admissão para ingressar na FAB. Aprovado, passei a<br />

fazer parte de uma turma de cem Cadetes. Visualizando<br />

a carreira de piloto militar no futuro os nossos contatos<br />

com a meteorologia se acentuaram. Como uma das<br />

matérias, entre as obrigatórias, fomos aprendendo<br />

como funcionavam os mecanismos que a atmosfera usa<br />

para manter, movimentar e reciclar a contínua capa de<br />

ar que envolve o planeta. Foi um grande e importante<br />

aprendizado. Falávamos de pressões, temperatura,<br />

densidade, umidade, deslocamentos do ar e formações<br />

decorrentes de tudo isto. Pudemos sentir o esforço<br />

dos instrutores para nos passar informações que nos<br />

ajudassem a vencer no espaço e preparar pessoas<br />

que jamais tinham voado antes e que não tinham a<br />

mesma “cultura” inata dos pássaros. Paralelamente, as<br />

experiências vividas durante os períodos de instrução<br />

em vôo mostravam que as conversas nas aulas eram<br />

sérias. Muitos colegas foram vivendo episódios, alguns<br />

dramáticos, enfrentando formações pesadas, chuvas<br />

intensas, obstruções à visibilidade e mesmo formação<br />

de gelo. Este, realmente era um grande problema nos<br />

velhos aviões pouco equipados que voávamos. Alguns<br />

dos que usávamos na instrução proporcionavam<br />

vazamentos para dentro das cabines, com falhas na<br />

fixação dos parabrisas, gratificando-nos com pingos de<br />

água gelada no colo. Nada agradáveis!<br />

Hoje, isto é mais raro, para não dizer inexistente,<br />

nos modernos aviões pressurizados que voam em<br />

altitudes elevadas aonde menos freqüentemente se<br />

encontra turbulências pesadas ou formações que<br />

reduzam significativamente a visibilidade horizontal.<br />

Mas, no início da década dos 1950, era bem diferente.


Boletim SBMET novembro/05<br />

Terminando o Curso de Oficial da Aeronáutica coubeme<br />

servir na Amazônia, aonde operavam os velhos<br />

hidro-aviões CATALINA (fabricados pela antiga<br />

Consolidated Vultee dos Estados Unidos), aparelho não<br />

pressurizado e equipado com margens de potência dos<br />

motores pouco suficientes, apresentando características<br />

operacionais bastante distantes das modernas máquinas<br />

de hoje.<br />

Sobre os rios imensos da nossa floresta tropical,<br />

com alto teor de umidade e sob elevadas temperaturas<br />

do ar, os cúmulus se formam rapidamente, alterando as<br />

condições de vôo com rapidez. Os CATALINA voando<br />

em altitudes inferiores a três mil metros entravam<br />

seguidamente nas nuvens pesadas que, parecendo<br />

coincidência, insistiam em se colocar justamente nas<br />

rotas que escolhíamos.<br />

Como resultado, o jeito era voar nelas, sempre<br />

procurando se esquivar das mais pesadas e escolhendo<br />

aquelas que possivelmente não nos tratassem mal.<br />

Mas, isso raramente acontecia. Tínhamos de submeter<br />

nossos passageiros a turbulências que, não raramente,<br />

provocava gritos. E não eram de satisfação, tínhamos<br />

certeza.<br />

Quando no solo e antes de qualquer vôo<br />

conversávamos e discutíamos intensamente com os<br />

especialistas em meteorologia. Tentávamos arrancar<br />

deles informações além daquelas oferecidas pelos<br />

boletins normalmente divulgados pela rede do Serviço<br />

de Meteorologia e coletar dados que nos dessem<br />

mais segurança. Infelizmente, embora tudo fosse de<br />

ajuda, quando em vôo, achávamos que não tinham<br />

sido suficientes. O jeito era agradecer aos projetistas<br />

dos aviões que, aprendendo a partir dos acidentes<br />

do passado, conseguiram coletar dados e padronizar<br />

parâmetros, construindo regulamentos e fixando<br />

critérios básicos para dimensionar as estruturas bem<br />

mais resistentes das aeronaves modernas. Conhecendo<br />

com maior precisão as cargas de vôo, novos e melhores<br />

métodos de cálculo foram implementados, resultando<br />

que os aviões de hoje melhorem, a cada ano, seus mais<br />

expressivos índices de segurança de vôo. Por outro lado,<br />

é mesmo extraordinário o aumento conseguido do lado<br />

da confiança dos operadores e dos passageiros. Esta foi<br />

uma contribuição de todos os setores envolvidos nas<br />

complexas tarefas que levaram o transporte aéreo entrar<br />

para a história como grande resistente capaz de enfrentar<br />

a maioria das pancadas advindas de instabilidades<br />

atmosféricas e das difíceis condições operacionais que<br />

ainda prevalecem nos dias de hoje.<br />

Na atualidade, grandes progressos foram<br />

conseguidos. Redes de informação foram ampliadas.<br />

Os dados fluem com maior rapidez, podendo os<br />

pilotos melhor conhecer as rotas nas quais deverão<br />

voar. O próprio comportamento da atmosfera foi mais<br />

amplamente compreendido. Velozes computadores,<br />

dotados de expressiva memória e capacidade de<br />

processamento, antecipam a evolução das condições<br />

meteorológica permitindo previsões de períodos maiores<br />

e com significativa antecipação.<br />

As redes de satélites observadoras da Terra executam<br />

um trabalho pouco percebido pelos passageiros e<br />

operadores na aviação. Todos eles vivem dos resultados<br />

de esforços dos meteorologistas de todo o mundo que, de<br />

um lado, pesquisam e procuram saber mais e construir<br />

metodologias para que análises e resultados possam ser<br />

melhores, mais confiáveis e de previsão mais longas. De<br />

outro ângulo, os observadores e analistas que trabalham<br />

no dia-a-dia, os quais utilizando as últimas técnicas<br />

disponíveis, procuram oferecer mais para que o tráfego<br />

11


Boletim SBMET novembro/05<br />

aéreo opere com segurança.<br />

De qualquer modo, quando se vê um avião, por maior<br />

que seja, sacudido como cascas de nozes a mercê da<br />

gigantesca capacidade energética da natureza, podemos<br />

construir a imagem de um combate. O homem, na sua<br />

pequenez de um simples animal na Terra, tem o mérito<br />

de ter conseguido voar mais alto e mais velozmente do<br />

que os pássaros, em máquinas que obedecem ao seu<br />

comando. E isto foi possível por força do seu intelecto,<br />

do seu empenho e sua tenacidade.<br />

Mas, acima de tudo, este mesmo homem, consciente<br />

de suas vitórias, precisa manter a humildade para<br />

compreender que ainda muito tem a aprender, mantendose<br />

atento aos fenômenos tão habilmente concebidos neste<br />

mundo equilibrado que foi construído para sustentar a<br />

vida no planeta. E, finalmente, ainda compreender que<br />

faz parte do mecanismo de manutenção deste equilíbrio,<br />

cuja subsistência e continuidade são fundamentais para<br />

que a vida continue pelos séculos que temos em frente.<br />

Ozires Silva<br />

CurriculumVitae resumido<br />

Nasceu em Bauru - SP, em 1931. Começou suas atividades aeronáuticas como aeromodelista<br />

e piloto de planador. Em 1951, formou-se Piloto Militar e Oficial Aviador da FAB. Voou por<br />

quatro anos na Amazônia, com sede em Belem do Pará, pilotando o hidro-avião PBY-5<br />

CATALINA, acumulando cerca de três mil horas de vôo na área. Voou por três anos no Correio<br />

Aéreo Nacional (CAN), pilotando o DOUGLAS DC-3 por todo o Brasil, acumulando cerca<br />

de duas mil horas de vôo. Formou-se em Engenharia Aeronáutica no Instituto Tecnológico de<br />

Aeronáutica (ITA) em 1962. Após a formatura passou a servir no Departamento de Aeronaves do<br />

Instituto de P&D (IPD) do Centro Técnico Aerospacial (CTA). Nesta fase voou diferentes tipos<br />

de aeronaves de fabricação nacional. Deu início ao projeto e desenvolvimento do protótipo do<br />

BANDEIRANTE hoje considerado o primeiro avião construído para a Aviação de Transporte<br />

Aéreo Regional do mundo. Liderou a equipe que criou a EMBRAER, tornando-se seu primeiro<br />

Diretor Superintendente, cargo que exerceu de 1970 a 1986. Retornou à empresa em 1991 e<br />

comandou o processo de privatização da EMBRAER tendo durante este período dado partida<br />

no desenvolvimento do primeiro jato da empresa, o ERJ 145, cujo sucesso garantiu o êxito do<br />

empreendimento na área privada. Publicou em 1998 o livro “ A decolagem de um sonho - A<br />

história da aviação da Embraer” ( Lemos Editora, 606 p. ISBN 85-85561-91-0 ).<br />

12


Boletim SBMET novembro/05<br />

METEOROLOGIA AERONÁUTICA DO SISTEMA<br />

DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO BRASILEIRO<br />

Carlos Roberto Henriques e Martim Roberto Matschinske<br />

Departamento de Controle do Espaço Aéreo<br />

Divisão de Meteorologia Aeronáutica<br />

Av General Justo, 160 – 2º Andar<br />

CEP 20021-130 - RIO DE JANEIRO, RJ<br />

E-mail: dmet@decea.gov.br - Tel: (21) 2101-6283<br />

O planeta Terra é, provavelmente, o único no qual<br />

a atmosfera sustenta a vida como nós a conhecemos.<br />

O tempo, como um estado da atmosfera, em qualquer<br />

hora e lugar, exerce muita influência sobre as nossas<br />

atividades. Evidentemente, as condições do tempo<br />

têm muito a ver com o dia-a-dia de todos, mas poucas<br />

atividades humanas são tão dependentes das condições<br />

da atmosfera quanto a navegação aérea.<br />

Desde os primórdios da aviação, a informação<br />

meteorológica tem sido vital para a segurança das<br />

operações aéreas, contribuindo para o conforto dos<br />

passageiros, o estabelecimento de rotas mais rápidas,<br />

econômicas e de vôos regulares. <strong>No</strong> Brasil, a atividade<br />

de Meteorologia Aeronáutica é de competência do<br />

Comando da Aeronáutica e desenvolvida pelo Sistema<br />

de Controle do Espaço Aéreo (SISCEAB), sob a<br />

responsabilidade do Departamento de Controle do<br />

Espaço Aéreo (DECEA).<br />

Para o Piloto, o conhecimento das condições<br />

meteorológicas reinantes nos aeródromos de partida,<br />

destino e alternativas são imprescindíveis para a<br />

realização, ou não, do vôo. Além disso, é necessário<br />

saber se essas condições sofrerão variações significativas<br />

quanto ao teto, a visibilidade, ao tempo presente, ao<br />

vento, bem como, o horário previsto para início dessas<br />

variações e o período previsto para sua duração.<br />

trovoadas associadas a nuvens cumulunimbus (cb), que<br />

possam acarretar desvios de rota e por conseqüência<br />

maior consumo de combustível.<br />

As condições meteorológicas não afetam somente o<br />

piloto e a tripulação, mas também o Serviço de Tráfego<br />

Aéreo, responsável pelo controle das aeronaves no espaço<br />

aéreo, e que depende das condições meteorológicas<br />

específicas para o eficiente atendimento à navegação<br />

aérea. Este Serviço está estruturado em três órgãos<br />

operacionais de atuação distintas, que são:<br />

a)<br />

A Torre de Controle (TWR), responsável pelo<br />

controle na área terminal do aeródromo, que<br />

além de todas as variáveis citadas anteriormente,<br />

necessita saber se a variação do vento interferirá<br />

na cabeceira em uso e a que horas ocorrerá,<br />

bem como se as condições de teto e visibilidade<br />

comprometerão as operações de pouso e<br />

decolagem;<br />

Para um vôo seguro, econômico e confortável,<br />

não bastam somente estas informações, é necessário<br />

também conhecer as condições em rota. Dentre elas<br />

destacam-se a direção e velocidade do vento ao longo<br />

da rota, condições de formação de gelo, turbulência,<br />

Figura 1: Torre de Controle do Aeroporto do Galeão –RJ.<br />

Fonte: COMAER.<br />

13


Boletim SBMET novembro/05<br />

b)<br />

c)<br />

O Controle de Aproximação de Aeródromo (APP),<br />

responsável pelo controle radar das aeronaves até<br />

100 km do aeródromo, necessita, por exemplo,<br />

de informações relativas à formação de trovoadas<br />

associadas às nuvens CB dentro de sua área<br />

operacional, previsão da hora de início, duração<br />

e sua extensão para que possa ser avaliado o<br />

comprometimento operacional, ou seja, se o<br />

número de aeronaves deverá ser limitado em<br />

função da segurança das operações aéreas e da<br />

operacionalidade dos aeródromos;<br />

O Centro de Controle de Área (ACC), responsável<br />

pelo controle radar de todas as aeronaves<br />

que voam em rotas aéreas, fora da área de<br />

responsabilidade dos APP, depende também das<br />

informações meteorológicas. Para esses Centros,<br />

é imprescindível saber quais as rotas aéreas estão<br />

sob a influência de condições meteorológicas<br />

adversas, bem como, a hora que novas rotas serão<br />

afetadas operacionalmente, qual o volume do<br />

espaço aéreo será comprometido e qual o desvio<br />

mais seguro nestas condições.<br />

Para o emprego militar, a Meteorologia, destaca-se<br />

pelo apoio específico a diversos tipos de operações. Para<br />

a aviação de caça, por exemplo, é também importante<br />

saber o nível em que ocorre a trilha de condensação;<br />

nas operações de lançamento de carga e pára-quedistas é<br />

importante conhecer o vento nas camadas da atmosfera<br />

sobre a Zona de Lançamento, bem como, o ponto ideal<br />

para lançamento em grande altitude de pára-quedistas<br />

que, planando com velame aberto, visa alcançar um<br />

determinado alvo.<br />

Embora os avanços da tecnologia aeronáutica tenham<br />

vindo a tornar as viagens menos sensíveis a determinados<br />

aspectos do estado do tempo, a meteorologia continuará<br />

a ser essencial para a eficiência das operações de vôo.<br />

Como sabemos, o crescente aumento no número de<br />

aeronaves em operação exige um melhor aproveitamento<br />

do espaço aéreo, e assim, com a devida segurança,<br />

diminuindo o espaçamento entre elas. Nesse contexto,<br />

as informações meteorológicas passam a ser cada vez<br />

mais decisivas.<br />

1. ESTRUTURA E ATRIBUIÇÕES<br />

A redução dos mínimos meteorológicos para<br />

utilização de aeródromos tem acentuado a necessidade<br />

de se obter informações precisas e atualizadas sobre<br />

as condições meteorológicas locais nos aeródromos<br />

e ao longo das rotas aéreas, utilizando-se para isto<br />

de instrumentos e equipamentos de observações<br />

meteorológicas modernos, bem como, de prognósticos<br />

meteorológicos cada vez mais confiáveis. Neste<br />

contexto, a atividade de Meteorologia Aeronáutica está<br />

alicerçada na seguinte estrutura:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Rede de Estações Meteorológicas;<br />

Rede de Centros Meteorológicos;<br />

Bancos de Dados - Operacional (OPMET) e<br />

Climatológico (BCA); e<br />

Sistema de divulgação de informações<br />

meteorológicas.<br />

a) Rede de Estações Meteorológicas (REM)<br />

Os Sistemas de observação meteorológica<br />

aeronáutica, objetivam tanto o fornecimento de dados<br />

de superfície aos aeronavegantes, quanto a coleta de<br />

dados de altitude e sinóticos para a utilização dinâmica<br />

da matriz mundial de dados meteorológicos. Esta<br />

rede é constituída pelos elementos de coleta de dados<br />

meteorológicos a serem processados e difundidos aos<br />

órgãos operacionais e climatológicos, onde se destaca o<br />

monitoramento contínuo do meio atmosférico.<br />

As estações meteorológicas que integram a rede<br />

são classificadas conforme suas características, em<br />

Estações Meteorológicas de Superfície (EMS) Classe I,<br />

II e III, em Estações Meteorológicas de Altitude (EMA)<br />

e Estações de Radar Meteorológico (ERM). As EMS<br />

(Figura 2a) são implantadas nos aeródromos e coletam<br />

dados meteorológicos representativos das condições<br />

na(s) pista(s) de pouso. São equipadas com sensores<br />

automáticos para obtenção de medidas de direção e<br />

velocidade do vento, altura da base das nuvens, Alcance<br />

Visual na Pista (RVR), pressão ao nível do mar para ajuste<br />

do altímetro, pressão ao nível da pista, temperatura do ar<br />

e do ponto de orvalho. Em aeródromos que não operam<br />

com aproximação de precisão, e com movimentos aéreo<br />

reduzidos, as EMS diferem entre si pela ausência do<br />

14


Boletim SBMET novembro/05<br />

RVR. Os dados colhidos são codificados na mensagem<br />

METAR/SPECI e SYNOP e transmitidos aos bancos<br />

de dados, para uso do serviço de Meteorologia, da<br />

navegação aérea e demais usuários.<br />

As Estações Meteorológicas de Altitude (EMA) são<br />

equipadas com sistemas destinados a observar e traçar o<br />

perfil vertical de temperatura, pressão, umidade, direção,<br />

e velocidade do vento nas diversas camadas da atmosfera<br />

(Figura 2b). As sondagens são executadas mediante o<br />

lançamento de um balão contendo gás hidrogênio ao<br />

qual é presa a sonda dotada dos sensores, bem como,<br />

de sistema GPS para precisar os dados de vento em<br />

altitude. As informações colhidas por uma EMA são<br />

codificadas na mensagem TEMP, e transmitidas para<br />

emprego da Meteorologia Aeronáutica e como dado<br />

básico ao Banco de Dados do Sistema de Vigilância<br />

Meteorológica Mundial da Organização Meteorológica<br />

Mundial (OMM). A Figura 3 apresenta a distribuição<br />

das estações que compõe a Rede da EMS e EMA.<br />

As estações de radar meteorológico visam<br />

complementar a vigilância meteorológica em áreas<br />

de grande densidade de tráfego aéreo e onde ocorram<br />

condições meteorológicas adversas às operações aéreas.<br />

São de fundamental importância para detecção, análise<br />

e exposição dos fenômenos meteorológicos, georeferenciados,<br />

facilitando, desta forma, seu emprego<br />

como apoio às operações aéreas. As estações são<br />

operadas pelos Centros Meteorológicos de Vigilância<br />

(CMV) e seus produtos disseminados à Rede de Centros<br />

Meteorológicos. Por representarem as condições<br />

meteorológicas em tempo real, são extremamente úteis<br />

para a previsão meteorológica de curto prazo.<br />

(a)<br />

Figura 2: a) EMS, b) EMA.<br />

Fonte: COMAER.<br />

(b)<br />

15


Boletim SBMET novembro/05<br />

Rede de Estação Meteorológicas Superfície e Altitude<br />

b) Rede de Centros Meteorológicos<br />

Esta rede opera incorporando todos os dados<br />

observacionais e prognosticados. É responsável<br />

pela divulgação das informações meteorológicas à<br />

navegação aérea. A prestação deste<br />

serviço está associada aos subsistemas<br />

de visualização, tratamento e difusão<br />

dos dados meteorológicos. Compõem<br />

esta rede o Centro Nacional de<br />

Meteorologia Aeronáutica (CNMA), os<br />

Centros Meteorológicos de Vigilância<br />

(CMV), os Centros Meteorológicos<br />

de Aeródromos (CMA) e os Centros<br />

Meteorológicos Militares (CMM).<br />

Figura 3: Rede de EMS e EMA.<br />

Estação de Radar Meteorológico DECEA/SIV AM<br />

O CNMA (Figura 5), localizado<br />

no CINDACTA I em Brasília-DF,<br />

tem suas atribuições prioritariamente<br />

direcionadas a fenômenos meteorológicos em escala<br />

sinótica. Órgão central da Meteorologia Aeronáutica<br />

no SISCEAB é o elo integrante do Sistema Mundial<br />

de Previsão de Área (WAFS). É responsável pela<br />

divulgação dos dados globais de tempo significativo<br />

e os prognósticos de vento e temperatura em altitude.<br />

Também proporciona prognósticos específicos de<br />

tempo significativo, da superfície ao FL250, para a<br />

área que corresponde às coordenadas 12°N/80°W,<br />

12°N/10°W, 40°S/80°W, 40°S/10°W. É de sua<br />

competência a manutenção e<br />

operação do Banco OPMET e da<br />

Rede de Meteorologia do Comando<br />

da Aeronáutica (REDEMET).<br />

DECEA<br />

EM OPERAÇÃO = 06<br />

EM PLANEJAMENTO = 04<br />

SIV AM<br />

EM OPERAÇÃO = 10<br />

EM PLANEJAMENTO = 01<br />

Figura 4: Rede de Radares<br />

Meteorológicos.<br />

16<br />

Figura 5: Centro Nacional de Meteorologia Aeronáutica – BR.<br />

Fonte: COMAER.


Boletim SBMET novembro/05<br />

Os Centro Meteorológico de Vigilância (CMV),<br />

no total de quatro, operam associados aos Centros de<br />

Controle de Área e são responsáveis pela vigilância<br />

das condições meteorológicas que afetam as operações<br />

aéreas em Vôo. Os CMV mantêm a vigilância<br />

meteorológica, confeccionam e divulgam mensagens<br />

de tempo significativo em rota (SIGMET e AIRMET),<br />

operam remotamente os radares meteorológicos e<br />

prestam o Serviço VOLMET. A Figura 6 apresenta as<br />

áreas de responsabilidade de cada CMV.<br />

Móveis. A Figura 7 ilustra o atendimento ao piloto em<br />

um CMM.<br />

Figura 7: Atendimento ao Piloto em um CMM.<br />

Fonte: COMAER.<br />

Figura 6: Área de responsabilidade de cada CMV.<br />

Os Centro Meteorológico de Aeródromo(CMA),<br />

classificados em CMA-1, CMA-2 e CMA-3, conforme<br />

o tipo de serviço prestado, têm a finalidade de apoiar<br />

as operações aéreas e os serviços de tráfego aéreo nos<br />

aeródromos e difundir as informações meteorológicas<br />

e as previsões dos CNMA e CMV. Os CMA-1 estão<br />

localizados nos principais aeroportos internacionais,<br />

elaborando prognósticos de aeródromos (TAF),<br />

previsões para pouso e decolagem, previsões de área<br />

(GAMET), avisos de CORTANTE DO VENTO,<br />

avisos de aeródromo, mantendo contínua vigilância<br />

meteorológica em seus aeródromos de responsabilidade.<br />

Os CMAs fornecem documentação de vôo às tripulações<br />

e aos despachantes operacionais de vôo, proporcionam<br />

exposições orais e fornecem aos órgãos locais de tráfego<br />

aéreo, informações meteorológicas, observadas ou<br />

prognosticadas, que possam contribuir para a segurança<br />

do aeródromo e das aeronaves estacionadas.<br />

Os Centros Meteorológicos Militares (CMM),<br />

localizados nas Bases Aéreas, prestam apoio específico<br />

à Aviação Militar. Para atender operações militares em<br />

locais restritos, o Comando da Aeronáutica ativa CMM<br />

c) Banco de Dados Operacional (OPMET) e<br />

Climatológico (BCA)<br />

O Serviço de Meteorologia Aeronáutica opera<br />

duas bases de dados. O Banco Internacional de Dados<br />

Operacionais de Meteorologia (Banco OPMET) visa<br />

atender às necessidades imediatas da navegação aérea<br />

através do fornecimento de boletins meteorológicos<br />

rotineiros (METAR, TAF, SPECI, SIGMET), nacionais<br />

e internacionais. O Banco de Climatologia Aeronáutica<br />

(BCA), destina-se à prover os sumários climatológico<br />

dos diversos aeródromos do País e a manter uma base<br />

estatística de dados climatológicos aplicáveis à aviação<br />

e ao planejamento estratégico, técnico e operacional.<br />

d) Sistema de Divulgação de Informações<br />

Meteorológicas<br />

As informações Meteorológicas são divulgadas pela<br />

Rede de Telecomunicações Fixas Aeronáuticas (AFTN)<br />

e pelo site da REDEMET (http://www.redemet.aer.mil.<br />

br) (Figura 8). A REDEMET visa integrar os produtos<br />

meteorológicos voltados à aviação civil e militar. É o<br />

meio oficial do Comando da Aeronáutica para divulgálas,<br />

interligando os órgãos de meteorologia do SISCEAB,<br />

por meio da INTRAER e INTERNET (http://www.<br />

redemet.aer.mil.br). Além disso, possibilita a consulta<br />

17


Boletim SBMET novembro/05<br />

de informações meteorológicas no Banco OPMET e<br />

disponibiliza produtos gerados pela rede de Centros,<br />

radares e Satélites meteorológicos.<br />

prestação do Serviço que estão continuamente sendo<br />

implementadas são destacáveis, dentre elas podemos<br />

citar as associadas à disponibilização das informações<br />

meteorológicas através da REDEMET, modernização<br />

do Banco OPMET, desenvolvimento de sistema<br />

automatizado para verificação do acerto das Previsões<br />

de Aeródromo, controle operacional via web e como não<br />

poderia deixar de ser, a capacitação de recursos humanos<br />

com especializações afetas a Meteorologia Aeronáutica<br />

e pós-graduação na área de Meteorologia.<br />

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

Figura 8: Tela principal da REDEMET.<br />

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

As informações meteorológicas sempre foram<br />

fundamentais para a segurança nas operações aéreas.<br />

<strong>No</strong>s dias atuais, estas também são decisivas para<br />

o planejamento dos vôos visando à economia de<br />

combustível e conforto dos passageiros.<br />

O incremento na eficiência do Serviço de<br />

Meteorologia Aeronáutica, obrigatoriamente, está<br />

atrelado ao contínuo avanço tecnológico nos processos<br />

de coleta de dados, na velocidade de tratamento e<br />

disseminação destes dados e desenvolvimento contínuo<br />

dos produtos prognosticados.<br />

Neste contexto, o DECEA vem atuando e<br />

consolidando uma rede de Estações Meteorológicas<br />

de Superfície, de Altitude e de Radar Meteorológico,<br />

objetivando o processo de coleta de dados meteorológicos<br />

para aplicação nas atividades aéreas, confecção das<br />

previsões meteorológicas pelos diversos Centros<br />

Meteorológicos do SISCEAB, e participação da malha<br />

global de observações da OMM, destinada à Vigilância<br />

Meteorológica Mundial.<br />

BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,<br />

DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />

AÉREO. Manual de Centros Meteorológicos (MCA<br />

105-12). Rio de Janeiro, 2001.<br />

BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,<br />

DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />

AÉREO. Classificação dos Órgãos Operacionais de<br />

Meteorologia Aeronáutica (ICA 105-2). Rio de Janeiro,<br />

2003.<br />

BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,<br />

DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />

AÉREO. Manual de Estações Meteorológicas de<br />

Superfície (MCA 105-2). Rio de Janeiro, 2004.<br />

OACI. <strong>No</strong>rmas Internacionais e Práticas<br />

Recomendadas, Serviço Meteorológico para a<br />

Navegação Aérea Internacional - Anexo 3. Montreal,<br />

2004.<br />

OMM. Guia do Sistema Global de Observação.<br />

Publicação WMO nº488, Genebra, 1989.<br />

OMM. Guia de Instrumentos Meteorológicos<br />

e Métodos de Observação. Publicação WMO nº8,<br />

Genebra, 1996.<br />

OMM. Regulamento Técnico, Serviço<br />

Meteorológico para a Navegação Aérea Internacional.<br />

Publicação WMO, nº49, <strong>Volume</strong> 2, Genebra, 2004.<br />

A qualidade do serviço prestado pelo SISCEAB<br />

é reconhecida internacionalmente. As melhorias na<br />

18


Boletim SBMET novembro/05<br />

CMA-1: IMPORTANTE BRAÇO OPERACIONAL<br />

DA METEOROLOGIA AERONÁUTICA<br />

Mauro Neutzling Lehn<br />

Empresa Brasileira de Infra-Estrutura – INFRAERO<br />

Rodovia Hélio Smidt, s/n – Cxp 3051 – Cumbica<br />

CEP 07143-970 – Guarulhos – SP<br />

E-mail: mlehn.cnsp@infraero.gov.br<br />

Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos,<br />

final de madrugada. A tripulação de um vôo cargueiro<br />

rumo ao sul do país busca informações sobre as<br />

condições de seu destino, pois a época do ano favorece<br />

a formação de nevoeiros e há a preocupação de se<br />

encontrar uma situação que não permita o pouso. Início<br />

da manhã: o entra e sai de Despachantes Operacionais<br />

de Vôo das companhias aéreas é intenso para a retirada<br />

de informações meteorológicas previamente definidas<br />

para cada vôo. Do início da tarde até a noite os telefones<br />

não param de tocar, pois a influência de uma frente fria<br />

na região é esperada para os próximos dias. Essa é a<br />

rotina dos profissionais que trabalham em um Centro<br />

Meteorológico de Aeródromo Classe I (CMA-1), órgão<br />

do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro<br />

(SISCEAB), existente nos principais aeródromos do<br />

país, que tem por finalidade apoiar as operações aéreas,<br />

por meio de elaboração de previsões e da vigilância<br />

meteorológica contínua dos aeródromos sob sua<br />

responsabilidade.<br />

Atualmente existem seis CMA-1 em operação no<br />

Brasil: Manaus, Recife, Brasília, Porto Alegre, Guarulhos<br />

e Rio de Janeiro, sendo os dois últimos operados pela<br />

INFRAERO, os únicos órgãos civis. Todos funcionam<br />

vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano e<br />

contam com equipes compostas por Meteorologistas e<br />

Técnicos em Meteorologia, formados por instituições<br />

civis e militares.<br />

Os CMA-1 são os órgãos operacionais dentro da<br />

estrutura do SISCEAB onde atuam Meteorologistas<br />

de nível superior, responsáveis pelas previsões de<br />

aeródromo (TAF) e de área (GAMET), auxiliados<br />

por pessoal de nível técnico, cujas atribuições são<br />

as observações de aeródromo, vigilância da área de<br />

responsabilidade e também parte do atendimento aos<br />

aeronavegantes. O serviço prestado por esses Centros é<br />

de grande importância para a segurança das operações<br />

aéreas. Além da segurança, o acesso às informações<br />

meteorológicas proporciona economia e conforto ao vôo,<br />

uma vez que, sabendo de condições adversas previstas<br />

ou observadas em rota e no destino, a tripulação pode<br />

fazer um melhor planejamento. O apoio prestado pelo<br />

CMA-1 aos órgãos de Tráfego Aéreo e Operações de<br />

Aeroportos também é igualmente de suma importância<br />

para a tomada de decisões em face às situações de risco<br />

e na prevenção de incidentes e acidentes. Por exemplo:<br />

ventos fortes à superfície podem comprometer a<br />

segurança de aeronaves em procedimento de pouso<br />

e decolagem, como também ameaçar a integridade<br />

física de pessoas que trabalham nas áreas externas do<br />

aeroporto.<br />

Outra atribuição dos CMA-1 é de dar suporte aos<br />

demais Centros Meteorológicos de Aeródromo de sua<br />

área (CMA-2 e CMA-3, operados por Técnicos em<br />

Meteorologia e Operadores de Estações Aeronáuticas,<br />

respectivamente), cuja responsabilidade é de disseminar<br />

as informações oriundas das Estações Meteorológicas de<br />

Superfície (EMS) e divulgar as previsões confeccionadas.<br />

Os CMA-1 também operam em conjunto com os Centros<br />

Meteorológicos de Vigilância (CMV) no monitoramento<br />

e previsão de condições de tempo potencialmente<br />

19


Boletim SBMET novembro/05<br />

perigosas para a aviação. Constituem-se assim em<br />

células centralizadoras subordinadas ao Centro Nacional<br />

de Meteorologia Aeronáutica (CNMA), principal órgão<br />

de Meteorologia Aeronáutica do Brasil, que representa<br />

a especialidade junto à Organização da Aviação Civil<br />

Internacional (OACI).<br />

Embora o CMA-1 atue nos bastidores dos grandes<br />

aeroportos do país, conta com um elenco de profissionais<br />

altamente qualificados e abnegados, e é um dos principais<br />

personagens na missão do SISCEAB que é proteger<br />

vidas. Missão essa que é cumprida todos os dias quando<br />

o atendimento ao aeronavegante é finalizado com a frase<br />

que resume o seu objetivo: “Tenha um bom vôo!”.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

