Volume 29 No 3 - sbmet
Volume 29 No 3 - sbmet
Volume 29 No 3 - sbmet
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Boletim da<br />
Sociedade Brasileira<br />
de Meteorologia<br />
ISSN 1676-014X<br />
vol.<strong>29</strong>, n o .3, nov. 2005<br />
A Meteorologia<br />
e a Aeronáutica
O Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia (BSBMET) é uma publicação quadrimestral da SBMET<br />
(www.<strong>sbmet</strong>.org.br), com tiragem de 1.000 exemplares. O BSBMET aceita colaborações, na forma de artigos<br />
originais de divulgação de assuntos técnicos, científicos ou profissionais e reproduções de matérias de interesse<br />
do Corpo Social, desde que não protegidos por direitos autorais, ou mediante autorização expressa do detentor<br />
destes direitos.<br />
DIRETORIA EXECUTIVA PARA O BIÊNIO 2005/2006<br />
Presidente: Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva<br />
Vice-Presidente: Augusto José Pereira Filho<br />
Diretora Administrativa: Marley C. de Lima Moscati<br />
Vice-Diretor Administrativo: Nelson Jesus Ferreira<br />
Diretor Financeiro: Isimar de Azevedo Santos<br />
Vice-Diretora Financeira: Anne Moraes<br />
Diretora Científica: Teresinha de M. B.S. Xavier<br />
Vice-Diretor Científico: Manoel Alonso Gan<br />
Diretor Profissional: Alfredo Silveira da Silva<br />
Vice-Diretora Profissional: Ana Lúcia F. Macedo<br />
Efetivos<br />
Romísio Geraldo Bouhid André – Presidente<br />
Elza Correia Sucharov<br />
Francisca Maria Alves Pinheiro<br />
Francisco de Assis Diniz<br />
CONSELHO DELIBERATIVO<br />
Suplentes<br />
Gerhard Held José Carlos Figueiredo José Marques<br />
Halley Soares Pinheiro Junior<br />
José Antonio Marengo Orsini<br />
Luiz Augusto Toledo Machado<br />
Maria Luiza Poci Pinto<br />
Valdo da Silva Marques<br />
Conselho Fiscal<br />
Heloisa Moreira Torres Nunes – Presidente<br />
Vera Aldreida Malfa Pereira<br />
Editor Responsável<br />
Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />
INPE - Prédio da Meteorologia, Sala 26<br />
Av. dos Astronautas, 1758, Jd. da Granja<br />
12.201-970 – São José dos Campos, SP<br />
marley@cptec.inpe.br<br />
Editores Associados<br />
Augusto José Pereira Filho –IAG/USP (apereira@model.iag.usp.br)<br />
Luiz Augusto T. Machado - CPTEC/INPE (machado@cptec.inpe.br)<br />
Manoel Alonso Gan (alonso@cptec.inpe.br)<br />
Nelson de Jesus Ferreira (nelson@cptec.inpe.br)<br />
Teresinha de Maria B.S. Xavier – UFC (txavier@secrel.com.br)<br />
Grupos de Trabalho:<br />
Setor de <strong>No</strong>rmas e Legislação: Alfredo Silveira da Silva (alfredo@meteoro.ufrj.br)<br />
Setor de Divulgação e Marketing: Marley Cavalcante de Lima Moscati (marley@cptec.inpe.br)<br />
Colaboradores desse número: Rubens Junqueira Villela (rvillela@usp.br), Gerhard Held (gerhard@ipmet.unesp.br)<br />
e Paulo A. S. Escada (escada@cptec.inpe.br).<br />
Boletim da<br />
Sociedade Brasileira<br />
de Meteorologia<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
7<br />
A Meteorologia<br />
e a Aeronáutica<br />
8<br />
Fotografias:<br />
EXPEDIENTE<br />
1. Marcelo Cavedon Presti<br />
Coordenação: Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />
2. Carlos Costa, cedida pela<br />
Revista Aeromagazine Projeto Gráfico e Prod. Gráfica: Graftipo Ltda e DigitalPress<br />
3. Carlos Costa, cedida pela Capa: DigitalPress<br />
Revista Aeromagazine Impressão: Graftipo Ltda<br />
4. Cedida pelo COMAER<br />
Revisão Editorial: Marley Cavalcante de Lima Moscati.<br />
5. Divulgação DASSOULT<br />
6. Cedida pelo COMAER Distribuição ISSN 1676-014X. dirigida e gratuita<br />
7. Marcelo Cavedon Presti<br />
8. Bc. de Imagens (photos.com)<br />
Distribuição dirigida e gratuita
EDITORIAL<br />
com grande satisfação que lançamos este terceiro e último número do Boletim da SBMET publicado nesse ano.<br />
É O tema “A Meteorologia e a Aeronáutica” nos remete a uma ciência fascinante, como bem destaca a matéria do<br />
Dr. Ozires Silva, um expertise em ciência aeronáutica e grande usuário da informação meteorológica. Entretanto,<br />
apesar dos avanços tecnológicos e investimentos, a área é carente de trabalhos científicos, como destaca em sua<br />
matéria Cristina Foggaccia, meteorologista da INFRAERO, onde abre o leque de tópicos de pesquisa de interesse<br />
para a área operacional.<br />
<strong>No</strong> Brasil, a atividade de Meteorologia Aeronáutica é de competência do Sistema de Controle do Espaço<br />
Aéreo (SISCEAB), sob a responsabilidade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). A matéria<br />
de Carlos R. Henriques e Martim R. Matschinske descreve a estrutura, atribuições e competência dos órgãos<br />
mencionados, destacando suas importâncias no contexto nacional e internacional, enquanto Mauro Lehn detalha<br />
o trabalho dos meteorologistas que atuam no CMA-1, órgão operacional do SISCEAB. A matéria de Rosa F. C.<br />
Marques e Gilberto F. Fisch descreve e destaca a importância da pesquisa meteorológica para apoio das atividades<br />
da Divisão de Ciências Atmosféricas (ACA) do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), Centro responsável pelo<br />
projeto, desenvolvimento e lançamento de foguetes brasileiros. As contribuições do Sistema de Vigilância da<br />
Amazônia (SIVAM) e do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) para a navegação aérea na Amazônia legal<br />
brasileira são temas da matéria de Ricardo L. G. Dallarosa, Renato C. Senna e Jaci B. Saraiva.<br />
Vários sistemas e fenômenos meteorológicos têm sido apontados como os responsáveis pelos acidentes e<br />
incidentes aeronáuticos ocorridos no mundo. Essas questões são apresentadas numa matéria que traz estatísticas<br />
de acidentes aéreos associados com condições atmosféricas adversas e como o projeto dos sistemas das aeronaves<br />
evoluíram de forma a garantir a segurança dos vôos. Esse número também inclue artigos analisando casos de<br />
acidentes aéreos causados por condições meteorológicas adversas, tais como windshear, Cumulunimbus (Cbs)<br />
embutidos e ondas de montanhas. Há, ainda, informações sobre o novo produto de satélite de caráter operacional<br />
desenvolvido pelo INPE/DSA relacionado ao monitoramento de descargas elétricas atmosféricas e sua associação<br />
com a ocorrência de Sistemas Convectivos de Mesoescala, notícias sobre algumas atividades da SBMET realizadas<br />
nesse ano e sobre outras em andamento, a agenda de eventos, e muito mais. Confiram!<br />
Aproveitando, informo-os que as atividades realizadas nesse primeiro ano de gestão da DE serão discriminadas<br />
no Relatório Anual de Atividades (RAA), a ser apresentado no próximo mês durante a Assembléia Geral Ordinária<br />
da SBMET e, posteriormente, divulgado no Portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.org.br), para conhecimento. Cientes<br />
de que todas essas realizações são frutos do trabalho conjunto da Diretoria Executiva da SBMET, do Conselho<br />
Deliberativo, do Conselho Fiscal e da parceria com vários colaboradores institucionais e de empresas públicas<br />
e privadas, encerramos o ano agradecendo a colaboração de todos e desejando um 2006 repleto de realizações e<br />
muito sucesso. Boa Leitura!<br />
Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />
Editora Responsável
SUMÁRIO<br />
Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia<br />
A METEOROLOGIA E A AERONÁUTICA<br />
vol. <strong>29</strong>, nº 3, novembro 2005<br />
Editorial ................................................................................................................ 1<br />
Marley Cavalcante de Lima Moscati<br />
Mensagem da Presidente da SBMET .............................................................................. 4<br />
Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva<br />
Um aviador e sua Meteorologia .............................................................................................................. 7<br />
Ozires Silva<br />
Meteorologia Aeronáutica do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro ......................13<br />
Carlos Roberto Henriques e Martim Roberto Matschinske<br />
CMA-1: importante braço operacional da Meteorologia Aeronáutica ....................................19<br />
Mauro Neutzling Lehn<br />
As atividades de Meteorologia Aeroespacial no Centro Técnico Aeroespacial (CTA) ..................... 21<br />
Rosa de Fátima Cruz Marques, Gilberto Fernando Fisch<br />
O Projeto SIVAM, o SIPAM e a sua contribuição para a segurança da navegação aérea na<br />
Amazônia Legal .....................................................................................................27<br />
Ricardo Luiz Godinho Dallarosa, Renato Cruz Senna, Jaci Bilhalva Saraiva<br />
Acidentes aéreos associados à condições meteorológicas adversas e melhoria contínua dos<br />
sistemas das aeronaves .......................................................................................... 31<br />
Ney Ricardo Moscati<br />
Os perigos do vento para a aviação ...................................................................................................... 45<br />
Maurici A. Monteiro, Daniel S. Calearo, Marcelo Martins, Anderson Monteiro<br />
Análise de dois acidentes aeronáuticos associados à atividade convectiva:<br />
Kano (1956) e Congonhas (2000) ......................................................................................................52<br />
Rubens Junqueira Villela<br />
Ondas de montanha e a segurança nas operações aéreas na Antártica .................................. 59<br />
Marcelo Romão, Alberto Setzer, Francisco Eliseu Aquino<br />
Meteorologia Aeronáutica: serviço apaixonante e ciência com vasto campo para a pesquisa .... 64<br />
Cristina Fogaccia<br />
Monitoramento e evolução de descargas elétricas atmosféricas associadas<br />
a sistemas convectivos de mesoescala ........................................................................... 67<br />
Suzana Rodrigues Macedo, Wagner Flauber Araújo Lima, Luiz Augusto Toledo Machado, Osmar Pinto Junior
Boletim SBMET novembro/05<br />
Monitoramento de queimadas recebe prêmio internacional no Japão ................................... 72<br />
Relatório de Atividades do Workshop sobre o fenômeno Catarina ......................................... 73<br />
Manoel Alonso Gan<br />
Participação da SBMET na 57ª Reunião Anual da SBPC ...................................................... 74<br />
Participação da SBMET na Reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas<br />
“Diálogo Sobre Mudanças Climáticas” .................................................................................................... 75<br />
Andamento dos preparativos para o XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia (XIV CBMET) .... 75<br />
Grade da Programação Científi ca do Simpósio Internacional de Climatologia (SIC):<br />
a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas ............................... 76<br />
Avisos Gerais da SBMET ............................................................................................... 79<br />
Em discussão a nova Resolução que trata das atribuições profi ssionais da<br />
Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografi a e Meteorologia ................................................. 80<br />
Alfredo Silveira da Silva<br />
A participação feminina na área Tecnológica ...................................................................... 81<br />
Convenção mundial de Engenheiros e demais profi ssionais do Sistema CONFEA/CREA ................. 82<br />
Marcos Túlio de Melo é eleito Presidente do CONFEA ........................................................... 82<br />
Agenda de Eventos ....................................................................................................... 84<br />
Morre o Prof. Dr. Joseph Smagorinsky, um pioneiro na Previsão Numérica de Tempo ................... 89<br />
Lista de Anunciantes ..................................................................................................... 90<br />
Política Editorial do Boletim da SBMET ............................................................................. 91<br />
3
MENSAGEM<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
Prezados sócios e amigos da SBMET,<br />
É com grande satisfação que estamos distribuindo mais esse número do Boletim da Sociedade Brasileira<br />
de Meteorologia.<br />
O trabalho sério da atual Diretoria Executiva (DE) permite que contabilizemos neste final de 2005 os<br />
principais sucessos nesta administração, os quais são relacionados a seguir:<br />
• Comemoração do Dia Meteorológico Mundial, com eventos significativos ocorrendo em vários estados<br />
brasileiros, sendo amplamente divulgados pela SBMET;<br />
• O Portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.org.br) tem sido uma ferramenta dinâmica de contato com os sócios e<br />
tem-se mostrado útil na obtenção de informações de interesse da comunidade de Meteorologia, tanto na<br />
área acadêmica como profissional. O cadastro da SBMET está on-line, o que facilita e incentiva os sócios<br />
na atualização de seus dados. Foi também introduzida uma nova sistemática no Informativo que aparece<br />
no Portal da SBMET, enriquecendo substancialmente a quantidade e a qualidade da informação através de<br />
links com conteúdos adicionais;<br />
• Além das formas tradicionais de comunicação, foram implementados ao longo de 2005 os Informes da<br />
SBMET, distribuídos por e-mail, com a disseminação de notícias de forma rápida e eficiente;<br />
• O número de sócios novos e de sócios que atualizaram suas anuidades este ano é expressivo.<br />
• Realização de dois eventos significativos, o Workshop do Fenômeno Catarina e o I Simpósio Internacional<br />
de Climatologia (SIC): a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas. Durante<br />
a realização da 57ª Reunião Anual da SBPC, realizada em Fortaleza, CE, a SBMET esteve presente<br />
oferecendo um mini-curso, e promovendo palestra e simpósio.<br />
• A Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET) e o Boletim da SBMET, que tiveram três números<br />
elaborados e distribuídos neste ano de 2005, mantendo assim sua regularidade.<br />
• Durante o ano de 2005, a DE procurou estimular a criação e, em alguns casos, a reativação de várias<br />
Diretorias Regionais de Meteorologia. Terminamos este ano com as Diretorias do Rio de Janeiro, Minas<br />
Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina em funcionamento.<br />
• A SBMET está participando efetivamente das atividades promovidas pelo Fórum Brasileiro de Mudanças<br />
Climáticas. Também, foi convidada a participar de eventos interdisciplinares como o Seminário sobre<br />
Protocolo de Kyoto, promovido pela comunidade de Engenharia no CREA-MG, a II Conferência Regional<br />
sobre Mudanças Globais: América do Sul, realizada em São Paulo e o IV Workshop de Micrometeorologia,<br />
realizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul.<br />
• A DE da SBMET tem procurado manter a interação com outras entidades científicas, participando esse ano<br />
do Congresso da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, do Congresso Argentino de Meteorologia,<br />
do Congresso Mexicano de Meteorologia e da Federação Latino e Íbero-americana de Meteorologia.<br />
4
Boletim SBMET novembro/05<br />
• Tem sido também preocupação da atual DE a participação em discussões políticas relevantes, como os<br />
debates sobre a Reforma Universitária e sobre as atribuições profissionais do Sistema CONFEA/CREAs,<br />
além do encaminhamento de soluções para o PMTCRH, através de projetos regionais do Ministério da<br />
Ciência e Tecnologia (MCT). De grande importância também foram as sugestões levadas pela SBMET<br />
ao MCT e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), muitas das quais foram<br />
incorporadas à proposta de regulamentação da CONAME.<br />
<strong>No</strong>ssas perspectivas para 2006 incluem a continuação das iniciativas deste ano, com destaque para a<br />
participação da SBMET na 8ª. Conferência Internacional de Meteorologia e Oceanografi a do Hemisfério<br />
Sul, juntamente com a American Meteorological Society, e a realização do XIV Congresso Brasileiro de<br />
Meteorologia (XIV CBMET), cujas atividades já estão em andamento.<br />
Assim, em vista dessas e de outras conquistas, consideramos que a SBMET inicia o ano de 2006 como uma<br />
entidade mais respeitada e valorizada.<br />
Na oportunidade, desejamos à todos os sócios e colaboradores um 2006 cheio de realizações.<br />
Presidente da SBMET<br />
5
SATÉLITE COMERCIAIS<br />
(BI-DIRECIONAIS)<br />
ORBCOMM (Órbita Baixa)<br />
INMARSAT C (Geoestacionário)<br />
AUTOTRAC (Geoestacionário)<br />
SATÉLITES AMBIENTAIS<br />
(NÃO BI-DIRECIONAIS)<br />
GOES (Geoestacionário)<br />
ARGOS (Polar)<br />
SCD/INPE (Equatorial)<br />
CELULAR / RÁDIO<br />
GSM ( GPRS / SMS / DATACALL)<br />
RÁDIO ( UHF + SPREAD SPECTRUM )<br />
CÉLULAS REPETIDORAS<br />
LINHA FÍSICA<br />
PSTN - LINHA DISCADA<br />
TCP-IP (LAN)<br />
LINHA PONTO A PONTO<br />
TELEMETRIA BI-DIRECIONAL<br />
Para Aplicações Hidrometeorológicas<br />
Agora você escolhe como<br />
e quando receber os dados<br />
POSTO<br />
HIDROLÓGICO<br />
ESTAÇÃO<br />
METEOROLÓGICA<br />
Além das opções de telemetria a<br />
tecnologia VAISALA oferece:<br />
Extensa biblioteca de cálculos<br />
Cálculo de evapotranspiração<br />
Extensa lista de sensores<br />
Sensores de qualidade de água<br />
Relógio ajustado pelo GPS<br />
Banco de dados<br />
Compromisso com a solução e confiabilidade<br />
Assistência técnica no País<br />
SONDAS ATMOSFÉRICAS<br />
Para aplicação em sinótica, mesoescala, camada limite,<br />
pesquisa, usos militares, previsão de tempestades<br />
SONDA PARA<br />
BALÃO CATIVO<br />
RS-92<br />
SONDA FOGUETE DROPSONDA SONDAS ESPECIAIS PARA<br />
OZÔNIO E RADIOATIVIDADE<br />
Alta performance<br />
para as medidas<br />
de PTU<br />
Monitora a umidade<br />
do ar com 2 sensores<br />
Comprovadamente imune a<br />
rádio interferência<br />
Possui receptor de GPS robusto<br />
de 12 canais, tornando os dados<br />
mais confiáveis<br />
Tecnologia<br />
w w w . h o b e c o . n e t<br />
Hobeco Sudamericana Ltda. Tel.: 0 xx 21 2518-2237<br />
Ladeira Madre de Deus,13 - Gamboa Fax.: 0 xx 21 2263-9067<br />
CEP 20221-090 - Rio de Janeiro - RJ e-mail: info@hobeco.net<br />
Brasil<br />
http://www.hobeco.net
Boletim SBMET novembro/05<br />
UM AVIADOR E SUA METEOROLOGIA<br />
Ozires Silva<br />
E-mail: ozires@uol.com.br<br />
Recebi com curiosidade e atenção o convite para<br />
participar desta edição do Boletim da SBMET. Confesso<br />
que o convite veio como surpresa. A razão, imagino,<br />
tem origem na minha ligação com a aviação desde a<br />
juventude, inicialmente como piloto de planador, mais<br />
tarde piloto militar da Força Aérea Brasileira (FAB) e<br />
finalmente como Engenheiro Aeronáutico trabalhando<br />
para a fabricação de aviões no Brasil, como Presidente<br />
da EMBRAER por mais de duas décadas. Ao longo<br />
dessas experiências a meteorologia esteve presente na<br />
minha vida, sempre marcando momentos importantes,<br />
tanto no ar como em terra.<br />
Acredito e gosto de catalogar a ciência do tempo<br />
como fascinante. Os milagres da natureza, criando o ar<br />
que respiramos dentro de condições físico-químicas que<br />
asseguram a vida no planeta, determinando as estações<br />
do ano, formatando cada fenômeno meteorológico que<br />
nos atinge no dia-a-dia, tudo isto nos faz pequenos diante<br />
da grandeza do meio que nos circunda. Sem dúvida,<br />
desde os primeiros tempos aprendi, por experiência<br />
própria, que, compreendendo a atmosfera seria possível<br />
conduzir com mais segurança meus vôos. E, como ser<br />
humano, desfrutar melhor a maravilhosa natureza que<br />
nos circunda.<br />
Meus contatos com a meteorologia começaram cedo.<br />
Em Bauru, minha terra natal do interior do Estado de São<br />
Paulo, meu instrutor de planador, um simpático suíço,<br />
Heinrich Kurt, que falava o português com um pesado<br />
sotaque do seu alemão, sempre me dizia que era possível<br />
conseguir longos vôos, numa aeronave sem motor.<br />
Como, perguntava a mim mesmo? Progressivamente fui<br />
aprendendo sobre as formações na atmosfera, ganhando<br />
algumas noções de como as nuvens se formavam e como<br />
poderíamos aproveitar o fenômeno do seu nascimento e<br />
desenvolvimento para nos mantermos mais tempo no ar<br />
com os planadores. Em geral, os pilotos dos aviões, com<br />
seu contínuo espírito crítico, dizem que o planador já<br />
decola em pane (sem motor)!<br />
Aprendi sobre as térmicas, as gigantescas massas de<br />
ar quente que resultam do aquecimento do solo por ação<br />
direta dos raios solares. Entendi como e porque elas<br />
sobem, conseqüência direta da redução da densidade<br />
do ar na medida do aumento da temperatura. Fenômeno<br />
simples, bonito e bem concebido. Mergulhados nessas<br />
térmicas o piloto de planador sobe com elas, conseguindo<br />
resultados expressivos. Era estimulante olhar para o céu<br />
e ver os urubus circulando dentro das térmicas e, sem<br />
bater asas, ganhar rapidamente altitude. O problema<br />
para nós era não confundir um depósito de lixo, que<br />
também atraem os urubus, com as térmicas e de repente<br />
se ver em dificuldades, podendo ter de pousar fora das<br />
pistas.<br />
É bem verdade que nosso instrutor Kurt ajudava muito<br />
graças aos seus sólidos conhecimentos aeronáuticos.<br />
Ele era nossa fonte contínua de aprendizado. Dirigindo<br />
a Escola de Planadores, que oferecia o ensino e o<br />
treinamento para formar pilotos, Kurt era um misto de<br />
mestre e de pai para todos nós. Kurt comandava tudo.<br />
7
Boletim SBMET novembro/05<br />
Organizava aulas teóricas que eram proporcionadas em<br />
ocasiões variadas e o vôo, possível através do uso de um<br />
guincho que puxava os planadores para lançá-los ao ar.<br />
Era uma real operação, com um ritual mais ou menos<br />
igual, mas sempre muito trabalhoso. Todas as tardes,<br />
o esquema era o de retirar dos hangares os planadores,<br />
alinhá-los na pista e enganchar o cabo do guincho.<br />
Este era na realidade uma camioneta Ford, do famoso<br />
Modelo T de Henry Ford, conhecido como Fordinho.<br />
O guincho, conectado com a caixa de transmissão e<br />
acionado pelo tradicional motor de quatro cilindros<br />
que fez do velho automóvel um grande sucesso, girava<br />
uma bobina enrolada com um cabo de aço. Acelerando<br />
o motor, o cabo era puxado rapidamente, permitindo<br />
ao planador atingir as velocidades convenientes para<br />
assegurar o vôo.<br />
Naquele ambiente, como sempre, existiam “pessoas”<br />
importantes. E uma delas era a mascote do Kurt, um<br />
cachorro pequeno, autêntico vira-lata, nós o chamávamos<br />
Gasolina! Um cão pequeno que, um dia atropelado,<br />
exibia uma das patas dianteiras mal recuperada. Quando<br />
a pressão atmosférica caía ou começava a soprar<br />
um vento mais frio, provavelmente alguma dor ele<br />
sentia na articulação e simplesmente recolhia a pata,<br />
evitando pousá-la no solo. Kurt via aquilo e gritava<br />
no seu conhecido sotaque forte: “Famos recolherr os<br />
planadorres! Fai choverr!”. Não havia ninguém que o<br />
dissuadisse. O remédio era parar tudo e esperar a chuva<br />
ou a ventania que poderiam não vir.<br />
Daí veio minha primeira aventura que poderíamos<br />
chamar de “meteorológica”. <strong>No</strong>s meus 17 anos,<br />
iniciando meu treinamento, precisava de um vôo<br />
mais longo para conseguir meu brevê. <strong>No</strong> curso de<br />
piloto, como regra, sempre existe a hierarquia das<br />
qualificações e a competição entre os participantes. Ela<br />
8<br />
vinha basicamente do grau de suficiência que cada um<br />
conquistava na escala crescente de habilidade como<br />
pilotos de planadores. Eram os ambicionados “brevês”.<br />
O primeiro grau era o brevê A, após o B e em seguida o<br />
C. <strong>No</strong> nível C, crescendo na direção da distinção havia<br />
o “C de Prata” seguido pelo de Ouro e, finalmente,<br />
Diamante. Estes últimos, poucos os conquistavam.<br />
Como todos, comecei com o brevê A. Para aqueles<br />
que iniciavam o curso, o brevê A requeria que, utilizandose<br />
dos guinchos, o aluno deveria demonstrar habilidade<br />
de equilibrar o planador numa corrida no solo e chegar<br />
a efetuar um vôo controlado, em linha reta, sobre a<br />
pista. O brevê B precisava da execução de manobras<br />
que caracterizassem um “oito” sobre a pista. Consegui<br />
conquistá-lo após meses de treinamento, já que a escala<br />
de vôo era apertada e nem sempre se conseguia voar<br />
todos os dias ou semanas.<br />
Todavia, a minha conquista do brevê C, que previa<br />
um vôo com ganho de altitude e sustentado por um certo<br />
período, não foi tão tranqüila. Ocorreu após o Aeroclube<br />
de Bauru ter recebido, como doação do Departamento<br />
de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica um<br />
rebocador, um avião biplano Stinson – equipado com<br />
gancho de reboque de planadores. O Stinson era antigo<br />
e fabricado nos Estados Unidos. Dotado de um motor<br />
a pistão radial e hélice metálica de passo fixo era<br />
basicamente aprovado para acrobacias e foi um produto<br />
de muito sucesso no mundo, devido suas características<br />
seguras de vôo, além da facilidade de pilotagem. Sua<br />
margem de potência não era alta e as razões de subida<br />
permitida bastante modesta.<br />
Com a chegada do novo avião, o gancho de reboque<br />
foi instalado e, a partir de então era possível fazer vôos<br />
com altitudes de partida para os planadores muito
Boletim SBMET novembro/05<br />
maiores do que aquelas permitidas pelo velho guincho,<br />
instalado no Fordinho. O problema era o custo – a hora<br />
de vôo era cara e o dinheiro, curto. Toda a gasolina<br />
queimada pelos aviões, especialmente fabricada para a<br />
aviação, era importada, naquele início daquela década<br />
dos 1940.<br />
<strong>No</strong> dia previsto para disputar o brevê C, decolei<br />
puxado pelo Stinson numa tarde particularmente<br />
favorável. Carregada de nuvens “cumulus” de<br />
desenvolvimento vertical (o famoso CB), e prometedoras<br />
de muitas térmicas. Muitos urubus circulando. Rebocado<br />
pelo Stinson pude subir até 600 metros que era a altura<br />
prevista para largar o avião-rebocador e prosseguir no<br />
vôo livre. Realmente as nuvens estavam cumprindo<br />
o prometido, a sustentação era boa e consegui ganhar<br />
altura, subindo a mais de 3.000 metros sobre o campo.<br />
A marca do ganho de altitude estava superada – por<br />
aquele requisito já tinha o brevê C no bolso; estava feliz<br />
mesmo. Faltava voar pelo menos mais uma hora.<br />
O dia estava realmente magnífico. As nuvens,<br />
formando seus contornos variados, apresentavam<br />
diferentes tonalidades refletindo a luz forte do sol.<br />
Meu planador, um Grunau Baby, era relativamente<br />
lento, e o silêncio envolvia-me, somente quebrado pelo<br />
chiado suave do ar no parabrisas. Embaixo via a terra,<br />
ora vermelha, ora verde – com a vegetação já escura<br />
do final do outono. Sentia a tranqüilidade como uma<br />
dádiva e olhava tudo a minha volta, sentindo-me como<br />
pertencente àquele meio. O ar era meu e ali eu deveria<br />
viver.<br />
Após quase três horas no ar, eufórico por ter<br />
conquistado o desejado brevê C, tinha atingido uma<br />
marca muito maior do que o tempo requerido – estava<br />
realmente cansado. Começava a sentir uma acentuada<br />
dor nas costas, comprimido que estava ao incômodo<br />
pára-quedas. Era tempo de descer, mesmo porque a<br />
atividade das térmicas já estava bem mais reduzida,<br />
em função da queda do sol no horizonte; já não era tão<br />
fácil manter altura. A descida lenta foi agradável. À<br />
medida que descia, era possível ouvir o som das buzinas<br />
dos automóveis e o latido dos cães. O dia continuava<br />
lindo e os raios do sol tornavam-se alaranjados, com<br />
a aproximação do final do dia. A visibilidade ia de<br />
horizonte a horizonte. A sensação de tranqüilidade não<br />
me abandonava. Valia a pena voar, quase com o mesmo<br />
silêncio dos pássaros. Sensacional a natureza, pensava!<br />
<strong>No</strong> entanto, exagerei o otimismo; com tantas<br />
térmicas favoráveis não cuidei corretamente do tempo,<br />
da altitude e, sobretudo, da distância que estava da pista.<br />
Olhei para o sol, já bem baixo no horizonte; as nuvens<br />
tinham perdido os seus contornos vivos e começavam a<br />
se achatar. A sustentação caía com rapidez e subitamente<br />
me surpreendi, quando constatei que estava longe<br />
demais e certamente sem altura suficiente para chegar<br />
ao aeródromo. Procurei à minha volta uma nuvem que<br />
pudesse me ajudar, sem resultados. Com crescente<br />
preocupação voava para o campo de pouso, numa real<br />
torcida para conseguir atingi-lo. <strong>No</strong> entanto, ele parecia<br />
ficar mais e mais inacessível. A sensação era invertida;<br />
ao invés de o planador descer, parecia que a pista subia.<br />
Cedo percebi que não chegaria. A expressão que me<br />
veio à cabeça foi a mais simples: “Que merda”!<br />
Circulei os olhos em volta, buscando uma alternativa.<br />
Estava sobre a cidade e tinha o vento vindo do sul, frio e<br />
contra o meu sentido de vôo, complicava mais a situação.<br />
Não vi outra saída. Teria de procurar e achar uma área<br />
livre que encontrei no meu desesperado caminho para<br />
a pista, agora absolutamente fora do meu alcance. Um<br />
local de pouso possível estava na frente e limitado<br />
9
Boletim SBMET novembro/05<br />
10<br />
pelas instalações de uma engarrafadora da Coca-Cola,<br />
ao sul da cidade. Suas dimensões eram visivelmente<br />
insuficientes para uma aterrissagem segura, mas não<br />
tinha jeito, o tempo se escoava e uma decisão teria que<br />
ser tomada. Em poucos minutos o planador estaria no<br />
solo. A ironia era que eu estava a apenas um quilômetro,<br />
em linha reta, da pista. Enfim, para reclamar não era<br />
mais a hora.<br />
Procurei circular e aproximar-me o mais baixo<br />
possível por sobre a copa das árvores e alguns segundos<br />
depois a roda central do Grunau, sob a fuselagem,<br />
sobressaindo alguns centímetros do esqui, tocou no solo<br />
duro. Comecei a frear com cuidado e, meu Deus, um<br />
susto! Havia vacas pastando exatamente na direção que<br />
desejava seguir e reduzindo o espaço que necessitava<br />
para amortecer a velocidade. Fui me aproximando delas<br />
com rapidez. Os tranqüilos animais nada sabiam do que<br />
estava acontecendo e continuavam quietos e ruminando.<br />
<strong>No</strong> último instante não tive outra coisa a fazer se não<br />
comandar um cavalo-de-pau, isto é, uma guinada brusca<br />
para a esquerda, fazendo com que o planador parasse<br />
abruptamente, no meio da poeira, quebrando algo na<br />
parte posterior da fuselagem.<br />
Passou tempo antes que as pernas retornassem à<br />
condição de sustentar meu corpo. O pessoal do aeroclube,<br />
meus companheiros, em breve chegaram no Fordinho,<br />
dirigido pelo próprio Kurt, visivelmente agastado.<br />
“Sua burra”, disse-me ele, no seu consistente sotaque<br />
alemão, no qual não valia a concordância gramatical.<br />
“Agorra focê tem que carregar este p... de folta”, e foise,<br />
deixando-nos com o problema de arrastar o planador<br />
pela estrada até o Aeroclube. De algum modo o Kurt me<br />
perdoou, pois ganhei o sonhado brevê C. Agora poderia<br />
voar livre e procurar ampliar minha experiência. A<br />
limitação era arranjar dinheiro para o custo do aviãorebocador,<br />
mas esta é outra história.<br />
Mais tarde, em 1948, percorrendo os caminhos para<br />
crescer na aviação, acabei por optar e prestar o concurso<br />
de admissão para ingressar na FAB. Aprovado, passei a<br />
fazer parte de uma turma de cem Cadetes. Visualizando<br />
a carreira de piloto militar no futuro os nossos contatos<br />
com a meteorologia se acentuaram. Como uma das<br />
matérias, entre as obrigatórias, fomos aprendendo<br />
como funcionavam os mecanismos que a atmosfera usa<br />
para manter, movimentar e reciclar a contínua capa de<br />
ar que envolve o planeta. Foi um grande e importante<br />
aprendizado. Falávamos de pressões, temperatura,<br />
densidade, umidade, deslocamentos do ar e formações<br />
decorrentes de tudo isto. Pudemos sentir o esforço<br />
dos instrutores para nos passar informações que nos<br />
ajudassem a vencer no espaço e preparar pessoas<br />
que jamais tinham voado antes e que não tinham a<br />
mesma “cultura” inata dos pássaros. Paralelamente, as<br />
experiências vividas durante os períodos de instrução<br />
em vôo mostravam que as conversas nas aulas eram<br />
sérias. Muitos colegas foram vivendo episódios, alguns<br />
dramáticos, enfrentando formações pesadas, chuvas<br />
intensas, obstruções à visibilidade e mesmo formação<br />
de gelo. Este, realmente era um grande problema nos<br />
velhos aviões pouco equipados que voávamos. Alguns<br />
dos que usávamos na instrução proporcionavam<br />
vazamentos para dentro das cabines, com falhas na<br />
fixação dos parabrisas, gratificando-nos com pingos de<br />
água gelada no colo. Nada agradáveis!<br />
Hoje, isto é mais raro, para não dizer inexistente,<br />
nos modernos aviões pressurizados que voam em<br />
altitudes elevadas aonde menos freqüentemente se<br />
encontra turbulências pesadas ou formações que<br />
reduzam significativamente a visibilidade horizontal.<br />
Mas, no início da década dos 1950, era bem diferente.
