Educação Sexual, Em Busca de Mudanças - Cepac
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Preconceito e discriminação anti-homossexual A intolerância anti-homossexual, no Brasil, não fica nada a dever às torturas inquisitoriais, há nos arquivos do Grupo Gay da Bahia dezenas de registros de meninos e adolescentes que sofreram todo tipo de violência física, quando seus pais descobriram que eram viados: humilhação, insultos, espancamento, expulsão de casa. Um destes adolescentes levou uma surra tão forte de seu pai, na frente da vizinhança, que teve de ir para o pronto socorro para engessar um braço; outro, ao ser surpreendido fazendo trocatroca com um coleguinha, sua mãe preparou um molho de pimenta malagueta, misturou numa garrafa de refrigerante e com pressão do gás meteu dentro do ânus do pobrezinho, repetindo a mesma sentença, ainda hoje proferida pelo Brasil a fora: “prefiro um filho morto do que bicha!”. Certa feita, recebemos a visita de Alex, um mini-travesti de 12 anos, que fugiu de casa após uma surra com cipó, o qual encontrou, na prostituição, a única saída para não morrer de fome. Hoje se tornou portador do vírus da Aids. Por conseguinte, já que o Conselho Federal de Medicina, o Conselho Federal de Psicologia, a Organização Mundial de Saúde e as principais Associações Científicas brasileiras e internacionais, desde 1970, nos Estados Unidos, e desde 1985, entre nós, deixaram de considerar a homossexualidade como desvio ou doença, mas sim uma orientação sexual tão saudável e normal quanto a bissexualidade ou a heterossexualidade; já que desde 1821, com o fim do terrível tribunal da Santa Inquisição, o amor entre pessoas do mesmo sexo deixou de ser crime, não existindo nenhuma lei no Brasil que condene as relações homoeróticas; considerando que respeitados teólogos católicos, protestantes e judeus negam ser pecaminosa a prática homossexual (KOSNIK, 1982; VIDAL, 1985; HORNER, 1989; PADRES, 1996) - perguntamos: se não é pecado, crime ou doença ser gay, lésbica ou transgênero, o que justifica tanto medo e repressão contra os homossexuais? A resposta seria: O JOVEM HOMOSSEXUAL: 23
ignorância, preconceito, falta de informação científica e desrespeito aos direitos humanos fundamentais do cidadão. (MANUAL, 1996; ABC dos Gays, 1995). Já é tempo de se abandonar esta barbárie e estancar tamanha violência contra os jovens homossexuais. Neste sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente permite uma leitura mais humanitária e menos homofóbica, podendo tornar-se instrumento legal na defesa da livre orientação sexual dos jovens. Pretender “curar” um jovem gay ou adolescente lésbica fere um direito humano fundamental: a livre orientação sexual. Se a homossexualidade não é doença ou crime, porque impedir aos jovens homossexuais o livre exercício de sua identidade existencial? “A criança e o adolescente têm o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas”. (Artigo 15) Humilhar, insultar ou castigar uma criança ou adolescente simplesmente porque demonstra tendência homossexual, é um acinte contra o artigo 17 do Estatuto quando garante: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade e da autonomia”. Impedir que crianças e adolescentes desenvolvam livremente sua orientação homossexual viola o artigo 18 da mesma Lei, quando determina: “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, atemorizante, vexatório ou constrangedor.” Portanto, urge que os órgãos governamentais competentes, ao divulgar a Campanha Nacional de Combate à Violência contra a Criança, condenem não apenas a exploração sexual e prostituição infanto-juvenil, mas, também, o estupro psicológico e as intimidações e violências físicas praticadas contra os jovens homossexuais. Educação sexual científica nas escolas e punição dos homófobos seria um primeiro passo para se corrigir tais abusos. Afinal, a Constituição Federal estipula como um dos objetivos fundamentais da República “lutar contra todas as formas de preconceitos”. E a 24 EDUCAÇÃO SEXUAL: EM BUSCA DE MUDANÇAS
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ignorância, preconceito, falta <strong>de</strong> informação científica e<br />
<strong>de</strong>srespeito aos direitos humanos fundamentais do cidadão.<br />
(MANUAL, 1996; ABC dos Gays, 1995).<br />
Já é tempo <strong>de</strong> se abandonar esta barbárie e estancar<br />
tamanha violência contra os jovens homossexuais. Neste sentido, o<br />
Estatuto da Criança e do Adolescente permite uma leitura mais<br />
humanitária e menos homofóbica, po<strong>de</strong>ndo tornar-se instrumento<br />
legal na <strong>de</strong>fesa da livre orientação sexual dos jovens. Preten<strong>de</strong>r<br />
“curar” um jovem gay ou adolescente lésbica fere um direito humano<br />
fundamental: a livre orientação sexual. Se a homossexualida<strong>de</strong><br />
não é doença ou crime, porque impedir aos jovens homossexuais o<br />
livre exercício <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> existencial? “A criança e o<br />
adolescente têm o direito à liberda<strong>de</strong>, ao respeito e à dignida<strong>de</strong><br />
como pessoas humanas”. (Artigo 15) Humilhar, insultar ou castigar<br />
uma criança ou adolescente simplesmente porque <strong>de</strong>monstra<br />
tendência homossexual, é um acinte contra o artigo 17 do Estatuto<br />
quando garante: “O direito ao respeito consiste na inviolabilida<strong>de</strong><br />
da integrida<strong>de</strong> física, psíquica e moral, abrangendo a preservação<br />
da imagem, da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da autonomia”. Impedir que crianças<br />
e adolescentes <strong>de</strong>senvolvam livremente sua orientação homossexual<br />
viola o artigo 18 da mesma Lei, quando <strong>de</strong>termina: “é <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />
todos velar pela dignida<strong>de</strong> da criança e do adolescente, pondo-os<br />
a salvo <strong>de</strong> qualquer tratamento <strong>de</strong>sumano, violento, atemorizante,<br />
vexatório ou constrangedor.”<br />
Portanto, urge que os órgãos governamentais competentes,<br />
ao divulgar a Campanha Nacional <strong>de</strong> Combate à Violência contra a<br />
Criança, con<strong>de</strong>nem não apenas a exploração sexual e prostituição<br />
infanto-juvenil, mas, também, o estupro psicológico e as intimidações<br />
e violências físicas praticadas contra os jovens homossexuais.<br />
<strong>Educação</strong> sexual científica nas escolas e punição dos homófobos<br />
seria um primeiro passo para se corrigir tais abusos. Afinal, a<br />
Constituição Fe<strong>de</strong>ral estipula como um dos objetivos fundamentais<br />
da República “lutar contra todas as formas <strong>de</strong> preconceitos”. E a<br />
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