À Cristina Voltas Carrera Fogaccia, Lúcia Setiuko<br />

Tengan e Raquel Silva Lima pelo incentivo, sugestões,<br />

críticas e revisão do texto. Aos colegas de operação de<br />

CMA, por terem compartilhado comigo as experiências<br />

da rotina em Meteorologia Aeronáutica em um grande<br />

aeroporto. À SBMET, pela oportunidade de divulgar<br />

o nosso trabalho para a comunidade meteorológica<br />

brasileira.<br />

1. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Publicação de<br />

Informação Aeronáutica Brasil – AIP BRASIL. Rio<br />

de Janeiro, jul. 2005.<br />

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Manual de<br />

Centros Meteorológicos – MCA 105-12. Rio de<br />

Janeiro, nov. 2001.<br />

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Classificação<br />

dos Órgãos Operacionais de Meteorologia<br />

Aeronáutica – ICA 105-2. Rio de Janeiro, abr. 2003.<br />

20


Boletim SBMET novembro/05<br />

AS ATIVIDADES DE METEOROLOGIA AEROESPACIAL<br />

NO CENTRO TÉCNICO AEROESPACIAL (CTA)<br />

Rosa de Fátima Cruz Marques<br />

Gilberto Fernando Fisch<br />

Divisão de Ciências Atmosféricas - ACA<br />

Instituto de Aeronáutica e Espaço/Centro Técnico Aeroespacial - IAE/CTA<br />

São José dos Campos, SP - Brasil<br />

E-mails: marques@iae.cta.br e gfisch@iae.cta.br<br />

Os fenômenos meteorológicos influenciam de<br />

forma significativa nos vôos dos foguetes e/ou<br />

veículos espaciais. Estes veículos, normalmente não<br />

são projetados para suportar condições meteorológicas<br />

adversas, tais como tempestades severas, relâmpagos<br />

e descargas elétricas, ventos e cisalhamentos intensos<br />

e etc. Assim, a Divisão de Ciências Atmosféricas<br />

(ACA) desenvolve pesquisas científicas e de inovação<br />

tecnológicas em Meteorologia Aeroespacial para apoiar<br />

o projeto, desenvolvimento e lançamento de foguetes.<br />

Os foguetes de sondagem e veículos lançadores de<br />

satélite são desenvolvidos no CTA/IAE e lançados no<br />

Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)<br />

em Natal (RN) e no Centro de Lançamento de Alcântara<br />

(CLA), em Alcântara/MA.<br />

Pelo fato dos centros de lançamentos nacionais<br />

estarem situados na região norte do <strong>No</strong>rdeste do Brasil,<br />

os fenômenos estudados são aqueles característicos das<br />

regiões tropicais e equatoriais. Desta forma, são realizadas<br />

pesquisas sobre Zona de Convergência Intertropical<br />

(ZCIT), Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN),<br />

Linhas de Instabilidade, Ondas de Leste e, devido à<br />

sua posição geografia, sobre circulação de brisa, além<br />

de turbulência atmosférica. Estes sistemas produzem<br />

variações bruscas nos parâmetros meteorológicos, tais<br />

como, ventos de superfície e de altitude, intensidade<br />

de precipitação, tipo de nebulosidade, descarga<br />

atmosférica local e na vizinhança. Sendo assim, é<br />

necessário um conhecimento climatológico da região e<br />

um acompanhamento e vigilância do tempo durante as<br />

campanhas de lançamento. Outro fator importante a ser<br />

monitorado é o campo elétrico da atmosfera, associado,<br />

ou não, a descargas atmosféricas. Portanto, os foguetes<br />

precisam ser protegidos, para garantir a integridade<br />

dos sistemas aeroespaciais (subsistemas de estruturas,<br />

controle, trajetória, etc).<br />

1. OS CENTROS DE LANÇAMENTO<br />

O CLBI localiza-se na cidade de Natal/RN e<br />

possui um Setor de Meteorologia, composto de uma<br />

estação automática de superfície, uma estação de<br />

radiossondagem e uma torre anemométrica (42 metros).<br />

Em 2005 esse Centro completa 40 anos de atividades<br />

aeroespaciais e devido à proximidade da área urbana,<br />

a sua utilização hoje é somente para o lançamento<br />

de foguetes de sondagens de pequeno porte. O CLA<br />

localiza-se na costa litorânea do Maranhão, a 20 km de<br />

São Luiz do Maranhão (Figura 1), de onde são lançados<br />

os foguetes brasileiros, tais como o Veículo Lançador de<br />

Satélite (VLS) e os de Sondagens (SONDA II, SONDA<br />

III, VS30 e VS40) (Figura 2).<br />

Figura 1: Vista panorâmica do Centro de Lançamento de Alcântara.<br />

Localização geográfica: 02°33’S; 44°42’W; 49 m.<br />

21


Boletim SBMET novembro/05<br />

Figura 2: Família de foguetes do IAE.<br />

A seção de Meteorologia do CLA (SMTCLA)<br />

(Figura 3), responsável pela coleta e armazenamento<br />

de dados meteorológicos é constituída por estação<br />

meteorológica de superfície, uma torre anemométrica,<br />

um detector de campo elétrico (Electric Field Mill II) e<br />

de descarga atmosférica (TSS-928-Global Atmospherics<br />

Inc.), estação meteorológica de ar superior e uma equipe<br />

de operadores meteorologistas e por um técnico de<br />

eletrônica. A coleta de dados funciona em regime de H24<br />

com armazenamento de dados a taxas de amostragem de<br />

máxima resolução dos equipamentos e observações de<br />

superfície horárias. Os equipamentos de medição dos<br />

parâmetros meteorológicos de superfície são do tipo<br />

estações automáticas e estão instaladas no ajardinado<br />

meteorológico (Figura 4) situado ao lado do prédio da<br />

SMTCLA. A estação é composta pelos equipamentos de<br />

coleta de dados Milos500/Vaisala, Plataforma de Coleta<br />

de Dados (PCD) Squitter e pela Weather Monitor/Davis.<br />

<strong>No</strong> interior do prédio estão instalados os barômetros<br />

aneróides MK-2 e PA21-Vaisala.<br />

Figura 4: Ajardinado Meteorológico do SMTCLA.<br />

A Torre Anemométrica (TA) é uma estrutura<br />

metálica de 70 m de altura (Figura 5), constituída de<br />

sensores de direção (do tipo aerovane) e velocidade (do<br />

tipo propeller) de vento dispostos em seis níveis (6,<br />

10, 16.3, 28.5, 43 e 70 m). Estes dados são coletados<br />

por um sistema de aquisição importado (data-logger<br />

Campbell CR-7) e transmitidos ao SMTCLA via<br />

fibra ótica. Na Meteorologia são apresentados em<br />

tela de microcomputador, com transmissão direta<br />

para a Segurança de Vôo (SVO). Informações<br />

estatísticas (valores médios, desvio-padrão, velocidade<br />

média escalar, valor máximo, etc) destes dados são<br />

armazenados em intervalos de 10 minutos para cada<br />

nível da TA, para posterior análise. Além da trajetória de<br />

vôo, a SVO também monitora os parâmetros ambientais<br />

(principalmente os de vento), para assegurar-se de<br />

que não excedem os valores críticos utilizados no<br />

projeto e desenvolvimento dos veículos. Fisch (1999)<br />

apresentou algumas das principais<br />

características do perfil de vento<br />

no CLA com informações da TA,<br />

tais como: o perfil do vento segue<br />

o comportamento logaritmo, sendo<br />

que os ventos são mais intensos<br />

na época seca (valores típicos<br />

entre 5,0 a 9,0 ms -1 ) e as rajadas<br />

não apresentam variações entre os<br />

períodos chuvoso e seco.<br />

Figura 3: Seção de Meteorologia do CLA (SMTCLA).<br />

22


Boletim SBMET novembro/05<br />

2. APOIO METEOROLÓGICO ÀS CAMPANHAS DE<br />

LANÇAMENTO<br />

A atividade de apoio meteorológico nas campanhas<br />

de lançamento de foguete consiste na elaboração de<br />

um boletim diário das condições meteorológicas e<br />

o acompanhamento do tempo presente, com alerta a<br />

possíveis situações adversas ao veiculo, tais como a<br />

ocorrência de precipitação, ventos intensos de superfície<br />

e de altitude, descargas atmosféricas etc. O boletim diário<br />

é composto por informações referentes às condições de<br />

tempo reinantes na região e pela previsão do tempo para<br />

24 horas e tendência para 48 horas. Nas condições de<br />

tempo reinantes são comentados à presença de sistemas<br />

meteorológicos, nebulosidade, ventos de superfície e<br />

altitude, ocorrência de chuva e etc.<br />

Figura 5: Vista panorâmica da TA.<br />

A estação de ar superior, composta pelo sistema<br />

Digicora/Vaisala, é responsável pela coleta de dados,<br />

através de radiossondas. Realiza uma sondagem diária<br />

as 1200 UTC. Estas sondagens diárias formam o banco<br />

de dados do CLA e podem ser utilizados posterioremente<br />

para estudos climatológicos de fenômenos de interesse<br />

(Coutinho e Fisch, 2004). A SVO, antes da campanha de<br />

lançamento, calcula a trajetória nominal de vôo baseado<br />

nos dados históricos de vento (torre anemométrica<br />

e radiossondagem) do CLA. Ressalta-se que as<br />

condições meteorológicas gerais podem ser diferentes<br />

daquelas previstas pela climatologia. Assim sendo,<br />

durante a campanha de lançamento são realizadas<br />

várias radiossondagens nos horários que precedem o<br />

lançamento, que são utilizadas para ajustar ou mesmo<br />

realizar pequenas correções na trajetória de vôo.<br />

<strong>No</strong> caso do VLS (Figura 6), em que sua montagem<br />

é realizada no CLA, são realizadas várias operações<br />

que precisam ser monitoradas pelo meteorologista. Tais<br />

como, transporte de estágios, coifa, satélites, transporte<br />

de propelentes, etc entre o prédio do Setor de Preparação e<br />

a Torre Móvel de Integração (TMI). Este trajeto, de cerca<br />

de 800 m, leva em torno de 1 a 2 horas. Portanto, nestas<br />

situações são necessárias previsões meteorológicas<br />

com alto grau de confiabilidade e vigilância do tempo<br />

presente para garantir a não ocorrência de chuva e ou<br />

descargas atmosféricas durante estes procedimentos.<br />

O SMTCLA conta ainda com o Laboratório Sinótico,<br />

que compreende o Sistema de Recepção de Imagens<br />

de Satélites Meteorológico, análise dos resultados dos<br />

principais modelos numéricos de previsão disponíveis,<br />

via internet, e os softwares de análise de dados de<br />

radiossondagens e ventos de superfície, em tempo real.<br />

Figura 6: Veiculo lançador de Satélite (VLS).<br />

23


Boletim SBMET novembro/05<br />

Para uma tomada de decisão do lançamento<br />

de foguete (GO/NO GO), pela SVO, é necessário<br />

informações contínuas dos parâmetros meteorológicos,<br />

principalmente os de ventos. O conhecimento da<br />

estrutura vertical do vento (perfis médios e rajadas<br />

de vento) é de suma importância, pois os foguetes<br />

são projetados e construídos para suportarem uma<br />

determinada carga pela ação do vento. <strong>No</strong> caso do VLS,<br />

que é um veículo com quatro estágios, sofre desvio<br />

lateral em sua trajetória a ser compensado mais tarde<br />

pelo sistema de guiagem. <strong>No</strong>s foguetes de sondagem<br />

(Figura 7), por serem veículos menores, estes são<br />

mais afetados ainda em sua dispersão pelos ventos de<br />

superfície, porque a sua velocidade de decolagem ainda é<br />

relativamente baixa, mudando o azimute de lançamento<br />

pela componente lateral do vento, ou a elevação pela<br />

componente frontal. Resumindo, cada veículo possui<br />

restrições de lançamento quanto à velocidade do vento<br />

à superfície, ventos de altitude e cisalhamento.<br />

Durante a cronologia de lançamento, o momento<br />

crítico é quando as sondagens são lançadas em espaço<br />

de tempo muito curto e os dados transferidos para a<br />

Segurança de Vôo para visualização de intensidade,<br />

direção e cisalhamento do vento, através dos softwares<br />

(Sismove e Guará). A SVO também calcula o vento<br />

balístico, com dados da TA e radiossondagem, para a<br />

tomada de decisão, quando da ocorrência ou não de<br />

lançamento. Isto ocorre 2 horas e 30 minutos antes da<br />

Hora de lançamento (H0), sendo que o foguete já está na<br />

posição vertical pronto para ser lançado. Em suma, há a<br />

necessidade de se conhecer com precisão as condições<br />

de ocorrência de chuva em um raio de 80-100 km do<br />

lançador, que daria um tempo de deslocamento do<br />

sistema meteorológico em torno de 2 horas (considerando<br />

um deslocamento típico de 40 kmh -1 ). Outro ponto<br />

importante, nesta situação, é o monitoramento do<br />

desenvolvimento de nuvens que estão ocorrendo num<br />

raio inferior a 100 km, a fim de que os responsáveis pelas<br />

operações sejam avisados com antecedência suficiente<br />

para serem tomadas as providencias necessárias visando<br />

à segurança das operações.<br />

Figura 7: O foguete de sondagem VS30 Orion no lançador.<br />

<strong>No</strong>vembro de 2002.<br />

2.1. Equipe Envolvida<br />

O efetivo do SMTCLA é acrescido de um grupo<br />

qualificado da ACA (Meteorologistas, Técnicos em<br />

Meteorologia e um Engenheiro Eletrônico). A função<br />

do Técnico de Meteorologia é preparar e realizar as<br />

radiossondagens meteorológicas nos horários préestabelecidos,<br />

coletar os dados meteorológicos de apoio<br />

à previsão do tempo e calibrar e instalar equipamentos<br />

meteorológicos necessários. A função do Meteorologista/<br />

Previsor é realizar a previsão meteorológica, usando<br />

todos os recursos disponíveis.<br />

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

As atividades de apoio meteorológico ao projeto,<br />

desenvolvimento e lançamento de foguete são bem<br />

específicas e particulares, pois tem como único<br />

objetivo o sucesso de lançamento. Neste sentido, não se<br />

encontram muitas informações disponíveis na literatura<br />

mundial sobre os procedimentos operacionais nos<br />

principais Centros de lançamento mundial, tais como<br />

no Guiana Space Center (GSC), e no Kennedy Space<br />

Center (KSC). O aprendizado destas atividades ocorre,<br />

muitas vezes, através de contatos com instituições<br />

estrangeiras e treinamento sobre o assunto. As atividades<br />

24


Boletim SBMET novembro/05<br />

desenvolvidas no SMTCLA foram, ao longo dos anos,<br />

estabelecidas em função somente de interações locais,<br />

entre grupos do IAE e/ou CLA.<br />

Está sendo adquirido um radar meteorológico para<br />

o CLA, o que vai contribuir significativamente para<br />

melhorar a performance da previsão meteorológica a<br />

curto prazo (inferior a 3 horas). Sendo assim, poderá<br />

ser realizada previsão de tempo de curto prazo com alto<br />

grau de confiabilidade para uma tomada de decisão, pela<br />

SVO, com maior segurança. O radar meteorológico é<br />

um equipamento importante para esta previsão, pois,<br />

apresenta os campos de nebulosidade, principalmente<br />

relativa à ocorrência ou não de nuvens com precipitação,<br />

direção e velocidade de vento, deslocamento e<br />

características de sistemas meteorológicos.<br />

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

Atlas Climatológico do Centro de Lançamento<br />

de Alcântara (CLA). Divisão de Ciências Atmosférica<br />

(ACA)/IAE/CTA. São José dos Campos, outubro,<br />

2002.<br />

COUTINHO, E; G.FISCH. Distúrbios Ondulatórios<br />

de Leste (DOLs) na região do centro de Lançamento<br />

de Foguetes de Alcântara. XIII Congresso Brasileiro de<br />

Meteorologia, Fortaleza/CE, Soc. Bras. Meteorologia.<br />

Anais. 2004.<br />

FISCH, G. Características do perfil vertical do vento<br />

no Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara<br />

(CLA). Revista Brasileira de Meteorologia, 14(01):11-<br />

21, 1999.<br />

FISCH, G.F. Curso de Reciclagem em Tecnologia<br />

Espacial. CTA/IAE/ACA, Dez 1998, 15 p.<br />

MARQUES, R.F.C. Influência de Sistema<br />

Meteorológicos no Regime de Vento no Centro de<br />

Lançamento de Alcântara (CLA). XIII Congresso<br />

Brasileiro de Meteorologia, Fortaleza/CE, Soc. Bras.<br />

Meteorologia. Anais. 2004.<br />

PALMÉRIO, A. F. Introdução à Engenharia de<br />

Foguetes. CTA/IAE/ASE, agosto, 2002, 132 p.<br />

25


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confiáveis para seus sistemas de radares meteorológicos<br />

METEOR Doppler, além do suporte técnico para garantir a<br />

operação dos mesmos sempre com segurança e tranqüilidade.<br />

A AMS-Gematronik desenvolveu uma linha de produtos<br />

de radar meteorológico METEOR com o estado-da-arte<br />

em tecnologia, que inclui sistemas de controle inteligentes,<br />

processamento de dados e visualização, bem como sistemas<br />

de comunicação, de modo a prover o melhor sistema de<br />

gerenciamento de dados meteorológicos. Associado ao nosso<br />

sistema de treinamento e serviço de suporte permanente, a<br />

AMS – Gematronik tem o compromisso de fornecer soluções<br />

integradas para radares e sensores meteorológicos, sempre<br />

flexíveis, expansíveis, escalonáveis e com custo efetivo.<br />

Seja qual for sua necessidade, você pode estar certo<br />

de estar em boas mãos com a AMS-Gematronik.<br />

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Boletim SBMET novembro/05<br />

O PROJETO SIVAM, O SIPAM E A SUA<br />

CONTRIBUIÇÃO PARA A SEGURANÇA DA<br />

NAVEGAÇÃO AÉREA NA AMAZÔNIA LEGAL<br />

Ricardo Luiz Godinho Dallarosa;<br />

Renato Cruz Senna; Jaci Bilhalva Saraiva<br />

Divisão de Meteorologia – DMET<br />

Centro Técnico e Operacional de Manaus – CTO-MN<br />

Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM<br />

E-mails: ricardo@mn.sivam.gov.br, renato@mn.sivam.gov.br,<br />

jsaraiva@mn.sivam.gov.br<br />

A grande preocupação com a integridade territorial e<br />

com a proteção dos inestimáveis - e ainda pouquíssimo<br />

explorados - recursos hídricos, minerais e genéticos<br />

da Região Amazônica, em associação com a grande<br />

vulnerabilidade regional ditada pela sua baixa densidade<br />

demográfica, fizeram surgir na esfera do Poder Executivo<br />

brasileiro, na década de 90, um ambicioso projeto<br />

de vigilância e proteção dessa imensa região e suas<br />

extraordinárias riquezas. Alicerçado por um fabuloso<br />

aparato tecnológico, de sensores e de comunicações, e<br />

com o objetivo de gerar, reunir e fornecer informações<br />

que permitissem integrar as diversas<br />

instituições regionais e nacionais atuantes<br />

nas áreas de pesquisa, proteção ambiental<br />

e vigilância territorial na região, no sentido<br />

de otimizar o planejamento de suas distintas<br />

atividades, surgiu o Projeto SIVAM (Sistema<br />

de Vigilância da Amazônia). Foi apresentado<br />

publicamente pela primeira vez durante a II<br />

Conferência Mundial para o Meio Ambiente<br />

e Desenvolvimento (ECO-92), realizada no<br />

Rio de Janeiro em junho de 1992.<br />

A princípio polêmico por seu gigantismo<br />

e sistematicamente contestado pelo seu<br />

elevado custo econômico, desde a sua<br />

instalação o Projeto vem consolidando a cada<br />

dia a sua importância na consecução do objetivo que<br />

o originou. Um grande esforço foi despendido na área<br />

de proteção ambiental com a concepção do SIPAM<br />

(Sistema de Proteção da Amazônia), contemplando<br />

segmentos estratégicos importantes para o planejamento<br />

do uso sustentável desse frágil ambiente, como é o caso<br />

da Meteorologia. Nesse contexto, foram instaladas<br />

ao longo da região setenta (70) novas estações<br />

meteorológicas automáticas de superfície, onze (11)<br />

estações de radiossondagem, além de dez (10) radares<br />

meteorológicos, proporcionando uma cobertura de<br />

coleta de dados meteorológicos bastante significativa e<br />

promissora. A Figura 1 mostra a distribuição dos sensores<br />

de meteorologia do SIPAM na Amazônia Legal.<br />

Figura 1: Distribuição espacial das estações radares meteorológicos<br />

(ERM), estações de superfície (EMS) e estações de altitude (EMA)<br />

do SIPAM.<br />

27


Boletim SBMET novembro/05<br />

Dividido em três (03) Centros Técnicos Operacionais<br />

(CTO - MN / BE / PV), distribuídos nas capitais<br />

Manaus (AM), Belém (PA) e Porto Velho (RO), com<br />

suas Divisões de Meteorologia (DMETs), as quais têm<br />

a função, entre outras, de armazenar, tratar e disseminar<br />

esses dados na forma de produtos de Meteorologia, o<br />

SIPAM constituiu-se, no curto espaço de tempo de<br />

sua existência, numa instituição de referência para a<br />

meteorologia regional.<br />

O povoamento dos segmentos operacionais nos<br />

CTOs, que previa a requisição à órgãos federais de servidores<br />

públicos com as correspondentes competências,<br />

esbarrou nas dificuldades desses órgãos em ceder servidores<br />

em virtude do longo período a que estiveram<br />

submetidos sem a possibilidade de realizar concursos,<br />

constituindo-se num ponto nevrálgico na implantação<br />

do sistema. Isso estimulou a utilização de contratações<br />

terceirizadas como forma de se buscar uma solução alternativa<br />

que permitisse prosseguir com o planejamento<br />

da inadiável busca da condição operacional.<br />

A formação de uma equipe de meteorologistas<br />

experientes e qualificados na DMet-MN teve a<br />

indispensável colaboração da Direção Geral do SIPAM<br />

e da Gerência Regional de Manaus, cuja sensibilidade<br />

permitiu reunir meteorologistas com reconhecida<br />

experiência em distintas áreas (sistemas, comunicação,<br />

meteorologia dinâmica, climatologia, modelagem, etc)<br />

contemplando a estratégia proposta de uma desejável<br />

multidisciplinaridade na formação desses profissionais,<br />

que reúne atualmente sete (07) meteorologistas - dentre<br />

os quais três (03) doutores - e cinco (05) técnicos<br />

cursando terceiro grau e com boa experiência na área<br />

de informática. Paralelamente, teve início um processo<br />

de atualização e desenvolvimento de produtos de<br />

meteorologia ainda inexistentes quando da elaboração<br />

do projeto, mas imprescindíveis para a necessária<br />

equiparação dos serviços com aqueles dos demais<br />

centros de meteorologia operacional do país.<br />

Na esteira destas ações foi instaurada a operação<br />

expandida com uma nova formatação de trabalho,<br />

onde as atividades passaram a ser desenvolvidas<br />

durante o período entre as 07 e as 23 horas ao longo<br />

dos sete dias da semana, o que conferiu maior fôlego<br />

à atuação do segmento junto aos principais parceiros e<br />

demais usuários. Todo esse esforço teve como reflexo<br />

a ampliação da capacidade de atendimento a demandas<br />

até então mantidas reprimidas, resultando numa maior<br />

visibilidade do órgão junto à sociedade e suas forças<br />

representativas. Como resposta, emergiu um ambiente<br />

propício à consagração de projetos de cooperação<br />

com importantes parceiros que permitiram a exigida<br />

atualização do seu parque de informática.<br />

Historicamente, desde a inauguração do CTO-MN,<br />

ocorrida em meados de 2002, o principal parceiro<br />

da Meteorologia do SIPAM tem sido a Aeronáutica,<br />

não apenas pela sua patente proximidade física, mas<br />

principalmente pela existência de objetivos comuns<br />

e até mesmo complementares. O CINDACTA IV,<br />

recentemente inaugurado, comunga espaço com o CTO<br />

formando um grande complexo arquitetônico próximo<br />

ao aeroporto de Manaus. Dessa forma, todos os produtos<br />

de meteorologia definidos no projeto original têm sido<br />

sistematicamente disponibilizados em tempo real para<br />

os segmentos de meteorologia dos Serviços Regionais<br />

de Proteção ao Vôo (SRPVs), além de produtos<br />

especiais gerados na DMet-MN, conforme é destacado<br />

mais adiante.<br />

1. A ATUAÇÃO NA SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO<br />

AÉREA<br />

Dentre os diversos produtos de meteorologia<br />

disponíveis aos vários segmentos da sociedade, os<br />

alertas meteorológicos ganharam um destaque especial.<br />

São produtos de previsão de curto e curtíssimo prazo,<br />

destinados à Defesa Civil e ao Controle de Tráfego<br />

Aéreo (ATC) do Serviço Regional de Proteção ao Vôo<br />

(SRPV). À Defesa Civil os principais recursos utilizados<br />

têm suporte essencial no monitoramento do tempo por<br />

imagens de radar meteorológico, enquanto para o ATC<br />

os alertas se valem das imagens de satélite (GOES-<br />

12 e NOAA-12-15-16-17) como suporte ao envio de<br />

cartas de risco diretamente ao console do controlador de<br />

tráfego (Figura 2), produzidas sobre imagens de satélite<br />

(no caso, da plataforma GOES-12, canal infravermelho),<br />

onde as áreas em azul indicam temperaturas mais baixas<br />

(verificadas em nuvens com topo mais elevado) e maior<br />

concentração de vapor d’água.<br />

28


Boletim SBMET novembro/05<br />

Figura 3: Número total mensal de cartas de risco enviadas ao ATC<br />

(SRPV-MN), em 2005.<br />

Figura 2: Carta de risco meteorológico produzida sobre imagem<br />

de satélite.<br />

Após identificar as áreas de possíveis riscos à<br />

navegação aérea, os técnicos da DMet, através da<br />

utilização de recursos específicos do software de<br />

meteorologia disponível (ESYMET), cercam essas áreas<br />

com polígonos irregulares e identificam brevemente<br />

esses riscos, geram o correspondente arquivo de envio<br />

e encaminham ao controlador de tráfego. Este dispõe<br />

de um monitor onde aparecem as rotas e as posições<br />

das aeronaves em trânsito no momento, sobre o<br />

qual recebe apenas os polígonos acompanhados do<br />

código do tipo fenômeno associado, o que permite<br />

definir conjuntamente com o piloto da aeronave os<br />

correspondentes procedimentos de segurança a serem<br />

adotados em cada caso.<br />

A Figura 3 apresenta o total mensal de intervenções<br />

(envios) destinadas ao ATC efetuadas no ano de 2005,<br />

até o mês de outubro, evidenciando a importância do<br />

serviço prestado. Foram realizadas ao todo cerca de<br />

611 intervenções, 74% das quais ocorreram nos meses<br />

da estação chuvosa, entre janeiro e maio (451). Esses<br />

números são bastante significativos, principalmente<br />

levando-se em conta que a região apresentou neste<br />

período (2005) uma das maiores estiagens da sua história<br />

tendo, como conseqüência óbvia, uma correspondente<br />

sensível redução no número de ocorrências.<br />

Outro sensor do SIPAM bastante utilizado pela<br />

meteorologia da Aeronáutica é o radar meteorológico.<br />

Para este parceiro, os principais produtos do sensor radar<br />

são as imagens CAPPI (Constant Altitude Plan Polar<br />

Indicator) e PPI (Plan Polar Indicator), que constituem<br />

importantes ferramentas na identificação e localização<br />

de fenômenos presentes na área de cobertura das antenas<br />

dos radares meteorológicos (Manual do Operador<br />

FROG VIS). São produtos constituintes das receitas<br />

operacionais dos radares do SIPAM, gerados a cada<br />

intervalo de 10 minutos e que mostram a presença de<br />

alvos meteorológicos (nuvens) no raio de alcance (400<br />

km) da antena em diferentes alturas pré-determinadas<br />

(no caso, PPI com elevação de 0° e CAPPI a 2 km de<br />

altura).<br />

A Figura 4 apresenta ambos os produtos com<br />

visualização através do software de visualização Colibri<br />

(FROG VIS), instalado nas máquinas do Centro de<br />

Controle e Operação dos Radares Meteorológicos do<br />

SIPAM, na DMet/MN e em fase de aquisição pelo<br />

SRPV-MN. A régua de cores, posicionada verticalmente<br />

na extremidade direita do quadro das imagens, apresenta<br />

uma variação de cores desde o azul (baixa concentração<br />

de vapor) até o vermelho (alta concentração).<br />

Relativamente às medidas dos ecos, estas cores indicam<br />

registros que vão desde 0 a 90 dbz ou mais, sendo que<br />

acima de 35/40 dbz (faixa do laranja) já identificam<br />

ocorrência de precipitação no local.<br />

<strong>29</strong>


Boletim SBMET novembro/05<br />

Figura 4: Produtos PPI (400 km) e CAPPI (250 km), do radar de Porto Velho, conforme visualizados pelo Colibri.<br />

Relativamente ao sensor radar meteorológico está<br />

em estudo uma proposta de integração entre as unidades<br />

do SIPAM e da Aeronáutica, contemplando uma<br />

receita operacional mínima comum e a correspondente<br />

uniformização dos seus horários de operação. Os radares<br />

meteorológicos constituem a área de desenvolvimento<br />

mais promissora do segmento de meteorologia do<br />

sistema e devem, brevemente, receber uma atenção<br />

especial atendendo proposta de criação de um Núcleo<br />

de Radares Meteorológicos, com a formação de um<br />

grupo exclusivamente dedicado.<br />

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

FROG VIS Operator’s Manual. Edition 1, Revision<br />

1, by GAMIC, Aachen, Germany, 2002, 90 p.<br />

TERASCAN Software Trainig Guide,. Revision<br />

E., by SeaSpace Corporation, Poway/CA, USA, 2000,<br />

230 p.<br />

Weather Information Processing Operator’s<br />

Course. Ed by Raytheon Company, Dallas/TX, USA,<br />

2001, 122 p.<br />

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A original apreensão inicial quanto ao sucesso desse<br />

ousado e complexo projeto, conduzida pela inexistência<br />

de um paradigma que oferecesse a ansiada segurança de<br />

obtenção de êxito, foi-se desvanecendo com a produção<br />

e evolução natural dos seus segmentos operacionais<br />

onde coube à meteorologia desempenhar o seu papel.<br />

O sentimento de que o SIPAM ocupa um importante<br />

espaço no cenário amazônico e a expectativa de contínua<br />

expansão dos seus recursos e produtos originalmente<br />

previstos, faz do mesmo um substantivo e natural<br />

ambiente de convergência dos anseios por soluções a<br />

questionamentos regionais até então dispersos, o que<br />

confere ao sistema uma responsabilidade e um desafio à<br />

altura da sua pretendida abrangência, a Amazônia Legal<br />

Brasileira.<br />

30


Boletim SBMET novembro/05<br />

ACIDENTES AÉREOS ASSOCIADOS À CONDIÇÕES<br />

METEOROLÓGICAS ADVERSAS E MELHORIA<br />

CONTÍNUA DOS SISTEMAS DAS AERONAVES<br />

Ney Ricardo Moscati (*)<br />

Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. – EMBRAER<br />

Av. Brigadeiro Faria Lima, 2170 – São José dos Campos – SP CEP: 12227-901<br />

E-mail: ney.moscati@embraer.com.br<br />

O desenvolvimento dos sistemas das aeronaves para<br />

operação civil (propulsão, comunicação, navegação,<br />

elétrico, hidráulico, pressurização, comandos de vôo,<br />

trem de pouso, piloto automático, proteção de gelo,<br />

entre outros) está diretamente relacionado ao processo<br />

de certificação da aeronave. <strong>No</strong> Brasil, a autoridade<br />

certificadora é o Centro Técnico Aeroespacial (CTA),<br />

representado pelo Instituto de Fomento e Coordenação<br />

Industrial (IFI), com sua respectiva regulamentação<br />

definida através do Regulamento Brasileiro de<br />

Homologação Aeronáutica (RBHA). <strong>No</strong>s Estados<br />

Unidos da América (EUA) a autoridade certificadora<br />

é o Federal Aviation Administration (FAA) e respectivo<br />

Federal Aviation Regulations (FAR), enquanto na<br />

Europa é a European Aviation Safety Agency (EASA)/<br />

Joint Aviation Authorities (JAA) e respectivo Joint<br />

Aviation Regulations (JAR).<br />

Um dos importantes instrumentos utilizados para<br />

aumentar a segurança do transporte aéreo é a análise<br />

e entendimento de seus acidentes e incidentes. <strong>No</strong><br />

Brasil, as investigações são coordenadas pelo Centro<br />

de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos<br />

(CENIPA), órgão central do Sistema de Investigação<br />

e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER),<br />

subordinado diretamente ao Estado-Maior de Aeronáutica<br />

(EMAER). O CENIPA é responsável por promover a<br />

segurança da atividade aérea do país, por intermédio do<br />

gerenciamento das tarefas de investigação e prevenção<br />

de acidentes, incidentes aeronáuticos e ocorrências de<br />

solo. Muitas vezes o resultado dessas análises resulta<br />

na alteração dos regulamentos de certificação. Este<br />

processo propiciou ao transporte aéreo a posição de<br />

ser um dos meios de transporte mais seguro. <strong>No</strong> Brasil,<br />

como referência, no ano de 2004 houve uma média de<br />

3,74 acidentes por milhão de decolagens de aeronaves<br />

de massa acima de 27.200 kg (CENIPA/DAC, 2005).<br />

Identificar a causa de um acidente aéreo é atividade<br />

complexa, uma vez que diversos fatores, ou mesmo uma<br />

combinação destes, podem provocar um acidente. Podese<br />

citar como os fatores causadores de acidentes aqueles<br />

relacionados ao controle de trafego aéreo, controle em<br />

solo, operação da tripulação, manutenção, qualidade<br />

da manufatura, projeto da aeronave e condições<br />

atmosféricas. As condições atmosféricas consideradas<br />

neste trabalho são: condições que resultam no acúmulo<br />

de gelo sobre as superfícies externas da aeronave,<br />

descargas elétricas, windshear (tesoura de vento),<br />

condições de baixa visibilidade provocada por neblina,<br />

turbulência e tempestade. Nas investigações das causas<br />

dos acidentes podem ser utilizadas informações da<br />

“caixa preta” (contendo dados de voz e de vôo) e de<br />

radar em solo (trajetória), resultados de simulações,<br />

da análise de destroços, da análise de procedimentos<br />

operacionais e de manutenção, entre outros. <strong>No</strong> site<br />

do CENIPA (http://www.cenipa.aer.mil.br) são<br />

encontradas estatísticas de acidentes da aviação civil,<br />

envolvendo aeronaves de matrícula brasileira, ocorridos<br />

em território nacional e no exterior. Também, no site<br />

do DAC (www.dac.gov.br/estatisticas) é disponível<br />

estatísticas de acidentes aeronáuticos por tipo de<br />

(*) As informações contidas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não da EMBRAER.<br />