Boletim SBMET novembro/05<br />
Terminando o Curso de Oficial da Aeronáutica coubeme<br />
servir na Amazônia, aonde operavam os velhos<br />
hidro-aviões CATALINA (fabricados pela antiga<br />
Consolidated Vultee dos Estados Unidos), aparelho não<br />
pressurizado e equipado com margens de potência dos<br />
motores pouco suficientes, apresentando características<br />
operacionais bastante distantes das modernas máquinas<br />
de hoje.<br />
Sobre os rios imensos da nossa floresta tropical,<br />
com alto teor de umidade e sob elevadas temperaturas<br />
do ar, os cúmulus se formam rapidamente, alterando as<br />
condições de vôo com rapidez. Os CATALINA voando<br />
em altitudes inferiores a três mil metros entravam<br />
seguidamente nas nuvens pesadas que, parecendo<br />
coincidência, insistiam em se colocar justamente nas<br />
rotas que escolhíamos.<br />
Como resultado, o jeito era voar nelas, sempre<br />
procurando se esquivar das mais pesadas e escolhendo<br />
aquelas que possivelmente não nos tratassem mal.<br />
Mas, isso raramente acontecia. Tínhamos de submeter<br />
nossos passageiros a turbulências que, não raramente,<br />
provocava gritos. E não eram de satisfação, tínhamos<br />
certeza.<br />
Quando no solo e antes de qualquer vôo<br />
conversávamos e discutíamos intensamente com os<br />
especialistas em meteorologia. Tentávamos arrancar<br />
deles informações além daquelas oferecidas pelos<br />
boletins normalmente divulgados pela rede do Serviço<br />
de Meteorologia e coletar dados que nos dessem<br />
mais segurança. Infelizmente, embora tudo fosse de<br />
ajuda, quando em vôo, achávamos que não tinham<br />
sido suficientes. O jeito era agradecer aos projetistas<br />
dos aviões que, aprendendo a partir dos acidentes<br />
do passado, conseguiram coletar dados e padronizar<br />
parâmetros, construindo regulamentos e fixando<br />
critérios básicos para dimensionar as estruturas bem<br />
mais resistentes das aeronaves modernas. Conhecendo<br />
com maior precisão as cargas de vôo, novos e melhores<br />
métodos de cálculo foram implementados, resultando<br />
que os aviões de hoje melhorem, a cada ano, seus mais<br />
expressivos índices de segurança de vôo. Por outro lado,<br />
é mesmo extraordinário o aumento conseguido do lado<br />
da confiança dos operadores e dos passageiros. Esta foi<br />
uma contribuição de todos os setores envolvidos nas<br />
complexas tarefas que levaram o transporte aéreo entrar<br />
para a história como grande resistente capaz de enfrentar<br />
a maioria das pancadas advindas de instabilidades<br />
atmosféricas e das difíceis condições operacionais que<br />
ainda prevalecem nos dias de hoje.<br />
Na atualidade, grandes progressos foram<br />
conseguidos. Redes de informação foram ampliadas.<br />
Os dados fluem com maior rapidez, podendo os<br />
pilotos melhor conhecer as rotas nas quais deverão<br />
voar. O próprio comportamento da atmosfera foi mais<br />
amplamente compreendido. Velozes computadores,<br />
dotados de expressiva memória e capacidade de<br />
processamento, antecipam a evolução das condições<br />
meteorológica permitindo previsões de períodos maiores<br />
e com significativa antecipação.<br />
As redes de satélites observadoras da Terra executam<br />
um trabalho pouco percebido pelos passageiros e<br />
operadores na aviação. Todos eles vivem dos resultados<br />
de esforços dos meteorologistas de todo o mundo que, de<br />
um lado, pesquisam e procuram saber mais e construir<br />
metodologias para que análises e resultados possam ser<br />
melhores, mais confiáveis e de previsão mais longas. De<br />
outro ângulo, os observadores e analistas que trabalham<br />
no dia-a-dia, os quais utilizando as últimas técnicas<br />
disponíveis, procuram oferecer mais para que o tráfego<br />
11
Boletim SBMET novembro/05<br />
aéreo opere com segurança.<br />
De qualquer modo, quando se vê um avião, por maior<br />
que seja, sacudido como cascas de nozes a mercê da<br />
gigantesca capacidade energética da natureza, podemos<br />
construir a imagem de um combate. O homem, na sua<br />
pequenez de um simples animal na Terra, tem o mérito<br />
de ter conseguido voar mais alto e mais velozmente do<br />
que os pássaros, em máquinas que obedecem ao seu<br />
comando. E isto foi possível por força do seu intelecto,<br />
do seu empenho e sua tenacidade.<br />
Mas, acima de tudo, este mesmo homem, consciente<br />
de suas vitórias, precisa manter a humildade para<br />
compreender que ainda muito tem a aprender, mantendose<br />
atento aos fenômenos tão habilmente concebidos neste<br />
mundo equilibrado que foi construído para sustentar a<br />
vida no planeta. E, finalmente, ainda compreender que<br />
faz parte do mecanismo de manutenção deste equilíbrio,<br />
cuja subsistência e continuidade são fundamentais para<br />
que a vida continue pelos séculos que temos em frente.<br />
Ozires Silva<br />
CurriculumVitae resumido<br />
Nasceu em Bauru - SP, em 1931. Começou suas atividades aeronáuticas como aeromodelista<br />
e piloto de planador. Em 1951, formou-se Piloto Militar e Oficial Aviador da FAB. Voou por<br />
quatro anos na Amazônia, com sede em Belem do Pará, pilotando o hidro-avião PBY-5<br />
CATALINA, acumulando cerca de três mil horas de vôo na área. Voou por três anos no Correio<br />
Aéreo Nacional (CAN), pilotando o DOUGLAS DC-3 por todo o Brasil, acumulando cerca<br />
de duas mil horas de vôo. Formou-se em Engenharia Aeronáutica no Instituto Tecnológico de<br />
Aeronáutica (ITA) em 1962. Após a formatura passou a servir no Departamento de Aeronaves do<br />
Instituto de P&D (IPD) do Centro Técnico Aerospacial (CTA). Nesta fase voou diferentes tipos<br />
de aeronaves de fabricação nacional. Deu início ao projeto e desenvolvimento do protótipo do<br />
BANDEIRANTE hoje considerado o primeiro avião construído para a Aviação de Transporte<br />
Aéreo Regional do mundo. Liderou a equipe que criou a EMBRAER, tornando-se seu primeiro<br />
Diretor Superintendente, cargo que exerceu de 1970 a 1986. Retornou à empresa em 1991 e<br />
comandou o processo de privatização da EMBRAER tendo durante este período dado partida<br />
no desenvolvimento do primeiro jato da empresa, o ERJ 145, cujo sucesso garantiu o êxito do<br />
empreendimento na área privada. Publicou em 1998 o livro “ A decolagem de um sonho - A<br />
história da aviação da Embraer” ( Lemos Editora, 606 p. ISBN 85-85561-91-0 ).<br />
12
Boletim SBMET novembro/05<br />
METEOROLOGIA AERONÁUTICA DO SISTEMA<br />
DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO BRASILEIRO<br />
Carlos Roberto Henriques e Martim Roberto Matschinske<br />
Departamento de Controle do Espaço Aéreo<br />
Divisão de Meteorologia Aeronáutica<br />
Av General Justo, 160 – 2º Andar<br />
CEP 20021-130 - RIO DE JANEIRO, RJ<br />
E-mail: dmet@decea.gov.br - Tel: (21) 2101-6283<br />
O planeta Terra é, provavelmente, o único no qual<br />
a atmosfera sustenta a vida como nós a conhecemos.<br />
O tempo, como um estado da atmosfera, em qualquer<br />
hora e lugar, exerce muita influência sobre as nossas<br />
atividades. Evidentemente, as condições do tempo<br />
têm muito a ver com o dia-a-dia de todos, mas poucas<br />
atividades humanas são tão dependentes das condições<br />
da atmosfera quanto a navegação aérea.<br />
Desde os primórdios da aviação, a informação<br />
meteorológica tem sido vital para a segurança das<br />
operações aéreas, contribuindo para o conforto dos<br />
passageiros, o estabelecimento de rotas mais rápidas,<br />
econômicas e de vôos regulares. <strong>No</strong> Brasil, a atividade<br />
de Meteorologia Aeronáutica é de competência do<br />
Comando da Aeronáutica e desenvolvida pelo Sistema<br />
de Controle do Espaço Aéreo (SISCEAB), sob a<br />
responsabilidade do Departamento de Controle do<br />
Espaço Aéreo (DECEA).<br />
Para o Piloto, o conhecimento das condições<br />
meteorológicas reinantes nos aeródromos de partida,<br />
destino e alternativas são imprescindíveis para a<br />
realização, ou não, do vôo. Além disso, é necessário<br />
saber se essas condições sofrerão variações significativas<br />
quanto ao teto, a visibilidade, ao tempo presente, ao<br />
vento, bem como, o horário previsto para início dessas<br />
variações e o período previsto para sua duração.<br />
trovoadas associadas a nuvens cumulunimbus (cb), que<br />
possam acarretar desvios de rota e por conseqüência<br />
maior consumo de combustível.<br />
As condições meteorológicas não afetam somente o<br />
piloto e a tripulação, mas também o Serviço de Tráfego<br />
Aéreo, responsável pelo controle das aeronaves no espaço<br />
aéreo, e que depende das condições meteorológicas<br />
específicas para o eficiente atendimento à navegação<br />
aérea. Este Serviço está estruturado em três órgãos<br />
operacionais de atuação distintas, que são:<br />
a)<br />
A Torre de Controle (TWR), responsável pelo<br />
controle na área terminal do aeródromo, que<br />
além de todas as variáveis citadas anteriormente,<br />
necessita saber se a variação do vento interferirá<br />
na cabeceira em uso e a que horas ocorrerá,<br />
bem como se as condições de teto e visibilidade<br />
comprometerão as operações de pouso e<br />
decolagem;<br />
Para um vôo seguro, econômico e confortável,<br />
não bastam somente estas informações, é necessário<br />
também conhecer as condições em rota. Dentre elas<br />
destacam-se a direção e velocidade do vento ao longo<br />
da rota, condições de formação de gelo, turbulência,<br />
Figura 1: Torre de Controle do Aeroporto do Galeão –RJ.<br />
Fonte: COMAER.<br />
13
Boletim SBMET novembro/05<br />
b)<br />
c)<br />
O Controle de Aproximação de Aeródromo (APP),<br />
responsável pelo controle radar das aeronaves até<br />
100 km do aeródromo, necessita, por exemplo,<br />
de informações relativas à formação de trovoadas<br />
associadas às nuvens CB dentro de sua área<br />
operacional, previsão da hora de início, duração<br />
e sua extensão para que possa ser avaliado o<br />
comprometimento operacional, ou seja, se o<br />
número de aeronaves deverá ser limitado em<br />
função da segurança das operações aéreas e da<br />
operacionalidade dos aeródromos;<br />
O Centro de Controle de Área (ACC), responsável<br />
pelo controle radar de todas as aeronaves<br />
que voam em rotas aéreas, fora da área de<br />
responsabilidade dos APP, depende também das<br />
informações meteorológicas. Para esses Centros,<br />
é imprescindível saber quais as rotas aéreas estão<br />
sob a influência de condições meteorológicas<br />
adversas, bem como, a hora que novas rotas serão<br />
afetadas operacionalmente, qual o volume do<br />
espaço aéreo será comprometido e qual o desvio<br />
mais seguro nestas condições.<br />
Para o emprego militar, a Meteorologia, destaca-se<br />
pelo apoio específico a diversos tipos de operações. Para<br />
a aviação de caça, por exemplo, é também importante<br />
saber o nível em que ocorre a trilha de condensação;<br />
nas operações de lançamento de carga e pára-quedistas é<br />
importante conhecer o vento nas camadas da atmosfera<br />
sobre a Zona de Lançamento, bem como, o ponto ideal<br />
para lançamento em grande altitude de pára-quedistas<br />
que, planando com velame aberto, visa alcançar um<br />
determinado alvo.<br />
Embora os avanços da tecnologia aeronáutica tenham<br />
vindo a tornar as viagens menos sensíveis a determinados<br />
aspectos do estado do tempo, a meteorologia continuará<br />
a ser essencial para a eficiência das operações de vôo.<br />
Como sabemos, o crescente aumento no número de<br />
aeronaves em operação exige um melhor aproveitamento<br />
do espaço aéreo, e assim, com a devida segurança,<br />
diminuindo o espaçamento entre elas. Nesse contexto,<br />
as informações meteorológicas passam a ser cada vez<br />
mais decisivas.<br />
1. ESTRUTURA E ATRIBUIÇÕES<br />
A redução dos mínimos meteorológicos para<br />
utilização de aeródromos tem acentuado a necessidade<br />
de se obter informações precisas e atualizadas sobre<br />
as condições meteorológicas locais nos aeródromos<br />
e ao longo das rotas aéreas, utilizando-se para isto<br />
de instrumentos e equipamentos de observações<br />
meteorológicas modernos, bem como, de prognósticos<br />
meteorológicos cada vez mais confiáveis. Neste<br />
contexto, a atividade de Meteorologia Aeronáutica está<br />
alicerçada na seguinte estrutura:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Rede de Estações Meteorológicas;<br />
Rede de Centros Meteorológicos;<br />
Bancos de Dados - Operacional (OPMET) e<br />
Climatológico (BCA); e<br />
Sistema de divulgação de informações<br />
meteorológicas.<br />
a) Rede de Estações Meteorológicas (REM)<br />
Os Sistemas de observação meteorológica<br />
aeronáutica, objetivam tanto o fornecimento de dados<br />
de superfície aos aeronavegantes, quanto a coleta de<br />
dados de altitude e sinóticos para a utilização dinâmica<br />
da matriz mundial de dados meteorológicos. Esta<br />
rede é constituída pelos elementos de coleta de dados<br />
meteorológicos a serem processados e difundidos aos<br />
órgãos operacionais e climatológicos, onde se destaca o<br />
monitoramento contínuo do meio atmosférico.<br />
As estações meteorológicas que integram a rede<br />
são classificadas conforme suas características, em<br />
Estações Meteorológicas de Superfície (EMS) Classe I,<br />
II e III, em Estações Meteorológicas de Altitude (EMA)<br />
e Estações de Radar Meteorológico (ERM). As EMS<br />
(Figura 2a) são implantadas nos aeródromos e coletam<br />
dados meteorológicos representativos das condições<br />
na(s) pista(s) de pouso. São equipadas com sensores<br />
automáticos para obtenção de medidas de direção e<br />
velocidade do vento, altura da base das nuvens, Alcance<br />
Visual na Pista (RVR), pressão ao nível do mar para ajuste<br />
do altímetro, pressão ao nível da pista, temperatura do ar<br />
e do ponto de orvalho. Em aeródromos que não operam<br />
com aproximação de precisão, e com movimentos aéreo<br />
reduzidos, as EMS diferem entre si pela ausência do<br />
14
Boletim SBMET novembro/05<br />
RVR. Os dados colhidos são codificados na mensagem<br />
METAR/SPECI e SYNOP e transmitidos aos bancos<br />
de dados, para uso do serviço de Meteorologia, da<br />
navegação aérea e demais usuários.<br />
As Estações Meteorológicas de Altitude (EMA) são<br />
equipadas com sistemas destinados a observar e traçar o<br />
perfil vertical de temperatura, pressão, umidade, direção,<br />
e velocidade do vento nas diversas camadas da atmosfera<br />
(Figura 2b). As sondagens são executadas mediante o<br />
lançamento de um balão contendo gás hidrogênio ao<br />
qual é presa a sonda dotada dos sensores, bem como,<br />
de sistema GPS para precisar os dados de vento em<br />
altitude. As informações colhidas por uma EMA são<br />
codificadas na mensagem TEMP, e transmitidas para<br />
emprego da Meteorologia Aeronáutica e como dado<br />
básico ao Banco de Dados do Sistema de Vigilância<br />
Meteorológica Mundial da Organização Meteorológica<br />
Mundial (OMM). A Figura 3 apresenta a distribuição<br />
das estações que compõe a Rede da EMS e EMA.<br />
As estações de radar meteorológico visam<br />
complementar a vigilância meteorológica em áreas<br />
de grande densidade de tráfego aéreo e onde ocorram<br />
condições meteorológicas adversas às operações aéreas.<br />
São de fundamental importância para detecção, análise<br />
e exposição dos fenômenos meteorológicos, georeferenciados,<br />
facilitando, desta forma, seu emprego<br />
como apoio às operações aéreas. As estações são<br />
operadas pelos Centros Meteorológicos de Vigilância<br />
(CMV) e seus produtos disseminados à Rede de Centros<br />
Meteorológicos. Por representarem as condições<br />
meteorológicas em tempo real, são extremamente úteis<br />
para a previsão meteorológica de curto prazo.<br />
(a)<br />
Figura 2: a) EMS, b) EMA.<br />
Fonte: COMAER.<br />
(b)<br />
15
Boletim SBMET novembro/05<br />
Rede de Estação Meteorológicas Superfície e Altitude<br />
b) Rede de Centros Meteorológicos<br />
Esta rede opera incorporando todos os dados<br />
observacionais e prognosticados. É responsável<br />
pela divulgação das informações meteorológicas à<br />
navegação aérea. A prestação deste<br />
serviço está associada aos subsistemas<br />
de visualização, tratamento e difusão<br />
dos dados meteorológicos. Compõem<br />
esta rede o Centro Nacional de<br />
Meteorologia Aeronáutica (CNMA), os<br />
Centros Meteorológicos de Vigilância<br />
(CMV), os Centros Meteorológicos<br />
de Aeródromos (CMA) e os Centros<br />
Meteorológicos Militares (CMM).<br />
Figura 3: Rede de EMS e EMA.<br />
Estação de Radar Meteorológico DECEA/SIV AM<br />
O CNMA (Figura 5), localizado<br />
no CINDACTA I em Brasília-DF,<br />
tem suas atribuições prioritariamente<br />
direcionadas a fenômenos meteorológicos em escala<br />
sinótica. Órgão central da Meteorologia Aeronáutica<br />
no SISCEAB é o elo integrante do Sistema Mundial<br />
de Previsão de Área (WAFS). É responsável pela<br />
divulgação dos dados globais de tempo significativo<br />
e os prognósticos de vento e temperatura em altitude.<br />
Também proporciona prognósticos específicos de<br />
tempo significativo, da superfície ao FL250, para a<br />
área que corresponde às coordenadas 12°N/80°W,<br />
12°N/10°W, 40°S/80°W, 40°S/10°W. É de sua<br />
competência a manutenção e<br />
operação do Banco OPMET e da<br />
Rede de Meteorologia do Comando<br />
da Aeronáutica (REDEMET).<br />
DECEA<br />
EM OPERAÇÃO = 06<br />
EM PLANEJAMENTO = 04<br />
SIV AM<br />
EM OPERAÇÃO = 10<br />
EM PLANEJAMENTO = 01<br />
Figura 4: Rede de Radares<br />
Meteorológicos.<br />
16<br />
Figura 5: Centro Nacional de Meteorologia Aeronáutica – BR.<br />
Fonte: COMAER.
Boletim SBMET novembro/05<br />
Os Centro Meteorológico de Vigilância (CMV),<br />
no total de quatro, operam associados aos Centros de<br />
Controle de Área e são responsáveis pela vigilância<br />
das condições meteorológicas que afetam as operações<br />
aéreas em Vôo. Os CMV mantêm a vigilância<br />
meteorológica, confeccionam e divulgam mensagens<br />
de tempo significativo em rota (SIGMET e AIRMET),<br />
operam remotamente os radares meteorológicos e<br />
prestam o Serviço VOLMET. A Figura 6 apresenta as<br />
áreas de responsabilidade de cada CMV.<br />
Móveis. A Figura 7 ilustra o atendimento ao piloto em<br />
um CMM.<br />
Figura 7: Atendimento ao Piloto em um CMM.<br />
Fonte: COMAER.<br />
Figura 6: Área de responsabilidade de cada CMV.<br />
Os Centro Meteorológico de Aeródromo(CMA),<br />
classificados em CMA-1, CMA-2 e CMA-3, conforme<br />
o tipo de serviço prestado, têm a finalidade de apoiar<br />
as operações aéreas e os serviços de tráfego aéreo nos<br />
aeródromos e difundir as informações meteorológicas<br />
e as previsões dos CNMA e CMV. Os CMA-1 estão<br />
localizados nos principais aeroportos internacionais,<br />
elaborando prognósticos de aeródromos (TAF),<br />
previsões para pouso e decolagem, previsões de área<br />
(GAMET), avisos de CORTANTE DO VENTO,<br />
avisos de aeródromo, mantendo contínua vigilância<br />
meteorológica em seus aeródromos de responsabilidade.<br />
Os CMAs fornecem documentação de vôo às tripulações<br />
e aos despachantes operacionais de vôo, proporcionam<br />
exposições orais e fornecem aos órgãos locais de tráfego<br />
aéreo, informações meteorológicas, observadas ou<br />
prognosticadas, que possam contribuir para a segurança<br />
do aeródromo e das aeronaves estacionadas.<br />
Os Centros Meteorológicos Militares (CMM),<br />
localizados nas Bases Aéreas, prestam apoio específico<br />
à Aviação Militar. Para atender operações militares em<br />
locais restritos, o Comando da Aeronáutica ativa CMM<br />
c) Banco de Dados Operacional (OPMET) e<br />
Climatológico (BCA)<br />
O Serviço de Meteorologia Aeronáutica opera<br />
duas bases de dados. O Banco Internacional de Dados<br />
Operacionais de Meteorologia (Banco OPMET) visa<br />
atender às necessidades imediatas da navegação aérea<br />
através do fornecimento de boletins meteorológicos<br />
rotineiros (METAR, TAF, SPECI, SIGMET), nacionais<br />
e internacionais. O Banco de Climatologia Aeronáutica<br />
(BCA), destina-se à prover os sumários climatológico<br />
dos diversos aeródromos do País e a manter uma base<br />
estatística de dados climatológicos aplicáveis à aviação<br />
e ao planejamento estratégico, técnico e operacional.<br />
d) Sistema de Divulgação de Informações<br />
Meteorológicas<br />
As informações Meteorológicas são divulgadas pela<br />
Rede de Telecomunicações Fixas Aeronáuticas (AFTN)<br />
e pelo site da REDEMET (http://www.redemet.aer.mil.<br />
br) (Figura 8). A REDEMET visa integrar os produtos<br />
meteorológicos voltados à aviação civil e militar. É o<br />
meio oficial do Comando da Aeronáutica para divulgálas,<br />
interligando os órgãos de meteorologia do SISCEAB,<br />
por meio da INTRAER e INTERNET (http://www.<br />
redemet.aer.mil.br). Além disso, possibilita a consulta<br />
17
Boletim SBMET novembro/05<br />
de informações meteorológicas no Banco OPMET e<br />
disponibiliza produtos gerados pela rede de Centros,<br />
radares e Satélites meteorológicos.<br />
prestação do Serviço que estão continuamente sendo<br />
implementadas são destacáveis, dentre elas podemos<br />
citar as associadas à disponibilização das informações<br />
meteorológicas através da REDEMET, modernização<br />
do Banco OPMET, desenvolvimento de sistema<br />
automatizado para verificação do acerto das Previsões<br />
de Aeródromo, controle operacional via web e como não<br />
poderia deixar de ser, a capacitação de recursos humanos<br />
com especializações afetas a Meteorologia Aeronáutica<br />
e pós-graduação na área de Meteorologia.<br />
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
Figura 8: Tela principal da REDEMET.<br />
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
As informações meteorológicas sempre foram<br />
fundamentais para a segurança nas operações aéreas.<br />
<strong>No</strong>s dias atuais, estas também são decisivas para<br />
o planejamento dos vôos visando à economia de<br />
combustível e conforto dos passageiros.<br />
O incremento na eficiência do Serviço de<br />
Meteorologia Aeronáutica, obrigatoriamente, está<br />
atrelado ao contínuo avanço tecnológico nos processos<br />
de coleta de dados, na velocidade de tratamento e<br />
disseminação destes dados e desenvolvimento contínuo<br />
dos produtos prognosticados.<br />
Neste contexto, o DECEA vem atuando e<br />
consolidando uma rede de Estações Meteorológicas<br />
de Superfície, de Altitude e de Radar Meteorológico,<br />
objetivando o processo de coleta de dados meteorológicos<br />
para aplicação nas atividades aéreas, confecção das<br />
previsões meteorológicas pelos diversos Centros<br />
Meteorológicos do SISCEAB, e participação da malha<br />
global de observações da OMM, destinada à Vigilância<br />
Meteorológica Mundial.<br />
BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,<br />
DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />
AÉREO. Manual de Centros Meteorológicos (MCA<br />
105-12). Rio de Janeiro, 2001.<br />
BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,<br />
DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />
AÉREO. Classificação dos Órgãos Operacionais de<br />
Meteorologia Aeronáutica (ICA 105-2). Rio de Janeiro,<br />
2003.<br />
BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,<br />
DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />
AÉREO. Manual de Estações Meteorológicas de<br />
Superfície (MCA 105-2). Rio de Janeiro, 2004.<br />
OACI. <strong>No</strong>rmas Internacionais e Práticas<br />
Recomendadas, Serviço Meteorológico para a<br />
Navegação Aérea Internacional - Anexo 3. Montreal,<br />
2004.<br />
OMM. Guia do Sistema Global de Observação.<br />
Publicação WMO nº488, Genebra, 1989.<br />
OMM. Guia de Instrumentos Meteorológicos<br />
e Métodos de Observação. Publicação WMO nº8,<br />
Genebra, 1996.<br />
OMM. Regulamento Técnico, Serviço<br />
Meteorológico para a Navegação Aérea Internacional.<br />
Publicação WMO, nº49, <strong>Volume</strong> 2, Genebra, 2004.<br />
A qualidade do serviço prestado pelo SISCEAB<br />
é reconhecida internacionalmente. As melhorias na<br />
18
Boletim SBMET novembro/05<br />
CMA-1: IMPORTANTE BRAÇO OPERACIONAL<br />
DA METEOROLOGIA AERONÁUTICA<br />
Mauro Neutzling Lehn<br />
Empresa Brasileira de Infra-Estrutura – INFRAERO<br />
Rodovia Hélio Smidt, s/n – Cxp 3051 – Cumbica<br />
CEP 07143-970 – Guarulhos – SP<br />
E-mail: mlehn.cnsp@infraero.gov.br<br />
Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos,<br />
final de madrugada. A tripulação de um vôo cargueiro<br />
rumo ao sul do país busca informações sobre as<br />
condições de seu destino, pois a época do ano favorece<br />
a formação de nevoeiros e há a preocupação de se<br />
encontrar uma situação que não permita o pouso. Início<br />
da manhã: o entra e sai de Despachantes Operacionais<br />
de Vôo das companhias aéreas é intenso para a retirada<br />
de informações meteorológicas previamente definidas<br />
para cada vôo. Do início da tarde até a noite os telefones<br />
não param de tocar, pois a influência de uma frente fria<br />
na região é esperada para os próximos dias. Essa é a<br />
rotina dos profissionais que trabalham em um Centro<br />
Meteorológico de Aeródromo Classe I (CMA-1), órgão<br />
do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro<br />
(SISCEAB), existente nos principais aeródromos do<br />
país, que tem por finalidade apoiar as operações aéreas,<br />
por meio de elaboração de previsões e da vigilância<br />
meteorológica contínua dos aeródromos sob sua<br />
responsabilidade.<br />
Atualmente existem seis CMA-1 em operação no<br />
Brasil: Manaus, Recife, Brasília, Porto Alegre, Guarulhos<br />
e Rio de Janeiro, sendo os dois últimos operados pela<br />
INFRAERO, os únicos órgãos civis. Todos funcionam<br />
vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano e<br />
contam com equipes compostas por Meteorologistas e<br />
Técnicos em Meteorologia, formados por instituições<br />
civis e militares.<br />
Os CMA-1 são os órgãos operacionais dentro da<br />
estrutura do SISCEAB onde atuam Meteorologistas<br />
de nível superior, responsáveis pelas previsões de<br />
aeródromo (TAF) e de área (GAMET), auxiliados<br />
por pessoal de nível técnico, cujas atribuições são<br />
as observações de aeródromo, vigilância da área de<br />
responsabilidade e também parte do atendimento aos<br />
aeronavegantes. O serviço prestado por esses Centros é<br />
de grande importância para a segurança das operações<br />
aéreas. Além da segurança, o acesso às informações<br />
meteorológicas proporciona economia e conforto ao vôo,<br />
uma vez que, sabendo de condições adversas previstas<br />
ou observadas em rota e no destino, a tripulação pode<br />
fazer um melhor planejamento. O apoio prestado pelo<br />
CMA-1 aos órgãos de Tráfego Aéreo e Operações de<br />
Aeroportos também é igualmente de suma importância<br />
para a tomada de decisões em face às situações de risco<br />
e na prevenção de incidentes e acidentes. Por exemplo:<br />
ventos fortes à superfície podem comprometer a<br />
segurança de aeronaves em procedimento de pouso<br />
e decolagem, como também ameaçar a integridade<br />
física de pessoas que trabalham nas áreas externas do<br />
aeroporto.<br />
Outra atribuição dos CMA-1 é de dar suporte aos<br />
demais Centros Meteorológicos de Aeródromo de sua<br />
área (CMA-2 e CMA-3, operados por Técnicos em<br />
Meteorologia e Operadores de Estações Aeronáuticas,<br />
respectivamente), cuja responsabilidade é de disseminar<br />
as informações oriundas das Estações Meteorológicas de<br />
Superfície (EMS) e divulgar as previsões confeccionadas.<br />
Os CMA-1 também operam em conjunto com os Centros<br />
Meteorológicos de Vigilância (CMV) no monitoramento<br />
e previsão de condições de tempo potencialmente<br />
19
Boletim SBMET novembro/05<br />
perigosas para a aviação. Constituem-se assim em<br />
células centralizadoras subordinadas ao Centro Nacional<br />
de Meteorologia Aeronáutica (CNMA), principal órgão<br />
de Meteorologia Aeronáutica do Brasil, que representa<br />
a especialidade junto à Organização da Aviação Civil<br />
Internacional (OACI).<br />
Embora o CMA-1 atue nos bastidores dos grandes<br />
aeroportos do país, conta com um elenco de profissionais<br />
altamente qualificados e abnegados, e é um dos principais<br />
personagens na missão do SISCEAB que é proteger<br />
vidas. Missão essa que é cumprida todos os dias quando<br />
o atendimento ao aeronavegante é finalizado com a frase<br />
que resume o seu objetivo: “Tenha um bom vôo!”.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
À Cristina Voltas Carrera Fogaccia, Lúcia Setiuko<br />
Tengan e Raquel Silva Lima pelo incentivo, sugestões,<br />
críticas e revisão do texto. Aos colegas de operação de<br />
CMA, por terem compartilhado comigo as experiências<br />
da rotina em Meteorologia Aeronáutica em um grande<br />
aeroporto. À SBMET, pela oportunidade de divulgar<br />
o nosso trabalho para a comunidade meteorológica<br />
brasileira.<br />
1. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Publicação de<br />
Informação Aeronáutica Brasil – AIP BRASIL. Rio<br />
de Janeiro, jul. 2005.<br />
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Manual de<br />
Centros Meteorológicos – MCA 105-12. Rio de<br />
Janeiro, nov. 2001.<br />
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Classificação<br />
dos Órgãos Operacionais de Meteorologia<br />
Aeronáutica – ICA 105-2. Rio de Janeiro, abr. 2003.<br />
20
Boletim SBMET novembro/05<br />
AS ATIVIDADES DE METEOROLOGIA AEROESPACIAL<br />
NO CENTRO TÉCNICO AEROESPACIAL (CTA)<br />
Rosa de Fátima Cruz Marques<br />
Gilberto Fernando Fisch<br />
Divisão de Ciências Atmosféricas - ACA<br />
Instituto de Aeronáutica e Espaço/Centro Técnico Aeroespacial - IAE/CTA<br />
São José dos Campos, SP - Brasil<br />
E-mails: marques@iae.cta.br e gfisch@iae.cta.br<br />
Os fenômenos meteorológicos influenciam de<br />
forma significativa nos vôos dos foguetes e/ou<br />
veículos espaciais. Estes veículos, normalmente não<br />
são projetados para suportar condições meteorológicas<br />
adversas, tais como tempestades severas, relâmpagos<br />
e descargas elétricas, ventos e cisalhamentos intensos<br />
e etc. Assim, a Divisão de Ciências Atmosféricas<br />
(ACA) desenvolve pesquisas científicas e de inovação<br />
tecnológicas em Meteorologia Aeroespacial para apoiar<br />
o projeto, desenvolvimento e lançamento de foguetes.<br />
Os foguetes de sondagem e veículos lançadores de<br />
satélite são desenvolvidos no CTA/IAE e lançados no<br />
Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)<br />
em Natal (RN) e no Centro de Lançamento de Alcântara<br />
(CLA), em Alcântara/MA.<br />
Pelo fato dos centros de lançamentos nacionais<br />
estarem situados na região norte do <strong>No</strong>rdeste do Brasil,<br />
os fenômenos estudados são aqueles característicos das<br />
regiões tropicais e equatoriais. Desta forma, são realizadas<br />
pesquisas sobre Zona de Convergência Intertropical<br />
(ZCIT), Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN),<br />
Linhas de Instabilidade, Ondas de Leste e, devido à<br />
sua posição geografia, sobre circulação de brisa, além<br />
de turbulência atmosférica. Estes sistemas produzem<br />
variações bruscas nos parâmetros meteorológicos, tais<br />
como, ventos de superfície e de altitude, intensidade<br />
de precipitação, tipo de nebulosidade, descarga<br />
atmosférica local e na vizinhança. Sendo assim, é<br />
necessário um conhecimento climatológico da região e<br />
um acompanhamento e vigilância do tempo durante as<br />
campanhas de lançamento. Outro fator importante a ser<br />
monitorado é o campo elétrico da atmosfera, associado,<br />
ou não, a descargas atmosféricas. Portanto, os foguetes<br />
precisam ser protegidos, para garantir a integridade<br />
dos sistemas aeroespaciais (subsistemas de estruturas,<br />
controle, trajetória, etc).<br />
1. OS CENTROS DE LANÇAMENTO<br />
O CLBI localiza-se na cidade de Natal/RN e<br />
possui um Setor de Meteorologia, composto de uma<br />
estação automática de superfície, uma estação de<br />
radiossondagem e uma torre anemométrica (42 metros).<br />
Em 2005 esse Centro completa 40 anos de atividades<br />
aeroespaciais e devido à proximidade da área urbana,<br />
a sua utilização hoje é somente para o lançamento<br />
de foguetes de sondagens de pequeno porte. O CLA<br />
localiza-se na costa litorânea do Maranhão, a 20 km de<br />
São Luiz do Maranhão (Figura 1), de onde são lançados<br />
os foguetes brasileiros, tais como o Veículo Lançador de<br />
Satélite (VLS) e os de Sondagens (SONDA II, SONDA<br />
III, VS30 e VS40) (Figura 2).<br />
Figura 1: Vista panorâmica do Centro de Lançamento de Alcântara.<br />
Localização geográfica: 02°33’S; 44°42’W; 49 m.<br />
21
Boletim SBMET novembro/05<br />
Figura 2: Família de foguetes do IAE.<br />
A seção de Meteorologia do CLA (SMTCLA)<br />
(Figura 3), responsável pela coleta e armazenamento<br />
de dados meteorológicos é constituída por estação<br />
meteorológica de superfície, uma torre anemométrica,<br />
um detector de campo elétrico (Electric Field Mill II) e<br />
de descarga atmosférica (TSS-928-Global Atmospherics<br />
Inc.), estação meteorológica de ar superior e uma equipe<br />
de operadores meteorologistas e por um técnico de<br />
eletrônica. A coleta de dados funciona em regime de H24<br />
com armazenamento de dados a taxas de amostragem de<br />
máxima resolução dos equipamentos e observações de<br />
superfície horárias. Os equipamentos de medição dos<br />
parâmetros meteorológicos de superfície são do tipo<br />
estações automáticas e estão instaladas no ajardinado<br />
meteorológico (Figura 4) situado ao lado do prédio da<br />
SMTCLA. A estação é composta pelos equipamentos de<br />
coleta de dados Milos500/Vaisala, Plataforma de Coleta<br />
de Dados (PCD) Squitter e pela Weather Monitor/Davis.<br />
<strong>No</strong> interior do prédio estão instalados os barômetros<br />
aneróides MK-2 e PA21-Vaisala.<br />
Figura 4: Ajardinado Meteorológico do SMTCLA.<br />
A Torre Anemométrica (TA) é uma estrutura<br />
metálica de 70 m de altura (Figura 5), constituída de<br />
sensores de direção (do tipo aerovane) e velocidade (do<br />
tipo propeller) de vento dispostos em seis níveis (6,<br />
10, 16.3, 28.5, 43 e 70 m). Estes dados são coletados<br />
por um sistema de aquisição importado (data-logger<br />
Campbell CR-7) e transmitidos ao SMTCLA via<br />
fibra ótica. Na Meteorologia são apresentados em<br />
tela de microcomputador, com transmissão direta<br />
para a Segurança de Vôo (SVO). Informações<br />
estatísticas (valores médios, desvio-padrão, velocidade<br />
média escalar, valor máximo, etc) destes dados são<br />
armazenados em intervalos de 10 minutos para cada<br />
nível da TA, para posterior análise. Além da trajetória de<br />
vôo, a SVO também monitora os parâmetros ambientais<br />
(principalmente os de vento), para assegurar-se de<br />
que não excedem os valores críticos utilizados no<br />
projeto e desenvolvimento dos veículos. Fisch (1999)<br />
apresentou algumas das principais<br />
características do perfil de vento<br />
no CLA com informações da TA,<br />
tais como: o perfil do vento segue<br />
o comportamento logaritmo, sendo<br />
que os ventos são mais intensos<br />
na época seca (valores típicos<br />
entre 5,0 a 9,0 ms -1 ) e as rajadas<br />
não apresentam variações entre os<br />
períodos chuvoso e seco.<br />
Figura 3: Seção de Meteorologia do CLA (SMTCLA).<br />
22
Boletim SBMET novembro/05<br />
2. APOIO METEOROLÓGICO ÀS CAMPANHAS DE<br />
LANÇAMENTO<br />
A atividade de apoio meteorológico nas campanhas<br />
de lançamento de foguete consiste na elaboração de<br />
um boletim diário das condições meteorológicas e<br />
o acompanhamento do tempo presente, com alerta a<br />
possíveis situações adversas ao veiculo, tais como a<br />
ocorrência de precipitação, ventos intensos de superfície<br />
e de altitude, descargas atmosféricas etc. O boletim diário<br />
é composto por informações referentes às condições de<br />
tempo reinantes na região e pela previsão do tempo para<br />
24 horas e tendência para 48 horas. Nas condições de<br />
tempo reinantes são comentados à presença de sistemas<br />
meteorológicos, nebulosidade, ventos de superfície e<br />
altitude, ocorrência de chuva e etc.<br />
Figura 5: Vista panorâmica da TA.<br />
A estação de ar superior, composta pelo sistema<br />
Digicora/Vaisala, é responsável pela coleta de dados,<br />
através de radiossondas. Realiza uma sondagem diária<br />
as 1200 UTC. Estas sondagens diárias formam o banco<br />
de dados do CLA e podem ser utilizados posterioremente<br />
para estudos climatológicos de fenômenos de interesse<br />
(Coutinho e Fisch, 2004). A SVO, antes da campanha de<br />
lançamento, calcula a trajetória nominal de vôo baseado<br />
nos dados históricos de vento (torre anemométrica<br />
e radiossondagem) do CLA. Ressalta-se que as<br />
condições meteorológicas gerais podem ser diferentes<br />
daquelas previstas pela climatologia. Assim sendo,<br />
durante a campanha de lançamento são realizadas<br />
várias radiossondagens nos horários que precedem o<br />
lançamento, que são utilizadas para ajustar ou mesmo<br />
realizar pequenas correções na trajetória de vôo.<br />
<strong>No</strong> caso do VLS (Figura 6), em que sua montagem<br />
é realizada no CLA, são realizadas várias operações<br />
que precisam ser monitoradas pelo meteorologista. Tais<br />
como, transporte de estágios, coifa, satélites, transporte<br />
de propelentes, etc entre o prédio do Setor de Preparação e<br />
a Torre Móvel de Integração (TMI). Este trajeto, de cerca<br />
de 800 m, leva em torno de 1 a 2 horas. Portanto, nestas<br />
situações são necessárias previsões meteorológicas<br />
com alto grau de confiabilidade e vigilância do tempo<br />
presente para garantir a não ocorrência de chuva e ou<br />
descargas atmosféricas durante estes procedimentos.<br />
O SMTCLA conta ainda com o Laboratório Sinótico,<br />
que compreende o Sistema de Recepção de Imagens<br />
de Satélites Meteorológico, análise dos resultados dos<br />
principais modelos numéricos de previsão disponíveis,<br />
via internet, e os softwares de análise de dados de<br />
radiossondagens e ventos de superfície, em tempo real.<br />
Figura 6: Veiculo lançador de Satélite (VLS).<br />
23
Boletim SBMET novembro/05<br />
Para uma tomada de decisão do lançamento<br />
de foguete (GO/NO GO), pela SVO, é necessário<br />
informações contínuas dos parâmetros meteorológicos,<br />
principalmente os de ventos. O conhecimento da<br />
estrutura vertical do vento (perfis médios e rajadas<br />
de vento) é de suma importância, pois os foguetes<br />
são projetados e construídos para suportarem uma<br />
determinada carga pela ação do vento. <strong>No</strong> caso do VLS,<br />
que é um veículo com quatro estágios, sofre desvio<br />
lateral em sua trajetória a ser compensado mais tarde<br />
pelo sistema de guiagem. <strong>No</strong>s foguetes de sondagem<br />
(Figura 7), por serem veículos menores, estes são<br />
mais afetados ainda em sua dispersão pelos ventos de<br />
superfície, porque a sua velocidade de decolagem ainda é<br />
relativamente baixa, mudando o azimute de lançamento<br />
pela componente lateral do vento, ou a elevação pela<br />
componente frontal. Resumindo, cada veículo possui<br />
restrições de lançamento quanto à velocidade do vento<br />
à superfície, ventos de altitude e cisalhamento.<br />
