Homofobia & Educação – Um Desafio ao Silêncio - Cepac
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Fernando Pocahy, Rosana de Oliveira e Thaís Imperatori O filme traz a possibilidade de trabalhar questões interessantes, por permitir questionar a univocidade dos modos de vivenciar a masculinidade e a feminilidade. O exercício proposto no livro didático favorece a crítica à sequência linear sexo-gênero-sexualidade, pois tanto desconstrói a ideia de que Billy seria necessariamente homossexual por identificar-se com uma atividade tipicamente associada ao universo feminino quanto incita a reflexão sobre a vulnerabilidade ao estigma daqueles sob suspeita de homossexualidade, como é o caso de seu colega Michael. Este, por sua vez, traz elementos interessantes que poderiam ser bastante explorados nos exercícios em sala de aula, como as cenas em que Billy chega à casa do amigo e o vê vestido com roupas femininas, ou em que o irmão de Billy senta-se no teatro para assistir a sua apresentação de balé e mal reconhece Michael devido ao estilo de suas vestimentas. Essas cenas poderiam suscitar questões como: homens homossexuais necessariamente se feminizam? Esse seria, propriamente, um vetor de abertura para discutir a pluralidade das possibilidades de ser homossexual, e mesmo a condição de transexuais e travestis. Em um dos exercícios propostos, há espaço para o questionamento das performances de gênero hegemônicas expressas num discurso recorrente no filme: “Meninos fazem boxe, meninas fazem balé”. A reflexão sobre os aspectos semelhantes e diferentes entre boxe e balé e sobre a vocação ou não do menino para o boxe permite questionar pressupostos tácitos de gênero e sexualidade. Afinal, mesmo sendo menino, Billy não se interessa pelo boxe. A crítica proposta pelo exercício leva à constatação de que não existem vocações próprias de cada sexo. No entanto, não se adentra a discussão sobre orientação sexual, que também é apresentada pelo filme, focando a desconstrução de que necessariamente Billy seria homossexual em razão de seu investimento no balé. Isto é, a depender do modo como o(a) professor(a) trabalha o tema em sala de aula, o espaço aberto à crítica à homofobia pode ceder para a ideia de que não há problema no fato de um garoto tornar-se bailarino, desde que 125
Homofobia & Educação isso não implique homossexualidade. O exercício não explora o preconceito contra as pessoas efetivamente reconhecidas como homossexuais por suas performances de gênero ou por suas práticas sexuais, como é o caso de Michael. Apenas em uma das questões se propõe uma discussão, embora incipiente, sobre orientação sexual: “Michael, o amigo de Billy, demonstrou ter tendências homossexuais. Billy teve algum tipo de preconceito em relação ao amigo?”. 14:225 Nesse item, levanta-se a questão acerca do preconceito contra homossexuais. Entretanto, note-se que o uso da expressão “tendências homossexuais” reduz a diversidade sexual a argumentos da retórica heteronormativa. Não é usual problematizar um sujeito como dotado de “tendências heterossexuais”. A expressão parece conter uma suposição diagnóstica de previsão da orientação sexual, atualizando os discursos psicológicos que patologizavam as homossexualidades e que apontavam as tendências comportamentais a serem vigiadas e controladas. A produção social da heterossexualidade é invisibilizada por sua suposta naturalidade, e a expressão “tendências homossexuais” é utilizada para apontar a necessidade de tolerância ao que seria um desvio da norma. Além disso, a pergunta se direciona apenas à interpretação do comportamento do personagem, não havendo uma interpelação mais explícita ao possível preconceito dos próprios estudantes e professores que fizerem o exercício em sala de aula. Em outra questão, propõe-se a pergunta: “Em certo momento, Michael dá um beijo no rosto de Billy, que lhe diz: ‘não é porque gosto de balé que sou bicha’. Entretanto, ao partir de sua cidade para Londres, Billy também dá um beijo no rosto de Michael. O que este beijo representa?”. 14:225 A frase de Billy poderia ter servido de ponto de partida para um questionamento sobre os riscos e temores de ser interpretado como homossexual. Entretanto, a possibilidade de tratar de forma crítica a questão da homofobia fica a cargo do(a) professor(a) em sala de aula, 126
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Fernando Pocahy, Rosana de Oliveira e Thaís Imperatori<br />
O filme traz a possibilidade de trabalhar questões<br />
interessantes, por permitir questionar a univocidade dos modos<br />
de vivenciar a masculinidade e a feminilidade. O exercício<br />
proposto no livro didático favorece a crítica à sequência linear<br />
sexo-gênero-sexualidade, pois tanto desconstrói a ideia de que<br />
Billy seria necessariamente homossexual por identificar-se com<br />
uma atividade tipicamente associada <strong>ao</strong> universo feminino quanto<br />
incita a reflexão sobre a vulnerabilidade <strong>ao</strong> estigma daqueles sob<br />
suspeita de homossexualidade, como é o caso de seu colega<br />
Michael. Este, por sua vez, traz elementos interessantes que<br />
poderiam ser bastante explorados nos exercícios em sala de aula,<br />
como as cenas em que Billy chega à casa do amigo e o vê vestido<br />
com roupas femininas, ou em que o irmão de Billy senta-se no<br />
teatro para assistir a sua apresentação de balé e mal reconhece<br />
Michael devido <strong>ao</strong> estilo de suas vestimentas. Essas cenas poderiam<br />
suscitar questões como: homens homossexuais necessariamente<br />
se feminizam? Esse seria, propriamente, um vetor de abertura<br />
para discutir a pluralidade das possibilidades de ser homossexual,<br />
e mesmo a condição de transexuais e travestis.<br />
Em um dos exercícios propostos, há espaço para o<br />
questionamento das performances de gênero hegemônicas<br />
expressas num discurso recorrente no filme: “Meninos fazem<br />
boxe, meninas fazem balé”. A reflexão sobre os aspectos<br />
semelhantes e diferentes entre boxe e balé e sobre a vocação ou não<br />
do menino para o boxe permite questionar pressupostos tácitos<br />
de gênero e sexualidade. Afinal, mesmo sendo menino, Billy não<br />
se interessa pelo boxe. A crítica proposta pelo exercício leva à<br />
constatação de que não existem vocações próprias de cada sexo.<br />
No entanto, não se adentra a discussão sobre orientação sexual,<br />
que também é apresentada pelo filme, focando a desconstrução<br />
de que necessariamente Billy seria homossexual em razão de seu<br />
investimento no balé. Isto é, a depender do modo como o(a)<br />
professor(a) trabalha o tema em sala de aula, o espaço aberto<br />
à crítica à homofobia pode ceder para a ideia de que não há<br />
problema no fato de um garoto tornar-se bailarino, desde que<br />
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