31


Boletim SBMET novembro/05<br />

operação (regular, agrícola, instrução, taxi aéreo,<br />

privados, públicos), entre outros assuntos relacionados.<br />

<strong>No</strong>s EUA, as investigações são conduzidas pelo<br />

National Transport Safety Board (NTSB), uma agência<br />

federal independente, encarregada pelo Congresso de<br />

investigar todos os acidentes da aviação civil ocorridos<br />

nos EUA, emitindo recomendações de segurança com<br />

o objetivo de prevenir futuros acidentes. Também,<br />

com o objetivo de promover análises e uma troca de<br />

informações relativas à segurança de aeronaves visando<br />

uma melhoria contínua da segurança na aviação, o FAA<br />

criou o National Aviation Safety Data Analysis Center<br />

(NASDAC).<br />

O objetivo deste trabalho é apresentar algumas<br />

estatísticas que correlacionam acidentes aéreos com<br />

condições meteorológicas adversas e como o projeto<br />

dos sistemas das aeronaves evoluíram de forma a evitálos.<br />

Por fim, apresenta-se um glossário de alguns termos<br />

técnicos utilizados na indústria aeronáutica (grafados ao<br />

longo do texto em caixas em tom de cinza).<br />

1. ACIDENTES AÉREOS RELACIONADOS COM<br />

CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS<br />

Um estudo realizado pelo NASDAC utilizando<br />

a base de dados de acidentes do NTSB no período de<br />

1994 a 2003 constatou que:<br />

a) 21,3 % dos acidentes têm como causa ou<br />

contribuição as condições meteorológicas (vento,<br />

visibilidade/altura da camada de nuvens, turbulência,<br />

gelo, altitude barométrica, precipitação, tempestade,<br />

windshear);<br />

b) O número de acidentes e a correlação com<br />

a condição atmosférica dependem fortemente da<br />

categoria de operação da aeronave. A Tabela 1 apresenta<br />

os acidentes aeronáuticos relacionados com condições<br />

meteorológicas por categoria de operação. As Tabelas<br />

2 e 3 apresentam o número de eventos por categoria de<br />

condição meteorológica para aviação geral (categoria de<br />

operação FAR Parte 91) e para aviação doméstica, de<br />

bandeira e suplementar (categoria de operação FAR Parte<br />

121), respectivamente. Vale ressaltar que um acidente<br />

pode envolver múltiplas condições atmosféricas;<br />

c) 41,2% de todos os acidentes relacionados às<br />

condições meteorológicas não mostram registro<br />

de conhecimento prévio do piloto das condições<br />

meteorológicas presentes;<br />

d) Embora o total anual de acidentes tenha diminuído<br />

no período estudado, a porcentagem dos acidentes<br />

relacionados com condições atmosféricas adversas<br />

em relação ao total anual de acidentes permaneceu<br />

praticamente constante.<br />

Tabela 1: Acidentes relacionados com condições meteorológicas, por categoria de operação.<br />

CATEGORIA DE OPERAÇÃO<br />

TOTAL DE EVENTOS<br />

Aviação Geral (FAR Parte 91) 3.617<br />

Operações Complementares e por Demanda (FAR Parte 135) 257<br />

Operação de Aviação Agrícola (FAR Parte 137) 141<br />

Operações Domésticas, de Bandeira e Suplementares (FAR Parte 121) 116<br />

Uso Público 19<br />

Operação de Aeronaves de Asas Rotativas com Cargas Externas (FAR Parte 133) 7<br />

Operação de Empresas Estrangeiras (FAR Parte 1<strong>29</strong>) 7<br />

Outros (não nos EUA, Comercial e Veículos Ultraleve (FAR Parte 103)) 3<br />

Total 4.167<br />

FONTE: http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.<br />

32


Boletim SBMET novembro/05<br />

Tabela 2: Eventos por categoria de condição meteorológica para categoria de operação de aviação geral (FAR Parte 91).<br />

CATEGORIA DE CONDIÇÃO METEOROLÓGICA<br />

TOTAL DE EVENTOS<br />

Vento 2.514<br />

Visibilidade/Altura da camada de nuvens 977<br />

Turbulência 371<br />

Gelo 350<br />

Altitude barométrica 347<br />

Precipitação 208<br />

Tempestade 94<br />

Windshear 59<br />

Outros (não nos EUA, Comercial e Veículos Ultraleve (FAR Parte 103) 7<br />

Total 4.927<br />

FONTE:http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.<br />

Tabela 3: Eventos por categoria de condição meteorológica para categoria de operações doméstica, de bandeira e suplementares<br />

(FAR Parte 121).<br />

CATEGORIA DE CONDIÇÃO METEOROLÓGICA<br />

TOTAL DE EVENTOS<br />

Turbulência 92<br />

Vento 11<br />

Precipitação 8<br />

Tempestade 3<br />

Visibilidade/Altura da camada de nuvens 3<br />

Altitude barométrica 2<br />

Windshear 2<br />

Outros 2<br />

Gelo 1<br />

Total 124<br />

FONTE:http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.<br />

Especificamente relativo a acidentes em que uma das<br />

causas pode ser atribuída a ocorrência de turbulência,<br />

um estudo da NASDAC realizado no período 1992 a<br />

2001 constatou que (NASDAC, 2004):<br />

a)<br />

b)<br />

23% dos acidentes resultaram em mortes de<br />

ocupantes da aeronave;<br />

Os acidentes da Aviação Geral (FAR Parte 91)<br />

relacionados com turbulência, reduziram em<br />

cerca de 60% no período estudado;<br />

c)<br />

d)<br />

O NTSB cita as correntes de ar descendentes como<br />

a causa ou o fator mais freqüente em acidentes da<br />

aviação geral;<br />

A Turbulência de Ar Claro (do inglês, Clear<br />

Air Turbulence) freqüentemente foi citada nos<br />

acidentes de operação doméstica, de bandeira e<br />

suplementares (FAR Parte 121).<br />

33


Boletim SBMET novembro/05<br />

1.1. Acidentes Associados ao Acúmulo de Gelo em<br />

Superfícies Externas de Aeronaves e Sistemas de<br />

Proteção de Gelo<br />

A operação da aeronave pode ser afetada através do<br />

acúmulo de gelo: a) nas asas e superfícies, degradando<br />

a sustentação, controlabilidade e aumentando o arrasto;<br />

b) em sensores para medir velocidade, altitude e ângulo<br />

de ataque, resultando em erros nas medidas; c) no<br />

parabrisa, degradando a visibilidade; d) na entrada de<br />

ar dos motores, uma vez que a ingestão de gelo pelo<br />

motor pode causar danos no compressor ou nas pás<br />

do primeiro estágio do motor e pode causar alterações<br />

no escoamento de ar, resultando em degradação de<br />

desempenho; entre outros. A Tabela 4 apresenta a<br />

relação de alguns acidentes catalogados pelo NTSB,<br />

ocorridos nos últimos 20 anos, onde o acúmulo de gelo<br />

foi considerado como um dos fatores responsáveis pelo<br />

acidente. Nessa tabela destaca-se a fase do vôo em que<br />

ocorreu o acidente e o número de mortes.<br />

Baseado na análise desses acidentes, o NTSB tem<br />

alertado sobre os perigos do acúmulo de gelo na superfície<br />

superior das asas, e considerou necessária a revisão<br />

da maneira pelas quais as aeronaves são projetadas e<br />

certificadas para operar em condições de gelo. Também<br />

recomendou modificações nos regulamentos relativos<br />

aos requisitos de aeronavegabilidade de aviões da<br />

categoria normal, utilidade, acrobático e transporte<br />

regional (FAR Parte 23) e de aviões da categoria<br />

transportes (FAR Parte 25).<br />

Tabela 4: Acidentes relacionados ao acúmulo de gelo.<br />

Data do<br />

acidente<br />

Companhia<br />

Aérea/vôo<br />

Modelo de<br />

aeronave<br />

Local do acidente Referência (*) Fase de vôo<br />

(nº de mortes)<br />

28/11/2004 Air Castle Bombardier<br />

Challenger 604<br />

04/01/2002 Epps Air Service<br />

Inc.<br />

Bombardier<br />

Challenger 604<br />

Montrose, Colorado,<br />

EUA<br />

DEN05MA028<br />

Birmingham, Inglaterra AAIB 5/2004<br />

(EW/C2002/1/2)<br />

Decolagem<br />

(3)<br />

Decolagem<br />

(5)<br />

09/01/1997 Commair - 3272 EMB-120RT Monroe, Michigan,<br />

EUA<br />

31/10/1994 American Eagle<br />

– 4184<br />

ATR 72-212<br />

Roselawn, Indiana,<br />

EUA<br />

22/03/1992 US Air – 405 Fokker F-28 Aeroporto de<br />

Laguardia, Flushing,<br />

New York, EUA<br />

NTSB/<br />

AAR-98-04<br />

NTSB/<br />

AAR-96-01<br />

NTSB/<br />

AAR-93-02<br />

Cruzeiro<br />

(<strong>29</strong>)<br />

Cruzeiro<br />

(68)<br />

Decolagem<br />

(27)<br />

17/02/1991 Ryan International<br />

Airlines<br />

DC-9-15<br />

Cleveland-Aeroporto<br />

Internacional Hopkins,<br />

Cleveland, Ohio, EUA<br />

NTSB/<br />

AAR-91-09<br />

Decolagem<br />

(2)<br />

1987 a<br />

2003<br />

26 acidentes<br />

envolvendo<br />

Cessna 208<br />

Cessna 208 Diversos locais NTSB/<br />

A04-64-67<br />

DCA02MA003<br />

26 acidentes<br />

(36)<br />

(*) O signifi cado das siglas são: AAR (Aircraft Accident Report), A (Safety Recommendation) e DCA/DEN (identificação do acidente).<br />

FONTE: NTSB (2004, 2005a, b).<br />

34


Boletim SBMET novembro/05<br />

Para proteger a aeronave dos efeitos do acúmulo de<br />

gelo, deve-se identificar quais superfícies e sensores<br />

devem ser protegidos e através de qual sistema.<br />

Os sistemas de proteção de gelo são classificados<br />

como: a) sistemas anti-gelo, que evitam o acúmulo de<br />

gelo através de uma operação contínua; b) sistemas<br />

de degelo, que quando acionados removem o gelo<br />

acumulado. É importante ressaltar que a energia<br />

disponível para acionar esses sistemas é limitada, o<br />

que pode ditar, em um projeto, qual o mecanismo de<br />

proteção que será utilizado. Para o desenvolvimento<br />

do projeto do sistema de proteção de gelo, devem-se<br />

considerar as características operacionais da aeronave<br />

e as condições meteorológicas, definidas no Apêndice C<br />

do FAR Parte 25.<br />

A física básica do fenômeno de formação e acúmulo<br />

de gelo nas superfícies externas de aeronaves é baseada<br />

no fenômeno de metaestabilidade (onde um estado de<br />

não-equilíbrio pode permanecer por algum tempo), tal<br />

que dentro de uma nuvem podem-se encontrar gotas<br />

de água líquida super resfriada, onde as temperaturas<br />

estejam abaixo do ponto de congelamento. A passagem<br />

da superfície aerodinâmica pode criar condições para<br />

que gotas de água se congelem nas superfícies da<br />

aeronave.<br />

O acúmulo de gelo, basicamente, é função dos<br />

seguintes fatores: quantidade de água líquida (Liquid<br />

Water Content – LWC, expressa em gm -3 ) presente<br />

na atmosfera local, velocidade e ângulo de ataque da<br />

aeronave, geometria da asa, diâmetro das gotas de<br />

água líquida, temperatura local e tempo de exposição<br />

da aeronave à uma determinada condição atmosférica.<br />

Estatísticas mostram que para determinados tipos<br />

de nuvens existe uma relação definida entre LWC,<br />

temperatura, altitude barométrica e diâmetro de gotas.<br />

O Apêndice C do FAR Parte 25 apresenta, para as<br />

condições de “nuvem stratus/exposição contínua” e<br />

“nuvem cúmulus/exposição intermitente”, as seguintes<br />

relações: a) LWC em função do diâmetro médio das<br />

gotas e temperatura; b) temperatura versus altitude<br />

barométrica; c) Fator LWC versus extensão horizontal<br />

da nuvem. A condição operacional da aeronave<br />

também é fundamental nesta análise, pois, caracteriza<br />

a configuração (flap/slat), velocidade, ângulo de ataque<br />

e altitude.<br />

Cebeci e Kafyeke (2003) apresentam os métodos<br />

de cálculo para: a) predição de crescimento de gelo; b)<br />

auxiliar no projeto de sistemas de anti-gelo e de-gelo; c)<br />

determinar os efeitos no desempenho da aeronave. Estes<br />

métodos, associados à ensaios em túnel de vento, túnel<br />

de gelo e ensaios em vôo, permitem reduzir o tempo e<br />

os custos de certificação. Parte da campanha de ensaio<br />

em vôo pode ser realizada através da fixação de gelo<br />

artificial, feitos de isopor, resina e/ou lixa. Esta última,<br />

usada para simular os efeitos da formação de gelo em<br />

suas fases iniciais, quando este altera a rugosidade<br />

da superfície aerodinâmica, nos bordos de ataque das<br />

superfícies de sustentação, conforme as formas preditas<br />

em simulação ou verificadas em túnel de gelo. Nestes<br />

ensaios é possível determinar o efeito do acúmulo de<br />

gelo no coeficiente de sustentação e controlabilidade da<br />

aeronave. Na Figura 1, a título de exemplo, apresentase<br />

alguns resultados de simulação computacional e<br />

experimental em túnel de vento/gelo obtidos por Cebeci<br />

e Kafyeke (2003).<br />

Figura 1: Simulação de crescimento de gelo no bordo de ataque<br />

da asa.<br />

FONTE: Adaptada de Cebeci e Kafyeke (2003).<br />

Entretanto, conforme Cebeci e Kafyeke (2003),<br />

ainda existem muitos desafios na simulação de<br />

formação de gelo em aeronaves. Pela própria<br />

natureza física do fenômeno, este tende a ser caótico,<br />

pois repetições dos experimentos não resultam em<br />

formações idênticas. Segundo os autores, as principais<br />

razões para este comportamento são: a) os caminhos da<br />

água sobre a superfície são altamente imprevisíveis e<br />

35


Boletim SBMET novembro/05<br />

afeta fortemente a formação do gelo; b) A rugosidade<br />

da superfície tem um papel relevante na formação de<br />

gelo e varia significativamente quando o gelo começa<br />

a se acumular; c) A densidade do gelo é função do ar<br />

capturado na formação de gelo, podendo variar muito<br />

de um caso para outro.<br />

Vale ressaltar que parte da campanha de ensaios de<br />

certificação deve ser realizada com gelo natural. Devido<br />

aos custos elevados das campanhas de ensaio em vôo e<br />

da dificuldade de se encontrar condições específicas de<br />

gelo, muitas vezes utiliza-se os serviços de especialistas<br />

para prever o momento e a localização da ocorrência das<br />

condições de gelo. Estes especialistas são conhecidos<br />

como caçadores de gelo (do inglês, ice hunter).<br />

Conforme a Advisory Circular (AC) 20-73, material<br />

complementar interpretativo dos requisitos do FAA,<br />

existem basicamente quatro tipos de sistemas anti-gelo<br />

e degelo usados para proteger as superfícies expostas<br />

das aeronaves::<br />

a)<br />

Sistemas baseados em ar quente: usado na maior<br />

parte dos grandes jatos de transporte, devido à<br />

maior disponibilidade de ar quente proveniente<br />

dos motores, de sua eficiência e confiabilidade.<br />

Tipicamente o ar quente é usado para prevenir ou<br />

remover o acúmulo de gelo nas bordas das asas<br />

e dispositivos hipersustentadores (slats da asa),<br />

superfícies dos estabilizadores e entrada de ar dos<br />

motores;<br />

d)<br />

muitas aplicações devido a grande quantidade de<br />

fluido necessária e a possibilidade de entupimento<br />

do sistema de controle de fluido. Vale lembrar<br />

que é mandatório em condições de acúmulo de<br />

gelo ou neve, antes da decolagem, o degelo das<br />

superfícies através do spray manual de fluidos<br />

anti-gelo pela equipe de solo;<br />

Sistemas mecânicos: através de um sistema<br />

pneumático ou elétrico, consistem em expandir<br />

um material flexível que quebra e remove<br />

mecanicamente o gelo acumulado. Este tipo<br />

de sistema foi amplamente utilizado no bordo<br />

de ataque das asas e empenagem em aeronaves<br />

com motor a pistão e turbo-hélices. <strong>No</strong>te-se que<br />

estes sistemas geralmente não são aplicáveis para<br />

as hélices, onde o desbalanceamento pode ser<br />

crítico.<br />

Para a detecção de gelo, utiliza-se frequentemente um<br />

sensor eletromecânico, onde uma pequena haste, com<br />

alto coeficiente de coleta de gelo, instalada na aeronave,<br />

oscila na sua freqüência natural. Ao se acumular gelo<br />

na haste, a freqüência natural de oscilação é reduzida e<br />

através da mudança da freqüência, pode-se determinar a<br />

massa de gelo acumulada na haste. Geralmente o detector<br />

de gelo apresenta uma saída discreta (condição de gelo<br />

/ condição de NÃO gelo). Desta forma, definindo-se um<br />

limiar para a freqüência, pode-se definir a condição de<br />

gelo da aeronave.<br />

b)<br />

c)<br />

36<br />

Sistemas baseados em resistências elétricas:<br />

usado em vários tipos de aeronaves. Podem ser<br />

sistemas de degelo ou anti-gelo, dependendo<br />

do consumo durante a operação. Desta forma,<br />

limitam-se a pequenas áreas da aeronave ou<br />

sensores como parabrisa, portas estáticas, tubo<br />

de pitot, e sensores situados na área externa do<br />

avião, sensíveis ao acúmulo de gelo;<br />

Sistemas líquidos: sistemas que utilizam glycol<br />

(um álcool anti-congelante) e outras substâncias<br />

químicas foram desenvolvidos para sistemas<br />

anti-gelo e degelo para painéis das asas, radomes<br />

e parabrisa. Sistemas de pressão associados a<br />

materiais porosos e de spray foram também<br />

desenvolvidos. Estes sistemas não encontraram<br />

1.2. Acidentes associados a descargas atmosféricas<br />

e sua proteção<br />

As descargas atmosféricas são descargas elétricas de<br />

grande intensidade que podem ocorrer internamente a<br />

uma nuvem, entre nuvens, e entre nuvem e solo. A corrente<br />

elétrica (centenas de amperes) resulta na geração de altas<br />

temperaturas (algumas dezenas de milhares de graus),<br />

altas pressões (dezenas de atmosferas) ao longo de sua<br />

trajetória, além da criação de campos eletromagnéticos.<br />

As descargas podem variar em termos da corrente,<br />

energia, características no tempo, tais como tempo<br />

de subida e repetição de pulsos. Maiores informações<br />

sobre descargas atmosféricas estão disponíveis no site<br />

da Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas<br />

Atmosféricas (RINDAT)(http://www.rindat.com.br).