Durante a cronologia de lançamento, o momento<br />
crítico é quando as sondagens são lançadas em espaço<br />
de tempo muito curto e os dados transferidos para a<br />
Segurança de Vôo para visualização de intensidade,<br />
direção e cisalhamento do vento, através dos softwares<br />
(Sismove e Guará). A SVO também calcula o vento<br />
balístico, com dados da TA e radiossondagem, para a<br />
tomada de decisão, quando da ocorrência ou não de<br />
lançamento. Isto ocorre 2 horas e 30 minutos antes da<br />
Hora de lançamento (H0), sendo que o foguete já está na<br />
posição vertical pronto para ser lançado. Em suma, há a<br />
necessidade de se conhecer com precisão as condições<br />
de ocorrência de chuva em um raio de 80-100 km do<br />
lançador, que daria um tempo de deslocamento do<br />
sistema meteorológico em torno de 2 horas (considerando<br />
um deslocamento típico de 40 kmh -1 ). Outro ponto<br />
importante, nesta situação, é o monitoramento do<br />
desenvolvimento de nuvens que estão ocorrendo num<br />
raio inferior a 100 km, a fim de que os responsáveis pelas<br />
operações sejam avisados com antecedência suficiente<br />
para serem tomadas as providencias necessárias visando<br />
à segurança das operações.<br />
Figura 7: O foguete de sondagem VS30 Orion no lançador.<br />
<strong>No</strong>vembro de 2002.<br />
2.1. Equipe Envolvida<br />
O efetivo do SMTCLA é acrescido de um grupo<br />
qualificado da ACA (Meteorologistas, Técnicos em<br />
Meteorologia e um Engenheiro Eletrônico). A função<br />
do Técnico de Meteorologia é preparar e realizar as<br />
radiossondagens meteorológicas nos horários préestabelecidos,<br />
coletar os dados meteorológicos de apoio<br />
à previsão do tempo e calibrar e instalar equipamentos<br />
meteorológicos necessários. A função do Meteorologista/<br />
Previsor é realizar a previsão meteorológica, usando<br />
todos os recursos disponíveis.<br />
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
As atividades de apoio meteorológico ao projeto,<br />
desenvolvimento e lançamento de foguete são bem<br />
específicas e particulares, pois tem como único<br />
objetivo o sucesso de lançamento. Neste sentido, não se<br />
encontram muitas informações disponíveis na literatura<br />
mundial sobre os procedimentos operacionais nos<br />
principais Centros de lançamento mundial, tais como<br />
no Guiana Space Center (GSC), e no Kennedy Space<br />
Center (KSC). O aprendizado destas atividades ocorre,<br />
muitas vezes, através de contatos com instituições<br />
estrangeiras e treinamento sobre o assunto. As atividades<br />
24
Boletim SBMET novembro/05<br />
desenvolvidas no SMTCLA foram, ao longo dos anos,<br />
estabelecidas em função somente de interações locais,<br />
entre grupos do IAE e/ou CLA.<br />
Está sendo adquirido um radar meteorológico para<br />
o CLA, o que vai contribuir significativamente para<br />
melhorar a performance da previsão meteorológica a<br />
curto prazo (inferior a 3 horas). Sendo assim, poderá<br />
ser realizada previsão de tempo de curto prazo com alto<br />
grau de confiabilidade para uma tomada de decisão, pela<br />
SVO, com maior segurança. O radar meteorológico é<br />
um equipamento importante para esta previsão, pois,<br />
apresenta os campos de nebulosidade, principalmente<br />
relativa à ocorrência ou não de nuvens com precipitação,<br />
direção e velocidade de vento, deslocamento e<br />
características de sistemas meteorológicos.<br />
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
Atlas Climatológico do Centro de Lançamento<br />
de Alcântara (CLA). Divisão de Ciências Atmosférica<br />
(ACA)/IAE/CTA. São José dos Campos, outubro,<br />
2002.<br />
COUTINHO, E; G.FISCH. Distúrbios Ondulatórios<br />
de Leste (DOLs) na região do centro de Lançamento<br />
de Foguetes de Alcântara. XIII Congresso Brasileiro de<br />
Meteorologia, Fortaleza/CE, Soc. Bras. Meteorologia.<br />
Anais. 2004.<br />
FISCH, G. Características do perfil vertical do vento<br />
no Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara<br />
(CLA). Revista Brasileira de Meteorologia, 14(01):11-<br />
21, 1999.<br />
FISCH, G.F. Curso de Reciclagem em Tecnologia<br />
Espacial. CTA/IAE/ACA, Dez 1998, 15 p.<br />
MARQUES, R.F.C. Influência de Sistema<br />
Meteorológicos no Regime de Vento no Centro de<br />
Lançamento de Alcântara (CLA). XIII Congresso<br />
Brasileiro de Meteorologia, Fortaleza/CE, Soc. Bras.<br />
Meteorologia. Anais. 2004.<br />
PALMÉRIO, A. F. Introdução à Engenharia de<br />
Foguetes. CTA/IAE/ASE, agosto, 2002, 132 p.<br />
25
AMS – Gematronik<br />
Mais de 40 anos de experiência em<br />
Sistemas de Radar Meteorológico<br />
Para uma previsão do tempo segura e eficaz, a<br />
AMS – Gematronik oferece soluções avançadas, sofisticadas e<br />
confiáveis para seus sistemas de radares meteorológicos<br />
METEOR Doppler, além do suporte técnico para garantir a<br />
operação dos mesmos sempre com segurança e tranqüilidade.<br />
A AMS-Gematronik desenvolveu uma linha de produtos<br />
de radar meteorológico METEOR com o estado-da-arte<br />
em tecnologia, que inclui sistemas de controle inteligentes,<br />
processamento de dados e visualização, bem como sistemas<br />
de comunicação, de modo a prover o melhor sistema de<br />
gerenciamento de dados meteorológicos. Associado ao nosso<br />
sistema de treinamento e serviço de suporte permanente, a<br />
AMS – Gematronik tem o compromisso de fornecer soluções<br />
integradas para radares e sensores meteorológicos, sempre<br />
flexíveis, expansíveis, escalonáveis e com custo efetivo.<br />
Seja qual for sua necessidade, você pode estar certo<br />
de estar em boas mãos com a AMS-Gematronik.<br />
AMS - Gematronik<br />
Sistemas de Radares Meteorológicos<br />
www.ams-gematronik.com
Boletim SBMET novembro/05<br />
O PROJETO SIVAM, O SIPAM E A SUA<br />
CONTRIBUIÇÃO PARA A SEGURANÇA DA<br />
NAVEGAÇÃO AÉREA NA AMAZÔNIA LEGAL<br />
Ricardo Luiz Godinho Dallarosa;<br />
Renato Cruz Senna; Jaci Bilhalva Saraiva<br />
Divisão de Meteorologia – DMET<br />
Centro Técnico e Operacional de Manaus – CTO-MN<br />
Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM<br />
E-mails: ricardo@mn.sivam.gov.br, renato@mn.sivam.gov.br,<br />
jsaraiva@mn.sivam.gov.br<br />
A grande preocupação com a integridade territorial e<br />
com a proteção dos inestimáveis - e ainda pouquíssimo<br />
explorados - recursos hídricos, minerais e genéticos<br />
da Região Amazônica, em associação com a grande<br />
vulnerabilidade regional ditada pela sua baixa densidade<br />
demográfica, fizeram surgir na esfera do Poder Executivo<br />
brasileiro, na década de 90, um ambicioso projeto<br />
de vigilância e proteção dessa imensa região e suas<br />
extraordinárias riquezas. Alicerçado por um fabuloso<br />
aparato tecnológico, de sensores e de comunicações, e<br />
com o objetivo de gerar, reunir e fornecer informações<br />
que permitissem integrar as diversas<br />
instituições regionais e nacionais atuantes<br />
nas áreas de pesquisa, proteção ambiental<br />
e vigilância territorial na região, no sentido<br />
de otimizar o planejamento de suas distintas<br />
atividades, surgiu o Projeto SIVAM (Sistema<br />
de Vigilância da Amazônia). Foi apresentado<br />
publicamente pela primeira vez durante a II<br />
Conferência Mundial para o Meio Ambiente<br />
e Desenvolvimento (ECO-92), realizada no<br />
Rio de Janeiro em junho de 1992.<br />
A princípio polêmico por seu gigantismo<br />
e sistematicamente contestado pelo seu<br />
elevado custo econômico, desde a sua<br />
instalação o Projeto vem consolidando a cada<br />
dia a sua importância na consecução do objetivo que<br />
o originou. Um grande esforço foi despendido na área<br />
de proteção ambiental com a concepção do SIPAM<br />
(Sistema de Proteção da Amazônia), contemplando<br />
segmentos estratégicos importantes para o planejamento<br />
do uso sustentável desse frágil ambiente, como é o caso<br />
da Meteorologia. Nesse contexto, foram instaladas<br />
ao longo da região setenta (70) novas estações<br />
meteorológicas automáticas de superfície, onze (11)<br />
estações de radiossondagem, além de dez (10) radares<br />
meteorológicos, proporcionando uma cobertura de<br />
coleta de dados meteorológicos bastante significativa e<br />
promissora. A Figura 1 mostra a distribuição dos sensores<br />
de meteorologia do SIPAM na Amazônia Legal.<br />
Figura 1: Distribuição espacial das estações radares meteorológicos<br />
(ERM), estações de superfície (EMS) e estações de altitude (EMA)<br />
do SIPAM.<br />
27
Boletim SBMET novembro/05<br />
Dividido em três (03) Centros Técnicos Operacionais<br />
(CTO - MN / BE / PV), distribuídos nas capitais<br />
Manaus (AM), Belém (PA) e Porto Velho (RO), com<br />
suas Divisões de Meteorologia (DMETs), as quais têm<br />
a função, entre outras, de armazenar, tratar e disseminar<br />
esses dados na forma de produtos de Meteorologia, o<br />
SIPAM constituiu-se, no curto espaço de tempo de<br />
sua existência, numa instituição de referência para a<br />
meteorologia regional.<br />
O povoamento dos segmentos operacionais nos<br />
CTOs, que previa a requisição à órgãos federais de servidores<br />
públicos com as correspondentes competências,<br />
esbarrou nas dificuldades desses órgãos em ceder servidores<br />
em virtude do longo período a que estiveram<br />
submetidos sem a possibilidade de realizar concursos,<br />
constituindo-se num ponto nevrálgico na implantação<br />
do sistema. Isso estimulou a utilização de contratações<br />
terceirizadas como forma de se buscar uma solução alternativa<br />
que permitisse prosseguir com o planejamento<br />
da inadiável busca da condição operacional.<br />
A formação de uma equipe de meteorologistas<br />
experientes e qualificados na DMet-MN teve a<br />
indispensável colaboração da Direção Geral do SIPAM<br />
e da Gerência Regional de Manaus, cuja sensibilidade<br />
permitiu reunir meteorologistas com reconhecida<br />
experiência em distintas áreas (sistemas, comunicação,<br />
meteorologia dinâmica, climatologia, modelagem, etc)<br />
contemplando a estratégia proposta de uma desejável<br />
multidisciplinaridade na formação desses profissionais,<br />
que reúne atualmente sete (07) meteorologistas - dentre<br />
os quais três (03) doutores - e cinco (05) técnicos<br />
cursando terceiro grau e com boa experiência na área<br />
de informática. Paralelamente, teve início um processo<br />
de atualização e desenvolvimento de produtos de<br />
meteorologia ainda inexistentes quando da elaboração<br />
do projeto, mas imprescindíveis para a necessária<br />
equiparação dos serviços com aqueles dos demais<br />
centros de meteorologia operacional do país.<br />
Na esteira destas ações foi instaurada a operação<br />
expandida com uma nova formatação de trabalho,<br />
onde as atividades passaram a ser desenvolvidas<br />
durante o período entre as 07 e as 23 horas ao longo<br />
dos sete dias da semana, o que conferiu maior fôlego<br />
à atuação do segmento junto aos principais parceiros e<br />
demais usuários. Todo esse esforço teve como reflexo<br />
a ampliação da capacidade de atendimento a demandas<br />
até então mantidas reprimidas, resultando numa maior<br />
visibilidade do órgão junto à sociedade e suas forças<br />
representativas. Como resposta, emergiu um ambiente<br />
propício à consagração de projetos de cooperação<br />
com importantes parceiros que permitiram a exigida<br />
atualização do seu parque de informática.<br />
Historicamente, desde a inauguração do CTO-MN,<br />
ocorrida em meados de 2002, o principal parceiro<br />
da Meteorologia do SIPAM tem sido a Aeronáutica,<br />
não apenas pela sua patente proximidade física, mas<br />
principalmente pela existência de objetivos comuns<br />
e até mesmo complementares. O CINDACTA IV,<br />
recentemente inaugurado, comunga espaço com o CTO<br />
formando um grande complexo arquitetônico próximo<br />
ao aeroporto de Manaus. Dessa forma, todos os produtos<br />
de meteorologia definidos no projeto original têm sido<br />
sistematicamente disponibilizados em tempo real para<br />
os segmentos de meteorologia dos Serviços Regionais<br />
de Proteção ao Vôo (SRPVs), além de produtos<br />
especiais gerados na DMet-MN, conforme é destacado<br />
mais adiante.<br />
1. A ATUAÇÃO NA SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO<br />
AÉREA<br />
Dentre os diversos produtos de meteorologia<br />
disponíveis aos vários segmentos da sociedade, os<br />
alertas meteorológicos ganharam um destaque especial.<br />
São produtos de previsão de curto e curtíssimo prazo,<br />
destinados à Defesa Civil e ao Controle de Tráfego<br />
Aéreo (ATC) do Serviço Regional de Proteção ao Vôo<br />
(SRPV). À Defesa Civil os principais recursos utilizados<br />
têm suporte essencial no monitoramento do tempo por<br />
imagens de radar meteorológico, enquanto para o ATC<br />
os alertas se valem das imagens de satélite (GOES-<br />
12 e NOAA-12-15-16-17) como suporte ao envio de<br />
cartas de risco diretamente ao console do controlador de<br />
tráfego (Figura 2), produzidas sobre imagens de satélite<br />
(no caso, da plataforma GOES-12, canal infravermelho),<br />
onde as áreas em azul indicam temperaturas mais baixas<br />
(verificadas em nuvens com topo mais elevado) e maior<br />
concentração de vapor d’água.<br />
28
Boletim SBMET novembro/05<br />
Figura 3: Número total mensal de cartas de risco enviadas ao ATC<br />
(SRPV-MN), em 2005.<br />
Figura 2: Carta de risco meteorológico produzida sobre imagem<br />
de satélite.<br />
Após identificar as áreas de possíveis riscos à<br />
navegação aérea, os técnicos da DMet, através da<br />
utilização de recursos específicos do software de<br />
meteorologia disponível (ESYMET), cercam essas áreas<br />
com polígonos irregulares e identificam brevemente<br />
esses riscos, geram o correspondente arquivo de envio<br />
e encaminham ao controlador de tráfego. Este dispõe<br />
de um monitor onde aparecem as rotas e as posições<br />
das aeronaves em trânsito no momento, sobre o<br />
qual recebe apenas os polígonos acompanhados do<br />
código do tipo fenômeno associado, o que permite<br />
definir conjuntamente com o piloto da aeronave os<br />
correspondentes procedimentos de segurança a serem<br />
adotados em cada caso.<br />
A Figura 3 apresenta o total mensal de intervenções<br />
(envios) destinadas ao ATC efetuadas no ano de 2005,<br />
até o mês de outubro, evidenciando a importância do<br />
serviço prestado. Foram realizadas ao todo cerca de<br />
611 intervenções, 74% das quais ocorreram nos meses<br />
da estação chuvosa, entre janeiro e maio (451). Esses<br />
números são bastante significativos, principalmente<br />
levando-se em conta que a região apresentou neste<br />
período (2005) uma das maiores estiagens da sua história<br />
tendo, como conseqüência óbvia, uma correspondente<br />
sensível redução no número de ocorrências.<br />
Outro sensor do SIPAM bastante utilizado pela<br />
meteorologia da Aeronáutica é o radar meteorológico.<br />
Para este parceiro, os principais produtos do sensor radar<br />
são as imagens CAPPI (Constant Altitude Plan Polar<br />
Indicator) e PPI (Plan Polar Indicator), que constituem<br />
importantes ferramentas na identificação e localização<br />
de fenômenos presentes na área de cobertura das antenas<br />
dos radares meteorológicos (Manual do Operador<br />
FROG VIS). São produtos constituintes das receitas<br />
operacionais dos radares do SIPAM, gerados a cada<br />
intervalo de 10 minutos e que mostram a presença de<br />
alvos meteorológicos (nuvens) no raio de alcance (400<br />
km) da antena em diferentes alturas pré-determinadas<br />
(no caso, PPI com elevação de 0° e CAPPI a 2 km de<br />
altura).<br />
A Figura 4 apresenta ambos os produtos com<br />
visualização através do software de visualização Colibri<br />
(FROG VIS), instalado nas máquinas do Centro de<br />
Controle e Operação dos Radares Meteorológicos do<br />
SIPAM, na DMet/MN e em fase de aquisição pelo<br />
SRPV-MN. A régua de cores, posicionada verticalmente<br />
na extremidade direita do quadro das imagens, apresenta<br />
uma variação de cores desde o azul (baixa concentração<br />
de vapor) até o vermelho (alta concentração).<br />
Relativamente às medidas dos ecos, estas cores indicam<br />
registros que vão desde 0 a 90 dbz ou mais, sendo que<br />
acima de 35/40 dbz (faixa do laranja) já identificam<br />
ocorrência de precipitação no local.<br />
<strong>29</strong>
Boletim SBMET novembro/05<br />
Figura 4: Produtos PPI (400 km) e CAPPI (250 km), do radar de Porto Velho, conforme visualizados pelo Colibri.<br />
Relativamente ao sensor radar meteorológico está<br />
em estudo uma proposta de integração entre as unidades<br />
do SIPAM e da Aeronáutica, contemplando uma<br />
receita operacional mínima comum e a correspondente<br />
uniformização dos seus horários de operação. Os radares<br />
meteorológicos constituem a área de desenvolvimento<br />
mais promissora do segmento de meteorologia do<br />
sistema e devem, brevemente, receber uma atenção<br />
especial atendendo proposta de criação de um Núcleo<br />
de Radares Meteorológicos, com a formação de um<br />
grupo exclusivamente dedicado.<br />
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
FROG VIS Operator’s Manual. Edition 1, Revision<br />
1, by GAMIC, Aachen, Germany, 2002, 90 p.<br />
TERASCAN Software Trainig Guide,. Revision<br />
E., by SeaSpace Corporation, Poway/CA, USA, 2000,<br />
230 p.<br />
Weather Information Processing Operator’s<br />
Course. Ed by Raytheon Company, Dallas/TX, USA,<br />
2001, 122 p.<br />
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A original apreensão inicial quanto ao sucesso desse<br />
ousado e complexo projeto, conduzida pela inexistência<br />
de um paradigma que oferecesse a ansiada segurança de<br />
obtenção de êxito, foi-se desvanecendo com a produção<br />
e evolução natural dos seus segmentos operacionais<br />
onde coube à meteorologia desempenhar o seu papel.<br />
O sentimento de que o SIPAM ocupa um importante<br />
espaço no cenário amazônico e a expectativa de contínua<br />
expansão dos seus recursos e produtos originalmente<br />
previstos, faz do mesmo um substantivo e natural<br />
ambiente de convergência dos anseios por soluções a<br />
questionamentos regionais até então dispersos, o que<br />
confere ao sistema uma responsabilidade e um desafio à<br />
altura da sua pretendida abrangência, a Amazônia Legal<br />
Brasileira.<br />
30
Boletim SBMET novembro/05<br />
ACIDENTES AÉREOS ASSOCIADOS À CONDIÇÕES<br />
METEOROLÓGICAS ADVERSAS E MELHORIA<br />
CONTÍNUA DOS SISTEMAS DAS AERONAVES<br />
Ney Ricardo Moscati (*)<br />
Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. – EMBRAER<br />
Av. Brigadeiro Faria Lima, 2170 – São José dos Campos – SP CEP: 12227-901<br />
E-mail: ney.moscati@embraer.com.br<br />
O desenvolvimento dos sistemas das aeronaves para<br />
operação civil (propulsão, comunicação, navegação,<br />
elétrico, hidráulico, pressurização, comandos de vôo,<br />
trem de pouso, piloto automático, proteção de gelo,<br />
entre outros) está diretamente relacionado ao processo<br />
de certificação da aeronave. <strong>No</strong> Brasil, a autoridade<br />
certificadora é o Centro Técnico Aeroespacial (CTA),<br />
representado pelo Instituto de Fomento e Coordenação<br />
Industrial (IFI), com sua respectiva regulamentação<br />
definida através do Regulamento Brasileiro de<br />
Homologação Aeronáutica (RBHA). <strong>No</strong>s Estados<br />
Unidos da América (EUA) a autoridade certificadora<br />
é o Federal Aviation Administration (FAA) e respectivo<br />
Federal Aviation Regulations (FAR), enquanto na<br />
Europa é a European Aviation Safety Agency (EASA)/<br />
Joint Aviation Authorities (JAA) e respectivo Joint<br />
Aviation Regulations (JAR).<br />
Um dos importantes instrumentos utilizados para<br />
aumentar a segurança do transporte aéreo é a análise<br />
e entendimento de seus acidentes e incidentes. <strong>No</strong><br />
Brasil, as investigações são coordenadas pelo Centro<br />
de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos<br />
(CENIPA), órgão central do Sistema de Investigação<br />
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER),<br />
subordinado diretamente ao Estado-Maior de Aeronáutica<br />
(EMAER). O CENIPA é responsável por promover a<br />
segurança da atividade aérea do país, por intermédio do<br />
gerenciamento das tarefas de investigação e prevenção<br />
de acidentes, incidentes aeronáuticos e ocorrências de<br />
solo. Muitas vezes o resultado dessas análises resulta<br />
na alteração dos regulamentos de certificação. Este<br />
processo propiciou ao transporte aéreo a posição de<br />
ser um dos meios de transporte mais seguro. <strong>No</strong> Brasil,<br />
como referência, no ano de 2004 houve uma média de<br />
3,74 acidentes por milhão de decolagens de aeronaves<br />
de massa acima de 27.200 kg (CENIPA/DAC, 2005).<br />
Identificar a causa de um acidente aéreo é atividade<br />
complexa, uma vez que diversos fatores, ou mesmo uma<br />
combinação destes, podem provocar um acidente. Podese<br />
citar como os fatores causadores de acidentes aqueles<br />
relacionados ao controle de trafego aéreo, controle em<br />
solo, operação da tripulação, manutenção, qualidade<br />
da manufatura, projeto da aeronave e condições<br />
atmosféricas. As condições atmosféricas consideradas<br />
neste trabalho são: condições que resultam no acúmulo<br />
de gelo sobre as superfícies externas da aeronave,<br />
descargas elétricas, windshear (tesoura de vento),<br />
condições de baixa visibilidade provocada por neblina,<br />
turbulência e tempestade. Nas investigações das causas<br />
dos acidentes podem ser utilizadas informações da<br />
“caixa preta” (contendo dados de voz e de vôo) e de<br />
radar em solo (trajetória), resultados de simulações,<br />
da análise de destroços, da análise de procedimentos<br />
operacionais e de manutenção, entre outros. <strong>No</strong> site<br />
do CENIPA (http://www.cenipa.aer.mil.br) são<br />
encontradas estatísticas de acidentes da aviação civil,<br />
envolvendo aeronaves de matrícula brasileira, ocorridos<br />
em território nacional e no exterior. Também, no site<br />
do DAC (www.dac.gov.br/estatisticas) é disponível<br />
estatísticas de acidentes aeronáuticos por tipo de<br />
(*) As informações contidas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não da EMBRAER.<br />
31
Boletim SBMET novembro/05<br />
operação (regular, agrícola, instrução, taxi aéreo,<br />
privados, públicos), entre outros assuntos relacionados.<br />
<strong>No</strong>s EUA, as investigações são conduzidas pelo<br />
National Transport Safety Board (NTSB), uma agência<br />
federal independente, encarregada pelo Congresso de<br />
investigar todos os acidentes da aviação civil ocorridos<br />
nos EUA, emitindo recomendações de segurança com<br />
o objetivo de prevenir futuros acidentes. Também,<br />
com o objetivo de promover análises e uma troca de<br />
informações relativas à segurança de aeronaves visando<br />
uma melhoria contínua da segurança na aviação, o FAA<br />
criou o National Aviation Safety Data Analysis Center<br />
(NASDAC).<br />
O objetivo deste trabalho é apresentar algumas<br />
estatísticas que correlacionam acidentes aéreos com<br />
condições meteorológicas adversas e como o projeto<br />
dos sistemas das aeronaves evoluíram de forma a evitálos.<br />
Por fim, apresenta-se um glossário de alguns termos<br />
técnicos utilizados na indústria aeronáutica (grafados ao<br />
longo do texto em caixas em tom de cinza).<br />
1. ACIDENTES AÉREOS RELACIONADOS COM<br />
CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS<br />
Um estudo realizado pelo NASDAC utilizando<br />
a base de dados de acidentes do NTSB no período de<br />
1994 a 2003 constatou que:<br />
a) 21,3 % dos acidentes têm como causa ou<br />
contribuição as condições meteorológicas (vento,<br />
visibilidade/altura da camada de nuvens, turbulência,<br />
gelo, altitude barométrica, precipitação, tempestade,<br />
windshear);<br />
b) O número de acidentes e a correlação com<br />
a condição atmosférica dependem fortemente da<br />
categoria de operação da aeronave. A Tabela 1 apresenta<br />
os acidentes aeronáuticos relacionados com condições<br />
meteorológicas por categoria de operação. As Tabelas<br />
2 e 3 apresentam o número de eventos por categoria de<br />
condição meteorológica para aviação geral (categoria de<br />
operação FAR Parte 91) e para aviação doméstica, de<br />
bandeira e suplementar (categoria de operação FAR Parte<br />
121), respectivamente. Vale ressaltar que um acidente<br />
pode envolver múltiplas condições atmosféricas;<br />
c) 41,2% de todos os acidentes relacionados às<br />
condições meteorológicas não mostram registro<br />
de conhecimento prévio do piloto das condições<br />
meteorológicas presentes;<br />
d) Embora o total anual de acidentes tenha diminuído<br />
no período estudado, a porcentagem dos acidentes<br />
relacionados com condições atmosféricas adversas<br />
em relação ao total anual de acidentes permaneceu<br />
praticamente constante.<br />
Tabela 1: Acidentes relacionados com condições meteorológicas, por categoria de operação.<br />
CATEGORIA DE OPERAÇÃO<br />
TOTAL DE EVENTOS<br />
Aviação Geral (FAR Parte 91) 3.617<br />
Operações Complementares e por Demanda (FAR Parte 135) 257<br />
Operação de Aviação Agrícola (FAR Parte 137) 141<br />
Operações Domésticas, de Bandeira e Suplementares (FAR Parte 121) 116<br />
Uso Público 19<br />
Operação de Aeronaves de Asas Rotativas com Cargas Externas (FAR Parte 133) 7<br />
Operação de Empresas Estrangeiras (FAR Parte 1<strong>29</strong>) 7<br />
Outros (não nos EUA, Comercial e Veículos Ultraleve (FAR Parte 103)) 3<br />
Total 4.167<br />
FONTE: http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.<br />
32
Boletim SBMET novembro/05<br />
Tabela 2: Eventos por categoria de condição meteorológica para categoria de operação de aviação geral (FAR Parte 91).<br />
CATEGORIA DE CONDIÇÃO METEOROLÓGICA<br />
TOTAL DE EVENTOS<br />
Vento 2.514<br />
Visibilidade/Altura da camada de nuvens 977<br />
Turbulência 371<br />
Gelo 350<br />
Altitude barométrica 347<br />
Precipitação 208<br />
Tempestade 94<br />
Windshear 59<br />
Outros (não nos EUA, Comercial e Veículos Ultraleve (FAR Parte 103) 7<br />
Total 4.927<br />
FONTE:http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.<br />
Tabela 3: Eventos por categoria de condição meteorológica para categoria de operações doméstica, de bandeira e suplementares<br />
(FAR Parte 121).<br />
CATEGORIA DE CONDIÇÃO METEOROLÓGICA<br />
TOTAL DE EVENTOS<br />
Turbulência 92<br />
Vento 11<br />
Precipitação 8<br />
Tempestade 3<br />
Visibilidade/Altura da camada de nuvens 3<br />
Altitude barométrica 2<br />
Windshear 2<br />
Outros 2<br />
Gelo 1<br />
Total 124<br />
FONTE:http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.<br />
Especificamente relativo a acidentes em que uma das<br />
causas pode ser atribuída a ocorrência de turbulência,<br />
um estudo da NASDAC realizado no período 1992 a<br />
2001 constatou que (NASDAC, 2004):<br />
a)<br />
b)<br />
23% dos acidentes resultaram em mortes de<br />
ocupantes da aeronave;<br />
Os acidentes da Aviação Geral (FAR Parte 91)<br />
relacionados com turbulência, reduziram em<br />
cerca de 60% no período estudado;<br />
c)<br />
d)<br />
O NTSB cita as correntes de ar descendentes como<br />
a causa ou o fator mais freqüente em acidentes da<br />
aviação geral;<br />
A Turbulência de Ar Claro (do inglês, Clear<br />
Air Turbulence) freqüentemente foi citada nos<br />
acidentes de operação doméstica, de bandeira e<br />
suplementares (FAR Parte 121).<br />
33
Boletim SBMET novembro/05<br />
1.1. Acidentes Associados ao Acúmulo de Gelo em<br />
Superfícies Externas de Aeronaves e Sistemas de<br />
Proteção de Gelo<br />
A operação da aeronave pode ser afetada através do<br />
acúmulo de gelo: a) nas asas e superfícies, degradando<br />
a sustentação, controlabilidade e aumentando o arrasto;<br />
b) em sensores para medir velocidade, altitude e ângulo<br />
de ataque, resultando em erros nas medidas; c) no<br />
parabrisa, degradando a visibilidade; d) na entrada de<br />
ar dos motores, uma vez que a ingestão de gelo pelo<br />
motor pode causar danos no compressor ou nas pás<br />
do primeiro estágio do motor e pode causar alterações<br />
no escoamento de ar, resultando em degradação de<br />
desempenho; entre outros. A Tabela 4 apresenta a<br />
relação de alguns acidentes catalogados pelo NTSB,<br />
ocorridos nos últimos 20 anos, onde o acúmulo de gelo<br />
foi considerado como um dos fatores responsáveis pelo<br />
acidente. Nessa tabela destaca-se a fase do vôo em que<br />
ocorreu o acidente e o número de mortes.<br />
Baseado na análise desses acidentes, o NTSB tem<br />
alertado sobre os perigos do acúmulo de gelo na superfície<br />
superior das asas, e considerou necessária a revisão<br />
da maneira pelas quais as aeronaves são projetadas e<br />
certificadas para operar em condições de gelo. Também<br />
recomendou modificações nos regulamentos relativos<br />
aos requisitos de aeronavegabilidade de aviões da<br />
categoria normal, utilidade, acrobático e transporte<br />
regional (FAR Parte 23) e de aviões da categoria<br />
transportes (FAR Parte 25).<br />
Tabela 4: Acidentes relacionados ao acúmulo de gelo.<br />
Data do<br />
acidente<br />
Companhia<br />
Aérea/vôo<br />
Modelo de<br />
aeronave<br />
Local do acidente Referência (*) Fase de vôo<br />
(nº de mortes)<br />
28/11/2004 Air Castle Bombardier<br />
Challenger 604<br />
04/01/2002 Epps Air Service<br />
Inc.<br />
Bombardier<br />
Challenger 604<br />
Montrose, Colorado,<br />
EUA<br />
DEN05MA028<br />
Birmingham, Inglaterra AAIB 5/2004<br />
(EW/C2002/1/2)<br />
Decolagem<br />
(3)<br />
Decolagem<br />
(5)<br />
09/01/1997 Commair - 3272 EMB-120RT Monroe, Michigan,<br />
EUA<br />
31/10/1994 American Eagle<br />
– 4184<br />
ATR 72-212<br />
Roselawn, Indiana,<br />
EUA<br />
22/03/1992 US Air – 405 Fokker F-28 Aeroporto de<br />
Laguardia, Flushing,<br />
New York, EUA<br />
NTSB/<br />
AAR-98-04<br />
NTSB/<br />
AAR-96-01<br />
NTSB/<br />
AAR-93-02<br />
Cruzeiro<br />
(<strong>29</strong>)<br />
Cruzeiro<br />
(68)<br />
Decolagem<br />
(27)<br />
17/02/1991 Ryan International<br />
Airlines<br />
DC-9-15<br />
Cleveland-Aeroporto<br />
Internacional Hopkins,<br />
Cleveland, Ohio, EUA<br />
NTSB/<br />
AAR-91-09<br />
Decolagem<br />
(2)<br />
1987 a<br />
2003<br />
26 acidentes<br />
envolvendo<br />
Cessna 208<br />
Cessna 208 Diversos locais NTSB/<br />
A04-64-67<br />
DCA02MA003<br />
26 acidentes<br />
(36)<br />
(*) O signifi cado das siglas são: AAR (Aircraft Accident Report), A (Safety Recommendation) e DCA/DEN (identificação do acidente).<br />
FONTE: NTSB (2004, 2005a, b).<br />
34
Boletim SBMET novembro/05<br />
Para proteger a aeronave dos efeitos do acúmulo de<br />
gelo, deve-se identificar quais superfícies e sensores<br />
devem ser protegidos e através de qual sistema.<br />
Os sistemas de proteção de gelo são classificados<br />
como: a) sistemas anti-gelo, que evitam o acúmulo de<br />
gelo através de uma operação contínua; b) sistemas<br />
de degelo, que quando acionados removem o gelo<br />
acumulado. É importante ressaltar que a energia<br />
disponível para acionar esses sistemas é limitada, o<br />
que pode ditar, em um projeto, qual o mecanismo de<br />
proteção que será utilizado. Para o desenvolvimento<br />
do projeto do sistema de proteção de gelo, devem-se<br />
considerar as características operacionais da aeronave<br />
e as condições meteorológicas, definidas no Apêndice C<br />
do FAR Parte 25.<br />
A física básica do fenômeno de formação e acúmulo<br />
de gelo nas superfícies externas de aeronaves é baseada<br />
no fenômeno de metaestabilidade (onde um estado de<br />
não-equilíbrio pode permanecer por algum tempo), tal<br />
que dentro de uma nuvem podem-se encontrar gotas<br />
de água líquida super resfriada, onde as temperaturas<br />
estejam abaixo do ponto de congelamento. A passagem<br />
da superfície aerodinâmica pode criar condições para<br />
que gotas de água se congelem nas superfícies da<br />
aeronave.<br />
O acúmulo de gelo, basicamente, é função dos<br />
seguintes fatores: quantidade de água líquida (Liquid<br />
Water Content – LWC, expressa em gm -3 ) presente<br />
na atmosfera local, velocidade e ângulo de ataque da<br />
aeronave, geometria da asa, diâmetro das gotas de<br />
água líquida, temperatura local e tempo de exposição<br />
da aeronave à uma determinada condição atmosférica.<br />
Estatísticas mostram que para determinados tipos<br />
de nuvens existe uma relação definida entre LWC,<br />
temperatura, altitude barométrica e diâmetro de gotas.<br />
O Apêndice C do FAR Parte 25 apresenta, para as<br />
condições de “nuvem stratus/exposição contínua” e<br />
“nuvem cúmulus/exposição intermitente”, as seguintes<br />
relações: a) LWC em função do diâmetro médio das<br />
gotas e temperatura; b) temperatura versus altitude<br />
barométrica; c) Fator LWC versus extensão horizontal<br />
da nuvem. A condição operacional da aeronave<br />
também é fundamental nesta análise, pois, caracteriza<br />
a configuração (flap/slat), velocidade, ângulo de ataque<br />
e altitude.<br />
Cebeci e Kafyeke (2003) apresentam os métodos<br />
de cálculo para: a) predição de crescimento de gelo; b)<br />
auxiliar no projeto de sistemas de anti-gelo e de-gelo; c)<br />
determinar os efeitos no desempenho da aeronave. Estes<br />
métodos, associados à ensaios em túnel de vento, túnel<br />
de gelo e ensaios em vôo, permitem reduzir o tempo e<br />
os custos de certificação. Parte da campanha de ensaio<br />
em vôo pode ser realizada através da fixação de gelo<br />
artificial, feitos de isopor, resina e/ou lixa. Esta última,<br />
usada para simular os efeitos da formação de gelo em<br />
suas fases iniciais, quando este altera a rugosidade<br />
da superfície aerodinâmica, nos bordos de ataque das<br />
superfícies de sustentação, conforme as formas preditas<br />
em simulação ou verificadas em túnel de gelo. Nestes<br />
ensaios é possível determinar o efeito do acúmulo de<br />
gelo no coeficiente de sustentação e controlabilidade da<br />
aeronave. Na Figura 1, a título de exemplo, apresentase<br />
alguns resultados de simulação computacional e<br />
experimental em túnel de vento/gelo obtidos por Cebeci<br />
e Kafyeke (2003).<br />
Figura 1: Simulação de crescimento de gelo no bordo de ataque<br />
da asa.<br />
FONTE: Adaptada de Cebeci e Kafyeke (2003).<br />
Entretanto, conforme Cebeci e Kafyeke (2003),<br />
ainda existem muitos desafios na simulação de<br />
formação de gelo em aeronaves. Pela própria<br />
natureza física do fenômeno, este tende a ser caótico,<br />
pois repetições dos experimentos não resultam em<br />
formações idênticas. Segundo os autores, as principais<br />
razões para este comportamento são: a) os caminhos da<br />
água sobre a superfície são altamente imprevisíveis e<br />
35
Boletim SBMET novembro/05<br />
afeta fortemente a formação do gelo; b) A rugosidade<br />
da superfície tem um papel relevante na formação de<br />
gelo e varia significativamente quando o gelo começa<br />
a se acumular; c) A densidade do gelo é função do ar<br />
capturado na formação de gelo, podendo variar muito<br />
de um caso para outro.<br />
Vale ressaltar que parte da campanha de ensaios de<br />
certificação deve ser realizada com gelo natural. Devido<br />
aos custos elevados das campanhas de ensaio em vôo e<br />
da dificuldade de se encontrar condições específicas de<br />
gelo, muitas vezes utiliza-se os serviços de especialistas<br />
para prever o momento e a localização da ocorrência das<br />
condições de gelo. Estes especialistas são conhecidos<br />
como caçadores de gelo (do inglês, ice hunter).<br />
Conforme a Advisory Circular (AC) 20-73, material<br />
complementar interpretativo dos requisitos do FAA,<br />
existem basicamente quatro tipos de sistemas anti-gelo<br />
e degelo usados para proteger as superfícies expostas<br />
das aeronaves::<br />
a)<br />
Sistemas baseados em ar quente: usado na maior<br />
parte dos grandes jatos de transporte, devido à<br />
maior disponibilidade de ar quente proveniente<br />
dos motores, de sua eficiência e confiabilidade.<br />
Tipicamente o ar quente é usado para prevenir ou<br />
remover o acúmulo de gelo nas bordas das asas<br />
e dispositivos hipersustentadores (slats da asa),<br />
superfícies dos estabilizadores e entrada de ar dos<br />
motores;<br />
d)<br />
muitas aplicações devido a grande quantidade de<br />
fluido necessária e a possibilidade de entupimento<br />
do sistema de controle de fluido. Vale lembrar<br />
que é mandatório em condições de acúmulo de<br />
gelo ou neve, antes da decolagem, o degelo das<br />
superfícies através do spray manual de fluidos<br />
anti-gelo pela equipe de solo;<br />
Sistemas mecânicos: através de um sistema<br />
pneumático ou elétrico, consistem em expandir<br />
um material flexível que quebra e remove<br />
mecanicamente o gelo acumulado. Este tipo<br />
de sistema foi amplamente utilizado no bordo<br />
de ataque das asas e empenagem em aeronaves<br />
com motor a pistão e turbo-hélices. <strong>No</strong>te-se que<br />
estes sistemas geralmente não são aplicáveis para<br />
as hélices, onde o desbalanceamento pode ser<br />
crítico.<br />
Para a detecção de gelo, utiliza-se frequentemente um<br />
sensor eletromecânico, onde uma pequena haste, com<br />
alto coeficiente de coleta de gelo, instalada na aeronave,<br />
oscila na sua freqüência natural. Ao se acumular gelo<br />
na haste, a freqüência natural de oscilação é reduzida e<br />
através da mudança da freqüência, pode-se determinar a<br />
massa de gelo acumulada na haste. Geralmente o detector<br />
de gelo apresenta uma saída discreta (condição de gelo<br />
/ condição de NÃO gelo). Desta forma, definindo-se um<br />
limiar para a freqüência, pode-se definir a condição de<br />
gelo da aeronave.<br />
b)<br />
c)<br />
36<br />
Sistemas baseados em resistências elétricas:<br />
usado em vários tipos de aeronaves. Podem ser<br />
sistemas de degelo ou anti-gelo, dependendo<br />
do consumo durante a operação. Desta forma,<br />
limitam-se a pequenas áreas da aeronave ou<br />
sensores como parabrisa, portas estáticas, tubo<br />
de pitot, e sensores situados na área externa do<br />
avião, sensíveis ao acúmulo de gelo;<br />
Sistemas líquidos: sistemas que utilizam glycol<br />
(um álcool anti-congelante) e outras substâncias<br />
químicas foram desenvolvidos para sistemas<br />
anti-gelo e degelo para painéis das asas, radomes<br />
e parabrisa. Sistemas de pressão associados a<br />
materiais porosos e de spray foram também<br />
desenvolvidos. Estes sistemas não encontraram<br />
1.2. Acidentes associados a descargas atmosféricas<br />
e sua proteção<br />
As descargas atmosféricas são descargas elétricas de<br />
grande intensidade que podem ocorrer internamente a<br />
uma nuvem, entre nuvens, e entre nuvem e solo. A corrente<br />
elétrica (centenas de amperes) resulta na geração de altas<br />
temperaturas (algumas dezenas de milhares de graus),<br />
altas pressões (dezenas de atmosferas) ao longo de sua<br />
trajetória, além da criação de campos eletromagnéticos.<br />
As descargas podem variar em termos da corrente,<br />
energia, características no tempo, tais como tempo<br />
de subida e repetição de pulsos. Maiores informações<br />
sobre descargas atmosféricas estão disponíveis no site<br />
da Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas<br />
Atmosféricas (RINDAT)(http://www.rindat.com.br).
