Educação Sexual, Em Busca de Mudanças - Cepac

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20.02.2015 Views

[...] o próprio termo educação sexual é mais adequado, na medida em que se abre espaço para que a pessoa que aprende seja considerada sujeito ativo do processo de aprendizagem e não mero receptor de conhecimentos e/ou de orientações, como sugerem as outras terminologias: orientação, informação, instrução. (FIGUEIRÓ, 2001, p.145) Figueiró (2001, p.18) salienta, ainda, que a “educação sexual refere-se a toda ação ensino-aprendizagem sobre a sexualidade humana, seja no nível do conhecimento de informações básicas, seja no nível do conhecimento e/ou discussões e reflexões sobre valores, normas, sentimentos, emoções e atitudes relacionadas à vida sexual”. Ainda somos os mesmos... como nossos pais e mestres Durante o curso superior de Ciências Biológicas que perfiz, em nenhum momento deparei-me com qualquer área do conhecimento que falasse sobre sexualidade e, muito menos, sobre projetos de educação sexual. Portanto, tive de me virar sozinha, buscando em cursos de extensão universitária, em eventos, em livros e na minha dissertação de mestrado, o que de fato sustenta os projetos de educação sexual em determinadas escolas que dizem tê-lo: a metodologia usada, os obstáculos e facilidades (se é que existem) neles encontrados e os caminhos a serem seguidos. Para tanto, além da bibliografia estudada, para levar meu projeto avante, pesquisei três escolas, sendo duas da rede pública municipal e uma estadual. Descobri, após as muitas experiências que tive ao longo do exercício do magistério, que o que eu fazia em sala de aula, até então, não passava de uma visão reducionista da educação sexual e de um biologismo, isto é, tratava-se de aulas expositivas sobre o aparelho reprodutor feminino e masculino, sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST), e sobre métodos anticoncepcionais, exatamente os temas apresentados nos livros DESAFIOS PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL ... 37

didáticos e de modo não muito diferente do usado pela minha professora de tempos atrás. O que existia de diferente era a presença de ambos os sexos e isso eu achava que era suficiente. Algumas vezes, convidava algum médico para falar sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DST). Não via resultados e isso me levou a crer que, de certo modo, essas tentativas eram infrutíferas, pois eram desvinculadas da realidade dos jovens, não levavam em conta o meio sociocultural em que ele vive, assim como seus valores, anseios, sentimentos, preconceitos, costumes e crenças. Portanto, ao educando não era dada a chance de expor seus conhecimentos, suas angústias, suas dúvidas e medos. E só podia dar nisto: insatisfação, tanto minha, quanto deles. Sabe-se que falar sobre sexualidade, por si só, já é um desafio; as resistências são muitas, exigindo de todos os envolvidos revisar conceitos, superar preconceitos e estereótipos, olhar reflexivamente sobre a própria sexualidade, lidar com tabus, medos, vergonhas. Tudo isso não é nada fácil! A sexualidade está presente em nossa vida desde o momento em que nascemos até a nossa morte. A educação acontece constantemente, seja em casa, seja pela mídia, assistindose televisão, lendo-se revistas e jornais, seja via internet. Nesse caso, se a instituição escolar omite-se, deliberadamente, em relação a tudo o que se refere ao sexo, essa atitude reflete-se na formação dos escolares, levando-os a considerar que sexo é alguma coisa secreta, é um assunto que não cabe dentro da escola ou, talvez, seja algo vergonhoso sobre o qual não se deve falar. O contexto escolar desempenha um papel importante na orientação dos estudantes, independente das intervenções formais que esta pode lhe oferecer neste campo. Percebemos que existem ainda instituições que reprimem certos comportamentos dos jovens e que nem sempre os educadores enfrentam, com serenidade e com o tato necessário, brincadeiras e comportamentos de ordem sexual, atribuindo-lhes uma gravidade e um caráter que, na realidade, não têm. Não se pode fugir dessa responsabilidade, 38 EDUCAÇÃO SEXUAL: EM BUSCA DE MUDANÇAS

[...] o próprio termo educação sexual é mais a<strong>de</strong>quado, na medida<br />

em que se abre espaço para que a pessoa que apren<strong>de</strong> seja<br />

consi<strong>de</strong>rada sujeito ativo do processo <strong>de</strong> aprendizagem e não mero<br />

receptor <strong>de</strong> conhecimentos e/ou <strong>de</strong> orientações, como sugerem as<br />

outras terminologias: orientação, informação, instrução. (FIGUEIRÓ,<br />

2001, p.145)<br />

Figueiró (2001, p.18) salienta, ainda, que a “educação sexual<br />

refere-se a toda ação ensino-aprendizagem sobre a sexualida<strong>de</strong><br />

humana, seja no nível do conhecimento <strong>de</strong> informações básicas, seja<br />

no nível do conhecimento e/ou discussões e reflexões sobre valores,<br />

normas, sentimentos, emoções e atitu<strong>de</strong>s relacionadas à vida sexual”.<br />

Ainda somos os mesmos... como nossos pais e mestres<br />

Durante o curso superior <strong>de</strong> Ciências Biológicas que perfiz,<br />

em nenhum momento <strong>de</strong>parei-me com qualquer área do<br />

conhecimento que falasse sobre sexualida<strong>de</strong> e, muito menos, sobre<br />

projetos <strong>de</strong> educação sexual. Portanto, tive <strong>de</strong> me virar sozinha,<br />

buscando em cursos <strong>de</strong> extensão universitária, em eventos, em<br />

livros e na minha dissertação <strong>de</strong> mestrado, o que <strong>de</strong> fato sustenta<br />

os projetos <strong>de</strong> educação sexual em <strong>de</strong>terminadas escolas que<br />

dizem tê-lo: a metodologia usada, os obstáculos e facilida<strong>de</strong>s (se<br />

é que existem) neles encontrados e os caminhos a serem seguidos.<br />

Para tanto, além da bibliografia estudada, para levar meu<br />

projeto avante, pesquisei três escolas, sendo duas da re<strong>de</strong> pública<br />

municipal e uma estadual.<br />

Descobri, após as muitas experiências que tive ao longo<br />

do exercício do magistério, que o que eu fazia em sala <strong>de</strong> aula,<br />

até então, não passava <strong>de</strong> uma visão reducionista da educação<br />

sexual e <strong>de</strong> um biologismo, isto é, tratava-se <strong>de</strong> aulas expositivas<br />

sobre o aparelho reprodutor feminino e masculino, sobre doenças<br />

sexualmente transmissíveis (DST), e sobre métodos<br />

anticoncepcionais, exatamente os temas apresentados nos livros<br />

DESAFIOS PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL ...<br />

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