Boletim SBMET novembro/05<br />

Os principais riscos envolvidos quando uma<br />

aeronave é atingida por raios são: ignição do vapor<br />

de combustível dos motores, falhas e danos em<br />

equipamentos eletro/eletrônicos incluindo sistemas de<br />

comunicação, navegação, elétrico, controle e atuadores,<br />

dano mecânico, entre outros. Considera-se como efeito<br />

direto aqueles associados aos danos ocorridos no ponto<br />

de contato da descarga elétrica e efeitos indiretos àqueles<br />

associados à tensões elétricas transitórias induzidas na<br />

aeronave devido a mudanças no campo eletromagnético<br />

e a passagem da corrente elétrica pela aeronave, que<br />

possui certa resistência elétrica. As estatísticas mostram<br />

que se pode considerar que cada aeronave é atingida<br />

por uma descarga atmosférica uma vez por ano (Serra,<br />

2003). Embora o número de acidentes relacionados com<br />

descargas elétricas tenha reduzido consideravelmente<br />

nas últimas décadas, este assunto torna-se relevante<br />

nas aeronaves mais modernas devido ao uso crescente<br />

de materiais compostos, geralmente mais leves, e de<br />

sistemas digitais em funções críticas. Devido à sua<br />

menor condutividade elétrica os materiais compostos<br />

reduzem a proteção geralmente obtida com alumínio,<br />

material usado anteriormente.<br />

Exemplos de sistemas digitais utilizados em<br />

aeronaves modernas são: a) controle dos motores através<br />

do Full Authority Digital Engine Control (FADEC), b)<br />

controle de superfícies de comando primário através da<br />

tecnologia conhecida por Fly By Wire (FBW), c) sistemas<br />

de comunicação e navegação, d) sistema elétrico, entre<br />

outros. Os níveis de potência reduzidos utilizados nestes<br />

sistemas vêm tornando seus circuitos potencialmente<br />

mais susceptíveis a tensões e correntes induzidas,<br />

podendo resultar em mau funcionamento, falha ou até<br />

dano permanente em componentes eletrônicos.<br />

A Divisão de Segurança de Aeronaves e Aeroportos<br />

(Airport and Aircraft Safety R&D Division) do<br />

FAA (AAR 400) tem realizado pesquisas relativas à<br />

descargas atmosféricas. A Tabela 5 apresenta alguns<br />

acidentes aéreos onde as descargas atmosféricas foram<br />

consideradas como um dos fatores responsáveis pelo<br />

acidente. Após a análise de dois acidentes aéreos em<br />

particular, mudanças significativas ocorreram nos<br />

requisitos de certificação. O primeiro deles ocorreu em<br />

1963, quando um Boeing 707 caiu após ter sido atingido<br />

por um raio, com conseqüente ignição do combustível<br />

da asa esquerda, e o segundo, em 1976, de um Boeing<br />

747 que também caiu devido à mesma causa.<br />

Tabela 5: Acidentes relacionados às descargas atmosféricas.<br />

Data do<br />

acidente<br />

Companhia<br />

Aérea - vôo<br />

Modelo de<br />

aeronave<br />

Local do<br />

acidente<br />

Referência (Relatórios de<br />

várias fontes)<br />

Fase de vôo<br />

(nº de mortes)<br />

04/12/2003 Kato Air – 603 Dornier<br />

228-202<br />

Bodoe,<br />

<strong>No</strong>ruega<br />

Avisa <strong>No</strong>rdland<br />

Pouso<br />

(0)<br />

08/02/1988 Nurnberger<br />

Flugdienst – NFD<br />

Swearing<br />

SA.227AC<br />

Metro III<br />

Mulheim,<br />

Alemanha<br />

ICAO Adrep Summary<br />

2/90 (#32)<br />

Aproximação<br />

(21)<br />

09/05/1976 Iran Air Force Boeing<br />

747-131F<br />

Madrid,<br />

Espanha<br />

NTSB<br />

AAR-78-12<br />

Aproximação<br />

(17)<br />

24/12/1971 Líneas Aéreas<br />

Nacionales – 508<br />

Lockheed<br />

L-188ª Electra<br />

Puerto Inca,<br />

Peru<br />

N/A<br />

Cruzeiro<br />

(91)<br />

08/12/1963 Pan American<br />

World Airlines<br />

Boeing<br />

707-121<br />

12/08/1963 Air Inter Vickers<br />

Viscount<br />

FONTE: http://www.airdisaster.com e http://aviation-safety.net.<br />

Elkton,<br />

Maryland, EUA<br />

Lyon, França<br />

NTSB - DCA64A003<br />

ICAO Accident Digest<br />

<strong>No</strong>.15 - <strong>Volume</strong> II, Circular<br />

78-AN/66 (179-185)<br />

Holding<br />

(81)<br />

Aproximação<br />

(20)<br />

37


Boletim SBMET novembro/05<br />

Para proteger a aeronave de descargas elétricas,<br />

devem-se seguir as seguintes etapas (AC 20-136):<br />

a)<br />

Determinar as regiões da aeronave mais propensas<br />

para entrada e saída das descargas elétricas.<br />

Essas regiões variam de aeronave para aeronave<br />

e dependem essencialmente de sua geometria,<br />

material utilizados e fatores operacionais;<br />

correntes descendentes de ar, geralmente associados<br />

a condições de tempestade e precipitações leves com<br />

nuvens convectivas. Entretanto, também podem<br />

ocorrer em condições relativamente secas de chuvas<br />

leves ou virga (precipitação que evapora antes de<br />

atingir a superfície da terra). Observações sugerem<br />

que aproximadamente 5% das tempestades produzem<br />

microburst.<br />

b)<br />

c)<br />

d)<br />

e)<br />

f)<br />

g)<br />

Estabelecer as características da descarga elétrica,<br />

no que se refere à intensidade da corrente e<br />

forma de onda (tempo de subida e decaimento).<br />

A regulamentação aeronáutica define algumas<br />

formas de ondas consideradas representativas das<br />

condições normais de operação;<br />

Determinar os caminhos prováveis da corrente<br />

elétrica e conseqüentes tensões elétricas e campo<br />

eletromagnético na aeronave;<br />

Identificar todos os sistemas e equipamentos<br />

críticos/essenciais e suas respectivas localizações<br />

de instalação na aeronave;<br />

Estabelecer os níveis aceitáveis quanto a<br />

transientes dos equipamentos e sistemas.<br />

Projetar a proteção reduzindo os transientes em<br />

tensão elétrica através da análise do roteamento,<br />

blindagem e aterramento da cablagem e<br />

equipamentos, diminuindo a susceptibilidade<br />

dos equipamentos aos transientes e instalação de<br />

dispositivos como diodos de avalanche, varistores<br />

e filtros;<br />

Verificar a eficiência da proteção através de testes<br />

em laboratório e com a aeronave em solo.<br />

Na Figura 2, apresentam-se de maneira simplificada<br />

e genérica o movimento da massa de ar e os vórtices<br />

gerados quando o microburst ocorre próximo ao solo.<br />

Quando a aeronave encontra-se na posição A, ocorre um<br />

aumento da velocidade em relação ao ar e conseqüente<br />

ganho de sustentação. Na posição B, podem-se encontrar<br />

massas de ar descendentes com velocidades de até<br />

3000 pés.min-1. Variações rápidas nestas velocidades<br />

podem aumentar significativamente a carga de trabalho<br />

do piloto, devido a eventuais disparos do shaker. Na<br />

posição C, ocorre uma perda de velocidade em relação<br />

ao ar e conseqüente perda de sustentação. É importante<br />

mencionar que alguns sensores/instrumentos são<br />

susceptíveis a estes vórtices, tais como portas estáticas<br />

(altitude barométrica), tubo de pitot (velocidade) e<br />

sensor de ângulo de ataque, apresentando algumas vezes<br />

indicações incorretas. A Tabela 6 relaciona os acidentes<br />

associados a condições de windshear.<br />

1.3. Acidentes associados a windshear e sistemas<br />

associados<br />

Entende-se por windshear as variações rápidas<br />

na velocidade ou direção do vento (AC 00-54). Este<br />

fenômeno está frequentemente associado a microburst,<br />

um fenômeno caracterizado por fortes e concentradas<br />

Figura 2: Microburst de baixa altitude.<br />

FONTE: Adaptado da AC 00-54.<br />

38


Boletim SBMET novembro/05<br />

Tabela 6: Acidentes relacionados à windshear.<br />

Data do<br />

acidente<br />

Companhia<br />

Aérea - vôo<br />

Modelo de<br />

aeronave<br />

Local do acidente<br />

Referência<br />

(Relatórios do<br />

NTSB)<br />

Fase de vôo<br />

(nº de mortes)<br />

02/07/1994 USAir McDonnell<br />

Douglas DC-9-30<br />

Charlotte- Douglas<br />

Airport, NC<br />

AAR-95/03<br />

Aproximação<br />

(37)<br />

02/08/1985 Delta Air Lines Lockheed L-1011<br />

TriStar<br />

Dallas-Fort Worth,<br />

Texas, EUA<br />

AAR-86/05<br />

Aproximação<br />

(134)<br />

09/07/1982 Pan American<br />

World Airways<br />

Boeing-727<br />

Kenner, Lousiana,<br />

EUA<br />

AAR-83/02<br />

Decolagem/<br />

subida (145)<br />

12/06/1980 Air Winsconsin Swearingen 226<br />

Metroliner(SW-4)<br />

Nebraska, EUA DCA80AA019 Aproximação<br />

(13)<br />

04/04/1977 Southern<br />

Airways<br />

DC-9<br />

New Hope, Geórgia,<br />

EUA<br />

DCA77AA015<br />

Aproximação<br />

(62)<br />

23/06/1976 Allegheny<br />

Airlines<br />

McDonnell<br />

Douglas DC-9-30<br />

Philadelphia, Pennsylvania,<br />

EUA<br />

AAR-78-02<br />

Aproximação<br />

(0)<br />

17/12/1973 Iberia McDonnell<br />

Douglas DC-10<br />

Boston, Massachusetts,<br />

EUA.<br />

AAR-74-14<br />

Pouso<br />

0)<br />

23/07/1973 Ozark Airlines Fairchild FH-227 St. Lousi, Missouri,<br />

EUA<br />

FONTE: Safety Recomendation do NTSB de 18 de junho de 1990.<br />

AAR-74-05<br />

Aproximação<br />

(38)<br />

Baseado nos acidentes listados na Tabela 6,<br />

identificou-se as seguintes áreas como relevantes<br />

na prevenção de acidentes associados a windshear:<br />

1) melhoria da capacidade de detecção, através de<br />

radares especiais em solo, previsão e comunicação aos<br />

pilotos de condições de windshear de baixa altitude<br />

nas proximidades dos aeroportos, 2) treinamento dos<br />

pilotos em condições de windshear, incluindo sessões<br />

de simulador, 3) Equipar a aeronave de forma a auxiliar<br />

o piloto na detecção e manobra de recuperação da<br />

condição de windshear.<br />

Baseado nestas recomendações foram desenvolvidos<br />

os seguintes sistemas nas aeronaves:<br />

b)<br />

de sensores inerciais e sensores anemométricos,<br />

identificam a entrada (aumento de vento de<br />

proa) e saída (aumento de vento de cauda) do<br />

windshear, bem como vento descendente (vide<br />

Figura 2). Estes algoritmos têm como saída<br />

indicações aurais e visuais na cabine. Estes<br />

sistemas permitem a identificação da condição<br />

de windshear em intervalos de tempo reduzidos<br />

permitindo ações corretivas por parte do piloto;<br />

Sistema de prevenção de windshear, através do<br />

radar da aeronave. Alguns tipos de windshear<br />

apresentam padrões característicos, que permitem<br />

identificá-los com antecedência;<br />

a)<br />

Sistema de detecção de windshear que, através<br />

de algoritmos implementados em software e<br />

hardware que utilizam informações em tempo real<br />

c)<br />

Sistema de guiagem em condições de windshear<br />

que, através de algoritmos que gerenciam a<br />

energia da aeronave, otimizam a manobra<br />

de recuperação. O índice de desempenho<br />

39


Boletim SBMET novembro/05<br />

40<br />

utilizado envolve a minimização da perda de<br />

altitude durante o windshear. Basicamente estes<br />

algoritmos privilegiam a trajetória, permitindo<br />

excursões de velocidade e garantem que em caso<br />

de choque com o solo, a energia cinética seja<br />

minimizada. A manobra de recuperação pode<br />

ser realizada tanto através do piloto automático<br />

quanto através do piloto seguindo manualmente<br />

uma guiagem disponibilizada pelo algoritmo.<br />

A AC 00-54 trata em detalhe dos casos de encontro<br />

da aeronave com uma condição de windshear durante<br />

as fases de pouso ou decolagem e faz basicamente as<br />

seguintes recomendações:<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

A melhor prevenção é evitar o encontro da<br />

aeronave com a condição de windshear, pois se<br />

pode chegar a uma condição além da capacidade<br />

de desempenho da aeronave (tração dos motores<br />

e sustentação), tornando-se impossível evitar o<br />

choque da aeronave com o solo;<br />

Deve-se reduzir ao máximo o tempo de<br />

reconhecimento da condição de windshear, pois,<br />

durante o pouso ou a decolagem um atraso de<br />

poucos segundos neste reconhecimento pode<br />

resultar no choque da aeronave com o solo;<br />

A manobra de recuperação deve privilegiar<br />

a manutenção da trajetória da aeronave à<br />

manutenção da velocidade.<br />

1.4. Operação de Aeronaves em Baixa Visibilidade<br />

Para que uma companhia aérea possa manter os vôos<br />

nos horários pré-determinados durante todo o ano e,<br />

portanto, possa se manter num mercado cada vez mais<br />

competitivo, faz-se necessário ser capaz de operar as<br />

aeronaves em condições de baixa visibilidade, condição<br />

esta provocada pela ocorrência de neblina. Consideramse,<br />

nestes casos, as fases de decolagem e pouso.<br />

Duas definições são importantes na operação de<br />

aeronaves em condições de baixa visibilidade:<br />

1.<br />

Altura de decisão, definida como a altura,<br />

2.<br />

durante a aproximação/pouso de precisão,<br />

na qual se deve iniciar um procedimento de<br />

arremetida caso não se tenha estabelecido a<br />

referência visual necessária para continuar a<br />

aproximação.<br />

Runway Visual Range (RVR) ou alcance<br />

visual de pista, que indica a distância em<br />

metros ou pés, na qual o piloto de uma<br />

aeronave no centro da pista consegue ver as<br />

marcações da pista, ou as luzes que delineiam<br />

a pista, ou ainda a linha de centro de pista<br />

em condições de baixa visibilidade. O RVR<br />

ao longo da pista é determinado através de<br />

medições obtidas utilizando instrumentos<br />

posicionados próximos à pista (zona de<br />

toque da aeronave, meio e fim da pista) que,<br />

através da comparação de um sinal ótico<br />

emitido e recebido, permite a determinação<br />

da opacidade da atmosfera no momento.<br />

Definem-se três Categorias de operação (CAT) em<br />

condições de baixa visibilidade (AC 120-28D, Anexo 6<br />

do ICAO – IS&RP):<br />

CAT I: Aproximação e pouso de precisão através de<br />

instrumentos com altura de decisão não menor que 60 m<br />

e visibilidade não menor que 800 m, ou RVR não menor<br />

que 550 m;<br />

CAT II: Aproximação e pouso de precisão através de<br />

instrumentos com altura de decisão menor que 60 m e<br />

não menor que 30 m, e RVR não menor que 350 m;<br />

CAT III A: Aproximação e pouso de precisão através<br />

de instrumentos com altura de decisão menor que 30 m,<br />

ou sem altura de decisão e RVR não menor que 200 m;<br />

CAT III B: Aproximação e pouso de precisão através<br />

de instrumentos com altura de decisão menor que 15 m,<br />

ou sem altura de decisão e RVR entre 200 m e 50 m;<br />

CAT III C: Aproximação e pouso de precisão através<br />

de instrumentos sem altura de decisão e sem limitações<br />

de RVR.<br />

A principal diferença entre as operações CAT I, CAT


Boletim SBMET novembro/05<br />

II e CAT III, é que nas operações CAT I e CAT II existem<br />

condições visuais que permitem um pouso manual na<br />

altura de decisão, enquanto que na operação CAT III,<br />

não existem tais condições, fazendo-se necessário um<br />

sistema automático de pouso ou um sistema de guiagem.<br />

<strong>No</strong> caso de pouso automático, embora o sistema realize<br />

o pouso totalmente automático sem intervenção do<br />

piloto, o piloto deve monitorar continuamente o pouso<br />

para, em caso de necessidade, intervir imediatamente.<br />

O primeiro pouso comercial em condições CAT III A,<br />

através de um sistema automático de pouso ocorreu em<br />

janeiro de 1969 com uma aeronave Caravelle, em um<br />

vôo de Lyon/Paris. Em seguida, as seguintes aeronaves<br />

foram certificadas para operação CAT III A: Trident e<br />

Boeing 747 em 1971, Concorde em 1975 e AirBus A<br />

300 em 1974. Em 1983 o Airbus A310 e em 1984 o<br />

A300-600, foram certificados para operação CAT III B.<br />

<strong>No</strong> Brasil, o Embraer 170, fabricado pela EMBRAER,<br />

foi certificado para operação CAT III A em dezembro<br />

de 2005.<br />

Para que a linha aérea possa operar nas categorias de<br />

operação citadas anteriormente, é necessário que:<br />

1) O aeroporto esteja equipado e certificado. Os<br />

principais sistemas disponíveis são: sistema para pouso<br />

por instrumento (Instrument Landing System – ILS),<br />

sistema para pouso por microondas (Microwave<br />

Landing System – MLS) e sistema para pouso por<br />

Global Positioning System (GPS) / Global Navigation<br />

Satellite System (GNSS) (GPS/GNSS Landing System<br />

– GLS). Vale lembrar que os sistemas ILS e MLS<br />

podem fornecer informações para sistemas de guiagem<br />

de decolagem em baixa visibilidade. O sistema ILS,<br />

mais comum, é composto basicamente por:<br />

d)<br />

conforme Figura 3a. Os markers beacons, num<br />

total de três, localizados em distâncias padrões<br />

(interno, médio e externo) a 1000 pés, 3500 pés e<br />

6 milhas da cabeceira da pista, respectivamente,<br />

fornecem ao piloto informações quanto à distância<br />

à pista. A aeronave ao passar pelos feixes, gera<br />

indicações aurais e visuais na cabine;<br />

sistema de luzes de aproximação para a pista para<br />

fornecer orientação visual ao piloto (Figura 3b).<br />

2) A aeronave esteja equipada e certificada. Para o<br />

caso de sistema ILS, a aeronave deve estar equipada<br />

com uma antena e um receptor de rádio de navegação<br />

de forma que o sistema da aeronave determina o desvio<br />

lateral da linha de centro da pista através do sinal de<br />

LOC e o desvio na vertical através do sinal de GS,<br />

conforme Figuras 3a e 3c.<br />

3) A tripulação esteja treinada, através de treinamento<br />

periódico em vôo ou simulador de vôo.<br />

4) O operador esteja homologado, mantendo os<br />

procedimentos de vôo, tripulação treinada e a aeronave<br />

sob programas de manutenção específicos.<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

sinal de Localizer (LOC), de freqüência entre<br />

108.1 MHz e 111.95 MHz e abertura angular<br />

de 3º a 6º, que se estende até cerca de 18 milhas<br />

(Figura 3a);<br />

sinal de Glide Slope (GS), de freqüência entre<br />

3<strong>29</strong>.15 MHz até 335 MHz, com inclinação em<br />

torno de 3º (Figura 3c);<br />

VHF markers beacons, feixes cônicos de rádio,<br />

com freqüência de 75 MHz, orientados para cima,<br />

(a)<br />

Figura 3: Sistema ILS: a) Sinal de LOC; b) Sistema de luzes; c)<br />

Sinal de GS.<br />

(b)<br />

(c)<br />

41


Boletim SBMET novembro/05<br />

De forma análoga, para o caso de decolagem em<br />

baixa visibilidade (em inglês Low Visibility Takeoff<br />

(LVTO)) com RVR abaixo de 400 m, é necessário que<br />

o aeroporto esteja equipado com sistema que permita a<br />

determinação do desvio da aeronave do centro da pista<br />

(sinal de LOC (ILS), ou MLS, ou GLS/GNSS) e sistema<br />

de luzes na pista para orientação visual do piloto.<br />

Também, que a aeronave esteja equipada e certificada, a<br />

tripulação esteja treinada e o operador homologado para<br />

este tipo de operação.<br />

O sistema de decolagem em baixa visibilidade<br />

deve prover informações de guiagem lateral que, se<br />

seguidas pelo piloto, manterá a aeronave no centro<br />

da pista durante a corrida na pista na aceleração até a<br />

decolagem ou desaceleração até a parada em caso de<br />

uma decolagem interrompida.<br />

Destaca-se o sistema de guiagem conhecido por<br />

Head Up Display (HUD) que, através de um sistema de<br />

projeção, permite ao piloto ter a visão externa através da<br />

janela dianteira simultaneamente à guiagem.<br />

1.5. Radares Meteorológicos e Operação de<br />

Aeronaves em Condições de Precipitação e Extremos<br />

de Temperatura<br />

A melhor estratégia na aviação em relação às<br />

tempestades é evitá-las (AC 00-24B). Desta forma, as<br />

aeronaves de transporte são equipadas com sistema<br />

de radar meteorológico, que consiste de um painel de<br />

controle, um transmissor, um receptor, uma antena<br />

e um monitor. O painel de controle é utilizado para<br />

se selecionar os modos de operação do radar. O sinal<br />

de radar é emitido pela antena e o sinal de retorno do<br />

radar é função do tamanho e do número de gotículas<br />

da precipitação, tal que, quanto maior as partículas<br />

e o número delas, maior o sinal de retorno. A antena<br />

instalada no nariz da aeronave e protegida pelo radome<br />

permite tipicamente uma varredura lateral de cerca de ±<br />

60º e uma inclinação vertical, selecionada pelo piloto, de<br />

± 15º e alcance selecionável de 10 a 300 milhas náuticas.<br />

Em função da intensidade do sinal de retorno, o monitor<br />

apresenta uma graduação de cores permitindo ao piloto<br />

identificar a posição e a intensidade da precipitação/<br />

formação de nuvem. Estes radares permitem também<br />

identificar alguns tipos de turbulências e windshear.<br />

Na operação de aeronaves de transporte em<br />

condições de precipitação destacam-se os requisitos<br />

relativos ao desempenho: das turbinas em caso de<br />

ingestão de grandes quantidades de água, dos sistema<br />

de freios em condições de pista molhada (sistemas que<br />

evitam o travamento das rodas (conhecidos em inglês<br />

como sistema antiskid) e do limpador de parabrisa para<br />

garantir a visibilidade do piloto.<br />

Quanto à operação de aeronaves em condições<br />

extremas de temperatura, destacam-se os testes de<br />

partida dos sistemas eletro-eletrônicos e motores<br />

em baixas temperaturas (dezenas de graus Celsius<br />

negativos), onde aspectos como viscosidade de fluídos<br />

hidráulicos de atuadores, lubrificantes e combustível se<br />

tornam relevantes. Estes testes podem ser realizados em<br />

locais como Alasca ou em câmaras específicas, onde a<br />

aeronave é colocada para a realização dos ensaios. Em<br />

relação à operação em altas temperaturas, destacamse<br />

os aspectos relativos aos sistemas de refrigeração<br />

da aeronave, dos equipamentos e dos componentes<br />

eletroeletrônicos.<br />

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Neste trabalho apresentou-se uma visão geral de<br />

como os sistemas das aeronaves evoluíram de forma<br />

a permitirem a operação de aeronaves em condições<br />

atmosféricas adversas mantendo elevados níveis de<br />

segurança. Isso se deve, em parte, a estreita interação<br />

entre as autoridades certificadoras como CTA, FAA<br />

e EASA, os requisitos de certificação, as agências de<br />

investigação como CENIPA e NTSB e a indústria<br />

aeronáutica. O assunto é bastante extenso, com<br />

informações de qualidade sendo disponíveis na internet<br />

em sites especializados, alguns deles listados no item 5.<br />

42


Boletim SBMET novembro/05<br />

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

AC 00-54: Pilot Windshear Guide.<br />

AC 20-73: Aircraft Ice Protection.<br />

AC 20-136: Protection of Aircraft electrical<br />

systems against the indirect effects of lightning.<br />

AC 120-28D: Criteria for approval of Category III<br />

weather minima for takeoff, landing, and rollout.<br />

AC 20-124: Water ingestion testing for turbine<br />

powered airplanes.<br />

AC 00-24B: Thunderstorms.<br />

CENIPA. Estatísticas apresentadas no Site do<br />

CENIPA. 2005. Atualizado em 06/12/2005.<br />

(http://www.cenipa.aer.mil.br)<br />

4. GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS USADOS NA<br />

INDÚSTRIA AERONÁUTICA<br />

Ângulo de ataque: É o ângulo formado entre a corda<br />

do perfil da asa e a direção de escoamento do ar (Figura<br />

4). A sustentação que a asa fornece é função direta do<br />

ângulo de ataque, tal que, ângulos de ataque maiores,<br />

fornecem maior sustentação, até o limite onde ocorre<br />

o stall da asa, caracterizado pelo descolamento do<br />

escoamento da asa e conseqüente perda de sustentação.<br />

Flap e slat: São superfícies hipersustentadoras<br />

articuladas na asa que aumentam a sustentação e o<br />

arrasto da asa quando estendidas. O fl a p é articulado no<br />

bordo de fuga da asa e o slat no bordo de ataque da asa<br />

(Figura 4). São geralmente estendidos na fase de pouso<br />

e decolagem, para permitir a sustentação da aeronave<br />

em velocidades mais baixas.<br />

Cebeci, T.; Kafyeke, F. Aircraft Icing. Annu. Rev.<br />

Fluid Mech, 35:11-21, 2003.<br />

NTSB. Advisory. Dec. <strong>29</strong>, 2004.<br />

NTSB. Most Wanted Transportation Safety<br />

Improvements 2005-2006 a.<br />

NTSB. Safety Alert - Aircraft Icing (SA –06). Mar.<br />

2005 b.<br />

NASDAC, FAA Office of System Safety. Review of<br />

Aviation Accidents Involving Weather Turbulence in<br />

the Unites States 1992 –2001. Aug. 2004, [Reference<br />

Number: 04-551], (www.nasdac.faa.gov).<br />

<strong>No</strong>tas do Curso Safety Assesment of Aircraft<br />

Systems. V-6, ministrado pelo Prof. Paulo R. Serra, jul.<br />

2003.<br />

Figura 4: Perfil da asa, Ângulo de Ataque, Flap e Slat.<br />

Portas estáticas: São sensores geralmente instalados<br />

na lateral da aeronave, onde o escoamento de ar é mais<br />

uniforme, utilizados para medir a pressão estática e<br />

conseqüentemente a altitude barométrica.<br />

Tubo de pitot: São sensores, utilizados para medir a<br />

velocidade da aeronave em relação ao ar.<br />

Shaker: É o dispositivo instalado nas aeronaves,<br />

onde a aproximação da aeronave do stall não é evidente,<br />

que através de um atuador vibra o manche para alertar o<br />

piloto da proximidade do stall. Geralmente a atuação do<br />

shaker é função do ângulo de ataque.<br />

43


Boletim SBMET novembro/05<br />

Radome – <strong>No</strong> nariz das aeronaves de grande porte,<br />

é comum a instalação de diversas antenas como: antena<br />

de GS, LOC e radar meteorológico. A estrutura que<br />

protege estas antenas, geralmente de material composto,<br />

e que na prática da forma ao nariz da aeronave, é<br />

conhecida por radome. O radome deve ter basicamente<br />

as seguintes características: não atenuar os sinais,<br />

resistência mecânica quanto à impacto, protegida quanto<br />

a descargas elétricas e forma aerodinâmica.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

O autor agradece a revisão e os comentários de<br />

Eduardo Borges (item sobre Sistemas de Proteção<br />

de Gelo), Marcos Antonio Viana Tavares (item sobre<br />

Operação de Aeronaves em Baixa Visibilidade),<br />

Maurício de Paula Velloso (item sobre Proteção à<br />

Descargas Elétricas) e dos revisores anônimos.<br />

5. SITES PARA CONSULTA<br />

Airdisaster:<br />

Aviation Safety Network:<br />

CENIPA:<br />

CTA:<br />

DAC:<br />

EASA:<br />

FAA:<br />

ICAO:<br />

JAA:<br />

NASDAC:<br />

NTSB:<br />

RINDAT/INPE:<br />

http://www.airdisaster.com/<br />

http://aviation-safety.net<br />

http://www.cenipa.aer.mil.br<br />

http://www.cta.br/<br />

http://www.dac.gov.br<br />

http://www.easa.eu.int/home/index.html<br />

http://www.faa.gov/<br />

http://www.icao.int/index.html<br />

http://www.jaa.nl<br />

http://www.nasdac.faa.gov<br />

http://www.ntsb.gov/<br />

http://www.rindat.com.br ou<br />

http://www.inpe.br<br />

44


Boletim SBMET novembro/05<br />

OS PERIGOS DO VENTO PARA A AVIAÇÃO<br />

Maurici A. Monteiro, Daniel S. Calearo, Marcelo Martins e Anderson Monteiro<br />

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. - EPAGRI<br />

Centro de Informações de Recursos Hídricos e de Hidrometeorologia de Santa Catarina - CIRAM<br />

Rod. Admar Gonzaga 1347, Itacorubi, Florianópolis, SC, CEP 88034-901<br />

E-mails: monteiro@epagri.rct-sc.br, calearo@epagri.rct-sc.br,<br />

marcelomartins@epagri.rct-sc.br, andersoncanona@ig.com.br<br />

RESUMO<br />

As condições atmosféricas no sul do Brasil são influenciadas por uma grande diversidade de fenômenos<br />

atmosféricos, os quais ocasionam muitas variações nas condições de tempo. Nas operações aéreas, as maiores<br />

influências ocorrem através da passagem de sistemas frontais, os quais além de causar condições de tempo<br />

severas, com trovoada e chuva forte, na maioria das vezes, também estão relacionados à ocorrência do fenômeno<br />

windshear (cisalhamento do vento). O windshear está associado a uma mudança de direção e intensidade do<br />

vento em vários níveis da atmosfera. Neste trabalho, analisa-se dois eventos significativos de windshear no<br />

Aeroporto Internacional Hercílio Luz (AIHL), em Florianópolis, nos dias 23 de março de 2005 e 25 de abril de<br />

2005.<br />

Palavras-chave: Windshear, METAR, operações aéreas.<br />

ABSTRACT<br />

The atmospheric conditions over South of Brazil are influenced by a great diversity of phenomena that cause<br />

many variations in the weather conditions. In the airborne operations the biggest influences occur through the<br />

penetration of frontal systems, which cause severe weather conditions, with both thunderstorm and intense<br />

precipitations. In the majority of the times, they are associated with the occurrence of the phenomenon windshear.<br />

Windshear is associated with direction and intensity changes of the wind in some levels of the atmosphere. In<br />

this work we analyze two significant windshear events one in the International Airport Hercílio Luz (AIHL) of<br />

Florianópolis, on March 23, 2005 and other on April 25, 2005.<br />

Key words: Windshear, METAR, airborne operations.<br />

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS<br />

A dinâmica atmosférica do Sul do Brasil é bastante<br />

intensa no decorrer do ano. Em condições normais, ou<br />

seja, sem influências de fenômenos como o El-Niño, La<br />

Niña e de bloqueios atmosféricos, é comum a passagem<br />

de 3 a 4 frentes frias durante o mês, em média, por<br />

Santa Catarina (Rodrigues, 2003). Além das passagens<br />

das frentes frias, outros sistemas atmosféricos, como<br />

Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) (Duquia<br />

e Silva Dias, 1994), Vórtices Ciclônicos em altos níveis<br />

(Lourenço et al., 1996), ciclones extratropicias (Gan e<br />

Rao, 1991), entre outros, modificam constantemente a<br />

direção e a intensidade dos ventos na região.<br />

Quando uma frente fria está em deslocamento pelo<br />

sul do Brasil, predominam inicialmente ventos do<br />

quadrante norte, oriundos do Anticiclone Subtropical<br />

do Atlântico Sul (ASAS). Assim que a frente fria passa<br />

sobre uma determinada localidade, os ventos viram<br />

para o quadrante sul, sob influência do anticiclone<br />

extratropical, geralmente sobre a Argentina. Essa<br />

45


Boletim SBMET novembro/05<br />

mudança de um quadrante para outro, não ocorre ao<br />

mesmo tempo em todos os níveis da atmosfera, ou seja,<br />

variações de direção e intensidade já são observadas<br />

em poucos metros de altitude. Essa variação que ocorre<br />

tanto na vertical como na horizontal é conhecida na<br />

aviação como windshear.<br />

A intensidade desse fenômeno depende<br />

principalmente da velocidade de escoamento do ar e<br />

da interferência do relevo. A velocidade do vento vai<br />

depender do gradiente de pressão formado entre a frente<br />

fria (área alongada de baixa pressão) e os dois sistemas<br />

de alta pressão envolvidos. Quanto maior for a diferença<br />

de pressão, mais intensos tornam-se os ventos e mais<br />

severa a intensidade do windshear, também conhecido<br />

como tesoura de vento, cortante de vento e gradiente de<br />

vento. A interferência do relevo é muito importante na<br />

intensificação do fenômeno, pois reforça o cisalhamento<br />

que já existe na passagem da frente fria.<br />

Essa conjugação entre o escoamento formado pelo<br />

gradiente de pressão e o efeito orográfico tem sido<br />

observada em alguns aeroportos do Brasil. <strong>No</strong> Aeroporto<br />

Internacional de São Paulo/Guarulhos, um dos mais<br />

movimentados do Brasil, quando ocorre uma situação<br />

pré-frontal, gerando ventos do quadrante norte, surge<br />

um efeito típico de onda de montanha, originado pela<br />

presença de elevações montanhosas a aproximadamente<br />

4,5 km ao norte do aeroporto. Isto resulta em um<br />

turbilhonamento do vento, o qual vai de encontro às<br />

aeronaves que estão na aproximação e subida inicial do<br />

aeródromo (Cabral e Farias, 1992; Santos et al., 1996).<br />

Na superfície, essas variações de vento são<br />

caracterizadas como rajadas e, por vezes, quando muito<br />

intensas causam alguns prejuízos materiais. <strong>No</strong> caso<br />

de uma aeronave, esta pode ter complicações em vôo,<br />

especialmente quando estiver em procedimento para<br />

pouso ou decolagem.<br />

Em termos de antecedentes, o windshear<br />

sempre trouxe problemas para a aviação, porém foi,<br />

provavelmente, a partir do exame detalhado do Flight<br />

Recorder (caixa preta) de uma aeronave da Eastern<br />

Airlines que caiu em junho de 1975, a poucos metros<br />

da cabeceira 22L do Aeroporto John F. Kennedy, em<br />

<strong>No</strong>va Iorque, que se verificou de maneira mais concreta<br />

tanto sua presença quanto sua importância como causa<br />

principal ou contribuinte de inúmeros acidentes. Após<br />

esse fato houve novas investigações de acidentes<br />

aeronáuticos antigos, inicialmente atribuídos a erros<br />

dos pilotos, que na realidade tinham esse importante<br />

fenômeno meteorológico por trás dos episódios. A<br />

conclusão dessas investigações foi que no período de<br />

1964 a 1986 houve 32 acidentes e incidentes aeronáuticos<br />

em âmbito mundial, que tiveram como causa principal<br />

ou fator contribuinte o windshear, resultando na morte<br />

de mais de 600 pessoas e 250 feridos (Cabral, 2005).<br />

Em aviação, o fenômeno pode ocorrer em todas as<br />

fases de vôo, entretanto, é particularmente perigoso em<br />

baixos níveis, nas fases de aproximação, pouso e subida<br />

inicial, em face da limitação de altitude e de tempo para<br />

manobra das aeronaves (Figura 1).<br />

<strong>No</strong> Aeroporto Internacional Hercílio Luz<br />

(AIHL) em Florianópolis, Santa Catarina,<br />

ocorre também interferência do relevo no fluxo<br />

dos ventos. Segundo Ditteberner (2001), “... o<br />

morro do Ribeirão, a S do aeroporto, e o morro<br />

do Cambirela, situado a SW, contribuem na<br />

modifi cação do fl uxo de ar em baixos níveis. Essa<br />

modifi cação resulta em movimentos turbulentos<br />

de ar, ocasionando dificuldades para pouso e<br />

decolagem no aeroporto. Essa turbulência é<br />

resultante, na maioria das vezes, por ventos do<br />

quadrante S, após a passagem de uma frente<br />

fria” (p. 5).<br />

46<br />

Figura 1: Interferência na rota de pouso provocada por windshear.<br />

Fonte:http://paginas.terra.com.br/servicos/vnw/ventonw/windshear2.html.


Boletim SBMET novembro/05<br />

O fenômeno leva a um significativo ganho ou<br />

perda de sustentação das aeronaves, com pouquíssimo<br />

tempo (da ordem de alguns poucos segundos) para sua<br />

recuperação. O cisalhamento do vento pode causar<br />

diferentes efeitos nas aeronaves, como turbulência,<br />

que provoca mal estar aos passageiros. Dependendo da<br />

intensidade da turbulência, a aeronave pode arremeter<br />

e isso é uma operação que leva os motores (turbinas)<br />

a um esforço extraordinário com risco de pane. Além<br />

do risco de acidente, ao arremeter, a aeronave segue<br />

para a alternativa (outro local escolhido para pouso)<br />

e obviamente ocorrem transtornos para a tripulação e<br />

todos os passageiros.<br />

As causas do windshear podem ter várias origens:<br />

cumulonimbus com presença de trovoadas, sistemas<br />

frontais, pancadas de chuva, correntes de jato de baixos<br />

níveis, ventos fortes em superfície, brisas marítima e<br />

terrestre, ondas de montanha, linhas de instabilidade e<br />

fortes inversões de temperatura, entre outras (Cabral e<br />

Romão, 2005).<br />

2. OS ACIDENTES AERONÁUTICOS E O<br />

WINDSHEAR<br />

Um dos mais notáveis acidentes aeronáuticos<br />

relacionados com windshear ocorreu em 02 de agosto<br />

de 1985 no Aeroporto de Dallas-Fort Worth, no Texas,<br />

Estados Unidos, que resultou em 135 pessoas mortas<br />

(Cabral e Romão, 2005).<br />

Esse vôo era o de número 191, da empresa Delta<br />

Air Lines e a aeronave envolvida um Lockheed L-1011<br />

(TriStar). Enquanto se aproximava da pista 17L daquele<br />

aeroporto, debaixo de chuva e muitos relâmpagos, o<br />

TriStar encontrou um microburst (intensas correntes<br />

de ar descendentes concentradas, provenientes de<br />

nuvens convectivas, que ao atingirem o solo, espalhamse<br />

horizontalmente, formando vórtices que podem<br />

ocasionar windshear), caiu sobre um carro que estava<br />

em uma rodovia próxima, colidiu com dois grandes<br />

tanques de água e foi destruído pelas chamas.<br />

<strong>No</strong> Brasil, as estatísticas apontam dois acidentes<br />

que tiveram como possível causa o fenômeno do<br />

cisalhamento do vento: um ocorrido em Capão Grosso<br />

em 16/06/1958 com uma aeronave Convair da Empresa<br />

Cruzeiro do Sul, que vitimou 21 ocupantes e, outro<br />

verificado em 25/05/1982, em Brasília, com um Boeing<br />

737 da Vasp, que resultou em duas vítimas fatais.<br />

Pela experiência de um dos autores (Maurici<br />

Monteiro), junto ao Serviço de Meteorologia do<br />

DESTACAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />

AÉREO DE FLORIANÓPOLIS, DTCEA-FL, no<br />

AIHL, o fenômeno de windshear ocorre com freqüência<br />

associado à passagem de frentes frias. Em situação préfrontal,<br />

com ventos do quadrante norte, ocorre windshear<br />

na aproximação da pista 32, porém a intensidade varia<br />

de fraca a moderada. Vale ressaltar que esse fenômeno<br />

não ocorre em todas as passagens de sistemas frontais.<br />

Por outro lado, quando a frente fria está passando sobre<br />

o aeródromo, com a entrada de vento do quadrante sul,<br />

é comum o fenômeno manifestar-se, especialmente<br />

quando a velocidade do vento supera 15 nós e as<br />

arremetidas são freqüentes (Ditteberner, 2001).<br />

De acordo com Ditteberner (2001), entre agosto de<br />

1995 a julho de 2001 foi reportado pelas aeronaves para<br />

a equipe de Controladores de vôo do AIHL um total<br />

de 404 casos (Tabela 1). Destes, 315 casos ocorreram<br />

abaixo de 2000 pés; 93 casos entre 500 e 1000 pés, 124<br />

casos entre 400 e 500 pés, 71 casos entre 100 e 200 pés,<br />

e 27 casos de 100 pés até o solo (Ditteberner, 2001). De<br />

acordo com a Tabela 1, o maior número de ocorrência<br />

é verificado no inverno e na primavera. <strong>No</strong> período<br />

de junho, julho e agosto é comum os sistemas de alta<br />

pressão serem mais intensos sobre a Argentina, Uruguai<br />

e Sul do Brasil. Nesse caso, se uma frente fria está em<br />

deslocamento pelo litoral catarinense, os ventos passam<br />

a soprar do quadrante sul. Surgem, então, as primeiras<br />

rajadas fortes de vento no AIHL, devido ao gradiente<br />

de pressão formado entre a alta pressão ao sul e a frente<br />

fria em Santa Catarina (Monteiro, 2001). Esse tipo de<br />

evento é comum nesse período do ano, pois, segundo<br />

Rodrigues (2003), passam de 3 a 4 frentes frias em<br />

Santa Catarina.<br />

47


Boletim SBMET novembro/05<br />

Tabela 1: Ocorrência de windshear no AIHL, no período de 8/1995 a 7/2001.<br />

MESES DEZ/JAN/FEV MAR/ABR/MAI JUN/JUL/AGO SET/OUT/NOV<br />

OCORRÊNCIA 84 88 112 130<br />

PORCENTAGEM 20% 21% 27% 32%<br />

Fonte: Ditteberner (2001).<br />

O elevado número de windshear que ocorre na<br />

primavera (Tabela 1), pode estar associado aos CCM’s,<br />

que surgem durante a madrugada no norte da Argentina<br />

e atingem o Oeste de Santa Catarina ainda durante a<br />

noite (Monteiro, 2001). Pela dinâmica do sistema, os<br />

ventos no AIHL ocorrem geralmente de nordeste a leste<br />

e o windshear pode ser observado especialmente na<br />

pista 32.<br />

3. CASOS DE WINDSHEAR NO AIHL: 23/03/2005 e<br />

25/04/2005<br />

Entre os inúmeros casos reportados de windshear<br />

pelas aeronaves em procedimento de pouso e decolagem<br />

no AIHL, destacam-se os ocorridos nos dias 23 de março<br />

e 25 de abril de 2005 por apresentar várias horas com<br />

atuação do fenômeno. Na ocorrência do dia 23 de março<br />

de 2005, uma frente fria de intensidade fraca a moderada<br />

(Figura 2) estava em deslocamento pelo litoral de Santa<br />

Catarina e passou por Florianópolis entre a tarde e a<br />

noite (entre 1800 UTC e 0000 UTC) desse dia.<br />

<strong>No</strong> AIHL, a nebulosidade predominante foi<br />

stratocumulus com base das camadas mais significativas<br />

(BKN) variando de 1200 a 3500 pés e sem registro de<br />

grandes cumulus (TCU) ou cumulonimbus (CB). Houve<br />

apenas registro de chuva fraca, iniciando minutos após<br />

as 1800 UTC e terminando as 0000 UTC. De acordo<br />

com a carta sinótica (Figura 3), na passagem da frente<br />

fria no AIHL, a pressão atmosférica era de 1015hPa, e<br />

o centro da massa de ar frio (anticiclone extratropical),<br />

que deslocava a frente fria, estava sobre a Bacia do Rio<br />

da Prata, sudeste do Uruguai, com 1023hPa. A diferença<br />

de pressão atmosférica (gradiente) entre o anticiclone<br />

e a frente fria resultou em ventos com rajadas fortes<br />

no AIHL. O boletim especial emitido pela estação<br />

meteorológica do DTCEA-FL, as 15:36 h local (SPECI<br />

SBFL 1836), reportou vento de 220º com velocidade<br />

média de 17 nós e rajadas de 27 nós (22017G27KT). Nas<br />

horas seguintes, embora não fosse reportado rajadas, a<br />

velocidade continuou significativa com registro de 17,<br />

18 e 15 nós nas 1900 UTC , 2000 UTC e 2100 UTC,<br />

respectivamente. Entretanto, somente foi informado<br />

windshear no boletim das 18:00 h local (METAR DAS<br />

21UTC) em todas as pistas do aeroporto (WS ALL<br />

RWY, código que vem no METAR). Isso porque, quando<br />

ocorrem as rajadas mais intensas, nem sempre coincidem<br />

com o pouso de alguma aeronave e, quando coincide<br />

e as aeronaves sofrem os efeitos do fenômeno, muitas<br />

vezes o comandante não reporta a torre de controle.<br />

Como o windshear não pode ser visualizado e nem<br />

existe equipamento de terra para identificá-lo, é preciso<br />

que o controlador de vôo questione se o comandante<br />

da aeronave identificou a ocorrência do fenômeno na<br />

aproximação final, caso não tenha sido reportado.<br />

Figura 2: Imagem de satélite GOES-12, visualizando a passagem<br />

da frente fria.<br />

Fonte: http://www.redemet.aer.mil.br.<br />

48


Boletim SBMET novembro/05<br />

Figura 3: Carta sinótica das 1800 UTC em 23/03/05. Análise feita<br />

por Maurici Monteiro.<br />

Na ocorrência do dia 25 de abril, uma frente fria<br />

estava em deslocamento pelo litoral de Santa Catarina,<br />

em direção ao sudeste do Brasil (Figura 4). O tempo<br />

mais instável associado ao sistema atmosférico ocorreu<br />

durante a madrugada com registro de chuva leve a<br />

moderada. De acordo com a decodificação do METAR<br />

de SBFL (Boletim meteorológico que relata as condições<br />

de tempo à superfície do Aeroporto de Florianópolis)<br />

(www.redemet.aer.mil.br), o céu esteve encoberto<br />

(OVC) até as 1000 UTC, com teto variando de 900 a<br />

5000 pés. Após este horário, o céu se manteve nublado<br />

(BKN) por várias horas, porém com a nebulosidade<br />

subindo, ou seja, de 3.000 para 8.000 pés e depois para<br />

30.000 pés. Quando a frente fria estava passando por<br />

Florianópolis, a pressão atmosférica era de 1010hPa,<br />

registrada na estação meteorológica em SBFL, e sobre a<br />

Argentina havia um sistema de alta pressão (anticiclone)<br />

com centro de 1035hPa. A primeira manifestação do<br />

referido anticiclone ocorreu as 09UTC, com vento de<br />

sudoeste de 8 nós.<br />

Na medida em que o tempo passava, a intensidade<br />

dos ventos aumentava, e no METAR das 1400 UTC<br />

foi relatada a primeira rajada com 27 nós. Neste<br />

boletim foi inserida a informação de windshear em<br />

todas as pistas (WS ALL RWY). Os boletins seguintes<br />

reportavam ventos de sul a sudoeste (1700 a 220º)<br />

com intensidade moderada a forte, mas sem rajadas. À<br />

noite, no METAR das 2300 UTC e 0000 UTC, voltou<br />

a ocorrer rajadas de vento com intensidade de 25 nós<br />

a 27 nós, respectivamente. O windshear que começou<br />

a ser informado no METAR das 1400 UTC, continuou<br />

durante toda a tarde e seguiu até as 0000 UTC. Portanto,<br />

foram 11 horas com reporte do fenômeno, caso não<br />

muito comum para o AIHL. Durante esse período,<br />

segundo informações do Controle de Tráfego Aéreo do<br />

DTCA-FL, embora as operações fossem efetuadas com<br />

cautela, não houve cancelamento de pouso (arremetidas)<br />

e de decolagem.<br />

A carta sinótica das 1400 UTC mostra um forte<br />

gradiente de pressão entre o sistema de alta pressão com<br />

1035 hPa no seu centro e a pressão de 1014 hPa em<br />

Florianópolis. Enquanto essa diferença de pressão era<br />

mantida, os ventos continuavam intensos e mantinham o<br />

cisalhamento do vento reforçado pelo efeito do relevo.<br />

Figura 5: Carta sinótica das 14UTC do dia 25/04/05. Análise feita<br />

por Maurici Monteiro.<br />

Figura 4: Imagem-12, Visualizando a passagem da frente fria.<br />

Fonte: http://www.redemet.aer.mil.br<br />

49


Boletim SBMET novembro/05<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os anticiclones extratropicais, ao cruzarem os<br />