Boletim SBMET novembro/05<br />
Os principais riscos envolvidos quando uma<br />
aeronave é atingida por raios são: ignição do vapor<br />
de combustível dos motores, falhas e danos em<br />
equipamentos eletro/eletrônicos incluindo sistemas de<br />
comunicação, navegação, elétrico, controle e atuadores,<br />
dano mecânico, entre outros. Considera-se como efeito<br />
direto aqueles associados aos danos ocorridos no ponto<br />
de contato da descarga elétrica e efeitos indiretos àqueles<br />
associados à tensões elétricas transitórias induzidas na<br />
aeronave devido a mudanças no campo eletromagnético<br />
e a passagem da corrente elétrica pela aeronave, que<br />
possui certa resistência elétrica. As estatísticas mostram<br />
que se pode considerar que cada aeronave é atingida<br />
por uma descarga atmosférica uma vez por ano (Serra,<br />
2003). Embora o número de acidentes relacionados com<br />
descargas elétricas tenha reduzido consideravelmente<br />
nas últimas décadas, este assunto torna-se relevante<br />
nas aeronaves mais modernas devido ao uso crescente<br />
de materiais compostos, geralmente mais leves, e de<br />
sistemas digitais em funções críticas. Devido à sua<br />
menor condutividade elétrica os materiais compostos<br />
reduzem a proteção geralmente obtida com alumínio,<br />
material usado anteriormente.<br />
Exemplos de sistemas digitais utilizados em<br />
aeronaves modernas são: a) controle dos motores através<br />
do Full Authority Digital Engine Control (FADEC), b)<br />
controle de superfícies de comando primário através da<br />
tecnologia conhecida por Fly By Wire (FBW), c) sistemas<br />
de comunicação e navegação, d) sistema elétrico, entre<br />
outros. Os níveis de potência reduzidos utilizados nestes<br />
sistemas vêm tornando seus circuitos potencialmente<br />
mais susceptíveis a tensões e correntes induzidas,<br />
podendo resultar em mau funcionamento, falha ou até<br />
dano permanente em componentes eletrônicos.<br />
A Divisão de Segurança de Aeronaves e Aeroportos<br />
(Airport and Aircraft Safety R&D Division) do<br />
FAA (AAR 400) tem realizado pesquisas relativas à<br />
descargas atmosféricas. A Tabela 5 apresenta alguns<br />
acidentes aéreos onde as descargas atmosféricas foram<br />
consideradas como um dos fatores responsáveis pelo<br />
acidente. Após a análise de dois acidentes aéreos em<br />
particular, mudanças significativas ocorreram nos<br />
requisitos de certificação. O primeiro deles ocorreu em<br />
1963, quando um Boeing 707 caiu após ter sido atingido<br />
por um raio, com conseqüente ignição do combustível<br />
da asa esquerda, e o segundo, em 1976, de um Boeing<br />
747 que também caiu devido à mesma causa.<br />
Tabela 5: Acidentes relacionados às descargas atmosféricas.<br />
Data do<br />
acidente<br />
Companhia<br />
Aérea - vôo<br />
Modelo de<br />
aeronave<br />
Local do<br />
acidente<br />
Referência (Relatórios de<br />
várias fontes)<br />
Fase de vôo<br />
(nº de mortes)<br />
04/12/2003 Kato Air – 603 Dornier<br />
228-202<br />
Bodoe,<br />
<strong>No</strong>ruega<br />
Avisa <strong>No</strong>rdland<br />
Pouso<br />
(0)<br />
08/02/1988 Nurnberger<br />
Flugdienst – NFD<br />
Swearing<br />
SA.227AC<br />
Metro III<br />
Mulheim,<br />
Alemanha<br />
ICAO Adrep Summary<br />
2/90 (#32)<br />
Aproximação<br />
(21)<br />
09/05/1976 Iran Air Force Boeing<br />
747-131F<br />
Madrid,<br />
Espanha<br />
NTSB<br />
AAR-78-12<br />
Aproximação<br />
(17)<br />
24/12/1971 Líneas Aéreas<br />
Nacionales – 508<br />
Lockheed<br />
L-188ª Electra<br />
Puerto Inca,<br />
Peru<br />
N/A<br />
Cruzeiro<br />
(91)<br />
08/12/1963 Pan American<br />
World Airlines<br />
Boeing<br />
707-121<br />
12/08/1963 Air Inter Vickers<br />
Viscount<br />
FONTE: http://www.airdisaster.com e http://aviation-safety.net.<br />
Elkton,<br />
Maryland, EUA<br />
Lyon, França<br />
NTSB - DCA64A003<br />
ICAO Accident Digest<br />
<strong>No</strong>.15 - <strong>Volume</strong> II, Circular<br />
78-AN/66 (179-185)<br />
Holding<br />
(81)<br />
Aproximação<br />
(20)<br />
37
Boletim SBMET novembro/05<br />
Para proteger a aeronave de descargas elétricas,<br />
devem-se seguir as seguintes etapas (AC 20-136):<br />
a)<br />
Determinar as regiões da aeronave mais propensas<br />
para entrada e saída das descargas elétricas.<br />
Essas regiões variam de aeronave para aeronave<br />
e dependem essencialmente de sua geometria,<br />
material utilizados e fatores operacionais;<br />
correntes descendentes de ar, geralmente associados<br />
a condições de tempestade e precipitações leves com<br />
nuvens convectivas. Entretanto, também podem<br />
ocorrer em condições relativamente secas de chuvas<br />
leves ou virga (precipitação que evapora antes de<br />
atingir a superfície da terra). Observações sugerem<br />
que aproximadamente 5% das tempestades produzem<br />
microburst.<br />
b)<br />
c)<br />
d)<br />
e)<br />
f)<br />
g)<br />
Estabelecer as características da descarga elétrica,<br />
no que se refere à intensidade da corrente e<br />
forma de onda (tempo de subida e decaimento).<br />
A regulamentação aeronáutica define algumas<br />
formas de ondas consideradas representativas das<br />
condições normais de operação;<br />
Determinar os caminhos prováveis da corrente<br />
elétrica e conseqüentes tensões elétricas e campo<br />
eletromagnético na aeronave;<br />
Identificar todos os sistemas e equipamentos<br />
críticos/essenciais e suas respectivas localizações<br />
de instalação na aeronave;<br />
Estabelecer os níveis aceitáveis quanto a<br />
transientes dos equipamentos e sistemas.<br />
Projetar a proteção reduzindo os transientes em<br />
tensão elétrica através da análise do roteamento,<br />
blindagem e aterramento da cablagem e<br />
equipamentos, diminuindo a susceptibilidade<br />
dos equipamentos aos transientes e instalação de<br />
dispositivos como diodos de avalanche, varistores<br />
e filtros;<br />
Verificar a eficiência da proteção através de testes<br />
em laboratório e com a aeronave em solo.<br />
Na Figura 2, apresentam-se de maneira simplificada<br />
e genérica o movimento da massa de ar e os vórtices<br />
gerados quando o microburst ocorre próximo ao solo.<br />
Quando a aeronave encontra-se na posição A, ocorre um<br />
aumento da velocidade em relação ao ar e conseqüente<br />
ganho de sustentação. Na posição B, podem-se encontrar<br />
massas de ar descendentes com velocidades de até<br />
3000 pés.min-1. Variações rápidas nestas velocidades<br />
podem aumentar significativamente a carga de trabalho<br />
do piloto, devido a eventuais disparos do shaker. Na<br />
posição C, ocorre uma perda de velocidade em relação<br />
ao ar e conseqüente perda de sustentação. É importante<br />
mencionar que alguns sensores/instrumentos são<br />
susceptíveis a estes vórtices, tais como portas estáticas<br />
(altitude barométrica), tubo de pitot (velocidade) e<br />
sensor de ângulo de ataque, apresentando algumas vezes<br />
indicações incorretas. A Tabela 6 relaciona os acidentes<br />
associados a condições de windshear.<br />
1.3. Acidentes associados a windshear e sistemas<br />
associados<br />
Entende-se por windshear as variações rápidas<br />
na velocidade ou direção do vento (AC 00-54). Este<br />
fenômeno está frequentemente associado a microburst,<br />
um fenômeno caracterizado por fortes e concentradas<br />
Figura 2: Microburst de baixa altitude.<br />
FONTE: Adaptado da AC 00-54.<br />
38
Boletim SBMET novembro/05<br />
Tabela 6: Acidentes relacionados à windshear.<br />
Data do<br />
acidente<br />
Companhia<br />
Aérea - vôo<br />
Modelo de<br />
aeronave<br />
Local do acidente<br />
Referência<br />
(Relatórios do<br />
NTSB)<br />
Fase de vôo<br />
(nº de mortes)<br />
02/07/1994 USAir McDonnell<br />
Douglas DC-9-30<br />
Charlotte- Douglas<br />
Airport, NC<br />
AAR-95/03<br />
Aproximação<br />
(37)<br />
02/08/1985 Delta Air Lines Lockheed L-1011<br />
TriStar<br />
Dallas-Fort Worth,<br />
Texas, EUA<br />
AAR-86/05<br />
Aproximação<br />
(134)<br />
09/07/1982 Pan American<br />
World Airways<br />
Boeing-727<br />
Kenner, Lousiana,<br />
EUA<br />
AAR-83/02<br />
Decolagem/<br />
subida (145)<br />
12/06/1980 Air Winsconsin Swearingen 226<br />
Metroliner(SW-4)<br />
Nebraska, EUA DCA80AA019 Aproximação<br />
(13)<br />
04/04/1977 Southern<br />
Airways<br />
DC-9<br />
New Hope, Geórgia,<br />
EUA<br />
DCA77AA015<br />
Aproximação<br />
(62)<br />
23/06/1976 Allegheny<br />
Airlines<br />
McDonnell<br />
Douglas DC-9-30<br />
Philadelphia, Pennsylvania,<br />
EUA<br />
AAR-78-02<br />
Aproximação<br />
(0)<br />
17/12/1973 Iberia McDonnell<br />
Douglas DC-10<br />
Boston, Massachusetts,<br />
EUA.<br />
AAR-74-14<br />
Pouso<br />
0)<br />
23/07/1973 Ozark Airlines Fairchild FH-227 St. Lousi, Missouri,<br />
EUA<br />
FONTE: Safety Recomendation do NTSB de 18 de junho de 1990.<br />
AAR-74-05<br />
Aproximação<br />
(38)<br />
Baseado nos acidentes listados na Tabela 6,<br />
identificou-se as seguintes áreas como relevantes<br />
na prevenção de acidentes associados a windshear:<br />
1) melhoria da capacidade de detecção, através de<br />
radares especiais em solo, previsão e comunicação aos<br />
pilotos de condições de windshear de baixa altitude<br />
nas proximidades dos aeroportos, 2) treinamento dos<br />
pilotos em condições de windshear, incluindo sessões<br />
de simulador, 3) Equipar a aeronave de forma a auxiliar<br />
o piloto na detecção e manobra de recuperação da<br />
condição de windshear.<br />
Baseado nestas recomendações foram desenvolvidos<br />
os seguintes sistemas nas aeronaves:<br />
b)<br />
de sensores inerciais e sensores anemométricos,<br />
identificam a entrada (aumento de vento de<br />
proa) e saída (aumento de vento de cauda) do<br />
windshear, bem como vento descendente (vide<br />
Figura 2). Estes algoritmos têm como saída<br />
indicações aurais e visuais na cabine. Estes<br />
sistemas permitem a identificação da condição<br />
de windshear em intervalos de tempo reduzidos<br />
permitindo ações corretivas por parte do piloto;<br />
Sistema de prevenção de windshear, através do<br />
radar da aeronave. Alguns tipos de windshear<br />
apresentam padrões característicos, que permitem<br />
identificá-los com antecedência;<br />
a)<br />
Sistema de detecção de windshear que, através<br />
de algoritmos implementados em software e<br />
hardware que utilizam informações em tempo real<br />
c)<br />
Sistema de guiagem em condições de windshear<br />
que, através de algoritmos que gerenciam a<br />
energia da aeronave, otimizam a manobra<br />
de recuperação. O índice de desempenho<br />
39
Boletim SBMET novembro/05<br />
40<br />
utilizado envolve a minimização da perda de<br />
altitude durante o windshear. Basicamente estes<br />
algoritmos privilegiam a trajetória, permitindo<br />
excursões de velocidade e garantem que em caso<br />
de choque com o solo, a energia cinética seja<br />
minimizada. A manobra de recuperação pode<br />
ser realizada tanto através do piloto automático<br />
quanto através do piloto seguindo manualmente<br />
uma guiagem disponibilizada pelo algoritmo.<br />
A AC 00-54 trata em detalhe dos casos de encontro<br />
da aeronave com uma condição de windshear durante<br />
as fases de pouso ou decolagem e faz basicamente as<br />
seguintes recomendações:<br />
a)<br />
b)<br />
c)<br />
A melhor prevenção é evitar o encontro da<br />
aeronave com a condição de windshear, pois se<br />
pode chegar a uma condição além da capacidade<br />
de desempenho da aeronave (tração dos motores<br />
e sustentação), tornando-se impossível evitar o<br />
choque da aeronave com o solo;<br />
Deve-se reduzir ao máximo o tempo de<br />
reconhecimento da condição de windshear, pois,<br />
durante o pouso ou a decolagem um atraso de<br />
poucos segundos neste reconhecimento pode<br />
resultar no choque da aeronave com o solo;<br />
A manobra de recuperação deve privilegiar<br />
a manutenção da trajetória da aeronave à<br />
manutenção da velocidade.<br />
1.4. Operação de Aeronaves em Baixa Visibilidade<br />
Para que uma companhia aérea possa manter os vôos<br />
nos horários pré-determinados durante todo o ano e,<br />
portanto, possa se manter num mercado cada vez mais<br />
competitivo, faz-se necessário ser capaz de operar as<br />
aeronaves em condições de baixa visibilidade, condição<br />
esta provocada pela ocorrência de neblina. Consideramse,<br />
nestes casos, as fases de decolagem e pouso.<br />
Duas definições são importantes na operação de<br />
aeronaves em condições de baixa visibilidade:<br />
1.<br />
Altura de decisão, definida como a altura,<br />
2.<br />
durante a aproximação/pouso de precisão,<br />
na qual se deve iniciar um procedimento de<br />
arremetida caso não se tenha estabelecido a<br />
referência visual necessária para continuar a<br />
aproximação.<br />
Runway Visual Range (RVR) ou alcance<br />
visual de pista, que indica a distância em<br />
metros ou pés, na qual o piloto de uma<br />
aeronave no centro da pista consegue ver as<br />
marcações da pista, ou as luzes que delineiam<br />
a pista, ou ainda a linha de centro de pista<br />
em condições de baixa visibilidade. O RVR<br />
ao longo da pista é determinado através de<br />
medições obtidas utilizando instrumentos<br />
posicionados próximos à pista (zona de<br />
toque da aeronave, meio e fim da pista) que,<br />
através da comparação de um sinal ótico<br />
emitido e recebido, permite a determinação<br />
da opacidade da atmosfera no momento.<br />
Definem-se três Categorias de operação (CAT) em<br />
condições de baixa visibilidade (AC 120-28D, Anexo 6<br />
do ICAO – IS&RP):<br />
CAT I: Aproximação e pouso de precisão através de<br />
instrumentos com altura de decisão não menor que 60 m<br />
e visibilidade não menor que 800 m, ou RVR não menor<br />
que 550 m;<br />
CAT II: Aproximação e pouso de precisão através de<br />
instrumentos com altura de decisão menor que 60 m e<br />
não menor que 30 m, e RVR não menor que 350 m;<br />
CAT III A: Aproximação e pouso de precisão através<br />
de instrumentos com altura de decisão menor que 30 m,<br />
ou sem altura de decisão e RVR não menor que 200 m;<br />
CAT III B: Aproximação e pouso de precisão através<br />
de instrumentos com altura de decisão menor que 15 m,<br />
ou sem altura de decisão e RVR entre 200 m e 50 m;<br />
CAT III C: Aproximação e pouso de precisão através<br />
de instrumentos sem altura de decisão e sem limitações<br />
de RVR.<br />
A principal diferença entre as operações CAT I, CAT
Boletim SBMET novembro/05<br />
II e CAT III, é que nas operações CAT I e CAT II existem<br />
condições visuais que permitem um pouso manual na<br />
altura de decisão, enquanto que na operação CAT III,<br />
não existem tais condições, fazendo-se necessário um<br />
sistema automático de pouso ou um sistema de guiagem.<br />
<strong>No</strong> caso de pouso automático, embora o sistema realize<br />
o pouso totalmente automático sem intervenção do<br />
piloto, o piloto deve monitorar continuamente o pouso<br />
para, em caso de necessidade, intervir imediatamente.<br />
O primeiro pouso comercial em condições CAT III A,<br />
através de um sistema automático de pouso ocorreu em<br />
janeiro de 1969 com uma aeronave Caravelle, em um<br />
vôo de Lyon/Paris. Em seguida, as seguintes aeronaves<br />
foram certificadas para operação CAT III A: Trident e<br />
Boeing 747 em 1971, Concorde em 1975 e AirBus A<br />
300 em 1974. Em 1983 o Airbus A310 e em 1984 o<br />
A300-600, foram certificados para operação CAT III B.<br />
<strong>No</strong> Brasil, o Embraer 170, fabricado pela EMBRAER,<br />
foi certificado para operação CAT III A em dezembro<br />
de 2005.<br />
Para que a linha aérea possa operar nas categorias de<br />
operação citadas anteriormente, é necessário que:<br />
1) O aeroporto esteja equipado e certificado. Os<br />
principais sistemas disponíveis são: sistema para pouso<br />
por instrumento (Instrument Landing System – ILS),<br />
sistema para pouso por microondas (Microwave<br />
Landing System – MLS) e sistema para pouso por<br />
Global Positioning System (GPS) / Global Navigation<br />
Satellite System (GNSS) (GPS/GNSS Landing System<br />
– GLS). Vale lembrar que os sistemas ILS e MLS<br />
podem fornecer informações para sistemas de guiagem<br />
de decolagem em baixa visibilidade. O sistema ILS,<br />
mais comum, é composto basicamente por:<br />
d)<br />
conforme Figura 3a. Os markers beacons, num<br />
total de três, localizados em distâncias padrões<br />
(interno, médio e externo) a 1000 pés, 3500 pés e<br />
6 milhas da cabeceira da pista, respectivamente,<br />
fornecem ao piloto informações quanto à distância<br />
à pista. A aeronave ao passar pelos feixes, gera<br />
indicações aurais e visuais na cabine;<br />
sistema de luzes de aproximação para a pista para<br />
fornecer orientação visual ao piloto (Figura 3b).<br />
2) A aeronave esteja equipada e certificada. Para o<br />
caso de sistema ILS, a aeronave deve estar equipada<br />
com uma antena e um receptor de rádio de navegação<br />
de forma que o sistema da aeronave determina o desvio<br />
lateral da linha de centro da pista através do sinal de<br />
LOC e o desvio na vertical através do sinal de GS,<br />
conforme Figuras 3a e 3c.<br />
3) A tripulação esteja treinada, através de treinamento<br />
periódico em vôo ou simulador de vôo.<br />
4) O operador esteja homologado, mantendo os<br />
procedimentos de vôo, tripulação treinada e a aeronave<br />
sob programas de manutenção específicos.<br />
a)<br />
b)<br />
c)<br />
sinal de Localizer (LOC), de freqüência entre<br />
108.1 MHz e 111.95 MHz e abertura angular<br />
de 3º a 6º, que se estende até cerca de 18 milhas<br />
(Figura 3a);<br />
sinal de Glide Slope (GS), de freqüência entre<br />
3<strong>29</strong>.15 MHz até 335 MHz, com inclinação em<br />
torno de 3º (Figura 3c);<br />
VHF markers beacons, feixes cônicos de rádio,<br />
com freqüência de 75 MHz, orientados para cima,<br />
(a)<br />
Figura 3: Sistema ILS: a) Sinal de LOC; b) Sistema de luzes; c)<br />
Sinal de GS.<br />
(b)<br />
(c)<br />
41
Boletim SBMET novembro/05<br />
De forma análoga, para o caso de decolagem em<br />
baixa visibilidade (em inglês Low Visibility Takeoff<br />
(LVTO)) com RVR abaixo de 400 m, é necessário que<br />
o aeroporto esteja equipado com sistema que permita a<br />
determinação do desvio da aeronave do centro da pista<br />
(sinal de LOC (ILS), ou MLS, ou GLS/GNSS) e sistema<br />
de luzes na pista para orientação visual do piloto.<br />
Também, que a aeronave esteja equipada e certificada, a<br />
tripulação esteja treinada e o operador homologado para<br />
este tipo de operação.<br />
O sistema de decolagem em baixa visibilidade<br />
deve prover informações de guiagem lateral que, se<br />
seguidas pelo piloto, manterá a aeronave no centro<br />
da pista durante a corrida na pista na aceleração até a<br />
decolagem ou desaceleração até a parada em caso de<br />
uma decolagem interrompida.<br />
Destaca-se o sistema de guiagem conhecido por<br />
Head Up Display (HUD) que, através de um sistema de<br />
projeção, permite ao piloto ter a visão externa através da<br />
janela dianteira simultaneamente à guiagem.<br />
1.5. Radares Meteorológicos e Operação de<br />
Aeronaves em Condições de Precipitação e Extremos<br />
de Temperatura<br />
A melhor estratégia na aviação em relação às<br />
tempestades é evitá-las (AC 00-24B). Desta forma, as<br />
aeronaves de transporte são equipadas com sistema<br />
de radar meteorológico, que consiste de um painel de<br />
controle, um transmissor, um receptor, uma antena<br />
e um monitor. O painel de controle é utilizado para<br />
se selecionar os modos de operação do radar. O sinal<br />
de radar é emitido pela antena e o sinal de retorno do<br />
radar é função do tamanho e do número de gotículas<br />
da precipitação, tal que, quanto maior as partículas<br />
e o número delas, maior o sinal de retorno. A antena<br />
instalada no nariz da aeronave e protegida pelo radome<br />
permite tipicamente uma varredura lateral de cerca de ±<br />
60º e uma inclinação vertical, selecionada pelo piloto, de<br />
± 15º e alcance selecionável de 10 a 300 milhas náuticas.<br />
Em função da intensidade do sinal de retorno, o monitor<br />
apresenta uma graduação de cores permitindo ao piloto<br />
identificar a posição e a intensidade da precipitação/<br />
formação de nuvem. Estes radares permitem também<br />
identificar alguns tipos de turbulências e windshear.<br />
Na operação de aeronaves de transporte em<br />
condições de precipitação destacam-se os requisitos<br />
relativos ao desempenho: das turbinas em caso de<br />
ingestão de grandes quantidades de água, dos sistema<br />
de freios em condições de pista molhada (sistemas que<br />
evitam o travamento das rodas (conhecidos em inglês<br />
como sistema antiskid) e do limpador de parabrisa para<br />
garantir a visibilidade do piloto.<br />
Quanto à operação de aeronaves em condições<br />
extremas de temperatura, destacam-se os testes de<br />
partida dos sistemas eletro-eletrônicos e motores<br />
em baixas temperaturas (dezenas de graus Celsius<br />
negativos), onde aspectos como viscosidade de fluídos<br />
hidráulicos de atuadores, lubrificantes e combustível se<br />
tornam relevantes. Estes testes podem ser realizados em<br />
locais como Alasca ou em câmaras específicas, onde a<br />
aeronave é colocada para a realização dos ensaios. Em<br />
relação à operação em altas temperaturas, destacamse<br />
os aspectos relativos aos sistemas de refrigeração<br />
da aeronave, dos equipamentos e dos componentes<br />
eletroeletrônicos.<br />
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Neste trabalho apresentou-se uma visão geral de<br />
como os sistemas das aeronaves evoluíram de forma<br />
a permitirem a operação de aeronaves em condições<br />
atmosféricas adversas mantendo elevados níveis de<br />
segurança. Isso se deve, em parte, a estreita interação<br />
entre as autoridades certificadoras como CTA, FAA<br />
e EASA, os requisitos de certificação, as agências de<br />
investigação como CENIPA e NTSB e a indústria<br />
aeronáutica. O assunto é bastante extenso, com<br />
informações de qualidade sendo disponíveis na internet<br />
em sites especializados, alguns deles listados no item 5.<br />
42
Boletim SBMET novembro/05<br />
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AC 00-54: Pilot Windshear Guide.<br />
AC 20-73: Aircraft Ice Protection.<br />
AC 20-136: Protection of Aircraft electrical<br />
systems against the indirect effects of lightning.<br />
AC 120-28D: Criteria for approval of Category III<br />
weather minima for takeoff, landing, and rollout.<br />
AC 20-124: Water ingestion testing for turbine<br />
powered airplanes.<br />
AC 00-24B: Thunderstorms.<br />
CENIPA. Estatísticas apresentadas no Site do<br />
CENIPA. 2005. Atualizado em 06/12/2005.<br />
(http://www.cenipa.aer.mil.br)<br />
4. GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS USADOS NA<br />
INDÚSTRIA AERONÁUTICA<br />
Ângulo de ataque: É o ângulo formado entre a corda<br />
do perfil da asa e a direção de escoamento do ar (Figura<br />
4). A sustentação que a asa fornece é função direta do<br />
ângulo de ataque, tal que, ângulos de ataque maiores,<br />
fornecem maior sustentação, até o limite onde ocorre<br />
o stall da asa, caracterizado pelo descolamento do<br />
escoamento da asa e conseqüente perda de sustentação.<br />
Flap e slat: São superfícies hipersustentadoras<br />
articuladas na asa que aumentam a sustentação e o<br />
arrasto da asa quando estendidas. O fl a p é articulado no<br />
bordo de fuga da asa e o slat no bordo de ataque da asa<br />
(Figura 4). São geralmente estendidos na fase de pouso<br />
e decolagem, para permitir a sustentação da aeronave<br />
em velocidades mais baixas.<br />
Cebeci, T.; Kafyeke, F. Aircraft Icing. Annu. Rev.<br />
Fluid Mech, 35:11-21, 2003.<br />
NTSB. Advisory. Dec. <strong>29</strong>, 2004.<br />
NTSB. Most Wanted Transportation Safety<br />
Improvements 2005-2006 a.<br />
NTSB. Safety Alert - Aircraft Icing (SA –06). Mar.<br />
2005 b.<br />
NASDAC, FAA Office of System Safety. Review of<br />
Aviation Accidents Involving Weather Turbulence in<br />
the Unites States 1992 –2001. Aug. 2004, [Reference<br />
Number: 04-551], (www.nasdac.faa.gov).<br />
<strong>No</strong>tas do Curso Safety Assesment of Aircraft<br />
Systems. V-6, ministrado pelo Prof. Paulo R. Serra, jul.<br />
2003.<br />
Figura 4: Perfil da asa, Ângulo de Ataque, Flap e Slat.<br />
Portas estáticas: São sensores geralmente instalados<br />
na lateral da aeronave, onde o escoamento de ar é mais<br />
uniforme, utilizados para medir a pressão estática e<br />
conseqüentemente a altitude barométrica.<br />
Tubo de pitot: São sensores, utilizados para medir a<br />
velocidade da aeronave em relação ao ar.<br />
Shaker: É o dispositivo instalado nas aeronaves,<br />
onde a aproximação da aeronave do stall não é evidente,<br />
que através de um atuador vibra o manche para alertar o<br />
piloto da proximidade do stall. Geralmente a atuação do<br />
shaker é função do ângulo de ataque.<br />
43
Boletim SBMET novembro/05<br />
Radome – <strong>No</strong> nariz das aeronaves de grande porte,<br />
é comum a instalação de diversas antenas como: antena<br />
de GS, LOC e radar meteorológico. A estrutura que<br />
protege estas antenas, geralmente de material composto,<br />
e que na prática da forma ao nariz da aeronave, é<br />
conhecida por radome. O radome deve ter basicamente<br />
as seguintes características: não atenuar os sinais,<br />
resistência mecânica quanto à impacto, protegida quanto<br />
a descargas elétricas e forma aerodinâmica.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
O autor agradece a revisão e os comentários de<br />
Eduardo Borges (item sobre Sistemas de Proteção<br />
de Gelo), Marcos Antonio Viana Tavares (item sobre<br />
Operação de Aeronaves em Baixa Visibilidade),<br />
Maurício de Paula Velloso (item sobre Proteção à<br />
Descargas Elétricas) e dos revisores anônimos.<br />
5. SITES PARA CONSULTA<br />
Airdisaster:<br />
Aviation Safety Network:<br />
CENIPA:<br />
CTA:<br />
DAC:<br />
EASA:<br />
FAA:<br />
ICAO:<br />
JAA:<br />
NASDAC:<br />
NTSB:<br />
RINDAT/INPE:<br />
http://www.airdisaster.com/<br />
http://aviation-safety.net<br />
http://www.cenipa.aer.mil.br<br />
http://www.cta.br/<br />
http://www.dac.gov.br<br />
http://www.easa.eu.int/home/index.html<br />
http://www.faa.gov/<br />
http://www.icao.int/index.html<br />
http://www.jaa.nl<br />
http://www.nasdac.faa.gov<br />
http://www.ntsb.gov/<br />
http://www.rindat.com.br ou<br />
http://www.inpe.br<br />
44
Boletim SBMET novembro/05<br />
OS PERIGOS DO VENTO PARA A AVIAÇÃO<br />
Maurici A. Monteiro, Daniel S. Calearo, Marcelo Martins e Anderson Monteiro<br />
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. - EPAGRI<br />
Centro de Informações de Recursos Hídricos e de Hidrometeorologia de Santa Catarina - CIRAM<br />
Rod. Admar Gonzaga 1347, Itacorubi, Florianópolis, SC, CEP 88034-901<br />
E-mails: monteiro@epagri.rct-sc.br, calearo@epagri.rct-sc.br,<br />
marcelomartins@epagri.rct-sc.br, andersoncanona@ig.com.br<br />
RESUMO<br />
As condições atmosféricas no sul do Brasil são influenciadas por uma grande diversidade de fenômenos<br />
atmosféricos, os quais ocasionam muitas variações nas condições de tempo. Nas operações aéreas, as maiores<br />
influências ocorrem através da passagem de sistemas frontais, os quais além de causar condições de tempo<br />
severas, com trovoada e chuva forte, na maioria das vezes, também estão relacionados à ocorrência do fenômeno<br />
windshear (cisalhamento do vento). O windshear está associado a uma mudança de direção e intensidade do<br />
vento em vários níveis da atmosfera. Neste trabalho, analisa-se dois eventos significativos de windshear no<br />
Aeroporto Internacional Hercílio Luz (AIHL), em Florianópolis, nos dias 23 de março de 2005 e 25 de abril de<br />
2005.<br />
Palavras-chave: Windshear, METAR, operações aéreas.<br />
ABSTRACT<br />
The atmospheric conditions over South of Brazil are influenced by a great diversity of phenomena that cause<br />
many variations in the weather conditions. In the airborne operations the biggest influences occur through the<br />
penetration of frontal systems, which cause severe weather conditions, with both thunderstorm and intense<br />
precipitations. In the majority of the times, they are associated with the occurrence of the phenomenon windshear.<br />
Windshear is associated with direction and intensity changes of the wind in some levels of the atmosphere. In<br />
this work we analyze two significant windshear events one in the International Airport Hercílio Luz (AIHL) of<br />
Florianópolis, on March 23, 2005 and other on April 25, 2005.<br />
Key words: Windshear, METAR, airborne operations.<br />
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS<br />
A dinâmica atmosférica do Sul do Brasil é bastante<br />
intensa no decorrer do ano. Em condições normais, ou<br />
seja, sem influências de fenômenos como o El-Niño, La<br />
Niña e de bloqueios atmosféricos, é comum a passagem<br />
de 3 a 4 frentes frias durante o mês, em média, por<br />
Santa Catarina (Rodrigues, 2003). Além das passagens<br />
das frentes frias, outros sistemas atmosféricos, como<br />
Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) (Duquia<br />
e Silva Dias, 1994), Vórtices Ciclônicos em altos níveis<br />
(Lourenço et al., 1996), ciclones extratropicias (Gan e<br />
Rao, 1991), entre outros, modificam constantemente a<br />
direção e a intensidade dos ventos na região.<br />
Quando uma frente fria está em deslocamento pelo<br />
sul do Brasil, predominam inicialmente ventos do<br />
quadrante norte, oriundos do Anticiclone Subtropical<br />
do Atlântico Sul (ASAS). Assim que a frente fria passa<br />
sobre uma determinada localidade, os ventos viram<br />
para o quadrante sul, sob influência do anticiclone<br />
extratropical, geralmente sobre a Argentina. Essa<br />
45
Boletim SBMET novembro/05<br />
mudança de um quadrante para outro, não ocorre ao<br />
mesmo tempo em todos os níveis da atmosfera, ou seja,<br />
variações de direção e intensidade já são observadas<br />
em poucos metros de altitude. Essa variação que ocorre<br />
tanto na vertical como na horizontal é conhecida na<br />
aviação como windshear.<br />
A intensidade desse fenômeno depende<br />
principalmente da velocidade de escoamento do ar e<br />
da interferência do relevo. A velocidade do vento vai<br />
depender do gradiente de pressão formado entre a frente<br />
fria (área alongada de baixa pressão) e os dois sistemas<br />
de alta pressão envolvidos. Quanto maior for a diferença<br />
de pressão, mais intensos tornam-se os ventos e mais<br />
severa a intensidade do windshear, também conhecido<br />
como tesoura de vento, cortante de vento e gradiente de<br />
vento. A interferência do relevo é muito importante na<br />
intensificação do fenômeno, pois reforça o cisalhamento<br />
que já existe na passagem da frente fria.<br />
Essa conjugação entre o escoamento formado pelo<br />
gradiente de pressão e o efeito orográfico tem sido<br />
observada em alguns aeroportos do Brasil. <strong>No</strong> Aeroporto<br />
Internacional de São Paulo/Guarulhos, um dos mais<br />
movimentados do Brasil, quando ocorre uma situação<br />
pré-frontal, gerando ventos do quadrante norte, surge<br />
um efeito típico de onda de montanha, originado pela<br />
presença de elevações montanhosas a aproximadamente<br />
4,5 km ao norte do aeroporto. Isto resulta em um<br />
turbilhonamento do vento, o qual vai de encontro às<br />
aeronaves que estão na aproximação e subida inicial do<br />
aeródromo (Cabral e Farias, 1992; Santos et al., 1996).<br />
Na superfície, essas variações de vento são<br />
caracterizadas como rajadas e, por vezes, quando muito<br />
intensas causam alguns prejuízos materiais. <strong>No</strong> caso<br />
de uma aeronave, esta pode ter complicações em vôo,<br />
especialmente quando estiver em procedimento para<br />
pouso ou decolagem.<br />
Em termos de antecedentes, o windshear<br />
sempre trouxe problemas para a aviação, porém foi,<br />
provavelmente, a partir do exame detalhado do Flight<br />
Recorder (caixa preta) de uma aeronave da Eastern<br />
Airlines que caiu em junho de 1975, a poucos metros<br />
da cabeceira 22L do Aeroporto John F. Kennedy, em<br />
<strong>No</strong>va Iorque, que se verificou de maneira mais concreta<br />
tanto sua presença quanto sua importância como causa<br />
principal ou contribuinte de inúmeros acidentes. Após<br />
esse fato houve novas investigações de acidentes<br />
aeronáuticos antigos, inicialmente atribuídos a erros<br />
dos pilotos, que na realidade tinham esse importante<br />
fenômeno meteorológico por trás dos episódios. A<br />
conclusão dessas investigações foi que no período de<br />
1964 a 1986 houve 32 acidentes e incidentes aeronáuticos<br />
em âmbito mundial, que tiveram como causa principal<br />
ou fator contribuinte o windshear, resultando na morte<br />
de mais de 600 pessoas e 250 feridos (Cabral, 2005).<br />
Em aviação, o fenômeno pode ocorrer em todas as<br />
fases de vôo, entretanto, é particularmente perigoso em<br />
baixos níveis, nas fases de aproximação, pouso e subida<br />
inicial, em face da limitação de altitude e de tempo para<br />
manobra das aeronaves (Figura 1).<br />
<strong>No</strong> Aeroporto Internacional Hercílio Luz<br />
(AIHL) em Florianópolis, Santa Catarina,<br />
ocorre também interferência do relevo no fluxo<br />
dos ventos. Segundo Ditteberner (2001), “... o<br />
morro do Ribeirão, a S do aeroporto, e o morro<br />
do Cambirela, situado a SW, contribuem na<br />
modifi cação do fl uxo de ar em baixos níveis. Essa<br />
modifi cação resulta em movimentos turbulentos<br />
de ar, ocasionando dificuldades para pouso e<br />
decolagem no aeroporto. Essa turbulência é<br />
resultante, na maioria das vezes, por ventos do<br />
quadrante S, após a passagem de uma frente<br />
fria” (p. 5).<br />
46<br />
Figura 1: Interferência na rota de pouso provocada por windshear.<br />
Fonte:http://paginas.terra.com.br/servicos/vnw/ventonw/windshear2.html.