Andes, começam a se manifestar sobre o sul do Brasil.<br />

Inicialmente forçam o recuo ou o levantamento da<br />

massa de ar quente pré-frontal e, nesse contato, surge<br />

uma convergência no campo de ventos, formação de<br />

nuvens e chuva. À medida que os anticiclones avançam<br />

em direção ao equador, levam em sua dianteira a<br />

convergência e a nebulosidade associada à frente fria.<br />

Assim que a frente fria desloca-se sobre um determinado<br />

local, os ventos passam a soprar do quadrante sul. Esses<br />

ventos são originados no anticiclone (alta pressão) e a<br />

intensidade será de acordo com a diferença de pressão<br />

(gradiente) existente entre o centro da alta pressão e a<br />

frente fria. Quanto maior o gradiente de pressão, maior<br />

será a intensidade dos ventos, o que pode resultar<br />

em cisalhamento severo, dificultando ou até mesmo<br />

impossibilitando pouso de aeronaves no AIHL. Como<br />

os anticiclones são mais intensos no inverno (JJA),<br />

devido a menor quantidade de radiação solar que o<br />

Hemisfério Sul recebe nessa época do ano, a tendência é<br />

que após cada passagem frontal, os ventos do quadrante<br />

sul apresentem rajadas fortes resultando em ocorrência<br />

de windshear no AIHL.<br />

Por outro lado, no verão, com o continente aquecido<br />

praticamente por igual, os anticiclones são menos<br />

intensos, e comumente não avançam para norte sobre o<br />

continente. Nesta época do ano, geralmente apresentam<br />

deslocamento para alto mar a partir do Uruguai<br />

(Monteiro e Furtado, 1995). Com isso, o contraste<br />

térmico vai ocorrer sobre o oceano, ficando o litoral com<br />

pouca variação de pressão, quando ocorre a incursão de<br />

frente fria sobre o sul do Brasil. Portanto, a ocorrência<br />

do fenômeno tende a diminuir.<br />

Os resultados obtidos por Ditteberner (2001) destaca<br />

um aumento dos casos em 7%, do verão para o inverno.<br />

Porém, na primavera ocorre um aumento significativo,<br />

totalizando 12% a mais em relação ao verão. Este<br />

processo pode estar associado à formação de CCM,<br />

conforme descrição anterior.<br />

Os casos aqui analisados, dos dias 23/03/2005 e<br />

25/04/2005, foram bastante significativos, sendo em<br />

especial o do dia 25/04, que apresentou um gradiente de<br />

pressão muito forte, resultando em 11 horas contínuas<br />

de atuação do fenômeno windshear. Portanto, um<br />

período enorme em que aeronaves, em operação de<br />

pouso e decolagem, sofrem esforços enormes em suas<br />

estruturas, o que pode levar, a acidentes desastrosos.<br />

Entre as diversas manifestações de tipos de tempo<br />

como visibilidade reduzida por chuva forte, céu nublado<br />

por nuvens do tipo stratus que formam “teto baixo”, e<br />

nevoeiros densos que reduzem a visibilidade horizontal<br />

a poucos metros, as operações aéreas são, em muitos<br />

casos, prejudicadas pelos ventos fortes que podem levar<br />

uma aeronave a colidir com o solo.<br />

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

CABRAL, E.; FARIAS, S. J. S. Análise das<br />

Ocorrências de “Windshear” na área do Aeroporto<br />

Internacional de São Paulo/Guarulhos (1988/90). VII<br />

Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. V. 1. São<br />

Paulo, p. 248-252, 1992.<br />

CABRAL, E; ROMÃO, M. As Fatais Tesouras<br />

de Vento. http://paginas.terra.com.br/servicos/vnw/<br />

ventonw/windshear2.html (Acessado em <strong>29</strong>/11/2005).<br />

CABRAL, E. Fenômenos Meteorológicos Adversos<br />

em Aeroportos da Região de São Paulo e Mato<br />

Grosso do Sul. http://paginas.terra.com.br/servicos/<br />

vnw/ventonw/artigo04_conaero.htm (Acessado em<br />

<strong>29</strong>/11/2005).<br />

DITTEBERNER, M. R. Causas e Efeitos das<br />

Turbulências nas Operações Aéreas do Aeroporto<br />

Internacional Hercílio Luz. TCC do Curso de<br />

Geografia. UDESC, 2001.<br />

DUQUIA, C. G.; SILVA DIAS, M. A. F. Complexo<br />

convectivo de mesoescala: um estudo de caso para o<br />

oeste do Rio Grande do Sul. VIII Congresso Brasileiro<br />

de Meteorologia, SBMET, Anais. Vol. 2, p. 610-612,<br />

1994.<br />

GAN, M. A.; RAO, V. B. Surface Cyclogenesis<br />

over South America. Mon. Wea. Rev., 119:1<strong>29</strong>3-1302,<br />

1991.<br />

50


Boletim SBMET novembro/05<br />

LOURENÇO, M.C.M.; FERREIRA, N.J.; GAN,<br />

M.A. Vórtices ciclônicos em altos níveis de origem<br />

subtropical. Climanálise Especial 10 anos, p. 163-167,<br />

1996.<br />

MONTEIRO, M. A. Caracterização climática<br />

do Estado de Santa Catarina: uma abordagem dos<br />

principais sistemas atmosféricos que atuam durante<br />

o ano. GEOSUL, n. 31, Florianópolis, p. 69-78, 2001.<br />

MONTEIRO, M. A.; FURTADO S. M. A. O clima do<br />

trecho Florianópolis – Porto Alegre: uma abordagem<br />

dinâmica. GEOSUL, n. 19/20. Florianópolis, p. 117-<br />

132, 1995.<br />

RODRIGUES, M. L. G. Uma Climatologia de<br />

Frentes Frias no Litoral de Catarinense com Dados<br />

de Reanálise do NCEP. Dissertação de Mestrado.<br />

Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental.<br />

UFSC, 2003. 75p.<br />

SANTOS A. P.; ARAÚJO, M. A. A.; ALOISE, E. D.;<br />

REGA, R. N. S. Episódios de wind-Shear no Aeródromo<br />

Internacional de São Paulo – Guarulhos – 1989 a 1995.<br />

IX Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. V. 1.<br />

São Paulo, p. 396 –398, 1996.<br />

51


Boletim SBMET novembro/05<br />

ANÁLISE DE DOIS ACIDENTES AERONÁUTICOS<br />

ASSOCIADOS À ATIVIDADE CONVECTIVA:<br />

KANO (1956) E CONGONHAS (2000)<br />

Rubens Junqueira Villela<br />

Consultor Meteorologista<br />

E-mail: rvillela@usp.br<br />

RESUMO<br />

Neste trabalho, com base nos dados das investigações promovidas pelas autoridades aeronáuticas, são analisados<br />

dois acidentes fatais (totalizando 39 vidas perdidas), tendo em comum como causa principal ou fator contribuinte<br />

a ocorrência de formações de Cumulonimbos (Cbs) surgidas inesperadamente na trajetória de vôo durante a fase<br />

de decolagem. O primeiro acidente ocorreu em Kano, na Nigéria, e o segundo em Congonhas/SP. Das análises<br />

desses acidentes, apresentam-se lições práticas, tanto para pilotos como para meteorologistas, sobre os perigos<br />

da operação aeronáutica nas proximidades de Cbs.<br />

Palavras-chave: acidentes aéreos, cumulonimbos, windshear.<br />

ABSTRACT<br />

In this article, based on investigations carried out by the aeronautical authorities, two accidents (claiming a<br />

total of 39 lives) and having in common as the main cause or contributing factor the occurrence of unexpected<br />

cumulonimbus development during the take-off path, are analysed. The first accident occurred in Kano, Nigeria,<br />

while the second in Congonhas/SP. In the conclusion we try to extract practical lessons useful to pilots and<br />

meteorologists alike, concerning the risks involved in aeronautical operations in the vicinities of Cbs.<br />

Key words: aircraft accidents, cumulonimbus, windshear.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

As formações de nuvens Cumulonimbos (Cbs) e seu<br />

produto, as trovoadas, constituem uma das condições<br />

mais adversas para a aviação, e por isso o vôo em Cbs<br />

ou mesmo nas suas proximidades costuma ser evitado<br />

pelos pilotos, sempre que possível. A ação combinada<br />

de fenômenos próprios dos Cbs (como precipitações<br />

intensas, granizo, raios, rajadas, cortantes ou “tesouras<br />

de vento” (windshear), fortes correntes ascendentes<br />

e descendentes, turbulência, etc) afeta seriamente a<br />

controlabilidade do vôo e pode causar danos e mesmo<br />

falha estrutural da aeronave, com conseqüências fatais.<br />

52<br />

Neste estudo, baseado na investigação de dois<br />

acidentes aeronáuticos - um ocorrido em Kano, na<br />

Nigéria, e outro em Congonhas, em São Paulo, mostrase<br />

como formações imprevistas de Cbs na área dos<br />

aeroportos conspiraram, em ambos casos, para derrubar<br />

as aeronaves durante uma fase crítica de vôo – a<br />

decolagem. O desastre de Kano serve como ilustração<br />

exemplar de um caso de windshear, enquanto o evento<br />

de Congonhas, de um caso de Cbs embutidos. Da análise<br />

desses dois casos, tira-se lições práticas, tanto para<br />

pilotos como para meteorologistas, quanto à operação<br />

em ambiente de atividade convectiva.


Boletim SBMET novembro/05<br />

2. O ACIDENTE DE KANO<br />

Investigação Precursora sobre os Efeitos de<br />

windshear<br />

O conhecimento moderno do fenômeno windshear<br />

como causa de acidentes nas fases críticas de pouso e<br />

decolagem praticamente teve início em 1975, com a<br />

análise do Prof. T. Theodore Fujita (Fujita e Carracena,<br />

1977), da Universidade de Chicago, sobre o célebre<br />

acidente com o Boeing 727 do vôo 66 da Eastern<br />

Airlines, no Aeroporto John F. Kennedy em <strong>No</strong>va York,<br />

no dia 27 de junho daquele ano. Os estudos de Fujita<br />

e associados levaram à descoberta de uma nova classe<br />

de fenômenos meteorológicos associados a nuvens<br />

convectivas e perigosos para a aviação, como causa de<br />

windshear severo: os downburst, microburst e outburst<br />

(Fujita, 1985). O efeito do windshear, entendido na<br />

aviação como uma mudança brusca das componentes<br />

horizontal e vertical dos deslocamentos de ar ao longo<br />

da trajetória de vôo, e conseqüentes perdas de altitude<br />

e de sustentação aerodinâmica, está ilustrado na Figura<br />

1 para a fase de decolagem. Essa figura foi elaborada<br />

com base na investigação de desastre com Boeing 727<br />

no Aeroporto Stapleton em Denver (EUA), ocorrido<br />

em 07/08/75. Nesse acidente, o impacto com o solo se<br />

deu 20 s após a decolagem e a componente de cauda<br />

alcançou 50 nós (Fujita e Carracena, 1977).<br />

Figura 1: Situação ilustrativa do efeito de windshear causada por downburst.<br />

Fonte: Fujita e Carracena (1977).<br />

Entretanto, analisando um antigo relatório da<br />

Organização de Aviação Civil Internacional (OACI)<br />

(ICAO, 1958), Villela (2002) descobriu que há quase<br />

20 anos atrás essa condição atmosférica já havia sido<br />

identificada e apontada como causa de um acidente<br />

ocorrido no dia 24 de junho de 1956, em Kano, no norte<br />

da Nigéria (número-índice da OMM 65046, posição 12º<br />

03’ N e 08º 32’ W, altitude 476 m; mapa de localização na<br />

Figura 2, que mostra também as isoietas anuais) (Motha<br />

et al., 1980), durante a decolagem de um quadrimotor<br />

Argonaut, tipo DC-4, da British Overseas Airways<br />

Corporation (BOAC). Embora o relatório falhe a não<br />

perceber o alcance de suas constatações, pois apenas cita<br />

de passagem o termo windshear (sic) em um adendo,<br />

não resta dúvida de que representa uma investigação<br />

pioneira do fenômeno. É pelo seu interesse e pelas<br />

lições que encerra, aplicáveis à situações freqüentes no<br />

Brasil (Silva Dias, 1999; Cabral e Romão, 1999), que<br />

cabe aqui uma revisão.<br />

53


Boletim SBMET novembro/05<br />

Figura 2: Isoietas de precipitação média anual (expressa em mm) e curvas características da marcha mensal<br />

de precipitação em 4 faixas climáticas. Destaca-se no mapa a localização de Kano, no norte da Nigéria.<br />

Fonte: Motha et al. (1980).<br />

Descrição do Acidente<br />

O avião da BOAC, matrícula G-ALHE, cumpria<br />

a rota Lagos-Kano-Trípoli-Londres. Trinta minutos<br />

após o pouso em Kano, o Argonaut estava abastecido<br />

e pronto para decolar. O comandante havia checado a<br />

previsão do tempo, que indicava trovoadas esparsas nas<br />

vizinhanças. Via-se uma delas à distância, no setor lestenordeste,<br />

embora não se ouvissem os trovões; a maior<br />

parte do céu se encontrava claro. Mas pouco depois o<br />

piloto notou que a cabeça do Cb começava a cobrir o<br />

aeroporto, embora a nuvem houvesse se deslocado para<br />

nordeste. Ele foi então novamente consultar o previsor,<br />

que lhe disse haver uma linha de trovoadas a 400 milhas<br />

ao leste, mas que as trovoadas na área de Kano eram<br />

puramente locais, sem ligação, com nenhuma Linha de<br />

Instabilidade (LI). Como é conhecido, as trovoadas de<br />

LI – seja na Nigéria ou no Brasil – são mais intensas<br />

e perigosas, deslocam-se rápido e estão freqüentemente<br />

associadas a fortes rajadas (Ray, 1986). Entretanto,<br />

o previsor assegurou que a tempestade à vista, sendo<br />

puramente local, se moveria lentamente de leste<br />

para oeste. De volta ao avião, o comandante avisou o<br />

navegador que iria desviar um pouco para oeste após<br />

a decolagem, para evitar a área de trovoadas que iria<br />

passar de oito a dez milhas ao norte do aeroporto.<br />

Os motores foram acionados as 17:15 (hora local),<br />

e a torre autorizou o táxi para a pista 25, informando<br />

ajuste de altímetro de 1012 milibares e vento de 3000<br />

com intensidade de 15 nós. Nesse momento a chuva<br />

começou e foi engrossando durante o táxi, embora sem<br />

reduzir muito a visibilidade. O comandante procurou<br />

observar particularmente sinais de rajadas de vento ou<br />

de nuvem-rolo, comumente associados à tempestade do<br />

tipo LI (exatamente como acontece no Brasil também),<br />

mas não havia qualquer indicação desse tipo, embora<br />

a parte mais escura da nuvem agora estivesse bem<br />

próxima a nordeste.<br />

54


Boletim SBMET novembro/05<br />

A decolagem foi iniciada imediatamente, nas<br />

seguintes condições de tempo: três oitavos de<br />

nebulosidade com base a 2500 pés, vento 270º com<br />

20 nós, visibilidade 1500 jardas e chuva moderada. A<br />

decolagem foi perfeitamente normal, depois de uma<br />

corrida de 2000 jardas. Mas a chuva que aumentava,<br />

reduzindo a visibilidade, obrigou o piloto a voar por<br />

instrumentos. A cabeceira da pista foi ultrapassada à<br />

velocidade de 125 nós e a 100 pés de altura (a altitude da<br />

pista é de 1.575 pés), notando-se ligeira ascendente. Foi<br />

feita a primeira redução de potência, para 2850 rotação<br />

por minuto (rpm). A subida foi normal, e pouco acima<br />

de 240 pés foi comandado o recolhimento dos flapes,<br />

com razão de subida de 300 pés por minuto e velocidade<br />

flutuando entre 125 nós e 130 nós. Do solo foi possível<br />

ver o avião desaparecer em chuva pesada a 250 pés. O<br />

piloto declarou que podia ver uma abertura a W/NW.<br />

A 260-270 pés de altitude, a aeronave estava nivelada<br />

e estável com velocidade de 123 nós. O piloto pensava<br />

que daí em diante ela aumentaria, mas em segundos<br />

viu horrorizado a velocidade indicada cair rápida e<br />

progressivamente. Ele comandou potência total e picou<br />

ligeiramente, mas a esta altura a velocidade baixara aos<br />

103 nós (a velocidade de estol calculada para a ocasião<br />

era de 97 nós indicada). O co-piloto abriu as manetes<br />

mas com a rpm ainda a 2.850, sem tempo para aumentar<br />

para 3.000, devido ao fato de que o sistema master<br />

estava fora de serviço. O comandante afirmou que não<br />

encontrou turbulência nem sentiu o<br />

afundamento, apenas preocupandose<br />

com a baixa velocidade, que se<br />

mantinha. Nesse momento, com o<br />

avião perdendo altura rapidamente,<br />

voando numa atitude quase nivelada,<br />

viu-se uma árvore à frente. Com<br />

cuidado para não tocar a asa direita<br />

no solo, o piloto iniciou uma curva<br />

para aquele lado e cabrou para ganhar<br />

altura mas, durante a manobra, a asa<br />

esquerda bateu na árvore. Seguiramse<br />

outros choques e o incêndio do<br />

tanque na asa esquerda. A aeronave<br />

foi praticamente desintegrada.<br />

Morreram três dos sete tripulantes e<br />

<strong>29</strong> dos 38 passageiros a bordo; piloto<br />

e co-piloto sobreviveram.<br />

Análise meteorológica<br />

Uma detalhada análise meteorológica feita pelas<br />

autoridades aeronáuticas da Nigéria e do Reino Unido<br />

permitiu reconstituir as condições na área imediata.<br />

Concluiu-se que o centro principal da tempestade de<br />

fato passou pouco ao norte do aeroporto, mas uma nova<br />

célula convectiva desenvolveu-se sob a cabeça do Cb<br />

primário e produziu chuva pesada com rajadas sobre a<br />

metade oeste do aeroporto, exatamente enquanto o G-<br />

ALHE decolava. As Figuras 3 e 4 mostram com clareza<br />

o acontecido, e poderiam servir para ilustrar uma típica<br />

situação de windshear num texto moderno (ilustrado na<br />

Figura 1). Ressalta-se que essas figuras foram geradas<br />

com base nas observações oficiais do Terminal e da Torre<br />

Temporária, segundo evidências de informações leigas<br />

em outras áreas. Primeiro o avião encontrou um vento<br />

de proa aumentando, seguido abruptamente por vento de<br />

cauda e provavelmente uma descendente, de tal maneira<br />

que a trajetória descendente da aeronave ocorreu em<br />

um período muito curto de tempo (entre cinco e quinze<br />

segundos), até o impacto. O estudo meteorológico<br />

acrescenta que nem o piloto nem o previsor poderiam<br />

perceber que uma nova célula de trovoada estava se<br />

formando junto ao lado oeste do aeroporto, pois o radar<br />

em Kano era incapaz de detectar um eco tão próximo,<br />

e nuvens baixas obstruíam a visibilidade na direção em<br />

que se elevavam as novas torres de cúmulos.<br />

Figura 3: Condições prováveis de vento e chuva no Aeroporto de Kano e imediações.<br />

Fonte: ICAO (1958).<br />

55


Boletim SBMET novembro/05<br />

Figura 4: Provável corte vertical mostrando vento e correntes verticais ao longo da trajetória<br />

de decolagem.<br />

Fonte: ICAO (1958).<br />

Na conclusão do relatório da investigação (ICAO,<br />

1958), cita-se como a causa provável: “O acidente foi<br />

resultado da perda de altitude e velocidade no ar, causada<br />

pelo encontro da aeronave a aproximadamente 250 pés<br />

depois da decolagem, com uma célula imprevisível de<br />

trovoada, que ocasionou uma repentina reversão da<br />

direção do vento, chuva pesada, e possíveis condições<br />

de descendente”. Mas, numa nota acrescentada pelas<br />

autoridades aeronáuticas britânicas, pede-se a emissão de<br />

uma circular de informação sobre os efeitos de “ventos<br />

cruzados, rajadas e windshear (sic) na decolagem e<br />

pouso”. Infelizmente, parece que a lição de Kano não foi<br />

devidamente apreciada na época e somente vinte anos<br />

depois o problema do windshear, de âmbito mundial,<br />

foi devidamente reconhecido em toda sua importância.<br />

3. ACIDENTE DE CONGONHAS<br />

O perigo dos Cbs embutidos<br />

Quando os Cbs estão obscurecidos por outras nuvens<br />

(diz-se embutidos ou embedded em inglês), o perigo<br />

aumenta, pois o piloto corre o risco de ser apanhado de<br />

surpresa, em determinadas circunstâncias. Por exemplo,<br />

o METAR (mensagem meteorológica de observação<br />

de superfície aeronáutica de rotina) pode não indicar<br />

o fenômeno, o radar de bordo ou de terra está sujeito<br />

56<br />

a erros de interpretação, e ainda<br />

mais perigoso: o Cb pode surgir<br />

num determinado ponto ou área<br />

onde o radar antes nada indicava,<br />

significando que novas células<br />

em formação não são percebidas.<br />

Uma combinação de fatores, como<br />

noite escura, com chuva e com<br />

Cbs embutidos, aumenta os riscos<br />

potenciais, contribuindo para um tipo<br />

de acidente que tem sido atribuído<br />

à desorientação espacial em vôo.<br />

A desorientação leva o piloto a<br />

executar manobras que agravam a<br />

falta de controle do vôo e, por fim,<br />

provoca perda de altitude, colisão<br />

com o solo ou ruptura estrutural no<br />

ar, quando excedida a velocidade<br />

limite. Condições deste tipo estiveram presentes no<br />

acidente ocorrido com a aeronave Turbo Commander<br />

prefixo PT-IEE, logo após a decolagem de Congonhas,<br />

em São Paulo. Esse acidente causou a morte do piloto<br />

e de seis passageiros que se destinavam a Maringá, no<br />

Paraná. A título de colaboração solicitada pelo Seção de<br />

Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos<br />

(SIPAA) do SERAC 4, responsável pela investigação<br />

oficial, Villela (2001) examinou os dados relativos a<br />

este acidente, cuja descrição é apresentada a seguir.<br />

Descrição do acidente<br />

O PT-IEE decolou da pista 17 de Congonhas as<br />

21h23, hora de verão brasileira (2323 UTC), uma noite<br />

de sábado escura e chuvosa em 16 de dezembro de<br />

2000. O piloto recebeu instruções para subir a 5.500<br />

pés e executar curva à direita até interceptar a radial<br />

270 (rumo oeste). Depois de iniciar a curva à direita,<br />

o piloto acusa problemas com o horizonte artificial. Os<br />

radares de Congonhas mostram a trajetória, a altitude<br />

e a velocidade sobre o solo, em intervalos de 4 a 8<br />

segundos. A velocidade pula de 130 nós para 170 nós<br />

em 4 s, a uma altitude de 3.700 pés (lembrando que<br />

a altitude de Congonhas é de 2.631 pés). O Turbo<br />

Commander continua subindo nos próximos 17 s a uma<br />

razão de 4.500 fpm (pés por minuto), como se estivesse<br />

numa forte ascendente, enquanto a velocidade sobre o<br />

solo se mantém a 170-175 nós. Depois de um giro para


Boletim SBMET novembro/05<br />

a esquerda, a velocidade começa a cair rapidamente<br />

para 100-105 nós. Vinte segundos depois a velocidade<br />

sobe para 120 nós e até 140 nós, na altitude de 5.300<br />

pés, quando a aeronave mergulha 600 pés em 7 s (razão<br />

de 5.140 fpm). O radar perde contato com o avião na<br />

altitude de 4.700 pés. O impacto com o solo se deu<br />

2 minutos após a decolagem, sobre casas do bairro<br />

de Vila Anhanguera, cerca de 5 km da cabeceira sul<br />

do Aeroporto de Congonhas. Testemunhas no local<br />

da queda declararam que chovia forte e havia muitos<br />

relâmpagos.<br />

Condições meteorológicas<br />

O radar de São Roque estava inoperante, mas o<br />

do Pico do Couto (RJ) detectara células a 380 km de<br />

distância, deslocando-se para sudeste, na área de São<br />

Paulo. Um comandante da Companhia aérea VARIG<br />

que aterrissou em Congonhas pouco depois do acidente,<br />

fez um relatório sobre as condições encontradas na<br />

aproximação. Abaixo do FL150 (nível de vôo de 15.000<br />

pés), as formações de Cbs se uniam através de uma<br />

camada estratificada espessa. Um desenho da tela do<br />

radar de bordo do VARIG 490 mostrava células um<br />

pouco a sudeste e sul, mas não na trajetória exata do<br />

PT-IEE, o que foi confirmado por imagens do radar da<br />

USP/DAEE em Ponte <strong>No</strong>va, obtidas posteriormente.<br />

<strong>No</strong> pouso, o VARIG 490 informou ventos fortes e<br />

turbulência leve para moderada e forte intensificação da<br />

chuva, fatores que obrigaram as próximas aeronaves a<br />

arremeter.<br />

Os METAR de Congonhas (SBSP) entre 2000<br />

UTC e 2400 UTC em nenhum momento acusaram a<br />

presença de Cbs ou relâmpagos. Os dados da estação<br />

meteorológica do IAG/USP, localizada na Água Funda,<br />

a 3 km a sudeste de Congonhas, também não acusaram<br />

trovoadas ou Cb, mas sim chuva muito forte (75 mm)<br />

entre 19 e 22 horas local, e rajadas de vento de 9 a 11<br />

ms -1 . Em Guarulhos (SBGR), Cbs e trovoadas só foram<br />

observados uma hora depois do acidente do PT-IEE. O<br />

registro automático de outra estação meteorológica do<br />

IAG/USP, localizada no campus da Cidade Universitária,<br />

mostrou que o horário do acidente coincidiu com uma<br />

fase de rápida alteração das condições do tempo na<br />

região: aumento da velocidade do vento (rajada de 13<br />

ms -1 , com direção SSE), elevação da pressão e queda da<br />

temperatura.<br />

Tais alterações refletiram a entrada de uma frente fria,<br />

associada à um centro de baixa pressão (1008 hPa em<br />

São Paulo), e que causou temporal na zona costeira. Esse<br />

sistema frontal foi responsável pelo naufrágio, no início<br />

daquela mesma noite de sábado, de um veleiro no litoral<br />

paranaense, com perda de duas vidas. As evidências são<br />

de que as más condições meteorológicas certamente<br />

contribuíram para o acidente do PT-IEE, além da pane<br />

de horizonte artificial. Entretanto, a conclusão depende<br />

da investigação realizada pelo SIPAA-4.<br />

4. CONCLUSÕES<br />

Da análise desses dois acidentes (Kano, na Nigéria e<br />

Congonhas, em São Paulo), complementada pelo exame<br />

de outros acidentes em circunstâncias semelhantes<br />

(Villela, 2001), pode-se extrair as seguintes lições, de<br />

interesse tanto para pilotos como meteorologistas:<br />

1 - A periferia das formações de Cbs e trovoadas (e<br />

não apenas o seu interior) é uma área potencialmente<br />

perigosa para o vôo. Esta área está sujeita a rajadas,<br />

windshear e súbito surgimento de novas formações de<br />

Cbs;<br />

2 - Cbs “embutidos” ou obscurecidos por espessas<br />

camadas de nuvens constituem verdadeiras ciladas para<br />

o piloto desprevenido;<br />

3 - Em caso de condições meteorológicas complicadas,<br />

não basta uma simples consulta ao METAR local para<br />

um planejamento seguro do vôo. É necessário inteirarse<br />

de todos os avisos da Meteorologia. <strong>No</strong> caso do<br />

PT-IEE analisado, havia vários avisos de tempestades<br />

convectivas na área, como GAMET e SIGMET,<br />

expedidos pelo CMA-1 de Guarulhos;<br />

4 - Uma pane de instrumento de atitude (horizonte<br />

artificial) em condições Instrument Flight Rules (IFR),<br />

torna-se muito mais difícil de ser administrada pelo<br />

piloto na presença de turbulência criada pela atividade<br />

de Cbs e trovoadas na área;<br />

5 - Os procedimentos de observação meteorológica,<br />

57


Boletim SBMET novembro/05<br />

visuais e instrumentais, exigem por vezes atenções e<br />

cuidados especiais para não comprometerem a segurança<br />

do vôo. É grande a responsabilidade dos observadores e<br />

do meteorologista, que devem estar atentos a detalhes<br />

como trovões e relâmpagos em qualquer setor, e a sinais<br />

de novas formações na área;<br />

6 - Radares são fontes de informações vitais a<br />

respeito de formações perigosas, e os de bordo são<br />

convenientemente suplementados pelos detetores de<br />

raios (stormscope). Entretanto, a interpretação das<br />

imagens de radar depende de conhecimentos técnicos<br />

sobre as limitações do aparelho, e de conhecimentos<br />

básicos relativamente aos fenômenos meteorológicos<br />

que estão ocorrendo.<br />

Hazards and Disaster Series, Routledge, Londres e N.<br />

York. 1999.<br />

VILLELA, R.J. O perigo do wind shear. Aeromagazine,<br />

ano 3, n. 26, p. 25. 1996.<br />

VILLELA, R.J. Fique longe dos Cbs. Aeromagazine,<br />

ano 8, n. 87, p. 32-34. 2001.<br />

VILLELA, R.J. Fator surpresa – O acidente de<br />

Kano, na Nigéria, foi o precursor da investigação sobre<br />

os efeitos do wind shear nas fases de aproximação e<br />

decolagem. Aeromagazine, ano 9, n. 99, p. 26-27.<br />

2002.<br />

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

CABRAL, E.; ROMÃO, M. Armadilha de ar.<br />

Aeromagazine, ano 6, n. 63, p.32-33. 1999.<br />

FUJITA, T.T.; CARRACENA, F. An analysis of three<br />

weather-related aircraft accidents. Bull. Am. Meteor.<br />

Soc., v. 58, p. 1164-1181. 1977.<br />

FUJITA, T.T. The downburst. University of<br />

Chicago. 1985.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

O autor agradece ao Maj.-Av. Carlos H. Kühl<br />

<strong>No</strong>gueira pelo acesso aos dados da investigação do<br />

SIPAA-4, sobre o acidente com a aeronave PT-IEE;<br />

ao Prof. Dr. Augusto José Pereira Filho, do IAG/USP,<br />

pelos dados do radar de Ponte <strong>No</strong>va; e a Dra. Marley<br />

Cavalcante de Lima Moscati, Diretora Administrativa<br />

da SBMET, pelo convite e estímulo para a elaboração<br />

deste artigo.<br />

ICAO. <strong>No</strong>. 21 – British Overseas Airways<br />

Corporation, Canadair C.4 (Argonaut), G-ALHE,<br />

crashed at Kano Airport, Nigeria, on 24 June 1956.<br />

Report by Ministry of Communications and Aviation,<br />

Federation of Nigeria. (Also released as C.A P. 141 by<br />

Ministry of Transport and Civil Aviation – U.K.). In:<br />

ICAO Circular 54-AN Aircraft Accident Digest <strong>No</strong>.<br />

8, p.89-94. Montreal, Canadá, 1958.<br />

MOTHA, R.P. et al. Precipitation patterns in West<br />

Africa. Mon. Wea. Rev., v. 108, n. 10, p. 1567-1578.<br />

1980.<br />

RAY, P. S. Mesoscale Meteorology and Forecasting.<br />

AMS, 2a. ed., Boston, 1986, 793 p.<br />

SILVA DIAS, M.A F. Storms in Brazil. In: Storms.<br />

v. II, editado por R. Pielke Jr. e R. Pielke Sr.. Routledge<br />

58


Boletim SBMET novembro/05<br />

ONDAS DE MONTANHA E A SEGURANÇA<br />

NAS OPERAÇÕES AÉREAS NA ANTÁRTICA<br />

Marcelo Romão, Alberto Setzer<br />

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC<br />

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE<br />

E-mails: mromao@cptec.inpe.br, asetzer@cptec.inpe.br<br />

Francisco Eliseu Aquino<br />

NOTOS – Laboratório de Climatologia<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS<br />

Instituto de Geociências – Departamento de Geografia<br />

E-mail: francisco.aquino@ufrgs.br<br />

RESUMO<br />

Este artigo apresenta considerações básicas sobre a importância das ondas de montanha, windshear e turbulência<br />

em baixos níveis, registradas na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), localizada na Baía do Almirantado,<br />

Ilha Rei George, no norte da Península Antártica. Analisando características da velocidade, direção e rajada<br />

máxima do vento na EACF, entre 1994 e 2002, conjuntamente com a prática operacional e observacional do<br />

Projeto de Meteorologia na EACF do PROANTAR/CNPq, nesta região, obtiveram-se resultados empíricos que<br />

podem servir de referência a pilotos e meteorologistas que atuam na região.<br />

Palavras-chave: Ondas de Montanha, windshear, Estação Antártica Comandante Ferraz.<br />

ABSTRACT<br />

This paper presents basic considerations on the importance of mountain waves, windshear and turbulence at<br />

low levels that were registered at the Ferraz Brazilian Antarctic Station (EACF), located at Admiralty Bay, King<br />

George Island, northern Antarctic Peninsula. At analyzing characteristics of wind velocity, direction and gust<br />

maxima observed at EACF between 1994 and 2002, together with operational and observational practices of<br />

the Brazilian Antarctic meteorology project (“Projeto Meteorologia na EACF’, PROANTAR/CNPq), empirical<br />

results were obtained, which may already serve as reference for pilots and meteorologists operating in the<br />

region.<br />

Key words: Mountain waves, windshear, Ferraz Antarctic Station.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Ondas de Montanha (OM), windshear (ou “tesoura<br />

de vento”, WS) e turbulência em baixos níveis, são<br />

fenômenos meteorológicos muito conhecidos pelos<br />

aviadores da Divisão Aeroembarcada da Marinha do<br />

Brasil (DAE-MB), que operam com os helicópteros<br />

UH-13 Esquilo biturbina, a bordo do Navio de Apoio<br />

Oceanográfico H-44 Ary Rongel, em águas antárticas.<br />

As OM são um dos mais belos e perigosos fenômenos<br />

meteorológicos. Belos devido às nuvens lenticulares<br />

resultantes, que parecem ter sido delicadamente moldadas<br />

ou pintadas à mão, e perigosos devido à turbulência e ao<br />

WS característicos das traiçoeiras nuvens rotoras.<br />

59


Boletim SBMET novembro/05<br />

A preocupação com a segurança de vôo dos<br />

helicópteros na Antártica, provavelmente começou em<br />

1934, quando o Almirante Richard Byrd (EUA) utilizou<br />

em suas operações aéreas o auto-giro Kellett; considerado<br />

o melhor protótipo dos atuais helicópteros. Infelizmente,<br />

esta aeronave acidentou-se ao final da expedição. Em<br />

1946, o Almirante Byrd voltou à Antártica com 4.000<br />

homens, 13 navios e um submarino. Essa operação,<br />

denominada High Jump, utilizou extensivamente os<br />

helicópteros em suas expedições antárticas.<br />

Na região onde os helicópteros da DAE-MB operam<br />

com mais freqüência, o Arquipélago das Ilhas Shetland<br />

do Sul, e mais especificamente nas Ilhas Rei George<br />

e Elefante, é comum que essas aeronaves sofram os<br />

efeitos da turbulência – “sacudir nas lombadas aéreas”,<br />

além de estarem sujeitas a outros efeitos como deriva,<br />

aumento no tempo de vôo, e maior consumo de<br />

combustível, afetando consideravelmente o desempenho<br />

da aeronave.<br />

As OM são formadas quando ventos de 20 nós ou<br />

mais atingem perpendicularmente (com desvio máximo<br />

de 50° de ângulo) uma montanha com 30° ou mais<br />

de inclinação. A barlavento, o ar é forçado a subir a<br />

montanha, descendo a sotavento. O seu efeito é estendido<br />

sobre o vale na forma de ondas, que podem se propagar<br />

por vários quilômetros. As ondas mais próximas à<br />

montanha são as de maior turbulência. A turbulência<br />

nesse caso é de origem mecânica e sua extensão e<br />

intensidade dependem diretamente da velocidade do<br />

vento, da rugosidade do terreno, altura do obstáculo e<br />

da estabilidade do ar (Tabela 1).<br />

O fenômeno da OM pode ser detectado visualmente<br />

através das nuvens lenticulares. Tais nuvens são<br />

formadas a barlavento das elevações montanhosas e têm<br />

posição estacionária, assim como as chamadas nuvens<br />

capuz (nuvens em forma de capuz que ocorrem sobre<br />

a parte superior das serras) e que, além de encobrir os<br />

picos das montanhas, têm turbulência associada. Este<br />

fenômeno pode ser observado em imagens de satélite na<br />

região norte da Península Antártica. Na Figura 1, as OMs<br />

podem ser identificadas pela sua forma de “costeletas”,<br />

e sua extensão é proporcional à do Arquipélago das<br />

Ilhas Shetland do Sul. Logo abaixo do fluxo das ondas,<br />

podem se formar as nuvens rotoras. É junto a estas<br />

formações que se encontra a turbulência mais severa,<br />

principalmente dentro e abaixo dessas nuvens. O WS<br />

também ocorre associado a nuvens rotoras, pois seus<br />

ventos seguem uma elipse com ventos ascendentes junto<br />

à montanha e descendentes um pouco mais à frente.<br />

Tanto as nuvens rotoras quanto as lenticulares só irão se<br />

formar se houver condições de temperatura e umidade<br />

para isso e, sem elas, as OM ficarão praticamente<br />

invisíveis e, portanto, mais perigosas para os pilotos<br />

que terão dificuldades adicionais em dimensionar as<br />

perturbações existentes.<br />

Tabela 1: Intensidade e extensão horizontal da<br />

turbulência.<br />

vento normal<br />

à montanha<br />

(nós)<br />

intensidade da<br />

turbulência<br />

extensão<br />

horizontal da<br />

turbulência (km)<br />

25 Leve 8 a 12<br />

50 Moderada 12 a 20<br />

80 Forte 20 a 40<br />

Fonte: Instituto de Proteção ao Vôo (IPV).<br />

Figura 1: Imagem do satélite NOAA 12 recebida na EACF em 16<br />

de Dezembro de 2001, onde se identificam as OM originadas pela<br />

passagem do vento pela Península Antártica, Ilhas Rei George e<br />

Elefante e um iceberg.<br />

60


Boletim SBMET novembro/05<br />

Um indício visual de quanto à turbulência está<br />

se estendendo verticalmente pode ser obtido pela<br />

observação do nível em que as nuvens lenticulares estão;<br />

por exemplo, a existência de uma nuvem lenticular alta<br />

do gênero Cirrocumulus dá a idéia de que a turbulência<br />

está se estendendo por muitos milhares de pés acima<br />

das montanhas. Outro fenômeno importante é a corrente<br />

de jato (jet stream), pois mesmo ocorrendo em grandes<br />

altitudes estes fluxos de ar podem gerar OMs e rajadas<br />

de ventos em níveis mais baixos.<br />

os mais afetados em uma situação de WS.<br />

Na região da Estação Antártica Comandante Ferraz<br />

(EACF), tem-se elevações de mais de 600 m de altitude<br />

(Figura 2), com alinhamento de NE para SW, e ventos<br />

máximos que podem atingir facilmente 70 nós (Figuras<br />

3a e 3b). Os pilotos devem dar a devida atenção quando<br />

voarem em situação onde há presença de ventos<br />

superiores a 20 nós ou nuvens lenticulares na área.<br />

Lester (1997) lista as seguintes recomendações para<br />

um vôo seguro quando o assunto é OM:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Se não for possível evitar as OM, deve-se voar<br />

a uma altitude que ultrapasse pelo menos 50% a<br />

altura das elevações;<br />

Alcance a altitude de 3.000 a 5.000 pés acima das<br />

elevações antes de cruzá-las;<br />

O melhor procedimento para cruzar as montanhas<br />

é com um ângulo de 45°, para possibilitar<br />

uma rápida retirada no caso da turbulência ser<br />

encontrada;<br />

Evite nuvens lenticulares, principalmente<br />

se os seus bordos estiverem esfarrapados e<br />

irregulares;<br />

Evite as nuvens rotoras, pois elas se encontram<br />

nas áreas de turbulência mais intensas das OM;<br />

Não confie excessivamente nas leituras do<br />

altímetro próximo a picos montanhosos, pois<br />

podem indicar altitudes superiores a 1.000 pés<br />

em relação à altitude real.<br />

Figura 2: Helicóptero Esquilo biturbina da DAE-MB, em manobra de<br />

aproximação do heliponto da EACF. Ao fundo encontra-se a geleira<br />

Stenhouse, com elevações que ultrapassam 600 m de altitude.<br />

(a)<br />

A “tesoura de vento” gerada por uma OM (vale<br />

lembrar que, ondas lee, WS, cisalhamento do vento,<br />

e tesoura de vento, são todos sinônimos), também<br />

pode ser definida como uma variação na direção e/ou<br />

na velocidade do vento em uma curta distância (na<br />

vertical ou horizontal). Esta variação brusca leva a<br />

um significativo ganho ou perda de sustentação das<br />

aeronaves. O WS pode causar diferentes efeitos nas<br />

aeronaves, como turbulência, aumento ou diminuição<br />

da velocidade indicada, bruscas e perigosas variações<br />

no Indicador de Velocidade Vertical (VSI), altímetro e<br />

indicador de ângulo de ataque, sendo estes instrumentos<br />

(b)<br />

Figura 3: a) Freqüência das rajadas máximas na EACF entre 1994<br />

e 2002; b) Rajadas máximas observadas na EACF entre 1994 e<br />

2002.<br />

61


Boletim SBMET novembro/05<br />

Em 19 de janeiro de 2002 um helicóptero da Força<br />

Aérea Uruguaia, um Bell UH-1H, enfrentou forte<br />

cisalhamento do vento em sua aproximação ao heliponto<br />

da EACF. Pelo menos três componentes de vento agiam<br />

na área: uma vinda das geleiras, outra do mar e outra<br />

de uma elevação de 216 m, atrás da EACF – a da<br />

estação meteorológica do Morro da Cuz. A aeronave<br />

balançou perigosamente a baixa altura, abortando o<br />

pouso e retornando à estação uruguaia de Artigas.<br />

Essa grande variabilidade das condições atmosféricas,<br />

principalmente do vento, no interior do fiorde da Baía<br />

do Almirantado, testa a habilidade e capacidade não só<br />

dos pilotos, mas também dos meteorologistas que se<br />

encontram nessas situações limítrofes.<br />

Em dezembro de 2004, um helicóptero Bell 407<br />

com equipe inglesa, voando sobre o Platô Antártico<br />

(79ºS; 79ºW), nas proximidades dos montes Patriot<br />

e das montanhas Ellsworth, colidiu com o solo em<br />

condições de vôo controlado (Figura 4). Este acidente<br />

ocorreu em situação de piora do tempo, vento entre 25<br />

e 30 nós e whiteout (branco-total, quando o contraste<br />

desaparece e o observador não consegue distinguir o<br />

horizonte ou qualquer feição na superfície da neve).<br />

Este sinistro aconteceu no momento que o piloto<br />

iniciou o procedimento de pouso, batendo contra o<br />

solo com o altímetro ainda marcando 140 pés de altura.<br />

Provavelmente as OMs estavam atuando na região no<br />

momento do acidente, o que teria provocado a diferença<br />

de altura no radio-altímetro, e que foi agravado pela<br />

presença do whiteout.<br />

O Projeto “Meteorologia na Estação Antártica<br />

Comandante Ferraz” do PROANTAR/CNPq, dá<br />

especial atenção aos ventos locais quando existe<br />

atividade aérea na região. Constantemente são feitos<br />

contatos via rádio com o NApOc Ary Rongel e outras<br />

aeronaves que venham a utilizar-se do heliponto da<br />

EACF. As forças aéreas peruana, uruguaia e chilena<br />

constantemente solicitam briefings da EACF, fazendo<br />

com que o módulo de Meteorologia da EACF às vezes<br />

funcione como uma estação de serviço de informação<br />

de vôo do aeródromo (Aerodrome Flight Information<br />

Service – AFIS), reportando as condições gerais do<br />

tempo, previsões de tempo locais, previsões de ondas<br />

de montanhas e até mesmo fazendo a coordenação de<br />

seus vôos.<br />

Figura 4: Integrante do Projeto, Francisco E. Aquino, observa em<br />

Patriot Hills os destroços do helicóptero Bell 407, utilizado na<br />

expedição Polarfirst no verão de 2004/2005.<br />

Na tentativa de se aprimorar a previsão do tempo<br />

para condições adversas de vôo, o Projeto tem realizado<br />

análises dos ventos locais e suas relações com o WS.<br />

Para tanto, foram utilizados dados meteorológicos de<br />

duas estações meteorológicas, uma em altitude (Morro<br />

da Cruz) e outra em superfície (EACF).<br />

Foi constatado que, se a diferença na direção do vento<br />

for superior a 60º entre essas duas estações, os pilotos já<br />

podem encontrar cisalhamento no vento. Diferenças nas<br />

velocidades dos ventos superiores a 30 nós também são<br />

um bom indicativo de WS.<br />

Esses são resultados preliminares e empíricos,<br />

mas que já servem como referência a pilotos e<br />

meteorologistas. Pesquisas que visem à segurança dos<br />

aeronautas é um importante fator de progresso para a<br />

aviação moderna, principalmente em regiões inóspitas<br />

e de bruscas mudanças do tempo meteorológico, como<br />

a região Antártica. Iniciado por Byrd em 1946, hoje as<br />

operações com helicópteros são fundamentais para toda<br />

a logística das atividades humanas na Antártica.<br />

62


Boletim SBMET novembro/05<br />

2. BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA<br />

CABRAL, E.; ROMÃO, M. 1999. Atenção ao<br />

Relevo. Revista Aero Magazine. <strong>No</strong>va Cultural, Vol.<br />

6 n 65, 30-31.<br />

LEDESMA, M.; BALERIOLA, G. 1984.<br />

Meteorologia Aplicada a la Aviacion. Paraninfo. 389<br />

– 406.<br />

LESTER, P. F. 1997. Mountain Lee Waves in:<br />

Aviation weather. Englewood: Jeppesen Sanderson.<br />

10-9 a 10-17.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao PROANTAR, pelo apoio contínuo junto à<br />

Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar<br />

(SECIRM) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />

Científico e Tecnológico (CNPq); ao Ministério do<br />

Meio Ambiente (MMA); CPTEC e ao INPE, pelo apoio<br />

institucional, ao Ministério da Ciência e Tecnologia<br />

(MCT); à bolsa MCT DTI-381179/03-6; às equipes<br />

“Meteoro – H24”, ao Geógrafo Ricardo Burgo Braga<br />

(NOTOS/UFRGS) e à Marilene A. da Silva, pela atuação<br />

incansável nestes 20 anos.<br />

MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. Instituto de<br />

proteção ao Vôo – IPV. Ondas de Montanha, Uma força<br />

sobrepujada apenas pelos tornados. Apostila do Curso<br />

OP-178 (Especialização em meteorologia Aeronáutica,<br />

S/D).<br />

MURRAY, J.; BODILL, C. Página da expedição<br />

Polar First – flying to extremes, disponível em: http://<br />

www. Polarfirst.com/html/diary.php. (consultado em<br />

dezembro de 2005).<br />

PROJETO DE METEOROLOGIA ANTÁRTICA.<br />

Página do projeto disponível em: http://www.cptec.<br />

inpe.br/antartica. (consultado em dezembro de 2005).<br />

SIMÕES, J.C. 2004. Glossário da língua portuguesa<br />

da neve, do gelo e termos correlatos. In: Pesquisa<br />

Brasileira Antártica. Academia Brasileira de Ciências,<br />

Vol. 4: 119-154.<br />

63


Boletim SBMET novembro/05<br />

METEOROLOGIA AERONÁUTICA:<br />

SERVIÇO APAIXONANTE E CIÊNCIA COM VASTO<br />

CAMPO PARA A PESQUISA<br />

Cristina Voltas Carrera Fogaccia<br />

Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO<br />

Rodovia Hélio Smitdt, s/n – Caixa Postal 3051 – Cumbica<br />

CEP 07143-970 – Guarulhos – SP<br />

E-mail: cfogacci.cnsp@infraero.gov.br<br />

Desde o surgimento das primeiras aeronaves,<br />

as autoridades começaram a preocupar-se em<br />

disciplinar o tráfego aéreo com o objetivo de promover<br />

a segurança da navegação aérea.<br />

Em 1949, com a 1ª Guerra Mundial, surgiram as<br />

seguintes questões:<br />

64<br />

• Seria o espaço aéreo livre ao uso de todos?<br />

•<br />

•<br />

Teria o proprietário do solo o domínio absoluto<br />

da coluna do espaço aéreo correspondente ao<br />

seu imóvel?<br />

O Estado teria o direito de soberania no espaço<br />

aéreo sobrejacente ao respectivo território?<br />

Diante dessas dúvidas, formaram-se convenções<br />

internacionais para tratar desses assuntos relativos à<br />

navegação aérea. A mais importante foi a Convenção<br />

de Chicago de 1944, com a finalidade de direcionar<br />

certos princípios, para que a aviação internacional se<br />

desenvolvesse de maneira segura e sistemática. De<br />

forma resumida, as principais finalidades da Convenção<br />

de Chicago foram promover acordos internacionais<br />

para que a aviação civil internacional se desenvolvesse<br />

com segurança e de forma ordenada e que o Serviço<br />

de Transporte Aéreo Internacional se estabelecesse<br />

qualitativa e economicamente, além da criação da<br />

Organização de Aviação Civil Internacional (OACI),<br />

concretizada em 1947. O Brasil, como país signatário<br />

da OACI, adota sua legislação internacional.<br />

O Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro<br />

(SISCEAB) tem como função impor a presença do Estado<br />

no espaço aéreo sob sua jurisdição e responsabilidade,<br />

provendo condições para que o fluxo de tráfego aéreo,<br />

civil e militar, seja realizado com segurança, eficiência<br />

e regularidade, sempre com o conhecimento e de<br />

acordo com as condições estabelecidas pelo Comando<br />

da Aeronáutica. Uma das atividades do SISCEAB é<br />

o Serviço de Meteorologia Aeronáutica, estruturado<br />

dentro do Sistema de Proteção ao Vôo, visando<br />

prover aos usuários as informações meteorológicas<br />

necessárias ao planejamento, execução e controle dos<br />

vôos. Meteorologia Aeronáutica é definida como o<br />

ramo da ciência meteorológica que estuda os fenômenos<br />

atmosféricos que possam influenciar a navegação aérea,<br />

a segurança da infra-estrutura aeronáutica e a interação<br />

dos equipamentos de vôo com o ar atmosférico. As<br />

normas relativas à Meteorologia foram adotadas pelo<br />

Conselho de 1948, em conformidade com o estabelecido<br />

pela Convenção de Chicago, sendo descritas no “Anexo<br />

3 da Convenção de Aviação Civil Internacional”.<br />

Graças à necessidade de se fornecer informações<br />

meteorológicas para os aviadores foi criada uma rede de<br />

estações meteorológicas extensa, em cada aeródromo,<br />

com informações atualizadas a cada hora, com<br />

divulgação mundial. Com isso a área de Meteorologia


Boletim SBMET novembro/05<br />

Aeronáutica foi a alavanca das várias áreas de atuação da<br />

Meteorologia que dependem de receber continuamente<br />

as informações meteorológicas (Defesa Civil, marítima,<br />

mídia, etc).<br />

Quantos previsores dispunham apenas dos aeroportos<br />

para obter as informações dessa rede de estações para<br />

fazer suas previsões, antes de existir a divulgação das<br />

mensagens e imagens de satélites meteorológicos pela<br />

internet! Hoje, as informações meteorológicas são<br />

facilmente obtidas e o avanço contínuo da tecnologia<br />

está permitindo melhorar a qualidade dos serviços<br />

prestados.<br />

A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura<br />

Aeroportuária (INFRAERO) tem investido na<br />

informatização dos processos dos Centros e Estações<br />

Meteorológicos. A busca pela automatização das<br />

tarefas manuais, como a “plotagem” de cartas, tem<br />

como objetivo melhor aproveitar o potencial humano,<br />

focando sua atenção na análise meteorológica e no<br />

atendimento aos usuários da navegação aérea. A<br />

INFRAERO adquiriu o sistema VISMET para plotagem<br />

de cartas meteorológicas (carta auxiliar, SKEWT-Log<br />

P e “Tabuleiro”) para os Centros Meteorológicos de<br />

Aeródromo Classe 1 (CMA-1), facilitando e agilizando<br />

as tarefas dos CMA-1 dos Aeroportos Internacional<br />

de São Paulo/Guarulhos e do Rio de Janeiro/Galeão.<br />

Nas Estações Meteorológicas foi implantado um<br />

sistema para registro das observações meteorológicas,<br />

o INFOMET, desenvolvido inicialmente por um<br />

operador da rede e agora em processo de melhoria por<br />

profissionais de informática da própria empresa. Esse<br />

sistema permitiu a diminuição do preenchimento de<br />

formulários e facilitou a consulta a dados passados.<br />

A tendência é que o investimento em informatização<br />

na INFRAERO continue avançando para englobar<br />

todos os procedimentos de elaboração das previsões<br />

meteorológicas.<br />

Visando verificar a qualidade dessas previsões,<br />

existe um índice de acerto para as previsões elaboradas<br />

para cada aeródromo. Apesar de se ter uma média de<br />

acerto bom (entre 80% e 95%), essa média é feita por<br />

amostragem, de forma manual e, devido à demora na sua<br />

divulgação (em torno de um mês), e falta na definição<br />

dos parâmetros que levou à falha na previsão, a melhoria<br />

é muito incipiente. A tendência é investir na implantação<br />

de métodos de avaliação dessas mensagens previstas,<br />

dando ao previsor uma análise de sua previsão logo após<br />

o término da validade e fornecendo, além do seu índice<br />

global de acerto, uma informação detalhada de quais<br />

parâmetros meteorológicos tiveram mais acerto. Assim<br />

o previsor poderá guiar-se diariamente para melhorar a<br />

sua previsão para o dia seguinte. Também, as pesquisas<br />

poderão ser direcionadas conforme a necessidade. Por<br />

exemplo, se a previsão de nebulosidade for o fator que<br />

estiver diminuindo esse índice de acerto, então o foco<br />

de pesquisa passará a ser o estudo da previsibilidade<br />

desse parâmetro. O próximo passo será a implantação<br />

de modelos regionais em tempo real, de resolução<br />

adequada para a previsão dos parâmetros de interesse<br />

para a aviação, com foco em cada aeródromo.<br />

Todo o SISCEAB está estruturado para ser flexível,<br />

de forma a atender a demanda dos movimentos aéreos<br />

e aumentar a segurança, conforme o desenvolvimento<br />

da tecnologia. Com isso, as normas também mudam, e<br />

todo o pessoal envolvido tem que ser constantemente<br />

treinado para aplicar as novas normas e tecnologias. O<br />

Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA)<br />

e a INFRAERO investem em instrução, por meio de<br />

cursos de formação e atualização. A operação 24 horas<br />

dos Centros e Estações Meteorológicas é o diferencial<br />

desse serviço, e seria melhor ainda se houvesse um<br />

espaço dentro da atual estrutura para a existência de uma<br />

equipe voltada para a pesquisa na área. Existem poucos<br />

trabalhos científicos nessa área, apesar de intenções<br />

isoladas para estabelecer vínculos para conduzir a<br />

pesquisa para aplicação na área de Meteorologia<br />

Aeronáutica.<br />

Concluindo: Trabalhar com Meteorologia<br />

Aeronáutica é extremamente envolvente, apaixonante<br />

e gratificante. Envolvente, porque essa área tem uma<br />

missão nobre: “Proteger Vidas”. Apaixonante, porque<br />

diariamente, durante 24 horas, o profissional tem um<br />

grande desafio de cumprir sua missão e conquistar a<br />

credibilidade para o seu serviço. Gratificante, porque o<br />

contato com o usuário é muito próximo, com interação<br />

constante e palavras de elogio freqüentes. E, esta área<br />

apaixonante tem um vasto campo inexplorado repleto<br />

de desafios para a comunidade meteorológica.<br />

65


Boletim SBMET novembro/05<br />

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />

BRASIL. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA.<br />

INSTITUTO DE PROTEÇÃO AO VÔO.<br />

Gerenciamento de Atividades do SISCEAB (CG112),<br />

São José dos Campos: IPV, 1999.<br />

INTERNATIONAL CIVIL AVIATION<br />

ORGANIZATION. Meteorological Service for<br />

International Air Navigation: Annex 3 to the<br />

Convection on International Civil Aviation. 5th . ed.<br />

[S.L.]: ICAO, 2004.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Agradeço ao Cel. Av. José Maria Ribeiro Mendes,<br />

pelo incentivo para escrever este texto e por apoiar as<br />

inovações no Centro Meteorológico de Aeródromo de<br />

Guarulhos (CMA-1 GR) e a Marcelo da Silva Fogaccia<br />

e Lúcia Setiuko Tengan, pela revisão e sugestões.<br />

66


Boletim SBMET novembro/05<br />

MONITORAMENTO E EVOLUÇÃO DE DESCARGAS<br />

ELÉTRICAS ATMOSFÉRICAS ASSOCIADAS A SISTEMAS<br />

CONVECTIVOS DE MESOESCALA<br />

Suzana Rodrigues Macedo 1 , Wagner Flauber Araújo Lima 1 ,<br />

Luiz Augusto Toledo Machado 1 , Osmar Pinto Junior 2<br />

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE<br />

1<br />

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais –<br />

INPE/CPTEC/DSA<br />

2<br />

Divisão de Geofísica Espacial/Grupo de Eletricidade Atmosférica – INPE/DGE/ ELAT<br />

E-mails:{suzana, wagner, machado}@cptec.inpe.br, osmar@dge.inpe.br<br />

RESUMO<br />

Este artigo tem como objetivo apresentar um produto recentemente disponibilizado pelo CPTEC/INPE, em<br />

parceria com o grupo de Eletricidade Atmosférica do DGE/INPE. Trata-se da detecção de descargas atmosféricas<br />

distribuídas na imagem do canal infravermelho do GOES, em uma área de 10 x 10 km 2 e também da quantidade<br />

de descargas elétricas associadas a sistemas convectivos de mesoescala detectados pelo ForTraCC (Forecast and<br />

Tracking the evolution of Cloud Clusters).<br />

Palavras-chave: descargas atmosféricas, sistemas convectivos, ForTraCC, GOES.<br />

ABSTRACT<br />

The main goal of this article is to present a product recently developed by CPTEC/INPE in partnership with the<br />

Atmospheric Electricity Group of DGE/INPE. The product shows the spatial distribution of lightning flashes<br />

on a GOES infrared image within an area of 10 x 10 km 2 , and the number of lightning occurrence associated to<br />

mesoscale convective systems detected by the ForTraCC (Forecast and Tracking the evolution of Cloud Clusters)<br />

software.<br />

Key words: lightning flashes, cloud clusters, ForTraCC, GOES.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O monitoramento em tempo real de tempestades<br />

vem despertando o interesse tanto da comunidade<br />

meteorológica, como da sociedade em geral, visto a sua<br />

reconhecida utilidade nas tomadas de decisão por parte<br />

da defesa civil, redes de distribuição de energia elétrica<br />

e possibilidades de estudos sobre suas características<br />

em diferentes regiões. Os Sistemas Convectivos de<br />

Mesoescala (SCM) são responsáveis pela maior parte da<br />

precipitação nos trópicos e em várias regiões de latitudes<br />

médias durante a estação quente (Maddox, 1980; Mathon<br />

e Laurent, 2001; Machado et al., 2004). O ForTraCC é<br />

um método que faz o acompanhamento das trajetórias<br />

e ciclo de vida dos SCM, utilizando imagens no canal<br />

infravermelho termal de satélite geoestacionário, com<br />

base nas similaridades das características morfológicas<br />

e da área de superposição entre os SCM em imagens<br />

67


Boletim SBMET novembro/05<br />

sucessivas (Machado et al., 1998).<br />

Um aspecto da precipitação intensa é a quantidade<br />

de relâmpagos, muitas vezes associada à sua ocorrência.<br />

Descargas atmosféricas são descargas elétricas de grande<br />

extensão (na ordem de quilômetros) e intensidade que<br />

ocorrem devido ao acúmulo de cargas elétricas, em geral<br />

em regiões localizadas dentro de tempestades (Pinto<br />

Jr, 2005). A Rede Integrada Nacional de Detecção de<br />

Descargas Elétricas (RINDAT) é uma rede de sensores<br />

e centrais que permitem a detecção, em tempo real, da<br />

maior parte de descargas que atingem o solo brasileiro<br />

(maiores informações no sítio http://www.rindat.com.<br />

br). Através desta rede são obtidos os dados de descargas<br />

elétricas nuvem-solo em tempo real.<br />

Com o objetivo de complementar o acompanhamento<br />

das tempestades atmosféricas através do ForTraCC,<br />

a Divisão de Satélites Ambientais (DSA) do Centro<br />

de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/<br />

INPE), em parceria com o grupo de Eletricidade<br />

Atmosférica do INPE (ELAT) da Divisão de Geofísica<br />

Espacial (DGE/INPE) e a RINDAT, recentemente<br />

desenvolveu um novo produto em caráter operacional:<br />

o monitoramento de descargas elétricas atmosféricas<br />

acumuladas por pixel e a associação destas descargas<br />

com a ocorrência de SCM.<br />

Este trabalho tem como objetivo apresentar o novo<br />

sistema de monitoramento, que permite acompanhar<br />

em tempo real a evolução da quantidade de descargas<br />

elétricas associadas à ocorrência de SCM. Os dados<br />

operacionais estão sendo disponibilizados para usuários<br />

no sítio http://satelite.cptec.inpe.br/htmldocs/raio/<br />

desc_elet_nova.htm.<br />

2. DADOS E METODOLOGIA<br />

O monitoramento de descargas elétricas em SCM<br />

envolve a utilização de arquivos de dados de relâmpagos<br />

terra-solo fornecidos pela rede RINDAT, a cada 15<br />

minutos, e também de imagens GOES, recebidas a<br />

cada meia hora pela DSA/CPTEC e processadas pelo<br />

ForTraCC.<br />

As informações de quantidade total de relâmpagos,<br />

ocorridos a cada meia hora (15 minutos antes a 15<br />

minutos depois do horário da varredura do satélite GOES<br />

em 20ºS), são distribuídas sobre a grade da imagem do<br />

canal infravermelho (4 x 4 km 2 ) gerando uma matriz M 1<br />

.<br />

Desta forma o conteúdo da matriz M 1<br />

corresponde ao<br />

número de raios encontrados em cada pixel da imagem<br />

GOES (canal infravermelho), no período de meia hora.<br />

Esta informação é disponibilizada para usuários a cada<br />

meia hora, após a matriz M1 ser interpolada para uma<br />

grade de 10 x 10 km 2 (referência em 20ºS).<br />

Para o acompanhamento da evolução do número<br />

de descargas elétricas em SCM, fez-se uma integração<br />

das informações provenientes das matrizes M 1<br />

com<br />

as detecções de sistemas convectivos ocorridas nos<br />

mesmos horários. As informações de detecção de<br />

SCM são disponibilizadas a cada meia hora pela DSA,<br />

adotando a metodologia empregada no ForTraCC.<br />

<strong>No</strong> ForTraCC, o processo de detecção de sistemas<br />

é aplicado para dois limiares de temperatura de brilho,<br />

sendo 235 K para SCM e 215 K para células convectivas.<br />

O método de identificação de um mesmo SC no tempo<br />

“t” e nas imagens sucessivas em “t+∆t”, é baseado no<br />

critério de mínima superposição da área dos SCM em<br />

imagens sucessivas. A área de superposição deve ter um<br />

valor mínimo n = 150 pixels (aproximadamente 2.400<br />

km 2 ), para considerar a continuidade do SCM em um<br />

∆t= 30 minutos. Se a área de superposição é menor que<br />

n, o sistema não é considerado como sendo o mesmo<br />

sistema no tempo anterior (Machado et al., 1998).<br />

O ForTraCC adota a variação da área do sistema<br />

em relação ao tempo como parâmetro P, indicativo do<br />

crescimento (ou decrescimento) relativo do sistema com<br />

respeito a sua área média, em um intervalo de tempo δt<br />

(tipicamente meia hora) (Machado et al., 2004; Macedo<br />

et al., 2004) Se P > 0 o sistema está em processo de<br />

expansão e se P < 0 seu estado é de dissipação.<br />

A cada meia hora, o ForTraCC disponibiliza um<br />

conjunto de informações a respeito dos SCM detectados<br />

na imagem GOES do horário correspondente,<br />

acompanhado do histórico destas informações durante a<br />

evolução do ciclo do sistema e também uma matriz M 2<br />

,<br />

cujos pixels são identificados com o número do SCM<br />

a que pertencem ou como não pertencente a nenhum<br />

68


Boletim SBMET novembro/05<br />

sistema. Para identificar, dentro da área ocupada<br />

por cada SCM, a quantidade de descargas elétricas<br />

atmosféricas é feita uma superposição entre as matrizes<br />

M 1<br />

e M 2<br />

, atribuindo a cada sistema convectivo a soma<br />

das descargas elétricas ocorridas dentro de sua área.<br />

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />

Neste item são apresentados alguns exemplos de<br />

resultados que são obtidos com o método descrito<br />

no item anterior, como exemplos da contribuição<br />

da meteorologia por satélites no monitoramento de<br />

tempestades.<br />

A Figura 1 ilustra, como exemplo, uma imagem de<br />

satélite GOES no canal infravermelho em cujos pixels<br />

foram detectadas descargas elétricas no período de meia<br />

hora. A tecnologia empregada nos sensores permite a<br />

detecção de descargas atmosféricas com até 90% de<br />

eficiência, dependendo da distribuição dos sensores. As<br />

curvas de eficiência de detecção são representadas pelas<br />

linhas na figura.<br />

Uma vez que as regiões onde atuam os SCM são<br />

afetadas por precipitação intensa e que existe uma<br />

relação entre a ocorrência de descargas atmosféricas<br />

e a existência de tempestades, tornou-se conveniente<br />

uma interação dos dados de quantidades de descargas<br />

atmosféricas exemplificados na Figura 1 com a presença<br />

de sistemas convectivos, a fim de se estudar a evolução<br />

das descargas elétricas nestes sistemas. As Figuras 2 e<br />

3 apresentam exemplos de como estas informações são<br />

disponibilizadas para os usuários, através do estudo<br />

de um SCM ocorrido em 28 de setembro de 2005, as<br />

22:30 UTC. Na Figura 2, o sistema analisado encontrase<br />

destacado através de círculos. Na Figura 2a observase<br />

os SCM detectados pelo ForTraCC. Na página de<br />

apresentação do produto, diferentes cores indicam as<br />

fases do ciclo de vida em que cada sistema se encontra:<br />

intensificação (vermelho), estabilidade (amarelo) ou<br />

desintensificação (verde) e os tempos de vida previstos<br />

para os SCM são indicados pelas cores das setas, que<br />

apontam para a direção prevista para suas trajetórias. O<br />

período de duração dos SCM divide-se em até 2 horas,<br />

entre 2 horas e 6 horas e, de no mínimo 6 horas. O sistema<br />

escolhido para este estudo encontra-se destacado pelo<br />

círculo. A cor vermelha indica que o sistema está em<br />

fase de intensificação no horário da imagem. A Figura<br />

2b apresenta as quantidades de descargas atmosféricas<br />

associadas aos SCM, distribuídas em intervalos.<br />

Nesta figura, sobre a região do SCM analisado, foram<br />

detectadas entre 50 e 100 descargas elétricas durante um<br />

período de meia hora.<br />

A Figura 3 ilustra a evolução SCM analisado,<br />

segundo as características de temperatura mínima,<br />

expansão e quantidade de relâmpagos. É importante<br />

salientar que os conceitos de temperatura mínima e<br />

expansão adotados pelo ForTraCC, durante este estudo,<br />

correspondem, respectivamente, à média dos cinco pixels<br />

de menor temperatura de brilho encontrados no sistema<br />

e à variação do tamanho da área em relação ao tempo.<br />

Portanto, a temperatura mínima do sistema encontrandose<br />

abaixo do limiar de 215K, representa a temperatura<br />

média dos topos mais frios (células convectivas) do SCM.<br />

A queda na temperatura dos topos mais frios, observada<br />

na Figura 3a, associada ao aumento da expansão da área<br />

do sistema no mesmo período (Figura 3b), representa<br />

intensificação da atividade convectiva (Machado et al.,<br />

2004). A Figura 3c ilustra um aumento no número de<br />

descargas elétricas associadas ao sistema durante sua<br />

intensificação e queda deste número quando o sistema<br />

começa a desintensificar. Observando-se as três curvas<br />

da Figura 3 como um todo, nota-se que a curva de<br />

valores de temperatura mínima, segue o comportamento<br />

da curva de quantidades de relâmpagos. Neste caso, o<br />

pico da curva de expansão da área antecede o pico de<br />

evolução da ocorrência de relâmpagos.<br />

Casos como este, em que o comportamento da<br />

expansão do SCM parece predizer a evolução da<br />

ocorrência de descargas atmosféricas, vêm sendo<br />

observados com relativa freqüência, o que tem motivado<br />

estudos sobre a previsão de descargas atmosféricas,<br />

como uma ferramenta para o nowcasting.<br />

69


Boletim SBMET novembro/05<br />

Figura 1: – Número de raios detectados em uma área de 10 x 10 km 2 . As áreas delineadas em preto<br />

correspondem a área de efi ciência de detecção (20, 60 e 90%) fornecida pelo fabricante dos detectores.<br />