Boletim SBMET novembro/05<br />
O fenômeno leva a um significativo ganho ou<br />
perda de sustentação das aeronaves, com pouquíssimo<br />
tempo (da ordem de alguns poucos segundos) para sua<br />
recuperação. O cisalhamento do vento pode causar<br />
diferentes efeitos nas aeronaves, como turbulência,<br />
que provoca mal estar aos passageiros. Dependendo da<br />
intensidade da turbulência, a aeronave pode arremeter<br />
e isso é uma operação que leva os motores (turbinas)<br />
a um esforço extraordinário com risco de pane. Além<br />
do risco de acidente, ao arremeter, a aeronave segue<br />
para a alternativa (outro local escolhido para pouso)<br />
e obviamente ocorrem transtornos para a tripulação e<br />
todos os passageiros.<br />
As causas do windshear podem ter várias origens:<br />
cumulonimbus com presença de trovoadas, sistemas<br />
frontais, pancadas de chuva, correntes de jato de baixos<br />
níveis, ventos fortes em superfície, brisas marítima e<br />
terrestre, ondas de montanha, linhas de instabilidade e<br />
fortes inversões de temperatura, entre outras (Cabral e<br />
Romão, 2005).<br />
2. OS ACIDENTES AERONÁUTICOS E O<br />
WINDSHEAR<br />
Um dos mais notáveis acidentes aeronáuticos<br />
relacionados com windshear ocorreu em 02 de agosto<br />
de 1985 no Aeroporto de Dallas-Fort Worth, no Texas,<br />
Estados Unidos, que resultou em 135 pessoas mortas<br />
(Cabral e Romão, 2005).<br />
Esse vôo era o de número 191, da empresa Delta<br />
Air Lines e a aeronave envolvida um Lockheed L-1011<br />
(TriStar). Enquanto se aproximava da pista 17L daquele<br />
aeroporto, debaixo de chuva e muitos relâmpagos, o<br />
TriStar encontrou um microburst (intensas correntes<br />
de ar descendentes concentradas, provenientes de<br />
nuvens convectivas, que ao atingirem o solo, espalhamse<br />
horizontalmente, formando vórtices que podem<br />
ocasionar windshear), caiu sobre um carro que estava<br />
em uma rodovia próxima, colidiu com dois grandes<br />
tanques de água e foi destruído pelas chamas.<br />
<strong>No</strong> Brasil, as estatísticas apontam dois acidentes<br />
que tiveram como possível causa o fenômeno do<br />
cisalhamento do vento: um ocorrido em Capão Grosso<br />
em 16/06/1958 com uma aeronave Convair da Empresa<br />
Cruzeiro do Sul, que vitimou 21 ocupantes e, outro<br />
verificado em 25/05/1982, em Brasília, com um Boeing<br />
737 da Vasp, que resultou em duas vítimas fatais.<br />
Pela experiência de um dos autores (Maurici<br />
Monteiro), junto ao Serviço de Meteorologia do<br />
DESTACAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO<br />
AÉREO DE FLORIANÓPOLIS, DTCEA-FL, no<br />
AIHL, o fenômeno de windshear ocorre com freqüência<br />
associado à passagem de frentes frias. Em situação préfrontal,<br />
com ventos do quadrante norte, ocorre windshear<br />
na aproximação da pista 32, porém a intensidade varia<br />
de fraca a moderada. Vale ressaltar que esse fenômeno<br />
não ocorre em todas as passagens de sistemas frontais.<br />
Por outro lado, quando a frente fria está passando sobre<br />
o aeródromo, com a entrada de vento do quadrante sul,<br />
é comum o fenômeno manifestar-se, especialmente<br />
quando a velocidade do vento supera 15 nós e as<br />
arremetidas são freqüentes (Ditteberner, 2001).<br />
De acordo com Ditteberner (2001), entre agosto de<br />
1995 a julho de 2001 foi reportado pelas aeronaves para<br />
a equipe de Controladores de vôo do AIHL um total<br />
de 404 casos (Tabela 1). Destes, 315 casos ocorreram<br />
abaixo de 2000 pés; 93 casos entre 500 e 1000 pés, 124<br />
casos entre 400 e 500 pés, 71 casos entre 100 e 200 pés,<br />
e 27 casos de 100 pés até o solo (Ditteberner, 2001). De<br />
acordo com a Tabela 1, o maior número de ocorrência<br />
é verificado no inverno e na primavera. <strong>No</strong> período<br />
de junho, julho e agosto é comum os sistemas de alta<br />
pressão serem mais intensos sobre a Argentina, Uruguai<br />
e Sul do Brasil. Nesse caso, se uma frente fria está em<br />
deslocamento pelo litoral catarinense, os ventos passam<br />
a soprar do quadrante sul. Surgem, então, as primeiras<br />
rajadas fortes de vento no AIHL, devido ao gradiente<br />
de pressão formado entre a alta pressão ao sul e a frente<br />
fria em Santa Catarina (Monteiro, 2001). Esse tipo de<br />
evento é comum nesse período do ano, pois, segundo<br />
Rodrigues (2003), passam de 3 a 4 frentes frias em<br />
Santa Catarina.<br />
47
Boletim SBMET novembro/05<br />
Tabela 1: Ocorrência de windshear no AIHL, no período de 8/1995 a 7/2001.<br />
MESES DEZ/JAN/FEV MAR/ABR/MAI JUN/JUL/AGO SET/OUT/NOV<br />
OCORRÊNCIA 84 88 112 130<br />
PORCENTAGEM 20% 21% 27% 32%<br />
Fonte: Ditteberner (2001).<br />
O elevado número de windshear que ocorre na<br />
primavera (Tabela 1), pode estar associado aos CCM’s,<br />
que surgem durante a madrugada no norte da Argentina<br />
e atingem o Oeste de Santa Catarina ainda durante a<br />
noite (Monteiro, 2001). Pela dinâmica do sistema, os<br />
ventos no AIHL ocorrem geralmente de nordeste a leste<br />
e o windshear pode ser observado especialmente na<br />
pista 32.<br />
3. CASOS DE WINDSHEAR NO AIHL: 23/03/2005 e<br />
25/04/2005<br />
Entre os inúmeros casos reportados de windshear<br />
pelas aeronaves em procedimento de pouso e decolagem<br />
no AIHL, destacam-se os ocorridos nos dias 23 de março<br />
e 25 de abril de 2005 por apresentar várias horas com<br />
atuação do fenômeno. Na ocorrência do dia 23 de março<br />
de 2005, uma frente fria de intensidade fraca a moderada<br />
(Figura 2) estava em deslocamento pelo litoral de Santa<br />
Catarina e passou por Florianópolis entre a tarde e a<br />
noite (entre 1800 UTC e 0000 UTC) desse dia.<br />
<strong>No</strong> AIHL, a nebulosidade predominante foi<br />
stratocumulus com base das camadas mais significativas<br />
(BKN) variando de 1200 a 3500 pés e sem registro de<br />
grandes cumulus (TCU) ou cumulonimbus (CB). Houve<br />
apenas registro de chuva fraca, iniciando minutos após<br />
as 1800 UTC e terminando as 0000 UTC. De acordo<br />
com a carta sinótica (Figura 3), na passagem da frente<br />
fria no AIHL, a pressão atmosférica era de 1015hPa, e<br />
o centro da massa de ar frio (anticiclone extratropical),<br />
que deslocava a frente fria, estava sobre a Bacia do Rio<br />
da Prata, sudeste do Uruguai, com 1023hPa. A diferença<br />
de pressão atmosférica (gradiente) entre o anticiclone<br />
e a frente fria resultou em ventos com rajadas fortes<br />
no AIHL. O boletim especial emitido pela estação<br />
meteorológica do DTCEA-FL, as 15:36 h local (SPECI<br />
SBFL 1836), reportou vento de 220º com velocidade<br />
média de 17 nós e rajadas de 27 nós (22017G27KT). Nas<br />
horas seguintes, embora não fosse reportado rajadas, a<br />
velocidade continuou significativa com registro de 17,<br />
18 e 15 nós nas 1900 UTC , 2000 UTC e 2100 UTC,<br />
respectivamente. Entretanto, somente foi informado<br />
windshear no boletim das 18:00 h local (METAR DAS<br />
21UTC) em todas as pistas do aeroporto (WS ALL<br />
RWY, código que vem no METAR). Isso porque, quando<br />
ocorrem as rajadas mais intensas, nem sempre coincidem<br />
com o pouso de alguma aeronave e, quando coincide<br />
e as aeronaves sofrem os efeitos do fenômeno, muitas<br />
vezes o comandante não reporta a torre de controle.<br />
Como o windshear não pode ser visualizado e nem<br />
existe equipamento de terra para identificá-lo, é preciso<br />
que o controlador de vôo questione se o comandante<br />
da aeronave identificou a ocorrência do fenômeno na<br />
aproximação final, caso não tenha sido reportado.<br />
Figura 2: Imagem de satélite GOES-12, visualizando a passagem<br />
da frente fria.<br />
Fonte: http://www.redemet.aer.mil.br.<br />
48
Boletim SBMET novembro/05<br />
Figura 3: Carta sinótica das 1800 UTC em 23/03/05. Análise feita<br />
por Maurici Monteiro.<br />
Na ocorrência do dia 25 de abril, uma frente fria<br />
estava em deslocamento pelo litoral de Santa Catarina,<br />
em direção ao sudeste do Brasil (Figura 4). O tempo<br />
mais instável associado ao sistema atmosférico ocorreu<br />
durante a madrugada com registro de chuva leve a<br />
moderada. De acordo com a decodificação do METAR<br />
de SBFL (Boletim meteorológico que relata as condições<br />
de tempo à superfície do Aeroporto de Florianópolis)<br />
(www.redemet.aer.mil.br), o céu esteve encoberto<br />
(OVC) até as 1000 UTC, com teto variando de 900 a<br />
5000 pés. Após este horário, o céu se manteve nublado<br />
(BKN) por várias horas, porém com a nebulosidade<br />
subindo, ou seja, de 3.000 para 8.000 pés e depois para<br />
30.000 pés. Quando a frente fria estava passando por<br />
Florianópolis, a pressão atmosférica era de 1010hPa,<br />
registrada na estação meteorológica em SBFL, e sobre a<br />
Argentina havia um sistema de alta pressão (anticiclone)<br />
com centro de 1035hPa. A primeira manifestação do<br />
referido anticiclone ocorreu as 09UTC, com vento de<br />
sudoeste de 8 nós.<br />
Na medida em que o tempo passava, a intensidade<br />
dos ventos aumentava, e no METAR das 1400 UTC<br />
foi relatada a primeira rajada com 27 nós. Neste<br />
boletim foi inserida a informação de windshear em<br />
todas as pistas (WS ALL RWY). Os boletins seguintes<br />
reportavam ventos de sul a sudoeste (1700 a 220º)<br />
com intensidade moderada a forte, mas sem rajadas. À<br />
noite, no METAR das 2300 UTC e 0000 UTC, voltou<br />
a ocorrer rajadas de vento com intensidade de 25 nós<br />
a 27 nós, respectivamente. O windshear que começou<br />
a ser informado no METAR das 1400 UTC, continuou<br />
durante toda a tarde e seguiu até as 0000 UTC. Portanto,<br />
foram 11 horas com reporte do fenômeno, caso não<br />
muito comum para o AIHL. Durante esse período,<br />
segundo informações do Controle de Tráfego Aéreo do<br />
DTCA-FL, embora as operações fossem efetuadas com<br />
cautela, não houve cancelamento de pouso (arremetidas)<br />
e de decolagem.<br />
A carta sinótica das 1400 UTC mostra um forte<br />
gradiente de pressão entre o sistema de alta pressão com<br />
1035 hPa no seu centro e a pressão de 1014 hPa em<br />
Florianópolis. Enquanto essa diferença de pressão era<br />
mantida, os ventos continuavam intensos e mantinham o<br />
cisalhamento do vento reforçado pelo efeito do relevo.<br />
Figura 5: Carta sinótica das 14UTC do dia 25/04/05. Análise feita<br />
por Maurici Monteiro.<br />
Figura 4: Imagem-12, Visualizando a passagem da frente fria.<br />
Fonte: http://www.redemet.aer.mil.br<br />
49
Boletim SBMET novembro/05<br />
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Os anticiclones extratropicais, ao cruzarem os<br />
Andes, começam a se manifestar sobre o sul do Brasil.<br />
Inicialmente forçam o recuo ou o levantamento da<br />
massa de ar quente pré-frontal e, nesse contato, surge<br />
uma convergência no campo de ventos, formação de<br />
nuvens e chuva. À medida que os anticiclones avançam<br />
em direção ao equador, levam em sua dianteira a<br />
convergência e a nebulosidade associada à frente fria.<br />
Assim que a frente fria desloca-se sobre um determinado<br />
local, os ventos passam a soprar do quadrante sul. Esses<br />
ventos são originados no anticiclone (alta pressão) e a<br />
intensidade será de acordo com a diferença de pressão<br />
(gradiente) existente entre o centro da alta pressão e a<br />
frente fria. Quanto maior o gradiente de pressão, maior<br />
será a intensidade dos ventos, o que pode resultar<br />
em cisalhamento severo, dificultando ou até mesmo<br />
impossibilitando pouso de aeronaves no AIHL. Como<br />
os anticiclones são mais intensos no inverno (JJA),<br />
devido a menor quantidade de radiação solar que o<br />
Hemisfério Sul recebe nessa época do ano, a tendência é<br />
que após cada passagem frontal, os ventos do quadrante<br />
sul apresentem rajadas fortes resultando em ocorrência<br />
de windshear no AIHL.<br />
Por outro lado, no verão, com o continente aquecido<br />
praticamente por igual, os anticiclones são menos<br />
intensos, e comumente não avançam para norte sobre o<br />
continente. Nesta época do ano, geralmente apresentam<br />
deslocamento para alto mar a partir do Uruguai<br />
(Monteiro e Furtado, 1995). Com isso, o contraste<br />
térmico vai ocorrer sobre o oceano, ficando o litoral com<br />
pouca variação de pressão, quando ocorre a incursão de<br />
frente fria sobre o sul do Brasil. Portanto, a ocorrência<br />
do fenômeno tende a diminuir.<br />
Os resultados obtidos por Ditteberner (2001) destaca<br />
um aumento dos casos em 7%, do verão para o inverno.<br />
Porém, na primavera ocorre um aumento significativo,<br />
totalizando 12% a mais em relação ao verão. Este<br />
processo pode estar associado à formação de CCM,<br />
conforme descrição anterior.<br />
Os casos aqui analisados, dos dias 23/03/2005 e<br />
25/04/2005, foram bastante significativos, sendo em<br />
especial o do dia 25/04, que apresentou um gradiente de<br />
pressão muito forte, resultando em 11 horas contínuas<br />
de atuação do fenômeno windshear. Portanto, um<br />
período enorme em que aeronaves, em operação de<br />
pouso e decolagem, sofrem esforços enormes em suas<br />
estruturas, o que pode levar, a acidentes desastrosos.<br />
Entre as diversas manifestações de tipos de tempo<br />
como visibilidade reduzida por chuva forte, céu nublado<br />
por nuvens do tipo stratus que formam “teto baixo”, e<br />
nevoeiros densos que reduzem a visibilidade horizontal<br />
a poucos metros, as operações aéreas são, em muitos<br />
casos, prejudicadas pelos ventos fortes que podem levar<br />
uma aeronave a colidir com o solo.<br />
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CABRAL, E.; FARIAS, S. J. S. Análise das<br />
Ocorrências de “Windshear” na área do Aeroporto<br />
Internacional de São Paulo/Guarulhos (1988/90). VII<br />
Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. V. 1. São<br />
Paulo, p. 248-252, 1992.<br />
CABRAL, E; ROMÃO, M. As Fatais Tesouras<br />
de Vento. http://paginas.terra.com.br/servicos/vnw/<br />
ventonw/windshear2.html (Acessado em <strong>29</strong>/11/2005).<br />
CABRAL, E. Fenômenos Meteorológicos Adversos<br />
em Aeroportos da Região de São Paulo e Mato<br />
Grosso do Sul. http://paginas.terra.com.br/servicos/<br />
vnw/ventonw/artigo04_conaero.htm (Acessado em<br />
<strong>29</strong>/11/2005).<br />
DITTEBERNER, M. R. Causas e Efeitos das<br />
Turbulências nas Operações Aéreas do Aeroporto<br />
Internacional Hercílio Luz. TCC do Curso de<br />
Geografia. UDESC, 2001.<br />
DUQUIA, C. G.; SILVA DIAS, M. A. F. Complexo<br />
convectivo de mesoescala: um estudo de caso para o<br />
oeste do Rio Grande do Sul. VIII Congresso Brasileiro<br />
de Meteorologia, SBMET, Anais. Vol. 2, p. 610-612,<br />
1994.<br />
GAN, M. A.; RAO, V. B. Surface Cyclogenesis<br />
over South America. Mon. Wea. Rev., 119:1<strong>29</strong>3-1302,<br />
1991.<br />
50
Boletim SBMET novembro/05<br />
LOURENÇO, M.C.M.; FERREIRA, N.J.; GAN,<br />
M.A. Vórtices ciclônicos em altos níveis de origem<br />
subtropical. Climanálise Especial 10 anos, p. 163-167,<br />
1996.<br />
MONTEIRO, M. A. Caracterização climática<br />
do Estado de Santa Catarina: uma abordagem dos<br />
principais sistemas atmosféricos que atuam durante<br />
o ano. GEOSUL, n. 31, Florianópolis, p. 69-78, 2001.<br />
MONTEIRO, M. A.; FURTADO S. M. A. O clima do<br />
trecho Florianópolis – Porto Alegre: uma abordagem<br />
dinâmica. GEOSUL, n. 19/20. Florianópolis, p. 117-<br />
132, 1995.<br />
RODRIGUES, M. L. G. Uma Climatologia de<br />
Frentes Frias no Litoral de Catarinense com Dados<br />
de Reanálise do NCEP. Dissertação de Mestrado.<br />
Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental.<br />
UFSC, 2003. 75p.<br />
SANTOS A. P.; ARAÚJO, M. A. A.; ALOISE, E. D.;<br />
REGA, R. N. S. Episódios de wind-Shear no Aeródromo<br />
Internacional de São Paulo – Guarulhos – 1989 a 1995.<br />
IX Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. V. 1.<br />
São Paulo, p. 396 –398, 1996.<br />
51
Boletim SBMET novembro/05<br />
ANÁLISE DE DOIS ACIDENTES AERONÁUTICOS<br />
ASSOCIADOS À ATIVIDADE CONVECTIVA:<br />
KANO (1956) E CONGONHAS (2000)<br />
Rubens Junqueira Villela<br />
Consultor Meteorologista<br />
E-mail: rvillela@usp.br<br />
RESUMO<br />
Neste trabalho, com base nos dados das investigações promovidas pelas autoridades aeronáuticas, são analisados<br />
dois acidentes fatais (totalizando 39 vidas perdidas), tendo em comum como causa principal ou fator contribuinte<br />
a ocorrência de formações de Cumulonimbos (Cbs) surgidas inesperadamente na trajetória de vôo durante a fase<br />
de decolagem. O primeiro acidente ocorreu em Kano, na Nigéria, e o segundo em Congonhas/SP. Das análises<br />
desses acidentes, apresentam-se lições práticas, tanto para pilotos como para meteorologistas, sobre os perigos<br />
da operação aeronáutica nas proximidades de Cbs.<br />
Palavras-chave: acidentes aéreos, cumulonimbos, windshear.<br />
ABSTRACT<br />
In this article, based on investigations carried out by the aeronautical authorities, two accidents (claiming a<br />
total of 39 lives) and having in common as the main cause or contributing factor the occurrence of unexpected<br />
cumulonimbus development during the take-off path, are analysed. The first accident occurred in Kano, Nigeria,<br />
while the second in Congonhas/SP. In the conclusion we try to extract practical lessons useful to pilots and<br />
meteorologists alike, concerning the risks involved in aeronautical operations in the vicinities of Cbs.<br />
Key words: aircraft accidents, cumulonimbus, windshear.<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
As formações de nuvens Cumulonimbos (Cbs) e seu<br />
produto, as trovoadas, constituem uma das condições<br />
mais adversas para a aviação, e por isso o vôo em Cbs<br />
ou mesmo nas suas proximidades costuma ser evitado<br />
pelos pilotos, sempre que possível. A ação combinada<br />
de fenômenos próprios dos Cbs (como precipitações<br />
intensas, granizo, raios, rajadas, cortantes ou “tesouras<br />
de vento” (windshear), fortes correntes ascendentes<br />
e descendentes, turbulência, etc) afeta seriamente a<br />
controlabilidade do vôo e pode causar danos e mesmo<br />
falha estrutural da aeronave, com conseqüências fatais.<br />
52<br />
Neste estudo, baseado na investigação de dois<br />
acidentes aeronáuticos - um ocorrido em Kano, na<br />
Nigéria, e outro em Congonhas, em São Paulo, mostrase<br />
como formações imprevistas de Cbs na área dos<br />
aeroportos conspiraram, em ambos casos, para derrubar<br />
as aeronaves durante uma fase crítica de vôo – a<br />
decolagem. O desastre de Kano serve como ilustração<br />
exemplar de um caso de windshear, enquanto o evento<br />
de Congonhas, de um caso de Cbs embutidos. Da análise<br />
desses dois casos, tira-se lições práticas, tanto para<br />
pilotos como para meteorologistas, quanto à operação<br />
em ambiente de atividade convectiva.
Boletim SBMET novembro/05<br />
2. O ACIDENTE DE KANO<br />
Investigação Precursora sobre os Efeitos de<br />
windshear<br />
O conhecimento moderno do fenômeno windshear<br />
como causa de acidentes nas fases críticas de pouso e<br />
decolagem praticamente teve início em 1975, com a<br />
análise do Prof. T. Theodore Fujita (Fujita e Carracena,<br />
1977), da Universidade de Chicago, sobre o célebre<br />
acidente com o Boeing 727 do vôo 66 da Eastern<br />
Airlines, no Aeroporto John F. Kennedy em <strong>No</strong>va York,<br />
no dia 27 de junho daquele ano. Os estudos de Fujita<br />
e associados levaram à descoberta de uma nova classe<br />
de fenômenos meteorológicos associados a nuvens<br />
convectivas e perigosos para a aviação, como causa de<br />
windshear severo: os downburst, microburst e outburst<br />
(Fujita, 1985). O efeito do windshear, entendido na<br />
aviação como uma mudança brusca das componentes<br />
horizontal e vertical dos deslocamentos de ar ao longo<br />
da trajetória de vôo, e conseqüentes perdas de altitude<br />
e de sustentação aerodinâmica, está ilustrado na Figura<br />
1 para a fase de decolagem. Essa figura foi elaborada<br />
com base na investigação de desastre com Boeing 727<br />
no Aeroporto Stapleton em Denver (EUA), ocorrido<br />
em 07/08/75. Nesse acidente, o impacto com o solo se<br />
deu 20 s após a decolagem e a componente de cauda<br />
alcançou 50 nós (Fujita e Carracena, 1977).<br />
Figura 1: Situação ilustrativa do efeito de windshear causada por downburst.<br />
Fonte: Fujita e Carracena (1977).<br />
Entretanto, analisando um antigo relatório da<br />
Organização de Aviação Civil Internacional (OACI)<br />
(ICAO, 1958), Villela (2002) descobriu que há quase<br />
20 anos atrás essa condição atmosférica já havia sido<br />
identificada e apontada como causa de um acidente<br />
ocorrido no dia 24 de junho de 1956, em Kano, no norte<br />
da Nigéria (número-índice da OMM 65046, posição 12º<br />
03’ N e 08º 32’ W, altitude 476 m; mapa de localização na<br />
Figura 2, que mostra também as isoietas anuais) (Motha<br />
et al., 1980), durante a decolagem de um quadrimotor<br />
Argonaut, tipo DC-4, da British Overseas Airways<br />
Corporation (BOAC). Embora o relatório falhe a não<br />
perceber o alcance de suas constatações, pois apenas cita<br />
de passagem o termo windshear (sic) em um adendo,<br />
não resta dúvida de que representa uma investigação<br />
pioneira do fenômeno. É pelo seu interesse e pelas<br />
lições que encerra, aplicáveis à situações freqüentes no<br />
Brasil (Silva Dias, 1999; Cabral e Romão, 1999), que<br />
cabe aqui uma revisão.<br />
53
Boletim SBMET novembro/05<br />
Figura 2: Isoietas de precipitação média anual (expressa em mm) e curvas características da marcha mensal<br />
de precipitação em 4 faixas climáticas. Destaca-se no mapa a localização de Kano, no norte da Nigéria.<br />
Fonte: Motha et al. (1980).<br />
Descrição do Acidente<br />
O avião da BOAC, matrícula G-ALHE, cumpria<br />
a rota Lagos-Kano-Trípoli-Londres. Trinta minutos<br />
após o pouso em Kano, o Argonaut estava abastecido<br />
e pronto para decolar. O comandante havia checado a<br />
previsão do tempo, que indicava trovoadas esparsas nas<br />
vizinhanças. Via-se uma delas à distância, no setor lestenordeste,<br />
embora não se ouvissem os trovões; a maior<br />
parte do céu se encontrava claro. Mas pouco depois o<br />
piloto notou que a cabeça do Cb começava a cobrir o<br />
aeroporto, embora a nuvem houvesse se deslocado para<br />
nordeste. Ele foi então novamente consultar o previsor,<br />
que lhe disse haver uma linha de trovoadas a 400 milhas<br />
ao leste, mas que as trovoadas na área de Kano eram<br />
puramente locais, sem ligação, com nenhuma Linha de<br />
Instabilidade (LI). Como é conhecido, as trovoadas de<br />
LI – seja na Nigéria ou no Brasil – são mais intensas<br />
e perigosas, deslocam-se rápido e estão freqüentemente<br />
associadas a fortes rajadas (Ray, 1986). Entretanto,<br />
o previsor assegurou que a tempestade à vista, sendo<br />
puramente local, se moveria lentamente de leste<br />
para oeste. De volta ao avião, o comandante avisou o<br />
navegador que iria desviar um pouco para oeste após<br />
a decolagem, para evitar a área de trovoadas que iria<br />
passar de oito a dez milhas ao norte do aeroporto.<br />
Os motores foram acionados as 17:15 (hora local),<br />
e a torre autorizou o táxi para a pista 25, informando<br />
ajuste de altímetro de 1012 milibares e vento de 3000<br />
com intensidade de 15 nós. Nesse momento a chuva<br />
começou e foi engrossando durante o táxi, embora sem<br />
reduzir muito a visibilidade. O comandante procurou<br />
observar particularmente sinais de rajadas de vento ou<br />
de nuvem-rolo, comumente associados à tempestade do<br />
tipo LI (exatamente como acontece no Brasil também),<br />
mas não havia qualquer indicação desse tipo, embora<br />
a parte mais escura da nuvem agora estivesse bem<br />
próxima a nordeste.<br />
54
Boletim SBMET novembro/05<br />
A decolagem foi iniciada imediatamente, nas<br />
seguintes condições de tempo: três oitavos de<br />
nebulosidade com base a 2500 pés, vento 270º com<br />
20 nós, visibilidade 1500 jardas e chuva moderada. A<br />
decolagem foi perfeitamente normal, depois de uma<br />
corrida de 2000 jardas. Mas a chuva que aumentava,<br />
reduzindo a visibilidade, obrigou o piloto a voar por<br />
instrumentos. A cabeceira da pista foi ultrapassada à<br />
velocidade de 125 nós e a 100 pés de altura (a altitude da<br />
pista é de 1.575 pés), notando-se ligeira ascendente. Foi<br />
feita a primeira redução de potência, para 2850 rotação<br />
por minuto (rpm). A subida foi normal, e pouco acima<br />
de 240 pés foi comandado o recolhimento dos flapes,<br />
com razão de subida de 300 pés por minuto e velocidade<br />
flutuando entre 125 nós e 130 nós. Do solo foi possível<br />
ver o avião desaparecer em chuva pesada a 250 pés. O<br />
piloto declarou que podia ver uma abertura a W/NW.<br />
A 260-270 pés de altitude, a aeronave estava nivelada<br />
e estável com velocidade de 123 nós. O piloto pensava<br />
que daí em diante ela aumentaria, mas em segundos<br />
viu horrorizado a velocidade indicada cair rápida e<br />
progressivamente. Ele comandou potência total e picou<br />
ligeiramente, mas a esta altura a velocidade baixara aos<br />
103 nós (a velocidade de estol calculada para a ocasião<br />
era de 97 nós indicada). O co-piloto abriu as manetes<br />
mas com a rpm ainda a 2.850, sem tempo para aumentar<br />
para 3.000, devido ao fato de que o sistema master<br />
estava fora de serviço. O comandante afirmou que não<br />
encontrou turbulência nem sentiu o<br />
afundamento, apenas preocupandose<br />
com a baixa velocidade, que se<br />
mantinha. Nesse momento, com o<br />
avião perdendo altura rapidamente,<br />
voando numa atitude quase nivelada,<br />
viu-se uma árvore à frente. Com<br />
cuidado para não tocar a asa direita<br />
no solo, o piloto iniciou uma curva<br />
para aquele lado e cabrou para ganhar<br />
altura mas, durante a manobra, a asa<br />
esquerda bateu na árvore. Seguiramse<br />
outros choques e o incêndio do<br />
tanque na asa esquerda. A aeronave<br />
foi praticamente desintegrada.<br />
Morreram três dos sete tripulantes e<br />
<strong>29</strong> dos 38 passageiros a bordo; piloto<br />
e co-piloto sobreviveram.<br />
Análise meteorológica<br />
Uma detalhada análise meteorológica feita pelas<br />
autoridades aeronáuticas da Nigéria e do Reino Unido<br />
permitiu reconstituir as condições na área imediata.<br />
Concluiu-se que o centro principal da tempestade de<br />
fato passou pouco ao norte do aeroporto, mas uma nova<br />
célula convectiva desenvolveu-se sob a cabeça do Cb<br />
primário e produziu chuva pesada com rajadas sobre a<br />
metade oeste do aeroporto, exatamente enquanto o G-<br />
ALHE decolava. As Figuras 3 e 4 mostram com clareza<br />
o acontecido, e poderiam servir para ilustrar uma típica<br />
situação de windshear num texto moderno (ilustrado na<br />
Figura 1). Ressalta-se que essas figuras foram geradas<br />
com base nas observações oficiais do Terminal e da Torre<br />
Temporária, segundo evidências de informações leigas<br />
em outras áreas. Primeiro o avião encontrou um vento<br />
de proa aumentando, seguido abruptamente por vento de<br />
cauda e provavelmente uma descendente, de tal maneira<br />
que a trajetória descendente da aeronave ocorreu em<br />
um período muito curto de tempo (entre cinco e quinze<br />
segundos), até o impacto. O estudo meteorológico<br />
acrescenta que nem o piloto nem o previsor poderiam<br />
perceber que uma nova célula de trovoada estava se<br />
formando junto ao lado oeste do aeroporto, pois o radar<br />
em Kano era incapaz de detectar um eco tão próximo,<br />
e nuvens baixas obstruíam a visibilidade na direção em<br />
que se elevavam as novas torres de cúmulos.<br />
Figura 3: Condições prováveis de vento e chuva no Aeroporto de Kano e imediações.<br />
Fonte: ICAO (1958).<br />
55
Boletim SBMET novembro/05<br />
Figura 4: Provável corte vertical mostrando vento e correntes verticais ao longo da trajetória<br />
de decolagem.<br />
Fonte: ICAO (1958).<br />
Na conclusão do relatório da investigação (ICAO,<br />
1958), cita-se como a causa provável: “O acidente foi<br />
resultado da perda de altitude e velocidade no ar, causada<br />
pelo encontro da aeronave a aproximadamente 250 pés<br />
depois da decolagem, com uma célula imprevisível de<br />
trovoada, que ocasionou uma repentina reversão da<br />
direção do vento, chuva pesada, e possíveis condições<br />
de descendente”. Mas, numa nota acrescentada pelas<br />
autoridades aeronáuticas britânicas, pede-se a emissão de<br />
uma circular de informação sobre os efeitos de “ventos<br />
cruzados, rajadas e windshear (sic) na decolagem e<br />
pouso”. Infelizmente, parece que a lição de Kano não foi<br />
devidamente apreciada na época e somente vinte anos<br />
depois o problema do windshear, de âmbito mundial,<br />
foi devidamente reconhecido em toda sua importância.<br />
3. ACIDENTE DE CONGONHAS<br />
O perigo dos Cbs embutidos<br />
Quando os Cbs estão obscurecidos por outras nuvens<br />
(diz-se embutidos ou embedded em inglês), o perigo<br />
aumenta, pois o piloto corre o risco de ser apanhado de<br />
surpresa, em determinadas circunstâncias. Por exemplo,<br />
o METAR (mensagem meteorológica de observação<br />
de superfície aeronáutica de rotina) pode não indicar<br />
o fenômeno, o radar de bordo ou de terra está sujeito<br />
56<br />
a erros de interpretação, e ainda<br />
mais perigoso: o Cb pode surgir<br />
num determinado ponto ou área<br />
onde o radar antes nada indicava,<br />
significando que novas células<br />
em formação não são percebidas.<br />
Uma combinação de fatores, como<br />
noite escura, com chuva e com<br />
Cbs embutidos, aumenta os riscos<br />
potenciais, contribuindo para um tipo<br />
de acidente que tem sido atribuído<br />
à desorientação espacial em vôo.<br />
A desorientação leva o piloto a<br />
executar manobras que agravam a<br />
falta de controle do vôo e, por fim,<br />
provoca perda de altitude, colisão<br />
com o solo ou ruptura estrutural no<br />
ar, quando excedida a velocidade<br />
limite. Condições deste tipo estiveram presentes no<br />
acidente ocorrido com a aeronave Turbo Commander<br />
prefixo PT-IEE, logo após a decolagem de Congonhas,<br />
em São Paulo. Esse acidente causou a morte do piloto<br />
e de seis passageiros que se destinavam a Maringá, no<br />
Paraná. A título de colaboração solicitada pelo Seção de<br />
Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos<br />
(SIPAA) do SERAC 4, responsável pela investigação<br />
oficial, Villela (2001) examinou os dados relativos a<br />
este acidente, cuja descrição é apresentada a seguir.<br />
Descrição do acidente<br />
O PT-IEE decolou da pista 17 de Congonhas as<br />
21h23, hora de verão brasileira (2323 UTC), uma noite<br />
de sábado escura e chuvosa em 16 de dezembro de<br />
2000. O piloto recebeu instruções para subir a 5.500<br />
pés e executar curva à direita até interceptar a radial<br />
270 (rumo oeste). Depois de iniciar a curva à direita,<br />
o piloto acusa problemas com o horizonte artificial. Os<br />
radares de Congonhas mostram a trajetória, a altitude<br />
e a velocidade sobre o solo, em intervalos de 4 a 8<br />
segundos. A velocidade pula de 130 nós para 170 nós<br />
em 4 s, a uma altitude de 3.700 pés (lembrando que<br />
a altitude de Congonhas é de 2.631 pés). O Turbo<br />
Commander continua subindo nos próximos 17 s a uma<br />
razão de 4.500 fpm (pés por minuto), como se estivesse<br />
numa forte ascendente, enquanto a velocidade sobre o<br />
solo se mantém a 170-175 nós. Depois de um giro para
Boletim SBMET novembro/05<br />
a esquerda, a velocidade começa a cair rapidamente<br />
para 100-105 nós. Vinte segundos depois a velocidade<br />
sobe para 120 nós e até 140 nós, na altitude de 5.300<br />
pés, quando a aeronave mergulha 600 pés em 7 s (razão<br />
de 5.140 fpm). O radar perde contato com o avião na<br />
altitude de 4.700 pés. O impacto com o solo se deu<br />
2 minutos após a decolagem, sobre casas do bairro<br />
de Vila Anhanguera, cerca de 5 km da cabeceira sul<br />
do Aeroporto de Congonhas. Testemunhas no local<br />
da queda declararam que chovia forte e havia muitos<br />
relâmpagos.<br />
Condições meteorológicas<br />
O radar de São Roque estava inoperante, mas o<br />
do Pico do Couto (RJ) detectara células a 380 km de<br />
distância, deslocando-se para sudeste, na área de São<br />
Paulo. Um comandante da Companhia aérea VARIG<br />
que aterrissou em Congonhas pouco depois do acidente,<br />
fez um relatório sobre as condições encontradas na<br />
aproximação. Abaixo do FL150 (nível de vôo de 15.000<br />
pés), as formações de Cbs se uniam através de uma<br />
camada estratificada espessa. Um desenho da tela do<br />
radar de bordo do VARIG 490 mostrava células um<br />
pouco a sudeste e sul, mas não na trajetória exata do<br />
PT-IEE, o que foi confirmado por imagens do radar da<br />
USP/DAEE em Ponte <strong>No</strong>va, obtidas posteriormente.<br />
<strong>No</strong> pouso, o VARIG 490 informou ventos fortes e<br />
turbulência leve para moderada e forte intensificação da<br />
chuva, fatores que obrigaram as próximas aeronaves a<br />
arremeter.<br />
Os METAR de Congonhas (SBSP) entre 2000<br />
UTC e 2400 UTC em nenhum momento acusaram a<br />
presença de Cbs ou relâmpagos. Os dados da estação<br />
meteorológica do IAG/USP, localizada na Água Funda,<br />
a 3 km a sudeste de Congonhas, também não acusaram<br />
trovoadas ou Cb, mas sim chuva muito forte (75 mm)<br />
entre 19 e 22 horas local, e rajadas de vento de 9 a 11<br />
ms -1 . Em Guarulhos (SBGR), Cbs e trovoadas só foram<br />
observados uma hora depois do acidente do PT-IEE. O<br />
registro automático de outra estação meteorológica do<br />
IAG/USP, localizada no campus da Cidade Universitária,<br />
mostrou que o horário do acidente coincidiu com uma<br />
fase de rápida alteração das condições do tempo na<br />
região: aumento da velocidade do vento (rajada de 13<br />
ms -1 , com direção SSE), elevação da pressão e queda da<br />
temperatura.<br />
Tais alterações refletiram a entrada de uma frente fria,<br />
associada à um centro de baixa pressão (1008 hPa em<br />
São Paulo), e que causou temporal na zona costeira. Esse<br />
sistema frontal foi responsável pelo naufrágio, no início<br />
daquela mesma noite de sábado, de um veleiro no litoral<br />
paranaense, com perda de duas vidas. As evidências são<br />
de que as más condições meteorológicas certamente<br />
contribuíram para o acidente do PT-IEE, além da pane<br />
de horizonte artificial. Entretanto, a conclusão depende<br />
da investigação realizada pelo SIPAA-4.<br />
4. CONCLUSÕES<br />
Da análise desses dois acidentes (Kano, na Nigéria e<br />
Congonhas, em São Paulo), complementada pelo exame<br />
de outros acidentes em circunstâncias semelhantes<br />
(Villela, 2001), pode-se extrair as seguintes lições, de<br />
interesse tanto para pilotos como meteorologistas:<br />
1 - A periferia das formações de Cbs e trovoadas (e<br />
não apenas o seu interior) é uma área potencialmente<br />
perigosa para o vôo. Esta área está sujeita a rajadas,<br />
windshear e súbito surgimento de novas formações de<br />
Cbs;<br />
2 - Cbs “embutidos” ou obscurecidos por espessas<br />
camadas de nuvens constituem verdadeiras ciladas para<br />
o piloto desprevenido;<br />
3 - Em caso de condições meteorológicas complicadas,<br />
não basta uma simples consulta ao METAR local para<br />
um planejamento seguro do vôo. É necessário inteirarse<br />
de todos os avisos da Meteorologia. <strong>No</strong> caso do<br />
PT-IEE analisado, havia vários avisos de tempestades<br />
convectivas na área, como GAMET e SIGMET,<br />
expedidos pelo CMA-1 de Guarulhos;<br />
4 - Uma pane de instrumento de atitude (horizonte<br />
artificial) em condições Instrument Flight Rules (IFR),<br />
torna-se muito mais difícil de ser administrada pelo<br />
piloto na presença de turbulência criada pela atividade<br />
de Cbs e trovoadas na área;<br />
5 - Os procedimentos de observação meteorológica,<br />
57
Boletim SBMET novembro/05<br />
visuais e instrumentais, exigem por vezes atenções e<br />
cuidados especiais para não comprometerem a segurança<br />
do vôo. É grande a responsabilidade dos observadores e<br />
do meteorologista, que devem estar atentos a detalhes<br />
como trovões e relâmpagos em qualquer setor, e a sinais<br />
de novas formações na área;<br />
6 - Radares são fontes de informações vitais a<br />
respeito de formações perigosas, e os de bordo são<br />
convenientemente suplementados pelos detetores de<br />
raios (stormscope). Entretanto, a interpretação das<br />
imagens de radar depende de conhecimentos técnicos<br />
sobre as limitações do aparelho, e de conhecimentos<br />
básicos relativamente aos fenômenos meteorológicos<br />
que estão ocorrendo.<br />
Hazards and Disaster Series, Routledge, Londres e N.<br />
York. 1999.<br />
VILLELA, R.J. O perigo do wind shear. Aeromagazine,<br />
ano 3, n. 26, p. 25. 1996.<br />
VILLELA, R.J. Fique longe dos Cbs. Aeromagazine,<br />
ano 8, n. 87, p. 32-34. 2001.<br />
VILLELA, R.J. Fator surpresa – O acidente de<br />
Kano, na Nigéria, foi o precursor da investigação sobre<br />
os efeitos do wind shear nas fases de aproximação e<br />
decolagem. Aeromagazine, ano 9, n. 99, p. 26-27.<br />
2002.<br />
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CABRAL, E.; ROMÃO, M. Armadilha de ar.<br />
Aeromagazine, ano 6, n. 63, p.32-33. 1999.<br />
FUJITA, T.T.; CARRACENA, F. An analysis of three<br />
weather-related aircraft accidents. Bull. Am. Meteor.<br />
Soc., v. 58, p. 1164-1181. 1977.<br />
FUJITA, T.T. The downburst. University of<br />
Chicago. 1985.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
O autor agradece ao Maj.-Av. Carlos H. Kühl<br />
<strong>No</strong>gueira pelo acesso aos dados da investigação do<br />
SIPAA-4, sobre o acidente com a aeronave PT-IEE;<br />
ao Prof. Dr. Augusto José Pereira Filho, do IAG/USP,<br />
pelos dados do radar de Ponte <strong>No</strong>va; e a Dra. Marley<br />
Cavalcante de Lima Moscati, Diretora Administrativa<br />
da SBMET, pelo convite e estímulo para a elaboração<br />
deste artigo.<br />
ICAO. <strong>No</strong>. 21 – British Overseas Airways<br />
Corporation, Canadair C.4 (Argonaut), G-ALHE,<br />
crashed at Kano Airport, Nigeria, on 24 June 1956.<br />
Report by Ministry of Communications and Aviation,<br />
Federation of Nigeria. (Also released as C.A P. 141 by<br />
Ministry of Transport and Civil Aviation – U.K.). In:<br />
ICAO Circular 54-AN Aircraft Accident Digest <strong>No</strong>.<br />
8, p.89-94. Montreal, Canadá, 1958.<br />
MOTHA, R.P. et al. Precipitation patterns in West<br />
Africa. Mon. Wea. Rev., v. 108, n. 10, p. 1567-1578.<br />
1980.<br />
RAY, P. S. Mesoscale Meteorology and Forecasting.<br />
AMS, 2a. ed., Boston, 1986, 793 p.<br />
SILVA DIAS, M.A F. Storms in Brazil. In: Storms.<br />
v. II, editado por R. Pielke Jr. e R. Pielke Sr.. Routledge<br />
58
Boletim SBMET novembro/05<br />
ONDAS DE MONTANHA E A SEGURANÇA<br />
NAS OPERAÇÕES AÉREAS NA ANTÁRTICA<br />
Marcelo Romão, Alberto Setzer<br />
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC<br />
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE<br />
E-mails: mromao@cptec.inpe.br, asetzer@cptec.inpe.br<br />
Francisco Eliseu Aquino<br />
NOTOS – Laboratório de Climatologia<br />
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS<br />
Instituto de Geociências – Departamento de Geografia<br />
E-mail: francisco.aquino@ufrgs.br<br />
RESUMO<br />
Este artigo apresenta considerações básicas sobre a importância das ondas de montanha, windshear e turbulência<br />
em baixos níveis, registradas na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), localizada na Baía do Almirantado,<br />
Ilha Rei George, no norte da Península Antártica. Analisando características da velocidade, direção e rajada<br />
máxima do vento na EACF, entre 1994 e 2002, conjuntamente com a prática operacional e observacional do<br />
Projeto de Meteorologia na EACF do PROANTAR/CNPq, nesta região, obtiveram-se resultados empíricos que<br />
podem servir de referência a pilotos e meteorologistas que atuam na região.<br />
Palavras-chave: Ondas de Montanha, windshear, Estação Antártica Comandante Ferraz.<br />
ABSTRACT<br />
This paper presents basic considerations on the importance of mountain waves, windshear and turbulence at<br />
low levels that were registered at the Ferraz Brazilian Antarctic Station (EACF), located at Admiralty Bay, King<br />
George Island, northern Antarctic Peninsula. At analyzing characteristics of wind velocity, direction and gust<br />
maxima observed at EACF between 1994 and 2002, together with operational and observational practices of<br />
the Brazilian Antarctic meteorology project (“Projeto Meteorologia na EACF’, PROANTAR/CNPq), empirical<br />
results were obtained, which may already serve as reference for pilots and meteorologists operating in the<br />
region.<br />
Key words: Mountain waves, windshear, Ferraz Antarctic Station.<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Ondas de Montanha (OM), windshear (ou “tesoura<br />
de vento”, WS) e turbulência em baixos níveis, são<br />
fenômenos meteorológicos muito conhecidos pelos<br />
aviadores da Divisão Aeroembarcada da Marinha do<br />
Brasil (DAE-MB), que operam com os helicópteros<br />
UH-13 Esquilo biturbina, a bordo do Navio de Apoio<br />
Oceanográfico H-44 Ary Rongel, em águas antárticas.<br />
As OM são um dos mais belos e perigosos fenômenos<br />
meteorológicos. Belos devido às nuvens lenticulares<br />
resultantes, que parecem ter sido delicadamente moldadas<br />
ou pintadas à mão, e perigosos devido à turbulência e ao<br />
WS característicos das traiçoeiras nuvens rotoras.<br />
59
Boletim SBMET novembro/05<br />
A preocupação com a segurança de vôo dos<br />
helicópteros na Antártica, provavelmente começou em<br />
1934, quando o Almirante Richard Byrd (EUA) utilizou<br />
em suas operações aéreas o auto-giro Kellett; considerado<br />
o melhor protótipo dos atuais helicópteros. Infelizmente,<br />
esta aeronave acidentou-se ao final da expedição. Em<br />
1946, o Almirante Byrd voltou à Antártica com 4.000<br />
homens, 13 navios e um submarino. Essa operação,<br />
denominada High Jump, utilizou extensivamente os<br />
helicópteros em suas expedições antárticas.<br />
Na região onde os helicópteros da DAE-MB operam<br />
com mais freqüência, o Arquipélago das Ilhas Shetland<br />
do Sul, e mais especificamente nas Ilhas Rei George<br />
e Elefante, é comum que essas aeronaves sofram os<br />
efeitos da turbulência – “sacudir nas lombadas aéreas”,<br />
além de estarem sujeitas a outros efeitos como deriva,<br />
aumento no tempo de vôo, e maior consumo de<br />
combustível, afetando consideravelmente o desempenho<br />
da aeronave.<br />
As OM são formadas quando ventos de 20 nós ou<br />
mais atingem perpendicularmente (com desvio máximo<br />
de 50° de ângulo) uma montanha com 30° ou mais<br />
de inclinação. A barlavento, o ar é forçado a subir a<br />
montanha, descendo a sotavento. O seu efeito é estendido<br />
sobre o vale na forma de ondas, que podem se propagar<br />
por vários quilômetros. As ondas mais próximas à<br />
montanha são as de maior turbulência. A turbulência<br />
nesse caso é de origem mecânica e sua extensão e<br />
intensidade dependem diretamente da velocidade do<br />
vento, da rugosidade do terreno, altura do obstáculo e<br />
da estabilidade do ar (Tabela 1).<br />
O fenômeno da OM pode ser detectado visualmente<br />
através das nuvens lenticulares. Tais nuvens são<br />
formadas a barlavento das elevações montanhosas e têm<br />
posição estacionária, assim como as chamadas nuvens<br />
capuz (nuvens em forma de capuz que ocorrem sobre<br />
a parte superior das serras) e que, além de encobrir os<br />
picos das montanhas, têm turbulência associada. Este<br />
fenômeno pode ser observado em imagens de satélite na<br />
região norte da Península Antártica. Na Figura 1, as OMs<br />
podem ser identificadas pela sua forma de “costeletas”,<br />
e sua extensão é proporcional à do Arquipélago das<br />
Ilhas Shetland do Sul. Logo abaixo do fluxo das ondas,<br />
podem se formar as nuvens rotoras. É junto a estas<br />
formações que se encontra a turbulência mais severa,<br />
principalmente dentro e abaixo dessas nuvens. O WS<br />
também ocorre associado a nuvens rotoras, pois seus<br />
ventos seguem uma elipse com ventos ascendentes junto<br />
à montanha e descendentes um pouco mais à frente.<br />
Tanto as nuvens rotoras quanto as lenticulares só irão se<br />
formar se houver condições de temperatura e umidade<br />
para isso e, sem elas, as OM ficarão praticamente<br />
invisíveis e, portanto, mais perigosas para os pilotos<br />
que terão dificuldades adicionais em dimensionar as<br />
perturbações existentes.<br />
Tabela 1: Intensidade e extensão horizontal da<br />
turbulência.<br />
vento normal<br />
à montanha<br />
(nós)<br />
intensidade da<br />
turbulência<br />
extensão<br />
horizontal da<br />
turbulência (km)<br />
25 Leve 8 a 12<br />
50 Moderada 12 a 20<br />
80 Forte 20 a 40<br />
Fonte: Instituto de Proteção ao Vôo (IPV).<br />
Figura 1: Imagem do satélite NOAA 12 recebida na EACF em 16<br />
de Dezembro de 2001, onde se identificam as OM originadas pela<br />
passagem do vento pela Península Antártica, Ilhas Rei George e<br />
Elefante e um iceberg.<br />
60
Boletim SBMET novembro/05<br />
Um indício visual de quanto à turbulência está<br />
se estendendo verticalmente pode ser obtido pela<br />
observação do nível em que as nuvens lenticulares estão;<br />
por exemplo, a existência de uma nuvem lenticular alta<br />
do gênero Cirrocumulus dá a idéia de que a turbulência<br />
está se estendendo por muitos milhares de pés acima<br />
das montanhas. Outro fenômeno importante é a corrente<br />
de jato (jet stream), pois mesmo ocorrendo em grandes<br />
altitudes estes fluxos de ar podem gerar OMs e rajadas<br />
de ventos em níveis mais baixos.<br />
os mais afetados em uma situação de WS.<br />
Na região da Estação Antártica Comandante Ferraz<br />
(EACF), tem-se elevações de mais de 600 m de altitude<br />
(Figura 2), com alinhamento de NE para SW, e ventos<br />
máximos que podem atingir facilmente 70 nós (Figuras<br />
3a e 3b). Os pilotos devem dar a devida atenção quando<br />
voarem em situação onde há presença de ventos<br />
superiores a 20 nós ou nuvens lenticulares na área.<br />
Lester (1997) lista as seguintes recomendações para<br />
um vôo seguro quando o assunto é OM:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Se não for possível evitar as OM, deve-se voar<br />
a uma altitude que ultrapasse pelo menos 50% a<br />
altura das elevações;<br />
Alcance a altitude de 3.000 a 5.000 pés acima das<br />
elevações antes de cruzá-las;<br />
O melhor procedimento para cruzar as montanhas<br />
é com um ângulo de 45°, para possibilitar<br />
uma rápida retirada no caso da turbulência ser<br />
encontrada;<br />
Evite nuvens lenticulares, principalmente<br />
se os seus bordos estiverem esfarrapados e<br />
irregulares;<br />
Evite as nuvens rotoras, pois elas se encontram<br />
nas áreas de turbulência mais intensas das OM;<br />
Não confie excessivamente nas leituras do<br />
altímetro próximo a picos montanhosos, pois<br />
podem indicar altitudes superiores a 1.000 pés<br />
em relação à altitude real.<br />
Figura 2: Helicóptero Esquilo biturbina da DAE-MB, em manobra de<br />
aproximação do heliponto da EACF. Ao fundo encontra-se a geleira<br />
Stenhouse, com elevações que ultrapassam 600 m de altitude.<br />
(a)<br />
A “tesoura de vento” gerada por uma OM (vale<br />
lembrar que, ondas lee, WS, cisalhamento do vento,<br />
e tesoura de vento, são todos sinônimos), também<br />
pode ser definida como uma variação na direção e/ou<br />
na velocidade do vento em uma curta distância (na<br />
vertical ou horizontal). Esta variação brusca leva a<br />
um significativo ganho ou perda de sustentação das<br />
aeronaves. O WS pode causar diferentes efeitos nas<br />
aeronaves, como turbulência, aumento ou diminuição<br />
da velocidade indicada, bruscas e perigosas variações<br />
no Indicador de Velocidade Vertical (VSI), altímetro e<br />
indicador de ângulo de ataque, sendo estes instrumentos<br />
(b)<br />
Figura 3: a) Freqüência das rajadas máximas na EACF entre 1994<br />
e 2002; b) Rajadas máximas observadas na EACF entre 1994 e<br />
2002.<br />
61
Boletim SBMET novembro/05<br />
Em 19 de janeiro de 2002 um helicóptero da Força<br />
Aérea Uruguaia, um Bell UH-1H, enfrentou forte<br />
cisalhamento do vento em sua aproximação ao heliponto<br />
da EACF. Pelo menos três componentes de vento agiam<br />
na área: uma vinda das geleiras, outra do mar e outra<br />
de uma elevação de 216 m, atrás da EACF – a da<br />
estação meteorológica do Morro da Cuz. A aeronave<br />
balançou perigosamente a baixa altura, abortando o<br />
pouso e retornando à estação uruguaia de Artigas.<br />
Essa grande variabilidade das condições atmosféricas,<br />
principalmente do vento, no interior do fiorde da Baía<br />
do Almirantado, testa a habilidade e capacidade não só<br />
dos pilotos, mas também dos meteorologistas que se<br />
encontram nessas situações limítrofes.<br />
Em dezembro de 2004, um helicóptero Bell 407<br />
com equipe inglesa, voando sobre o Platô Antártico<br />
(79ºS; 79ºW), nas proximidades dos montes Patriot<br />
e das montanhas Ellsworth, colidiu com o solo em<br />
condições de vôo controlado (Figura 4). Este acidente<br />
ocorreu em situação de piora do tempo, vento entre 25<br />
e 30 nós e whiteout (branco-total, quando o contraste<br />
desaparece e o observador não consegue distinguir o<br />
horizonte ou qualquer feição na superfície da neve).<br />
Este sinistro aconteceu no momento que o piloto<br />
iniciou o procedimento de pouso, batendo contra o<br />
solo com o altímetro ainda marcando 140 pés de altura.<br />
Provavelmente as OMs estavam atuando na região no<br />
momento do acidente, o que teria provocado a diferença<br />
de altura no radio-altímetro, e que foi agravado pela<br />
presença do whiteout.<br />
O Projeto “Meteorologia na Estação Antártica<br />
Comandante Ferraz” do PROANTAR/CNPq, dá<br />
especial atenção aos ventos locais quando existe<br />
atividade aérea na região. Constantemente são feitos<br />
contatos via rádio com o NApOc Ary Rongel e outras<br />
aeronaves que venham a utilizar-se do heliponto da<br />
EACF. As forças aéreas peruana, uruguaia e chilena<br />
constantemente solicitam briefings da EACF, fazendo<br />
com que o módulo de Meteorologia da EACF às vezes<br />
funcione como uma estação de serviço de informação<br />
de vôo do aeródromo (Aerodrome Flight Information<br />
Service – AFIS), reportando as condições gerais do<br />
tempo, previsões de tempo locais, previsões de ondas<br />
de montanhas e até mesmo fazendo a coordenação de<br />
seus vôos.<br />
Figura 4: Integrante do Projeto, Francisco E. Aquino, observa em<br />
Patriot Hills os destroços do helicóptero Bell 407, utilizado na<br />
expedição Polarfirst no verão de 2004/2005.<br />
Na tentativa de se aprimorar a previsão do tempo<br />
para condições adversas de vôo, o Projeto tem realizado<br />
análises dos ventos locais e suas relações com o WS.<br />
Para tanto, foram utilizados dados meteorológicos de<br />
duas estações meteorológicas, uma em altitude (Morro<br />
da Cruz) e outra em superfície (EACF).<br />
Foi constatado que, se a diferença na direção do vento<br />
for superior a 60º entre essas duas estações, os pilotos já<br />
podem encontrar cisalhamento no vento. Diferenças nas<br />
velocidades dos ventos superiores a 30 nós também são<br />
um bom indicativo de WS.<br />
Esses são resultados preliminares e empíricos,<br />
mas que já servem como referência a pilotos e<br />
meteorologistas. Pesquisas que visem à segurança dos<br />
aeronautas é um importante fator de progresso para a<br />
aviação moderna, principalmente em regiões inóspitas<br />
e de bruscas mudanças do tempo meteorológico, como<br />
a região Antártica. Iniciado por Byrd em 1946, hoje as<br />
operações com helicópteros são fundamentais para toda<br />
a logística das atividades humanas na Antártica.<br />
62
Boletim SBMET novembro/05<br />
2. BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA<br />
CABRAL, E.; ROMÃO, M. 1999. Atenção ao<br />
Relevo. Revista Aero Magazine. <strong>No</strong>va Cultural, Vol.<br />
6 n 65, 30-31.<br />
LEDESMA, M.; BALERIOLA, G. 1984.<br />
Meteorologia Aplicada a la Aviacion. Paraninfo. 389<br />
– 406.<br />
LESTER, P. F. 1997. Mountain Lee Waves in:<br />
Aviation weather. Englewood: Jeppesen Sanderson.<br />
10-9 a 10-17.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Ao PROANTAR, pelo apoio contínuo junto à<br />
Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar<br />
(SECIRM) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />
Científico e Tecnológico (CNPq); ao Ministério do<br />
Meio Ambiente (MMA); CPTEC e ao INPE, pelo apoio<br />
institucional, ao Ministério da Ciência e Tecnologia<br />
(MCT); à bolsa MCT DTI-381179/03-6; às equipes<br />
“Meteoro – H24”, ao Geógrafo Ricardo Burgo Braga<br />
(NOTOS/UFRGS) e à Marilene A. da Silva, pela atuação<br />
incansável nestes 20 anos.<br />
MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. Instituto de<br />
proteção ao Vôo – IPV. Ondas de Montanha, Uma força<br />
sobrepujada apenas pelos tornados. Apostila do Curso<br />
OP-178 (Especialização em meteorologia Aeronáutica,<br />
S/D).<br />
MURRAY, J.; BODILL, C. Página da expedição<br />
Polar First – flying to extremes, disponível em: http://<br />
www. Polarfirst.com/html/diary.php. (consultado em<br />
dezembro de 2005).<br />
PROJETO DE METEOROLOGIA ANTÁRTICA.<br />
Página do projeto disponível em: http://www.cptec.<br />
inpe.br/antartica. (consultado em dezembro de 2005).<br />
SIMÕES, J.C. 2004. Glossário da língua portuguesa<br />
da neve, do gelo e termos correlatos. In: Pesquisa<br />
Brasileira Antártica. Academia Brasileira de Ciências,<br />
Vol. 4: 119-154.<br />
63
Boletim SBMET novembro/05<br />
METEOROLOGIA AERONÁUTICA:<br />
SERVIÇO APAIXONANTE E CIÊNCIA COM VASTO<br />
CAMPO PARA A PESQUISA<br />
Cristina Voltas Carrera Fogaccia<br />
Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO<br />
Rodovia Hélio Smitdt, s/n – Caixa Postal 3051 – Cumbica<br />
CEP 07143-970 – Guarulhos – SP<br />
E-mail: cfogacci.cnsp@infraero.gov.br<br />
Desde o surgimento das primeiras aeronaves,<br />
as autoridades começaram a preocupar-se em<br />
disciplinar o tráfego aéreo com o objetivo de promover<br />
a segurança da navegação aérea.<br />
Em 1949, com a 1ª Guerra Mundial, surgiram as<br />
seguintes questões:<br />
64<br />
• Seria o espaço aéreo livre ao uso de todos?<br />
•<br />
•<br />
Teria o proprietário do solo o domínio absoluto<br />
da coluna do espaço aéreo correspondente ao<br />
seu imóvel?<br />
O Estado teria o direito de soberania no espaço<br />
aéreo sobrejacente ao respectivo território?<br />
Diante dessas dúvidas, formaram-se convenções<br />
internacionais para tratar desses assuntos relativos à<br />
navegação aérea. A mais importante foi a Convenção<br />
de Chicago de 1944, com a finalidade de direcionar<br />
certos princípios, para que a aviação internacional se<br />
desenvolvesse de maneira segura e sistemática. De<br />
forma resumida, as principais finalidades da Convenção<br />
de Chicago foram promover acordos internacionais<br />
para que a aviação civil internacional se desenvolvesse<br />
com segurança e de forma ordenada e que o Serviço<br />
de Transporte Aéreo Internacional se estabelecesse<br />
qualitativa e economicamente, além da criação da<br />
Organização de Aviação Civil Internacional (OACI),<br />
concretizada em 1947. O Brasil, como país signatário<br />