(a)<br />

Figura 2: – Sistemas convectivos detectados pelo ForTraCC: a) fase do ciclo de vida, direção e previsão de duração;<br />

b) número de descargas atmosféricas por sistema convectivo<br />

(b)<br />

70


Boletim SBMET novembro/05<br />

(a)<br />

(b)<br />

(c)<br />

Figura 3: – Evolução histórica das características do SCM: a) temperatura mínima; b) expansão; c) descargas elétricas no SCM.<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Neste trabalho foi apresentada uma contribuição<br />

da Meteorologia por Satélites no monitoramento<br />

de tempestades: o acompanhamento da evolução<br />

de descargas elétricas atmosféricas em SCM. O<br />

método intera dois tipos de informações, tal como o<br />

acompanhamento de SCM em imagens de satélite GOES<br />

através do ForTraCC e a detecção de descargas elétricas<br />

na atmosfera, através de sensores da rede RINDAT.<br />

Os dados de quantidade de relâmpagos são<br />

interpolados para a grade das imagens GOES (4 x 4<br />

km 2 ) e superpostos com dados de detecção de sistemas<br />

convectivos. O resultado é o desenvolvimento de um<br />

novo produto, que é a detecção de descargas elétricas<br />

associadas a sistemas convectivos. Este produto é<br />

destinado a aplicações pela defesa civil, redes de<br />

distribuição e transmissão de energia elétrica e previsão<br />

de tempo entre outras, e está sendo disponibilizado<br />

operacionalmente na DSA/CPTEC a cada meia hora.<br />

Também são disponibilizados os dados de número de<br />

relâmpagos detectados em uma grade de 10 x 10 km 2 ,<br />

distribuídos sobre imagens do canal infravermelho do<br />

GOES.<br />

As análises apresentadas neste trabalho fazem parte<br />

de um estudo que visa um futuro sistema de previsão<br />

de descargas elétricas, a partir de uma única base<br />

de dados que reúne informações sobre evolução das<br />

características de sistemas convectivos e quantidade de<br />

descargas elétricas atmosféricas.<br />

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

MACHADO, L. A. T; LAURENT, H. The<br />

Convective System Area Expansion over Amazonia and<br />

its Relationships with Convective System Life Duration<br />

and High-Level Wind Divergence. Mon. Wea. Rev.,<br />

v.132, n 4, p. 714-725, 2004.<br />

MACHADO, L.A.T; ROSSOW, W. B; GUEDES R.<br />

L; WALKER, A. Life cycle variations of convective<br />

systems over the Americas. Mon. Wea. Rev., v.126, p.<br />

1630-1654, 1998.<br />

MACEDO, S.R; MACHADO, L.A.T; VILA,<br />

D; MORALES, C.A. Monitoramento de sistemas<br />

convectivos de mesoescala atuantes no Brasil utilizando<br />

o FORTRACC (Forecast and Tracking of Active and<br />

Convective Cells). In: XIII Congresso Brasileiro de<br />

Meteorologia, Fortaleza-CE. Anais. 2004. (CD-ROM)<br />

MADDOX, R.A. Mesoscale convective complexes.<br />

Bull. Amer. Meteor. Soc., v.61, p.1374-1387, 1980.<br />

MATHON, V.; LAURENT, H. Life cycle of the<br />

Sahelian Mesoscale Convective Cloud Systems. Quart.<br />

J. Roy. Meteo. Soc., v. 127, p.377-406, 2001.<br />

PINTO JR, O. A arte da guerra contra os raios.<br />

Editora Oficina do Texto, 2005.<br />

PINTO JR., O; SABA, M.M.F; PINTO, I.R.C.A;<br />

TAVARES, F.S.S; SOLORZANO, N.N; NACCARATO,<br />

K.P; TAYLOR, M; PAUTET, P.D; HOLZWORTH,<br />

R.H. Thunderstorm and lightning characteristics<br />

associated with sprites in Brazil. Geophys. Rech. Lett.,<br />

31(13):13103-13106, 2004.<br />

71


Boletim SBMET novembro/05<br />

NOTÍCIA<br />

MONITORAMENTO DE QUEIMADAS RECEBE<br />

PRÊMIO INTERNACIONAL NO JAPÃO<br />

O pesquisador Alberto Setzer, do Centro de Previsão<br />

de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto<br />

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão do<br />

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), recebeu, no<br />

início do mês de setembro, em cerimônia realizada no<br />

Castelo de Nagoya, no Japão, o prêmio Global 100 Eco-<br />

Tech Awards. O prêmio foi concedido ao monitoramento<br />

de queimadas e incêndios florestais por satélites, operado<br />

pelo INPE e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O trabalho foi<br />

o único brasileiro contemplado nesta edição do evento e<br />

um dos poucos desde que o prêmio foi instituído.<br />

O Global 100 Eco-Tech Awards foi criado pela<br />

Associação Japonesa para a EXPO-2005 com o intuito<br />

de reconhecer as 100 tecnologias de cunho ambiental<br />

que mais contribuíram na solução de problemas globais<br />

para a criação do futuro sustentável. Para a seleção, um<br />

Comitê escolheu os 100 melhores trabalhos entre 236<br />

indicados, limitando em 23 os prêmios a instituições<br />

não-japonesas. O processo de escolha dos trabalhos<br />

contou com um Comitê Técnico de busca que identificou<br />

e indicou trabalhos de destaque. Não houve, portanto,<br />

inscrições para concorrer ao prêmio.<br />

A Feira Mundial, realizada pela primeira vez<br />

em 1851, é considerada um evento internacional de<br />

primeira magnitude pelos países-sedes do evento e pelos<br />

expositores. Na edição deste ano, realizada entre março<br />

e setembro, circularam cerca de 100 mil visitantes por<br />

dia. Mais detalhes sobre o assunto na página internet<br />

ACONTECE, de notícias do INPE/MCT (http://www.<br />

inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_<strong>No</strong>ticia=425).<br />

Foto: Cerimônia de entrega do Prêmio Global 100 Eco-Tech Awards ao Dr. Alberto Setzer, do INPE.<br />

72


EXPEDIENTE<br />

da SBMET<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

RELATÓRIO DE ATIVIDADES DO<br />

WORKSHOP SOBRE O FENÔMENO CATARINA<br />

Manoel Alonso Gan<br />

Vice-Diretor Científico da SBMET/Coordenador do Evento<br />

manoel@cptec.inpe.br<br />

O Workshop sobre o Fenômeno Catarina, organizado<br />

pela Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET),<br />

com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais<br />

(INPE) e Centro de Previsão de Tempo e Estudos<br />

Climáticos (CPTEC/INPE), foi realizado no Auditório<br />

do Laboratório de Integração e Testes (LIT/INPE) em<br />

São José dos Campos - SP, nos dias 28 e <strong>29</strong> de junho de<br />

2005. O objetivo principal deste evento foi o de reunir<br />

pesquisadores e meteorologistas, do Brasil e do exterior,<br />

para discutir as características dinâmicas e sinóticas do<br />

ciclone Catarina e de outros tipos de ciclones existentes<br />

em outras partes do globo, com a finalidade de definir<br />

o tipo de ciclone que o Catarina pertence. Além de<br />

promover um intercâmbio de experiências na previsão<br />

de ciclones intensos entre os profissionais que atuam<br />

na previsão do tempo e na pesquisa. Fez parte também<br />

dos objetivos discutir as deficiências dos modelos de<br />

Previsão Numérica de Tempo (PNT) nas previsões de<br />

ciclones intensos no Brasil.<br />

O primeiro dia do evento foi marcado por<br />

apresentação de palestras que trataram de analisar as<br />

condições sinóticas associadas ao desenvolvimento<br />

do Catarina, através de análise numérica (Dr. Wallace<br />

Menezes – UFRJ) e de dados de satélites meteorológicos<br />

(Dr. Augusto Pereira –USP/IAG). Foi apresentada<br />

também comparação do Catarina com os ciclones<br />

tropicais (Dr. Jack Beven - pesquisador americano do<br />

Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos com<br />

base na Flórida – Miami), com os ciclones híbridos que<br />

se formam na costa leste da Austrália (Dr. Greg Holland<br />

- Diretor da Divisão de Meso e Microescala do Centro<br />

Nacional de Pesquisas Atmosféricas, também ex-<br />

Diretor Geral do Serviço Meteorológico Australiano),<br />

com baixas polares e ciclones do Mediterrâneo (Dr.<br />

Manoel Gan – INPE/CPTEC). Outras palestras trataram<br />

das incertezas na previsão numérica do Catarina<br />

(Dr. Pedro Dias – USP/IAG e Dr. José Paulo Bonatti<br />

– INPE/CPTEC), o efeito das mudanças climáticas<br />

na freqüência de ocorrência de fenômenos extremos<br />

(Dr. José Marengo - INPE/CPTEC), a importância do<br />

fenômeno Catarina para a Meteorologia e a Sociedade<br />

(Dra. Maria Assunção F. Silva Dias – INPE/CPTEC) e<br />

a experiência de estar no olho do ciclone Catarina (Dr.<br />

Reinaldo Hass - UFSC).<br />

Após o ciclo de palestras, houve uma reunião do<br />

grupo de trabalho que contou com a participação<br />

dos palestrantes, pesquisadores, meteorologistas e<br />

estudantes, quando se debateu se o Catarina poderia<br />

se classificado como um furacão independente de<br />

sua origem, ou se seria inicialmente poderia ser um<br />

ciclone subtropical, que durante o seu desenvolvimento<br />

adquiriu características de um furacão. Apesar de não<br />

ter havido um consenso nessas duas linhas de idéias,<br />

nem por parte dos pesquisadores estrangeiros, chegouse<br />

a uma definição para divulgar para a imprensa e ao<br />

público de que o Catarina se formou como um ciclone<br />

sobre o Oceano Atlântico e, ao se deslocar em direção<br />

ao continente, adquiriu características de furacão. <strong>No</strong><br />

futuro, outros ciclones que adquirirem intensidades da<br />

ordem do Catarina, serão chamados de furacão em seu<br />

estágio de máxima intensidade.<br />

<strong>No</strong> segundo dia houve duas mesas redondas para se<br />

discutir os sistemas de previsão de ciclones intensos no<br />

exterior (Jack Beven e Greg Holland) e a experiência<br />

brasileira na previsão do tempo do evento Catarina<br />

(Giovanni Dolif - INPE/CPTEC, Hugo José Braga<br />

–EPAGRI/CIRAM, César Duquia - SIMEPAR, Alberto<br />

Pedrassani Costa Neves – SMM, Márcio Custódio<br />

- SOMAR e Expedito Rebello - INMET). Na reunião<br />

73


Boletim SBMET novembro/05<br />

do grupo de trabalho referente a essas duas mesas<br />

redondas, foram propostas várias considerações, sendo<br />

as seguintes as principais:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Criar um Centro de Alerta de tempestades<br />

severas;<br />

Investir em capacitação em tempo severo,<br />

formando meteorologistas preparados<br />

tecnicamente e também para lidar com a mídia.<br />

Nesse sentido, poderia ser criado um “South<br />

American Desk” no Brasil para treinamento de<br />

meteorologistas brasileiros;<br />

Incentivar intercâmbio com instituições nacionais<br />

e internacionais através de cooperações e<br />

colaborações;<br />

Melhorar o sistema de Observações tanto no oceano<br />

(aumentar o número de bóias) como o terrestre<br />

(instalar mais radares meteorológicos e melhorar<br />

a rede de superfície e de radiossondagem);<br />

Investir em sistema de disseminação dos dados,<br />

em laboratórios para manter a rede de observação<br />

em perfeito funcionamento e em treinamento em<br />

Sensoriamento Remoto;<br />

Atuar junto aos órgãos governamentais para<br />

incentivar a construção e lançamento de satélites<br />

meteorológicos brasileiros;<br />

•<br />

•<br />

A SBMET deve investir em organizar cursos<br />

de treinamento, aproveitando os recursos da<br />

internet.<br />

Solicitar ao representante do Brasil apoio para a<br />

SBMET na OMM, em suas iniciativas.<br />

A SBMET fica incumbida de levar essas atribuições<br />

ao governo e instituições brasileiras que atuam na área<br />

de Meteorologia.<br />

Várias matérias sobre esse evento foram veiculas<br />

na mídia impressa, podendo-se citar: Bom Dia São<br />

Paulo (em 28/06/05), Bom Dia Vanguarda (28/06/05)-<br />

Globo - Vale do Paraíba, TV Vanguarda 1ª e 2ª edições<br />

(28/06/05), TV Globo - Jornal Nacional (<strong>29</strong>/06/05),<br />

TV Vanguarda - 1ª e 2ª edições (<strong>29</strong>/06/05), TV Band<br />

(28/06/05) - Nacional e regional (Vale do Paraíba),<br />

TV Band – regional (<strong>29</strong>/06/05), TV Canção <strong>No</strong>va<br />

(28/06/05), TV Canção <strong>No</strong>va (<strong>29</strong>/06/05), Rádio Band<br />

(28/06/05), Band News FM (30/06/05), Tribuna de<br />

Santos (28/06/05), vários entrevistados para matérias<br />

foram publicadas, tais como no Caderno de Ciência,<br />

O ECO (site de ONG ambiental), <strong>No</strong>tícias do MCT/<br />

BR, Portal Biotecnologia/DF, Zero Hora/RS, Jornal<br />

Nacional Online, Correio do Litoral/SP, A <strong>No</strong>tícia/SC,<br />

Diário Catarinense/SC, Jornal da Ciência/BR, Jornal<br />

da Manhã, Criciúma/SC, O Estado do Paraná/PR, entre<br />

outros.<br />

PARTICIPAÇÃO DA SBMET NA 57ª Reunião Anual da SBPC<br />

Esse evento foi realizado no período de 17 a 22 de<br />

julho de 2005, em Fortaleza, CE, e durante o evento<br />

a SBMET promoveu a realização de um mini-curso<br />

para professores de 10 e 20 graus, uma Conferência<br />

e um Simpósio. O mini-curso METEOROLOGIA<br />

– APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS NO ESTUDO<br />

AMBIENTAL contou com a participação de 25 docentes<br />

atuando na Região <strong>No</strong>rdeste, em especial em Fortaleza.<br />

A SBMET participou ministrando quatro aulas através<br />

das professoras Maria Gertrudes A. Justi da Silva (UFRJ)<br />

e Meiry Sayuri Sakamoto (FUNCEME).<br />

A Presidente da Sociedade Brasileira de<br />

Meteorologia, Dra. Maria Gertrudes A. Justi da Silva,<br />

Professora da UFRJ, ministrou a conferência intitulada<br />

“PREVISÕES METEOROLÓGICAS NO BRASIL:<br />

COMO SE FAZ? POR QUE MELHORARAM<br />

TANTO?”.<br />

Sob a Coordenação da Presidente da SBMET, o<br />

tema debatido durante o Simpósio foi “POR QUE<br />

LANÇAR SATÉLITES PARA OBSERVAÇÕES<br />

METEOROLÓGICAS?”, e contou com as<br />

apresentações do Dr. Marcelo de Paula Correa do DAS/<br />

CPTEC/INPE e do Dr. Nelson Arai, do IAE/CTA. Esteve<br />

presente participando das discussões o Coordenador<br />

do Projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro, Dr.<br />

Osvaldo Catsumi.<br />

74


EXPEDIENTE<br />

da SBMET<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

PARTICIPAÇÃO DA SBMET NA REUNIÃO DO FÓRUM BRASILEIRO DE<br />

MUDANÇAS CLIMÁTICAS “Diálogo Sobre Mudanças Climáticas”<br />

O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas<br />

(FBMC) em atividade conjunta com o Ministério do<br />

Meio Ambiente (MMA) e o Ministério de Ciência e<br />

Tecnologia (MCT) realizou Reunião Ordinária nos dia 09<br />

e 10 de novembro de 2005 e que contou com a presença<br />

do Ministra de Estado do Meio Ambiente Marina Silva,<br />

Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia Sergio<br />

Resende, representante do Ministro de Estado de Minas<br />

e Energia Silas Rondeau. A SBMET foi convidada a<br />

participar deste evento, sendo representada por sua<br />

Presidente, Maria Gertrudes A. Justi da Silva.<br />

ANDAMENTO DOS PREPARATIVOS PARA O<br />

XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA (XIV CBMET)<br />

Em Reunião Ordinária da Diretoria Executiva da<br />

SBMET, datada de 22 de setembro do ano corrente,<br />

foi definido que o XIV CBMET será realizado no<br />

período de 27 de novembro e 1 de dezembro de 2006,<br />

no Centro de Convenções da Universidade Federal<br />

de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis, SC. O<br />

tema será A Meteorologia a Serviço da Sociedade.<br />

Foi aprovado como estrutura para o XIV CBMET a<br />

Presidência do Congresso, e abaixo desta, os Comitês<br />

Organizador, Científico, de Infra-estrutura, de Finanças<br />

e de Divulgação. A Presidente do Congresso e do Comitê<br />

Organizador será a Presidente da SBMET.<br />

Haverá seis sessões temáticas de aplicações,<br />

distribuídas da seguinte forma: 1) Agricultura, 2) Energia,<br />

3) Transporte, Defesa Civil e Militar e comunicações,<br />

4) Indústria, comércio, pesca e economia, 5) Saúde e<br />

ambiente, 6) Esporte, turismo, lazer e cultura. As Áreas<br />

Temáticas para submissão de trabalhos são: Climatologia<br />

Geral, Variabilidade do Clima, Hidrometeorologia,<br />

Poluição, Interação Oceano-Atmosfera e Química<br />

da Atmosfera, Processos de Troca entre solo-plantaatmosfera,<br />

Sensoriamento da Atmosfera, Sistemas<br />

Meteorológicos e Previsão de Tempo.<br />

Os trabalhos científicos, em sua forma completa,<br />

começarão a ser recebidos a partir de março de 2006;<br />

a data limite para o envio dos trabalhos é 30 de junho<br />

de 2006 e as respostas de aceitação serão encaminhadas<br />

aos autores até 31 de agosto de 2006.<br />

A SBMET, em parceria com a CLIMATEMPO, e sob<br />

a Coordenação da Vice-Diretora Profissional, Sra. Ana<br />

Lúcia Frony de Macedo, lançou um Concurso de Marcas<br />

para definir o layout do XIV CBMET. As inscrições<br />

tiveram início as 00 horas do dia 01 de novembro<br />

de 2005 e se estenderão até o dia 10 de dezembro de<br />

2005. O vencedor será anunciado entre os dias 05 e<br />

10 de janeiro de 2006, pelos sites www.<strong>sbmet</strong>.org.br e<br />

www.climatempo.com.br. As regras para inscrição no<br />

concurso supramencionado foram divulgadas via mala<br />

direta da SBMET, no Portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.<br />

org.br) e no site da CLIMATEMPO (www.climatempo.<br />

com.br). O vencedor receberá uma câmera fotográfica<br />

digital e, em hipótese alguma, haverá a conversão em<br />

dinheiro dos prêmios ou substituição dos equipamentos<br />

concedidos.<br />

75


EXPEDIENTE<br />

da SBMET<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

Simpósio Internacional de Climatologia (SIC):<br />

a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas<br />

Grade da Programação Científi ca<br />

Horário<br />

23 de outubro de 2005 – Domingo<br />

10:00-16:00 Entrega de material – Secretaria do evento<br />

18:00 SOLENIDADE DE ABERTURA – SALÃO IRACEMA<br />

20:30 Abertura da Feira Técnica no Hall do Marina Park Hotel e Coquetel de Abertura no Bosque<br />

Horário<br />

24 de outubro de 2005 – Segunda-feira<br />

Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />

08:00-10:00<br />

MINI-CURSO 1<br />

MINI-CURSO 2<br />

Fixação de<br />

Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />

PARA REUNiÕES<br />

Painéis da<br />

Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliação de<br />

ESPECÍFICAS<br />

Sessão Poster<br />

Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos.<br />

MESA REDONDA 1 MESA REDONDA 1<br />

10:00-12:00<br />

Sub-Tema 3: QURSA Sub-Tema 5: ASEGRSA<br />

PARA REUNiÕES<br />

A Ilha de Calor Urbana e Políticas Públicas para Gestão Sessão Poster<br />

ESPECÍFICAS<br />

Aspectos Ligados à Hidrologia da Água no Semi-Árido<br />

e Urbanismo<br />

12:00-14:00 Almoço Livre<br />

MESA REDONDA 1<br />

Sub-Tema 1: ACMRH<br />

MESA REDONDA 2<br />

Sub-Tema 5: ASEGRSA<br />

14:00-16:00<br />

Análise do Ciclo Hidrológico Saúde Pública e Epidemiologia<br />

Reunião do Projeto<br />

Sessão Poster<br />

em Regiões Semi-Áridas em Regiões Semi-Áridas<br />

EXIMIA – Ne<br />

e o Uso de Sensoriamento<br />

Remoto<br />

16:00-16:30 Coffee Break<br />

16:30-18:00 - - Sessão Poster<br />

Continuação da<br />

Reunião doProjeto<br />

EXIMIA - Ne<br />

18:00-20:00<br />

PLENÁRIA<br />

Sub-Tema 1 – ACMRH<br />

Revitalização e Transposição de Bacias nas Regiões Semi-<br />

- -<br />

Áridas<br />

Jantar Livre – Sugestão: Bar PIRATA<br />

76


Boletim SBMET novembro/05<br />

Horário<br />

25 de outubro de 2005 – Terça-feira<br />

Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />

MINI-CURSO 1<br />

MINI-CURSO 2<br />

08:00-10:00<br />

Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />

PARA REUNIÕES<br />

Sessão Poster<br />

Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliação de<br />

ESPECÍFICAS<br />

Fundamental e Médio Extremos Hidro - Climáticos<br />

MESA REDONDA 2<br />

Sub-Tema 1: ACMRH<br />

MESA REDONDA 3<br />

Sub-Tema 5:ASEGRSA<br />

10:00-12:00<br />

Recursos Hídricos e A Comunicação entre Quem<br />

PARA REUNIÕES<br />

Disponibilização de Energia Produz a Informação de Sessão Poster<br />

ESPECÍFICAS<br />

(convencional e não Tempo e Clima e o Usuário<br />

convencional) para Regiões<br />

Final<br />

Semi-Áridas<br />

12:00-14:00 Almoço Livre<br />

MESA REDONDA 3Sub-Tema MESA REDONDA 2Sub-Tema<br />

14:00-16:00<br />

1: ACMRHInteração Oceano- 3: QURSAA Defesa Civil em<br />

PARA REUNIÕES<br />

Sessão Poster<br />

Atmosfera e suas Aplicações Áreas Urbanas e Não-Urbanas<br />

ESPECÍFICAS<br />

para Regiões Semi-Áridas em Regiões Semi-Áridas<br />

16:00-16:30 Coffee Break<br />

16:30-18:00 - - Sessão Poster -<br />

18:00-20:00<br />

PLENÁRIA<br />

Sub-Tema 5 – ASEGRSA<br />

A Seca sob o Ponto de Vista dos Seus Diversos Atores<br />

- -<br />

-<br />

Jantar Livre<br />

Horário<br />

26 de outubro de 2005 – Quarta-feira<br />

Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />

MINI-CURSO 1<br />

MINI-CURSO 2<br />

08:00-10:00<br />

Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />

PARA REUNIÕES<br />

Sessão Poster<br />

Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliaçãode<br />

ESPECÍFICAS<br />

Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos<br />

10:00-12:00<br />

Conferência: THOPEX 2º Workshop doProjeto<br />

PARA REUNIÕES<br />

Sessão Poster<br />

(Dr. Mitchell W. Moncrieff)<br />

CAMISA<br />

ESPECÍFICAS<br />

12:00-14:00 Almoço Livre<br />

MESA REDONDA 1<br />

Sub-Tema 4: EOCPCRSA<br />

MESA REDONDA 1<br />

Sub-Tema 2: DAD<br />

14:00-16:00<br />

Variabilidade Espacial e Métodos de Diagnóstico<br />

PARA REUNIÕES<br />

Temporal da Chuva nas e Caracterização de Áreas Sessão Poster<br />

ESPECÍFICAS<br />

Regiões Semi-Áridas: da Degradadas Susceptíveisaos<br />

Escala Sinótica à Variabilidade Processos de Desertifi cação<br />

Interdecadal<br />

16:00-16:30 Coffee Break<br />

77


Boletim SBMET novembro/05<br />

Salão Iracema<br />

16:30-18:00<br />

Conferência: Agressões<br />

Ambientais Cometidas por<br />

Agrotóxicos<br />

(DR. J. JULIO DA PONTE)<br />

-<br />

Encerramento<br />

da Sessão<br />

Poster<br />

-<br />

18:00-20:00<br />

Salão Iracema - -<br />

PLENÁRIA 1<br />

Sub-Tema 4 – EOCPCRSA<br />

Desempenho de Modelos Matemáticos (Dinâmicos<br />

- -<br />

Estocásticos) para a Previsão Climática em Regiões Semi-<br />

Áridas<br />

Jantar Livre<br />

Horário<br />

27 de outubro de 2005 – Quinta-feira<br />

Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />

MINI-CURSO 1<br />

MINI-CURSO 2<br />

08:00-10:00<br />

Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />

Professores do Ensimo “QUANTIS” para Avaliação de<br />

- -<br />

Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos<br />

2º Workshop doProjeto<br />

CAMISA<br />

MESA REDONDA 2<br />

Sub-Tema 2: DAD<br />

10:00-12:00<br />

Dinâmica Ambiental e<br />

Medidas de Recuperação de<br />

- -<br />

Áreas Degradadas no Semi-<br />

Árido<br />

12:00-14:00 Almoço Livre<br />

14:00-16:00<br />

MESA REDONDA 2<br />

Sub-Tema 4: EOCPCRSA<br />

Modelagem Estocástica<br />

e Técnicas Estatísticas<br />

MESA REDONDA 3<br />

Sub-Tema 2: DAD<br />

Estratégias de Manejo na<br />

Utilização das Terras do<br />

- -<br />

Multivariadas de Ponta<br />

na Previsão e Análise de<br />

Mudanças Climáticas<br />

Semi-Árido<br />

16:00-16:30 Coffee Break<br />

Salão Iracema<br />

16:30-18:30<br />

PLENÁRIA 2<br />

Sub-Tema 4 – EOCPCRSA<br />

- -<br />

Mudanças Climáticas nas Regiões Semi-Áridas<br />

19:00<br />

SOLENIDADE DE ENCERRAMENTO DO SIC/SBMET- 2005,<br />

com entrega de PRÊMIOS<br />

- -<br />

78


EXPEDIENTE<br />

da SBMET<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

AVISOS GERAIS DA SBMET<br />

INFORMES DA SBMET<br />

A divulgação de notícias através de mala direta<br />

é um serviço da SBMET que visa manter nossos<br />

associados sempre bem informados e com tempo hábil<br />

para estes participarem dos eventos aqui informados.<br />

Recentemente introduzimos nos INFORMES,<br />

informações sobre os artigos de autores brasileiros<br />

publicados internacionalmente. Isso trará uma maior<br />

disseminação dessas informações, muitas vezes pouco<br />

divulgadas internamente no país.<br />

Assim, por favor nos encaminhem informações<br />

sobre eventos, notícias, oportunidades de emprego ou<br />

bolsa de estudo/pesquisa, artigos publicado em revistas<br />

internacionais, etc, para que possamos manter esse<br />

serviço. Encaminhar para <strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br.<br />