da OACI, adota sua legislação internacional.<br />
O Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro<br />
(SISCEAB) tem como função impor a presença do Estado<br />
no espaço aéreo sob sua jurisdição e responsabilidade,<br />
provendo condições para que o fluxo de tráfego aéreo,<br />
civil e militar, seja realizado com segurança, eficiência<br />
e regularidade, sempre com o conhecimento e de<br />
acordo com as condições estabelecidas pelo Comando<br />
da Aeronáutica. Uma das atividades do SISCEAB é<br />
o Serviço de Meteorologia Aeronáutica, estruturado<br />
dentro do Sistema de Proteção ao Vôo, visando<br />
prover aos usuários as informações meteorológicas<br />
necessárias ao planejamento, execução e controle dos<br />
vôos. Meteorologia Aeronáutica é definida como o<br />
ramo da ciência meteorológica que estuda os fenômenos<br />
atmosféricos que possam influenciar a navegação aérea,<br />
a segurança da infra-estrutura aeronáutica e a interação<br />
dos equipamentos de vôo com o ar atmosférico. As<br />
normas relativas à Meteorologia foram adotadas pelo<br />
Conselho de 1948, em conformidade com o estabelecido<br />
pela Convenção de Chicago, sendo descritas no “Anexo<br />
3 da Convenção de Aviação Civil Internacional”.<br />
Graças à necessidade de se fornecer informações<br />
meteorológicas para os aviadores foi criada uma rede de<br />
estações meteorológicas extensa, em cada aeródromo,<br />
com informações atualizadas a cada hora, com<br />
divulgação mundial. Com isso a área de Meteorologia
Boletim SBMET novembro/05<br />
Aeronáutica foi a alavanca das várias áreas de atuação da<br />
Meteorologia que dependem de receber continuamente<br />
as informações meteorológicas (Defesa Civil, marítima,<br />
mídia, etc).<br />
Quantos previsores dispunham apenas dos aeroportos<br />
para obter as informações dessa rede de estações para<br />
fazer suas previsões, antes de existir a divulgação das<br />
mensagens e imagens de satélites meteorológicos pela<br />
internet! Hoje, as informações meteorológicas são<br />
facilmente obtidas e o avanço contínuo da tecnologia<br />
está permitindo melhorar a qualidade dos serviços<br />
prestados.<br />
A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura<br />
Aeroportuária (INFRAERO) tem investido na<br />
informatização dos processos dos Centros e Estações<br />
Meteorológicos. A busca pela automatização das<br />
tarefas manuais, como a “plotagem” de cartas, tem<br />
como objetivo melhor aproveitar o potencial humano,<br />
focando sua atenção na análise meteorológica e no<br />
atendimento aos usuários da navegação aérea. A<br />
INFRAERO adquiriu o sistema VISMET para plotagem<br />
de cartas meteorológicas (carta auxiliar, SKEWT-Log<br />
P e “Tabuleiro”) para os Centros Meteorológicos de<br />
Aeródromo Classe 1 (CMA-1), facilitando e agilizando<br />
as tarefas dos CMA-1 dos Aeroportos Internacional<br />
de São Paulo/Guarulhos e do Rio de Janeiro/Galeão.<br />
Nas Estações Meteorológicas foi implantado um<br />
sistema para registro das observações meteorológicas,<br />
o INFOMET, desenvolvido inicialmente por um<br />
operador da rede e agora em processo de melhoria por<br />
profissionais de informática da própria empresa. Esse<br />
sistema permitiu a diminuição do preenchimento de<br />
formulários e facilitou a consulta a dados passados.<br />
A tendência é que o investimento em informatização<br />
na INFRAERO continue avançando para englobar<br />
todos os procedimentos de elaboração das previsões<br />
meteorológicas.<br />
Visando verificar a qualidade dessas previsões,<br />
existe um índice de acerto para as previsões elaboradas<br />
para cada aeródromo. Apesar de se ter uma média de<br />
acerto bom (entre 80% e 95%), essa média é feita por<br />
amostragem, de forma manual e, devido à demora na sua<br />
divulgação (em torno de um mês), e falta na definição<br />
dos parâmetros que levou à falha na previsão, a melhoria<br />
é muito incipiente. A tendência é investir na implantação<br />
de métodos de avaliação dessas mensagens previstas,<br />
dando ao previsor uma análise de sua previsão logo após<br />
o término da validade e fornecendo, além do seu índice<br />
global de acerto, uma informação detalhada de quais<br />
parâmetros meteorológicos tiveram mais acerto. Assim<br />
o previsor poderá guiar-se diariamente para melhorar a<br />
sua previsão para o dia seguinte. Também, as pesquisas<br />
poderão ser direcionadas conforme a necessidade. Por<br />
exemplo, se a previsão de nebulosidade for o fator que<br />
estiver diminuindo esse índice de acerto, então o foco<br />
de pesquisa passará a ser o estudo da previsibilidade<br />
desse parâmetro. O próximo passo será a implantação<br />
de modelos regionais em tempo real, de resolução<br />
adequada para a previsão dos parâmetros de interesse<br />
para a aviação, com foco em cada aeródromo.<br />
Todo o SISCEAB está estruturado para ser flexível,<br />
de forma a atender a demanda dos movimentos aéreos<br />
e aumentar a segurança, conforme o desenvolvimento<br />
da tecnologia. Com isso, as normas também mudam, e<br />
todo o pessoal envolvido tem que ser constantemente<br />
treinado para aplicar as novas normas e tecnologias. O<br />
Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA)<br />
e a INFRAERO investem em instrução, por meio de<br />
cursos de formação e atualização. A operação 24 horas<br />
dos Centros e Estações Meteorológicas é o diferencial<br />
desse serviço, e seria melhor ainda se houvesse um<br />
espaço dentro da atual estrutura para a existência de uma<br />
equipe voltada para a pesquisa na área. Existem poucos<br />
trabalhos científicos nessa área, apesar de intenções<br />
isoladas para estabelecer vínculos para conduzir a<br />
pesquisa para aplicação na área de Meteorologia<br />
Aeronáutica.<br />
Concluindo: Trabalhar com Meteorologia<br />
Aeronáutica é extremamente envolvente, apaixonante<br />
e gratificante. Envolvente, porque essa área tem uma<br />
missão nobre: “Proteger Vidas”. Apaixonante, porque<br />
diariamente, durante 24 horas, o profissional tem um<br />
grande desafio de cumprir sua missão e conquistar a<br />
credibilidade para o seu serviço. Gratificante, porque o<br />
contato com o usuário é muito próximo, com interação<br />
constante e palavras de elogio freqüentes. E, esta área<br />
apaixonante tem um vasto campo inexplorado repleto<br />
de desafios para a comunidade meteorológica.<br />
65
Boletim SBMET novembro/05<br />
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />
BRASIL. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA.<br />
INSTITUTO DE PROTEÇÃO AO VÔO.<br />
Gerenciamento de Atividades do SISCEAB (CG112),<br />
São José dos Campos: IPV, 1999.<br />
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION<br />
ORGANIZATION. Meteorological Service for<br />
International Air Navigation: Annex 3 to the<br />
Convection on International Civil Aviation. 5th . ed.<br />
[S.L.]: ICAO, 2004.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Agradeço ao Cel. Av. José Maria Ribeiro Mendes,<br />
pelo incentivo para escrever este texto e por apoiar as<br />
inovações no Centro Meteorológico de Aeródromo de<br />
Guarulhos (CMA-1 GR) e a Marcelo da Silva Fogaccia<br />
e Lúcia Setiuko Tengan, pela revisão e sugestões.<br />
66
Boletim SBMET novembro/05<br />
MONITORAMENTO E EVOLUÇÃO DE DESCARGAS<br />
ELÉTRICAS ATMOSFÉRICAS ASSOCIADAS A SISTEMAS<br />
CONVECTIVOS DE MESOESCALA<br />
Suzana Rodrigues Macedo 1 , Wagner Flauber Araújo Lima 1 ,<br />
Luiz Augusto Toledo Machado 1 , Osmar Pinto Junior 2<br />
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE<br />
1<br />
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais –<br />
INPE/CPTEC/DSA<br />
2<br />
Divisão de Geofísica Espacial/Grupo de Eletricidade Atmosférica – INPE/DGE/ ELAT<br />
E-mails:{suzana, wagner, machado}@cptec.inpe.br, osmar@dge.inpe.br<br />
RESUMO<br />
Este artigo tem como objetivo apresentar um produto recentemente disponibilizado pelo CPTEC/INPE, em<br />
parceria com o grupo de Eletricidade Atmosférica do DGE/INPE. Trata-se da detecção de descargas atmosféricas<br />
distribuídas na imagem do canal infravermelho do GOES, em uma área de 10 x 10 km 2 e também da quantidade<br />
de descargas elétricas associadas a sistemas convectivos de mesoescala detectados pelo ForTraCC (Forecast and<br />
Tracking the evolution of Cloud Clusters).<br />
Palavras-chave: descargas atmosféricas, sistemas convectivos, ForTraCC, GOES.<br />
ABSTRACT<br />
The main goal of this article is to present a product recently developed by CPTEC/INPE in partnership with the<br />
Atmospheric Electricity Group of DGE/INPE. The product shows the spatial distribution of lightning flashes<br />
on a GOES infrared image within an area of 10 x 10 km 2 , and the number of lightning occurrence associated to<br />
mesoscale convective systems detected by the ForTraCC (Forecast and Tracking the evolution of Cloud Clusters)<br />
software.<br />
Key words: lightning flashes, cloud clusters, ForTraCC, GOES.<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
O monitoramento em tempo real de tempestades<br />
vem despertando o interesse tanto da comunidade<br />
meteorológica, como da sociedade em geral, visto a sua<br />
reconhecida utilidade nas tomadas de decisão por parte<br />
da defesa civil, redes de distribuição de energia elétrica<br />
e possibilidades de estudos sobre suas características<br />
em diferentes regiões. Os Sistemas Convectivos de<br />
Mesoescala (SCM) são responsáveis pela maior parte da<br />
precipitação nos trópicos e em várias regiões de latitudes<br />
médias durante a estação quente (Maddox, 1980; Mathon<br />
e Laurent, 2001; Machado et al., 2004). O ForTraCC é<br />
um método que faz o acompanhamento das trajetórias<br />
e ciclo de vida dos SCM, utilizando imagens no canal<br />
infravermelho termal de satélite geoestacionário, com<br />
base nas similaridades das características morfológicas<br />
e da área de superposição entre os SCM em imagens<br />
67
Boletim SBMET novembro/05<br />
sucessivas (Machado et al., 1998).<br />
Um aspecto da precipitação intensa é a quantidade<br />
de relâmpagos, muitas vezes associada à sua ocorrência.<br />
Descargas atmosféricas são descargas elétricas de grande<br />
extensão (na ordem de quilômetros) e intensidade que<br />
ocorrem devido ao acúmulo de cargas elétricas, em geral<br />
em regiões localizadas dentro de tempestades (Pinto<br />
Jr, 2005). A Rede Integrada Nacional de Detecção de<br />
Descargas Elétricas (RINDAT) é uma rede de sensores<br />
e centrais que permitem a detecção, em tempo real, da<br />
maior parte de descargas que atingem o solo brasileiro<br />
(maiores informações no sítio http://www.rindat.com.<br />
br). Através desta rede são obtidos os dados de descargas<br />
elétricas nuvem-solo em tempo real.<br />
Com o objetivo de complementar o acompanhamento<br />
das tempestades atmosféricas através do ForTraCC,<br />
a Divisão de Satélites Ambientais (DSA) do Centro<br />
de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/<br />
INPE), em parceria com o grupo de Eletricidade<br />
Atmosférica do INPE (ELAT) da Divisão de Geofísica<br />
Espacial (DGE/INPE) e a RINDAT, recentemente<br />
desenvolveu um novo produto em caráter operacional:<br />
o monitoramento de descargas elétricas atmosféricas<br />
acumuladas por pixel e a associação destas descargas<br />
com a ocorrência de SCM.<br />
Este trabalho tem como objetivo apresentar o novo<br />
sistema de monitoramento, que permite acompanhar<br />
em tempo real a evolução da quantidade de descargas<br />
elétricas associadas à ocorrência de SCM. Os dados<br />
operacionais estão sendo disponibilizados para usuários<br />
no sítio http://satelite.cptec.inpe.br/htmldocs/raio/<br />
desc_elet_nova.htm.<br />
2. DADOS E METODOLOGIA<br />
O monitoramento de descargas elétricas em SCM<br />
envolve a utilização de arquivos de dados de relâmpagos<br />
terra-solo fornecidos pela rede RINDAT, a cada 15<br />
minutos, e também de imagens GOES, recebidas a<br />
cada meia hora pela DSA/CPTEC e processadas pelo<br />
ForTraCC.<br />
As informações de quantidade total de relâmpagos,<br />
ocorridos a cada meia hora (15 minutos antes a 15<br />
minutos depois do horário da varredura do satélite GOES<br />
em 20ºS), são distribuídas sobre a grade da imagem do<br />
canal infravermelho (4 x 4 km 2 ) gerando uma matriz M 1<br />
.<br />
Desta forma o conteúdo da matriz M 1<br />
corresponde ao<br />
número de raios encontrados em cada pixel da imagem<br />
GOES (canal infravermelho), no período de meia hora.<br />
Esta informação é disponibilizada para usuários a cada<br />
meia hora, após a matriz M1 ser interpolada para uma<br />
grade de 10 x 10 km 2 (referência em 20ºS).<br />
Para o acompanhamento da evolução do número<br />
de descargas elétricas em SCM, fez-se uma integração<br />
das informações provenientes das matrizes M 1<br />
com<br />
as detecções de sistemas convectivos ocorridas nos<br />
mesmos horários. As informações de detecção de<br />
SCM são disponibilizadas a cada meia hora pela DSA,<br />
adotando a metodologia empregada no ForTraCC.<br />
<strong>No</strong> ForTraCC, o processo de detecção de sistemas<br />
é aplicado para dois limiares de temperatura de brilho,<br />
sendo 235 K para SCM e 215 K para células convectivas.<br />
O método de identificação de um mesmo SC no tempo<br />
“t” e nas imagens sucessivas em “t+∆t”, é baseado no<br />
critério de mínima superposição da área dos SCM em<br />
imagens sucessivas. A área de superposição deve ter um<br />
valor mínimo n = 150 pixels (aproximadamente 2.400<br />
km 2 ), para considerar a continuidade do SCM em um<br />
∆t= 30 minutos. Se a área de superposição é menor que<br />
n, o sistema não é considerado como sendo o mesmo<br />
sistema no tempo anterior (Machado et al., 1998).<br />
O ForTraCC adota a variação da área do sistema<br />
em relação ao tempo como parâmetro P, indicativo do<br />
crescimento (ou decrescimento) relativo do sistema com<br />
respeito a sua área média, em um intervalo de tempo δt<br />
(tipicamente meia hora) (Machado et al., 2004; Macedo<br />
et al., 2004) Se P > 0 o sistema está em processo de<br />
expansão e se P < 0 seu estado é de dissipação.<br />
A cada meia hora, o ForTraCC disponibiliza um<br />
conjunto de informações a respeito dos SCM detectados<br />
na imagem GOES do horário correspondente,<br />
acompanhado do histórico destas informações durante a<br />
evolução do ciclo do sistema e também uma matriz M 2<br />
,<br />
cujos pixels são identificados com o número do SCM<br />
a que pertencem ou como não pertencente a nenhum<br />
68
Boletim SBMET novembro/05<br />
sistema. Para identificar, dentro da área ocupada<br />
por cada SCM, a quantidade de descargas elétricas<br />
atmosféricas é feita uma superposição entre as matrizes<br />
M 1<br />
e M 2<br />
, atribuindo a cada sistema convectivo a soma<br />
das descargas elétricas ocorridas dentro de sua área.<br />
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />
Neste item são apresentados alguns exemplos de<br />
resultados que são obtidos com o método descrito<br />
no item anterior, como exemplos da contribuição<br />
da meteorologia por satélites no monitoramento de<br />
tempestades.<br />
A Figura 1 ilustra, como exemplo, uma imagem de<br />
satélite GOES no canal infravermelho em cujos pixels<br />
foram detectadas descargas elétricas no período de meia<br />
hora. A tecnologia empregada nos sensores permite a<br />
detecção de descargas atmosféricas com até 90% de<br />
eficiência, dependendo da distribuição dos sensores. As<br />
curvas de eficiência de detecção são representadas pelas<br />
linhas na figura.<br />
Uma vez que as regiões onde atuam os SCM são<br />
afetadas por precipitação intensa e que existe uma<br />
relação entre a ocorrência de descargas atmosféricas<br />
e a existência de tempestades, tornou-se conveniente<br />
uma interação dos dados de quantidades de descargas<br />
atmosféricas exemplificados na Figura 1 com a presença<br />
de sistemas convectivos, a fim de se estudar a evolução<br />
das descargas elétricas nestes sistemas. As Figuras 2 e<br />
3 apresentam exemplos de como estas informações são<br />
disponibilizadas para os usuários, através do estudo<br />
de um SCM ocorrido em 28 de setembro de 2005, as<br />
22:30 UTC. Na Figura 2, o sistema analisado encontrase<br />
destacado através de círculos. Na Figura 2a observase<br />
os SCM detectados pelo ForTraCC. Na página de<br />
apresentação do produto, diferentes cores indicam as<br />
fases do ciclo de vida em que cada sistema se encontra:<br />
intensificação (vermelho), estabilidade (amarelo) ou<br />
desintensificação (verde) e os tempos de vida previstos<br />
para os SCM são indicados pelas cores das setas, que<br />
apontam para a direção prevista para suas trajetórias. O<br />
período de duração dos SCM divide-se em até 2 horas,<br />
entre 2 horas e 6 horas e, de no mínimo 6 horas. O sistema<br />
escolhido para este estudo encontra-se destacado pelo<br />
círculo. A cor vermelha indica que o sistema está em<br />
fase de intensificação no horário da imagem. A Figura<br />
2b apresenta as quantidades de descargas atmosféricas<br />
associadas aos SCM, distribuídas em intervalos.<br />
Nesta figura, sobre a região do SCM analisado, foram<br />
detectadas entre 50 e 100 descargas elétricas durante um<br />
período de meia hora.<br />
A Figura 3 ilustra a evolução SCM analisado,<br />
segundo as características de temperatura mínima,<br />
expansão e quantidade de relâmpagos. É importante<br />
salientar que os conceitos de temperatura mínima e<br />
expansão adotados pelo ForTraCC, durante este estudo,<br />
correspondem, respectivamente, à média dos cinco pixels<br />
de menor temperatura de brilho encontrados no sistema<br />
e à variação do tamanho da área em relação ao tempo.<br />
Portanto, a temperatura mínima do sistema encontrandose<br />
abaixo do limiar de 215K, representa a temperatura<br />
média dos topos mais frios (células convectivas) do SCM.<br />
A queda na temperatura dos topos mais frios, observada<br />
na Figura 3a, associada ao aumento da expansão da área<br />
do sistema no mesmo período (Figura 3b), representa<br />
intensificação da atividade convectiva (Machado et al.,<br />
2004). A Figura 3c ilustra um aumento no número de<br />
descargas elétricas associadas ao sistema durante sua<br />
intensificação e queda deste número quando o sistema<br />
começa a desintensificar. Observando-se as três curvas<br />
da Figura 3 como um todo, nota-se que a curva de<br />
valores de temperatura mínima, segue o comportamento<br />
da curva de quantidades de relâmpagos. Neste caso, o<br />
pico da curva de expansão da área antecede o pico de<br />
evolução da ocorrência de relâmpagos.<br />
Casos como este, em que o comportamento da<br />
expansão do SCM parece predizer a evolução da<br />
ocorrência de descargas atmosféricas, vêm sendo<br />
observados com relativa freqüência, o que tem motivado<br />
estudos sobre a previsão de descargas atmosféricas,<br />
como uma ferramenta para o nowcasting.<br />
69
Boletim SBMET novembro/05<br />
Figura 1: – Número de raios detectados em uma área de 10 x 10 km 2 . As áreas delineadas em preto<br />
correspondem a área de efi ciência de detecção (20, 60 e 90%) fornecida pelo fabricante dos detectores.<br />
(a)<br />
Figura 2: – Sistemas convectivos detectados pelo ForTraCC: a) fase do ciclo de vida, direção e previsão de duração;<br />
b) número de descargas atmosféricas por sistema convectivo<br />
(b)<br />
70
Boletim SBMET novembro/05<br />
(a)<br />
(b)<br />
(c)<br />
Figura 3: – Evolução histórica das características do SCM: a) temperatura mínima; b) expansão; c) descargas elétricas no SCM.<br />
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Neste trabalho foi apresentada uma contribuição<br />
da Meteorologia por Satélites no monitoramento<br />
de tempestades: o acompanhamento da evolução<br />
de descargas elétricas atmosféricas em SCM. O<br />
método intera dois tipos de informações, tal como o<br />
acompanhamento de SCM em imagens de satélite GOES<br />
através do ForTraCC e a detecção de descargas elétricas<br />
na atmosfera, através de sensores da rede RINDAT.<br />
Os dados de quantidade de relâmpagos são<br />
interpolados para a grade das imagens GOES (4 x 4<br />
km 2 ) e superpostos com dados de detecção de sistemas<br />
convectivos. O resultado é o desenvolvimento de um<br />
novo produto, que é a detecção de descargas elétricas<br />
associadas a sistemas convectivos. Este produto é<br />
destinado a aplicações pela defesa civil, redes de<br />
distribuição e transmissão de energia elétrica e previsão<br />
de tempo entre outras, e está sendo disponibilizado<br />
operacionalmente na DSA/CPTEC a cada meia hora.<br />
Também são disponibilizados os dados de número de<br />
relâmpagos detectados em uma grade de 10 x 10 km 2 ,<br />
distribuídos sobre imagens do canal infravermelho do<br />
GOES.<br />
As análises apresentadas neste trabalho fazem parte<br />
de um estudo que visa um futuro sistema de previsão<br />
de descargas elétricas, a partir de uma única base<br />
de dados que reúne informações sobre evolução das<br />
características de sistemas convectivos e quantidade de<br />
descargas elétricas atmosféricas.<br />
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
MACHADO, L. A. T; LAURENT, H. The<br />
Convective System Area Expansion over Amazonia and<br />
its Relationships with Convective System Life Duration<br />
and High-Level Wind Divergence. Mon. Wea. Rev.,<br />
v.132, n 4, p. 714-725, 2004.<br />
MACHADO, L.A.T; ROSSOW, W. B; GUEDES R.<br />
L; WALKER, A. Life cycle variations of convective<br />
systems over the Americas. Mon. Wea. Rev., v.126, p.<br />
1630-1654, 1998.<br />
MACEDO, S.R; MACHADO, L.A.T; VILA,<br />
D; MORALES, C.A. Monitoramento de sistemas<br />
convectivos de mesoescala atuantes no Brasil utilizando<br />
o FORTRACC (Forecast and Tracking of Active and<br />
Convective Cells). In: XIII Congresso Brasileiro de<br />
Meteorologia, Fortaleza-CE. Anais. 2004. (CD-ROM)<br />
MADDOX, R.A. Mesoscale convective complexes.<br />
Bull. Amer. Meteor. Soc., v.61, p.1374-1387, 1980.<br />
MATHON, V.; LAURENT, H. Life cycle of the<br />
Sahelian Mesoscale Convective Cloud Systems. Quart.<br />
J. Roy. Meteo. Soc., v. 127, p.377-406, 2001.<br />
PINTO JR, O. A arte da guerra contra os raios.<br />
Editora Oficina do Texto, 2005.<br />
PINTO JR., O; SABA, M.M.F; PINTO, I.R.C.A;<br />
TAVARES, F.S.S; SOLORZANO, N.N; NACCARATO,<br />
K.P; TAYLOR, M; PAUTET, P.D; HOLZWORTH,<br />
R.H. Thunderstorm and lightning characteristics<br />
associated with sprites in Brazil. Geophys. Rech. Lett.,<br />
31(13):13103-13106, 2004.<br />
71
Boletim SBMET novembro/05<br />
NOTÍCIA<br />
MONITORAMENTO DE QUEIMADAS RECEBE<br />
PRÊMIO INTERNACIONAL NO JAPÃO<br />
O pesquisador Alberto Setzer, do Centro de Previsão<br />
de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto<br />
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão do<br />
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), recebeu, no<br />
início do mês de setembro, em cerimônia realizada no<br />
Castelo de Nagoya, no Japão, o prêmio Global 100 Eco-<br />
Tech Awards. O prêmio foi concedido ao monitoramento<br />
de queimadas e incêndios florestais por satélites, operado<br />
pelo INPE e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O trabalho foi<br />
o único brasileiro contemplado nesta edição do evento e<br />
um dos poucos desde que o prêmio foi instituído.<br />
O Global 100 Eco-Tech Awards foi criado pela<br />
Associação Japonesa para a EXPO-2005 com o intuito<br />
de reconhecer as 100 tecnologias de cunho ambiental<br />
que mais contribuíram na solução de problemas globais<br />
para a criação do futuro sustentável. Para a seleção, um<br />
Comitê escolheu os 100 melhores trabalhos entre 236<br />
indicados, limitando em 23 os prêmios a instituições<br />
não-japonesas. O processo de escolha dos trabalhos<br />
contou com um Comitê Técnico de busca que identificou<br />
e indicou trabalhos de destaque. Não houve, portanto,<br />
inscrições para concorrer ao prêmio.<br />
A Feira Mundial, realizada pela primeira vez<br />
em 1851, é considerada um evento internacional de<br />
primeira magnitude pelos países-sedes do evento e pelos<br />
expositores. Na edição deste ano, realizada entre março<br />
e setembro, circularam cerca de 100 mil visitantes por<br />
dia. Mais detalhes sobre o assunto na página internet<br />
ACONTECE, de notícias do INPE/MCT (http://www.<br />
inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_<strong>No</strong>ticia=425).<br />
Foto: Cerimônia de entrega do Prêmio Global 100 Eco-Tech Awards ao Dr. Alberto Setzer, do INPE.<br />
72
EXPEDIENTE<br />
da SBMET<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
RELATÓRIO DE ATIVIDADES DO<br />
WORKSHOP SOBRE O FENÔMENO CATARINA<br />
Manoel Alonso Gan<br />
Vice-Diretor Científico da SBMET/Coordenador do Evento<br />
manoel@cptec.inpe.br<br />
O Workshop sobre o Fenômeno Catarina, organizado<br />
pela Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET),<br />
com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais<br />
(INPE) e Centro de Previsão de Tempo e Estudos<br />
Climáticos (CPTEC/INPE), foi realizado no Auditório<br />
do Laboratório de Integração e Testes (LIT/INPE) em<br />
São José dos Campos - SP, nos dias 28 e <strong>29</strong> de junho de<br />
2005. O objetivo principal deste evento foi o de reunir<br />
pesquisadores e meteorologistas, do Brasil e do exterior,<br />
para discutir as características dinâmicas e sinóticas do<br />
ciclone Catarina e de outros tipos de ciclones existentes<br />
em outras partes do globo, com a finalidade de definir<br />
o tipo de ciclone que o Catarina pertence. Além de<br />
promover um intercâmbio de experiências na previsão<br />
de ciclones intensos entre os profissionais que atuam<br />
na previsão do tempo e na pesquisa. Fez parte também<br />
dos objetivos discutir as deficiências dos modelos de<br />
Previsão Numérica de Tempo (PNT) nas previsões de<br />
ciclones intensos no Brasil.<br />
O primeiro dia do evento foi marcado por<br />
apresentação de palestras que trataram de analisar as<br />
condições sinóticas associadas ao desenvolvimento<br />
do Catarina, através de análise numérica (Dr. Wallace<br />
Menezes – UFRJ) e de dados de satélites meteorológicos<br />
(Dr. Augusto Pereira –USP/IAG). Foi apresentada<br />
também comparação do Catarina com os ciclones<br />
tropicais (Dr. Jack Beven - pesquisador americano do<br />
Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos com<br />
base na Flórida – Miami), com os ciclones híbridos que<br />
se formam na costa leste da Austrália (Dr. Greg Holland<br />
- Diretor da Divisão de Meso e Microescala do Centro<br />
Nacional de Pesquisas Atmosféricas, também ex-<br />
Diretor Geral do Serviço Meteorológico Australiano),<br />
com baixas polares e ciclones do Mediterrâneo (Dr.<br />
Manoel Gan – INPE/CPTEC). Outras palestras trataram<br />
das incertezas na previsão numérica do Catarina<br />
(Dr. Pedro Dias – USP/IAG e Dr. José Paulo Bonatti<br />
– INPE/CPTEC), o efeito das mudanças climáticas<br />
na freqüência de ocorrência de fenômenos extremos<br />
(Dr. José Marengo - INPE/CPTEC), a importância do<br />
fenômeno Catarina para a Meteorologia e a Sociedade<br />
(Dra. Maria Assunção F. Silva Dias – INPE/CPTEC) e<br />
a experiência de estar no olho do ciclone Catarina (Dr.<br />
Reinaldo Hass - UFSC).<br />
Após o ciclo de palestras, houve uma reunião do<br />
grupo de trabalho que contou com a participação<br />
dos palestrantes, pesquisadores, meteorologistas e<br />
estudantes, quando se debateu se o Catarina poderia<br />
se classificado como um furacão independente de<br />
sua origem, ou se seria inicialmente poderia ser um<br />
ciclone subtropical, que durante o seu desenvolvimento<br />
adquiriu características de um furacão. Apesar de não<br />
ter havido um consenso nessas duas linhas de idéias,<br />
nem por parte dos pesquisadores estrangeiros, chegouse<br />
a uma definição para divulgar para a imprensa e ao<br />
público de que o Catarina se formou como um ciclone<br />
sobre o Oceano Atlântico e, ao se deslocar em direção<br />
ao continente, adquiriu características de furacão. <strong>No</strong><br />
futuro, outros ciclones que adquirirem intensidades da<br />
ordem do Catarina, serão chamados de furacão em seu<br />
estágio de máxima intensidade.<br />
<strong>No</strong> segundo dia houve duas mesas redondas para se<br />
discutir os sistemas de previsão de ciclones intensos no<br />
exterior (Jack Beven e Greg Holland) e a experiência<br />
brasileira na previsão do tempo do evento Catarina<br />
(Giovanni Dolif - INPE/CPTEC, Hugo José Braga<br />
–EPAGRI/CIRAM, César Duquia - SIMEPAR, Alberto<br />
Pedrassani Costa Neves – SMM, Márcio Custódio<br />
- SOMAR e Expedito Rebello - INMET). Na reunião<br />
73
Boletim SBMET novembro/05<br />
do grupo de trabalho referente a essas duas mesas<br />
redondas, foram propostas várias considerações, sendo<br />
as seguintes as principais:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Criar um Centro de Alerta de tempestades<br />
severas;<br />
Investir em capacitação em tempo severo,<br />
formando meteorologistas preparados<br />
tecnicamente e também para lidar com a mídia.<br />
Nesse sentido, poderia ser criado um “South<br />
American Desk” no Brasil para treinamento de<br />
meteorologistas brasileiros;<br />
Incentivar intercâmbio com instituições nacionais<br />
e internacionais através de cooperações e<br />
colaborações;<br />
Melhorar o sistema de Observações tanto no oceano<br />
(aumentar o número de bóias) como o terrestre<br />
(instalar mais radares meteorológicos e melhorar<br />
a rede de superfície e de radiossondagem);<br />
Investir em sistema de disseminação dos dados,<br />
em laboratórios para manter a rede de observação<br />
em perfeito funcionamento e em treinamento em<br />
Sensoriamento Remoto;<br />
Atuar junto aos órgãos governamentais para<br />
incentivar a construção e lançamento de satélites<br />
meteorológicos brasileiros;<br />
•<br />
•<br />
A SBMET deve investir em organizar cursos<br />
de treinamento, aproveitando os recursos da<br />
internet.<br />
Solicitar ao representante do Brasil apoio para a<br />
SBMET na OMM, em suas iniciativas.<br />
A SBMET fica incumbida de levar essas atribuições<br />
ao governo e instituições brasileiras que atuam na área<br />
de Meteorologia.<br />
Várias matérias sobre esse evento foram veiculas<br />
na mídia impressa, podendo-se citar: Bom Dia São<br />
Paulo (em 28/06/05), Bom Dia Vanguarda (28/06/05)-<br />
Globo - Vale do Paraíba, TV Vanguarda 1ª e 2ª edições<br />
(28/06/05), TV Globo - Jornal Nacional (<strong>29</strong>/06/05),<br />
TV Vanguarda - 1ª e 2ª edições (<strong>29</strong>/06/05), TV Band<br />
(28/06/05) - Nacional e regional (Vale do Paraíba),<br />
TV Band – regional (<strong>29</strong>/06/05), TV Canção <strong>No</strong>va<br />
(28/06/05), TV Canção <strong>No</strong>va (<strong>29</strong>/06/05), Rádio Band<br />
(28/06/05), Band News FM (30/06/05), Tribuna de<br />
Santos (28/06/05), vários entrevistados para matérias<br />
foram publicadas, tais como no Caderno de Ciência,<br />
O ECO (site de ONG ambiental), <strong>No</strong>tícias do MCT/<br />
BR, Portal Biotecnologia/DF, Zero Hora/RS, Jornal<br />
Nacional Online, Correio do Litoral/SP, A <strong>No</strong>tícia/SC,<br />
Diário Catarinense/SC, Jornal da Ciência/BR, Jornal<br />
da Manhã, Criciúma/SC, O Estado do Paraná/PR, entre<br />
outros.<br />
PARTICIPAÇÃO DA SBMET NA 57ª Reunião Anual da SBPC<br />
Esse evento foi realizado no período de 17 a 22 de<br />
julho de 2005, em Fortaleza, CE, e durante o evento<br />
a SBMET promoveu a realização de um mini-curso<br />
para professores de 10 e 20 graus, uma Conferência<br />
e um Simpósio. O mini-curso METEOROLOGIA<br />
– APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS NO ESTUDO<br />
AMBIENTAL contou com a participação de 25 docentes<br />
atuando na Região <strong>No</strong>rdeste, em especial em Fortaleza.<br />
A SBMET participou ministrando quatro aulas através<br />
das professoras Maria Gertrudes A. Justi da Silva (UFRJ)<br />
e Meiry Sayuri Sakamoto (FUNCEME).<br />
A Presidente da Sociedade Brasileira de<br />
Meteorologia, Dra. Maria Gertrudes A. Justi da Silva,<br />
Professora da UFRJ, ministrou a conferência intitulada<br />
“PREVISÕES METEOROLÓGICAS NO BRASIL:<br />
COMO SE FAZ? POR QUE MELHORARAM<br />
TANTO?”.<br />
Sob a Coordenação da Presidente da SBMET, o<br />
tema debatido durante o Simpósio foi “POR QUE<br />
LANÇAR SATÉLITES PARA OBSERVAÇÕES<br />
METEOROLÓGICAS?”, e contou com as<br />
apresentações do Dr. Marcelo de Paula Correa do DAS/<br />
CPTEC/INPE e do Dr. Nelson Arai, do IAE/CTA. Esteve<br />
presente participando das discussões o Coordenador<br />
do Projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro, Dr.<br />
Osvaldo Catsumi.<br />
74
EXPEDIENTE<br />
da SBMET<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
PARTICIPAÇÃO DA SBMET NA REUNIÃO DO FÓRUM BRASILEIRO DE<br />
MUDANÇAS CLIMÁTICAS “Diálogo Sobre Mudanças Climáticas”<br />
O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas<br />
(FBMC) em atividade conjunta com o Ministério do<br />
Meio Ambiente (MMA) e o Ministério de Ciência e<br />
Tecnologia (MCT) realizou Reunião Ordinária nos dia 09<br />
e 10 de novembro de 2005 e que contou com a presença<br />
do Ministra de Estado do Meio Ambiente Marina Silva,<br />
Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia Sergio<br />
Resende, representante do Ministro de Estado de Minas<br />
e Energia Silas Rondeau. A SBMET foi convidada a<br />
participar deste evento, sendo representada por sua<br />
Presidente, Maria Gertrudes A. Justi da Silva.<br />
ANDAMENTO DOS PREPARATIVOS PARA O<br />
XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA (XIV CBMET)<br />
Em Reunião Ordinária da Diretoria Executiva da<br />
SBMET, datada de 22 de setembro do ano corrente,<br />
foi definido que o XIV CBMET será realizado no<br />
período de 27 de novembro e 1 de dezembro de 2006,<br />
no Centro de Convenções da Universidade Federal<br />
de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis, SC. O<br />
tema será A Meteorologia a Serviço da Sociedade.<br />
Foi aprovado como estrutura para o XIV CBMET a<br />
Presidência do Congresso, e abaixo desta, os Comitês<br />
Organizador, Científico, de Infra-estrutura, de Finanças<br />
e de Divulgação. A Presidente do Congresso e do Comitê<br />
Organizador será a Presidente da SBMET.<br />
Haverá seis sessões temáticas de aplicações,<br />
distribuídas da seguinte forma: 1) Agricultura, 2) Energia,<br />
3) Transporte, Defesa Civil e Militar e comunicações,<br />
4) Indústria, comércio, pesca e economia, 5) Saúde e<br />
ambiente, 6) Esporte, turismo, lazer e cultura. As Áreas<br />
Temáticas para submissão de trabalhos são: Climatologia<br />
Geral, Variabilidade do Clima, Hidrometeorologia,<br />
Poluição, Interação Oceano-Atmosfera e Química<br />
da Atmosfera, Processos de Troca entre solo-plantaatmosfera,<br />
Sensoriamento da Atmosfera, Sistemas<br />
Meteorológicos e Previsão de Tempo.<br />
Os trabalhos científicos, em sua forma completa,<br />
começarão a ser recebidos a partir de março de 2006;<br />
a data limite para o envio dos trabalhos é 30 de junho<br />
de 2006 e as respostas de aceitação serão encaminhadas<br />
aos autores até 31 de agosto de 2006.<br />
A SBMET, em parceria com a CLIMATEMPO, e sob<br />
a Coordenação da Vice-Diretora Profissional, Sra. Ana<br />
Lúcia Frony de Macedo, lançou um Concurso de Marcas<br />
para definir o layout do XIV CBMET. As inscrições<br />
tiveram início as 00 horas do dia 01 de novembro<br />
de 2005 e se estenderão até o dia 10 de dezembro de<br />
2005. O vencedor será anunciado entre os dias 05 e<br />
10 de janeiro de 2006, pelos sites www.<strong>sbmet</strong>.org.br e<br />
www.climatempo.com.br. As regras para inscrição no<br />
concurso supramencionado foram divulgadas via mala<br />
direta da SBMET, no Portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.<br />
org.br) e no site da CLIMATEMPO (www.climatempo.<br />
com.br). O vencedor receberá uma câmera fotográfica<br />
digital e, em hipótese alguma, haverá a conversão em<br />
dinheiro dos prêmios ou substituição dos equipamentos<br />
concedidos.<br />
75
EXPEDIENTE<br />
da SBMET<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
Simpósio Internacional de Climatologia (SIC):<br />
a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas<br />
Grade da Programação Científi ca<br />
Horário<br />
23 de outubro de 2005 – Domingo<br />
10:00-16:00 Entrega de material – Secretaria do evento<br />
18:00 SOLENIDADE DE ABERTURA – SALÃO IRACEMA<br />
20:30 Abertura da Feira Técnica no Hall do Marina Park Hotel e Coquetel de Abertura no Bosque<br />
Horário<br />
24 de outubro de 2005 – Segunda-feira<br />
Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />
08:00-10:00<br />
MINI-CURSO 1<br />
MINI-CURSO 2<br />
Fixação de<br />
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />
PARA REUNiÕES<br />
Painéis da<br />
Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliação de<br />
ESPECÍFICAS<br />
Sessão Poster<br />
Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos.<br />
MESA REDONDA 1 MESA REDONDA 1<br />
10:00-12:00<br />
Sub-Tema 3: QURSA Sub-Tema 5: ASEGRSA<br />
PARA REUNiÕES<br />
A Ilha de Calor Urbana e Políticas Públicas para Gestão Sessão Poster<br />
ESPECÍFICAS<br />
Aspectos Ligados à Hidrologia da Água no Semi-Árido<br />
e Urbanismo<br />
12:00-14:00 Almoço Livre<br />
MESA REDONDA 1<br />
Sub-Tema 1: ACMRH<br />
MESA REDONDA 2<br />
Sub-Tema 5: ASEGRSA<br />
14:00-16:00<br />
Análise do Ciclo Hidrológico Saúde Pública e Epidemiologia<br />
Reunião do Projeto<br />
Sessão Poster<br />
em Regiões Semi-Áridas em Regiões Semi-Áridas<br />
EXIMIA – Ne<br />
e o Uso de Sensoriamento<br />
Remoto<br />
16:00-16:30 Coffee Break<br />
16:30-18:00 - - Sessão Poster<br />
Continuação da<br />
Reunião doProjeto<br />
EXIMIA - Ne<br />
18:00-20:00<br />
PLENÁRIA<br />
Sub-Tema 1 – ACMRH<br />
Revitalização e Transposição de Bacias nas Regiões Semi-<br />
- -<br />
Áridas<br />
Jantar Livre – Sugestão: Bar PIRATA<br />
76
Boletim SBMET novembro/05<br />
Horário<br />
25 de outubro de 2005 – Terça-feira<br />
Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />
MINI-CURSO 1<br />
MINI-CURSO 2<br />
08:00-10:00<br />
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />
PARA REUNIÕES<br />
Sessão Poster<br />
Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliação de<br />
ESPECÍFICAS<br />
Fundamental e Médio Extremos Hidro - Climáticos<br />
MESA REDONDA 2<br />
Sub-Tema 1: ACMRH<br />
MESA REDONDA 3<br />
Sub-Tema 5:ASEGRSA<br />
10:00-12:00<br />
Recursos Hídricos e A Comunicação entre Quem<br />
PARA REUNIÕES<br />
Disponibilização de Energia Produz a Informação de Sessão Poster<br />
ESPECÍFICAS<br />
(convencional e não Tempo e Clima e o Usuário<br />
convencional) para Regiões<br />
Final<br />
Semi-Áridas<br />
12:00-14:00 Almoço Livre<br />
MESA REDONDA 3Sub-Tema MESA REDONDA 2Sub-Tema<br />
14:00-16:00<br />
1: ACMRHInteração Oceano- 3: QURSAA Defesa Civil em<br />
PARA REUNIÕES<br />
Sessão Poster<br />
Atmosfera e suas Aplicações Áreas Urbanas e Não-Urbanas<br />
ESPECÍFICAS<br />
para Regiões Semi-Áridas em Regiões Semi-Áridas<br />
16:00-16:30 Coffee Break<br />
16:30-18:00 - - Sessão Poster -<br />
18:00-20:00<br />
PLENÁRIA<br />
Sub-Tema 5 – ASEGRSA<br />
A Seca sob o Ponto de Vista dos Seus Diversos Atores<br />
- -<br />
-<br />
Jantar Livre<br />
Horário<br />
26 de outubro de 2005 – Quarta-feira<br />
Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />
MINI-CURSO 1<br />
MINI-CURSO 2<br />
08:00-10:00<br />
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />
PARA REUNIÕES<br />
Sessão Poster<br />
Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliaçãode<br />
ESPECÍFICAS<br />
Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos<br />
10:00-12:00<br />
Conferência: THOPEX 2º Workshop doProjeto<br />
PARA REUNIÕES<br />
Sessão Poster<br />
(Dr. Mitchell W. Moncrieff)<br />
CAMISA<br />
ESPECÍFICAS<br />
12:00-14:00 Almoço Livre<br />
MESA REDONDA 1<br />
Sub-Tema 4: EOCPCRSA<br />
MESA REDONDA 1<br />
Sub-Tema 2: DAD<br />
14:00-16:00<br />
Variabilidade Espacial e Métodos de Diagnóstico<br />
PARA REUNIÕES<br />
Temporal da Chuva nas e Caracterização de Áreas Sessão Poster<br />
ESPECÍFICAS<br />
Regiões Semi-Áridas: da Degradadas Susceptíveisaos<br />
Escala Sinótica à Variabilidade Processos de Desertifi cação<br />
Interdecadal<br />
16:00-16:30 Coffee Break<br />
77
Boletim SBMET novembro/05<br />
Salão Iracema<br />
16:30-18:00<br />
Conferência: Agressões<br />
Ambientais Cometidas por<br />
Agrotóxicos<br />
(DR. J. JULIO DA PONTE)<br />
-<br />
Encerramento<br />
da Sessão<br />
Poster<br />
-<br />
18:00-20:00<br />
Salão Iracema - -<br />
PLENÁRIA 1<br />
Sub-Tema 4 – EOCPCRSA<br />
Desempenho de Modelos Matemáticos (Dinâmicos<br />
- -<br />
Estocásticos) para a Previsão Climática em Regiões Semi-<br />
Áridas<br />
Jantar Livre<br />
Horário<br />
27 de outubro de 2005 – Quinta-feira<br />
Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã<br />
MINI-CURSO 1<br />
MINI-CURSO 2<br />
08:00-10:00<br />
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos<br />
Professores do Ensimo “QUANTIS” para Avaliação de<br />
- -<br />
Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos<br />
2º Workshop doProjeto<br />
CAMISA<br />
MESA REDONDA 2<br />
Sub-Tema 2: DAD<br />
10:00-12:00<br />
Dinâmica Ambiental e<br />
Medidas de Recuperação de<br />
- -<br />
Áreas Degradadas no Semi-<br />
Árido<br />
12:00-14:00 Almoço Livre<br />
14:00-16:00<br />
MESA REDONDA 2<br />
Sub-Tema 4: EOCPCRSA<br />
Modelagem Estocástica<br />
e Técnicas Estatísticas<br />
MESA REDONDA 3<br />
Sub-Tema 2: DAD<br />
Estratégias de Manejo na<br />
Utilização das Terras do<br />
- -<br />
Multivariadas de Ponta<br />
na Previsão e Análise de<br />
Mudanças Climáticas<br />
Semi-Árido<br />
16:00-16:30 Coffee Break<br />
Salão Iracema<br />
16:30-18:30<br />
PLENÁRIA 2<br />
Sub-Tema 4 – EOCPCRSA<br />
- -<br />
Mudanças Climáticas nas Regiões Semi-Áridas<br />
19:00<br />
SOLENIDADE DE ENCERRAMENTO DO SIC/SBMET- 2005,<br />
com entrega de PRÊMIOS<br />
- -<br />
78
EXPEDIENTE<br />
da SBMET<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
AVISOS GERAIS DA SBMET<br />
INFORMES DA SBMET<br />
A divulgação de notícias através de mala direta<br />
é um serviço da SBMET que visa manter nossos<br />
associados sempre bem informados e com tempo hábil<br />
para estes participarem dos eventos aqui informados.<br />
Recentemente introduzimos nos INFORMES,<br />
informações sobre os artigos de autores brasileiros<br />
publicados internacionalmente. Isso trará uma maior<br />
disseminação dessas informações, muitas vezes pouco<br />
divulgadas internamente no país.<br />
Assim, por favor nos encaminhem informações<br />
sobre eventos, notícias, oportunidades de emprego ou<br />
bolsa de estudo/pesquisa, artigos publicado em revistas<br />
internacionais, etc, para que possamos manter esse<br />
serviço. Encaminhar para <strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br.<br />
Até outubro de 2005 foram enviados 83 INFORMES<br />
(Tabela 1).<br />
PORTAL DA SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.org.br )<br />
O Portal da SBMET disponibiliza espaço para<br />
divulgação de produtos, eventos e empresas que tenham<br />
interesse em levar sua mensagem a nossa comunidade.<br />
As opções de espaço para colocação de anúncios são<br />
FULL BANNER e BANNER FLUTUANTE. Para<br />
informações adicionais, favor entrar em contato com<br />
Anne Moraes (anne_moraes@click21.com.br ou<br />
<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br).<br />
ANUIDADES<br />
Quem não pagou a anuidade de 2005 via boleto<br />
bancário ou por depósito bancário e quiser regularizar<br />
sua situação junto à SBMET, pode entrar em contato<br />
com a Secretaria da SBMET pelo e-mail <strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.<br />
org.br. Mesmo procedimento para quitar anuidades<br />
atrasados.<br />
Tabela 1 - Freqüência Mensal da distribuição dos Informes da<br />
SBMET.<br />
MESES<br />
INFORMES ENVIADOS<br />
Janeiro 2<br />
Fevereiro 5<br />
Março 20<br />
Abril 14<br />
Maio 14<br />
Junho 10<br />
Julho 5<br />
Agosto 5<br />
Setembro 7<br />
Outubro 1<br />
TOTAL 83<br />
CADASTRO<br />
Para que as correspondências e publicações da<br />
SBMET cheguem ao seu destino, pedimos a atenção de<br />
todos para atualizar seu endereço/dados. Isso pode ser<br />
feito diretamente no portal da SBMET (www.<strong>sbmet</strong>.<br />
org.br) ou, se preferir, por e-mail (<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.<br />
br), ou por correio (A/c Marley C. L. Moscati, Instituto<br />
Nacional de Pesquisas Espaciais, Dept de Meteorologia,<br />
DMA/CPTEC (SBMET), sala 26, São José dos Campos,<br />
SP, 12.201-970).<br />
INFORMAÇÕES ADICIONAIS<br />
Para dúvidas, acesse o site www.<strong>sbmet</strong>.org.br e<br />
mande sua solicitação para o setor do seu interesse<br />
(Geral, Presidência, Diretoria Executiva, Diretoria<br />
Científico, Diretor profissional, Diretora Administrativa,<br />
Presidente do Conselho Deliberativo, Conselho<br />
Deliberativo, Conselho Fiscal).<br />
79
Boletim SBMET novembro/05<br />
NORMAS e<br />
LEGISLAÇÃO<br />
EM DISCUSSÃO A NOVA RESOLUÇÃO QUE TRATA<br />
DAS ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DA ENGENHARIA,<br />
ARQUITETURA, AGRONOMIA, GEOLOGIA, GEOGRAFIA<br />
E METEOROLOGIA<br />
Alfredo Silveira da Silva<br />
Diretor Profissional da SBMET<br />
Conselheiro do CREA-RJ<br />
A Resolução 1.010, aprovada pelo Plenário do<br />
CONFEA em 22 de agosto de 2005 em substituição à<br />
Resolução 218, datada de 1973, objetiva estabelecer<br />
normas estruturadas dentro de uma concepção matricial<br />
para a atribuição de títulos profissionais, atividades e<br />
competências no âmbito da atuação profissional, para<br />
efeito de fiscalização do exercício profissional das<br />
profissões inseridas no Sistema CONFEA/CREA. Mas<br />
o que seria isto?<br />
A Resolução 218, de 1973, discriminava as<br />
atividades das diferentes modalidades profissionais da<br />
Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia, bem como<br />
as competências dos profissionais de acordo com a<br />
sua área de formação, e disciplinava no Art. 25 que as<br />
competências decorrem da graduação do profissional e<br />
ensejam a extensão das atribuições desde que sejam na<br />
mesma modalidade, tudo em consonância as disposições<br />
da Lei 5.194, de 24 de dezembro de 1966.<br />
A Resolução 1.010, datada de 2005, adota o princípio<br />
da flexibilização que caracteriza as atuais diretrizes<br />
curriculares nacionais, no sentido de conceder título,<br />
atribuição e competência profissional. Teremos, então,<br />
a concessão das atribuições em função da competência<br />
adquirida, por meio de um currículo integralizado<br />
em consonância com o projeto pedagógico do curso<br />
que permitirá a definição do perfil profissional do<br />
diplomado a ser indicado pela Instituição de Ensino<br />
ao Sistema CONFEA/CREAs, conforme disposto no<br />
Artigo 10 da Lei 5194, de 24 de dezembro de 1966,<br />
bem como a extensão das atribuições inicialmente<br />
concedidas por meio de cursos de pós-graduação lato<br />
sensu (aperfeiçoamento e especialização) e stritu sensu<br />
(mestrado e doutorado).<br />
O novo normativo permite a extensão das<br />
atribuições iniciais dentro de cada categoria profissional<br />
(Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Geografia,<br />
Geologia e Meteorologia). A flexibilização apresentada<br />
no normativo permite que dentro da categoria Engenharia<br />
a extensão das atribuições iniciais concedidas possa ser<br />
estendidas no âmbito das suas várias modalidades.<br />
CAMPO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL DA<br />
METEOROLOGIA<br />
1. Tarefas Científicas e Operacionais<br />
Análise e Interpretação de Observações,<br />
Codificação, Disseminação e Divulgação Técnica da<br />
Informação Meteorológica nos Meios de Comunicação<br />
Social, Técnica e Científica obtida através de Estações<br />
Meteorológicas Convencionais e Automáticas.<br />
2. Métodos, Técnicas e Instrumental<br />
Métodos de Observação e de Análise da Física,<br />
da Química, da Dinâmica e da Eletricidade da<br />
80
NORMAS e<br />
LEGISLAÇÃO<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
Atmosfera. Sistemas e Métodos Computacionais de<br />
Recepção, Armazenamento, Processamento, Avaliação,<br />
Modelagem, Transmissão e Disseminação de Informações<br />
Meteorológicas. Análise, Processamento e Interpretação<br />
de Imagens de Satélites e Radares Meteorológicos,<br />
Analógicas e Digitais. Análise de Informações sobre<br />
Precipitação, Nuvens, Ventos, Temperatura, Estado da<br />
Superfície e Fluxos Radiativos. Técnicas de Aferição<br />
e Calibração de Instrumentos Meteorológicos.<br />
Radiossondas, Perfiladores, Radiômetros, Bóias, Balões,<br />
Sistemas de Descargas Atmosféricas.<br />
3. Modelagem Atmosférica e Climatologia<br />
Interpretação Crítica de Produtos de Modelos<br />
Numéricos do Tempo. Análise de Séries Temporais e<br />
Previsibilidade Climática. Previsões Meteorológicas<br />
nas diversas Escalas de Tempo. Análise, Diagnóstico<br />
e Prognóstico da Atmosfera e das suas Interrelações<br />
mútuas com a Hidrosfera, a Biosfera, a Litosfera e a<br />
Criosfera. Oceanologia Aplicada. Sistemas e Métodos de<br />
Prognóstico, Diagnóstico, Monitoramento, Mitigação e<br />
Avaliação de Impactos Ambientais. Hidrometeorologia,<br />
Agrometeorologia, Biometeorologia, Meteorologia<br />
Aeronáutica e Marinha, e Microclimatologia.<br />
Desenvolvimento de Modelos Conceituais e Numéricos<br />
dos Sistemas de Tempo, de Latitudes Médias e Tropicais.<br />
Previsão de Impactos da Variabilidade Climática.<br />
Modificação Artificial do Tempo.<br />
4. Micrometeorologia e Meio Ambiente<br />
Interrelação entre Atmosfera e Ambiente.<br />
Meteorologia Ambiental. Efeitos Climáticos nos Recursos<br />
Naturais. Efeito de Processos Micrometeorológicos e do<br />
Ciclo Hidrológico no âmbito das Operações e Processos<br />
da Engenharia e das Ciências Agrárias. Sistemas e<br />
Métodos de Proteção, Manejo, Gestão e Preservação<br />
Ambiental. Características Climatológicas e Diagnóstico<br />
de Dispersão de Poluentes Atmosféricos.<br />
A caracterização do Campo de Atuação Profissional<br />
do Meteorologista abrange e não invalida as atribuições<br />
a ele concedidas pela Lei nº 6.835, de 14 de outubro de<br />
1980.<br />
A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA<br />
ÁREA TECNOLÓGICA<br />
Entendendo que uma parcela importante do futuro<br />
da área tecnológica do País está nas mãos de mulheres,<br />
o CONFEA vem incentivando a participação feminina<br />
em seus debates, eventos e projetos. Tal política de<br />
valorização da atuação da mulher no setor culminou com<br />
a realização, em 2004, do Primeiro Fórum da Mulher<br />
na Área Tecnológica, como atividade integrante da 61ª<br />
Semana Oficial de Engenharia Arquitetura e Agronomia<br />
(SOEAA), realizada em São Luis, MA.<br />
<strong>No</strong> período de 28 a 30 de novembro de 2005<br />
aconteceu a segunda edição do Fórum da Mulher,<br />
realizada durante a 62ª SOEAA, em Vitória, ES. Mais<br />
uma vez, as mulheres se reuniram para mostrar a força<br />
de seu trabalho, reciclar conhecimentos, aprender com<br />
exemplos de sucesso e debater sobre os desafios de<br />
sua atuação na área tecnológica brasileira. O evento<br />
consolidou e repetiu o sucesso da primeira edição. A<br />
participação é crescente e, certamente, em cerca de 10<br />
ou 15 anos, as mulheres dominarão o mercado.<br />
Na fase I da Abertura da 62ª SOEAA houve:<br />
PASSEIO CICLÍSTICO: ocorrido em 27 de novembro,<br />
visando sensibilizar a população e os participantes da<br />
62ª SOEAA para a alternativa de mobilidade urbana<br />
através de bicicletas e, portanto, a necessidade dos<br />
planos diretores traçarem soluções para o transporte<br />
cicloviário. Este evento, totalmente aderente ao tema<br />
da semana Exercício Profissional e Responsabilidade<br />
Social.<br />
Na fase II - Durante a 62ª SOEAA houve:<br />
TALK SHOW: “Venda seu peixe, torne-se a opção<br />
óbvia”. Considerado o evento âncora, apresentou dois<br />
cases, um nacional e outro internacional, no formato<br />
de talk show, garantindo forte participação da platéia<br />
e trazendo um tema forte: Posicionamento assertivo de<br />
quem é competente e responsável.<br />
OFICINA INTERNACIONAL: Durante a 62ª<br />
SOEAA, em Vitória, ES, houve uma oficina, reunindo<br />
mulheres do Brasil e do Exterior, no primeiro encontro<br />
presencial, para a formação da comunidade tecnológica<br />
virtual internacional, com vistas ao Fórum da Mulher,<br />
na WEC 2008.<br />
81
NORMAS e<br />
LEGISLAÇÃO<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
CONVENÇÃO MUNDIAL DE ENGENHEIROS<br />
E DEMAIS PROFISSIONAIS DO SISTEMA<br />
CONFEA/CREA<br />
Depois de passar pela Alemanha e China em 2004,<br />
onde a SBMET esteve presente, a Convenção Mundial<br />
de Engenheiros (WEC2004), da sigla em inglês World<br />
Engineers Convention, ocorrerá pela primeira vez na<br />
América e, em especial, no Brasil, em 2008.<br />
Marcos Túlio de Melo É ELEITO<br />
PRESIDENTE DO CONFEA<br />
Foi eleito como Presidente do CONFEA, para o<br />
mandato de 2006-2008, o Engenheiro Civil de Minas<br />
Gerais Marcos Túlio de Melo.<br />
O tema da Convenção de 2004 foi “Engenheiros<br />
dão Forma ao Futuro Sustentável”, tendo como sessões<br />
paralelas Engenharia de Redes e a Sociedade da<br />
Informação, Engenharia Biológica e Cuidado de Saúde,<br />
Transportes e Mega-Cidades Sustentáveis, Proteção ao<br />
Meio Ambiente e Mitigação de Desastres, Engenharia<br />
Agrícola e a Segurança de Alimentos, Recursos e Energia,<br />
Engenharia de Redes e a Sociedade da Informação bem<br />
como o Fórum dos Jovens Engenheiros e da Mulher.<br />
Como ações desenvolvidas pelo CONFEA com<br />
o intuito de pleitear a realização da Convenção em<br />
2008, o Plenário do CONFEA, por meio da Decisão<br />
PL -0667/2003, aprovou a intenção de juntamente com<br />
a FEBRAE organizar a III Convenção, em 2008, no<br />
Brasil. Esta será a terceira edição e o evento reunirá<br />
milhares de engenheiros de todas as partes do mundo.<br />
Os problemas sociais enfrentados pela humanidade<br />
deverão estar no centro dos debates. O enfoque será o<br />
de que a tecnologia pode ser um instrumento capaz de<br />
viabilizar a diminuição da pobreza, fome, proliferação<br />
de doenças, analfabetismo e conflitos civis, que afetam e<br />
prejudicam o desenvolvimento do mundo. Como causa<br />
destas mazelas, a falta de emprego, energia, alimentos,<br />
saúde e saneamento, abrigo e água, entre outros, serão<br />
amplamente discutidos por milhares de engenheiros e<br />
profissionais de áreas afins.<br />
Como a Engenharia e demais profissões relacionadas<br />
ao desenvolvimento tecnológico podem exercer<br />
um papel preponderante para minimizar o impacto<br />
provocado pela desigualdade? Essa é a questão que os<br />
milhares de participantes da próxima Convenção estão<br />
desafiados a responder e propor soluções e melhorias na<br />
qualidade de vida da população mundial.<br />
Perfi l: Marcos Túlio de Melo<br />
O Eng. Civil Marcos Túlio de Melo, 54 anos, é<br />
graduado pela Faculdade de Engenharia da Universidade<br />
Federal de Minas Gerais e pós-graduado em Engenharia<br />
Econômica pela Fundação Dom Cabral.<br />
Durante dois mandatos seguidos ocupou a Presidência<br />
do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e<br />
Agronomia de Minas Gerais. O primeiro, de 2000 a<br />
2002 e o segundo, de 2003 a 2005.<br />
De 1995 a 1998 participou do Conselho Municipal<br />
de Habitação da Prefeitura de Belo Horizonte. Em 1999<br />
foi membro da Junta de Recursos Fiscais da Prefeitura<br />
de Minas Gerais. De 1998 a 1999 Marcos Túlio foi<br />
primeiro vice-presidente do CREA-MG e Conselheiro<br />
Federal representante das Entidades de Classe de Minas<br />
Gerais, junto ao CONFEA, de 1995 a 1997. Em 1997<br />
também exerceu a vice-presidência e, interinamente, a<br />
presidência da instituição.<br />
82
NORMAS e<br />
LEGISLAÇÃO<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
Conheça as propostas de Marco Túlio:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Incentivar programas, inclusive o de Engenharia,<br />
Arquitetura e Agronomia Públicas, e implementar<br />
ações de fiscalização para ampliar o mercado<br />
profissional, e combater o exercício ilegal das<br />
profissões;<br />
Defender o salário mínimo profissional e a<br />
remuneração justa para serviços e obras;<br />
Elaborar com o Plenário do CONFEA, Colégio<br />
de Presidentes, Colégio de Entidades Nacionais,<br />
Coordenadorias Nacionais de Câmaras<br />
Especializadas e Mútua, planejamento de<br />
sustentabilidade financeira de todo o Sistema<br />
e promover um choque de gestão, capaz de<br />
reestruturar o Sistema, seu gerenciamento técnico<br />
e administrativo e padronizar procedimentos para<br />
a eficiência, a eficácia e a efetividade de suas<br />
ações;<br />
Incentivar e apoiar a criação de mecanismos de<br />
participação de estudantes e jovens profissionais<br />
e mulheres, visando formar novas lideranças<br />
e incorporá-las ao Sistema profissional e às<br />
entidades de classe;<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Apoiar a organização dos profissionais em<br />
entidades e sindicatos e propor o debate sobre<br />
certificação de especialidades, buscando<br />
potencializá-las dentro do novo cenário;<br />
Reivindicar das instituições de ensino e<br />
órgãos educacionais a participação do Sistema<br />
profissional na definição de abertura de novos<br />
cursos, na avaliação da qualidade da graduação<br />
e definir procedimentos para o registro<br />
profissional;<br />
Instituir o orçamento participativo do CONFEA e<br />
ampliar a transparência na sua aplicação;<br />
Propor e apoiar políticas públicas que ampliem<br />
os investimentos em saneamento, habitação,<br />
transportes e gestão de recursos hídricos;<br />
Apoiar o processo de descentralização e<br />
democratização da Mútua, aprovado nos CEP’s;<br />
Consolidar a Comunicação Integrada no Sistema<br />
para democratizar a informação.<br />
83
AGENDA<br />
Boletim SBMET novembro/05<br />
NOVEMBRO 2005<br />
• I Conferência Regional sobre Mudanças Globais:<br />
América do Sul<br />
Período: 6 a 10 de novembro de 2005<br />
Local: Blue Tree Convention Ibirapuera, Moema, São<br />
Paulo<br />
Informações: http://www.acquaviva.com.br/<br />
mudglobais/<br />
• ECMWF/NWP-SAF Workshop on bias estimation<br />
and correction in data assimilation<br />
Período: 8 a 11 de novembro de 2005<br />
Local: Reading, Inglaterra<br />
Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar<br />
• 10th Workshop on Meteorological Operational<br />
System<br />
Período: 14 a 18 de novembro de 2005<br />
Local: Reading, Inglaterra<br />
Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar<br />
• E3rd International Workshop on Complex<br />
Systems/ 2nd International Conference on Water<br />
Dynamics<br />
Período: 16 a 18 de novembro de 2005<br />
Local: Sendai, Japão<br />
Maiores informações: www.ifs.tohoku.ac.jp/<br />
tokuyama-lab/IWCS2005/<br />
DEZEMBRO 2005<br />
• III Congreso Cubano de Meteorología<br />
Período: 5 a 9 de dezembro de 2005<br />
Local: Havana, Cuba<br />
Recebimento de abstract: 31 de agosto de 2005<br />
Informações: (537) 867 0714/ 830 8996/ 867 0721<br />
http://www.met.inf.cu/sometcuba/default.htm ou<br />
e-mail: fl ismet@met.inf.cu<br />
• IV Workshop de Micrometeorologia<br />
Período: 14 a 16 de dezembro de 2005<br />
Local: Campus da Universidade Federal de Santa<br />
Maria<br />
Informações: http://coralx.ufsm.br/meteorologia/<br />
workshop<br />
• I Simpósio sobre Biomas Costeiros e Marinhos<br />
Período: 12 a 16 de dezembro de 2005<br />
Local: em Salvador, BA<br />
Informações: http://www.biomasbrasileiros.com.br<br />
ou E-mail: mariana@rdeventos.com.br<br />
84
Boletim SBMET novembro/05<br />
JANEIRO 2006<br />
• Workshop on Air Quality Forecasting in Latin<br />
American Cities<br />
Período: 9 a 13 de janeiro de 2006<br />
Local: IAG/USP, São Paulo, SP<br />
Inscrições: 09 de novembro de 2005 a 06 de janeiro<br />
de 2006<br />
Informações: http://www.master.iag.usp.br/workshop<br />
Edmilson D. Freitas (efreitas@model.iag.usp.br) ou<br />
Maria F. Andrade (mftandra@model.iag.usp.br)<br />
• I Seminário do Café de Minas Gerais<br />
Período: 19 a 20 de janeiro de 2006<br />
Local: Teatro Mestrinho Marista, Varginha, MG<br />
Informações por e-mail: seminario.cafe@uol.com.br<br />
Fone: (21) 2518-8761<br />
Fax: (21) 2518-8762 ou 2518-9372<br />
• 1st Integrated Land Ecosystem – Atmosphere<br />
Processes Study (iLEAPS) Science Conference<br />
Período: 21 a 26 de janeiro de 2006<br />
Local: Boulder, Colorado, EUA<br />
Submissão de trabalho: maio de 2005<br />
Informações: http://www.atm.helsinki.fi /ILEAPS/boulder<br />
ou E-mail: michael.boy@helsinki.fi<br />
• 86th AMS Annual Meeting<br />
Período: <strong>29</strong> de Janeiro a 2 Fevereiro de 2006<br />
Local: Georgia World Congress Center, Georgia,<br />
Atlanta, EUA<br />
Informações: http://www.ametsoc.org/meet/annual/index.html<br />
FEVEREIRO 2006<br />
• International Conference on “Mesoscale<br />
processes in Atmosphere, ocean and<br />
environmental systems<br />
Período: 14 a 17 de fevereiro de 2006<br />
Local: Indian Institute of Technology, Delhi (India)<br />
Informações: Prof. Maithili Sharan<br />
(impa2006@cas.iitd.ernet.in ou mathilis@cas.iitd.ernet.in)<br />
Tel: 91-11-26591301 / 26591312 / 26591946<br />
Fax: 91-11-26591386<br />
85
Boletim SBMET novembro/05<br />
MARÇO 2006<br />
• SCOSTEP 11th Quadrennial Solar Terrestrial<br />
Physics Symposium, “Sun, Space Physics and<br />
Climate”<br />
Período: 6 a 10 de março de 2006<br />
Local: Rio de Janeiro, RJ<br />
Informações: http://www.grahnoperator.com.br/<br />
events/scostep<br />
• 1ª Conferência Lusófona sobre o Sistema Terra<br />
Período: 22 a 24 de março de 2006<br />
Local: Lisboa, Portugal<br />
Submissão de resumos: até 06 de janeiro de 2006<br />
Informações: http://igbp-portugal.org<br />
ABRIL 2006<br />
• 3rd EGU General Assembly (European<br />
Geosciences Union), Session “NH11.02”<br />
Período: 2 a 7 abril de 2006<br />
Local: Vienna, Áustria<br />
Submissão de abstract: 13 de janeiro de 2006<br />
Informações: http://meetings.copernicus.org/<br />
egu2006/index.html<br />
• EGU general Assembly 2006 - sessão “LAndslide<br />
risk” NH9.03<br />
Período: 2-7 de abril de 2006<br />
Local: Vienna, Áustria<br />
Data limite para submissão de abstract: 13 de janeiro<br />
de 2006.<br />
Envio de abstracts:<br />
(http://meetings.copernicus.org/egu2006/how_to_<br />
submit_an_abstract.html)<br />
Informações adicionais sobre Assembléia:<br />
http://www.cosis.net/members/frame.<br />
php?url=meetings.copernicus.org/egu2006/<br />
• 4º Congresso de Biometeorologia<br />
Periodo: 9 a 11 de abril de 2006<br />
Local: Ribeirão Preto, SP<br />
Informações: Maria da Graça Pinheiro<br />
(4cbb@iz.sp.gov.br)<br />
ou http://www.iz.sp.gov.br/4cbb/<br />
• 8th International Conference on Southern<br />
Hemisphere Meteorology and Oceanography<br />
Período: 23 a 28 de abril de 2006<br />
Local: Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu, PR<br />
Informações: Dr. Carlos <strong>No</strong>bre (nobre@cptec.inpe.br)<br />
• International Lightning Detection Conference<br />
(ILDC) / 1st International Lightning Meteorology<br />
Conference (ILMC)<br />
Período: 24 e 25 / 26 e 27 de abril de 2006<br />
Local: Tucson, Arizona – EUA<br />
Informações: http://www.vaisala.com<br />
86
Boletim SBMET novembro/05<br />
MAIO 2006<br />
• U.S. CLIVAR Salinity Workshop<br />
Período: 8 a 10 de maio de 2006<br />
Local: Auditório do Woods Hole Oceanographic<br />
Institution Redfield<br />
Submissões de abstracts: até 17 de janeiro de 2006<br />
Informações: http://www.usclivar.org/Organization/<br />
Salinity_WG/Salinity2006.html<br />
• III Encontro da ANPPAS - Associação Nacional<br />
de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e<br />
Sociedade<br />
Período: 23 a 26 de maio de 2006<br />
Local : Brasília, DF<br />
Informações: http://www.nepam.unicamp.br/anppas/<br />
SISGEENCO/<br />
• 4th International Conference on Experiences with<br />
Automatic Weather<br />
Stations - 4th ICEAWS<br />
Período: 24 a 26 de maio de 2006<br />
Local: Lisboa, Portugal<br />
Inscrições: ate 15 de outubro de 2005<br />
Informações: http://www.meteo.pt/4ICEAWS/<br />
4ICEAWS.htm ou<br />
E-mail: 4ICEAWS.Lisboa2006@meteo.pt<br />
• Séminaire internacional ONU/Algérie/ESA sur<br />
l´utilisation des techniques spatiales pour la<br />
gestion des catastrophes: prévention et gestion<br />
des catastrophes naturelles<br />
Período: 22 a 26 de maio de 2006<br />
Local: Algérie<br />
Informações: M. Abouberkr-Seddik Kedjar<br />
(akedjar@mail.asal.dz) ou<br />
Raechelle Newman<br />
(raechelle.Newman@unvienna.org)<br />
JUNHO 2006<br />
• Conference about “20 Years of <strong>No</strong>nlinear<br />
Dynamics in Geosciences”<br />
Período: 11 a 16 de junho de 2006<br />
Local: Rhodes, Grécia<br />
Informações e submissão de abstract:<br />
http://www.aegeanconferences.org<br />
• The 2006 World Congress in Computer Science,<br />
Computer Engineering, and Applied Computing -<br />
WORLDCOMP’06 (composto por 28 Conferências)<br />
Período: 26 a <strong>29</strong> de junho de 2006<br />
Local: Monte Carlo Resort Hotel, Las Vegas, Nevada,<br />
USA<br />
Informações: http://www.world-academy-of-science.<br />
org<br />
87
Boletim SBMET novembro/05<br />
JULHO 2006<br />
• 20 Workshop Global em Modelagem e<br />
Mapeamento Digital de Solos - Cartografia Digital<br />
de Solos para Regiões e Países com escassa<br />
infra-estrutura de Banco de Dados Espaciais<br />
Período: 4 a 7 de julho de 2006<br />
Local: Rio de Janeiro, RJ<br />
Informações: http://www.digitalsoilmapping.org/<br />
DSM_2006_Brazil.html<br />
• Sessions on “Modeling and Simulation of<br />
Dangerous Phenomena for Hazard Mitigation”<br />
to take place during three different oncoming<br />
Meetings<br />
• Session “S15”, 3rd Biennial iEMSs Meeting<br />
(International Environmental Modelling and<br />
Software Society), Summit on Environmental<br />
Modelling and Software<br />
Período: 9 a 12 de julho de 2006<br />
Local: Burlington, Vermont, USA<br />
Submissão de abstract: 15 de dezembro de 2005<br />
Informações: http://www.iemss.org/iemss2006/<br />
• Session “IWG01”, 3rd AOGS Annual Meeting<br />
(Asia Oceania Geosciences Society)<br />
Data: 10 a 14 de julho de 2006<br />
Local: Singapura<br />
Submissão de abstract: 15 de janeiro de 2006<br />
Informações:<br />
http://asiaoceania-conference.org/test/viewSession-<br />
Details.asp?sessionID=IWG0<br />
• 58a Reunião Anual da SBPC<br />
Período: 16 a 21 de julho de 2006<br />
Local: Universidade Federal de Santa Catarina<br />
(UFSC), Florianópolis<br />
Tema: SBPC semeando interdisciplinaridade<br />
Informações sobre normas, prazos, inscrições e taxas:<br />
http://www.sbpcnet.org.br/eventos/58ra/<br />
• International conference entitled “Living with<br />
Climate Variability and Change: Understanding<br />
the Uncertainties and Managing the Risks<br />
Período: 17 a 21 de julho de 2006<br />
Local: Espoo, Finlândia<br />
Informações: http://www.livingwithclimate.fi ou<br />
http://www.livingwithclimate.fi /linked/en/Flyer.pdf<br />
• Envisat Summer School 2006 on “Earth System<br />
Monitoring & Modelling”<br />
Período: 31 julho a 11 agosto de 2006<br />
Local: ESA/ESRIN, Frascati (Roma), Itália<br />
Data para inscrição: 1 de março de 2006<br />
Informações: http://envisat.esa.int/envschool/ ou<br />
E-mail: envschool@esa.int<br />
88
Boletim SBMET novembro/05<br />
NOVEMBRO 2006<br />
ANO DE 2007<br />
• XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia<br />
Período: 27 de novembro a 01 de dezembro de 2006<br />
Local: Florianópolis, SC<br />
Tema: A Meteorologia a serviço da Sociedade<br />
Informações: http://www.<strong>sbmet</strong>.org.br<br />
• 14th IUAPPA World Congress<br />
Período: 9 a 13 de setembro de 2007<br />
Local: Brisbane, Austrália<br />
Chamada para abstracts: abril 2006<br />
Deadline para submissão de abstracts: agosto 2006<br />
Informações: http://www.icms.<br />
OBITUÁRIO<br />
Morre o Prof. Dr. Joseph Smagorinsky, um pioneiro na<br />
Previsão Numérica de Tempo<br />
Em 21 de setembro de 2005 faleceu o Prof. Joe<br />
Samagorinski, aos 81 anos, um dos maiores cientistas a<br />
área das ciências geofísicas (Meteorologia, Oceanografia,<br />
...., clima) do Século XX. De 1955 até 1983, foi<br />
Diretor Fundador do Geophysical Fluid Dynamics<br />
Laboratory (GFDL/NOAA), dentro do Campus de<br />
Princeton, em New York, e participou ativamente dos<br />
primeiros experimentos de previsão numérica do tempo<br />
realizados nos anos 50 no Institute for Advanced Study,<br />
em Princeton. Em 1986 foi Presidente da American<br />
Meteorological Society. Em 2003, o Dr. Smagorinski e o<br />
Dr. Phillips foram agraciados com a Medalha Benjamin<br />
Franklin em Ciência da Terra, dada pelo Franklin<br />
Institute, na Filadélfia. Visitou o INPE e o INMET nos<br />
anos 80, e foi grande defensor da idéia de um LACCAS<br />
de cooperação entre os países da América do Sul com<br />
um Centro de Previsão Numérica de mesoescala para<br />
previsões sobre a América do Sul e Caribe.<br />
Fonte: Informações extraídas da nota públicada em jornal escrita<br />
pelo Dr. Jeremy Pearce, divulgada no jornal em 30 de setembro<br />
de 2005.<br />
89
Boletim SBMET novembro/05<br />
ANUNCIANTES<br />
Pág. 6<br />
w w w . h o b e c o . n e t<br />
www.hobeco.net<br />
E-mail: info@hobeco.net<br />
Pág. 26<br />
www.ams-gematronik.com<br />
E-mail: info@geomatronik.com<br />
Contra-capa<br />
www.simtech.com.br<br />
E-mail: simtech@simtech.com.br<br />
ATENDIMENTO DA SBMET<br />
Secretaria da SBMET<br />
E-mail Geral: <strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br<br />
Fone: (0xx12) 3945-6653<br />
Fax: (0xx12) 3945-6666<br />
Diretora Administrativa: Marley C. L. Moscati<br />
<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br<br />
Assistente de Secretaria: Gleice Soares da Silva<br />
gleice@cptec.inpe.br<br />
Home-page:<br />
www.<strong>sbmet</strong>.org.br<br />
Sobre Boletim da SBMET<br />
Informações Gerais:<br />
<strong>sbmet</strong>@<strong>sbmet</strong>.org.br<br />
Envio de artigos e matérias:<br />
marley@cptec.inpe.br<br />
Sobre Revista Brasileira de Meteorologia<br />
(RBMET)<br />
InformaçõesGerais:<br />
rbmet@model.iag.usp.br<br />
Envio de artigos e matérias:<br />
Tércio Ambrizzi – rbmet@model.iag.usp.br<br />
Fone: (+ 55 - 11) 3091-4731<br />
Fax: (+55 - 11) 3091-4714<br />
90
Política Editorial do Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia<br />
Instruções aos Autores:<br />
1) Serão aceitos para publicação no BSBMET, artigos originais na área de meteorologia e áreas correlatas,<br />
não publicados anteriormente, versando sobre conclusões e andamentos de Projetos, opiniões sobre pontos<br />
de relevância na meteorologia e problemas atuais da meteorologia e do clima, além de matérias técnicas e<br />
profissionais de interesse.<br />
2) Os manuscritos submetidos deverão ser enviados ao Editor Responsável do BSBMET via e-mail.<br />
3) Os trabalhos devem ser organizados com a seguinte estrutura: TÍTULO, nome completo dos autores, as<br />
Instituições a que pertencem e o endereço postal, RESUMO/palavras chaves, ABSTRACT/Key words, 1.<br />
INTRODUÇÃO, 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO, 3. CONCLUSÕES (ou CONSIDERAÇÕES FINAIS),<br />
4. AGRADECIMENTOS, 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. As figuras e tabelas deverão estar<br />
posicionadas dentro do texto conforme estipulados pelos autores. As referências bibliográficas, as equações e as<br />
unidades devem seguir as normas adotadas pela Revista Brasileira de Meteorologia.<br />
4) O texto deve ter, no máximo, dez (10) páginas e ser escrito em formato A4 (<strong>29</strong>7 x 210 mm), usando-se<br />
o Editor Word 6.0 ou posterior, fonte Times New Roman 12, espaço 1,5 cm, todas as margens de 2,5 cm e<br />
espaçamento duplo entre parágrafos.<br />
Padrões para confecção e envio de arquivos eletrônicos dos anúncios:<br />
1. Especificação de formatos:<br />
1.1 Anúncio ¼ de página, 8x12 cm sem sangria.<br />
1.2 Anúncio 1/2 página, 20 x13,25 cm sem sangria.<br />
1.3 Anúncio de página inteira, 17,5 x 24 cm com 4 mm de sangria.<br />
2. Programas disponíveis para recepção de arquivos:<br />
2.1 CorelDraw 10 ou inferior, nas plataformas PC.<br />
2.2 PDF 5.0 (em alta resolução) ou inferior, nas plataformas PC.<br />
3. Mídias para envio:<br />
3.1 CDR ou CDRW<br />
3.2 E-mail para arquivos menores que 5MB<br />
Obs: (1) Para enviar arquivos, favor gravar todos os links e fontes utilizadas na mesma mídia, lembrando que<br />
a qualidade de imagens e calibração de cores é de inteira responsabilidade do anunciante. É imprescindível o<br />
acompanhamento de uma impressão colorida que possa demonstrar a expectativa de reprodução de arquivo. (2)<br />
Todas as imagens (figuras, tabelas e fotos) devem ser enviadas em arquivos à parte, em JPG ou PDF, em alta<br />
resolução.<br />
Endereço para envio: A/c Marley C. L. Moscati, INPE/CPTEC – Prédio da Meteorologia, Sala 26, Av. dos<br />
Astronautas, 1758, Jd. Granja, São José dos Campos/ SP – 12201-970<br />
E-mail: raster.marcus@terra.com.br com cópia para marley@cptec.inpe.br.