Até outubro de 2005 foram enviados 83 INFORMES<br />

(Tabela 1).<br />

PORTAL DA SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.org.br )<br />

O Portal da SBMET disponibiliza espaço para<br />

divulgação de produtos, eventos e empresas que tenham<br />

interesse em levar sua mensagem a nossa comunidade.<br />

As opções de espaço para colocação de anúncios são<br />

FULL BANNER e BANNER FLUTUANTE. Para<br />

informações adicionais, favor entrar em contato com<br />

Anne Moraes (anne_moraes@click21.com.br ou<br />

<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br).<br />

ANUIDADES<br />

Quem não pagou a anuidade de 2005 via boleto<br />

bancário ou por depósito bancário e quiser regularizar<br />

sua situação junto à SBMET, pode entrar em contato<br />

com a Secretaria da SBMET pelo e-mail <strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.<br />

org.br. Mesmo procedimento para quitar anuidades<br />

atrasados.<br />

Tabela 1 - Freqüência Mensal da distribuição dos Informes da<br />

SBMET.<br />

MESES<br />

INFORMES ENVIADOS<br />

Janeiro 2<br />

Fevereiro 5<br />

Março 20<br />

Abril 14<br />

Maio 14<br />

Junho 10<br />

Julho 5<br />

Agosto 5<br />

Setembro 7<br />

Outubro 1<br />

TOTAL 83<br />

CADASTRO<br />

Para que as correspondências e publicações da<br />

SBMET cheguem ao seu destino, pedimos a atenção de<br />

todos para atualizar seu endereço/dados. Isso pode ser<br />

feito diretamente no portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.<br />

org.br) ou, se preferir, por e-mail (<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.<br />

br), ou por correio (A/c Marley C. L. Moscati, Instituto<br />

Nacional de Pesquisas Espaciais, Dept de Meteorologia,<br />

DMA/CPTEC (SBMET), sala 26, São José dos Campos,<br />

SP, 12.201-970).<br />

INFORMAÇÕES ADICIONAIS<br />

Para dúvidas, acesse o site www.<strong>sbmet</strong>.org.br e<br />

mande sua solicitação para o setor do seu interesse<br />

(Geral, Presidência, Diretoria Executiva, Diretoria<br />

Científico, Diretor profissional, Diretora Administrativa,<br />

Presidente do Conselho Deliberativo, Conselho<br />

Deliberativo, Conselho Fiscal).<br />

79


Boletim SBMET novembro/05<br />

NORMAS e<br />

LEGISLAÇÃO<br />

EM DISCUSSÃO A NOVA RESOLUÇÃO QUE TRATA<br />

DAS ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DA ENGENHARIA,<br />

ARQUITETURA, AGRONOMIA, GEOLOGIA, GEOGRAFIA<br />

E METEOROLOGIA<br />

Alfredo Silveira da Silva<br />

Diretor Profissional da SBMET<br />

Conselheiro do CREA-RJ<br />

A Resolução 1.010, aprovada pelo Plenário do<br />

CONFEA em 22 de agosto de 2005 em substituição à<br />

Resolução 218, datada de 1973, objetiva estabelecer<br />

normas estruturadas dentro de uma concepção matricial<br />

para a atribuição de títulos profissionais, atividades e<br />

competências no âmbito da atuação profissional, para<br />

efeito de fiscalização do exercício profissional das<br />

profissões inseridas no Sistema CONFEA/CREA. Mas<br />

o que seria isto?<br />

A Resolução 218, de 1973, discriminava as<br />

atividades das diferentes modalidades profissionais da<br />

Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia, bem como<br />

as competências dos profissionais de acordo com a<br />

sua área de formação, e disciplinava no Art. 25 que as<br />

competências decorrem da graduação do profissional e<br />

ensejam a extensão das atribuições desde que sejam na<br />

mesma modalidade, tudo em consonância as disposições<br />

da Lei 5.194, de 24 de dezembro de 1966.<br />

A Resolução 1.010, datada de 2005, adota o princípio<br />

da flexibilização que caracteriza as atuais diretrizes<br />

curriculares nacionais, no sentido de conceder título,<br />

atribuição e competência profissional. Teremos, então,<br />

a concessão das atribuições em função da competência<br />

adquirida, por meio de um currículo integralizado<br />

em consonância com o projeto pedagógico do curso<br />

que permitirá a definição do perfil profissional do<br />

diplomado a ser indicado pela Instituição de Ensino<br />

ao Sistema CONFEA/CREAs, conforme disposto no<br />

Artigo 10 da Lei 5194, de 24 de dezembro de 1966,<br />

bem como a extensão das atribuições inicialmente<br />

concedidas por meio de cursos de pós-graduação lato<br />

sensu (aperfeiçoamento e especialização) e stritu sensu<br />

(mestrado e doutorado).<br />

O novo normativo permite a extensão das<br />

atribuições iniciais dentro de cada categoria profissional<br />

(Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Geografia,<br />

Geologia e Meteorologia). A flexibilização apresentada<br />

no normativo permite que dentro da categoria Engenharia<br />

a extensão das atribuições iniciais concedidas possa ser<br />

estendidas no âmbito das suas várias modalidades.<br />

CAMPO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL DA<br />

METEOROLOGIA<br />

1. Tarefas Científicas e Operacionais<br />

Análise e Interpretação de Observações,<br />

Codificação, Disseminação e Divulgação Técnica da<br />

Informação Meteorológica nos Meios de Comunicação<br />

Social, Técnica e Científica obtida através de Estações<br />

Meteorológicas Convencionais e Automáticas.<br />

2. Métodos, Técnicas e Instrumental<br />

Métodos de Observação e de Análise da Física,<br />

da Química, da Dinâmica e da Eletricidade da<br />

80


NORMAS e<br />

LEGISLAÇÃO<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

Atmosfera. Sistemas e Métodos Computacionais de<br />

Recepção, Armazenamento, Processamento, Avaliação,<br />

Modelagem, Transmissão e Disseminação de Informações<br />

Meteorológicas. Análise, Processamento e Interpretação<br />

de Imagens de Satélites e Radares Meteorológicos,<br />

Analógicas e Digitais. Análise de Informações sobre<br />

Precipitação, Nuvens, Ventos, Temperatura, Estado da<br />

Superfície e Fluxos Radiativos. Técnicas de Aferição<br />

e Calibração de Instrumentos Meteorológicos.<br />

Radiossondas, Perfiladores, Radiômetros, Bóias, Balões,<br />

Sistemas de Descargas Atmosféricas.<br />

3. Modelagem Atmosférica e Climatologia<br />

Interpretação Crítica de Produtos de Modelos<br />

Numéricos do Tempo. Análise de Séries Temporais e<br />

Previsibilidade Climática. Previsões Meteorológicas<br />

nas diversas Escalas de Tempo. Análise, Diagnóstico<br />

e Prognóstico da Atmosfera e das suas Interrelações<br />

mútuas com a Hidrosfera, a Biosfera, a Litosfera e a<br />

Criosfera. Oceanologia Aplicada. Sistemas e Métodos de<br />

Prognóstico, Diagnóstico, Monitoramento, Mitigação e<br />

Avaliação de Impactos Ambientais. Hidrometeorologia,<br />

Agrometeorologia, Biometeorologia, Meteorologia<br />

Aeronáutica e Marinha, e Microclimatologia.<br />

Desenvolvimento de Modelos Conceituais e Numéricos<br />

dos Sistemas de Tempo, de Latitudes Médias e Tropicais.<br />

Previsão de Impactos da Variabilidade Climática.<br />

Modificação Artificial do Tempo.<br />

4. Micrometeorologia e Meio Ambiente<br />

Interrelação entre Atmosfera e Ambiente.<br />

Meteorologia Ambiental. Efeitos Climáticos nos Recursos<br />

Naturais. Efeito de Processos Micrometeorológicos e do<br />

Ciclo Hidrológico no âmbito das Operações e Processos<br />

da Engenharia e das Ciências Agrárias. Sistemas e<br />

Métodos de Proteção, Manejo, Gestão e Preservação<br />

Ambiental. Características Climatológicas e Diagnóstico<br />

de Dispersão de Poluentes Atmosféricos.<br />

A caracterização do Campo de Atuação Profissional<br />

do Meteorologista abrange e não invalida as atribuições<br />

a ele concedidas pela Lei nº 6.835, de 14 de outubro de<br />

1980.<br />

A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA<br />

ÁREA TECNOLÓGICA<br />

Entendendo que uma parcela importante do futuro<br />

da área tecnológica do País está nas mãos de mulheres,<br />

o CONFEA vem incentivando a participação feminina<br />

em seus debates, eventos e projetos. Tal política de<br />

valorização da atuação da mulher no setor culminou com<br />

a realização, em 2004, do Primeiro Fórum da Mulher<br />

na Área Tecnológica, como atividade integrante da 61ª<br />

Semana Oficial de Engenharia Arquitetura e Agronomia<br />

(SOEAA), realizada em São Luis, MA.<br />

<strong>No</strong> período de 28 a 30 de novembro de 2005<br />

aconteceu a segunda edição do Fórum da Mulher,<br />

realizada durante a 62ª SOEAA, em Vitória, ES. Mais<br />

uma vez, as mulheres se reuniram para mostrar a força<br />

de seu trabalho, reciclar conhecimentos, aprender com<br />

exemplos de sucesso e debater sobre os desafios de<br />

sua atuação na área tecnológica brasileira. O evento<br />

consolidou e repetiu o sucesso da primeira edição. A<br />

participação é crescente e, certamente, em cerca de 10<br />

ou 15 anos, as mulheres dominarão o mercado.<br />

Na fase I da Abertura da 62ª SOEAA houve:<br />

PASSEIO CICLÍSTICO: ocorrido em 27 de novembro,<br />

visando sensibilizar a população e os participantes da<br />

62ª SOEAA para a alternativa de mobilidade urbana<br />

através de bicicletas e, portanto, a necessidade dos<br />

planos diretores traçarem soluções para o transporte<br />

cicloviário. Este evento, totalmente aderente ao tema<br />

da semana Exercício Profissional e Responsabilidade<br />

Social.<br />

Na fase II - Durante a 62ª SOEAA houve:<br />

TALK SHOW: “Venda seu peixe, torne-se a opção<br />

óbvia”. Considerado o evento âncora, apresentou dois<br />

cases, um nacional e outro internacional, no formato<br />

de talk show, garantindo forte participação da platéia<br />

e trazendo um tema forte: Posicionamento assertivo de<br />

quem é competente e responsável.<br />

OFICINA INTERNACIONAL: Durante a 62ª<br />

SOEAA, em Vitória, ES, houve uma oficina, reunindo<br />

mulheres do Brasil e do Exterior, no primeiro encontro<br />

presencial, para a formação da comunidade tecnológica<br />

virtual internacional, com vistas ao Fórum da Mulher,<br />

na WEC 2008.<br />

81


NORMAS e<br />

LEGISLAÇÃO<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

CONVENÇÃO MUNDIAL DE ENGENHEIROS<br />

E DEMAIS PROFISSIONAIS DO SISTEMA<br />

CONFEA/CREA<br />

Depois de passar pela Alemanha e China em 2004,<br />

onde a SBMET esteve presente, a Convenção Mundial<br />

de Engenheiros (WEC2004), da sigla em inglês World<br />

Engineers Convention, ocorrerá pela primeira vez na<br />

América e, em especial, no Brasil, em 2008.<br />

Marcos Túlio de Melo É ELEITO<br />

PRESIDENTE DO CONFEA<br />

Foi eleito como Presidente do CONFEA, para o<br />

mandato de 2006-2008, o Engenheiro Civil de Minas<br />

Gerais Marcos Túlio de Melo.<br />

O tema da Convenção de 2004 foi “Engenheiros<br />

dão Forma ao Futuro Sustentável”, tendo como sessões<br />

paralelas Engenharia de Redes e a Sociedade da<br />

Informação, Engenharia Biológica e Cuidado de Saúde,<br />

Transportes e Mega-Cidades Sustentáveis, Proteção ao<br />

Meio Ambiente e Mitigação de Desastres, Engenharia<br />

Agrícola e a Segurança de Alimentos, Recursos e Energia,<br />

Engenharia de Redes e a Sociedade da Informação bem<br />

como o Fórum dos Jovens Engenheiros e da Mulher.<br />

Como ações desenvolvidas pelo CONFEA com<br />

o intuito de pleitear a realização da Convenção em<br />

2008, o Plenário do CONFEA, por meio da Decisão<br />

PL -0667/2003, aprovou a intenção de juntamente com<br />

a FEBRAE organizar a III Convenção, em 2008, no<br />

Brasil. Esta será a terceira edição e o evento reunirá<br />

milhares de engenheiros de todas as partes do mundo.<br />

Os problemas sociais enfrentados pela humanidade<br />

deverão estar no centro dos debates. O enfoque será o<br />

de que a tecnologia pode ser um instrumento capaz de<br />

viabilizar a diminuição da pobreza, fome, proliferação<br />

de doenças, analfabetismo e conflitos civis, que afetam e<br />

prejudicam o desenvolvimento do mundo. Como causa<br />

destas mazelas, a falta de emprego, energia, alimentos,<br />

saúde e saneamento, abrigo e água, entre outros, serão<br />

amplamente discutidos por milhares de engenheiros e<br />

profissionais de áreas afins.<br />

Como a Engenharia e demais profissões relacionadas<br />

ao desenvolvimento tecnológico podem exercer<br />

um papel preponderante para minimizar o impacto<br />

provocado pela desigualdade? Essa é a questão que os<br />

milhares de participantes da próxima Convenção estão<br />

desafiados a responder e propor soluções e melhorias na<br />

qualidade de vida da população mundial.<br />

Perfi l: Marcos Túlio de Melo<br />

O Eng. Civil Marcos Túlio de Melo, 54 anos, é<br />

graduado pela Faculdade de Engenharia da Universidade<br />

Federal de Minas Gerais e pós-graduado em Engenharia<br />

Econômica pela Fundação Dom Cabral.<br />

Durante dois mandatos seguidos ocupou a Presidência<br />

do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e<br />

Agronomia de Minas Gerais. O primeiro, de 2000 a<br />

2002 e o segundo, de 2003 a 2005.<br />

De 1995 a 1998 participou do Conselho Municipal<br />

de Habitação da Prefeitura de Belo Horizonte. Em 1999<br />

foi membro da Junta de Recursos Fiscais da Prefeitura<br />

de Minas Gerais. De 1998 a 1999 Marcos Túlio foi<br />

primeiro vice-presidente do CREA-MG e Conselheiro<br />

Federal representante das Entidades de Classe de Minas<br />

Gerais, junto ao CONFEA, de 1995 a 1997. Em 1997<br />

também exerceu a vice-presidência e, interinamente, a<br />

presidência da instituição.<br />

82


NORMAS e<br />

LEGISLAÇÃO<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

Conheça as propostas de Marco Túlio:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Incentivar programas, inclusive o de Engenharia,<br />

Arquitetura e Agronomia Públicas, e implementar<br />

ações de fiscalização para ampliar o mercado<br />

profissional, e combater o exercício ilegal das<br />

profissões;<br />

Defender o salário mínimo profissional e a<br />

remuneração justa para serviços e obras;<br />

Elaborar com o Plenário do CONFEA, Colégio<br />

de Presidentes, Colégio de Entidades Nacionais,<br />

Coordenadorias Nacionais de Câmaras<br />

Especializadas e Mútua, planejamento de<br />

sustentabilidade financeira de todo o Sistema<br />

e promover um choque de gestão, capaz de<br />

reestruturar o Sistema, seu gerenciamento técnico<br />

e administrativo e padronizar procedimentos para<br />

a eficiência, a eficácia e a efetividade de suas<br />

ações;<br />

Incentivar e apoiar a criação de mecanismos de<br />

participação de estudantes e jovens profissionais<br />

e mulheres, visando formar novas lideranças<br />

e incorporá-las ao Sistema profissional e às<br />

entidades de classe;<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Apoiar a organização dos profissionais em<br />

entidades e sindicatos e propor o debate sobre<br />

certificação de especialidades, buscando<br />

potencializá-las dentro do novo cenário;<br />

Reivindicar das instituições de ensino e<br />

órgãos educacionais a participação do Sistema<br />

profissional na definição de abertura de novos<br />

cursos, na avaliação da qualidade da graduação<br />

e definir procedimentos para o registro<br />

profissional;<br />

Instituir o orçamento participativo do CONFEA e<br />

ampliar a transparência na sua aplicação;<br />

Propor e apoiar políticas públicas que ampliem<br />

os investimentos em saneamento, habitação,<br />

transportes e gestão de recursos hídricos;<br />

Apoiar o processo de descentralização e<br />

democratização da Mútua, aprovado nos CEP’s;<br />

Consolidar a Comunicação Integrada no Sistema<br />

para democratizar a informação.<br />

83


AGENDA<br />

Boletim SBMET novembro/05<br />

NOVEMBRO 2005<br />

• I Conferência Regional sobre Mudanças Globais:<br />

América do Sul<br />

Período: 6 a 10 de novembro de 2005<br />

Local: Blue Tree Convention Ibirapuera, Moema, São<br />

Paulo<br />

Informações: http://www.acquaviva.com.br/<br />

mudglobais/<br />

• ECMWF/NWP-SAF Workshop on bias estimation<br />

and correction in data assimilation<br />

Período: 8 a 11 de novembro de 2005<br />

Local: Reading, Inglaterra<br />

Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar<br />

• 10th Workshop on Meteorological Operational<br />

System<br />

Período: 14 a 18 de novembro de 2005<br />

Local: Reading, Inglaterra<br />

Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar<br />

• E3rd International Workshop on Complex<br />

Systems/ 2nd International Conference on Water<br />

Dynamics<br />

Período: 16 a 18 de novembro de 2005<br />

Local: Sendai, Japão<br />

Maiores informações: www.ifs.tohoku.ac.jp/<br />

tokuyama-lab/IWCS2005/<br />

DEZEMBRO 2005<br />

• III Congreso Cubano de Meteorología<br />

Período: 5 a 9 de dezembro de 2005<br />

Local: Havana, Cuba<br />

Recebimento de abstract: 31 de agosto de 2005<br />

Informações: (537) 867 0714/ 830 8996/ 867 0721<br />

http://www.met.inf.cu/sometcuba/default.htm ou<br />

e-mail: fl ismet@met.inf.cu<br />

• IV Workshop de Micrometeorologia<br />

Período: 14 a 16 de dezembro de 2005<br />

Local: Campus da Universidade Federal de Santa<br />

Maria<br />

Informações: http://coralx.ufsm.br/meteorologia/<br />

workshop<br />

• I Simpósio sobre Biomas Costeiros e Marinhos<br />

Período: 12 a 16 de dezembro de 2005<br />

Local: em Salvador, BA<br />

Informações: http://www.biomasbrasileiros.com.br<br />

ou E-mail: mariana@rdeventos.com.br<br />

84


Boletim SBMET novembro/05<br />

JANEIRO 2006<br />

• Workshop on Air Quality Forecasting in Latin<br />

American Cities<br />

Período: 9 a 13 de janeiro de 2006<br />

Local: IAG/USP, São Paulo, SP<br />

Inscrições: 09 de novembro de 2005 a 06 de janeiro<br />

de 2006<br />

Informações: http://www.master.iag.usp.br/workshop<br />

Edmilson D. Freitas (efreitas@model.iag.usp.br) ou<br />

Maria F. Andrade (mftandra@model.iag.usp.br)<br />

• I Seminário do Café de Minas Gerais<br />

Período: 19 a 20 de janeiro de 2006<br />

Local: Teatro Mestrinho Marista, Varginha, MG<br />

Informações por e-mail: seminario.cafe@uol.com.br<br />

Fone: (21) 2518-8761<br />

Fax: (21) 2518-8762 ou 2518-9372<br />

• 1st Integrated Land Ecosystem – Atmosphere<br />

Processes Study (iLEAPS) Science Conference<br />

Período: 21 a 26 de janeiro de 2006<br />

Local: Boulder, Colorado, EUA<br />

Submissão de trabalho: maio de 2005<br />

Informações: http://www.atm.helsinki.fi /ILEAPS/boulder<br />

ou E-mail: michael.boy@helsinki.fi<br />

• 86th AMS Annual Meeting<br />

Período: <strong>29</strong> de Janeiro a 2 Fevereiro de 2006<br />

Local: Georgia World Congress Center, Georgia,<br />

Atlanta, EUA<br />

Informações: http://www.ametsoc.org/meet/annual/index.html<br />

FEVEREIRO 2006<br />

• International Conference on “Mesoscale<br />

processes in Atmosphere, ocean and<br />

environmental systems<br />

Período: 14 a 17 de fevereiro de 2006<br />

Local: Indian Institute of Technology, Delhi (India)<br />

Informações: Prof. Maithili Sharan<br />

(impa2006@cas.iitd.ernet.in ou mathilis@cas.iitd.ernet.in)<br />

Tel: 91-11-26591301 / 26591312 / 26591946<br />

Fax: 91-11-26591386<br />

85


Boletim SBMET novembro/05<br />

MARÇO 2006<br />

• SCOSTEP 11th Quadrennial Solar Terrestrial<br />

Physics Symposium, “Sun, Space Physics and<br />

Climate”<br />

Período: 6 a 10 de março de 2006<br />

Local: Rio de Janeiro, RJ<br />

Informações: http://www.grahnoperator.com.br/<br />

events/scostep<br />

• 1ª Conferência Lusófona sobre o Sistema Terra<br />

Período: 22 a 24 de março de 2006<br />

Local: Lisboa, Portugal<br />

Submissão de resumos: até 06 de janeiro de 2006<br />

Informações: http://igbp-portugal.org<br />

ABRIL 2006<br />

• 3rd EGU General Assembly (European<br />

Geosciences Union), Session “NH11.02”<br />

Período: 2 a 7 abril de 2006<br />

Local: Vienna, Áustria<br />

Submissão de abstract: 13 de janeiro de 2006<br />

Informações: http://meetings.copernicus.org/<br />

egu2006/index.html<br />

• EGU general Assembly 2006 - sessão “LAndslide<br />

risk” NH9.03<br />

Período: 2-7 de abril de 2006<br />

Local: Vienna, Áustria<br />

Data limite para submissão de abstract: 13 de janeiro<br />

de 2006.<br />

Envio de abstracts:<br />

(http://meetings.copernicus.org/egu2006/how_to_<br />

submit_an_abstract.html)<br />

Informações adicionais sobre Assembléia:<br />

http://www.cosis.net/members/frame.<br />

php?url=meetings.copernicus.org/egu2006/<br />

• 4º Congresso de Biometeorologia<br />

Periodo: 9 a 11 de abril de 2006<br />

Local: Ribeirão Preto, SP<br />

Informações: Maria da Graça Pinheiro<br />

(4cbb@iz.sp.gov.br)<br />

ou http://www.iz.sp.gov.br/4cbb/<br />

• 8th International Conference on Southern<br />

Hemisphere Meteorology and Oceanography<br />

Período: 23 a 28 de abril de 2006<br />

Local: Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu, PR<br />

Informações: Dr. Carlos <strong>No</strong>bre (nobre@cptec.inpe.br)<br />

• International Lightning Detection Conference<br />

(ILDC) / 1st International Lightning Meteorology<br />

Conference (ILMC)<br />

Período: 24 e 25 / 26 e 27 de abril de 2006<br />

Local: Tucson, Arizona – EUA<br />

Informações: http://www.vaisala.com<br />

86


Boletim SBMET novembro/05<br />

MAIO 2006<br />

• U.S. CLIVAR Salinity Workshop<br />

Período: 8 a 10 de maio de 2006<br />

Local: Auditório do Woods Hole Oceanographic<br />

Institution Redfield<br />

Submissões de abstracts: até 17 de janeiro de 2006<br />

Informações: http://www.usclivar.org/Organization/<br />

Salinity_WG/Salinity2006.html<br />

• III Encontro da ANPPAS - Associação Nacional<br />

de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e<br />

Sociedade<br />

Período: 23 a 26 de maio de 2006<br />

Local : Brasília, DF<br />

Informações: http://www.nepam.unicamp.br/anppas/<br />

SISGEENCO/<br />

• 4th International Conference on Experiences with<br />

Automatic Weather<br />

Stations - 4th ICEAWS<br />

Período: 24 a 26 de maio de 2006<br />

Local: Lisboa, Portugal<br />

Inscrições: ate 15 de outubro de 2005<br />

Informações: http://www.meteo.pt/4ICEAWS/<br />

4ICEAWS.htm ou<br />

E-mail: 4ICEAWS.Lisboa2006@meteo.pt<br />

• Séminaire internacional ONU/Algérie/ESA sur<br />

l´utilisation des techniques spatiales pour la<br />

gestion des catastrophes: prévention et gestion<br />

des catastrophes naturelles<br />

Período: 22 a 26 de maio de 2006<br />

Local: Algérie<br />

Informações: M. Abouberkr-Seddik Kedjar<br />

(akedjar@mail.asal.dz) ou<br />

Raechelle Newman<br />

(raechelle.Newman@unvienna.org)<br />

JUNHO 2006<br />

• Conference about “20 Years of <strong>No</strong>nlinear<br />

Dynamics in Geosciences”<br />

Período: 11 a 16 de junho de 2006<br />

Local: Rhodes, Grécia<br />

Informações e submissão de abstract:<br />

http://www.aegeanconferences.org<br />

• The 2006 World Congress in Computer Science,<br />

Computer Engineering, and Applied Computing -<br />

WORLDCOMP’06 (composto por 28 Conferências)<br />

Período: 26 a <strong>29</strong> de junho de 2006<br />

Local: Monte Carlo Resort Hotel, Las Vegas, Nevada,<br />

USA<br />

Informações: http://www.world-academy-of-science.<br />

org<br />

87


Boletim SBMET novembro/05<br />

JULHO 2006<br />

• 20 Workshop Global em Modelagem e<br />

Mapeamento Digital de Solos - Cartografia Digital<br />

de Solos para Regiões e Países com escassa<br />

infra-estrutura de Banco de Dados Espaciais<br />

Período: 4 a 7 de julho de 2006<br />

Local: Rio de Janeiro, RJ<br />

Informações: http://www.digitalsoilmapping.org/<br />

DSM_2006_Brazil.html<br />

• Sessions on “Modeling and Simulation of<br />

Dangerous Phenomena for Hazard Mitigation”<br />

to take place during three different oncoming<br />

Meetings<br />

• Session “S15”, 3rd Biennial iEMSs Meeting<br />

(International Environmental Modelling and<br />

Software Society), Summit on Environmental<br />

Modelling and Software<br />

Período: 9 a 12 de julho de 2006<br />

Local: Burlington, Vermont, USA<br />

Submissão de abstract: 15 de dezembro de 2005<br />

Informações: http://www.iemss.org/iemss2006/<br />

• Session “IWG01”, 3rd AOGS Annual Meeting<br />

(Asia Oceania Geosciences Society)<br />

Data: 10 a 14 de julho de 2006<br />

Local: Singapura<br />

Submissão de abstract: 15 de janeiro de 2006<br />

Informações:<br />

http://asiaoceania-conference.org/test/viewSession-<br />

Details.asp?sessionID=IWG0<br />

• 58a Reunião Anual da SBPC<br />

Período: 16 a 21 de julho de 2006<br />

Local: Universidade Federal de Santa Catarina<br />

(UFSC), Florianópolis<br />

Tema: SBPC semeando interdisciplinaridade<br />

Informações sobre normas, prazos, inscrições e taxas:<br />

http://www.sbpcnet.org.br/eventos/58ra/<br />

• International conference entitled “Living with<br />

Climate Variability and Change: Understanding<br />

the Uncertainties and Managing the Risks<br />

Período: 17 a 21 de julho de 2006<br />

Local: Espoo, Finlândia<br />

Informações: http://www.livingwithclimate.fi ou<br />

http://www.livingwithclimate.fi /linked/en/Flyer.pdf<br />

• Envisat Summer School 2006 on “Earth System<br />

Monitoring & Modelling”<br />

Período: 31 julho a 11 agosto de 2006<br />

Local: ESA/ESRIN, Frascati (Roma), Itália<br />

Data para inscrição: 1 de março de 2006<br />

Informações: http://envisat.esa.int/envschool/ ou<br />

E-mail: envschool@esa.int<br />

88


Boletim SBMET novembro/05<br />

NOVEMBRO 2006<br />

ANO DE 2007<br />

• XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia<br />

Período: 27 de novembro a 01 de dezembro de 2006<br />

Local: Florianópolis, SC<br />

Tema: A Meteorologia a serviço da Sociedade<br />

Informações: http://www.<strong>sbmet</strong>.org.br<br />

• 14th IUAPPA World Congress<br />

Período: 9 a 13 de setembro de 2007<br />

Local: Brisbane, Austrália<br />

Chamada para abstracts: abril 2006<br />

Deadline para submissão de abstracts: agosto 2006<br />

Informações: http://www.icms.<br />

OBITUÁRIO<br />

Morre o Prof. Dr. Joseph Smagorinsky, um pioneiro na<br />

Previsão Numérica de Tempo<br />

Em 21 de setembro de 2005 faleceu o Prof. Joe<br />

Samagorinski, aos 81 anos, um dos maiores cientistas a<br />

área das ciências geofísicas (Meteorologia, Oceanografia,<br />

...., clima) do Século XX. De 1955 até 1983, foi<br />

Diretor Fundador do Geophysical Fluid Dynamics<br />

Laboratory (GFDL/NOAA), dentro do Campus de<br />

Princeton, em New York, e participou ativamente dos<br />

primeiros experimentos de previsão numérica do tempo<br />

realizados nos anos 50 no Institute for Advanced Study,<br />

em Princeton. Em 1986 foi Presidente da American<br />

Meteorological Society. Em 2003, o Dr. Smagorinski e o<br />

Dr. Phillips foram agraciados com a Medalha Benjamin<br />

Franklin em Ciência da Terra, dada pelo Franklin<br />

Institute, na Filadélfia. Visitou o INPE e o INMET nos<br />

anos 80, e foi grande defensor da idéia de um LACCAS<br />

de cooperação entre os países da América do Sul com<br />

um Centro de Previsão Numérica de mesoescala para<br />

previsões sobre a América do Sul e Caribe.<br />

Fonte: Informações extraídas da nota públicada em jornal escrita<br />

pelo Dr. Jeremy Pearce, divulgada no jornal em 30 de setembro<br />

de 2005.<br />

89


Boletim SBMET novembro/05<br />

ANUNCIANTES<br />

Pág. 6<br />

w w w . h o b e c o . n e t<br />

www.hobeco.net<br />

E-mail: info@hobeco.net<br />

Pág. 26<br />

www.ams-gematronik.com<br />

E-mail: info@geomatronik.com<br />

Contra-capa<br />

www.simtech.com.br<br />

E-mail: simtech@simtech.com.br<br />

ATENDIMENTO DA SBMET<br />

Secretaria da SBMET<br />

E-mail Geral: <strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br<br />

Fone: (0xx12) 3945-6653<br />

Fax: (0xx12) 3945-6666<br />

Diretora Administrativa: Marley C. L. Moscati<br />

<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br<br />

Assistente de Secretaria: Gleice Soares da Silva<br />

gleice@cptec.inpe.br<br />

Home-page:<br />

www.<strong>sbmet</strong>.org.br<br />

Sobre Boletim da SBMET<br />

Informações Gerais:<br />

<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br<br />

Envio de artigos e matérias:<br />

marley@cptec.inpe.br<br />

Sobre Revista Brasileira de Meteorologia<br />

(RBMET)<br />

InformaçõesGerais:<br />

rbmet@model.iag.usp.br<br />

Envio de artigos e matérias:<br />

Tércio Ambrizzi – rbmet@model.iag.usp.br<br />

Fone: (+ 55 - 11) 3091-4731<br />

Fax: (+55 - 11) 3091-4714<br />

90


Política Editorial do Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia<br />

Instruções aos Autores:<br />

1) Serão aceitos para publicação no BSBMET, artigos originais na área de meteorologia e áreas correlatas,<br />

não publicados anteriormente, versando sobre conclusões e andamentos de Projetos, opiniões sobre pontos<br />

de relevância na meteorologia e problemas atuais da meteorologia e do clima, além de matérias técnicas e<br />

profissionais de interesse.<br />

2) Os manuscritos submetidos deverão ser enviados ao Editor Responsável do BSBMET via e-mail.<br />

3) Os trabalhos devem ser organizados com a seguinte estrutura: TÍTULO, nome completo dos autores, as<br />

Instituições a que pertencem e o endereço postal, RESUMO/palavras chaves, ABSTRACT/Key words, 1.<br />

INTRODUÇÃO, 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO, 3. CONCLUSÕES (ou CONSIDERAÇÕES FINAIS),<br />

4. AGRADECIMENTOS, 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. As figuras e tabelas deverão estar<br />

posicionadas dentro do texto conforme estipulados pelos autores. As referências bibliográficas, as equações e as<br />

unidades devem seguir as normas adotadas pela Revista Brasileira de Meteorologia.<br />

4) O texto deve ter, no máximo, dez (10) páginas e ser escrito em formato A4 (<strong>29</strong>7 x 210 mm), usando-se<br />

o Editor Word 6.0 ou posterior, fonte Times New Roman 12, espaço 1,5 cm, todas as margens de 2,5 cm e<br />

espaçamento duplo entre parágrafos.<br />

Padrões para confecção e envio de arquivos eletrônicos dos anúncios:<br />

1. Especificação de formatos:<br />

1.1 Anúncio ¼ de página, 8x12 cm sem sangria.<br />

1.2 Anúncio 1/2 página, 20 x13,25 cm sem sangria.<br />

1.3 Anúncio de página inteira, 17,5 x 24 cm com 4 mm de sangria.<br />

2. Programas disponíveis para recepção de arquivos:<br />

2.1 CorelDraw 10 ou inferior, nas plataformas PC.<br />

2.2 PDF 5.0 (em alta resolução) ou inferior, nas plataformas PC.<br />

3. Mídias para envio:<br />

3.1 CDR ou CDRW<br />

3.2 E-mail para arquivos menores que 5MB<br />

Obs: (1) Para enviar arquivos, favor gravar todos os links e fontes utilizadas na mesma mídia, lembrando que<br />

a qualidade de imagens e calibração de cores é de inteira responsabilidade do anunciante. É imprescindível o<br />

acompanhamento de uma impressão colorida que possa demonstrar a expectativa de reprodução de arquivo. (2)<br />

Todas as imagens (figuras, tabelas e fotos) devem ser enviadas em arquivos à parte, em JPG ou PDF, em alta<br />

resolução.<br />

Endereço para envio: A/c Marley C. L. Moscati, INPE/CPTEC – Prédio da Meteorologia, Sala 26, Av. dos<br />

Astronautas, 1758, Jd. Granja, São José dos Campos/ SP – 12201-970<br />

E-mail: raster.marcus@terra.com.br com cópia para marley@cptec.inpe.br.

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